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1

PROVA ORAL
CARTÓRIOS

ESPELHO
P7
2

SUMÁRIO

1. CONSTITUIÇÃO .................................................................................................... 7
HISTÓRICO DO CONSTITUCIONALISMO........................................................... 7
Conceito de Constitucionalismo ....................................................................... 7
Neoconstitucionalismo ou Constitucionalismo Contemporâneo /
Avançado ou de Direitos ............................................................................................... 9
CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO........................................................................... 12
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES ........................................................... 15
ELEMENTOS .............................................................................................................. 21
2. PODER CONSTITUINTE. ................................................................................... 23
CONCEITO ................................................................................................................. 23
CLASSIFICAÇÃO ...................................................................................................... 23
Poder Constituinte Originário (genuíno, primário ou de primeiro grau)
............................................................................................................................................. 23
Poder Constituinte Derivado ........................................................................... 26
Poder Constituinte Derivado Reformador (secundário, de segundo
grau, instituído, constituído ou de reforma) ..................................................... 28
Poder Constituinte Derivado Decorrente ................................................ 29
NOVA CONSTITUIÇÃO E ORDEM JURÍDICA ANTERIOR ............................. 30
Recepção Constitucional ................................................................................... 30
Desconstitucionalização .................................................................................... 31
Recepção material de normas constitucionais ........................................... 31
OUTROS CONCEITOS/ASPECTOS RELEVANTES ........................................... 32
Poder Constituinte Difuso - Mutação Constitucional................................ 32
Poder Constituinte Supranacional ................................................................. 33
Poder Constituinte Histórico ............................................................................ 33
Poder Constituinte Revolucionário ................................................................ 34
3. NORMAS CONSTITUCIONAIS: HERMENÊUTICA E FILOSOFIA
CONSTITUCIONAL. ............................................................................................................... 35
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO CONSTITUCIONAL - MÉTODOS DE
INTERPRETAÇÃO ............................................................................................................... 35
PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ................................ 36
LIMITES DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ........................................ 37
Decisões interpretativas em sentido estrito................................................ 37
Decisões manipuladoras (ou manipulativas) (ou normativas) ............... 38
Pensamento jurídico do possível.................................................................... 40
4. APLICABILIDADE E EFICÁCIA DAS NORMAS ............................................ 42
3

EFICÁCIA JURÍDICA E EFICÁCIA SOCIAL ......................................................... 42


A CLASSIFICAÇÃO DE JOSÉ AFONSO DA SILVA ........................................... 42
5. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: ................................................. 44
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 44
CONCEITO ................................................................................................................. 45
TEORIAS SOBRE OS EFEITOS DAS LEIS E ATOS NORMATIVOS
DECLARADOS INCONSTITUCIONAIS .......................................................................... 45
Mitigação da teoria da nulidade no controle concentrado..................... 46
Mitigação da teoria da nulidade no controle difuso ................................. 47
ESPÉCIES/FORMAS DE INCONSTITUCIONALIDADE .................................... 48
INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO E INCONSTITUCIONALIDADE
POR OMISSÃO ................................................................................................................ 48
INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL X FORMAL X VÍCIO DE
DECORO ........................................................................................................................... 48
INCONSTITUCIONALIDADE TOTAL OU PARCIAL ...................................... 49
INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO ................................. 50
INCONSTITUCIONALIDADE ORIGINÁRIA E SUPERVENIENTE .............. 51
INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA ................................................ 52
SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE............................. 54
FORMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ............................... 55
CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO (FULL BENCH) ................................ 65
PARÂMETRO PARA CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ................. 67
O CONTROLE NO DIREITO BRASILEIRO .......................................................... 70
AÇÃO DIREITA DE INCONSTITUCIONALIDADE (ADI GENÉRICA) ........ 72
LEGITIMADOS................................................................................................... 80
AMICUS CURIAE .............................................................................................. 82
AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE (ADC) ................. 84
ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL
(ADPF) ............................................................................................................................... 85
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO (ADO)87
REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA ................................................................. 87
CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE NOS ESTADOS .... 88
ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS AUTÔNOMOS (TCU, CNJ e CNMP) ........... 89
6. O PRINCÍPIO DA MORALIDADE NA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. ..... 91
7. ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO .................................................................. 92
PREÂMBULO ............................................................................................................. 92
ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS (ADCT) .... 92
8. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA BRASILEIRA. ................ 94
FUNDAMENTOS DA RFB ....................................................................................... 94
4

OBJETIVOS DA RFB ................................................................................................ 95


PRINCÍPIOS DA RFB NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ............................ 95
9. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS................................................. 97
CONCEITO DE DIREITO FUNDAMENTAL ......................................................... 98
DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS HUMANOS .................................. 100
DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................. 101
Direitos de 1ª Geração (ou dimensão) - Liberdade ................................. 101
Direitos de 2ª Geração (ou dimensão) - Igualdade ................................. 102
Direitos de 3ª Geração (ou dimensão) - Fraternidade ............................ 102
Direitos de 4ª, 5ª e 6ª Geração (ou dimensão).......................................... 103
VETORES DE EFICÁCIA ........................................................................................ 104
COLISÃO ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................... 104
ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL .................................................... 105
TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS .................. 106
DIREITO E DEVERES, INDIVIDUAIS E COLETIVOS ....................................... 106
Artigo 5º - Dos Direitos Fundamentais........................................................ 107
✓ Direito à Vida ............................................................................................ 107
✓ Direito à Liberdade ................................................................................. 107
✓ Direito à Reunião ..................................................................................... 108
✓ Direito à Proteção dos Dados Pessoais ............................................. 109
10. DIREITOS SOCIAIS ....................................................................................... 110
CONCEITO ............................................................................................................... 110
EFETIVIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS ........................................................... 110
11. DIREITOS DE NACIONALIDADE .............................................................. 112
CONCEITO DE NACIONALIDADE ..................................................................... 112
NATUREZA JURÍDICA DA NACIONALIDADE ................................................ 112
ESPÉCIES DE NACIONALIDADE ........................................................................ 113
BRASILEIROS NATOS ........................................................................................... 114
BRASILEIROS NATURALIZADOS ....................................................................... 115
PERDA DA NACIONALIDADE ............................................................................ 115
12. DIREITOS POLÍTICOS .................................................................................. 116
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 117
DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS (DIREITO DE SUFRÁGIO) .................... 118
DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS ................................................................... 119
Inelegibilidades ................................................................................................. 119
Privação dos direitos políticos — perda e suspensão .............................. 121
13. PARTIDOS POLÍTICOS ................................................................................ 124
14. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ................................................................... 126
5

