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INDICE

I. Objectivo do curso.....................................................................................................4

1. O que é Direito...........................................................................................................4

2. As normas do direito e as outras normas sociais........................................................5

3. Estrutura da norma jurídica........................................................................................6

4. Direito e Estado..........................................................................................................7

Noção de Estado............................................................................................................7

5.O. Elementos de Estado..............................................................................................8

5.1. Noção de povo........................................................................................................8

5.2.Noção território........................................................................................................8

5.3. Noção de Poder político..........................................................................................9

6.0. Formas de Estado........................................................................................................9

6.1.Fins e funções do Estado..........................................................................................9

6.2. Noção de função de Estado.....................................................................................9

6.3.Quais são as funções do Estado?...........................................................................10

6.3.1.Teoria Jellinek.................................................................................................10

6.3.2. Teoria de Leon Duguit...................................................................................11

6.3.3.Teoria de Kelsen..............................................................................................11

6.3.4. Teoria integral das funções de Direito...........................................................12

6.4. Função política......................................................................................................12

6.5. Funções Técnicas..................................................................................................12

6.6. A função técnica do estado...................................................................................13

7.0. Órgãos do estado......................................................................................................13

7.1. Classificação e competência dos órgãos de Estado..............................................14

7.1.1.Órgãos independentes.....................................................................................14

7.1.2.Órgãos subordinado.........................................................................................14
7.2. Distinção entre órgãos do Estado e Agentes Estado.............................................14

8.0 Ramos de Direito.......................................................................................................15

8.1. Direito Privado e Direito Publico.........................................................................15

8.1.1. Critério de interesses......................................................................................16

8.1.2. Critério da qualidade dos sujeitos..................................................................16

8.1.3. Critério da posição dos sujeitos......................................................................17

8.2. Ramos de Direito público.....................................................................................17

8.3. Ramos do direito Privado......................................................................................18

9.0 Fontes de Direito.......................................................................................................20

9.1. Noção de fontes.....................................................................................................20

9.2. A relevância da equidade, jurisprudência, e doutrina como fontes de direito......20

9.2.1. A equidade......................................................................................................20

9.2.2. Jurisprudência.................................................................................................21

9.2.3. Doutrina..........................................................................................................21

10. O processo de elaboração das leis.............................................................................21

10.4. A cessão das normas pode ter efeitos nos factos ocorridos no passado (a)ou
pode ter efeitos para futuro (b).....................................................................................22

10.4.1. Factos ocorridos no passado.........................................................................22

10.4.2. Efeitos futuros de cessação da vigência das normas....................................22

a) Revogação do bilateral.........................................................................................23

b) Contratos vontade unilateral.................................................................................23

10. 2. Vícios de feitura das leis....................................................................................24

11.0 Hierarquia das leis...................................................................................................25

11.1. Hierarquia das leis no ordenamento jurídico moçambicano...............................26

12.0. Sanção.....................................................................................................................27

12.1 Conceito de sanção jurídica.................................................................................27

12.2. Sanções compulsórias.........................................................................................27


12.3. Sanção reconstitutiva..........................................................................................28

12.4. Sanções compensatórias......................................................................................28

12.5. Sanção preventiva...............................................................................................29

12.6. Sanções punitivas................................................................................................29

12.7.Coercibilidade das sanções jurídica.....................................................................30

12.8. A coercibilidade nas ordens jurídicas estatais........................................................30

13.0.Ilicitude....................................................................................................................30

13.1.Ilícito civil, penal, disciplinar..............................................................................31

13.2...............................................................................................................................31

13.3. Tipos de sanções disciplinares............................................................................33

14.0 Responsabilidade civil contratual e a Responsabilidade civil extra contratual.......33

14.1. Causas da exclusão da ilicitude...........................................................................35

14.1.2 Acção directa.................................................................................................35

14.1.3 Legítima defesa.............................................................................................37

14.1.4. Estado de necessidade..................................................................................38

14.1.5 Consentimento do lesado..............................................................................39

14.1.6.Incumprimento não culposo da obrigação....................................................40

14.2.Causas da exclusão de responsabilidade no Ilícito disciplinar............................40

Bibliografia......................................................................................................................44
I. Objectivo do curso

Esta é uma disciplina afim ao curso de AGE, com o objectivo de ajudar aos formandos a
vencer as inevitáveis exigências inerentes ao conhecimento, interpretação dos
dispositivos normativos aplicáveis no sector de educação administração e a
administração pública como um todo.

Ao formular-se o currículo do curso de AGE e atribuir-se o nome Noções de Direito,


quis a comissão científica da Universidade Pedagógica admitir que esta seria apenas
uma disciplina preparatória, dai que a nossa abordagem cingir-se-à aos conceitos
básicos que serão abordados de forma descritiva. Pelo facto de o tempo reservado para
esta disciplina ser muito escasso, iremos abarcar aqueles conceitos que se mostram
essenciais para um gestor público.

1. O que é Direito

Em todos os tempos em todos os lugares existiu o Direito, embora manifestando-se em


formas e conteúdos mutáveis, dai que se torna oportuno saber as principais formas nas
quais o Direito se manifesta no nosso ordenamento jurídico e o que difere as normas de
Direito das outras normas vigentes na sociedade.

Pela intuição do dia-a-dia, todos temos a noção empírica do que é o Direito. A título
ilustrativo os estudantes no acto de inscrição na Universidade certamente estavam
conscientes que já tinham um direito adquirido de frequentar o curso a que se iam se
matricular. Por contraposição a este direito, está adstrito o dever de pagar as propinas e
cumprir com o regulamento de avaliação vigente na Universidade a que se devem
sujeitar para passar de nível. A luz deste exemplo é fácil aferir que ate a materialização
da formação académica é necessário que se implemente as normas jurídicas para que ela
se efective.

Do exposto pode se aferir que o Direito traduz- se em normas que regem as relações
humanas e institucionais mediante a imposição de acções e abstenções. Esta lógica
tem como objectivo potenciar a cooperação entre os homens, isto é, fazer com que um
faça o que deve dentro da sociedade humana.

2. As normas do direito e as outras normas sociais

As normas de Direito diferem das normas sociais que orientam a actividade homem
para a prática do bem tais como as normas morais e religiosas.

As normas religiosas, éticas e morais distinguem-se das normas do Direito pelo facto
de a sua violação não implicar nenhuma sanção penal, isto é, estas normas não são
impostas por entes públicos.

As normas religiosas impõem se ao homem na sua relação com Deus; as normas morais
orientam o homem na prática do bem comum; e as normas de cortesia são regras de
convivência, de decoro e de boas maneiras nas relações sociais.

Sucede porém que em muitos aspectos as normas de Direito coincidem com as normas
religiosas e morais. Esta coincidência é expressa pela teoria do mínimo ético segundo a
qual o Direito representa apenas o mínimo de Moral declarado obrigatório para que a
sociedade possa sobreviver1.

1
TELES, INOCENCIO GALVAO, Introdução ao estudo de Direito Coimbra editora 11ª edição. P. 27
A supremacia das normas de Direito deriva do facto de todos os homens desejarem
cumprir de maneira espontânea as obrigações morais, pelo que se torna indispensável
armar de força certos preceitos éticos, para que a sociedade não se degenere. A Moral,
em regra, dizem os adeptos dessa doutrina, é cumprida de maneira espontânea, mas
como as violações são inevitáveis, é indispensável que se impeça, com mais vigor e
rigor, a transgressão dos dispositivos que a comunidade considerar indispensável à paz
social.

Com base nestas premissas dir-se-á que o Direito é um conjunto de normas de


conduta social, estabelecidas com vista a justiça, a paz social e do bem comum,
dotadas de generalidade, e impostas pela forca quando necessário e possível1.

3. Estrutura da norma jurídica

A norma jurídica como enunciado orientador da conduta humana desdobra-se de duas


partes, uma onde se descreve o facto ou a situação específica referente a vida social.

A primeira parte denomina se previsão; a segunda estatuição. A norma jurídica como


foi aflorado antes na definição é genérica e apresenta a hipótese de se dar algo que se
prevê.

A estatuição determina as consequências jurídicas que decorrerão desse facto se ele se


der.

A titulo exemplificativo o n°1 do artigo 483 CC dispõe o seguinte:

Se alguém culposamente violar um direito alheio fica obrigado a indemnizar o lesado


dos danos dai resultantes.

Por vezes a previsão não aparece formulada expressamente na primeira parte da frase tal
como dispõe o n ° 2 al a) da lei n° 8/2008 de 15 de Julho que está formulada numa
sequência em que estatuição vem em primeiro lugar e previsão no segunda parte.

Assim dispõe a lei:


2. Incorrem também na pena de prisão até um ano, não remível;

a) Os progenitores, tutores ou outras pessoas incumbidas da guarda de menores que


deixem de lhes prestar habitualmente a assistência económica e moral, pondo, desse
modo, em perigo o seu são e normal desenvolvimento.

