Você está na página 1de 43

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5
2 CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO E OBJETO DE CONSTITUIÇÃO .......................... 6
3 QUANTO AO CONTEÚDO ...................................................................................... 8
3.1 Constituição formal ................................................................................................ 8
3.2 Constituição material ............................................................................................. 8
4 QUANTO À FORMA DAS CONSTITUIÇÕES ....................................................... 10
4.1 Constituição escrita (ou instrumental) e não escrita (ou costumeira ou
consuetudinária) ........................................................................................................ 10
5 QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES ...................... 11
5.1 Constituição dogmática ....................................................................................... 11
5.2 Constituição histórica .......................................................................................... 12
6 QUANTO À ORIGEM DAS CONSTITUIÇÕES ...................................................... 12
6.1 Promulgada (ou de estabelecimento democrático) ............................................. 12
6.2 Outorgada (ou carta constitucional) .................................................................... 13
6.3 Cesarista (ou bonapartista) ................................................................................. 13
6.4 Pactuada (ou dualista) ........................................................................................ 14
7 QUANTO À EXTENSÃO DAS CONSTITUIÇÕES ................................................. 15
7.1 Sintética............................................................................................................... 15
7.2 Analítica............................................................................................................... 15
8 QUANTO À FUNÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES ..................................................... 16
8.1 Garantia (funcional) ............................................................................................. 16
8.2 Dirigente (aspiracional) ....................................................................................... 17
9 QUANTO À ESSÊNCIA DAS CONSTITUIÇÕES .................................................. 18
9.1 Semântica18
9.2 Nominal (ou nominalista) ..................................................................................... 18

2
9.3 Normativa 19
10 QUANTO À SISTEMATIZAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES................................... 19
10.1 Unitária (codificada ou unitextual) ..................................................................... 20
10.2 Variada (ou dispersa) ........................................................................................ 20
11 QUANTO AO SISTEMA: PRINCIPIOLÓGICA E PRECEITUAL ......................... 22
11.1 Principiológica ................................................................................................... 22
11.2 Preceitual 23
12 QUANTO À ORIGEM DE SUA DECRETAÇÃO .................................................. 24
12.1 Autoconstituição (constituição autônoma ou homoconstituição) ....................... 24
12.2 Heteroconstituição (heterônoma) ...................................................................... 24
13 QUANTO À IDEOLOGIA DAS CONSTITUIÇÕES: ORTODOXAS,
HETERODOXAS OU ECLÉTICAS ........................................................................... 25
14 QUANTO À ATIVIDADE LEGISLATIVA ............................................................. 25
14.1 Constituição-lei .................................................................................................. 25
14.2 Constituição-fundamento (ou total ou ubiquidade constitucional) ..................... 26
14.3 Constituição-moldura (ou constituição-quadro) ................................................. 26
15 QUANTO AO PERÍODO DE DURAÇÃO ............................................................. 27
15.1 Constituição provisória (pré-constituição).......................................................... 27
15.2 Constituição definitiva ....................................................................................... 27
16 QUANTO AO CONTEÚDO IDEOLÓGICO DAS CONSTITUIÇÕES.................... 28
16.1 Constituição liberal ............................................................................................ 28
16.2 Constituição social ............................................................................................ 28
17 OUTROS TIPOS DE CONSTITUIÇÃO ................................................................ 29
17.1 Constituição em branco ..................................................................................... 29
17.2 Constituição aberta ........................................................................................... 29
17.3 Constituição biomédica ..................................................................................... 30
17.4 Constituição oral ................................................................................................ 30

3
17.5 Constituição econômica .................................................................................... 31
18 QUANTO AO MÉTODO INTERPRETATIVO DAS CONSTITUIÇÕES ................ 31
18.1 Constituição estrita (strict constitution) .............................................................. 31
18.2 Constituição viva (living constitution) ................................................................. 32
19 QUANTO À CONCENTRAÇÃO DO PODER: TOTALITÁRIAS, AUTORITÁRIAS
E DE PODER MODERADO ...................................................................................... 32
20 QUANTO À EFICÁCIA DAS CONSTITUIÇÕES: RETRATISTA, CONTRATO E
PROMESSA .............................................................................................................. 33
21 QUANTO À ORIGINALIDADE DAS CONSTITUIÇÕES ...................................... 33
21.1 Original (ou originária) ....................................................................................... 33
21.2 Derivada 33
22 QUANTO AO CONTEÚDO IDEOLÓGICO DAS CONSTITUIÇÕES:
IDEOLÓGICO-PROGRAMÁTICA E UNITÁRIA ....................................................... 34
23 QUANTO À RIGIDEZ DAS CONSTITUIÇÕES .................................................... 34
23.1 Imutável 34
23.2 Rígida 34
23.3 Flexível 35
23.4 Semirrígida ou semiflexível ............................................................................... 35
23.5 Transitoriamente flexível ................................................................................... 35
24 AS CLÁUSULAS PÉTREAS ................................................................................ 36
25 FORMA FEDERATIVA DO ESTADO .................................................................. 38
26 VOTO DIRETO, SECRETO, UNIVERSAL E PERIÓDICO .................................. 40
27 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 42

4
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.

Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa


disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.

A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser


seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

5
2 CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO E OBJETO DE CONSTITUIÇÃO

A Constituição é a lei suprema e fundamental que rege o Estado. Há diversos


entendimentos acerca de Constituição, como: jurídica, sociológica, aberta, política,
material, culturalista, dentre outras.

Observe a demonstração da classificação ou tipologia do objeto da


Constituição:

A respeito do objeto da Constituição, podemos dizer que são os direitos e


deveres do Estado e dos cidadãos, que prevê: os mecanismos de exercício; os
mecanismos de controle do poder; os direitos e as garantias fundamentais; a defesa

6
da Constituição, do Estado e das Instituições Democráticas e; os fins
socioeconômicos do Estado.

