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Índice
HIERARQUIA ................................................................................................................................................... 35
DELEGAÇÃO DE PODERES .............................................................................................................................. 37
TUTELA ADMINISTRATIVA ............................................................................................................................. 38
SUPERINTENDÊNCIA ....................................................................................................................................... 39
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Universidades: ................................................................................................................................. 82
TIPO TERRITORIAL .......................................................................................................................................... 84
Regiões Autónomas: ......................................................................................................................... 84
Autarquias Locais: ........................................................................................................................... 90
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Administração Pública
Conceito de Administração
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Þ Sentido Orgânico:
A administração pública não se limita ao Estado – inclui-o, mas comporta muitas outras
entidades e organismos. Por isso, também nem toda a atividade administrativa é atividade
estadual. Há muitas instituições que não se confundem com o Estado e que têm identidade
própria, constituindo entidades política, jurídica e sociologicamente distintas.
No séc. XIX, a Administração Pública era sobretudo de âmbito municipal: o Rei e o poder
central. Hoje a Administração pública estadual desenvolveu-se e ocupa o primeiro lugar face
às demais formas/modalidades de administração.
Algumas destas modalidades podem ser hoje de um modo geral concebidas como formas
de administração estadual indireta, sendo que, aí, entidades juridicamente distintas dos Estado
são incumbidas de exercer, por devolução de poderes, uma atividade administrativa que,
embora não desenvolvida organicamente pelo Estado, é materialmente uma atividade
estadual. Outras continuam a ser formas autónomas de administração pública, como as regiões
autónomas e as autarquias locais. Há ainda outros casos em que a atividade administrativa é
desenvolvida por entidades de direito privado criadas para o efeito pelo Estado ou por outras
pessoas coletivas públicas.
A lei admite que a atividade administrativa seja exercida por particulares, que são
chamados a colaborar com a Administração.
A administração pública em sentido orgânico pode assim ser definida com o sistema de
órgãos, serviços e agentes do Estado, bem como das demais pessoas coletivas públicas e de
algumas entidades privadas que asseguram em nome da coletividade a satisfação regular e
continua das necessidades coletivas de segurança, cultura e bem-estar.
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Þ Sentido Material:
Em sentido material, a administração pública é uma atividade de administrar. Administrar
é tomar decisões e efetuar operações com vista à satisfação regular de determinadas
necessidades.
A administração pública em sentido material pode ser assim definida como a atividade
típica dos serviços públicos e agentes administrativos desenvolvida no interesse geral da
coletividade, com vista à satisfação regular e continua das necessidades coletivas de
segurança, cultura e bem-estar, obtendo para o efeito os recursos mais adequados e utilizando
as formas mais convenientes.
A função administrativa foi inicialmente a atividade meramente executiva. Mas na
segunda metade do séc. XX compreendeu-se que a esta não competia apenas promover a
execução de leis: cumpre-lhe também executar as diretrizes e opções fundamentais traçadas
pelo poder político, e realizar toda uma outra série de atividades que não revestem natureza
executiva, como estudar problemas, preparar legislação ou produzir bens, atividades estas que,
devendo ser sempre realizadas com base na lei, não podem todavia ser consideradas como
mera execução da lei. Deste modo, o art. 199 da CRP alarga muito substancialmente o
conteúdo material da função administrativa para além dessa atividade executiva.
O que a administração tem de garantir é a satisfação regular das necessidades coletivas de
segurança, cultura e bem-estar económico e social, independentemente de como o faça.
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Quanto aos meios, a administração privada é caracterizada pela igualdade de meios entre
as partes, pelo que o contrato é o instrumento jurídico típico. A administração pública è
caracterizada por meios de autoridade, que possibilitam às entidades e serviços públicos
impor-se aos particulares sem ter de aguardar o seu consentimento ou fazê-lo contra a sua
vontade, pelo que o comando unilateral é o instrumento jurídico típico.
Mas ainda, a Administração pública é limitada nas suas possibilidades de atuação por
restrições, encargos e deveres especiais de natureza jurídica, moral e financeira, a que não
estão em regra sujeitos os particulares na prossecução normal das suas atividades de
administração privada.
Objeto:
Ø A política tem como objeto as grandes opções que o país enfrenta ao traçar os
rumos do seu destino coletivo.
Ø A administração pública tem como objeto a satisfação regular e contínua das
necessidades coletivas de segurança, cultura e bem-estar económico e social.
Natureza:
Ø A política tem uma natureza criadora, cabendo-lhe em cada momento inovar em
tudo quanto seja fundamental para a conservação e o desenvolvimento da
comunidade.
Ø A administração pública tem natureza executiva, consistindo, sobretudo, em pôr
em prática as orientações tomadas a nível político.
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Caráter:
Ø A política reveste caráter livre e primário, apenas limitada em certas zonas pela
Constituição.
Ø A administração pública tem caráter condicionado e secundário, achando-se por
definição subordinada às orientações da política e da legislação.
Órgãos:
Ø A política pertence, por natureza, aos órgãos superiores do Estado.
Ø A administração pública, ainda que sujeita à direção ou fiscalização desses órgãos,
está, na maioria dos casos, entregue a órgãos secundários e subalternos, bem como
a funcionários e agentes administrativos, e a numerosas entidades e organismos
não estaduais.
Eleição:
Ø Na política, os órgãos são eleitos diretamente pelo povo a nível nacional.
Ø Na administração pública, os órgãos administrativos são nomeados ou eleitos por
colégios eleitorais restritos.
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A função legislativa encontra-se no mesmo plano, ao mesmo nível que a função política,
de modo que as caraterísticas apontadas acima para a política sirvam igualmente para firmar
a distinção entre a administração pública e a legislação.
Também a legislação define opções, objetivos, normas abstratas, enquanto a administração
executa, aplica e põe em prática o que lhe é superiormente determinado.
Principal diferença: reside no facto de, nos dias de hoje, a administração pública ser uma
atividade totalmente subordinada à lei – a lei é o fundamento, o critério e o limite de toda a
atividade administrativa.
No entanto, há pontos de cruzamento entre as duas atividades, como casos de leis que
materialmente contêm decisões de caráter administrativo (ex. lei que concede uma pensão de
sangue extraordinária à viúva de um militar morto em combate). Também há atos de
administração que materialmente revestem todos os carateres de uma lei, faltando-lhes apenas
a forma e a eficácia da lei (ex. regulamentos autónomos), para já não falar dos casos em que
a própria lei se deixa complementar por atos da Administração.
Estas atividades têm importantes traços comuns: ambas são secundárias, ambas são
executivas e ambas são subordinadas à lei.
Fim:
Ø A justiça visa aplicar o direito aos casos concretos;
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Órgãos:
Ø A justiça é assegurada por tribunais cujos juízes são independentes no seu
julgamento e inamovíveis no seu cargo;
Ø A administração pública é exercida por órgãos e agentes hierarquizados, de modo
que, em regra, os subalternos dependem dos seus superiores, devendo-lhes
obediência nas decisões que tomam, e podendo ser transferidos ou removidos
livremente para cargo ou lugar diverso.
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è Traumas:
Há, basicamente, dois grandes traumas que influenciaram a evolução futura do direito
administrativo e que tem consequências que chegam até aos dias de hoje e que, em alguns
casos, esses mesmos traumas foram superados, noutros ainda há problemas de natureza
psicanalítica.
Reparem que utilizo a expressão “trauma” e “psicanálise”, ao invés de “evolução
histórica” para criticar o modo pelo qual surgiram estes conceitos e as consequências que os
mesmos tiveram no quadro da evolução até os nossos dias.
São eles:
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O prof. Vasco Pereira da Silva não crê que se tenha verificado ainda a passagem do sistema
administrador-juiz para o sistema dos tribunais administrativos. Uma vez que, continuando a
exercer meros poderes delegados, o Conselho de Estado não era ainda um verdadeiro
Tribunal, mas antes um corpo meio administrativo, meio judiciário.
E isto por três razões essenciais:
o Porque a natureza dos órgãos da justiça administrativa continuava a ser a de órgãos
administrativos consultivos;
o Porque os poderes de julgamento não eram considerados como próprios, mas
meramente delegados pelo executivo;
o Porque durante algum tempo mais as decisões do Conselho de Estado continuaram
a ser entendidas como um recurso de apelação das decisões dos ministros, perante
os quais os pedidos deviam ser formulados.
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uma indemnização pelos prejuízos causados ao filho, que ficara com sequelas para o resto da
vida.
O tribunal de Bourdeaux diz duas coisas verdadeiramente sintomáticas:
o Diz que não pode decidir porque não é verdadeiramente competente, e não é
competente porque está em causa uma entidade administrativa. Se fossem dois
particulares ele podia decidir se está em causa um litígio entre um particular e uma
entidade pública ele não tem competência para decidir.
o O juiz acrescenta que mesmo se quisessem decidir não havia norma jurídica a
aplicar, porque o código civil aplica-se às relações entre iguais, o particular e a
administração pública não são iguais.
Com isto começa a concluir-se que a administração pública não pode estar submetida às
mesmas normas que um qualquer tribunal.
Os pais da criança não se conformam com esta decisão e recorrem à jurisdição
administrativa. Calculam quem era o juiz ao nível local? Era o presidente da camara de Gorron
à são os órgãos do poder local que funcionam como primeira instância do contencioso
administrativo. O juiz de Gorron vai aceitar aquilo que o tribunal de Bourdeaux decidiu, ou
seja, tem dúvidas se é ou não competente e também entende que na dúvida, o melhor é não
dizer nada, decidindo que não há, então, norma jurídica aplicável.
Esta situação, a que chamaríamos hoje de denegação de justiça, ocorre quando dois
tribunais se consideram incompetentes obrigando à intervenção do tribunal de conflitos que
diz quem é que deve decidir.
Surge em 1873 o célebre acórdão Blancon que, por um lado, vai dizer que competente é a
jurisdição administrativa, dando assim razão ao tribunal de Bourdeaux. Não se limita a dizer
isto, afirma que é preciso que os tribunais administrativos criem um direito administrativo
enquanto ramo do direito privativo da administração pública para que a administração seja
submetida a regras diferentes daquelas que regem as situações entre particulares.
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è O Estado:
Há uma relação de continuidade entre o Antigo regime e o Estado Liberal que se espelha
em vários pontos, entre eles, a interdição dos tribunais julgarem litígios administrativos, a
criação do Conselho de Estado como órgão fiscalizador da Administração e a continuidade de
técnicas e instrumentos jurídicos de controlo da Administração.
O Estado era o Estado de direito porque a formação da sua vontade se fazia segundo regras
jurídicas, uma vez que, ele era o próprio Direito.
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De um ponto de vista teórico, pode dizer-se que a criação do Estado como pessoa jurídica
surgiu essencialmente por duas razões:
Ø A institucionalização do poder, substituindo a vontade do rei pela vontade do
Estado e, possibilitando a subordinação do Estado ao Direito;
Ø A centralização do poder, uma vez que, a personalização do poder estadual
favorecia um entendimento centralizado e hierarquizado da organização
administrativa, concebida à maneira de um “homem em ponto grande”.
O Estado tinha por função resolver o problema político da dispersão do poder, típica da
Idade Média, através da criação de uma entidade que concentrava e unificava em si todos os
poderes da sociedade, e que encarava a pessoa do príncipe.
O Estado é, pois, uma realidade criada artificialmente pelo Homem para dar resposta e
atingir determinados objetivos é, por isso, independente de qualquer intervenção sobrenatural.
A primeira forma de separação de poderes é a da rutura do poder espiritual e temporal.
Este nasce como um projeto racional e secularizado, que vai ser manuseado com a ética
da Razão do Estado, que atende sobretudo ao princípio da necessidade mais do que a
exigências morais ou religiosas.
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O Estado liberal surge como resultado da conjugação de duas visões antagónicas destes
dois momentos da história do Estado:
Ø Teorização do elemento democrático: Hobbes e Rousseau desenvolveram a ideia
de pacto social como origem do poder, fundamentando o Estado na vontade das
pessoas que constituem a sociedade;
Ø Teorização do elemento liberal: Locke e Montesquieu desenvolveram a ideia de
autolimitação do poder político como garantia da liberdade individual.
è Poder Judicial:
O poder judicial é aquele através do qual o Estado pune crimes e julga os diferendos dos
particulares, o que significa que, para este autor, a resolução dos litígios em órbita
administrativa não pertencia à órbita dos tribunais. Desta forma, o julgamento dos litígios
administrativos é concebido apenas com devendo ir a par com a ação de administrar e, por
conseguinte, como devendo estra incluído nas atribuições dos próprios órgãos da
Administração ativa.
è Administração Pública:
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O modelo de administração pública surgido com o Estado Liberal pode ser, em traços
gerais caracterizado:
Ø No que respeita às formas de atuação, por fazer do ato administrativo o seu modo
quase exclusivo de agir;
Ø Quanto à organização administrativa, por apresentar uma estrutura concentrada e
centralizada;
Ø E relativamente à fiscalização pelo sistema de justiça delegada.