4. Direito e Estado

Noção de Estado

Na introdução a esta cadeira definimos o conceito de Direito. Agora importa estabelecer


a relação intrínseca existente entre o Estado e o Direito. Na acepção moderna o Estado é
definido como uma colectividade fixada em determinado território que detém o poder
politico, ou seja, o poder de domínio sobre esse território e a de definição das normas
jurídicas e da sua aplicação através de órgãos adequados, com recurso a força quando
necessário e possível2.

A implementação das normas do direito é assegurada pelo Estado pelo facto de ser esta
entidade que tem o monopólio no uso de força. Porém nem todas as normas de Direito
têm a origem estadual. As associações profissionais criam certas normas cujo
cumprimento é obrigatório. As normas de Direito que tem origem nos órgãos infra-
estaduais para serem aplicáveis não devem ser contrários a constituição e as demais
leis3. Um dos exemplos que antes vimos de associações públicas que criam normas é a
Ordem dos Advogados Moçambique

5.O. Elementos de Estado

5.1. Noção de povo

2
CAETANO, MACELLO, Manual de ciencia politica e Direito Constitucional , Almedina 6ª edicao
2009.P.122

3
Este é um principio geral de direito plasmado no n°2 artigo 38 da CRM.
A colectividade humana fixada num determinado território que constitui o Estado é
designada povo.

O termo povo refere-se ao conjunto de indivíduos que para a realização de interesses


comuns se constitui em comunidade política, sob a égide de leis próprias e a direcção de
um mesmo poder. A ligação entre o povo e a entidade política chamada Estado criada
pela colectividade chama-se nacionalidade ou cidadania. Nela estão contidos certos
direitos e certas obrigações para com a colectividade e outros cidadãos.

5.2.Noção território

O território de um Estado é o espaço no qual os órgãos do Estado têm poder de impor a


sua autoridade; define assim, o âmbito da competência no espaço dos órgãos supremos
do Estado. As leis são obrigatórias dentro das fronteiras do Estado de cuja autoridade
dominam. Governantes e funcionários de um Estado só no seu território podem exercer
funções.

Há algumas excepções na regra da territorialidade das leis, elas podem aplicar-se além
fronteiras nos seguintes casos:

Aos chefes de Estados de governos estrangeiros quando se encontram fora dos seus
países apenas são governados pelas leis dos seus próprios países. São ainda cobertos
desta excepção os diplomatas em exercício de funções noutros países. Este privilégio é
um velho costume internacional que estabeleceu a ficção segundo a qual as missões
diplomáticas são prolongamentos do território pátrio desses governantes e diplomatas e
que tem como objectivo assegurar que a estes a completa independência no exercício
das suas funções4.

5.3. Noção de Poder político


.

O estado só nasce desde que essa comunidade exerce o poder político. Esta proposição
pode ser sustentada num exemplo próximo por aquilo que era Moçambique até 1975;
4
CAETANO, MACELLO, Manual de ciencia politica e Direito Constitucional , Almedina 6ª edicao
2009.P.128
ate este ano existia o território e o ‘povo’, no entanto porque este ‘povo’ não exercia o
poder político dai que não poderia ser classificado como um Estado soberano.

Ora o que é então o poder político? A resposta não é fácil. O professor Marcelo Caetano
define a soberania como sendo a Faculdade exercida por um povo de por autoridade
própria instituir órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e
imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários meios de coação5.

6.0. Formas de Estado

O Estado pode revestir de duas formas, Estado unitárias e Estado federal. O Estado
unitário é um Estado simples, em que há um só poder político para todo o território.
O Estado federal é um Estado complexo, formado por outros estados de tal modo que
fica dividido entre: a autoridade federal, que em certas matérias é independente dos
Estados federados. os cidadãos de um Estado federal ficam sujeitos a dois poderes, o do
governo federal e do governo federado e as relações variam de acordo com as matérias.

6.1.Fins e funções do Estado

O fim primário do Estado é a segurança, justiça e o bem-estar. A actuação do estado


para satisfação das necessidades económicas pode-se revestir de diferentes formas. Em
alguns casos como agente económico com a instituição de empresas públicas que
providenciem serviços públicos; quando assim acontece o Estado transforma-se numa
entidade que produz bens, fornece energia e serviços.

6.2. Noção de função de Estado

Ao querer identificar a função do Estado propomo-nos a identificar aquela que é a


actividade específica complementar de outras actividades cujo exercício coordenado é
indispensável a produção de certo resultado..

6.3.Quais são as funções do Estado

5
CAETANO, MARCELO Manual de ciência politica e direito constitucional .P.130
O interesse em identificar as funções do Estado foi objecto de preocupação entre os
primeiros Filósofos da Antiguidade. Essa preocupação persistiu até aos filósofos da
idade das luzes com destaque para Montesquieu, eles tinham como objectivo identificar
a melhor forma de organização do Estado. No entanto só a partir de Jellinek o problema
das funções do estado ficou clarificado.

Três critérios têm sido usados de forma isolada ou conjuntamente para determinar as
funções do Estado a saber o critério material, formal e o critério orgânico

Segundo o critério material, o conceito de função do Estado é aferido pelo tipo de acto
que o o Estado realiza ou pelos resultados que produz.

Critério formal atende às circunstâncias exteriores as características da actividade do


Estado. Nesta acepção podemos considerar o seguinte exemplo seria uma actividade do
Estado o processo de distribuição de água para suprir os problemas de seca quando tal é
feito por uma empresa contratada que procede esta distribuição? A resposta seria não
pois a empresa que realiza o trabalho é privada apesar de contratada pelo Estado. No
entanto a satisfação das necessidades públicas faz parte das funções do Estado.

Critério orgânico relaciona intimamente as funções com os órgãos que as


desempenham as funções e das características desses órgãos ou da sua posição na
estrutura do Estado. De acordo com este critério basta que uma acção seja exercida por
um órgão do Estado para ser considerado função do Estado

6.3.1.Teoria Jellinek

Este, baseando-se naquilo que são os fins do Estado que se resume nas seguintes
tarefas:

O estabelecimento e a tutela do Direito; a afirmação da força e o incremento da cultura;


ele identifica as funções do Estado como sendo as seguintes:

a) Função legislativa; esta consiste na definição e a imposição de regras abstractas


para realizar qualquer fim do Estado;
b) Função jurisdicional; é aquela que contempla a definição de direitos incertos ou
contestados nos casos concretos, segundo um processo rígido,
c) Função administrativa; é aquela que consiste na realização de objectivos
concretos, pelas mais variadas formas.

Para Jellinek há actos de Estado que ficam fora deste âmbito tais o como acto de fazer a
guerra·, dai que surge a categoria de actividades que ficavam fora de qualquer das
funções do Estado anteriormente reconhecidas, estas são identificadas como as
actividades extraordinárias do Estado que se caracterizam por estarem subtraídas a
qualquer regra jurídica.

6.3.2. Teoria de Leon Duguit

Duguit embora concordando parcialmente com a classificação anterior, para ele as


funções do Estado devem ser vistas tendo em conta o acto jurídico, que é a manifestação
da vontade feita com a intenção de produzir uma modificação na ordem jurídica.

Pela formas em que os actos jurídicos se revestem nomeadamente:

a) Acto jurídico é a regra, isto é, aquele que é feito com a intenção de modificar as
regras abstractas constitutivas de direito; por exemplo coisa julgada e direito
adquirido
b) O acto jurídico condição é aquele que torna aplicáveis a um individuo certas regras
abstractas que antes não lhe eram vinculativas, por exemplo assim que alguém é
nomeado funcionário publico passa a estar vinculado a certo código de conduta que
consagra direitos e obrigações.
c) Acto jurídico subjectivo será aquele que origina para o indivíduo uma obrigação
especial concreta tal como um contrato de trabalho.

6.3.3.Teoria de Kelsen

Para este jurisconsulto entende que toda a função do se resume na criação do direito, da
garantia da segurança perante o exterior, da justiça e da paz civil.

6.3.4. Teoria integral das funções de Direito


Esta é a teoria mas recente e consentânea com os desenvolvimentos constitucional do
século XX é a teoria integral das funções do Direito. Esta teoria enquadra entre as
funções do Estado as actividades que não são jurídicas. Esta teoria representa os
avanços constitucionais respeitantes a intervenção do Estado no domínio da política e
das actividades técnicas.

Os avanços ao nível constitucional foram também marcados por desenvolvimentos ao


nível doutrinário, que se repercutiram no reconhecimento da intervenção do Estado na
área económica como parte das funções do Estado.

6.4. Função política

A mais nova função do Estado mas tão antiga e até gémea do próprio estado é a Função
politica. Entendemos que a função política é gémea ao estado na medida em que a
organização dos homens em sociedades que resultou na formação dos Estados é um das
mais antigas actividades formas do exercício da função política. Nos Estados modernos
do século XXI repercute-se pela liberdade de opção no estabelecimento das relações
diplomáticas, por parte daqueles que governam6.