A supremacia constitucional deriva dos conceitos de superioridade do poder


constituinte sobre as instituições jurídicas vigentes e, a distinção entre Constituições
flexíveis e rígidas. Assim sendo, a supremacia entende que as normas constitucionais
representam o paradigma máximo de validade do ordenamento jurídico, de forma que
as demais normas são hierarquicamente inferiores a ela.

As cláusulas pétreas têm como último significado precaver a erosão da


Constituição Federal, impossibilitando a tentativa de abolir o projeto constitucional do
constituinte. É o que prevê o art. 60, § 4 º, da Constituição Federal:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

I - a forma federativa de Estado;

II - o voto direto, secreto, universal e periódico;

III - a separação dos Poderes;

IV - os direitos e garantias individuais. (BRAISL, 1988)

7
3 QUANTO AO CONTEÚDO

3.1 Constituição formal

Não trata apenas de matéria constitucional, pois também pode tratar de outros
assuntos, importando apenas que seja solene de aprovação. Essa classificação de
“formal” é pelo fato de não importar o seu conteúdo, mas sim a forma solene através
da qual ela for aprovada. Alguns doutrinadores entendem que o conceito de
constituição formal é “plurívoco”, ou seja, alguns autores usam essa expressão de
constituição formal para se referir às constituições escritas. Contudo, a maior parte,
estima que o conceito formal de Constituição requer uma referência indispensável ao
processo de elaboração de suas normas, que precisa ser distinto ao das leis.

3.2 Constituição material

É a constituição que possui somente matéria, ou seja, apenas o conteúdo


constitucional. Independentemente de estar ou não em um documento. É o caso da
Constituição, que trata apenas da organização do Estado, do exercício do poder, da
aquisição, dos direitos e garantias fundamentais, entre outros.

Basicamente pode-se afirmar que toda norma jurídica que possua conteúdo
constitucional pode se considerar integrando a Constituição em sentido material.
Geralmente, assim ocorrerá com as disposições da Constituição formal que, por seu
conteúdo, formarão parte da Constituição material. Mas, por exemplo as leis
ordinárias, são exemplos de normas que não integram a Constituição em sentido
formal, por isso, devem considerar-se parte da Constituição material, por conter
conteúdos ou matérias constitucionais.

Pode ocorrer o contrário também, sendo possível que algumas normas que
integram a constituição em sentido formal, não devem ser consideradas formando
parte da constituição em sentido material, um exemplo é o caso de disposições que

8
por falta de técnica na formulação da Constituição, se incluíram nesta, mesmo quando
a sua matéria e o tema que regulam, não são de índole constitucional. No Brasil, o
exemplo é o artigo que trata do Colégio Pedro II, art. 242, § 2º:

Art. 242. O princípio do art. 206, IV, não se aplica às instituições educacionais
oficiais criadas por lei estadual ou municipal e existentes na data da
promulgação desta Constituição, que não sejam total ou preponderantemente
mantidas com recursos públicos.

§ 2º O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido


na órbita federal. (BRAISL, 1988)

São apenas normas formalmente constitucionais e não materialmente


constitucionais.

A Constituição Federal de 1988 é uma constituição formal, e além de tratar de


temas materialmente constitucionais (art. 2º; direitos e garantias fundamentais – art.
5º e seguintes etc.), trata também de assuntos que não são de conteúdo constitucional
(art. 242, § 2º, que trata do Colégio Pedro II) como já mencionado acima. Todos estes
dispositivos são formalmente constitucionais, e exigem um procedimento bem mais
rigoroso de alteração.

Mesmo que não tivesse sido adotada a teoria do bloco de constitucionalidade,


o art. 5º, § 3º, da Constituição Federal, que foi acrescentado pela Emenda

9
Constitucional n. 45/2004, entende que alguns tratados internacionais sobre direitos
humanos podem introduzir-se no direito brasileiro, com força de norma constitucional.
Consequentemente, chega-se à conclusão de que a Constituição brasileira não se
resume ao texto constitucional aprovado em 88 (com as supervenientes emendas).

4 QUANTO À FORMA DAS CONSTITUIÇÕES

4.1 Constituição escrita (ou instrumental) e não escrita (ou costumeira ou


consuetudinária)

A Constituição escrita ou instrumental, diz respeito à um documento solene,


aprovado formalmente pelo poder constituinte originário. Observe os dois elementos
que compõem a norma escrita:

10
Assim, é o caso da Constituição Federal de 1988 e todas as outras
constituições brasileiras. Isso porque é tradição do direito brasileiro, em que a principal
fonte do direito é a lei. As Constituições anteriores: 1824, 1891, 1934, 1937, 1946,
1967 (e a Emenda Constitucional n. 1, de 1969) todas foram escritas.

Já a constituição não escrita ou, costumeira ou consuetudinária, forma-se por


tradições seculares e costumes, sendo que muitos deles não escritos, um exemplo é
a Constituição da Inglaterra.

A fonte do direito principal nesse sistema não é a lei, mas sim a jurisprudência
e o costume. Na Inglaterra por exemplo, embora haja inúmeras leis escritas, muitas
delas sendo sobre a organização do Estado e, sobre os direitos fundamentais, a
maioria das regras que regem o Estado (e as organizações públicas) não são escritas.
Por exemplo, enquanto na Inglaterra não há dispositivos legais estabelecendo um rol
de atribuições da Rainha ou do Primeiro Ministro, a Constituição brasileira prevê em
um artigo específico as atribuições do Presidente da República, no art. 84 que
determina um rol de incisos, bem extenso.

5 QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

5.1 Constituição dogmática

Trata-se de um trabalho legislativo específico, que diz respeito ao modo da sua


elaboração. Em determinado momento, o legislador discute, debate e elabora um
texto e, aprova a nova Constituição. Que recebe o nome “dogmática” por refletir os
dogmas, ou melhor dizendo, os pensamentos de um determinado momento histórico.