ELEMENTOS DO ESTADO ................................................................................... 126


FORMAS DE GOVERNO ....................................................................................... 126
SISTEMAS DE GOVERNO .................................................................................... 127
REGIMES DE GOVERNO ...................................................................................... 129
FORMAS DE ESTADO ........................................................................................... 129
ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DA FEDERAÇÃO .......................................... 132
Alterações na estrutura dos Estados............................................................ 132
Formação dos Municípios ............................................................................... 133
VEDAÇÕES FEDERATIVAS .................................................................................. 135
BENS PÚBLICOS ..................................................................................................... 135
INTERVENÇÃO ....................................................................................................... 136
Controle Político da Intervenção .................................................................. 139
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS ................................................................... 140
ORGANIZAÇÃO POLÍTICA ADMINISTRATIVA .............................................. 141
LEGISLAÇÃO ESPECIAL ........................................................................................... 143
1. LEI Nº 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964 – ESTATUTO DA TERRA
143
TÍTULO I – DISPOSIÇÕES PRELIMINARES....................................................... 143
Objeto ................................................................................................................... 143
Princípios e Definições .................................................................................... 143
➢ Princípio da Função Social da Propriedade ................................. 143
➢ Princípio da Justiça Social ................................................................. 144
➢ Definições dos principais institutos ............................................... 145
TÍTULO II – DA REFORMA AGRÁRIA................................................................. 146
Dos Objetivos e dos Meios de Acesso à Propriedade Rural ................. 146
TÍTULO III - DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO RURAL ...................... 146
Da Tributação da Terra .................................................................................... 147
Da Colonização .................................................................................................. 147
Do Uso ou da Posse Temporária da Terra .................................................. 148
DEVER DOS OFICIAIS DOS CARTÓRIOS DE REGISTRO DE IMÓVEIS .... 149
2. LEI Nº 10.257 DE 10 DE JULHO DE 2001 - ESTATUTO DA CIDADE . 150
DIRETRIZES GERAIS .............................................................................................. 150
DOS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA URBANA .............................................. 150
Dos instrumentos em geral ............................................................................ 150
Do parcelamento, edificação ou utilização compulsórios .................... 151
Da desapropriação com pagamento em títulos ....................................... 152
Da usucapião especial de imóvel urbano................................................... 152
Do direito de superfície ................................................................................... 154
6

Da outorga onerosa do direito de construir .............................................. 155


Das operações urbanas consorciadas ......................................................... 156
Do estudo de impacto de vizinhança .......................................................... 157
DO PLANO DIRETOR ............................................................................................ 158
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 160
7

DIREITO CONSTITUCIONAL1

1. CONSTITUIÇÃO

HISTÓRICO DO CONSTITUCIONALISMO

Conceito de Constitucionalismo

1. Defina Constitucionalismo. (TJPR/Cartórios/2021)

Constitucionalismo é um movimento político-jurídico-social, um movimento evolutivo de


criação das Constituições.

O Professor André Ramos Tavares ensina quatro diferentes sentidos em que o termo
“constitucionalismo” é empregado:

• Primeira acepção: O constitucionalismo é visto como um MOVIMENTO POLÍTICO-


SOCIAL, em que o objetivo é a limitação do poder estatal.
• Segunda acepção: O constitucionalismo é visto como a imposição de que os Estados
adotem CARTAS CONSTITUCIONAIS ESCRITAS.
• Terceira acepção: O constitucionalismo serve para INDICAR A FUNÇÃO E A POSIÇÃO
DAS CONSTITUIÇÕES nas diversas sociedades.
• Quarta acepção: O “termo “constitucionalismo é também usado para se referir à
EVOLUÇÃO HISTÓRICO-CONSTITUCIONAL de um determinado Estado”.

Em concursos públicos, utiliza-se, normalmente, da primeira acepção, considerando o


constitucionalismo como um movimento político-social.

Nesse sentido, Flávio Martins2 assim define: “o constitucionalismo é o movimento social, político
e jurídico, cujo principal objetivo é limitar o poder do Estado por meio da Constituição.”

1
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2
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olo5.xhtml%5D!/4/2/22/7:68%5Beco%2Cnhe%5D
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Há ainda doutrinadores que se referem a seguinte divisão:

• Em sentido Amplo: O constitucionalismo tem relação com a existência de uma


Constituição em um Estado.
• Em sentido Estrito: O constitucionalismo tem relação com a garantia de direitos e a
limitação do poder (essa é feita através da separação de poderes).

Vale destacar que o constitucionalismo se divide em dois grandes momentos: o


constitucionalismo antigo e o constitucionalismo moderno.

Constitucionalismo Antigo:

• Antiguidade Clássica - Povo Hebreu: Conforme a doutrina, o constitucionalismo


teve origem na antiguidade clássica, no seio do povo hebreu. Eles se organizavam
politicamente por meio do regime teocrático, pelo qual os detentores do poder
estavam limitados pela lei do Senhor. Os governados também precisavam respeitar
a lei do Senhor. Os atos dos governantes eram fiscalizados pelos profetas.
• Antiguidade Clássica - Grécia Antiga: Na antiguidade existiam também as cidades-
estados gregas (Grécia Antiga). Vigorava nesse momento um regime com ampla
participação dos governados, ou seja, existia a democracia direta, pelo qual os
governados participavam ativamente do processo decisório nacional, na condução
do processo político.
• Idade Média: Na Inglaterra, na Idade Média, houve uma importante manifestação do
constitucionalismo que foi a Magna Carta inglesa (1215). Ela representou uma
limitação ao poder monárquico, que, antes, podia tudo o que quisesse. Dessa
forma, a partir desse momento, a vontade do rei estaria limitada pela lei.
• Idade Moderna: Posteriormente, na Idade Moderna, houve novas manifestações
do constitucionalismo, os quais garantiam proteção aos direitos fundamentais da
pessoa humana, limitando o poder estatal na esfera privada, como o Petition of
Rights (1628), Habeas Corpus Act (1679) e o Bill of Rights (1689).
o EUA: Nos estados Unidos também se identificava alguns embriões do
Constitucionalismo, como os contratos de colonização e a Declaration of
Rights do Estado de Virginia (1776).