Partindo deste entendimento a função politica poderá ser definida como a actividade dos
órgãos do Estado cujo objecto directo e imediato é a conservação da sociedade politica e
a definição e prossecução do interesse geral mediante a livre escolha dos rumos7.

6.5. Funções Técnicas

O Estado do século XX que não lança mão a actividades técnicas estará sujeito a
contestação popular e os titulares dos cargos políticos destituídos das suas funções pela
via do voto popular e na pior das hipóteses pela força das armas 8. Tal se deve a
percepção generalizada de que o Estado liberal fundado nas premissas das funções

6
Veja n° 2 do artigo 19 e 21 CRM
7
CAETANO, MARCELLO, Manual de ciência política e direito constitucional P.172
8
É ponto assente entre os Estados Nação da Europa os governos são destituídos do poder não por ser da
Direita ou da esquerda mas pelo desempenho da economia. Entre os países
tradicionais do Estado enunciadas na Teoria Jellinek ser menos capacitado para gerir
as necessidades colectivas de segurança protecção e justiça

É assim que no nosso país assistimos ao desenvolvimento de Parque de Ciência e


Tecnologia, de instituto de pesquisa sob a gestão directa do Estado em diferentes
domínios de desenvolvimento económico9. Esta é a marca das constituições do século
XX os estado intervêm no domínio económico10.

6.6. A função técnica do estado

Esta poderá ser entendida como a actividade dos agentes do Estado cujo objecto directo
e imediato consiste na produção de bens e serviços destinados à satisfação de
necessidades colectivas de carácter material ou cultural de harmonia com preceitos
práticos tendentes a obter a máxima eficiência dos meios empregados11.

7.0. Órgãos do estado

A Sociedade politica uma vez constituída diferencia-se dos indivíduos que a compõem.
A colectividade constituída em sociedade política actua como uma unidade, aos
indivíduos que se encarregue de exprimir a vontade e não age com o satisfazer a sua
própria vontade ou ao que mais lhe convêm mas antes os interesses da sociedade
política. Assim o órgão é distinto dos indivíduos que o servem, dai que o órgão tende a
transformar-se em instituição.

Existem variações na composição e hierarquia dos órgãos do Estado, depende do


modelo constitucional.

No ordenamento jurídico Estado Moçambicano os órgãos de soberania estão


enumerados no 133 da CRM e são eles:

9
No ordenamento jurídico moçambicano o exercício da função técnica ë endossada em diferentes
disposições da constituição. O n° 1 do artigo 91 da CRM estabelece que: Todos os cidadãos têm direito a
uma habitação condigna, sendo dever do Estado
10
Veja o artigo 96 CRM
11
CAETTANO, MARCELLO, Manual de ciência política e direito constitucional. P.174
1. Presidência da República;
2.Assembleia da Republica;
3.O governo;
4.Os tribunais;
5.O concelho Constitucional.

7.1. Classificação e competência dos órgãos de Estado

7.1.1.Órgãos independentes

São órgãos independentes aqueles que, são emanados directamente da constituição ou


aqueles que manifestem a sua vontade sem deverem obediência a ordens ou instruções
de outros órgãos regulando apenas a sua conduta pelo interesse público ou pelos
preceitos da lei

7.1.2.Órgãos subordinado

São órgãos subordinados aqueles que estão sujeitos ao dever de acatar instruções,
proveniente de outros órgãos, que se afirmam seus superiores. A relação traduzida pelo
poder de dar ordens e correspondente dever de obediência entre dois órgãos chama-se
relação hierárquica.

7.2. Distinção entre órgãos do Estado e Agentes Estado.

Do ponto de vista pedagógicos é útil fazer a distinção entre órgãos e agentes uma vez
que apesar de ambos serem entes públicos uns estão investido de mais poderes do que
outros.

Aos órgãos compete manifestar a vontade funcional imputável a pessoa colectiva. Nesse
processo os órgãos do Estado estão não sao sujeito ao controle de outros órgãos.
O exemplo clássico da independência dos órgãos dos Estado é relativo a independência
dos tribunais no exercício das suas funções e vem expresso no artigo 217 CRPM diz
que:

1. No exercício das suas funções os juízes, são independentes e apenas devem


obediência à lei.
2. Os juízes têm igualmente as garantias da imparcialidade e
irresponsabilidade.

Em contraposição a liberdade que os órgãos têm de obediência a lei apenas constamos


que os agentes do Estado são meros colaboradores dos órgãos do Estado que executa os
trabalhos burocrático, técnico, operário ou membro da força pública sob a direcção de
um superior.

O artigo 39 do EGFAE estabelece deveres especiais dos funcionários e agentes do


Estado

1. Cumprir com as leis, regulamentos, despachos e instruções superiores.


2. Cumprir exacta, pronta e lealmente as ordens e instruções legais dos seus
superiores hierárquicos.

A partir desta disposição pode se chegar a conclusão de que aos agentes e funcionários
do Estado mesmo quando tomam as decisões é por deliberação dos órgãos ou no
seguimento das instruções de disposições normativas de matriz não constitucional.

8.0 Ramos de Direito

8.1. Direito Privado e Direito Publico

A ordem jurídica é una, mas o seu estudo impõe a demarcação de sectores, isto é, útil do
ponto vista pedagógico, como na utilidade prática. No entanto se a destinação entre o
Direito público e direito privado facilita o processo de aprendizagem a linha de
separação entre estes não é nítida. A falta de clareza é congénita e deve -se em parte as
designações atribuídas a distinção feita aos ramos de Direito pelos primeiros
jurisconsultos Romanos. Estes diziam que o Direito público é o que respeita ao Estado e
o Direito Privado o que respeita à utilidade dos particulares.

Considerando a forma como esta distinção é feita há um problema que se coloca desde
essa altura e prevalece até aos dias que correm a saber:

8.1.1. Critério de interesses

Segundo o critério de interesse as normas de Direito público se destinam a proteger o


interesse geral e as normas de Direito privado a proteger os interesses particulares. Se
esta em causa um interesse geral, um interesse da colectividade, que a regra jurídica tem
em vista proteger tal regra é do Direito publico. Se esta em causa o mero interesse
particular das pessoas a norma que nela se inspira constitui Direito Privado.

Consideramos este exemplo antes visto relativo ao n°1 do artigo 483 CC que dispõe o
seguinte:

Se alguém culposamente violar um direito alheio fica obrigado a indemnizar o lesado


dos danos dai resultantes

Esta norma pertença ao Direito Civil que é um ramo de Direito privado mas o espírito
da lei está fundada no interesse público de as pessoas serem responsabilizados
civilmente pelos seus actos.

Pelo exemplo acima referenciado, este critério de distinção tem sido preterido, no lugar
deste critério tem sido usada o critério da qualidade dos sujeitos.

8.1.2. Critério da qualidade dos sujeitos

Segundo este critério seria Direito público o direito que regula as situações em que o
Estado intervém ou qualquer outro ente público e Direito Privado; o direito que regula
as situações dos particulares.
Entendido assim este critério também é inaceitável; não é pelo facto de ser um público
que faz compras no comércio geral que as normas aplicáveis deixam de ser privadas e
passam a ser públicas. A qualidade dos sujeitos é também inapropriada para fazer a
destinção entre Direito e Direito Privado.

A controvérsia a volta desta destinção tem sido solucionada com base no critério da
posição dos sujeitos.

8.1.3. Critério da posição dos sujeitos

De acordo com este critério, será Direito Público aquele que cria e organiza o Estado e
outros entes públicos e regula a sua actividade como agentes de dotadas do ius imperii,
enquanto, será dado por Direito Privado as situações em que os sujeitos estão em
posição de paridade.

8.2. Ramos de Direito público.


Direito é o público interno, subdividisse-se nos seguintes ramos:

a) Direito constitucional: É a parcela da ordem jurídica que rege o próprio Estado


enquanto comunidade e enquanto poder. Chama-se também direito político, por
serem estas normas que reportam directa e imediatamente ao Estado, que
constituem o estatuto jurídico do Estado e exprimem um particular enlance da
dimensão jurídica das relações entre os homens12.

b) Direito Administrativo: É um ramo de direito público constituído pelo sistema


de normas jurídicas que regulam a organização e o funcionamento da
administração pública, bem como as relações por ela estabelecidas com outros
sujeitos de direito no exercício da actividade da administrativa de gestão
pública13.