A constituição dogmática, basicamente é como uma “fotografia” de um


determinado momento histórico, ou seja, é um texto que reflete: valores e
pensamentos de um determinado momento de um país.

11
5.2 Constituição histórica

Pode-se dizer que perpassa de uma lenta e longa evolução histórica. A


Constituição Federal de 88, é dogmática assim como todas as constituições
anteriores. Sendo que a Constituição de 1988, no final dos anos de 1980, foi fruto de
um trabalho legislativo constituinte específico, e que refletiu o pensamento daquele
momento histórico. Uma interessante prova acerca disso, é a análise do art. 5º da
Constituição, no que se refere à ordem dos incisos iniciais e, que mostram os valores
do constituinte. O constituinte, tratou da igualdade e da legalidade nos dois primeiros
incisos do art. 5º, para no inciso III tratar da vedação à tortura. Isso porque o Brasil
estava saindo de um regime ditatorial, em que a tortura foi uma prática vastamente
utilizada no país, assim como em toda a América Latina. Por isso, ao se atentar na
leitura da Constituição de 1988, percebemos uma visão geral do período em que foi
elaborada. Tratando-se de uma constituição dogmática.

6 QUANTO À ORIGEM DAS CONSTITUIÇÕES

6.1 Promulgada (ou de estabelecimento democrático)

Trata-se da Constituição democrática, que foi elaborada pelos representantes


do povo, e legitimamente escolhidos por ele. Tivemos na evolução constitucional
brasileira, as seguintes constituições promulgadas: de 1891, de 1934, de 1946 e a de
1988. Destacando-se que, em todas essas constituições, ocorreu a eleição de uma
Assembleia Constituinte responsável pela elaboração da Constituição. Claro que, em
alguns casos, a representatividade não foi totalmente límpida e cristalinamente
democrática. Podemos citar como exemplo, a Assembleia Constituinte de 1988, em
que houve a participação de alguns senadores biônicos, ou seja, que não foram
escolhidos pelo voto direto da população. Constituições desse jaez, mesmo assim são
bem diferentes das cartas constitucionais, outorgadas e impostas pelo governante
sem a participação popular.

12
6.2 Outorgada (ou carta constitucional)

Trata-se das Constituições que foram impostas ao povo pelo governante. No


Brasil tivemos:

Alguns poderiam até afirmar que, a Constituição de 1967 foi promulgada, isso
porque foi submetido à apreciação da Assembleia Legislativa o anteprojeto elaborado
pelos militares. Porém, essa Assembleia teve tempos extremamente limitado, pois o
Parlamento estava dilacerado pela cassação de mandatos e, extinção de direitos
políticos, inexistindo garantias parlamentares.

6.3 Cesarista (ou bonapartista)

Trata-se da Constituição elaborada pelo governante e submetida à apreciação


do povo mediante referendo, ou seja, é a constituição em que, a participação popular
restringe-se a ratificar a vontade do detentor do poder, recebendo o nome de
bonapartista, porque foi utilizada mais de uma vez por Napoleão Bonaparte, que
nasceu na Córsega e não tinha nenhum vínculo sanguíneo com o rei.

No Brasil, usamos a expressão referendo ao em vez de plebiscito, diante da


sistemática brasileira de ambos os institutos. Porém, embora fora do país tenham
nomes e definições distintas, aqui, referendo e plebiscito diferenciam-se por conta do

13
momento da consulta popular. Enquanto no plebiscito a consulta popular é anterior ao
ato administrativo ou legislativo, no referendo a consulta popular é posterior ao ato
administrativo ou legislativo. Sendo assim, trata-se de referendo na constituição
cesarista, visto que, o povo se manifesta após a elaboração do ato constitucional.

6.4 Pactuada (ou dualista)

Trata-se de um acordo entre duas forças políticas de um país, e recebe o nome


de pactuada por causa do pacto realizado entre essas forças. Um exemplo a ser citado
é a Magna Carta Inglesa (de 1215), fruto de acordo ou pressão, dos barões ingleses
rebelados com o Rei João I.

14
7 QUANTO À EXTENSÃO DAS CONSTITUIÇÕES

7.1 Sintética

Trata-se da Constituição concisa, resumida, que aborda apenas os principais


temas. Melhor dizendo, que versa apenas de normas essenciais à estruturação do
Estado, para o seu funcionamento e para sua organização. Bem como dos direitos
fundamentais e divisão de Poderes.

Não há de se confundir constituição sintética com pequena constituição. Sendo


que a “pequena constituição” se trata da constituição provisória ou pré-constituição,
com finalidade de reger os aspectos constitucionais do país provisoriamente, até a
edição definitiva da constituição.

7.2 Analítica

Trata-se da Constituição extensa, repetitiva, prolixa, não se atém aos aspectos


fundamentais, mais dispõe sobre vários outros assuntos. Contém normas que não são
materialmente constitucionais, devido a sua extensão. Melhor dizendo, trata não
somente dos temas essenciais, mas de outros temas que poderiam ficar apenas na

15
legislação infraconstitucional. Um exemplo é a nossa Constituição Federal de 1988,
pois ela entra nos detalhes de muitos órgãos, instituições, etc. E esse cenário é
comum nas Constituições dos países que saíram de regimes ditatoriais, pois, o
constituinte tem a falsa impressão de que colocando vários assuntos (temas) no texto
constitucional, haverá uma segurança jurídica maior contra eventual novo arbítrio por
causa da sua rigidez.

8 QUANTO À FUNÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

8.1 Garantia (funcional)

Diz respeito à Constituição que se limita a fixar: os direitos e garantias


fundamentais do cidadão. Não havendo preocupação em se fixar: objetivos, metas,
nem direções estatais. Ou seja, podemos dizer que é uma espécie de carta
declaratória dos direitos. É a chamada Constituição “negativa”, por estabelecer limites
sobre a atuação do Estado na vida do cidadão.