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è Ato Administrativo:
O modo normal de agir da Administração pública era o Ato Administrativo. Este era visto
como uma manifestação autoritária do poder estadual relativamente a um particular
determinado.
O ato administrativo vai então conciliar uma vertente autoritária, de exercício de um poder
do Estado, com uma vertente de garantia dos cidadãos, decorrente do princípio da legalidade,
reproduzindo assim, a este nível aquele compromisso que estava subjacente ao conceito liberal
de Estado.
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è Estado:
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Por outro lado, requer-se a intervenção do Estado na vida económica, como forma de
correção das disfunções do mercado.
A grande modificação introduzida pelo Estado Social tem que ver com o crescimento
quantitativo e qualitativo das funções por si desempenhadas. As funções do Estado vão sofrer
uma dupla transformação, verificando-se, em simultâneo, o aumento da intensidade das
funções tradicionais e o surgimento de novas tarefas nos domínios económicos e sociais.
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principal instrumento de realização das novas funções e de satisfação das novas necessidades
que são, agora, atribuídas ao Estado.
Assim, a Administração passa de agressiva a prestadora ou constitutiva e essa sua nova
função torna-se a principal característica do Estado social que é, necessariamente, um Estado
Administração.
Tal trouxe consigo o aumento da dependência do indivíduo relativamente aos poderes
públicos, o que levou a sentimentos de insegurança e de insatisfação, que levam os indivíduos
a reclamar uma maior intervenção dos poderes públicos.
è Administração Pública:
Aos indivíduos devem, agora, ser reconhecidos direitos subjetivos também perante a
administração pública, e não somente direitos de caráter político ou do domínio das relações
interprivadas.
O particular coloca-se, em face à Administração como um sujeito de direito perante outro,
estabelecendo de igual para igual, uma relação jurídica – o sujeito passou a ser titular de
direitos e de obrigações.
A administração deixou de ser uma administração agressiva para ser uma administração
prestadora.
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è Ato Administrativo:
è Princípio da Legalidade:
è Poder Discricionatório:
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Num Estado de Direito, o poder discricionatório deve ser tido como uma forma da
administração manifestar a vontade do ordenamento jurídico relativamente a uma situação
concreta. A lei não pode prever todas as situações, pelo que à Administração é, muitas vezes,
atribuída uma possibilidade de escola entre várias situações legalmente possíveis, a fim que
sejam os órgãos administrativos a concretizar a vontade legislativa, em função das situações
jurídicas que vão ser reguladas.
O poder discricionário não é assim nenhuma realidade extrajurídica, antes algo que se
enxerta no processo de reconstituição, que é a interpretação e a aplicação do direito. Entendido
o poder discricionatório como modo de realização do direito, e não enquanto liberdade de
escolha extrajurídica, daqui resulta necessariamente uma maior amplitude de controlo
jurisdicional.
A fiscalização jurisdicional do poder discricionatório tem por objetivo a apreciação da
conformidade da decisão com a lei e o direito e não a procura de uma melhor apreciação.
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è Estado:
Está-se, pois, perante um novo pacto social, que implica o reequacionamento do papel do
Estado na sociedade, assim como a necessidade de proteção integral e eficaz do indivíduo
perante toda e qualquer forma de poder.
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è Administração Pública:
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è Ato Administrativo:
O ato administrativo deixa de ser apenas uma forma de atuação relativa a um concreto
particular, já que produz efeitos que também afetam outros sujeitos.
Esta multilateralidade dos atos da Administração constitutiva implica, conseguinte a
necessidade de alargamento da proteção jurídica subjetiva perante a Administração. Uma vez
que, as atuações administrativas podem afetar indivíduos distintos dos imediatos destinatários,
torna-se necessário salvaguardar as posições jurídicas desses sujeitos, o que pode ser
conseguido, que através do alargamento da noção de direito subjetivo (orientação subjetiva)
quer através de interesses difusos ou coletivos (orientação objetivista).
De acordo com uma orientação subjetivista, o alargamento da proteção dos privados faz-
se mediante o recurso a um conceito mais amplo de direito subjetivo, que tem por base os
direitos fundamentais. Ex: direitos dos vizinhos, direitos do dono da obra, etc.
De acordo com a orientação objetivista, o alargamento do controlo da Administração e da
proteção dos particulares é conseguido através da criação de possibilidades de intervenção no
procedimento e no processo Administrativo aos titulares de interesses difusos e coletivos.
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Sistemas Administrativos
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que significa que por via da regra não dispõem de privilégios ou de prerrogativas
de autoridade púbica.
Ø Execução Judicial das decisões administrativas: no sistema administrativo
britânico a Administração não pode executar as suas decisões por autoridade
própria. Se um órgão da Administração toma uma decisão desfavorável a um
particular e atua voluntariamente, esse órgão não poderá, por si só, empregar meios
coativos para impor o respeito da sua decisão: terá de recorrer a um tribunal para
obter deste uma sentença que torne imperativa aquela decisão. Ou seja, as decisões
da Administração não têm, em princípio força executória própria não podendo por
isso ser impostas pela coação sem uma prévia intervenção do poder judicial.
Ø Garantias Jurídicas dos Particulares: os cidadãos dispõem de um sistema de
garantias contra as ilegalidade e abusos da Administração Pública. Os tribunais
públicos gozam de plena jurisdição face à Administração Pública: tal como em
relação a qualquer cidadão ou empresa privada, o juiz pode não só anular decisões
ou eleições ilegais, mas também ordenar às autoridades administrativas que
cumpram a lei, fazendo o que ela impõe ou abstendo-se de a violar.
O sistema oriundo de Inglaterra, vigora hoje em dia na generalidade dos países anglo-
saxónicos, nomeadamente nos Estados Unidos da América e, através destes influencia os
países da América Latina, em especial, o Brasil.
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e utilidade geral e devem por isso dispor quer de poderes de autoridade, que lhe
permitam impor as suas decisões aos particulares, quer de privilégios e imunidades
pessoais. Sendo o objetivo da Administração o de prosseguir o interesse público,
satisfazendo as necessidades coletivas, há-de poder sobrepor-se aos interesses
particulares que se oponham à realização do interesse geral, e para isso carece de
especiais poderes de autoridade, sendo certo, por outro lado, que a sujeição ao
interesse público também submete a administração a especiais deveres e restrições
que não vigoram em relação aos particulares.
Ø O Privilégio da Execução Prévia: o direito administrativo confere à administração
Pública um conjunto de poderes exorbitantes sobre os cidadãos, por comparação
com os poderes normais reconhecidos pelo Direito civil aos particulares nas suas
relações entre si. O privilégio de execução prévia permite à Administração executar
as suas decisões por autoridade própria. Quando um órgão da Administração toma
uma decisão desfavorável a um particular e, se ele não a acata voluntariamente,
esse órgão pode por si só empregar meios coativos, inclusive a polícia, para impor
o respeito pela sua decisão, e pode fazê-lo sem ter de recorrer a u Tribunal para o
efeito. Em suma, as decisões unilaterais da Administração Pública têm, em regra,
força executória própria e podem por isso mesmo ser impostas pela coação aos
particulares, sem necessidade de qualquer intervenção prévia do poder judicial.
Ø Garantias Jurídicas dos Particulares: o sistema administrativo francês, por
assentar num Estado de Direito, oferece aos particulares um conjunto de garantias
jurídicas contra os abusos e ilegalidades da Administração Pública. Mas essas
garantias são efetivadas através dos tribunais administrativos, e não por intermédio
dos tribunais comuns. Por outro lado, nem mesmo os tribunais administrativos
gozam de plena jurisdição face à administração: na maioria dos casos, estando em
causa uma decisão unilateral tomada no exercício de poderes de autoridade, o
tribunal administrativo só pode anular o ato praticado se ele for declarado ilegal:
não pode declarar as consequências dessa anulação, nem proibir a Administração
de proceder de determinada maneira, nem condená-la a tomar certa decisão ou
adotar certo comportamento. Se os tribunais são independentes perante a
administração, esta também é independente perante aqueles. E por isso as
autoridades administrativas que decidem como e quando hão de executar as
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sentenças que hajam anulado atos seus. As garantias jurídicas dos particulares face
à Administração são aqui menores do que no sistema britânico.
Este sistema nasceu em França, vigora hoje em quase todos os países continentais da
Europa Ocidental e em muitos dos novos estados que acederam à independência no séc. XX
depois de terem sido colónias desses países europeus.
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O confronto estabelecido baseou-se na pureza original dos dois sistemas. Mas tais sistemas
não pararam no tempo. E a evolução ocorrida no século XX veio a determinar uma
aproximação relativa dos dois sistemas em alguns aspetos:
Ø Em termos de Organização Administrativa, a administração britânica tornou-se
mais centralizada do que era no final do século passado, dado o grande crescimento
da burocracia central, a criação de vários serviços locais do Estado, e a
transferência de tarefas e serviços antes executados a nível municipal para os
órgãos de nível regional, estes mais sujeitos do que aqueles em Inglaterra à tutela
e superintendência do Governo. A administração francesa, por seu lado, foi
gradualmente perdendo o carácter de total centralização que atingiu com o império
napoleónico, aceitando a autonomia dos corpos intermédios, a eleição livre dos
órgãos autárquicos, uma certa diminuição dos poderes dos perfeitos e, bem
recentemente, uma vasta reforma descentralizadora que transferiu numerosas e
importantes funções do Estado para as regiões.
Ø Relativamente ao controlo jurisdicional da Administração, mantêm-se, no
essencial, as diferenças de sistemas analisadas. É certo que, em Inglaterra surgiram
os administrative tribunals, e que em França aumentaram significativamente a
relações entre os particulares e o Estado submetidas à fiscalização dos tribunais
judiciais. Mas só na aparência este duplo movimento constitui aproximação dos
dois sistemas entre si: porque os administrative tribunals não são nada semelhantes
aos tribunais franceses, e a administração inglesa continua basicamente sujeita ao
controlo dos tribunais comuns; por seu turno, o aumento da intervenção dos
tribunais judiciais nas relações entre Administração e os particulares em França
não significa que o controlo da aplicação do direito administrativo tenha deixado
de pertencer aí aos tribunais administrativos, mas apenas que cresceu muito o
número de casos em que a Administração atua hoje em dia sob a égide do direito
privado, e não há luz do direito público.
Ø No tocante ao direito regulador da Administração, deu-se efetivamente uma
certa aproximação entre os dois sistemas, na medida em que a transição do Estado
Liberal para o Estado social de Direito, nalguns períodos pontuada por experiencias
claramente socializantes, aumentou consideravelmente o intervencionismo
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O professor Freitas do Amaral continua a defender que ainda existem muitos traços
distintivos dos dois sistemas.
O princípio fundamental que inspira cada um dos dois sistemas mencionados é diverso,
muita das soluções que vigoram num e noutro lado são diferentes, a técnica jurídica utilizada
por um e por outro não é a mesma.
A grande diferença entre o sistema britânico e o sistema francês reside, pois, no tipo de
controlo jurisdicional da Administração, ou seja, a grande diferença entre os dois sistemas
está na subordinação dos litígios suscitados entre a Administração Pública e os particulares
aos courts of law, representantes exclusivos de um poder judicial unitário, ou aos tribunaux
administratifs, órgãos de uma jurisdição especial distinta da dos tribunais comuns
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Segundo o prof. Vasco Pereira da Silva, é necessário olhar para a pessoa coletiva como
um sujeito de imputação de determinada conduta.
Logo, ao nível da pessoa coletiva Estado, temos vários órgãos (ex: ministros que se
distinguem por terem atribuições diferentes e realizarem atividades diferenciadas e
autónomas) e serviços de caráter técnico que ajudam na preparação das decisões (ajudam o
processo da tomada de decisão) e executam as tais decisões.
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Hierarquia
A hierarquia é o modelo vertical de organização interna dos serviços públicos1 que assenta
na diferenciação entre superiores e subalternos.
É um modelo de organização da Administração vertical, constituído por dois ou mais
órgãos e agentes com atribuições comuns, ligados por um vínculo jurídico que confere ao
superior o poder de direção, e impõe ao subalterno o dever de obediência.
Hierarquia externa:
Ø Não surge no âmbito do serviço público, mas no quadro da pessoa coletiva pública;
Ø Toma-se também aqui a estrutura vertical como diretriz, mas desta feita para
estabelecer o ordenamento dos poderes jurídicos em que a competência consiste;
Ø É uma hierarquia de órgãos – os vínculos de superioridade e subordinação
estabelecem-se entre órgãos da Administração;
1
Matéria estudada mais adiante.
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Poderes do Superior:
Ø Poder de direção: faculdade de o superior dar ordens e instruções, em matéria de
serviço ao subalterno. As ordens traduzem-se em comandos individuais e
concretos, através dos quais o superior impõe a adoção de uma determinada
conduta – podem ser dadas verbalmente ou por escrito. As instruções traduzem-se
em comandos gerais e abstratos, através dos quais o superior impõe a adoção para
futuro de certas condutas sempre que se verifiquem as situações previstas. Este
poder não carece de consagração legal expressa, tratando-se de um poder inerente
ao desempenho das funções de chefia.