12
MIRANDA, JORGE, Manual de direito constitucional preliminares e os sistemas constitucionais
Coimbra editora. P. 11
13
FREITAS AMARAL, Diogo, Curso de direito administrativo 3ª Edicao Vol I Almedina 2008 .P. 140
c) Direito Processual: É o conjunto de regras normativas que devem ser observadas
na prepositura das acções bem como a actividade subsequente que as partes, o
tribunal e os auxiliares processuais devem desenvolver em juizo14.

d) Direito Penal: o Direito Penal é constituído pelo conjunto de princípios e


normas, codificadas ou constantes de diplomas avulsos que consagram os
pressupostos gerais da punição, que prevêem as condutas puníveis e estabelecem
os respectivos regimes15.

e) Direito Financeiro e Tributário: É um ramo de direito que disciplina os


impostos, tendo por objecto as normas que regulam o nascimento, o
desenvolvimento e a extinção das relações jurídicas suscitadas pela recepção dos
impostos16

8.3. Ramos do direito Privado

A divisão dos ramos de Direito é mais dogmática que cientifica, isto é, segue a matriz
daqueles que foram os primeiros cultores de Direito17

1. Direito Civil é o direito privado Comum

Diz-se que o Direito Civil é o Direito Privado comum pois foi no seio deste ramo que
surgiram por especialização os outros ramos de Direito a saber o Direito do Trabalho e
o Direito Comercial.

Esta contraposição entre direito comum e direito especial que corresponde ao direito
comercial e direito de trabalho, significa que nos casos omissos na legislação
comercial e laboral aplica-se o Direito Civil como o direito subsidiário.

O exemplo paradigmático que ilustra que o direito civil é direito privado comum pode
ser aferido pelo facto de muitas regras relativas a conclusão dos contractos, a sua

14
TIMBANE, TOMAS, Licoes de processo civil, Escolar Editora 2010 .P.61
15
PRTA, ANA & VEIGA, CATARINA , Dicionario Juridico Direito Penal E Processual Pena; Volii 2
Edicao. P.182
16
FREITAS PEREIRA, MANUEL HENRIQUE, Fiscalidade 3ª Edicao Almedina 2011 .p.126
17
ASCENSÃO, JOSÉ DE OLIVEIRA O Direito Introdução e teoria geral p. 336
validade, o cumprimento das obrigações, a defesa contra o risco de situação económica
deficitária estar regulada pelo direito civil.

a) Direito das obrigações: É um ramo do direito privado, que estabelece as normas


jurídicas reguladoras das relações de crédito, sendo estas relações jurídicas em que
o direito subjectivo atribuído a um dos sujeitos corresponde um dever de prestar
especificamente imposto a determinada pessoa. Esta parte, está regulado no livro II
do código civil.

b) Direito das Coisas: Direito das coisas ou Direitos reais é um ramo do direito
privado que trata dos direitos de propriedade, dos bens móveis e imóveis, bem
como das formas pelas quais esses direitos podem ser transmitidos. Esta parte, está
regulado no livro II do código civil nos artigos 1251 ate 1575
c) Direito da família: É o conjunto de normas jurídicas que disciplinam as relações
familiares – casamento, parentesco, afinidade, e adopção e das relações jurídicas
que se estabelecem e desenvolvem na pendência das delações de família. Este ramo
de direito é regulado pela lei 10/2004 de 25 de Agosto.

d) Direito das sucessões: é o ramo do Direito que cuida da transmissão de bens,


direitos e obrigações em decorrência da morte. Este ramo de direito está regulado
no livro V do código civil nos artigos 2024 até 2334

e) Direito do trabalho: É um ramo de direito especial constituído por um conjunto


de regras e princípios dirigidos aos trabalhadores subordinados, aos empregadores,
empresas coligadas, tomadores de serviço, para tutela do contrato de trabalho, das
obrigações decorrentes das relações de trabalho, das medidas que visam à protecção da
sociedade trabalhadora, sempre norteadas pelos princípios constitucionais,
principalmente o da dignidade da pessoa humana. Este ramo de direito é regulado pela
Lei n.º 23/2007 de 1 de Agosto
f) Direito Comercial: é um ramo do direito que se encarrega da regulamentação das
relações vinculadas às pessoas, aos actos, aos locais e aos contratos do comércio18.

9.0 Fontes de Direito

9.1. Noção de fontes

A doutrina tradicional define as fontes de direito como os modos de formação e


revelação do direito19. No sistema jurídico moçambicano são fontes voluntárias de
Direito a lei, jurisprudência e a doutrina.

Entre as fontes de direito existem fontes Voluntárias ou intencionais; e as fontes não


voluntarias aqueles que representam um acto explícito da criação do direito20.

A segunda categoria das fontes de direito faz parte deste grupo de actos normativos, os
princípios fundamentais do Direito e o costume. Diferentemente dos actos normativos
emergentes das fontes voluntárias os actos normativos não intencionais, não seguem um
processo, critério de publicidade formal para terem eficácia jurídica no ordenamento
jurídico.

9.2. A relevância da equidade, jurisprudência, e doutrina como fontes de direito.

9.2.1. A equidade.

Equidade consiste na adaptação da regra existente à situação concreta, observando-se


os critérios de justiça e igualdade. Pode-se dizer, então, que a equidade adapta a regra a
um caso específico, a fim de deixá-la mais justa. Ela é uma forma de se aplicar o
Direito, mas sendo o mais próximo possível do justo para as duas partes 21. Dai que diz
que equidade é a companheira da justiça, da qual aparece como rival e como aliada 22.

18
Decreto-Lei n.º 56/99/M
19
Machado, João Baptista Introdução ao Estudo de Direito pag 155
20
Veja artigo 143 CRM.
21
O artigo 4 CC estabelece as regras para o uso da equidade.
22
ASCENSÃO, JOSÉ DE OLIVEIRA O Direito Introdução e teoria geral p 261
9.2.2. Jurisprudência

Entende-se por jurisprudência o conjunto das decisões em que se exprime a orientação


dos tribunais ao julgarem os casos concretos que lhe são submetidos. A jurisprudência
surgiu com o Direito Inglês, e foi desenvolvido para ir contra os costumes locais que
não era comuns. No ordenamento jurídico moçambicano da jurisprudência tem um
alcance limitado23.

A relevância jurídica da jurisprudência faz -se sentir por concretização de cláusulas


gerais e de conceitos indeterminados tais como as lacunas onde desempenha a função de
legislação complementar24.

9.2.3. Doutrina

Entende-se por doutrina as opiniões ou pareceres dos jurisconsultos em que estes


desenvolvem, em bases científicas ou doutrinárias, as suas concepções sobre a
interpretação ou integração do direito. Essa doutrina consta de tratados, monografias,
manuais, anotações, e estudos jurídicos vários. A influência que a doutrina exerce
depende em muito do apuro técnico da mesma e da autoridade científica do autor da
mesma.

10. O processo de elaboração das leis

No ordenamento jurídico moçambicano o processo de elaboração das leis compreende


as seguintes fases ou momentos:
1.°Formação da lei
2.° Promulgação
3.° Publicação
4. °Entrada em vigor

23
Tal deve-se ao facto de as decisões dos tribunais limitarem-se ao caso julgado e não vinculam os
tribunais nos casos posteriores.
24
MACHADO, JOÃO BAPTISTA Introdução ao Estudo de Direito p 162
10. 1. Conceito de lei

A lei é um texto ou fórmula significativa de uma ou mais regras emanadas, com


observância das formas estabelecidas de uma autoridade competente para pautar
critérios jurídicos de solução de situações concretas.

10.3. Cessação de vigência das leis

Os actos jurídicos, depois de devidamente constituídos e mesmo depois de estarem a


produzir os seus efeitos, podem sofrer vicissitudes várias: podem ser modificados, e
inclusive suspensos, e um momento chega em que deixam de vigorar.

Assim como nascem e vivem, assim também morrem

10.4. A cessão das normas pode ter efeitos nos factos ocorridos no passado
(10.4.1)ou pode ter efeitos para futuro (10.4.2)

10.4.1. Factos ocorridos no passado

A cessação da norma terá efeitos retroactivos se seus efeitos são dados como não
produzidos no passado. Nestes casos tudo o que passa a ocorrer depois da cessão da
norma é como se esta não tivesse existido. Esta forma de cessão da vigência da norma é
chamada por ex-tunc, isto é, desde o passado.

10.4.2. Efeitos futuros de cessação da vigência das normas

Uma norma pode deixar de vigorar mas deixar intactos os efeitos jurídicos já
produzidos. Esta forma de cessação é designada ex-nuc isto é desde agora.

Para além destas duas modalidades de cessação da vigência das leis temos:

A revogação: consiste na livre destruição dos efeitos de um acto jurídico por vontade
dos seus autores, como ou sem retroactividade. Esta acção geralmente resulta da livre
vontade dos autores do acto. A revogação pode ser unilateral ou bilateral.
No Direito Civil existem algumas estipulações relativas as regras da revogação dos
contratos por acordo bilateral (a) ou por vontade unilateral (b).

a) Revogação do bilateral dos contractos

O artigo 406 CC estabelece regras para a revogação de contratos unilateralmente ao


dispor o seguinte:

1. O contrato deve ser pontualmente cumprido, e só pode modificar-se ou extinguir-


se por mútuo consentimento dos contraentes ou nos casos admitidos na lei.
2. Em relação a terceiros, o contrato só produz efeitos nos casos e termos
especialmente previstos na lei.

b) Revogação dos contratos por vontade unilateral

O artigo 927 CC dá a faculdade de o vendedor da coisa revogar por iniciativa própria o


contracto para tal a lei dispõe que:

Diz se venda retro - a venda em que se reconhece ao vendedor a faculdade de resolver o


contrato.