Constitucionalismo Moderno: No Constitucionalismos Moderno, as ideias do


constitucionalismo estavam condicionadas à existência de Constituições escritas. São marcos do
constitucionalismo moderno a Constituição dos Estados Unidos da América (1787) e a
Constituição da França (1791). Conforme visto, anteriormente, já haviam alguns documentos
9

escritos (Magna Carta, Bill of Rights,Petition of Rights, contratos de colonização), contudo, não
chegavam a ser Constituições, sendo considerados apenas como embriões do constitucionalismo.
O constitucionalismo moderno nasce com um forte viés liberal, e, posteriormente, no início do século
XX, o Estado liberal deu lugar ao que se chamou Estado social de direito:

• Constitucionalismo liberal ou clássico: Teve início no final do século XVIII através das
revoluções liberais (francesa e independência americana), portanto, há duas
experiências constitucionais extremamente importantes: a norte-americana e a
francesa. Consagrava a liberdade, a proteção à propriedade privada, a proteção aos
direitos individuais (evidenciando o voluntarismo). Também nesse momento, exigiam o
absteísmo estatal, ou seja, a abstenção por parte do Estado de intervir na esfera
privada. Ele vai até a Primeira Guerra Mundial.
• Constitucionalismo social: Teve início com o fim da Primeira Guerra Mundial, com a
crise do liberalismo. São marcos históricos desse momento as constituições Mexicana
(1917) e a de Weimar (Alemanha – 1919). Começavam a consagrar um novo grupo de
direitos nas Constituições, os chamados direitos de segunda geração. Não haveria
mais o absenteísmo estatal, sendo que agora era necessário que o Estado ofertasse
prestações positivas aos indivíduos. O Estado deveria garantir aos indivíduos os
chamados direitos sociais.

Neoconstitucionalismo ou Constitucionalismo Contemporâneo / Avançado


ou de Direitos

2. O que é o Neoconstitucionalismo? (TJPR/Cartórios/2021)

O Neoconstitucionalismo possui como marco histórico o pós Segunda Guerra Mundial. Ele
surgiu como resposta às atrocidades cometidas pelos regimes totalitários (nazismo e fascismo).
Tem como fundamento a dignidade da pessoa humana, passando as Constituições a prever valores
em seus textos, formando o que se denomina de Estado Constitucional de Direito em face do
reconhecimento da força normativa da Constituição.

O neoconstitucionalismo está voltado a reconhecer a supremacia da Constituição, buscando


a sua eficácia, sobretudo no que se refere a concretização dos direitos fundamentais. Portanto, não
visa mais apenas àquela ideia de limitação do poder político, mas sim busca a eficácia da
Constituição.
10

Dessa forma, a Constituição passa a ser o centro do sistema jurídico, se localizando no topo do
ordenamento jurídico, devendo ser dotadas de força normativa.

Para conferir normatividade à Constituição o neoconstitucionalismo destaca o Poder Judiciário


como garantidor, colocando a atividade legislativa em segundo plano. Em resumo: trabalha com a
ideia de extração da máxima efetividade do texto constitucional, pois a Constituição deve ocupar o
centro do sistema jurídico estatal.

Segundo as lições de Alfonso Figueroa, o neoconstitucionalismo pode ser visto como uma
proposta teórica, ideológica ou metodológica de SUPERAÇÃO DA ANTINOMIA do
JUSNATURALISMO e o JUSPOSITIVISMO. Ou seja, trata-se ao mesmo tempo de uma TEORIA, de
uma IDEOLOGIA ou de um MÉTODO em que se busca traçar o direito constitucional
contemporâneo, por meio da aceitação de ambos os paradigmas: jusnaturalista e juspositivista. A
NORMA JURÍDICA abarca tanto os princípios quanto as regras, não se exaurindo apenas em um
deles.

Há uma atividade declaratória em que o Estado declara a pré-existência dos princípios ao


próprio Estado (jusnaturalismo) e também uma atividade constitutiva, em que o Estado constitui o
direito a partir da regra (juspositivismo).

Portanto, Excelência, o neoconstitucionalismo trouxe um novo paradigma jurídico, ao buscar


conferir força normativa aos princípios e superar a antinomia existente entre o jusnaturalismo e o
juspositivismo.

3. Defina Panconstitucionalização.

O neoconstitucionalismo possui como uma de suas características a defesa da


constitucionalização do direito. Contudo, parte da doutrina entende que a excessiva
constitucionalização do direito poderia gerar um viés antidemocrático, tendo em vista que, sé é a
Constituição que define tudo, haveria um espaço muito pequeno de liberdade do legislador, sendo
este mero executor de medidas já impostas pela própria Constituição.

Dessa forma, para garantir a democracia, a constitucionalização do direito deve respeitar a


liberdade de conformação do legislador.

Portanto, conclui-se que é atribuído ao fenômeno da PANCONSTITUCIONALIZAÇÃO um viés


antidemocrático, uma vez que há uma excessiva constitucionalização do Direito que impede a
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autonomia política ao povo para, em cada momento de sua história, realizar suas escolhas, ficando
demasiadamente restrito aos ditames constitucionais.

4. Defina Transconstitucionalismo. É a mesma coisa que constitucionalismo


transnacional?