16
8.2 Dirigente (aspiracional)

Trata-se da Constituição que, além de delimitar e estruturar o poder do Estado,


prevê direitos e garantias, e um plano de metas e programas a serem atingidos pelo
Estado. Este tipo de Constituição é repleto de normas programáticas, necessitando
da atuação do legislador para torná-la efetiva, o que para muitos, acaba sendo
temeroso.

A Constituição de 1988 que é dirigente, a título de exemplo, possui diversos


dispositivos programáticos, sendo que o artigo 3º é o mais emblemático, que prevê: o
desenvolvimento nacional, a diminuição das desigualdades sociais, etc. Assim dispõe
o referido artigo:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais


e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,


idade e quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 1988)

A vista disso, podemos dizer com certeza que, a Constituição é dirigente ou


aspiracional, em virtude dos inúmeros dispositivos que determinam as metas que o
Estado deve seguir.

Importante frisar que, como vimos no capítulo anterior, o próprio professor


Canotilho atualmente adota posição diversa da por ele criada e critica de forma
veemente as Constituições de cunho dirigente, que não conseguem cumprir as metas
realizadas. As críticas feitas por Catarina Botelho se aplicam integralmente ao Brasil:
há uma falta desconcertante de conexão entre o texto constitucional e a realidade, o
que acaba gerando uma série de frustrações (e até movimentos em favor da
substituição da Constituição). Esse perigoso afastamento entre a realidade e o texto

17
constitucional diminui a chamada “vontade de constituição” (utilizando-se a expressão
de Konrad Hesse), culminando na perda da sua força normativa.

9 QUANTO À ESSÊNCIA DAS CONSTITUIÇÕES

9.1 Semântica

É a Constituição que “esconde” a dura realidade de um país, ou seja, não tem


como finalidade regular a vida política do Estado, buscando apenas formalizar e
manter o poder político vigente. Podemos citar como exemplos, as Constituições de
1937, 1967/1969.

Entendemos então, que ao ler o texto constitucional, nunca imaginaríamos a


real situação de um determinado país. Vale ressaltar, que é comum em regimes
ditatoriais que tentam esconder sob o ponto de vista normativo seus desmandos no
mundo real. Outro exemplo da nossa Constituição é a de 1824, que previa a liberdade
de locomoção como direito fundamental, e mesmo assim não foi capaz de suprimir a
escravidão. Além disso, a escravidão sequer foi tema tratado na Constituição de D.
Pedro I, tanto que a famosa Lei Áurea de 1888, foi uma mera lei ordinária.

9.2 Nominal (ou nominalista)

Diz respeito a Constituição que não reflete a realidade atual do país, por ter
como objetivo se preocupar com o futuro, ou seja, são as cartas políticas que estão
alinhadas com a realidade política. É a Constituição trata apenas dos objetivos futuros,
e deixando de lado a realidade presente.

18
9.3 Normativa

É a Constituição que reflete a atual realidade do país, que embora tenham sido
criadas com a finalidade de regulamentar a vida política do Estado, não conseguem
desempenhar (implementar) este papel, por estar em descompasso com a realidade
política atual.

E isso não depende apenas do aspecto normativo do texto constitucional, mas


sim, de uma relação bilateral entre: os detentores e os destinatários do poder. Para
uma constituição estar “viva”, necessita ser “vivida” pelos detentores e destinatários
do poder, necessitando é claro, de um ambiente nacional que seja favorável para a
sua realização. E para uma Constituição ser viva, não basta apenas ser válida em
sentido jurídico, mas ser observada por todos os interessados, para ser real e efetiva
e estar integrada em toda a sociedade estatal.

A constituição nominal não reflete a realidade, mas é uma projeção do que se


espera para o futuro. Prevalecendo na doutrina brasileira, o entendimento de que a
Constituição de 1988 é normativa. Apesar de não refletir integralmente a realidade
dos fatos, inegável dizer que a Constituição possui força normativa e eficácia em
quaisquer de suas normas. Inclusive as normas mais programáticas, abstratas,
conseguem produzir efeitos concretos.

Embora parte da doutrina entenda que a normatividade não é plena, por isso a
Constituição Federal de 1988 estaria num estágio intermediário entre a Constituição
nominal e a constituição normativa.

10 QUANTO À SISTEMATIZAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

Diz respeito à uma classificação exclusiva das constituições escritas, que se


referem à existência de um documento constitucional.

19
10.1 Unitária (codificada ou unitextual)

Diz respeito a Constituição formada por um único documento, texto legislativo


e lei, ou seja, são aquelas que se acham contidas inteiramente num só texto. Com as
suas disposições e com seus princípios sistematicamente ordenado e articulado em:
títulos, capítulos e seções, formando assim, um único corpo de lei. É chamada
também de codificada, pois, tudo é colocado dentro uma mesma norma, de um mesmo
código.

10.2 Variada (ou dispersa)

Essa Constituição se forma por mais de um documento, um conjunto de textos


feitos simultaneamente ou, em momento histórico diversos, ou melhor dizendo, será
reduzida quando colocada em um único documento sistematizado código, como a
vigente Constituição brasileira. Por outro lado, será variada se, disposto em textos
esparsos. Podemos citar como exemplos de constituições variadas ou dispersas as
de Israel, Nova Zelândia e Canadá.

A Constituição Federal foi chamada de unitária, pelo fato de compor apenas um


único documento. Mas com o advento da Ementa Constitucional nº 45, essa teoria se
enfraqueceu, e foi acrescido ao art. 5º da CF o § 3º:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que


forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por
três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004) (Atos aprovados na forma deste parágrafo: DLG nº 186, de 2008, DEC
6.949, de 2009, DLG 261, de 2015, DEC 9.522, de 2018 ) (Vide ADIN 3392)
(BRASIL, 1988)

Alguns tratados internacionais à cerca dos direitos humanos, segundo ele


podem ingressar no direito brasileiro com força de norma constitucional: os tratados

20
aprovados em dois turnos, pelas duas casas do Congresso Nacional, por 3/5 dos seus
membros.