Rescisão: é a destruição dos efeitos de um acto jurídico por iniciativa de um dos seus
autores, com base em fundamento objectivo que lhe dá esse direito.

A lei no n ° 2 artigo 801 CC dá a faculdade de uma das parte no contrato de pedir a


rescisão deste unilateralmente ao dispor que.

2. Tendo a obrigação por fonte um contrato bilateral, o credor, independentemente do


direito à indemnização, pode resolver o contrato e, se já tiver realizado a sua prestação,
exigir a restituição dela por inteiro

Caducidade: na caducidade os efeitos jurídicos desaparecem em consequência de facto


não voluntário, isto é dá-se um certo acontecimento e acto perde automaticamente
valor25.

25
A titulo ilustrativa veja o n o 3 do artigo 180 CRM. Este numero dispõe que: as autorizações legislativas
caducam com o termo da legislatura ou com a dissolução da assembleia da Republica. Neste contexto,
todos os privilégios inerentes ao exercício dos puderes de mandatário do povo, que o deputado esta
Os actos jurídicos em geral, e portanto também os actos geradores de direito ou actos
normativos podem em determinados caso concretos, não reunir todos os requisitos
necessários para produzirem os efeitos a que tem vista alcançar no ordenamento
juridico. Quando assim acontece estão afectados ou ameaçados de ineficácia jurídica no
seu sentido mais amplo26.

10. 2. Vícios de feitura das leis

Inexistência juridica

Traduz-se no facto de o acto não ser idóneo a produzir quaisquer efeitos de natureza
processual. Por exemplo o casamento de duas pessoas do mesmo sexo não produz
nenhum efeito a luz do ordenamento jurídico uma vez que a lei só reconhece o
casamento de duas pessoas de sexo de diferente 27. Se acto inexiste, não pode produzir
quaisquer efeitos; por conseguinte é insusceptível de ser sanado, isto é, um casamento
celabrado entre duas pessoas do mesmo sexo não precisa que seja contestado pois não
existe a partida.

A invalidade juridica: A invalidade supõe que acto existe juridicamente mas padece
de algum defeito ou vicio de formação que o priva de eficácia ou torna precária essa
eficácia.

A invalidade pode revistir uma das duas formas: nulidade absoluta ou anulabilidade
também conhecido por Nulidade Relativa .

Nulidade Absoluta – o ato não produz qualquer efeito por ofender gravemente os
princípios de ordem pública. O ato é absolutamente inválido; não precisa ser anulado,
pois já nasce nulo; o Juiz somente declara o ato nulo, podendo fazê-lo de ofício (ex
officio), ou seja, sem ser provocado.

A declaração de nulidade é uma penalidade ao desrespeito da norma. Os atos nulos não


podem ser convalidados, nem ratificados. Também não se convalescem pelo decurso de
tempo. Não produzem efeito algum.
investido cessam imediatamente assim que o mandato termina.
26
TELES, INOCENCIO GALVAO, Introdução ao estudo de Direito Coimbra editora 11ªi edição. P. 97
27
De acordo com o artigo 7 da lei 10/ 2004 de 25 de Agosto o casamento é a união voluntaria e singular
entre um homem e uma mulher com o propósito de constituir família mediante a comunhão plena da vida
Exemplos: venda de imóvel por contrato particular; venda realizada por absolutamente
incapaz28.

Nulidade Relativa – o ato é anulável. Enquanto não for declarado como tal pelo Juiz,
produz efeitos normalmente. A lei oferece aos interessados a alternativa de requerer a
sua anulação ou deixar que continue a produzir seus efeitos normalmente. A anulação
só atinge os atos após a declaração de anulação. A parte precisa requerer a anulação; o
Juiz não pode reconhecer de ofício (ou seja, sem ser provocado). O ato anulável pode
ser convalidado, salvo direito de terceiro. Mas os efeitos que já foram produzidos
permanecem válidos.

O ato anulável prende-se a uma desconformidade que a norma considera menos grave,
pois viola preceitos individuais, provocando uma reacção menos extrema.

Para o acto produzir os necessários efeitos é necessario que se faça convalidação que
pode consistir neste processo:

a) ractificação (ou confirmação) do ato de forma expressa ou tácita;

b) decurso de tempo (ex: decadência).

Exemplos: venda realizada sob coação (ameaca), ou por pessoa relativamente incapaz
sem assistência, etc29.

11.0 Hierarquia das leis

Em todos os Estados, as leis apresentam uma hierarquia uma ordem de importância, na


qual as de menor grau devem obedecer às de maior grau. A hierarquia trata-se portanto de uma escala
de valor, à semelhança de um triângulo

11.1. Hierarquia das leis no ordenamento jurídico moçambicano.

28
Veja o n° 2 artigo 488 cc no 13.2
29
Leia de novo n° 2 artigo 488 cc no 13.2
No ordenamento jurídico moçambicano a Constituição ocupa o topo de pirâmide da em
temos de importância todas as leis 30. Para fazer fé a este postulado o artigo 38 CRM
estabelece que:

1. Todos os cidadãos têm o dever de respeitar a ordem constitucional


2. Os actos contrários ao establecido na constituicao são sujeitos a sansão nos
termos da lei.

O legislador constitucional ao consagrar a constituição como a lei suprema também no


número quis através do número 2 estabelecer a necessária advertência para que
constituição seja respeitada sub pena de aquela violar sujeitar-se a sanções.

A seguir a Constituição da República de Moçambique, têm valor superior sobre as


demais disposições legais, os tratados internacionais devidamente incorporados no
ordem jurídica interna. Este entendimento é aflorado na própria constituição que
proclamo no seu artigo 43 o seguinte:

Os preceitos constitucionais relativos aos direitos fundamentais são interpretados e


integrados de harmonia com os direitos declaração universal dos direitos do homem
e a carta africana dos direitos do homem e dos povos.

No degrau a seguir vem as leis da Assembleia da República e outros actos normativos


na qualidade de ser este o mais alto órgão legislativo do Estado. . Imediatamente a estes
tem-se os decretos-lei que são os actos normativos do governo.

A legitimidade do governo para legislar vem no n° 3 & 4 do artigo 143 CRM onde se
declara que:

3- Os decretos-lei são os actos legislativos, aprovados pelo concelho de ministros,


mediante autorização da Assembleia da Republica.

4- Os actos regulamentares do governo revestem a forma de decreto quer quando


determinados por lei regulamentar, quer no caso de regulamentos autónomos.

Abaixo deste degrau tem vem a demais disposições mencionadas de subsequente no


artigo 143 da CRM31.

30
Este entendimento pode ser extraído no n°3 do artigo 3 da CRM que estabelece que: O Estado
subordina-se a constituição e funda-se na legalidade. Veja também a definição de Estado
12.0. Sanção

12.1 Conceito de sanção jurídica

A sanção jurídica distingue-se das outras sanções, que resultam da violação das normas
sociais não imposta de forma coactiva32. Partindo deste entendimento a sanção pode ser
vista como a estatuição da uma regra sancionatória que esta consagrado dentro do
quadro jurídico ou das relações sociais.

Existem diferentes tipos de sanções e elas distinguem -se pela função que
desempenham.

No ordenamento jurídico moçambicano as sanções são tipificadas como tendo a


seguinte finalidade:

12.2. Sanções compulsórias.

Este tipo de sanções destinam-se a forçar o faltoso a aderir ao comando legal o exemplo
clássico desta modalidade sanções consta do n ° 2 al a) a lei n° 8/2008 de 15 de Julho
que estabelece que

2. Incorrem também na pena de prisão até um ano, não remível;

a) Os progenitores, tutores ou outras pessoas incumbidas da guarda de menores que


deixem de lhes prestar habitualmente a assistência económica e moral, pondo, desse
modo, em perigo o seu são e normal desenvolvimento.

Nos termos desta disposição legal uma vez comprida a prestação fica o faltoso é
restituído a liberdade.

31
No n° 5 do artigo 143 faz-se referência aos avisos do governador do Banco de Moçambique como
sendo parte do leque dos actos normativos. No entanto descontinuada menciona-se na al) d do n °1 no
artigo 144 aos assentos, como sendo parte dos actos normativos que carecem de publicidade. Apesar da
descontinuidade estes actos normativos pertencem ao mesmo escalão do ponto de vista hierárquico.
32
Veja a definição de normas do Direito p. 2
12.3. Sanção reconstitutiva
Há muitas formas de sanção reconstrutiva codificadas no ordenamento jurídico
moçambicano. Estas sanções são aplicadas quando não é possível a reconstituição em
espécie –in natura – da situação anterior a que o lesado estava se não tivesse violado a
lei. Elas podem consistir em prestações negativas que consistem na obrigação de não
executar obras quando não existe anuência do credor. O Artigo 829 CC consagra o
regime jurídico aplicável as prestação negativas

Se o devedor estiver obrigado a não praticar algum acto e vier a pratica-lo, tem o credor
o direito de exigir que a obra, se feita houver, seja demolida a custa do se obrigou a não
fazer.