TRANSCONSTITUCIONALISMO é o fenômeno da "globalização do Direito Constitucional",


que não propugna uma Constituição global ou internacional, mas propõe uma "globalização do
direito constitucional doméstico".

Traduz a ideia de entrelaçamento de ordens jurídicas constitucionais para a solução de


problemas comuns. O conceito está relacionado à existência de problemas jurídico-constitucionais
que perpassam às distintas ordens jurídicas, sendo comuns a todas elas, como, por exemplo, os
problemas associados aos direitos humanos. Neste caso, impõe-se um DIÁLOGO entre distintas
ordens jurídicas, a fim de que os problemas que lhes são comuns tenham um tratamento harmonioso
e reciprocamente adequado.

Dessa forma, instala-se uma INTEGRAÇÃO cooperativa, pacífica e desterritorializada entre


ordens constitucionais de Estados completamente diferentes, a fim de solucionar conflitos similares,
sem que haja uma sobreposição de ordenamento. Ou seja, cada Estado mantém sua soberania.

Em vez de conferir a algum ordenamento o privilégio absoluto para a solução do problema,


deve- se reconhecer a necessidade de construir “pontes de transição”, a fim de promover
“conversações constitucionais”, fortalecendo os entrelaçamentos constitucionais entre as diversas
ordens jurídicas: estatais, internacionais, supranacionais e locais.

No Brasil, o grande precursor do conceito foi MARCELO NEVES, o qual explica que
transconstitucionalismo não tem nada a ver com o conceito de constitucionalismo internacional,
transnacional, supranacional, estatal ou local.

CONSTITUCIONALISMO TRANSNACIONAL significa a possibilidade de se elaborar apenas


uma constituição para vários países.

Portanto, são conceitos distintos. Enquanto o Constitucionalismo Transnacional preconiza uma


única ordem constitucional para diversos Estados soberanos, o Transconstitucionalismo, segundo
Marcelo Neves, é a relação entre o direito interno e o direito internacional, para a solução de
problemas comuns, sobretudo para a melhor tutela dos direitos fundamentais.
12

Quadro-resumo:
✓ Constitucionalismo: é o movimento jurídico-político-social de limitação do
poder dos governantes nas mãos dos governados.
✓ Neoconstitucionalismo: é uma proposta teórica, ideológica ou metodológica de
superação da antinomia entre o jusnaturalismo e o juspositivismo.
o Norma = regra + princípio.
o Reconhece a supremacia da Constituição e a sua força normativa.
✓ Panconstitucionalização: EXCESSIVA constitucionalização do direito que gera
um viés antidemocrático, pois enrijece a atuação do legislador.
✓ Transconstitucionalismo: é a INTEGRAÇÃO COOPERATIVA, pacífica e
desterritorializada entre ordens constitucionais de Estados diferentes, a fim de
solucionar conflitos similares, sobretudo para a melhor tutela dos direitos
fundamentais.
✓ Constitucionalismo transnacional: é a possibilidade de criação de uma única
Constituição para vários países em nível de uma comunidade de nações.

CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

5. Conceitue constituição sob o viés sociológico, político, jurídico e cultural.

A Constituição é a lei fundamental suprema que rege um Estado. Ela determina a


organização político-jurídica do Estado. A doutrina não é pacífica quanto ao conceito de
Constituição, podendo ser analisado a partir de diversas concepções.

Assim, a doutrina analisa o conceito de Constituição a partir dos sentidos sociológico, político,
jurídico e cultural.

• SENTIDO SOCIOLÓGICO: Ferdinand Lassalle. Segundo o sentido sociológico, a


Constituição real e efetiva de um Estado consiste na soma dos fatores reais de poder
que vigoram na sociedade. A Constituição escrita é mera “folha de papel”, e
somente será eficaz e duradoura caso reflita os fatores reais de poder da sociedade.
Se houver um conflito entre a Constituição real (efetiva) e a Constituição escrita (jurídica),
prevalecerá a Constituição real. Estaremos diante de uma situação ideal, se houver
plena correspondência entre a Constituição escrita e os fatores reais de poder. Assim,
13

para Ferdinand Lassale, em um Estado há duas Constituições: a primeira real, efetiva,


correspondente à soma dos fatores reais de poder que regem este país; e outra, escrita,
que consistiria apenas numa “folha de papel”.
• SENTIDO POLÍTICO: Carl Schmitt. Segundo o sentido político, a Constituição é uma
decisão política fundamental que visa estruturar e organizar os elementos essenciais
do Estado. Ela seria fruto da vontade do povo, titular do poder constituinte. Essa teoria,
por este motivo, é considerada decisionista ou voluntarista. O sentido político
diferencia a Constituição de leis constitucionais. As leis constitucionais são aquelas
que somente fazem parte formalmente do texto, tratando de assuntos de menor
importância. Já a Constituição seria a que dispõe apenas sobre matérias de grande
relevância jurídica (decisões políticas fundamentais), como exemplo a organização do
Estado.
• SENTIDO JURÍDICO: Hans Kelsen. De acordo com o sentido jurídico, a Constituição é
norma jurídica pura, norma superior e fundamental do Estado. Há um
escalonamento hierárquico das normas. As normas jurídicas inferiores (normas
fundadas) sempre retiram seu fundamento de validade das normas jurídicas
superiores (normas fundantes). Compreende a Constituição em dois sentidos:
o Sentido lógico-jurídico: A Constituição é a norma hipotética fundamental,
(imaginada, pressuposta). Ela serve como fundamento lógico da validade da
Constituição em sentido jurídico-positivo.
o Sentido jurídico-positivo: A Constituição é a norma positiva suprema, que
serve para regular a criação de todas as outras.
• SENTIDO CULTURAL: Meirelles Teixeira. Conforme o sentido cultural, o Direito só pode
ser entendido como objeto cultural, uma parte da cultura. O Direito não é real,
ideal, ou puro valor. Assim como a cultura, o Direito é produto da atividade humana.