Desta forma, é imperioso identificar que a Constituição brasileira hoje em dia é


variada. Na constituição unitária não existem leis com valor constitucional. No Brasil
há desde o advento da Emenda Constitucional n. 45/2004.

A nossa Constituição Federal de 1988, não é formada apenas por um único


documento. Atualmente, ela é formada pelo menos por três normas: o texto
constitucional de 1988; a Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência
e; o Tratado de Marraqueche. Sem contar os tratados que forem aprovados
futuramente e, sem contar as teorias pós-positivistas como a do bloco de
constitucionalidade, que não restringem a constituição ao seu mero âmbito formal
positivado.

Nossa Constituição nasceu unitária e passou a ser variada. E o mesmo ocorreu


na Argentina, que posteriormente incorporou documentos com status constitucional.
A Constituição que nasce unitária e se torna variada pode ser classificada como
constituição mista:

21
Ainda é bastante polêmica tal classificação, e por isso alguns doutrinadores não
a adotaram. Nos termos do art. 5º, § 3º, da Constituição Federal já citado acima, é a
teoria do bloco da Constitucionalidade. Através do qual, não é constitucional apenas
o que está na Constituição, mas, toda e qualquer regra de natureza constitucional.
Assim sendo, para alguns o nosso sistema é o misto.

11 QUANTO AO SISTEMA: PRINCIPIOLÓGICA E PRECEITUAL

11.1 Principiológica

Diz que é a Constituição que possui mais princípios do que regras. Ou seja, os
princípios é que predominam. Tratando-se de um movimento crescente, com o
advento do: neoconstitucionalismo e, do pós-positivismo.

22
O pós-positivismo nas décadas finais do século XX, começou a ser identificado,
constatando-se acentuação da hegemonia axiológica dos princípios pelas novas
Constituições que eram promulgadas, convertendo-os em pedestal normativo. A
confirmação da normatividade dos princípios os fez ser colocados no sistema jurídico
com hegemonia na construção normativa, de maneira que passaram à centralidade
da norma constitucional, como regentes da ordem jurídica. Os princípios são, pois, as
vigas mestras do texto constitucional.

11.2 Preceitual

É a Constituição que possui mais regras que princípios, ou seja, o que


predomina são as regras. E a importância dessa classificação, se dá pela necessidade
de diferenciar as duas espécies de normas constitucionais: as regras e os princípios.

A “democracia” por exemplo, prevista no art. 1º, parágrafo único, da CF, é um


princípio. Enquanto os dispositivos legais que tratam da eleição presidencial e
sucessão presidencial nos arts. 77 e seguintes da Constituição, são regras.

23
Após diferenciar cada um, fica a dúvida: afinal de contas a Constituição Federal
é principiológica ou preceitual? Pois bem, prevalece o entendimento de que a
Constituição brasileira é principiológica, por ter um número considerável de princípios
constitucionais, principalmente se entendermos que as normas definidoras dos
direitos fundamentais, em regra, são princípios constitucionais: amplos, vagos,
abstratos, abrangentes.

12 QUANTO À ORIGEM DE SUA DECRETAÇÃO

12.1 Autoconstituição (constituição autônoma ou homoconstituição)

É a Constituição feita em um país, e que nele vigorará. As constituições


brasileiras se encaixam nesse, pois foram aqui editadas para vigorar.

12.2 Heteroconstituição (heterônoma)

É a Constituição feita por um país ou organismo internacional, mas que irá


vigorar em um outro país.

24
13 QUANTO À IDEOLOGIA DAS CONSTITUIÇÕES: ORTODOXAS,
HETERODOXAS OU ECLÉTICAS

A Constituição ortodoxa está ligada a uma única ideologia, ou seja, a


Constituição que adota uma única ideologia estatal, não admitindo ideologias
diversas, a Constituição da Antiga URSS de 1977, é um exemplo, pois o seu modelo
era socialista.

A Constituição heterodoxa (ou eclética), instituem mais de uma ideologia, ou


seja, é a Constituição que permite, que estimula a existência de ideologias diversas.

14 QUANTO À ATIVIDADE LEGISLATIVA

Essa classificação tem como finalidade verificar o grau de liberdade dado pela
Constituição ao legislador ordinário.

14.1 Constituição-lei

É a Constituição cujo tratamento é o mesmo destinado às demais leis, sendo


apenas mais uma lei dentro do ordenamento jurídico. São os países que não possuem
a supremacia da Constituição e sim a supremacia do parlamento que adotam essa

25
constituição. E o legislador ordinário, com esse tipo de constituição, tem ampla
liberdade.

14.2 Constituição-fundamento (ou total ou ubiquidade constitucional)

Trata-se da Constituição que ao tentar disciplinar muitos detalhes da vida


social, acaba reduzindo a liberdade do legislador ordinário. É chamada também de
constituição total, por tentar disciplinar os detalhes de instituições e órgãos. Buscando
estar presente em todas as searas da ação estatal, por isso a expressão ubiquidade
constitucional.

14.3 Constituição-moldura (ou constituição-quadro)

Basicamente, é um meio-termo entre: a constituição-lei e a constituição-total.


Trata-se da constituição que estabelece os limites de atuação do legislador ordinário.
Ou seja, tem como finalidade fixar uma posição intermediária entre os dois conceitos
extremos de constituição citados acima.

26
15 QUANTO AO PERÍODO DE DURAÇÃO

15.1 Constituição provisória (pré-constituição)

Diz respeito a Constituição que é elaborada para vigorar provisoriamente, até


o momento da edição da Constituição definitiva, e costuma ser elaborada em tempos
de ruptura política.