As sanções reconstitutivas desta índole são aplicadas inspirados neste princípio pelos
concelhos contra os munícipes que sem autorização devida optem por realizar obras.

12.4. Sanções compensatórias

Há circunstâncias em que a reconstituição natural não é equitativa, ou não é atingível.


Quando assim acontece aplica-se a sanção compensatória. Esta forma de sanção opera
sempre através do mecanismo de indemnizações para suprir os danos sofridos.

- A falta do próprio bem devido

Quando a reconstituição natural da situação é natural é impraticável ou impossível o


devedor fica obrigado a compensar o lesado pelos danos dai resultantes. Nesta caso
suponhamos o caso em que o Bazar se compromete a fazer a filmagem da cerimónia de
graduação do Marcos no local, na hora e dia fixado não se faz presente ao local porque
estava embriagado. Passado o dia já não possível fazer as filmagem com o simbolismo
que teriam então o Bazar poderá ser condenado a indemnizar ao seu cliente pelo
enriquecimento sem justa causa pagando uma certa quantia.

- Outros danos patrimoniais danos não patrimoniais.


A reparação dos danos não patrimoniais é uma forma de sanção pela qual se pretende
atribuir uma compensação do prejuízo sofrido, quando não é possível quantificar os
danos sofridos.
Nesta categoria cabem outros danos não patrimoniais de natureza pecuniária e não
pecuniária que resultam do comportamento do devedor. Suponhamos que o Pedroso
celebra um contrato com uma empresa para a instalação de bebedouros de água nas
varandas do seu restaurante e instale cadeira fixa para atrair maior número de jovens
durante a época da realização dos jogos desportivos escolares na cidade Tete. O
empreiteiro não insta-la os bebedouros e nem as cadeiras na época tem o credor a
faculdade de clamar pelos lucros cessantes, isto é, pelo valor que poderia ter ganho se a
empreitada tivesse sido realizada em tempo útil

12.5. Sanção preventiva


Este tipo de sanção pode revestir várias formas a saber:

A interdição no exercício de determinadas profissão ao exercício de certas actividades a


pessoas que tenham mostrado comportamento desviantes.

A despromoção é uma sanção prevista no artigo 86 EGFAE, uma das facetas desta
medida é não permitir que alguém que esteja investido de um alto cargo caso tenha
abusado dos puderes inerentes continue a criar mais prejuízos à sociedade

12.6. Sanções punitivas.

Sanção punitiva consiste na imposição de um sofrimento ou de uma reprovação para o


infractor.

Embora as sanções punitivas se tenham em mente a pena criminal, existem


modalidades deste tipo de sanção que são eminentemente civis tal é o caso de
Repreensão pública33

12.7.Coercibilidade das sanções jurídica

A violação de uma norma jurídica não é sempre aplicável for via coerciva; tal expulsar,
destruir apreender ou deter isto acontece quando se mostra necessário e possível.

33
Esta sanção esta consagrada no artigo 84 EGFAE
12.8. A coercibilidade nas ordens jurídicas estatais

A coercibilidade é uma característica das ordens jurídicas estatais, isto é, há regras


jurídicas que não tem sanção ou seja que as sanções não podem ser impostas pela força.

Tomemos como exemplos das normas cuja violação não implica necessariamente
sanção coactiva as normas do direito da família, o artigo 93 da lei de família que
consagra o seguinte:

Os cônjuges estão reciprocamente vinculados pelos deveres de respeito confiança


solidariedade, assistência, coabitação e fidelidade. Da violação desta norma que é um
princípio basilar da ordem social não se prevê nenhuma sanção coactiva o mesmo
acontece com a violação das obrigações naturais em que a ausência da coercibilidade é
aflorada na própria definição do conceito dada no Artigo 402 obrigações naturais que
dispõe o seguinte:

A obrigação diz natural, quando se funda num mero dever de ordem moral ou social
cujo cumprimento não é juridicamente exigível, mas corresponde a um dever de justiça.

13.0.Ilicitude

Diz –se que um acto é ilícito quando se traduz no incumprimento de um dever imposto
por uma norma jurídica ou consubstancia uma prática por ela proibida34.

Tomemos como referencia o exemplo antes visto relativo ao n°1 do artigo 483 CC que
dispõe o seguinte:

Se alguém culposamente violar um direito alheio fica obrigado a indemnizar o lesado


dos danos dai resultantes

Será então um acto ilícito, que aquele que violou culposamente o direito alheio se
recuse a reparar os danos que a vítima sofreu. Um exemplo da outra faceta da ilicitude

34
A ilicitude pode resultar da inobservância de uma norma que estabelece uma proibição, isto é, não
fazer ou também pode resultar na omissão de um dever de agir. As omissões constituem um
comportamento anti-jurídico apenas quando haja um dever de praticar o acto omitido e essa omissão
ser a causa primária do dano.
que consubstancia numa prática proibida pela norma jurídica poderá ser exemplificado
pela lei das pescas que consagra o período de defeso. Se alguém pescar durante o
período de defeso estará a realizar uma actividade permissível num período em que a lei
proíbe.

13.1.Ilícito civil, penal, disciplinar

A distinção entre os dois primeiros o ilícito civil e penal não reside no acto em si
praticado pelo agente.

A primeira tem em vista impor sobre o infractor a obrigação de ressarcir a vítima dos
prejuízos que criou, isto é pagar a indemnização. No ordenamento jurídico
moçambicano o principio geral esta contido no n° 1 artigo 483 CC que consagra a regra
segundo a qual:

1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou
qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a
indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação

13.2.

Ilícito civil tem em conta a reparação dos prejuízos como sanção que pode ser imposta
com o uso da força. No ilícito civil, a responsabilidade pode ser transferida a terceiros
tal se transfere a responsabilidade dos filhos menores aos progenitores se estes tiverem
cometido actos danosos que tenham prejudicado a terceiros. Este principio esta
plasmado no do artigo 488 CC que consagra a possibilidade de os menores serem
excluídos da responsabilidade pelos seus actos ao dispor que:

1. Não responde pelas consequências do facto danoso quem, no momento em que o


facto ocorreu, estava, por qualquer causa, incapacitado de entender ou querer, salvo se o
agente se colocou culposamente nesse estado, sendo este transitório.
2. Presume-se falta de imputabilidade nos menores de sete anos e nos interditos por
anomalia psíquica

No âmbito das relações laborais tanto o direito de trabalho assim como o direito
administrativo consagra a prerrogativa de a responsabilidade dos empregados ou
funcionários passar para o empregador35.

O ilícito penal por seu turno traduz –se na contrariedade ao Direito, ou seja, na violação
da proibição contida num preceito penal, isto consubstancia no preenchimento de um
tipo legal de crime, e na inexistência de causas de justificação 36. Um dos aspectos
comum a todos os actos ilícitos é a violação de uma norma sem que a partida haja uma
causa que justifica a prática de tal conduta.

As diferenças entre o ilícito civil e criminal é que dão origem a dicotomia entre o
direito processual civil e direito processual penal. Este são distinguíveis pois correm
perante tribunais diferentes e diferentes são os seus trâmites.

Ilícito disciplinar; na sua configuração mais típica supõe que o autor do acto é agente ou
funcionário do Estado.

13.3. Tipos de sanções disciplinares


1. De acordo com o artigo 81 EGFAE as sanções disciplinares aplicáveis aos
funcionários e agentes do Estado são as seguintes:
a) Advertência;
b) Repreensão pública;
c) Multa;
d) Despromoção
e) Demissão
f) Expulsão

As sanções acima mencionadas são aplicadas apôs a instrução do processo disciplinar.

35
Veja n° 2 artigo 58 CRM.
36
Ana , Prata . Catarina Veiga & Jose Manuela Vilalonga Dicionario Juridico, O direito penal direito
processual penal .P. 252
O fim pelo processo disciplinar esta consagrado no no 2 do artigo 78 EGFAE que dispõe
que:

2. A principal finalidade da sensação é além da repressão e contenção da infracção


disciplinar, a educação do funcionário ou agente do Estado para adesão
voluntária e para o aumento da responsabilidade no desempenho da sua função.

Das várias acepções de ilicitude civil penal e disciplinar sugerem a ideia de facto
proibido, reprovável, condenável. Para conter este mal entendeu o legislador que uma
forma de conter a propagação destes actos seria bom que se estabelecesse uma forma de
repressão que consubstancia no dever de indemnizar. Este dever pode estar fundado
num contracto ai diz contratual ou então fora deste mas que é exigível com base no
fundamento legal ou regras de equidade.