Ø Poder de supervisão: faculdade de o superior revogar, anular ou suspender os atos
administrativos praticados pelo subalterno. Este poder pode ser exercido de duas
maneiras:
o Por iniciativa do superior, que para o efeito avocará a resolução do caso;
o Ou em consequência de recurso hierárquico perante ele interposto pelo
interessado.
Ø Poder disciplinar: faculdade de o superior punir o subalterno, mediante a aplicação
de sanções previstas na lei, em consequência das infrações à disciplina da função
pública cometidas.
Ø Poder de inspeção: faculdade de o superior fiscalizar continuamente o
comportamento dos subalternos e o funcionamento dos serviços, a fim de
providenciar como melhor entender e de, eventualmente, mandar proceder a
inquérito ou a processo disciplinar. É um poder instrumental em relação aos
poderes de direção, supervisão e disciplinar, pois, com base nas informações
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Delegação de Poderes
Em conclusão, as condições ou requisitos que a ordem jurídica exige para que haja
delegação de poderes são: lei de habilitação, existência de delegante e delegado, e ato de
delegação.
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Tutela Administrativa
A tutela é o conjunto dos poderes de intervenção de uma pessoa coletiva pública na gestão
de outra pessoa coletiva, a fim de assegurar a legalidade ou o mérito da sua atuação.
A tutela administrativa:
Ø Pressupõe a existência de duas pessoas coletivas distintas: a pessoa coletiva tutelar,
e a pessoa coletiva tutelada;
Ø Dessas duas pessoas coletivas, uma é necessariamente uma pessoa coletiva
pública;
Ø Os poderes de tutela administrativa são poderes de intervenção na gestão de uma
pessoa coletiva;
Ø O fim da tutela administrativa é assegurar, em nome da entidade tutelar, que a
entidade tutelada cumpra as leis em vigor, e garantir que sejam adotadas soluções
convenientes e oportunas para a prossecução do interesse público.
Quanto ao fim:
Ø Tutela de legalidade: visa controlar a legalidade das decisões da entidade tutelada;
Ø Tutela de mérito: visa controlar o mérito das decisões administrativas da entidade
tutelada.
Quanto ao conteúdo:
Ø Tutela integrativa: consiste no poder de autorizar ou aprovar os atos da entidade
tutelada.
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Distingue-se em tutela integrativa a priori, que é aquela que consiste em autorizar a prática
de atos, e em tutela integrativa a posteriori, que é a que consiste no poder de aprovar atos da
entidade tutelada.
Ø Tutela inspetiva: poder de fiscalização da organização e funcionamento da entidade
tutelada.
Ø Tutela sancionatória: poder de aplicar sanções por irregularidades que tenham sido
detetadas na entidade tutelada.
No exercício da tutela inspetiva fiscaliza-se a atuação da entidade tutelada e,
eventualmente, descobrem-se irregularidades. Uma vez apurada a existência dessas
irregularidades, é necessário aplicar sanções; ora, o poder de aplicar essas sanções, quer à
pessoa coletiva tutelada, quer aos seus órgãos ou agentes, é a tutela sancionatória.
Superintendência
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Administração Direta
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Fazem parte da Administração Central do Estado todos os órgãos e serviços do Estado que
exercem competência extensiva a todo o território nacional.
è Aceções de Estado:
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O Estado administração é uma pessoa coletiva pública autónoma, não confundível com os
governantes que o dirigem, nem com os funcionários que o servem, nem com as outras
entidades autónomas que integram a Administração, nem com os cidadãos que com eles
entram em relação.
à Não se confunde Estado e Governantes, o Estado é uma organização permanente; os
governantes são os indivíduos que transitoriamente desempenham funções dirigentes dessa
organização.
à Não se confunde Estado e Funcionários, o Estado é uma pessoa coletiva, com
património próprio, os funcionários são indivíduos que atuam ao serviço do Estado, mas que
mantêm a sua individualidade humana e jurídica.
à Não se confunde Estado e outras entidades administrativas: cada qual com a sua
personalidade jurídica, com o seu património próprio, com os seus direitos e obrigações, com
as suas atribuições e competências, com finanças, com o seu pessoal, entre outros.
à Não se confunde Estado com Cidadãos, a personificação jurídica do Estado-
administração permite construir, como autênticas relações jurídicas, as relações travadas entre
Estado e os cidadãos.
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è Atribuições do Estado:
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è Órgãos do Estado:
Para cumprir as atribuições que lhe foram conferidas pela CRP, o Estado carece de órgãos,
aos quais compete tomar decisões em nome da pessoa coletiva do Estado.
Os principais órgãos centrais do Estado são o Presidente da República, a Assembleia da
República, o Governo e os Tribunais. Destes, o principal órgão administrativo do Estado é o
Governo.
Sublinha-se que, tanto o PR como a AR, como certos órgãos do poder judicial, podem
segundo a lei praticar atos materialmente administrativos, sujeitos a controlo pelos tribunais
administrativos. Mas nem por isso, organicamente, elementos da Administração pública.
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Þ Governo:
o Estrutura:
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à Primeiro Ministro:
As funções do PM vêm reguladas no art. 201/1 da CRP. Este possui dois tipos de funções:
Ø Por um lado, exerce funções de chefia, que consistem em orientar e coordenar
a conduta que deverá ser seguida pelos Ministros; presidir ao Conselho de
Ministros, direcionando os seus trabalhos e convocando as suas reuniões; e
selecionar Ministros para a composição do Governo;
Ø Por outro lado, está encarregado do exercício das funções de gestão, isto é,
gerir serviços próprios da Presidência do Conselho e orientar as secretarias de
Estados integradas na mesma. O Primeiro Ministro deverá também representar
o Estado, perante citação do Governo português em tribunais estrangeiros.
à Os vice-primeiros-ministros:
Conforme disposto nos art. 183/2 e 185 poderá existir mais do que um Vice-Primeiro-
Ministro, este deverá auxiliar o PM a desempenhar as suas funções, podendo substituí-lo em
caso de ausência ou impedimento.
O Vice-Primeiro-Ministro poderá coordenar os Ministros entre si.
à Ministros:
Cada um dos Ministros possui a seu cargo um ministério, ou seja, um departamento que
reúne subdepartamentos encarregados de uma determinada função. Relativamente a este, o
Ministro define os planos de ação, prepara o seu orçamento; nomeia, transfere e exonera todos
os funcionários a seu cargo, excepto quando pertença à competência exclusiva do Conselho
de Ministros; exerce poderes tutelares sobre pessoas coletivas autónomas dependentes ou
fiscalizadas pelo seu ministério; assina contratos celebrados com particulares, em nome do
Estado, quando estes versem sobre matéria das suas atribuições; e resolve quaisquer casos
concretos que a lei atribua a serviços pertencentes ao seu departamento por surgirem no seu
âmbito (art. 201/2 da CRP).
A regra geral é a igualdade entre Ministros. No entanto, existem algumas exceções, como
por exemplo, o caso do Ministro das Finanças que, estando encarregado da elaboração e
execução do Orçamento de Estado, controla os gastos e a quantidade de capital atribuída aos
restantes ministérios.
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à Secretários de Estado:
Os serviços de um Ministério poderiam ser agregados em Secretarias de Estado, que
seriam geridas por Secretários de Estado.
Atualmente, estes poderão substituir os Ministros em caso de ausência ou impedimento
(art. 185/2 da CRP) e possuem competência administrativa própria, não obstante a orientação
e supremacia dos ministros, pois um Secretário de Estado nunca poderá revogar, modificar ou
suspender qualquer ato de um Ministro.
à Subsecretários de Estado:
São os membros do Governo com menor poder executivo. Estes não possuem competência
própria e não praticam funções políticas e legislativas.
à Conselho de Ministros:
De acordo com o disposto no art. 1 do regimento do conselho de ministros, este é composto
e presidido por todos os Ministros nomeados e pelo Primeiro Ministro.
Poderão participar nas reuniões do Conselho de Ministros, sem direito de voto, o
Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, o Secretário de Estado adjunto do Primeiro-
Ministro e o Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
O art. 200 da CRP, por sua vez, determina nas suas alíneas o que compete ao Conselho de
Ministros:
Ø Definir as linhas gerais da política orçamental, bem como as da sua execução;
Ø Aprovar os planos e os atos do Governo que envolvam aumento ou diminuição das
receitas ou despesas públicas;
Ø Deliberar sobre outros assuntos da competência do Governo que lhe sejam
atribuídos por lei ou apresentados pelo PM ou qualquer ministro.
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à Presidência do Conselho:
O primeiro dos ministérios do país é a Presidência do Conselho.
à Os Ministérios:
Os ministérios são os departamentos da administração central do Estado dirigidos pelos
Ministros respetivos.
Segundo o prof. Freitas do Amaral, os ministérios devem agrupar-se em 4 categorias:
Ø Ministérios de Soberania: são aqueles em que as atribuições políticas são
dominantes, por lhes estar confiado o exercício das principais funções de
soberania do Estado. Ex: negócios estrangeiros, defesa nacional, etc.;
Ø Ministérios Económicos: são os que superintendem os assuntos de caráter
económico, financeiro e monetário. Ex: finanças, planeamento, comércio, etc.;
Ø Ministérios Sociais: são aqueles que se destinam a realizar a intervenção do
Estado nas questões de natureza social e cultural e no mundo do trabalho. Ex:
educação, cultura, desporto, emprego, saúde, etc.;
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Administração Periférica
A maioria dos autores, incluindo o regente, costuma integrar tal matéria sob a epígrafe
“administração local do Estado”, mas para o prof. Freitas do amaral tal não é o mais correto.
Por um lado, também os institutos públicos e as associações públicas dispõem, muitas vezes,
dos seus órgãos e serviços locais, que não são, contudo, administração local do Estado. Por
outro lado, os órgãos e serviços, do Estado no estrangeiro, formando o que se pode chamar
administração externa do Estado, não constituem administração local.
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Administração Local
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Em primeiro lugar, a circunscrição é apenas uma porção de território que resulta de uma
certa divisão do conjunto, ao passo que a autarquia é uma pessoa coletiva, uma entidade
pública administrativa que tem por base uma certa área, mas que é composta por outros
elementos.
Enquanto a circunscrição se define apenas por um elemento territorial, a autarquia é mais
do que isso: é uma comunidade de pessoas, vivendo numa certa circunscrição, com uma
determinada organização, para prosseguir certos fins.
Em segundo lugar, as circunscrições administrativas são parcelas do território nas quais
atuam órgãos locais do Estado, ou seja, estamos ainda dentro da pessoa coletiva Estado.
o Divisões Administrativas básicas:
Para efeitos de administração local, o território divide-se em distritos e concelhos.
Para efeitos de administração local autárquica, o território divide-se, atualmente, em
freguesias e municípios.
Ø Órgãos locais do Estado:
Órgãos da pessoa coletiva Estado que, na dependência hierárquica do Governo, exercem
uma competência limitada a uma certa circunscrição administrativa. Logo caracterizam-se por
três elementos:
o São órgãos, isto é, podem por lei tomar decisões em nome do Estado.
o São órgãos do Estado e não órgãos autárquicos. Dependem
hierarquicamente do Governo e devem obediência às ordens e instruções
do mesmo.
o Têm uma competência meramente local, isto é, delimitada em razão do
território – só podem atuar dentro da circunscrição administrativa a que
a sua competência respeita.
Ø Serviços locais do Estado:
São os serviços públicos encarregados de preparar e executar as decisões dos diferentes
órgãos locais do Estado.
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Administração Indireta
Definição: é a atividade que, embora desenvolvida para a realização dos fins do Estado, é
exercida por pessoas coletivas públicas distintas do Estado.
Existe dento do Estado serviços que desempenham as suas funções com autonomia. São
serviços do Estado, mas não dependem diretamente das ordens do Governo, estão
autonomizados. Esta é uma administração central desconcentrada, que é ainda uma
administração do Estado, constituída por serviços incorporados no Estado, mas dispõe de
órgãos próprios de gestão.
Há um outro grupo de serviços ou estabelecimentos que, para além de um grau ainda maior
de autonomia, recebem personalidade jurídica. Aqui o que está em causa é a persecução de
fins ou atribuições do Estado, mas não por intermédio do próprio Estado, tal prossecução é
feita através de outras pessoas coletivas distintas do Estado.
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O Estado tem funções – de caráter técnico, económico, cultural ou social – que não se
compadecem com uma atividade de tipo burocrático, exercida por serviços instalados num
ministério. Por isso, o Estado cria centros autónomos de decisão e de gestão, descentralizando
funções em organismos que, embora mantendo-se-lhe ligados, e com ele colaborando na
realização de fins que são próprios do Estado, todavia recebem para o efeito toda uma série
de prerrogativas que os erigem em entidades autónomas com a sua própria personalidade
jurídica.