A Proclamada a República no Brasil foi em 15 de novembro de 1889, e não


havia mais como manter os ditames da Constituição de 1824. Pois tratava da
monarquia de um Estado Unitário, e por isso o decreto nº 1, de 15 de novembro de
1889, prescrevia “Proclama provisoriamente e decreta como forma de governo da
Nação Brasileira a República Federativa, e estabelece as normas pelas quais se
devem reger os Estados Federais” (BRASIL, 1988) foi a constituição provisória
adotada até a promulgação da Constituição Republicana de 1891.

Por sua vez, da mesma forma, o Ato Institucional n. 1, de 9 de abril de 1964,


após afirmar falaciosamente a “manutenção da Constituição de 1946”, estabeleceu
novas regras constitucionais provisórias. Tanto é verdade que, no preâmbulo desse
ato, afirma que tais modificações estão sendo introduzidas “pelo Poder Constituinte
Originário da revolução vitoriosa”.

15.2 Constituição definitiva

É a Constituição que não possui um determinado prazo de duração, sendo


assim, vigora até que outra a revogue. Um exemplo é o caso da nossa Constituição
que continua em vigor há cerca de 30 anos.

27
16 QUANTO AO CONTEÚDO IDEOLÓGICO DAS CONSTITUIÇÕES

16.1 Constituição liberal

É a Constituição que prevê somente direitos: de primeira dimensão, os direitos


individuais ou os direitos de liberdade pública. Determina também que, o Estado tem
o dever de não interferir na liberdade das pessoas. As constituições de 1824 e 1891,
foram constituições liberais, da mesma forma que as primeiras constituições que
surgiram no final do século XVIII, denominadas “constitucionalismo moderno”. Essas
Constituições representam o primeiro período do surgimento dos direitos humanos,
precisamente às denominadas “liberdades públicas”, que pleiteavam a não
intervenção do Estado na esfera privada dos particulares, por isso surgiu o conceito
de "Constituições negativas”, porque impunham a omissão ou negativa de ação ao
Estado, preservando as liberdades públicas.

16.2 Constituição social

Diz respeito à Constituição que prever os direitos individuais e sociais. Do


mesmo modo, o Estado tem o dever de: agir, fazer, e implantar os direitos sociais que
são: saúde, educação, trabalho, moradia, entre outros.

Desde a Constituição de 1934, todas as constituições no Brasil foram sociais.


Sendo que as constituições sociais correspondem a um momento posterior na
evolução do constitucionalismo, e passa-se a consagrar a obrigação de que, o Estado
atue positivamente, e corrija as desigualdades sociais e proporcione igualdade a
todos. Sendo classificado como Estado do Bem Comum.

28
17 OUTROS TIPOS DE CONSTITUIÇÃO

17.1 Constituição em branco

Diz respeito a Constituição que não determina um procedimento formal de


alteração, que não estabelece regras de modificação da própria constituição. Não
consagrando limitações explícitas ao poder de reforma constitucional.

17.2 Constituição aberta

A Constituição é um processo contínuo, de interpretação feito por todos os


envolvidos. Sendo que todos são potenciais intérpretes da Constituição. E é a partir
dessa interpretação que nasce o conteúdo real da Constituição. Motivo pelo qual
denomina-se Constituição Aberta. Podemos dizer então que, a constituição não se
resume apenas ao texto, há uma interpretação que é feita por um reduzido grupo de
pessoas e instituições, que normalmente é um grupo fechado de membros do poder
judiciário.

29
Sendo assim, o direito constitucional comunitário (que corresponde à ideia de
sociedade e, de constituição aberta) é natural que a própria interpretação da
Constituição deixe de representar monopólio dos agentes estatais ou, dos intérpretes
oficiais. Principalmente dos operadores orgânicos da ordem jurídica e juízes.

17.3 Constituição biomédica

Trata-se da Constituição que aborda temas relacionados ao biodireito e, à


biomedicina. Podemos dizer que é o dever de proteção da identidade genética do ser
humano. Especificamente na criação, no desenvolvimento e, na utilização das
tecnologias e experimentações científicas.

17.4 Constituição oral

É a Constituição em que o governante proclama o conjunto de normas que irá


reger a vida em sociedade, em um ato solene e de forma oral. Diz respeito à
constituição que é elaborada mediante um processo colaborativo direto da população,
principalmente através da internet (meios tecnológicos).

30
17.5 Constituição econômica

É a Constituição que determina as principais diretrizes da economia e estipula


os princípios que regem a ordem econômica. Ou seja, é o conjunto de instituições
jurídicas e preceitos que, garantindo os elementos definidores de um determinado
sistema econômico, estabelecem uma determinada forma de organização e
funcionamento da economia que constituem uma determinada ordem econômica. A
própria Constituição de 1988 é uma Constituição Econômica, pois o próprio Título VII
(Da Ordem Econômica e Financeira), diz por si só.

18 QUANTO AO MÉTODO INTERPRETATIVO DAS CONSTITUIÇÕES

18.1 Constituição estrita (strict constitution)

Diz respeito a Constituição cuja única forma legítima de ser interpretada é


mantendo-se fiel à sua concepção original (seu texto), atendendo especialmente à
vontade dos constituintes originários, estando a uma corrente interpretativa
classificada como originalismo.

31
18.2 Constituição viva (living constitution)

É a Constituição que tem o poder permanente para ser alterada informalmente


(por seus intérpretes), ajustando-se às novas realidades não previstas ou, não
existentes no momento de sua elaboração.

A Constituição Deve-se interpretar e reinventar a Constituição de acordo com


os novos tempos ou, a partir das novas aspirações da sociedade contemporânea.
Afinal, é impossível ficar preso às percepções existentes à época da elaboração
(edição) da Constituição, sendo sempre necessário adapta-la à realidade do
momento, através de uma evolução da sociedade e da jurisprudência.