14.0 Responsabilidade civil contratual e a Responsabilidade civil extra contratual

A expressão responsabilidade contratual, sendo corrente na doutrina não é rigorosa,


dado que abrange não apenas a violação das obrigações contratuais, mas qualquer
obrigação, seja qual for a sua fonte37.

No entanto tipificam se como pressupostos da responsabilidade civil contratual a


inexecução da obrigação, a culpa o prejuízo e a causalidade.

Um dos princípios geral relativo a responsabilidade contratual emergente da inexecução


do contrato e consta do artigo 798 CC que dispõe nos seguintes termos:

O devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação torna-se responsável


pelo prejuízo que causa ao credor.

Neste contesto entende se que alguém agiu culposamente se pela sua conduta é possível
aferir que na sua acção houve dolo38, ou falta das diligencias necessárias para não

37
Prata, Ana Dicionario Juridico Direito Civil Direito processual organizacao judiciaria P 1302
38
Entende-se por dolo quando o agente agiu com intencao de enganar quer a sua accao não tenha sido
intencionalmente enganadora, mas apenas conscientemente indutora do engano, quer ela tenha,
intencionalmente ou apenas conscientemente por accao ou omissao, mantido o erro em que o declarante
se encontrava.
praticar o acto, isto é, não tomou as medidas que devia tomar para evitar o
incumprimento39.

A responsabilidade civil extra contratual é aquela que traduz-se na lesão a um direito


sem que entre o ofensor e o ofendido preexista qualquer relação jurídica. Aqui, ao
contrário da contratual, caberá à vítima provar a culpa do agente.

A regra mais representativa da responsabilidade extra contactual consta do artigo 503


CC. Esta disposição consagra a regra segundo a qual:

1 . Aquele que tiver a direcção efectiva de qualquer veículo de circulação terrestre e o


utilizar no seu próprio interesse, ainda que por intermédio de comissário, responde pelos
danos provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo que este não se encontre em
circulação.
2. As pessoas não imputáveis respondem nos termos do artigo 489.º
3. Aquele que conduzir o veículo por conta de outrem responde pelos danos que
causar, salvo se provar que não houve culpa da sua parte; se, porém, o conduzir fora do
exercício das suas funções de comissário, responde nos termos do n.º 1

A responsabilidade civil contratual e a responsabilidade civil extra contratual funcionam


como verdadeiros vasos comunicantes na medida em que uma alimenta a outra ·.
Vejamos o seguinte exemplo que ilustra a equiparação antes feita. Se o Pedrosa vai a
conduzir a sua viatura de transporte de passageiros despistar e ferir os passageiros irá
incorrer em responsabilidade contratual mas se na sequência desse despiste ferir alguns
transeuntes irá responder pelo ilícito extra contratual

Fora deste quadro legal consagrado pelo direito privado comum no ordenamento
jurídico moçambicano quando haja responsabilidade contratual o Estado encarrega em
assumir os prejuízos dai resultantes. Este princípio esta consagrado n° 2 Artigo 58 CRM
que estabelece que:

O Estado é responsável pelos actos ilegais dos seus agentes, no exercício das suas
funções sem prejuízos do direito de regresso nos termos da lei

14.1. Causas da exclusão da ilicitude

39
Varela, Pires de lima Codigo civil anotado Coimbra Editora Vol II P 52
A violação de uma norma que se destina a proteger os interesses alheios constitui em
regra, um facto ilícito, mas pode suceder que a violação ou ofensa seja coberta por
alguma causa que justificativa do facto, capaz de afastar a sua aparente ilicitude.

De modo geral, pode dizer-se que o facto, embora prejudicial aos interesses de outrem
ou violando o direito alheio, se considera justificado, e por consequência licito, sempre
que é praticado no exercício regular de um direito ou no cumprimento de um dever40.

A doutrina dominante aponta como causas da exclusão da ilicitude especiais as


seguintes:

A acção directa, legítima defesa, o estado de necessidade e o consentimento do


lesado.

14.1.2 Acção directa

A acção directa constitui uma forma primária e grosseira da realização da justiça na


medida em que fica a disposição da vítima o dever de agir para se defender contra uma
ofensa iminente do seu direito

O exercício da Acção directa esta regulado no ordenamento jurídico pelo Artigo 336.º -
CC

Esta deposição consagra que:

1. É lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio


direito, quando a acção directa for indispensável, pela impossibilidade de
recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais, para evitar a
inutilização prática desse direito, contanto que o agente não exceda o que for
necessário para evitar o prejuízo
2. A acção directa pode consistir na apropriação, destruição ou deterioração de
uma coisa, na eliminação da resistência irregularmente oposta ao exercício
do direito, ou noutro acto análogo.

40
VARELA, JOAO DE MATOS ANTUNES Das obrigacoes em Geral Vol I 10ª edicao p.553
3. A acção directa não é lícita, quando sacrifique interesses superiores aos que
o agente visa realizar ou assegurar

Como se pode depreender do articulado esta disposição legal, esta prenhe de alguns
defeitos. Os críticos deste instituto realçam que pode dar lugar a excessos, com grave
danos a paz pública, na medida em que são os mais fortes que têm maiores prerrogativas
de agir contra os mais fracos; mas pode tornar-se necessária, pela impossibilidade de os
meios estaduais de tutela do Direito não chegarem a tempo de evitar prejuízos
irreparáveis41.

A lei admite a acção directa em termos genéricos mas em condições muito restritas.
Para que alguém possa exercitar a acção directa é preciso que se verifiquem as seguintes
condições:

a) Fundamento real: é necessário que o agente seja titular dum direito que procura
realizar ou assegurar.
b) Necessidade: o recurso a força terá que ser indispensável, pela impossibilidade
de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais, para evitar a inutilização
prática do direito do agente
c) Valor relativo dos interesses em jogo: Através da acção directa, não pode o
agente sacrificar interesses superiores aos que visa realizar.

Quando estes requisitos estiverem preenchidos, além de se tornar licito a prática do


facto, consequentemente deixa de haver espaço para indemnização pelos danos dai
resultantes.

14.1.3 Legítima defesa.

Tal como a acção directa a legítima defesa destina-se a afastar uma agressão actual e
lícita.

Difere-se da acção directa pois na legítima defesa procura-se se assegurar o direito a


vida, a honra, a integridade corporal, pudor ou liberdade mas também do património,
seja do agente ou de terceiro.

O exercício da legítima defesa está regulado pelo artigo 337 CC.


41
VARELA, JOAO DE MATOS ANTUNES Das obrigações em Geral Vol I 10ª edição P.553
1. Considera-se justificado o acto destinado a afastar qualquer agressão actual e
contrária à lei contra a pessoa ou património do agente ou de terceiro, desde que
não seja possível fazê-lo pelos meios normais e o prejuízo causado pelo acto não
seja manifestamente superior ao que pode resultar da agressão.
2. O acto considera-se igualmente justificado, ainda que haja excesso de legítima
defesa, se o excesso for devido a perturbação ou medo não culposo do agente.

Jurisprudência dominante consagra o princípio de que a legítima defesa deve ser uma
reacção e não uma acção, de ataque com vista a evitar que algo aconteça 42, dai que só se
considera legítima defesa quando racionalmente poderia ser previsível que com os
meios do Estado não estaria em condições de prevenir que o dano eminente pudesse
acontecer.

Para o exercício da legítima defesa é necessários que se verifiquem os seguintes


requisitos:

a) Agressão: é necessário que haja uma ofensa da pessoa ou dos bens de alguém.
b) Actualidade e ilicitude da agressão: é necessário que a agressão seja actual
contrária a lei. Nesta caso não é necessária que haja a culpa do agressor.
c) Necessidade de reacção: que não seja eficaz nem viável o recurso aos meios
normais de Estado
d) Adequação: que haja certa proporcionalidade entre o prejuízo que se causa e
aquele que se pretende evitar, de modo que o meio usado não provoque um dano
manifestamente superior ao que se pretende afastar.

14.1.4. Estado de necessidade

Entende-se por estado de necessidade a situação de constrangimentos na qual a pessoa


age sacrificando coisa alheia, com o fim de afastar o perigo actual de um prejuízo
manifestamente superior.

42
VARELA, JOAO DE MATOS ANTUNES Das obrigacoes em Geral Vol I 10ª edicao p.555
O estado de necessidade esta tipificado no artigo 339 CC dispõe que:

1. É lícita a acção daquele que destruir ou danificar coisa alheia com o fim de
remover o perigo actual de um dano manifestamente superior, quer do agente,
quer de terceiro.
2. O autor da destruição ou do dano é, todavia, obrigado a indemnizar o lesado
pelo prejuízo sofrido, se o perigo for provocado por sua culpa exclusiva; em
qualquer outro caso, o tribunal pode fixar uma indemnização equitativa e
condenar nela não só o agente, como aqueles que tiraram proveito do acto ou
contribuíram para o estado de necessidade.

O Estado de necessidade diferentemente dos outros dois institutos, o processo de afastar


o perigo pode consistir também no uso da coisa alheia. Se alguém para afastar o perigo
de morte de alguém que esta gravemente ferido, decide levar a viatura de B para
transportar o pessoa ferida ao hospital seu acto é lícito.