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Sobre este último tópico, as entidades podem atingir um nível máximo de distanciamento,
que é o que acontece com as empresas públicas. Pode assumir uma posição intermédia, que é
a que se verifica nos chamados organismos de coordenação económica. E pode assumir um
grau de autonomia mínimo quando estes organismos funcionem como verdadeiras direções-
gerais do ministério.
è Institutos Públicos:
Para o prof. Freitas do Amaral, o instituto público é uma pessoa coletiva de tipo
institucional, criada para assegurar o desempenho de determinadas funções administrativas de
caráter não empresarial, precedentes ao Estado ou a outra pessoa coletiva pública.
O regime dos institutos públicos está regulado na lei nº 3/2004 de 15 de Janeiro (LQIP).
O instituto público é uma pessoa coletiva pública (art. 3/4 e art. 4/1 da LQIP) e, assim,
caracteriza-se por ser sempre dotado de personalidade jurídica (art. 3/1 da LQIP).
É ainda, uma pessoa coletiva de tipo institucional, isto é, o seu substrato é uma instituição,
não uma associação: assenta sobre uma organização de caráter material e não sobre um
agrupamento de pessoas.
São criados mediante ato legislativo (art. 9/1) e modificados e extintos mediante ato de
valor igual ou superior ao que os tenha criado (art. 16/3).
Por outro lado, é uma entidade criada para assegurar o desempenho de funções
administrativas determinadas (art. 8 da LQIP), ou seja, não há institutos públicos para o
desempenho de funções privadas, nem para o desempenho de funções públicas não
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administrativas e as atribuições dos institutos públicos não podem ser indeterminadas, não
podem abranger uma multiplicidade genérica de fins.
Mais, os institutos públicos só podem tratar matérias que especificamente lhes sejam
cometidas por lei (art. 8/3).
Além disso, as funções desempenhadas pelos institutos públicos hão de ser atividades de
caráter não empresarial (art. 3/3).
Possuem órgãos, dos quais o principal é, em regra, o conselho diretivo (art. 18). Os
respetivos presidentes são, simultaneamente, órgão dirigente do instituto público e órgão do
Estado.
Segundo o prof. Freitas do Amaral, são três as principais espécies de instituto público a
considerar:
Ø Serviços Personalizados: são serviços públicos de caráter administrativo a que a
lei atribui personalidade jurídica e autonomia administrativa, ou administrativa e
financeira (art. 3/1 e 2), para que possam desempenhar melhor as suas funções.
Estes serviços são verdadeiramente departamentos do tipo “direção geral”.
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Se o instituto público não é uma direção geral personalizada, nem um património, mas um
estabelecimento aberto ao público e destinado a fazer prestações de caráter cultural ou social
aos cidadãos, então é um estabelecimento público.
è Empresas Públicas:
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Há, pelo menos, uma de duas realidades que, na empresa pública, têm carácter público:
Ø A empresa pública pode ter maioria de capitais públicos: neste caso, o
financiamento inicial, que serve para formar o capital da empresa é público e
tratando-se de empresas públicas estaduais, os capitais vêm do próprio Estado.
Ø Se o Estado ou outras entidades públicas não detiverem a maioria do capital
possuirão direitos especiais de controlo exercendo influência dominante sobre a
empresa pública (DL nº 133/2013, art.9/1)
Logo, basta que um destes dois aspetos exista para que a empresa seja considerada, por
lei, como empresa pública.
As empresas públicas podem nascer da necessidade que, por vezes, o Estado sente de
intervir na economia assumindo “posições chaves”, isto é, posições estrategicamente
fundamentais.
Outro motivo que leva à criação de empresas públicas reside na necessidade, para maior
eficiência da Administração, de transformar velhos serviços, organizados segundo moldes
burocráticos, em empresas públicas modernas, geridas sob forma industrial ou comercial.
Em terceiro lugar, podem criar-se empresas públicas como sanção, como punição política.
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Existem, ainda, outros motivos como o desejo de prestar ao público bens ou serviços em
condições especialmente favoráveis a suportar pelo erário público; a vontade de incentivar o
desenvolvimento de certa região, quebrando uma estagnação difícil de superar por outra via;
o desempenho de atividades em que seja particularmente importante evitar fraudes e
irregularidades; a necessidade de continuação da exploração de serviços públicos cuja
concessão haja sido resgatada; a intenção de fugir aos controlos típicos do Direito
Administrativo, como a sujeição às regras da contratação pública.
Quanto ao objeto, temos as empresas públicas que têm por objeto a exploração de um
serviço público ou de um serviço de interesse económico geral (DL nº 133/2013, artigos 48 e
55).
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De acordo com o art. 4 do DL 558/992 existe um princípio da dupla missão das empresas
públicas e embora não exista uma norma análoga no DL nº 133/2013, segundo o professor
Freitas do Amaral, tal princípio mantém-se plenamente válido.
Assim, atentando, por um lado, à natureza empresarial destas organizações e, por outro, à
sua integração no âmbito da Administração Estadual indireta, resulta clara a sua dupla missão:
Ø Contribuir para o equilíbrio económico-financeiro do sector público – missão
económico-financeira.
Ø Contribuir para a obtenção de níveis adequados de satisfação das necessidades
coletivas – missão social.
Ø Quanto ao enquadramento geral da atuação das empresas públicas este está hoje
fortemente influenciado pelo DUE e, em particular, pelas normas de direito da
concorrência, logo:
Ø A existência de empresas públicas que atuem em regime de monopólio é
excecional;
Ø Nenhuma empresa pública, por o ser, pode furtar-se à observância das normas
sobre a concorrência, sob o pretexto de se tratar de uma empresa pública;
Ø Das relações entre o Estado e as suas empresas públicas não podem resultar
situações que, sob qualquer forma, sejam suscetíveis de impedir, falsear ou
restringir a concorrência.
Ø As empresas públicas que se vejam colocadas em situação económica difícil não
podem pedir, nem obter, auxílios do Estado.
2
Artigo 4
Missão das empresas públicas e do sector empresarial do Estado
A actividade do sector empresarial do Estado deve orientar-se no sentido da obtenção de níveis adequados de
satisfação das necessidades da colectividade, bem como desenvolver-se segundo parâmetros exigentes de
qualidade, economia, eficiência e eficácia, contribuindo igualmente para o equilíbrio económico e financeiro
do conjunto do sector público.
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Þ Regime Jurídico:
à Personalidade e Autonomia:
O atual estatuto das empresas públicas reconhece o traço característico de as empresas
públicas serem dotadas de personalidade e de autonomia.
A lei diz também que as empresas públicas, sob a forma jurídica pública, são dotadas de
autonomia patrimonial (art. 58/1) o que, sob o ponto de vista técnico, acaba por ser redundante,
porque é óbvio que se certa entidade que tem personalidade jurídica, tem necessariamente
património próprio.
Quanto à sua designação, as empresas públicas que revistam forma jurídica privada serão
denominadas como sociedades, em regra sociedades anónimas (S.A.). Se revestirem forma
jurídica pública são chamadas de entidades públicas empresariais (E.P.E.) (art.56).
à Criação e extinção:
De harmonia com o DL nº 133/2013, a criação de empresas públicas que revistam a forma
de sociedade é feita “nos termos e condições aplicáveis à Constituição de sociedades
comerciais” (art.10/1); ao passo que a criação das entidades públicas empresariais é feita por
decreto-lei (art. 57/1), o qual aprovará também os respetivos estatutos.
A constituição de uma empresa pública (sob forma privada) depende de autorização do
Ministro da Finanças e do correspondente Ministério pelo sector da atividade da empresa. Esta
autorização deve ser precedida de um parecer da Unidade Técnica, que elabora uma análise
da viabilidade económico- financeira da empresa a constituir (art. 10/1 e 2). A inexistência
desta autorização determina a nulidade de todos os atos e negócios jurídicos relativos à
constituição da empresa (art. 12/1).
A extinção das empresas públicas ou se faz nos termos prescritos na lei comercial para as
sociedades ou, então, no caso das E.P.E., faz-se mediante decreto-lei (art. 35/1), o qual pode
remeter para a lei comercial (art. 35/2), mas se apenas remeter expressamente.
No caso de as empresas públicas apresentarem capital próprio negativo por um período de
três exercícios económicos consecutivos, devem os órgãos de administração da empresa
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à Órgãos:
A lei não estabelece, em princípio, qualquer distinção importante entre a estrutura orgânica
das empresas públicas que sejam sociedades e a das que constituam entidades públicas
empresariais.
Na verdade, às primeiras aplicam-se, por definição, as regras próprias do Código das
Sociedades Comerciais (CSC) e às segundas também, por força da remissão do art.60.o/1 do
DL nº 133/2013, para o regime das sociedades anónimas.
Contudo, a lei não se limita a fazer uma remissão para CSC, prevendo regras específicas
de Direito Administrativo relativas à composição e funcionamento dos órgãos de
administração e de fiscalização das empresas públicas.
Assim, começa por exigir que as empresas públicas assumam um modelo de “governo
societário que assegure a efetiva separação entre as funções de administração executiva e as
funções de fiscalização” (art. 30/1). Depois, prescreve que os órgãos de administração e de
fiscalização devem ser ajustados “à dimensão e complexidade da empresa” (art. 31/1). Enfim,
relativamente à composição do órgão de administração, a lei prevê que deve integrar 3
membros, salvo quando a dimensão e complexidade da empresa justificar uma composição
diversa (art. 31/2).
Fixados estes princípios gerais, a lei atribui ao titular da função acionista – Ministro das
Finanças – o poder de definir, nos estatutos de cada empresa, a concreta configuração dos
órgãos de administração e de fiscalização, de acordo com o disposto nos estatutos das
empresas públicas e no CSC (art. 31/3).
Quanto à designação dos administradores das empresas públicas, esta não é feita por
eleição da assembleia geral da empresa, mas (em regra) por deliberação do Conselho de
Ministros (art.32.o/4), nos termos previstos no Estatuto do Gestor Público.
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assembleia geral e, na hipótese de não existir assembleia geral, a despacho dos Ministros das
Finanças e do sector de atividade de empresa (art. 31/5).
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Trata-se de entidades privadas, criadas por iniciativa particular, através de atos de direito
privado, mas que prosseguem fins de interesse público e por isso ficam sujeitas por lei, em
certa medida, a um regime parcialmente traçado pelo Direito Administrativo.
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Þ Espécies:
Þ Regime jurídico:
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Na categoria dos deveres ou encargos especiais impostos por lei, nas sociedades de
interesse coletivo, pode ocorrer os seguintes:
Ø Os corpos gerentes destas empresas podem encontrar-se sujeitos a
incompatibilidades e limitações de renumeração estabelecidas por lei para os
gestores públicos e, nomeadamente, ao princípio de que o salário de base mensal
não pode exceder o vencimento de Ministro;
Ø Se se tratar de empresas participadas pelo sector público, ficam sujeitas às regras e
princípios que o Regime Jurídicos do Sector Empresarial Local manda aplicar-lhes;
Ø O funcionamento destas empresas pode achar-se submetido à fiscalização efetuada
pelos delegados do Governo.
As pessoas coletivas privadas não fazem, por regra, parte da Administração Pública. Mas
quanto a estas entidades que ficam submetidas a um regime jurídico-administrativo, em
especial quando exerçam funções de carácter público coincidentes com as atribuições da
Administração, pergunta-se se efetivamente passam, ou não, a ser elementos integrantes da
Administração Pública.
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As associações e fundações podem ser vistas pela lei como entidades de utilidade
particular ou enquanto entidades de utilidade pública. São de utilidade particular aquelas que
embora não tenham um fim lucrativo, desenvolvam atividades que não interessem
primacialmente à comunidade nacional ou a qualquer região autónoma ou autarquia local, mas
apenas a grupos privados. Mais, estas não aceitam cooperar com a Administração Pública,
central ou local.
São pessoas coletivas de utilidade pública as associações e fundações de direito
privado que prossigam fins não lucrativos de interesse geral, cooperando com a
Administração Central ou local, isto conforme a definição dada pelo diploma que regula
as pessoas coletivas de utilidade pública, o DL nº 460/77 de 7 de novembro.
Assim, as pessoas coletivas de utilidade pública são pessoas coletivas privadas, que
prosseguem fins não lucrativos de interesse geral, sejam estes de âmbito nacional ou local,
tendo estas que cooperar com a Administração Pública no desenvolvimento desses fins de
interesse geral, precisando de obter da Administração, mais precisamente, do Governo (art.
3/1 do DL 460/77) a declaração de utilidade pública.
Þ Espécies:
Tal como o professor Freitas do Amaral sugere, as pessoas coletivas de utilidade pública
podem ser classificadas segundo diferentes critérios:
Ø Quanto à natureza do substrato, dividem-se em associações, fundações e
cooperativas.
Mafalda Boavida 71
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Ø Quanto ao âmbito territorial atual são pessoas coletivas de utilidade pública geral,
regional ou local, conforme prossigam fins de interesse nacional ou fins que
interessam apenas a uma região autónoma ou local.