Quadro-resumo: Conceito de Constituição:

✓ Sentido Sociológico:
o Ferdinand Lassalle.
o Constituição real e efetiva: é a soma dos fatores reais de poder que vigoram
na sociedade.
o Constituição escrita: é mera “folha de papel”.
o Conflito entre a Constituição real (efetiva) e a Constituição escrita (jurídica):
prevalecerá a Constituição real.
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o Situação ideal: Constituição escrita = os fatores reais de poder.


✓ Sentido Político:
o Carl Schmitt.
o Constituição: é uma decisão política fundamental.
o Diferencia a Constituição de leis constitucionais.
✓ Sentido Jurídico:
o Hans Kelsen.
o Constituição: é norma jurídica pura, superior e fundamental do Estado.
o Escalonamento hierárquico das normas.
o Compreende a Constituição em dois sentidos:
• Sentido lógico-jurídico: A Constituição é a norma hipotética
fundamental, (imaginada, pressuposta). Ela serve como fundamento
lógico da validade da Constituição em sentido jurídico-positivo.
• Sentido jurídico-positivo: A Constituição é a norma positiva suprema,
que serve para regular a criação de todas as outras.
✓ Sentido Cultural:
o Meirelles Teixeira.
o Direito: só pode ser entendido como objeto cultural, uma parte da cultura. O
Direito não é real, ideal, ou puro valor.

6. Defina Constituição dúctil.

A teoria moderna da Constituição traz a denominada Constituição dúctil ou maleável, suave


(Costituzione mite).

LENZA3 cita Canotilho, que observa que entre as novas avançadas sugestões da moderna teoria
da Constituição está a denominada por Zagrebelsky, Constituição dúctil ou maleável, suave
(Costituzione mite), “para exprimir a necessidade de a Constituição acompanhar a perda do
centro ordenador do estado e refletir o pluralismo social, político e econômico. Neste sentido, a
uma Constituição caberá a tarefa básica de assegurar apenas as condições possibilitadoras de uma
vida em comum, mas já não lhe pertence realizar diretamente um projeto predeterminado dessa vida
comunitária. As Constituições concebem-se, pois, como plataformas de partida para a realização de

3
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Páginas 232 e 233.
15

políticas constitucionais diferenciadas que utilizem em termos inventivos os ‘vários materiais de


construção’ semeados nos textos constitucionais”.

Conforme referido autor4, “a sobrevivência da sociedade complexa, pluralista e democrática,


reconhecendo-se a importância de uma dogmática “fluida”, depende da identificação de um modelo
de Constituição dúctil (maleável) a assegurar, dentro dos seus limites e de uma perspectiva de
coexistência, a espontaneidade da vida social e, assim, as condições para a vida em comum”.

7. Defina Constituição.com ou Crowdsourcing

A Constituição.com, também denominada de crowdsourcing, é aquela em que o seu projeto


conta com a opinião maciça dos usuários da internet, pelo qual, através de sites e redes sociais,
externam o seu pensamento a respeito dos temas a serem constitucionalizados. Dessa forma,
possibilita aos cidadãos, usuários da internet, a colaboração e participação efetiva na elaboração
da Constituição, tudo mediante instrumentos virtuais.

Vale mencionar que na Islândia, em 2011, de forma pioneira, utilizou-se do crowdsourcing,


usando ferramentas virtuais para a elaboração da Constituição. A despeito de não ter sido finalizada
a contento, referida experiência tornou perceptível à todas as nações a possibilidade da internet e
demais tecnologias permitir a integração de todos a favor da democracia.

CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

Origem Modo de Elaboração Estabilidade

✓ Promulgada ✓ Dogmática ✓ Imutável


✓ Outorgada o Ortodoxa ✓ Fixa
✓ Cesarista/Bonapar o Heterodoxa ✓ Flexível
tista ✓ Histórica ✓ Rígida
✓ Dualista/Pactuada ✓ Semi-flexível
✓ Super-rígida

4
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 233.
16

Conteúdo Forma Extensão

✓ Formal ✓ Escrita ✓ Sintética


✓ Material ✓ Não-escrita ✓ Analítica

Finalidade Valor Função

✓ Garantia ✓ Normativa ✓ Constituição-lei


✓ Dirigente ✓ Nominal ✓ Constituição-fundamento
✓ Balanço/registro ✓ Semântica ✓ Constituição-quadro

Conteúdo ideológico Local da decretação Sistema

✓ Liberal ✓ Heteroconstituição ✓ Principiológica


✓ Social ✓ Autoconstituição ✓ Preceitual

8. Fale sobre a classificação da Constituição quanto a sua ORIGEM, diferenciando a


promulgada, outorgada, cesarista e dualista.

A Constituição quanto a sua ORIGEM pode ser classificada em promulgada, outorgada,


cesarista e dualista.

A PROMULGADA, também denominada de DEMOCRÁTICA ou POPULAR, é aquela


elaborada pelos legítimos representantes do povo, normalmente organizados em torno de uma
Assembleia Constituinte.

A OUTORGADA é aquela elaborada sem a presença de legítimos representantes do povo,


imposta pela vontade de um poder absolutista ou totalitário, não-democrático.

A CESARISTA, também denominada de BONAPARTISTA, PLEBISCITÁRIA ou


REFERENDÁRIA é aquela criada por um ditador ou imperador e posteriormente submetida à
aprovação popular, por plebiscito ou referendo.

A DUALISTA, também denominada de PACTUADA, é o resultado do compromisso instável


entre duas forças antagônicas.

9. Diferencie Constituição Material de Constituição Formal.


17

A doutrina classifica a Constituição quanto ao CONTEÚDO em Material e Formal.

A MATERIAL é aquela composta por regras que exteriorizam a forma de Estado, organização
dos Poderes e direitos fundamentais. Portanto, suas normas são aquelas essencialmente
constitucionais, mas que podem ser escritas ou costumeiras, pois a forma da Constituição tem
importância secundária.

A FORMAL é a Constituição que se compõe do que consta no documento solene


(Constituição). Todos os assuntos e direitos inscritos formalmente no texto, independentemente de
sua natureza, são considerados constitucionais. Seria, portanto, o conjunto de normas que estão
inseridas no texto de uma Constituição rígida, independentemente de seu conteúdo.