19 QUANTO À CONCENTRAÇÃO DO PODER: TOTALITÁRIAS, AUTORITÁRIAS


E DE PODER MODERADO

As totalitárias, diz respeito à uma subordinação absoluta do homem ao Estado,


não sendo admitido nenhum tipo de interferência do cidadão (súdito) nas decisões
políticas do Estado.

As autoritárias, se caracterizam por ter uma forte concentração do poder no


Estado, mesmo que em doses menores que a totalitária. Um exemplo para citar é a
Constituição de 1937, que suprimiu o direito de voto e a ação popular.

E a de poder moderado, adota um amplo espectro de direitos pessoais, sem


prejuízo de sua restrição, principalmente em situações de emergência. Vale ressaltar
que essas limitações devem se enquadrar em pautas de razoabilidade.

32
20 QUANTO À EFICÁCIA DAS CONSTITUIÇÕES: RETRATISTA, CONTRATO E
PROMESSA

As Constituições retratistas são as que se limitam a descrever uma realidade,


sem pretender aperfeiçoá-la ou corrigi-la. Nesse ponto de vista, podemos dizer que
ela é sincera e eficaz, mesmo sendo pouco inovadora.

As Constituições contratos, desenha uma ordem jurídico-política exigível e


realizável no presente ou, em um curto prazo. O cumprimento poderá ser reclamado
pelos interessados, em caso de: infração ou omissão. Melhor dizendo, trata-se de uma
constituição possível com total vocação de eficácia.

E a Constituição promessa, tem característica por desenhar um esquema de:


direitos pessoais, direitos sociais e poder, destinado ao futuro, quase inexigível na
atualidade. Trata-se de uma constituição teórica, fantasiosa, utopista e, pouco leal
com a comunidade a que se destina.

21 QUANTO À ORIGINALIDADE DAS CONSTITUIÇÕES

21.1 Original (ou originária)

Trata-se de documento de governo que abrange um princípio funcional novo e


original, para a formação estatal e o processo de poder político.

21.2 Derivada

Trata-se de um tipo de Constituição que segue primeiramente os modelos


constitucionais nacionais ou, estrangeiros, levando à frente apenas adaptações das
necessidades nacionais. Mas, a de se dizer que não é fácil constatar se a Constituição
é original ou derivada, por sempre haver uma carga de subjetivismo.

33
22 QUANTO AO CONTEÚDO IDEOLÓGICO DAS CONSTITUIÇÕES:
IDEOLÓGICO-PROGRAMÁTICA E UNITÁRIA

Ideológico-programático diz respeito às constituições que são carregadas


ideologicamente, ou seja, que possuem um programa ideológico. E a unitária é a
constituição puramente utilitária ou ideologicamente neutra. E essa constituição,
propõe oferecer um quadro funcional, dentro do qual as forças políticas e sociais das
comunidades deverão enfrentar em livre concorrência. Há de se levar em conta, que
não existe uma Constituição integralmente utilitária, já que toda Constituição tem uma
carga ideológica.

23 QUANTO À RIGIDEZ DAS CONSTITUIÇÕES

23.1 Imutável

Trata das Constituições que não podem ser alteradas, nem modificadas. O
exemplo que temos é único na história brasileira, que é a Constituição de 1824. Não
podia ser alterada nos primeiros quatro anos, por força do art. 174 “se passados quatro
anos, depois de jurada a Constituição do Brasil, se conhecer que algum dos seus
artigos merece reforma, se fará a proposição por escrito, a qual deve ter origem na
Câmara dos Deputados, e ser apoiada pela terça parte deles”. (BRASIL, 1824)

23.2 Rígida

Se comparada às demais, é a Constituição que possui um procedimento muito


mais rigoroso de alteração. Só poderá ser modificada (alterada) através de um
procedimento de revisão específico, com certos limites: circunstanciais, formais e
materiais. É o caso da Constituição brasileira de 1988, pois a mesma possui uma série
de regras constitucionais que determinam um procedimento de reforma mais rigoroso.

34
23.3 Flexível

Trata-se da Constituição que exige o mesmo procedimento de alteração que


seja destinado às outras leis. É aquela fácil de ser modificada (alterada), por não estar
hierarquicamente acima de outras leis. Esta, é adotada nos países que não possuem
a supremacia da Constituição, mas, a supremacia do Parlamento. Vale ressaltar que
não há controle de constitucionalidade em países de constituição flexível.

23.4 Semirrígida ou semiflexível

Diz respeito à constituição que tem uma parte rígida, difícil de ser modificada,
uma outra parte flexível, fácil de ser modificada, e já citamos como exemplo a
Constituição de 1824. No art. 178 daquela Constituição, alguns dispositivos poderiam
ser modificados mediante o mesmo procedimento destinado às leis ordinárias.
Enquanto outras normas constitucionais possuíam um procedimento mais rigoroso de
modificação.

No que se refere às normas materialmente constitucionais, o procedimento de


alteração era mais rigoroso. Quanto às normas formalmente constitucionais, poderiam
ser alteradas pelo procedimento ordinário.

23.5 Transitoriamente flexível

Trata das Constituições suscetíveis de reforma, desde que esteja de acordo


com os procedimentos ordinários, mas, somente por determinado período. Excedido
esse período inicial, o documento passará a ser rígido.

35
24 AS CLÁUSULAS PÉTREAS

Cláusulas pétreas são matérias que não podem ser suprimidas da Constituição,
apesar de precisarem ser modificadas, e geralmente é um erro bastante comum
entender que as cláusulas são inalteráveis. Então é certo que a alteração pode
ocorrer, e é oportuno que se faça. Vamos usar como exemplo o Brasil, que é possível
alterar a “separação dos Poderes”, embora ela seja uma cláusula pétrea.