Ø Quanto aos fins que prosseguem podemos ter três espécies de pessoas coletivas de
utilidade pública: As pessoas coletivas de mera utilidade pública, as instituições
particulares de solidariedade social e as pessoas coletivas de utilidade pública
administrativa.
Mafalda Boavida 72
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porque tais entidades foram criadas pela iniciativa particular para preencher uma lacuna dos
poderes públicos e, como tal, correspondem a uma modalidade de exercício privado de
funções públicas, onde a intervenção e o controlo administrativo têm de ser maiores.
Þ Regime jurídico:
Como estas entidades reúnem avultados patrimónios, normalmente obtidos por doação de
particulares, é necessários fiscalizá-las para que não haja dissipação de bens e para que as
pessoas encarregadas de geri-las não administrem os patrimónios no seu interesse pessoal,
mas no interesse geral que presidiu à afetação desses bens aos respetivos fins.
Nos termos do DL 460/77, todas as pessoas coletivas de utilidade pública têm o seguinte
regime jurídico-administrativo:
Ø Não podem desenvolver, a título principal, atividades económicas em concorrência
com outras entidades que possam não beneficiar do estatuto de utilidade pública,
art. 2/1 alínea c) e 12/2 alínea a).
Ø Não podem exercer a sua atividade, de forma exclusiva, em benefício de interesses
privados quer dos próprios associados, quer dos fundadores, art. 2/1 alínea f).
Ø Têm de estar registadas numa base de dados mantida pela Secretaria Geral da
Presidência do Conselho de Ministros (art. 8/1).
Ø Gozam de isenções fiscais previstas em leis tributárias, art. 9.
Ø Beneficiam de isenção de taxas de televisão e de rádio e de isenção de taxas
previstas na legislação sobre espetáculos e divertimentos (art. 10 alínea a) e e), bem
como da publicação gratuito dos seus estatutos e suas alterações no DR (art. 10
alíneas f).
Ø Dispõem de tarifas reduzidas no consumo de energia elétrica e de água (art. 10
alínea b).
Ø Podem requerer a expropriação por utilidade pública, mesmo urgente, dos terrenos
de que careçam para prosseguir os seus fins estatutários (art. 11).
Ø Têm de enviar anualmente à Presidência do Conselho de Ministros o relatório e
contas do exercício, prestar à Administração Pública quaisquer informações
solicitadas e comunicar à Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros
as alterações dos estatutos (art. 12).
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Assim, o único poder que o Governo pode exercer sobre a Administração Autónoma é o
poder de tutela (art. 199/4/d, 229 e 242), o que é um mero poder de fiscalização ou controlo
que não permite nem dirigir nem orientar as entidades a ele submetidas.
Posto isto, pertencem à Administração Autónoma:
Ø As associações públicas;
Ø As autarquias locais;
Ø Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
As primeiras são entidades de tipo associativo; as segundas e as terceiras são as chamadas
pessoas coletivas de população e território. Em todas elas há um substrato humano: todas são
agrupamentos de pessoas, diferentemente do que acontece na Administração Indireta, onde
tanto os institutos públicos como as empresas públicas são substratos materiais.
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Tipo associativo
è Associações Públicas:
De acordo com o art.157 e 167 do CC, uma associação é uma pessoa coletiva constituída
pelo agrupamento de várias pessoas singulares ou coletivas que não tenha por fim o lucro
económico dos associados. Se tivesse por fim o lucro seria uma sociedade.
A maior parte das associações são entidades privadas. Mas algumas associações há que a
lei cria ou reconhece com o objetivo de assegurar a prossecução de certos fins ou interesses
coletivos, chegando mesmo a atribuir-lhes para o efeito um conjunto de poderes públicos, ao
mesmo tempo que as sujeita a especiais restrições de carácter público.
Estas distinguem-se das empresas e dos institutos públicos, porque estes são pessoas
coletivas públicas de tipo institucional, assentam sobre uma instituição (seja ela um serviço,
uma fundação, um património, um estabelecimento ou uma empresa), enquanto as associações
corresponde ao tipo associativo e têm por esteio um agrupamento de indivíduos e ou de
pessoas coletivas com um objetivo comum.
Por outro lado, os institutos públicos e as empresas públicas existem para prosseguir os
interesses públicos do Estado, integrando-se, por isso, na Administração Indireta do Estado,
ao passo que as Associações Públicas existem para prosseguir interesses públicos próprios das
pessoas que as constituem, pelo que fazem parte da Administração Autónoma.
As Associações têm interesses e fins próprios e, por isso mesmo, dirigem, orientam e
gerem os seus destinos, os seus bens, o seu pessoal e as suas finanças sem estarem sujeitos a
diretivas ou orientações exteriores.
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Entre Associações Públicas e Institutos Públicos há apenas uma coisa em comum: ambos
são pessoas coletivas públicas, criadas para assegurar a prossecução de interesses públicos
determinados e, por isso, em ambos os casos estamos perante pessoas coletivas de fins
singulares.
De qualquer forma, é de referir que as associações, no seu conjunto, têm vindo a assumir
uma importância crescente no seio da Administração Pública, assistindo-se mesmo a um
movimento de proliferação destas entidades. As razões prendem-se, por um lado, com a
tendência neocorporativa que se tem desenvolvido no âmbito das democracias ocidentais, na
qual os mecanismos de concertação social de representação social e de representação de
interesses sectoriais ganham um peso crescente e, por outro lado, o seu crescimento está
também ligado à reforma administrativa e à necessidade de flexibilizar e diversificar as formas
de organização e os meios de atuação da Administração Pública, tornando-a menos
burocratizada e mais participada.
Þ Espécies:
Toda a associação pública tem sempre como base, por natureza, um substrato pessoal e
associativo, isto é, um agrupamento de sujeitos de direito organizado em torno de um fim e
que tanto pode ser constituído por indivíduos como por pessoas coletivas.
Por vezes, para se designar este tipo de associações utiliza-se a expressão consórcios
públicos.
É a categoria menos controversa. Trata-se de entidades que resultam da associação, união
ou federação de entidades públicas menores e, especialmente, de autarquias locais. Trata-se
também de entidades que, nos últimos anos, se têm desenvolvido e multiplicado de uma forma
muito intensa, sobretudo devido ao sucessivo adiamento da criação das regiões
administrativas.
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Estas, segundo o professor Freitas do Amaral, são o paradigma das associações públicas.
Como exemplos podemos apontar as ordens profissionais que basicamente começaram por
ser associações de profissões liberais, embora hoje muitos dos profissionais inscritos sejam
trabalhadores subordinados; e as camaras profissionais. A diferença entre as duas tem a ver
com o grau académico dos associados: curso superior no caso das ordens e curso intermédio
no caso das câmaras (art.11 da LAPP).
Temos ainda como exemplo as academias científicas e culturais, que são qualificadas
como instituições de utilidade pública, dotadas de personalidade jurídica e autonomia
administrativa e, nalguns casos, estão sob a tutela do Governo ou são órgão consultivo do
Governo. Estas são associações públicas por terem atribuições na área do desenvolvimento,
aprofundamento e divulgação do conhecimento científico das artes e da cultura portuguesa.
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Nestas numa mesma associação agrupam-se uma ou mais pessoas coletivas +públicas e
indivíduos ou pessoas coletivas privadas. Nestes casos, há associados públicos e particulares,
uns e outros com direito a participar na assembleia geral ou num órgão deliberativo
equivalente, em proporções variáveis. E nos órgãos executivos estão também presentes, em
conjunto, tanto os representantes do Estado ou de outras pessoas coletivas públicas, como os
representantes dos associados particulares.
Como exemplos temos as Entidades Regionais de Turismo, os centros de formação
profissional de formação profissional partilhada e as cooperativas de interesse público, que
desenvolvem as suas atividades em áreas tão díspares como a música, o apoio social ou a
gestão de matas nacionais.
Figuras afins
Convém não confundir as associações públicas com outras entidades que não podem ser
qualificadas como tal:
Ø Por não serem pessoas coletivas de direito público;
Ø Por lhes faltar a natureza associativa;
Ø Ou mesmo por não possuírem personalidade jurídica.
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Ao contrário do que acontece com as empresas públicas e com os institutos públicos, não
existe um diploma legal que regule as associações públicas no seu conjunto. Há, contudo,
diplomas que disciplinam as espécies mais importantes de associações públicas, como sucede
com a LAL (Lei das Autarquias Locais) e com a LAPP (Lei das associações públicas
profissionais).
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Não quer isto dizer que as associações públicas desenvolvam a sua atividade submetida
exclusivamente ao direito público. Pelo contrário, o recurso ao direito privado é crescente.
Assim, podemos dizer que o recurso ao direito público dá-se quando pretendam agir perante
os seus associados, munidas de poder de autoridade, mas quando desenvolvem atividades
instrumentais, as associações públicas seguem normalmente ao direito privado.
Quanto ao direito constitucional e o regime específico das associações temos o art. 165/1
alínea s), 199 alínea d), 247, 253, 267/1, 267/4.
Quanto à criação das associações públicas estas podem ter na sua origem um ato público
que, a partir do nada, procede à sua criação; a transformação de um organismo público de tipo
institucional; um ato jurídico dos seus associados e um ato de publicização de uma associação
privada pré-existente.
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Estas além da defesa dos interesses gerais dos destinatários dos serviços prestados pelos
seus membros identificam-se outros 4 núcleos fundamentais:
Ø Funções de representação da profissão face ao exterior;
Ø Funções de apoio aos seus membros;
Ø Funções de regulação da profissão;
Ø Funções administrativas acessórias ou instrumentais.
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è Universidades:
São várias as posições doutrinárias acerca da matéria das universidades públicas e da sua
natureza jurídica:
Todavia, não as considera como associações públicas, tendo em conta o menor peso dos
respetivos interesses próprios sobre os interesses transferidos pelo Estado. Possuem fins
específicos, não lucrativos.
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Tipo territorial
è Regiões Autónomas:
As Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira são pessoas coletivas de direito público,
de população e território, que pela Constituição dispõem de um estatuto político-
administrativo privativo e de órgãos de governo próprios democraticamente legitimados, com
competências legislativas e administrativas, para a prossecução dos seus fins específicos:
São fundamentos da sua autonomia as suas características geográficas, económicas,
sociais e culturais e as históricas aspirações autonomistas das populações insulares. Mais estas
prosseguem fins próprios: a participação democrática dos cidadãos, o desenvolvimento
económico-social e a promoção e defesa dos interesses regionais, bem como o reforço da
unidade nacional e dos laços de solidariedade entre todos os portugueses. No entanto, têm os
seus limites como a integridade da soberania do Estado e o respeito da CRP.
Þ Figuras afins:
Além de se distinguirem dos Estados federados, estes são entes soberanos na ordem interna
e, por isso, dispõem de Constituição própria.
As regiões autónomas distinguem-se também das regiões administrativas, previstas nos
artigos 255 a 262 da CRP. Estas não dispõem constitucionalmente de um estatuto jurídico
especial, as leis de instituição em concreto são simples leis ordinárias e, sobretudo, as suas
competências limitam-se ao âmbito da função administrativa, não dispondo elas de quaisquer
competências natureza legislativa enquanto as regiões autónomas correspondem a um
fenómeno de descentralização político- administrativa, as regiões administrativas que surgem
através da descentralização administrativa das regiões autónomas tem também uma natureza
jurídica completamente distinta das atuais regiões Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo,
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As regiões autónomas são dotadas pela Constituição de órgãos de governo próprios: são
eles a Assembleia Legislativa e o Governo Regional (art. 231). A estes dois órgãos acresce
um terceiro, que não é tido pela Constituição como órgão de governo próprio, mas que integra
também o sistema de governo regional: o Representante da República (art.230).
à Representante da República:
Este foi um cargo criado pela Lei Constitucional n.o 1/2004, de 24 de julho (Sexta Revisão
Constitucional) para representar a soberania portuguesa em cada uma das regiões autónomas,
nos termos do artigo 230.o da CRP. O Representante da República substituiu o Ministro da
República na arquitetura constitucional como órgão de fiscalização da constitucionalidade das
leis regionais e como especial representante da soberania, transitando a figura para a esfera
política do Presidente da República, de quem passa a ser representante especial.
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à Assembleia legislativa:
Em cada Região Autónoma (Açores e Madeira) é eleita uma Assembleia Legislativa
Regional, por sufrágio universal, direto e secreto, de harmonia com o princípio da
representação proporcional. Tem competência legislativa em matérias de interesse específico
para a região que não estejam reservadas à competência própria dos órgãos de soberania.
Esta pode apresentar propostas de lei à Assembleia da República, sendo que a iniciativa
legislativa em matéria de estatutos político-administrativos das Regiões Autónomas compete,
exclusivamente, a si, podendo os Deputados e o Governo apresentar propostas de alteração no
decurso do processo de discussão na Assembleia da República.
Os eleitores são todos e quaisquer cidadãos portugueses recenseados nas regiões, não
apenas os naturais dos Açores e da Madeira.