10. O que é uma Constituição não escrita?

A doutrina classifica a Constituição quanto à FORMA em Escrita e Não-Escrita.

A ESCRITA é aquela formada por um texto. BONAVIDES a divide em Escrita Legal como sendo
aquela Constituição formada por texto oriundo de documentos esparsos ou fragmentados. Escrita
Codificada é a Constituição formada por texto inscrito em documento único.

A NÃO-ESCRITA é a Constituição identificada a partir dos costumes, da jurisprudência


predominante e até mesmo por documentos escritos. Para DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR não existe
Constituição inteiramente não-escrita ou costumeira, pois sempre haverá normas escritas compondo
o seu conteúdo. A Constituição Inglesa, por exemplo, compreende importantes textos escritos, mas
esparsos no tempo e no espaço, tais como a Magna Carta (1.215), o Petition of Rigths (1.628), o
Habeas Corpus Act (1.679), o Bill of Rigths (1.689), dentre outros.

11. Fale sobre a classificação da Constituição quanto a sua estabilidade.

Quanto à ESTABILIDADE a Constituição pode ser classificada em:

• IMUTÁVEL: Não prevê qualquer tipo de processo para alteração ou revisão do Texto
Constitucional. Texto não pode ser modificado jamais. Tem a pretensão de ser eterna.
• FIXA: Somente pode ser alterado pelo Poder Constituinte Originário, circunstância que
implica, não em alteração, mas em elaboração, propriamente, de uma nova ordem
constitucional.
18

• FLEXÍVEL: Aquela em que o processo para alteração é igual ao utilizado para criar leis.
Modificada pelo procedimento legislativo ordinário, ou seja, pelo mesmo processo
legislativo usado para modificar as leis comuns.
• RÍGIDA: Aquela em que o processo para a alteração de qualquer de suas normas é mais
difícil do que o utilizado para criar leis.
• SEMI-RÍGIDA/SEMI-FLEXÍVEL: É aquela Constituição dotada de parte rígida (somente
pode ser alterada por processo mais difícil do que o utilizado para as demais leis) e parte
flexível, na qual poderá ser alterada pelo mesmo processo utilizado para criar leis
ordinárias.
• SUPER-RÍGIDA: Há um núcleo intangível (cláusulas pétreas), sendo as demais normas
alteráveis por processo legislativo diferenciado, mais dificultoso que o ordinário.

12. O que é uma Constituição Sintética?

Quanto à EXTENSÃO a Constituição pode ser classificada em:

• SINTÉTICAS (concisas, sumárias ou curtas): É a Constituição que regulamenta apenas


os princípios básicos de um Estado. Restringem-se aos elementos substancialmente
constitucionais.
• ANALÍTICAS (prolixas, extensas ou longas): Texto constitucional que vai além dos
princípios básicos, detalhando também outros assuntos. Conteúdo extenso.

13. Fale sobre a Constituição Garantia, Constituição Dirigente e Constituição-balanço.

Quanto à FINALIDADE a Constituição pode ser classificada em:

• GARANTIA: Contém proteção especial às liberdades públicas. Seu principal objetivo é


proteger as liberdades contra a arbitrariedade do Estado. Corresponde aos direitos de
primeira geração (direitos civis e políticos), chamadas de negativas, uma vez que buscam
limitar a ação estatal, protegendo os indivíduos contra a ingerência abusiva dos Poderes
Públicos.
• DIRIGENTE: Confere atenção especial à implementação de programas de interesse da
coletividade pelo Estado – em regra, associados à efetividade de direitos e garantias
fundamentais. Traça diretrizes que devem nortear a ação estatal. Exigem uma atuação
19

positiva do Estado em favor dos indivíduos. Corresponde aos direitos fundamentais de


segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais).
• CONSTITUIÇÃO-BALANÇO/CONSTITUIÇÕES-REGISTRO: Visa reger o ordenamento
jurídico do Estado durante um certo tempo. Esse tempo é nela estabelecido, e, após seu
transcurso, é elaborada uma nova Constituição ou seu texto é adaptado. É típica de
regimes socialistas. São chamadas também de Constituições-registro pois descrevem e
registram o estágio da sociedade em um dado momento.

14. Diferencie Constituição Dogmática da Histórica.

Quanto ao MODO DE ELABORAÇÃO a Constituição pode ser classificada em:

• DOGMÁTICAS/SISTEMÁTICAS: Sistematizadas a partir de ideias fundamentais. São


elaboradas em um determinado momento, segundo os dogmas e valores então em
voga. Podem ser:
o Ortodoxas: Quando refletem uma só ideologia.
o Heterodoxas (Ecléticas): Quando suas normas se originam de ideologias
distintas. A CF/88 é dogmática eclética, uma vez que adotou, como fundamento
do Estado, o pluralismo político (art. 1º).
• HISTÓRICAS: De elaboração lenta, pois se materializa a partir de costumes, que se
modificam ao longo do tempo. São criadas lentamente com as tradições.

15. O que é uma Constituição Nominal?

Quanto ao VALOR ou ONTOLOGIA a Constituição pode ser classificada em:

• NORMATIVAS: Dotada de valor jurídico legítimo. Regulam efetivamente o processo


político do Estado, por corresponderem à realidade política e social.
• NOMINAL/NOMINATIVAS: Sem valor jurídico, apenas social. Buscam regular o
processo político do Estado, mas não conseguem realizar este objetivo, por não
atenderem à realidade social.
• SEMÂNTICAS: Tem importância jurídica, mas não valoração legítima, pois é criada
apenas para justificar o exercício de um Poder não democrático. Não têm por objetivo
20

regular a política estatal. Visam apenas a formalizar a situação existente do poder


político, em benefício dos seus detentores.

Assim, Constituição Nominal é aquela que não atende à realidade social. Ela busca regular o
processo político do Estado, porém não consegue.

16. O que é uma Constituição-Moldura?

Quanto à FUNÇÃO DESEMPENHADA a Constituição pode ser classificada em:

• CONSTITUIÇÃO-LEI: Constituição tem “status “de lei ordinária.