Existem aspectos comuns entre o estado de necessidade e a legitima defesa que


consubstanciam na lesão de um interesse alheio e afastar um dano.

As diferenças desta institutos residem no facto de que no estado de necessidade actua-se


como um meio de defesa contra um perigo não proveniente da agressão de outrem
enquanto que na legitima defesa reage –se contra uma agressão.

14.1.5 Consentimento do lesado

O consentimento do lesado consiste na aquiescência do titular do direito para que à


pratica do acto que, sem ela, constituiria uma violação desse direito ou uma ofensa da
norma protectora do respectivo interesse.

Este instituto esta consagrado no artigo 340 CC e entende-se que há consentimento do


lesado quando:

1. O acto lesivo dos direitos de outrem é lícito, desde que este tenha consentido na
lesão
2. O consentimento do lesado não exclui, porém, a ilicitude do acto, quando este
for contrário a uma proibição legal ou aos bons costumes.
3. Tem-se por consentida a lesão, quando esta se deu no interesse do lesado e de
acordo com a sua vontade presumível.

Se o Pedrosa autoriza o António, o seu vizinho a pastar na sua machamba e para aceder
a esta propriedade com o gado António deve usar rua que o Pedrosa utiliza quando anda
pela sua viatura não pode acusar o António de obstruir a via com os animais.

Na doutrina entende-se tem se por existente o consentimento quando a lesão se operou


com a aquiescência deste de acordo com a vontade presumível.

O consentimento de lesado não será afastado caso o acto praticado seja contrário a lei,
por exemplo não deixará de ser um acto criminal a acção de um médico que prescreve o
fármaco que causa a morte mesmo que tenha sido a pedido do doente em fase terminal
que tenha solicitado ao médico este fármaco supostamente para deixar de sofrer.

Assume que há consentimento do lesado nos riscos resultantes da prática do desporto


desde que estes tenham ocorrido numa situação em que tenha havido violação das
regras do jogo.

14.1.6.Incumprimento não culposo da obrigação

Há incumprimento de uma obrigação sempre que a obrigação deixe de ser efectuada nos
termos acordados ou previstos pela lei.

A lei estabelece como regime geral segundo o qual a obrigação ficara extinta caso a
prestação se torna impossível não por culpa imputável ao devedor. Este principio esta
consagrada no artigo 790 CC.De acordo com esta disposição constitui incumprimento
não culposo da obrigação quando:

1. A obrigação extingue-se quando a prestação se torna impossível por causa


não imputável ao devedor
O título ilustrativo considere o caso seguinte. O Pedroso esta de viagem e no meio de
percurso a sua viatura apresenta certas dificuldades, para ultrapassar os problemas ele
decide telefonar para uma agência aluguer de viaturas para rebocar o seu carro que
apresenta problemas de avarias.

Após a viatura de reboque ter chegado repentinamente os problemas antes verificados


mostram se resolvidos. No caso em apreço não haverá espaço para reboque pois a
viatura de pedrosa esta já operacional no entanto Pedrosa ainda continua adstrito ao
dever de pagar a divida.

Para alem do regime geral da exclusão da ilicitude e responsabilidade civil consagrado


pelo direito privado comum existe um regime especial que é aplicado no ilícito
desciplinar

14.2.Causas da exclusão de responsabilidade no Ilícito disciplinar

São escassas quer na doutrina e na jurisprudência os detalhes dos pressupostos que


levam a exclusão da responsabilidade pelos actos cometidos pelos funcionários públicos
no exercício das suas funções. A regulamentação desta matéria consta do n° 1 do artigo
79 CC que consagra que:

1. É excluído a responsabilidade disciplinar ao funcionário ou agente do Estado


que actue em cumprimento de ordens ou instruções ilegais emanadas de legitimo
superior hierárquico e em matéria de serviço, se previamente delas tiver
reclamado ou tiver exigido a sua transmissão ou confirmação por escrito
.

Teoria geral da relação jurídica


A expressão relação jurídica pode ser tomada num sentido amplo e num sentido e num
sentido restrito.

Relação jurídica em sentido amplo o é toda a relação da vida social relevante para o
Direito, isto é, produtiva de efeitos jurídicos e, portanto, disciplinada pelo Direito.
Relação jurídica em sentido restrito ou técnico é a relação da vida social disciplinada
pelo Direito mediante a atribuição a uma pessoa de um direito subjectivo 43 e a
imposição a outra de um dever jurídico ou de uma sujeição.

Do exposto pode se concluir que nem todas relações humanas tem a dignidade
necessária para terem a qualificação de relações jurídicas, quer tomando o conceito do
ponto de vista técnico ou no seu sentido mais amplo.

Prestando atenção segunda definição referente a sentido técnico constatamos que há


duas partes, isto é, tem uma estrutura bilateral comportando um activo constituído pelo
direito e um passivo representado pela obrigação. Em regra na relação jurídica, o direito
e a obrigação, são correlativos de modo que nenhum deles é cronologicamente anterior
ao outro44.

Noção:

A relação jurídica pode, assim, definir –se como a relação social tutelada pelo Direito
mediante a atribuição a um poder a um dos sujeitos e a imposição de um correspondente
dever a outro

Classificação

1.Relação jurídica simples


As relações jurídicas podem ser simples ou complexas conforme se traduzem numa só
relação ou em várias provenientes do mesmo facto e entrelaçadas entre si. Casos há em
que uma só relação jurídica é por definição simples, porque se esgota num só direito e
numa só obrigação, como o mutuo45 sem juros, que gera apenas a obrigação de
restituição do capital.

43
O direito subjectivo é o poder conferido pela ordem juridica a um sujeito para a tutela de um
interresse juridicamente relvante , isto é, merecedor da tutela do Direito
44
TELES, INOCENCIO GALVAO, Introdução ao estudo de Direito Coimbra editora 11ªi edição. P. 151
45
Segundo artigo 1142CC: “Mutuo é o contrato pelo qual uma das partes empresta à outra dinheiro ou
outra coisa gungivel, ficando a sengunda obrigada a restituir outro tanto do mesmo genero e qualidade”
2. Relação jurídica complexa
Diferenetemente da relacao juridical simples na juridica complexa forma-se uma
multiplicidade de relacoes.

Elementos da relação jurídica


Toda a relação jurídica existe entre sujeitos; incidira normalmente sobre o objecto;
promana de um facto jurídico46; a sua efectivação pode fazer –se mediante recurso a
providencias coercitivas , adequadas a proporcionarem a satisfação a satisfação
correspondente ao sujeito activo da relação, isto é, a relação jurídica esta dotada de
garantia.

Pelos detalhes apresentados acima podemos ter a certeza de que são quatro os elementos
que compõem a relação jurídica nomeadamente: sujeitos; objecto; facto jurídico; e
garantia.

Caracterização dos elementos da relação jurídica.

Os sujeitos da relacao juridica são as pessoas entre as quais ela se trava, os suportes do
poder e do dever. O primeiro é o sujeito activo alvo de protecção da lei, aquele que pode
exigir ou reclamar. O segundo é o sujeito passivo vinculado ou adstrito a determinada
conduta positiva ou negativa.

O objecto é constituído pelo poder e dever em conjunto, que não representam mais do
que duas faces indissociáveis de uma realidade única. A relação forma-se para conferir
direitos e impor obrigações a estes direito e obrigações são o objecto47.

Facto jurídico é o elemento que constitui modifica ou extingue a relação jurídica. As


relações jurídicas não de geração espontânea, tiram a sua origem de algum
acontecimento que fica nela projectada e consubstanciado.

46
Facto jurídico é qualquer facto, natural ou humano que produz efeitos de direito, por exemplo o
contrato entre duas pessoas é um facto juridico simples
47
O objecto imediato da relacao juridica aquilo sobre quedirectamente recai o direito, isto é o direito a
obrigacao (a actividade devida), e o objecto mediato o indirectamente é devido (as coisas)
A garantia traduz –se na susceptibilidade do uso da forca para fazer valer o direito em
caso de necessidade; e a projecção, na relação jurídica, da coactividade como atributo
do direito.

Estrutura interna e externa da relação jurídica

Entre os elementos que compõem a relação jurídica são elementos os seguintes: o facto
jurídico e a garantia. Fazem parte da estrutura interna os sujeitos
Bibliografia

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AMRARAL, DIOGO FREITAS Curso de direito Administrativo Almedina 3ª Edição


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MACHADO, JOAO BAPTISTA, Introdução ao direito e ao discurso legitimador


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TIMBANE, TOMAS, Licoes de processo civil, Escolar Editora 2010

VARELA, JOAO DE MATOS, das obrigações em geral, Almedina 6ª Edição 2000

LEGISLAÇÃO

Constituição da República de Moçambique

Código civil de Moçambique

Estatuto Geral dos funcionários e agentes do Estado

Lei da família

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