A eleição dos deputados regionais faz-se por círculos eleitorais, que correspondem, nos
Açores, a cada uma das nove ilhas e, na Madeira, a cada um dos onze municípios existentes.
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No entanto, estes não desempenham só a função legislativa, nem tão pouco as suas
competências se desenvolvem apenas no âmbito da função legislativa e da função política,
designadamente no que toca a fiscalização da atividade do governo regional. As assembleias
legislativas possuem também uma importante competência de natureza administrativa, que
resulta da conjugação da primeira parte do art. 227/1/d com o art. 232/1 da CRP, têm
competência para regulamentar, no âmbito regional, toda a legislação emanada dos órgãos de
soberania, quando estes não reservem para si essa mesma regulamentação.
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à Governo Regional:
O governo regional é definido nos estatutos político-administrativos como o órgão
executivo de condução da política regional e o órgão superior da administração pública
regional.
Importa aqui ter em conta um importante aspeto relativo ao governo regional, diz respeito
a sua estrutura e organização interna. O art. 231/6 da Constituição diz que é da exclusiva
competência do governo regional a matéria respeitante a sua própria organização e
funcionamento, trata-se de uma disposição semelhante ao art. 198/2 da Constituição,
respeitante ao Governo da República e que corresponde a manifestação de um princípio geral
de auto-organização dos órgãos complexos e dos órgãos colegiais.
Em consequência, considerando que o executivo regional não possui competência
legislativa, a chamada lei orgânica do governo regional, consta necessariamente de um
regulamento independente, fundado de modo direto naquele preceito constitucional e nas
disposições estatutárias que o reproduzem. Isto é, a lei orgânica do governo regional não é
uma lei, antes assumindo a forma de decreto regulamentar regional.
A estrutura orgânica do IX Governo Regional dos Açores compreende além do presidente
e de um vice-presidente, oito secretários regionais, que possuem competência própria e
delegada, e um único subsecretario regional, este com competência delegada.
Cada secretário regional está, naturalmente, à frente de uma secretaria regional, exceto o
da presidência e o adjunto, que partilham, com o presidente e o vice-presidente do governo,
os serviços da presidência do governo regional.
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Por sua vez, no diploma orgânico do governo regional da Madeira, prevê-se a existência,
de além do presidente, um vice-presidente e de sete secretários regionais, estes com
atribuições nos seguintes domínios:
Ø Recursos humanos;
Ø Turismo e cultura;
Ø Equipamento social e transportes; - Assuntos, sociais;
Ø Educação;
Ø Plano e finanças;
Ø Ambiente e recursos naturais.
Ao contrário das autarquias locais, as regiões autónomas dos Açores e da Madeira não se
encontram constitucionalmente sujeitas a um poder de tutela administrativa do Estado, uma
vez que não integram a noção estrita de Administração Autónoma.
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è Autarquias Locais:
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resultantes do facto de elas conviverem numa área restrita, unidas pelos laços da
vizinhança.
Ø Os órgãos representativos.
Onde quer que haja autarquias locais há descentralização em sentido jurídico, o que
significa que as tarefas da administração pública não são desempenhadas por um só pessoa
coletiva, mas por várias pessoas coletivas diferentes, encarregadas de exercer a atividade
administrativa.
No Estado liberal, a autonomia local constituía um refuto próprio das autarquias face ao
Estado, análogo à liberdade dos cidadãos face ao poder político. Hoje, em pleno Estado social
de Direito, o princípio da autonomia local já não é mesmo.
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Þ Regime jurídico:
o Fontes
Como fontes tempos a CRP, a Lei nº 75/2013 ou lei das autarquias locais, a Lei nº 169/99,
que apesar de revogada parcialmente pela LAL, mantém-se em vigor na parte relativa à
constituição, composição e organização dos órgãos autárquicos, a Lei nº 27/96 que regula as
eleições autárquicas.
o Traços Gerais
Na CRP, no capítulo I do título VIII da parte III, estão previstos os princípios gerais da
matéria:
Ø Divisão do território, que só pode ser estabelecida por lei (art. 236/4);
Ø Descentralização (art. 237);
Ø Património e finanças locais (art. 238/1);
Ø Correção de desigualdades (art. 238/2); - Órgãos dirigentes (art. 240/1/2);
Ø Referendo local (art. 240/3);
Ø Poder regulamentar (art. 241);
Ø Tutela administrativa (art. 242/1);
Ø As autarquias locais têm quadros de pessoal próprio (art. 243/1)
Ø O Estado tem o dever de conceder às autarquias locais apoio técnico e meios
humanos.
Mais temos o princípio da reserva de lei em matéria de autarquias locais previsto no art.
164 e 165.
Þ A Freguesia:
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A freguesia, enquanto integrante das autarquias locais é uma entidade pública que
apresenta uma base territorial. É uma entidade independente, distinta da pessoa coletiva do
Estado (art. 6/1 da CRP). O artigo 3/1 da Carta Europeia de Autonomia Local define ainda o
princípio da autonomia local como impondo "o direito e a capacidade efetiva de as autarquias
locais regulamentarem e gerirem, nos termos da lei, sob sua responsabilidade e no interesse
das respetivas populações, uma parte importante dos assuntos públicos". Parte essa
determinável pelo princípio da subsidiariedade (art. 6/1 CRP e 4/3 da Carta Europeia de
Autonomia Local).
As freguesias têm várias atribuições, que contribuem para esclarecer a sua importância
efetiva. Estas encontram-se enumeradas, de forma exemplificativa e não taxativa, no artigo
7.o do regime jurídico das Autarquias Locais (Lei nº 75/2013, de 12 de setembro, também
designada de “LAL”).
Assim, temos:
Ø Equipamento rural e urbano;
Ø Abastecimento público;
Ø Educação;
Ø Cultura, tempos livres e desporto; - Cuidados primários de saúde;
Ø Ação social;
Ø Proteção civil;
Ø Ambiente e salubridade;
Ø Desenvolvimento;
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Por fim, é importante destacar que as freguesias assumem um papel de relevo em muitos
outros setores. Assim, no plano político, é de salientar que são as freguesias que apoiam vários
processos eleitorais, como as eleições presidenciais, autárquicas, legislativas, e legislativas
regionais.
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Þ O Município:
A CRP veio determinar que pertence à reserva absoluta de lei formal o regime da criação,
extinção e modificação territorial das autarquias locais (art. 167/n) e que pertence à reserva
relativa de lei formal o estatuto das autarquias locais, incluindo o regime das finanças locais
(art. 168/1/s).
Mais, por via de regra, cada município tem os limites territoriais que corresponderem aos
limites das freguesias que o integram.
Enfim, cada município tem o direito de usar símbolos heráldicos, que o identificam e
distinguem perante terceiros
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contrato (art. 122). Tais contratos estão previstos no CCP e no CPA (art. 120/2).
Quanto à sua natureza estes são verdadeiros contratos administrativos (art. 1/6/b do
CCP), a delegação pode apenas ocorrem em relação às competências delegáveis
(art. 124/2), o período de vigência do contrato coincide com a duração do mandato
do Governo que o subescreveu (art.126/1) e considera-se renovado após a tomada
de posse do novo Governo (art.126/2). Finalmente, quanto à cessação do contrato,
para além do decurso do tempo, que determina a sua caducidade, os contratos
também podem cessar por revogação (no caso de acordo mutuo das partes), por
resolução (no caso de incumprimento do contrato, art.123.o/2/4/5) e por denúncia,
no prazo de 6 meses após a tomada de posse do Governo ou após a instalação do
órgão autárquico (art.126.o/3).
o Os órgãos do município:
O município é uma pessoa coletiva e, como tal, tem órgãos que tomam decisões, que
manifestam a vontade própria da pessoa coletiva em causa, tal está previsto no art.235.o/2 da
CRP.
Os órgãos do município dizem-se representativos quando a designação dos seus titulares
provier de eleição.
Uma classificação a que importa aludir está prevista no art.239 é a diferença entre:
Ø Órgãos deliberativos, que são os órgãos que tomam as grandes decisões de fundo
e marcam a orientação ou definem o rumo a seguir pela entidade a que pertencem.
Estes são órgãos colegiais amplos, tipo assembleia. No município este é a
Assembleia Municipal.
Ø Órgãos executivos, que são os que aplicam as orientações gerais no dia-a-dia,
encarregando-se da gestão corrente dos assuntes compreendidas na pessoa coletiva.
Estes são órgãos colegiais restritos e singulares. No município este é a Câmara
Municipal e, na opinião do professor FREITAS DO AMARAL, o presidente da
Câmara Municipal.
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à Assembleia Municipal:
A Assembleia Municipal é o órgão deliberativo do município, isto é, funcionam como
autentico um autêntico parlamento municipal.
O art. 251 da CRP traça a composição da Assembleia. Esta não é toda eleita diretamente
é, em parte, constituída por membros eleitos e, em parte, constituída por membros por
inerência que são os presidentes da junta de freguesia. No entanto, o número de membros
diretamente elementos pela população não pode ser inferior aos dos presidentes das juntas de
freguesia, nora que visa assegurar que os escolhidos por eleição direta não fiquem em minoria
perante os designados apenas mediante inerência.
Quanto ao funcionamento, cfr. art.27 da LAL, a Assembleia Municipal reúne-se em 5
sessões ordinárias, em que duas delas têm agenda pré-fixada na lei: trata-se, por um lado, da
sessão de Abril na qual deve ser apreciado o inventário de todos os bens, direitos e obrigações
patrimoniais e feita a respetiva avaliação; por outro lado, temos a sessão de Novembro ou
Dezembro em que cumpre aprovar as propostas das opções dos planos de atividades e do
orçamento para o ano seguinte.
Esta não desempenha funções executivas, nem funções de gestão, mas antes funções
próprias deste tipo de órgãos, cfr. art.25 da LAL:
Ø Função de orientação geral do município, de que a mais importante é discutir e
aprovar o programa anual de atividades e o orçamento do município;
Ø Função de fiscalização da Câmara Municipal;
Ø Função de regulamentação, que consiste em elaborar regulamentos, como as
posturas municipais;
Ø Função tributária;
Ø Função de decisão superior, que se traduz na prática de atos sobre as matérias mais
importantes da vida do município.
à A Câmara Municipal:
Esta é o órgão colegial de tipo executivo a quem está atribuída a gestão perramente dos
assuntos municipais. Podemos chamar-lhe, portanto, o corpo administrativo, que é definido
pelo professor Freitas do Amaral como todo o órgão colegial executivo encarregado da gestão
permanente dos assuntos de uma autarquia local.
Esta é diretamente eleito pela população do município.
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àPresidente da Câmara:
As principais competências do Presidente da Câmara estão previstas no art.35.o da LAL,
temos:
Ø A função presidencial: consiste em convocar e presidir às reuniões da Câmara, e
em representar o município, em juízo e fora dele.
Ø A função executiva: cabe-lhe executar as deliberações tomadas pela própria
Câmara;
Ø A função decisória: compete-lhe dirigir e coordenar os serviços municipais;
Ø A função interlocutória: cumpre ao Presidente da Câmara fornecer informações aos
vereadores e à Assembleia Municipal, bem como remeter a esta toda a
documentação comprovativa da atividade do Município, em especial no plano
financeiro.
à Os serviços municipais:
Definição: os serviços municipais, em sentido estrito, são os serviços do município que,
não dispondo de autonomia, são diretamente geridos pelos órgãos principais do município.
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O município toma decisões através dos seus órgãos. Mas essas decisões, antes de serem
tomadas, precisam de ser cuidadosamente estudadas e preparadas e, uma vez tomadas, têm de
ser executadas. A preparação e a execução das decisões competem aos serviços.
Os serviços pertencentes ao município chamam-se serviços municipalizados
Já quanto às empresas públicas locais, estas são regidas pelo RSEL. As empresas locais
são pessoas coletivas de direito privado, de tipo societário, constituídas e participadas nos
termos da lei comercial, nas quais a entidade pública participante exerce uma influência
dominante.
Por sua vez, a influência dominante certifica-se pela verificação de algum dos seguintes
requisitos (art.19/1):
Ø Detenção da maioria do capital ou dos direitos de voto;
Ø Direito de designar ou destituir a maioria dos membros do órgão de gestão, de
administração ou fiscalização;
Ø Qualquer outra forma de controlo de gestão.
o Associações de municípios:
Segundo a LAL, as associações de municípios são verdadeiras pessoas coletivas públicas
(art. 63/1). A sua constituição é complexa que envolve a assembleia municipal e a câmara
municipal.
De acordo com o art. 109 da LAL, cada associação de municípios tem estatutos próprias
que têm de estabelecer a sua denominação, o seu fim, sede e composição, as competências
dos órgãos, a contribuição de cada município, entre outras coisas.
o O referendo local:
A possibilidade de efetuar consultas sobre assuntos relacionados com a vivência diária das
populações locais é uma forma de sensibilização dos cidadãos para a existência e necessidade
de decisão de problemas que lhe são próximos.