Parece imprescindível alterar a relação que há entre Poder Legislativo e Poder


Executivo, que nos últimos anos tem gerado intoleráveis e altíssimos níveis de
corrupção, por causa de um chamado presidencialismo de coalização. Por meio do
qual só se consegue governar se “cooptar”, através de meios legítimos ou ilegítimos,
parte do Legislativo para integrar o governo. Então, é possível a reforma da separação

36
dos poderes desde que esteja dentro de certos parâmetros, para assim não ferir a
cláusula pétrea do art. 60, § 4º, III, da Constituição. Para melhor entendimento observe
todo teor do mencionado artigo:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do


Senado Federal;

II - do Presidente da República;

III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da


Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus
membros.

§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção


federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.

§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso


Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos,
três quintos dos votos dos respectivos membros.

§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos


Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.

§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a


abolir:

I - a forma federativa de Estado;

II - o voto direto, secreto, universal e periódico;

III - a separação dos Poderes;

IV - os direitos e garantias individuais.

§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por


prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão
legislativa. (BRASIL, 1988) Grifo nosso

Vale destacar que nos termos do art. 60, § 4º, não se admite emendas
constitucionais tendentes a abolir cláusulas pétreas, ou seja, a expressão “tende a
abolir” significa “caminhar na direção de”, direcionar-se a um determinado lugar.
Assim, não será proibida apenas uma emenda constitucional que abole a Federação,
transformando o Brasil num Estado Unitário, mas também qualquer emenda
constitucional “tendente a abolir” a Federação.

37
Observe o próximo esquema demonstrativo:

25 FORMA FEDERATIVA DO ESTADO

A Federação, assim como em constituições anteriores, é a primeira cláusula


pétrea. Portanto, não se pode abolir a Federação, assim como não é possível editar
uma emenda constitucional tendente a abolir a Federação.

Federação consiste na união de vários Estados-membros relativamente


autônomos e também na nossa forma de Estado. Sendo assim, cada Estado tem
autonomia relativa para administrar, legislar, etc. Vale destacar que, cada Estado-

38
membro tem autonomia e não independência, e que a união de Estados
independentes se chama confederação.

A Federação por ser a primeira cláusula pétrea, não há possibilidades de alterar


a Constituição para transformar o Brasil novamente em Estado Unitário, como já o
fora durante a Constituição de 1824. Do mesmo modo que não será possível uma
emenda tendente a abolir essa federação, restringindo excessivamente a
competência dos Estados, e a autonomia, pois estará caminhando no sentido de abolir
essa federação.

Há de se observar que no art. 60, § 4º, não consta que o sistema de governo
seja presidencialista, e como sabido por todos o sistema de governo adotado pela
Constituição de 88 é o presidencialismo. Portanto, entende-se ser possível uma
emenda constitucional alterando nosso sistema de governo para parlamentarista ou
semipresidencialista.

O Brasil adota como forma de governo a república. Nas constituições


anteriores, ao lado da federação, a república por muitas vezes foi considerada
cláusula pétrea. Na Constituição de 1988, a república não é uma cláusula pétrea
expressa, realmente não se encontra no rol do art. 60, § 4º, da Constituição Federal.
Embora não seja uma cláusula pétrea expressa, segundo Supremo Tribunal Federal
e segundo a doutrina, a república é uma cláusula pétrea implícita.

39
26 VOTO DIRETO, SECRETO, UNIVERSAL E PERIÓDICO

É uma inovação na Constituição Federal de 1988, sendo que em nenhuma


constituição anterior houve outra cláusula pétrea que não fosse a república e a
federação. Para mais, deve-se ressaltar que não é todo tipo de voto que é cláusula
pétrea.

Observe o demonstrativo com a classificação de cada voto:

40
Na nossa constituição o voto é universal e isso é uma cláusula pétrea. O voto
periódico é aquele que de tempos em tempos, o eleitor poderá escolher seu
representante.

41
27 BIBLIOGRAFIA

ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. Atualizado por


Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva e Paulo Borba Casella. 17. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009.

ALLCANTARA, Silvano Alves. Direito constitucional. Curitiba: Contentus, 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº


4650/DF – Distrito Federal. Relator: Ministro Luiz Fux. Set. 2015.

CAMPOS, Francisco. Direito constitucional. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1956.

CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. A proteção internacional dos direitos


humanos: fundamentos jurídicos e instrumentos básicos. São Paulo: Saraiva,
1991.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 6 ed.


rev. Coimbra: Almedina, 1993 (7. ed., 2003).

CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional: teoria do Estado e da


Constituição. Direito constitucional positivo. 12 ed. rev. e atual. Belo Horizonte:
Del Rey, 2006 (15. ed., 2009).

COELHO, Inocêncio Mártires. Interpretação constitucional. 3 ed. rev. e aum. São


Paulo: Saraiva, 2007.

DRAGO, Guilherme Dettmer. Manual de direito constitucional. Caxias do Sul:


Educs, 2019.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 38 Ed.,


Saraiva, 2012.

FUTTERLEIB, Lígia Leindecker. Fundamentos do direito constitucional. Curitiba:


InterSaberes, 2012.

42
GÓES, Guilherme Sandoval; MORAES MELLO, Cleyson de. Direito constitucional.
Rio de Janeiro: Processo, 2018.

HACK, Érico. Direito constitucional: conceitos, fundamentos e princípios


básicos. Curitiba: InterSaberes, 2012.

MESSA, Ana Flávia. Direito constitucional. 5 ed. São Paulo: Rideel, 2018.

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 13 Ed., Editora Atlas, 2003.

SENA, Daniel. Direito constitucional. 1 ed. São Paulo: Rideel, 2021.

SILVA, Jose Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 9 ed. São Paulo:
Malheiros, 1992.

SILVA, Roque Sérgio D'Andréa Ribeida da. Introdução ao direito constitucional.


Curitiba: InterSaberes, 2013.

VILLA, Marco Antonio. A história das constituições brasileiras. São Paulo: Leya,
2011.

43

Você também pode gostar