• CONSTITUIÇÃO-FUNDAMENTO: Constituição não só é fundamento de todas as
atividades do Estado, mas também da vida social.
• CONSTITUIÇÃO-QUADRO OU CONSTITUIÇÃO-MOLDURA: Uma Constituição em
que o legislador só pode atuar dentro de determinado espaço estabelecido pelo
constituinte, ou seja, dentro de um limite.

Assim, Constituição-moldura é aquela em que o legislador só pode atuar dentro de


determinado espaço estabelecido pelo constituinte. Por isso fala-se em “quadro”, ou “moldura”, pois
ele atua dentro de um limite.

17. O que são Constituições Liberais? E Sociais?

Quanto ao CONTEÚDO IDEOLÓGICO a Constituição pode ser classificada em:

• LIBERAIS: Buscam limitar a atuação do poder estatal, assegurando as liberdades


negativas aos indivíduos.
• SOCIAIS: Atribuem ao Estado a tarefa de ofertar prestações positivas aos indivíduos,
buscando a realização da igualdade material e a efetivação dos direitos sociais.

18. Defina Heteroconstituições.

Quanto ao LOCAL DA DECRETAÇÃO a Constituição pode ser classificada em:


21

• HETEROCONSTITUIÇÕES: Elaboradas fora do Estado no qual elas produzirão seus


efeitos.
• AUTOCONSTITUIÇÕES: Elaboradas no interior do próprio Estado que por elas será
regido.

19. Diferencie Constituição principiológica ou aberta de Constituição preceitual.

Quanto ao SISTEMA a Constituição pode ser classificada em:

• CONSTITUIÇÃO PRINCIPIOLÓGICA OU ABERTA: Há predominância dos princípios.


• CONSTITUIÇÃO PRECEITUAL: Prevalecem as regras.

ELEMENTOS

20. Fale sobre os elementos da CF/88.

As normas da Constituição são agrupadas em títulos, capítulos e seções. Portanto, essas normas
possuem conteúdos e finalidades diferentes, o que caracteriza o caráter polifacético da Constituição,
ou seja, suas várias faces. Assim, a doutrina agrupa essas normas conforme suas finalidades,
denominando-os de elementos da Constituição.

• ELEMENTOS ORGÂNICOS: São as normas que regulam a estrutura do Estado e do


Poder. Ex: Título III (Da Organização do Estado) e IV (Da Organização dos Poderes e do
Sistema de Governo).
• ELEMENTOS LIMITATIVOS: São as normas que compõem os direitos e garantias
fundamentais, limitando a atuação do poder estatal. Ressalta-se que aqui não se
enquadram os direitos sociais (aqueles que exigem prestações positivas do Estado em
favor dos indivíduos). Ex: Título II (Direitos e Garantias Fundamentais), exceto Cap. II
(Direitos Sociais).
• ELEMENTOS SÓCIO IDEOLÓGICOS: São as normas que traduzem o compromisso
das Constituições modernas com o bem estar social. Refletem a existência do Estado
social, intervencionista, prestacionista. Ex: Cap. II do Título II (Dos Direitos Sociais),
Títulos VII (Da Ordem Econômica e Financeira) e VIII (Da Ordem Social).
22

• ELEMENTOS DE ESTABILIZAÇÃO CONSTITUCIONAL: São as normas destinadas a


prover solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e
das instituições democráticas. São consideradas instrumentos de defesa do Estado,
com vistas a promover a paz social. Ex: art. 102, I, “a” (ação de inconstitucionalidade) e
arts. 34 a 36 (intervenção).
• ELEMENTOS FORMAIS DE APLICABILIDADE: São as normas que estabelecem
regras de aplicação da constituição. Ex: Preâmbulo, ADCT e art. 5º, § 1º, que
estabelece que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata.

Quadro-resumo: Elementos da CF/88:

✓ Orgânicos:
o Normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder.
✓ Limitativos:
o Normas que compõem os direitos e garantias fundamentais.
o Limitam a atuação do poder estatal.
o Não se enquadram: os direitos sociais.
✓ Sócio Ideológicos:
o Normas que traduzem o compromisso das Constituições com o bem-estar
social.
o Estado social, intervencionista, prestacionista.
✓ De Estabilização Constitucional:
o Normas destinadas a prover solução de conflitos constitucionais, a defesa
da Constituição, do Estado e das instituições democráticas.
o Instrumentos de defesa do Estado.
✓ Formais de Aplicabilidade:
o Normas que estabelecem regras de aplicação da constituição.
23

2. PODER CONSTITUINTE.

CONCEITO

21. Conceitue Poder Constituinte.

O Poder Constituinte é o poder de inaugurar uma Constituição. Ele é o poder de criar uma
Constituição, ao contrário dos poderes constituídos que são aqueles estabelecidos por ela.

- Ideia ou Teoria Clássica de Poder Constituinte (de Emmanuel Joseph Sieyes, na obra Que
é o Terceiro Estado?): Parte da premissa de que a soberania popular consiste essencialmente no
poder constituinte de uma nação. Todavia, atualmente, a ideia de nação cedeu lugar ao poder do
povo. Assim, é o povo que atribui seus poderes a órgãos estatais especializados, que passam a se
denominar Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). E se o povo delega certa fração de seu poder
às diversas autoridades constituintes, por óbvio, mantém consigo o poder constituinte. Nesse
sentido, o Poder Constituinte tem suas raízes em uma força geral da Nação (J. J. Canotilho).

Vale ressaltar que a titularidade do Poder Constituinte é do povo, mas o exercício desse
poder é dado ao Estado. (‘Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes’
- artigo 1º da CF/88).