Este está previsto na Lei Orgânica nº 4/2000 de 24 de agosto (LRL). A LRL delimita
positiva e negativamente o objeto da consulta:
Ø Pela positiva está estipulado no art. 3/1;
Ø Pela negativa temos o art. 4.
Quanto aos requisitos temporais nenhum referendo local pode ser convocado ou realizado
entre a data da convocação e data da realização de eleições gerais para os órgãos de soberania.
Além disso, não pode haver cumulação entre os referendos locais e os regionais (art.6.o/3/8
da LRL).
Sobre o âmbito das consultas populares, estas tanto podem ter lugar ao nível da freguesia,
como ao nível do município (art. 2/2 da LRL).
Atribuições: existe coincidência quase total entre as atribuições prosseguidas pelas áreas
metropolitanas e as comunidades intermunicipais. Entre elas (art. 67o e 81o LAL):
Ø Funções de planeamento da estratégia de desenvolvimento económico, social e
ambiental do respetivo território;
Ø Função de articulação dos investimentos municipais;
Ø Funções de participação na gestão dos programas de apoio ao desenvolvimento
regional;
Ø Funções de articulação dos municípios com os serviços de administração central
relativamente às redes de serviços públicos.
Órgãos: no caso das áreas metropolitanos, a lei prevê um órgão deliberativo, o conselho
metropolitano, um órgão executivo, a comissão executiva metropolitana, e um órgão
consultivo, o conselho estratégico para o desenvolvimento metropolitano.
Compete à comissão executiva metropolitana, pelo art. 76o LAL, executar as opções do
plano e o orçamento, assegurar o cumprimento das deliberações do conselho metropolitano,
bem como dirigir os serviços metropolitanos.
No caso das comunidades intermunicipais, a lei prevê quatro órgãos: dois órgãos
deliberativos, a assembleia intermunicipal e o conselho intermunicipal, um órgão executivo,
o secretariado executivo intermunicipal e um órgão consultivo, o órgão estratégico para o
desenvolvimento intermunicipal.
Nos termos do art. 84 LAL, compete a esta aprovar, sob proposta do conselho
intermunicipal, as opções do plano e o orçamento, bem como apreciar o inventário de todos
os bens, direitos e obrigações patrimoniais e apreciar e votar os documentos de prestação de
contas. Compete ainda eleger, sua proposta do conselho intermunicipal, o secretariado
executivo intermunicipal, bem como aprovar moções de censura a este órgão.
Nos termos do art. 90 LAL, compete a este definir e aprovar as opções políticas
estratégicas da comunidade intermunicipal, bem como acompanhar e fiscalizar a atividade do
secretariado executivo intermunicipal. O conselho tem competência para aprovar
regulamentos, sob proposta do secretariado executivo, e o poder de demitir o secretariado
executivo intermunicipal.
Nos termos do art. 96 LAL, completa e este este executar as opções do plano e o
orçamento, assegurar o cumprimento das deliberações do conselho intermunicipal e dirigir os
serviços intermunicipais.
A LAL incorre em nova violação da constituição quando comete aos órgãos deliberativos
das áreas metropolitanas a competência para aprovar regulamentos. A constituição reserva
para as autarquias locais o exercício do poder regulamentar, no art. 241o. Faz sentido que
assim seja. A emanação de regulamentos externos pressupõe a legitimação democrática direta
do órgão que os aprova. Há, por isso, violação clara do art. 241o CRP, bem como do princípio
democrático ínsito no art. 2 CRP.
autarquias locais. Estas não são pessoas colectivas territoriais que tenham como atribuições
tudo o que disser respeito aos interesses das respectivas populações. Sem este princípio da
especialidade, a associação de municípios seria inconstitucional, porque violaria as normas
constitucionais que definem as diversas categorias de autarquias locais (art. 236o CRP).
Cumpre distinguir três fases bem distintas que a legislação respetiva atravessou nas
últimas décadas:
Ø Primeira fase (de 1936 a 1974): Foi o período do estado novo. O regime era
politicamente autoritário e centralizado. A tutela administrativa do governo sobre
as autarquias locais era tanto de legalidade como de mérito;
Ø Segunda fase (de 1974 a 1989): Os primeiros 15 anos após o 25 de abril. A
constituição diz claramente descentralizadora (art. 6/1 e 267/2 CRP) e erigiu as
autarquias locais em poder local. A autonomia municipal foi reforçada e a tutela
administrativa do estado reduzida: a primeira LAL limite total tutela a tutela de
legalidade (art. 91 a 93). Essa orientação foi consagrada em 1982 na constituição
(art. 243/1 CRP). Na prática, este regime era precisamente liberal, e revelou-se
insuficiente, e incapaz de proporcionar ao estado meios adequados de tutela sobre
as autarquias locais;
Ø Terceira fase (de 1989 em diante): Iniciou-se com a Lei n.o 87/89, de 9 de
setembro, sobre tutela administrativa das autarquias locais e das associações de
municípios de direito público. Atualmente, o diploma que disciplina a matéria da
tutela do estado sobre as autarquias locais e Lei n.o 27/96, de 1 de agosto.
Se é certo que a natureza sancionatória dos atos de tutela visados pelo art.242 CRP se
aproxima este poder da competência disciplinar, não é menos verdade que a legitimidade
democrática dos titulares dos órgãos autárquicos obriga a um controlo independente e
imparcial das causas de dissolução e perda de mandato, que só os tribunais administrativos
podem levar a cabo.
Perda de mandato: Os membros dos órgãos autárquicos estão sujeitos a sanção legal de
perda do mandato, desde que se prove que cometeram determinadas ilegalidade consideradas
graves (art.7, 8/3 e 9/i). A LTA entrega o julgamento de todas as ações de perda de mandato,
sejam quais forem os seus fundamentos, os tribunais administrativos. Se relativamente à
avaliação das causas de inelegibilidade a solução se compreende (art.8.o/1/b), já a natureza
disciplinar da questão das faltas (art.8/1/a) teria recomendado a manutenção da opção anterior,
sem prejuízo da impugnabilidade contenciosa da deliberação administrativa que decretasse tal
sanção.
Na ausência de determinação expressa na lei, uma vez decretada a perda do mandato, a
vaga será preenchida pelo cidadão seguinte na lista apresentada a sufrágio ou, em caso de
coligação, pelo cidadão imediatamente a seguir do partido pelo qual havia sido proposto o
membro que perdeu o mandato.
Efeitos das sanções tutelares: Os autarcas a quem tenha sido aplicada a sanção de perda
de mandato, ou que fossem membros de um órgão dissolvido, ficam impedidos de fazer parte
da comissão administrativa prevista no artigo 14 (art.12/1 LTA).
Este efeito negativo só não se produzirá quanto aos autarcas que não tiverem participado
nas votações ou tiverem votado contra nas deliberações que hajam causado a dissolução
(art.12/2). Por seu turno, a renúncia ao mandato por parte do titular do órgão alvo de uma ação
de perda de mandato não prejudicará a produção do efeito sancionatório previsto no art.12.o/1.
Nos termos do art.12/4, a dissolução do órgão deliberativo da freguesia ou da região
administrativa envolve necessariamente a dissolução da respetiva junta.
Apesar de o Governo ser “o órgão superior da Administração Pública” (art. 182 CRP), não
significa que tenha o monopólio da função administrativa. Pela sensibilidade de algumas
matérias e porque essas mesmas requerem um distanciamento em relação ao Governo por
tratarem da tutela dos direitos, liberdades e garantias, a Constituição prevê qual o órgão
independente que deve assegurar o desempenho dessa função, impondo ao legislador que o
institua ou pode somente determinar que é necessária a criação de uma entidade que proteja
certo direito fundamental, ficando o legislador com total liberdade.
Importa também realçar que há algumas diferenças entre os órgãos: no caso do Provedor
de Justiça, este tem uma competência genérica de intervenção na defesa dos direitos
fundamentais dos cidadãos, enquanto os restantes órgãos têm somente uma competência
limitada a um único direito ou conjunto de direitos com relação entre si. Ao contrário dos
restantes órgãos, o Provedor de Justiça não tem nem poderes decisórios nem sancionatórios,
tendo somente poder de influência.
Posto isto e quanto à designação dos membros dos órgãos independentes esta é feita com
a participação da Assembleia da República, o que dá mais garantias aos cidadãos.
Vários têm sido os critérios propostos na doutrina para traçar a linha entre pessoas
coletivas públicas e privadas. Na verdade, há múltiplos critérios que atendem a um ou vários
fatores:
Ø Iniciativa da criação da pessoa coletiva;
Ø Fim prosseguido;
Ø Capacidade jurídica;
Ø Regime jurídico global;
Ø Subordinação ou não da pessoa coletiva ao Estado;
Ø Obrigação ou não de a pessoa coletiva existir;
Ø Exercício ou não da função administrativa do Estado pela pessoa coletiva.
O prof. Freitas do Amaral entende que, para distinguir claramente há que adotar um
critério misto que combine a criação, o fim e a capacidade jurídica.
Assim, para o Professor, são “pessoas coletivas públicas” as pessoas coletivas criadas por
iniciativa pública, para assegurar a prossecução necessária de interesses, e por isso dotadas
em nome próprio de poderes e deveres públicos:
Ø São pessoas coletivas;
Ø São entidades criadas por iniciativa pública. Nascem sempre de uma decisão
pública, regida pelo direito público, tomada pela coletividade nacional, ou por
comunidades regionais ou locais autónomas, ou proveniente de uma ou mais
pessoas coletivas públicas já existentes. “Iniciativa pública” é uma expressão
ampla que cobre todas as hipóteses e acautela os vários aspetos relevantes;
Ø São criadas para assegurar a prossecução necessária de interesses públicos.
Existem para prosseguir o interesse público. Há pessoas coletivas privadas que
também prosseguem interesses públicos; mas podem fazê-lo ou deixar de o fazer
e, quando o fazem, podem simultaneamente prosseguir interesses privados. Por
outro lado, mesmo quando tais entidades privadas exerçam realmente funções de
interesse público, fazem-no sempre sob a fiscalização da Administração Pública.
Não apenas as pessoas coletivas públicas prosseguem interesses públicos, mas
sobretudo asseguram essa prossecução;
Ø São titulares, em nome próprio, de poderes e deveres públicos. A titularidade em
nome próprio serve para distinguir as pessoas coletivas públicas das pessoas
coletivas privadas que se dediquem ao exercício privado de funções públicas. Dizer
“poderes e deveres públicos” em vez de “poderes de autoridade” é preferível,
porque há pessoas coletivas públicas que não exercem poderes de autoridade,
embora sejam titulares de poderes públicos lato sensu e porque o Direito
Espécies
Quais são as categorias de pessoas coletivas públicas no direito português atual (art.
2/4 CPA)?
Ø Estado;
Ø Institutos Públicos;
Ø Empresas públicas, na modalidade de entidades públicas empresarias;
Ø Associações públicas;
Ø Entidades administrativas independentes;
Ø Autarquias locais;
Ø Regiões Autónomas.
A lista está ordenada segundo o critério da maior dependência para a menor dependência
do Estado, sendo os institutos públicos e as empresas públicas os mais dependentes, e as
regiões autónomas as menos dependentes.
Quais são os tipos de pessoas coletivas públicas a que estas categorias se reconduzem?
Ø Pessoas coletivas de população e território, que incluem o Estado, as regiões
autónomas e as autarquias locais;
Ø Pessoas coletivas de tipo institucional, que são os institutos públicos e as empresas
públicas qualificadas como entidades administrativas independentes;
Ø Pessoas coletivas de tipo associativo, que são as associações públicas.
Regime jurídico
O regime jurídico das pessoas coletivas públicas não é um regime uniforme, não é igual
para todas elas: depende da legislação aplicável. No caso das autarquias locais, todas as
espécies deste género têm o mesmo regime.
Mas já quanto aos institutos públicos, empresas públicas e associações públicas, o regime
varia muitas vezes de entidade para entidade.
Órgãos
Todas as pessoas coletivas são dirigidas por órgãos. A estes cabe tomar decisões em nome
da pessoa coletiva ou manifestar a vontade imputável à pessoa coletiva.
Podemos classificar os órgãos como:
Ø Órgãos singulares e colegiais: são singulares aqueles que têm apenas um titular, e
colegiais os compostos por dois ou mais titulares. A figura do órgão com dois
titulares é raríssima, sendo que atualmente o órgão colegial tem, no mínimo, três
titulares, e deve em regra ser composto por um número ímpar de membros. Esta
classificação é bastante útil, dado o regime específico dos segundos, e o próprio
CPA a recolhe, no art. 20/2;
Ø Órgãos centrais e locais: órgãos centrais têm competência sobre todo o território
nacional enquanto os locais têm a sua competência limitada a uma circunscrição
administrativa;
Ø Órgãos primários, secundários e vicários: órgãos primários são os que dispõem de
uma competência própria para decidir matérias que lhes estão confiadas; órgãos
secundários são os que dispõem de competência delegada; órgãos vicários apenas
exercem competência por substituição de outros órgãos (ex.: Vice-Presidente que
apenas atua por substituição de outro que deixou de atuar. A regra geral, constante
do art. 22/1 CPA, determina que em caso de ausência ou impedimento do
presidente e do secretario a suplência caiba ao vogal mais velho, i.e., decano, e ao
vogal mais moderno, respetivamente);
Ø Órgãos representativos e órgãos não representativos: órgãos representativos são
aqueles cujos titulares são livremente designados por eleição, e os restantes serão
não representativos;
Ø Órgãos ativos, consultivos e de controlo: órgãos ativos são aqueles a quem compete
tomar decisões ou executá-las. Órgãos consultivos são aqueles cuja função é
esclarecer os órgãos ativos antes de estes tomarem uma decisão. Órgãos de controlo
são aqueles que têm por missão fiscalizar a regularidade do funcionamento de
outros órgãos;
Ø Órgãos decisórios e executivos: os órgãos ativos podem por sua vez ser decisórios
e executivos. Aos decisórios compete tomar decisões e aos executivos compete
executar tais decisões. Dentro dos órgãos decisórios, distinguem-se os órgãos
deliberativos que têm caráter colegial;
Ø Órgãos permanentes e temporários: são órgãos permanentes os que têm duração
indefinida e são temporários os que são criados para atuar apenas durante um certo
período. É uma classificação acolhida expressamente no CPA, pelo art. 20/2;
Ø Órgãos simples e complexos: os órgãos simples são os que têm estrutura unitária,
a saber os singulares (um só titular) e os colegiais, cujos titulares só podem atuar
coletivamente quando reunidos em conselho. Os órgãos complexos têm estrutura
diferenciada, isto é, são órgãos (ex. Governo) constituídos por titulares que
exercem também competências próprias a título individual (ex. Ministros) e são em
regra auxiliados por adjuntos, delegados e substitutos (ex.: Secretários de Estado,
Subsecretários de Estado);
Ø Alegada distinção entre órgãos diretos e indiretos: seria órgãos diretos os que atuam
em nome da pessoa coletiva a que pertencem, e órgãos indiretos os que atuam em
nome próprio, embora no exercício de um poder ou de uma função alheias. O prof.
Freitas do Amaral discorda, porque não podemos conceber que haja órgãos que não
atuem em nome da pessoa a que pertencem; e porque a sugerida definição de órgão
indireto confunde-se com a de órgão delegado, tendo esta expressão a vantagem de
ser muito mais clara, além de cientificamente bem identificada.
vez designados, se reúnem pela primeira vez e dão início ao funcionamento desse
órgão;
Ø Marcação e convocação de reuniões: a marcação é a fixação da data e hora em
que a reunião terá lugar; a convocação é a notificação feita a todos e cada um dos
membros acerca da reunião a realizar, na qual são indicados, além do dia e da hora
da reunião, o local desta e a respetiva “ordem do dia”;
Ø Reuniões e sessões: a reunião é o encontro dos respetivos membros para
deliberarem sobre matéria da sua competência. Se o órgão colegial é de
funcionamento contínuo, diz-se que esta em sessão permanente, embora possa
reunir apenas uma vez por semana; se se trata de um órgão colegial de
funcionamento intermitente, dir-se-á que tal órgão tem duas, ou três, ou quatro
sessões por ano; em cada sessão poderá haver uma ou varias reuniões. As sessões
são os períodos dentro dos quais podem reunir os órgãos colegiais de
funcionamento intermitente. Tanto as reuniões como as sessões podem ser
ordinárias, se se realizam regularmente em datas ou períodos certos, ou
extraordinárias se são convocadas inesperadamente fora dessas datas ou períodos;
Ø Membros e vogais: os membros são os titulares do órgão colegial. Mas o
presidente, que existe sempre, e os vice-presidentes, secretários e tesoureiros,
quando existam, são membros mas não são vogais. Vogais são apenas os membros
que não ocupam uma posição funcionam dotada expressamente de uma
denominação apropriada;
Ø Funcionamento, deliberação e votação: o funcionamento é o desempenhar das
funções para que foi criado o órgão. O seu funcionamento realiza-se através de
reuniões, e cada reunião começa quando é declarada aberta pelo presidente e
termina quando por ele é declarada encerrada. A parte essencial é deliberativa, isto
é, aquela em que o órgão colegial é chamado a tomar decisões em nome da pessoa
coletiva a que pertence. O processo jurídico mais frequente pelo qual os órgãos
colegiais deliberam chama-se votação, que permite apurar a vontade coletiva pela
contagem das vontades individuais dos membros. Há casos, porém, que certos
órgãos colegiais podem deliberar sem ser através de votação: são os casos de
deliberação por consenso, ou seja, por assentimento tácito informal nos termos em
que for interpretado pelo presidente;
Ø Quórum: número mínimo de membros de um órgão colegial que a lei exige para
que ele possa funcionar regularmente ou deliberar validamente. Há assim que
distinguir entre quórum de funcionamento e quórum de deliberação;
Ø Modos de votação: há votação pública, em que todos os presentes ficam a saber o
sentido do voto de cada um e há votação secreta ou escrutínio secreto em que o
sentido de voto de cada um não se toma conhecido dos demais;
Ø Maioria: a lei exige, normalmente, para se poder considerar ter sido tomada uma
decisão, que nesse sentido tenha votado a maioria. A maioria é habitualmente
definida como metade dos votos mais um, esta definição é porém incorreta. Deve
por isso definir-se maioria como sendo mais de metade dos votos. A maioria diz-
se simples ou absoluta, se corresponde a mais de metade dos votos; relativa, se
traduz apenas a maior votação obtida entre várias alternativas, ainda que não atinja
mais de metade dos votos; e qualificada ou agravada, se a lei a faz corresponder a
um número superior à maioria simples;
Ø Voto de desempate e voto de qualidade: a forma mais usual para resolver um
empate consiste na atribuição ao presidente do órgão colegial do direito de fazer
um “voto de desempate” ou um “voto de qualidade”. No primeiro, procede-se à
votação sem que o presidente vote e, se houver empate, o presidente vota
desempatando; no segundo, o presidente participa como os outros membros na
votação geral e, havendo empate, considera-se automaticamente desempara a
votação de acordo com o sentido em que o presidente tiver votado;
Ø Adoção e aprovação: se a votação é favorável a uma certa proposta ou projeto,
diz-se destes que foram adotados ou aprovados pelo órgão colegial; a partir desse
momento, tais propostas ou projetos deixam de exprimir o ponto de vista do
membro apresentador ou proponente para se converterem numa decisão do órgão
em causa e, portanto, na vontade da pessoa coletiva a que o órgão pertence;
Ø Decisão e deliberação: há quem distinga decisões como as resoluções dos órgãos
singulares e deliberações as dos órgãos colegiais. Mas é mais correto admitir que
todo o ato administrativo é uma decisão, sendo a deliberação o processo específico
usado nos órgãos colegiais para tomar decisões;
Ø Atos e atas: atos são as decisões tomadas e atas são as narrativas das reuniões
afetadas;
Ø Dissolução e demissão: há quem entenda que a dissolução é o ato que põe termo
coletivamente ao mandato dos titulares de um órgão colegial, sendo a demissão o
ato que faz cessar as funções de um órgão singular. Mas não é bem assim. Só há
dissolução quanto a órgãos colegiais designados por eleição; se os titulares do
órgão colegial são nomeados, o ato que põe termo coletivamente às suas funções é
uma demissão.
Atribuições e competência
Os fins das pessoas coletivas públicas chamam-se atribuições. Atribuições são os fins ou
interesses que a lei incumbe as pessoas coletivas públicas de prosseguir.
Para o fazerem, as pessoas coletivas públicas precisam de poderes, são os poderes funcionais.
Ao conjunto dos poderes funcionais chamamos competência. Competência é o conjunto dos
poderes funcionais que a lei confere para a prossecução das atribuições das pessoas coletivas.
Em princípio, nas pessoas coletivas públicas as atribuições referem-se à pessoa coletiva
em si mesma, enquanto a competência se reporta aos órgãos. A lei especificará, portanto, as
atribuições de cada pessoa coletiva e, noutro plano, a competência de cada órgão.
Resulta, portanto, uma dupla limitação: o órgão fica limitado pela sua própria competência
e limitado pelas atribuições da pessoa coletiva em cujo nome atua. Atribuições e competências
limitam -se reciprocamente umas às outras.
Isto é particularmente nítido na administração local autárquica e, em especial, no
município. As atribuições do município vêm reguladas nos art. 2 e 23 LAL e a competência
de cada um dos seus órgãos nos seus art. 25, 33 e 35. De um lado, temos as atribuições do
município e do outro temos as competências de cada um dos órgãos municipais.
Esta distinção entre atribuições e competências tem a maior importância, não só para se
compreender a diferença que existe entre os fins que se prosseguem e os meios jurídicos que
se usam para prosseguir esses fins, mas também porque a lei estabelece uma sanção diferente
para o caso de os órgãos da Administração praticarem atos estranhos às atribuições das
pessoas coletivas públicas ou atos fora da competência confiada a cada órgão: enquanto os
atos praticados fora das atribuições são atos nulos (art. 161/2/b CPA), os praticados apenas
fora da competência do órgão que os pratica são atos anuláveis (art. 163/1 CPA). Tudo isto é
assim nas pessoas coletivas públicas diferentes do Estado, porque neste é mais complexo o
problema.
Porque, no Estado, o que separa juridicamente os órgãos uns dos outros não é apenas a
competência de cada um, são também, e sobretudo, as atribuições. No Estado, as atribuições
estão repartidas entre Ministérios.
Em termos práticos, se o Ministério A pratica um ato sobre matéria estranha ao seu
ministério, porque incluída nas atribuições do Ministério B, a ilegalidade desse ato não será
apenas a incompetência por falta de competência, mas sim a incompetência por falta de
atribuições. Quer dizer: o ato não será meramente anulável, mas nulo.
Da competência em especial
Por isso, é ilegal, em regra, a prática pela Administração de atos que visem produzir efeitos
sobre o passado (efeitos retroativos) ou regular situações que não se sabe se, ou quando,
ocorrerão no futuro (efeitos diferidos). Esta regra pode comportar algumas exceções.
Um ato administrativo praticado por certo órgão da Administração contra as regras que
delimitam a competência dir-se-á ferido de incompetência.
Os quatro critérios expostos são cumuláveis e todos têm se atuar em simultâneo.
Serviços Públicos
Conceito
Os serviços públicos atuam sob a direção dos órgãos das pessoas coletivas públicas: quem
toma as decisões que vinculam a pessoa coletiva pública perante o exterior são os órgãos dela;
e quem dirige o funcionamento dos serviços existentes no interior da pessoa coletiva são
também os seus órgãos. Mas quem desempenha as tarefas concretas e especificas em que se
traduz a prossecução das atribuições das pessoas coletivas públicas, são os serviços públicos.
Quanto às relações entre os órgãos e os serviços públicos, são de dois tipos: os órgãos
dirigem a atividade dos serviços e os serviços auxiliam a atuação dos órgãos. As decisões dos
órgãos têm de ser rodeadas de particulares cuidados, daí que se torne necessário desenvolver
uma atividade prévia de preparação e estudo das diversas soluções possíveis. Além disso, uma
vez tomadas as decisões, elas têm de ser executadas. Os serviços públicos desenvolvem a sua
atuação quer na fase preparatória da formação da vontade do órgão administrativo, quer na
fase que se segue à manifestação daquela vontade.
Espécies
Os serviços públicos podem ser classificados segundo suas perspetivas: uma funcional e
estrutural:
Ø Os serviços públicos como unidades funcionais: os serviços públicos distinguem-
se de acordo com os seus fins: por exemplo, serviços de polícia, ou de educação. É
com base neste critério que se dividem as várias direções-gerais dos ministérios e
os respeitos serviços executivos;
Ø Os serviços públicos como unidades de trabalho: os serviços públicos distinguem-
se não já segundo o fim, mas antes segundo o tipo de atividade que desenvolvem.
Com efeito, em cada departamento os serviços diferenciam-se consoante a natureza
das tarefas que desempenham: assim, por exemplo, temos os serviços de estatística
e recolha de dados, e os serviços de gestão de património e do pessoal;
Regime jurídico
A lei admite vários modos de gestão dos serviços públicos: por via de regra são geridos
por uma pessoa coletiva pública, mas também pode suceder que a lei autorize que a gestão de
um serviço público seja temporariamente entregue a uma empresa privada, por meio de
concessão, ou a uma associação ou fundação de utilidade pública, por delegação de poderes.
Os utentes do serviço público ficam sujeitos a regras próprias que os colocam numa
situação jurídica especial. As relações jurídicas que se estabelecem entre os utentes do serviço
público e a Administração são diferentes das relações gerais que todo o cidadão trava com o
Estado. Os utentes acham-se submetidos a uma forma peculiar de subordinação aos órgãos e
agentes administrativos, que tem em vista criar e manter as melhores condições de
organização e funcionamento dos serviços, e que se traduz no dever de obediência em relação
a vários poderes de autoridade.