CLASSIFICAÇÃO

PODER CONSTITUINTE
Poder Constituinte Originário Poder Constituinte Derivado

✓ Inicial: nova ordem jurídica. ✓ Subordinado: busca fundamento de


✓ Ilimitado: não há limite material. validade na Constituição Federal.
✓ Incondicionado: não há limite formal. ✓ Limitado: há limite material.
✓ Autônomo ✓ Condicionado: há limite formal.
✓ Permanente

Poder Constituinte Originário (genuíno, primário ou de primeiro grau)


24

22. Defina Poder Constituinte Originário, mencionando a forma em que ele se manifesta,
suas características e sua natureza.

O PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO, também denominado de Inicial, Inaugural, Genuíno


ou de 1º Grau, é comumente definido pela doutrina como aquele que objetiva produzir uma nova
constituição, rompendo por completo a norma jurídica anterior e instaurando uma nova ordem
jurídica.

É uma categoria pré-constitucional que fundamenta a validade da nova ordem constitucional.


Trata-se, portanto, da autoridade máxima da constituição, oriundo de uma força política capaz de
instituir e manter o rigor normativo de seu texto.

O Poder Constituinte Originário pode se manifestar por meio de:

• Outorga: Quando há imposição de uma Constituição por um ditador ou um governo


totalitário; ou
• Pode ser fruto de uma Convenção: Também chamado promulgação. A promulgação
seria a elaboração da Constituição mediante debates, com participação do povo e de
forma democrática, por meio de uma Assembleia Nacional Constituinte.

Dessa forma, o Poder Constituinte Originário cria a primeira ou nova constituição de um


Estado.

Quanto às suas características, ele é INICIAL (não há outro poder anterior ou superior a ele),
e, por isso, será AUTÔNOMO – ele determina a estrutura da nova Constituição. É ILIMITADO porque
é independente para escolher o Direito que irá viger na nova ordem constitucional, ou seja, não se
subordina a nenhuma ideia jurídica preexistente e não será objeto de posterior controle de
constitucionalidade. É INCONDICIONADO, pois é livre quanto aos procedimentos adotados para
criação de uma nova constituição, de modo que não lhe é imposta a observância de nenhum
procedimento formal preestabelecido para instituir uma nova Constituição. O Poder Constituinte
ainda pode ser qualificado como PERMANENTE, uma vez já que não se esgota com a edição da nova
Constituição, sobrevivendo a ela e fora dela como forma de expressão da liberdade humana em
verdadeira ideia de subsistência.

Acerca da natureza jurídica do Poder Constituinte Originário, há duas concepções que


explicam a natureza do Poder Constituinte Originário, a positivista e a jusnaturalista. Para concursos
públicos a concepção dominante é a positivista.
25

• Político (positivista): O Poder Constituinte Originário é um poder político, pois ele não é
criado pela Constituição ou por outra norma. Dessa forma, ele não é um poder de
direito. Diz que ele antecede a própria Constituição, sendo, desse modo, um poder de
fato ou poder político. Portanto, ele retira sua força da sociedade, e não de uma norma
jurídica.
• Jurídico (jusnaturalista): Para esta concepção, o Poder Constituinte Originário estaria
subordinado a normas de direito natural (direito suprapositivo) e, portanto, deve ser
considerado um poder jurídico.

23. Qual o efeito do exercício do Poder Constituinte Originário sobre a Constituição


anterior?

Ocorre a AB-ROGAÇÃO, isto é, a revogação integral da Constituição anterior.

24. Quais são as Limitações ao Poder Constituinte Originário?

Alguns autores que adotam a concepção jusnaturalista entendem que existem limitações
materiais ao Poder Constituinte Originário, como os imperativos do direito natural, os valores éticos
e sociais, os direitos fundamentais já conquistados pela sociedade (princípio da proibição do
retrocesso ou efeito “cliquet”), bem como as normas de direito internacional.

MARCELO NOVELINO se refere a três categorias de limites possíveis:

• Limites transcendentes: São os Dirigidos ao Poder Constituinte material. São aqueles


que, advindos de imperativos do direito natural, de valores éticos ou de uma consciência
jurídica coletiva, impõem-se à vontade do Estado, demarcando sua esfera de
intervenção. É o caso, por exemplo, dos direitos fundamentais imediatamente conexos
com a dignidade da pessoa humana.
• Limites imanentes: São os impostos ao Poder Constituinte formal e estão relacionados à
“configuração do Estado à luz do Poder Constituinte material ou à própria identidade do
Estado de que cada Constituição representa apenas um momento da marcha histórica”.
Referem-se a aspectos como a soberania ou a forma de Estado.
26

• Limites heterônomos: São provenientes da conjugação com outros ordenamentos


jurídicos. Dizem respeito a princípios, regras ou atos de direito internacional que
impõem obrigações ao Estado ou a regras de direito interno.

Poder Constituinte Derivado

25. Defina Poder Constituinte Derivado, mencionando as suas características.

O Poder Constituinte Derivado é Subordinado, Condicionado, Limitado. Ele é o poder de


modificar a Constituição Federal e também o poder de elaborar as Constituições Estaduais. Assim
ele se divide em dois: Poder Constituinte Reformador e Poder Constituinte Decorrente.

Quanto às suas características, ele é SUBORDINADO, pois as suas manifestações (reformadora


e decorrente) encontram fundamento de validade na Constituição Federal e devem respeitá-la, sob
pena de declaração de inconstitucionalidade. Ele é CONDICIONADO, tendo em vista que a
exteriorização das espécies normativas baseadas nesse poder (emendas e normas constitucionais
estaduais) devem ser realizadas, em razão de seu condicionamento, em harmonia com a Constituição
Federal. Assim, por exemplo, a aprovação de emendas constitucionais deve obedecer ao
procedimento estabelecido no artigo 60 da CF/88. Ele também é LIMITADO, e as suas limitações se
fazem presentes de acordo com as normas que devem ser obedecidas para sua elaboração, bem
como ao conteúdo que não podem desrespeitar.

26. Quais são as Limitações ao Poder Constituinte Derivado?

Segundo a doutrina as Limitações ao Poder Constituinte Derivado podem ser:

a) Temporais: Impedem a alteração da Constituição em um determinado período de tempo. A


CF/88 não previu nenhuma limitação temporal ao Poder Constituinte Derivado.

b) Circunstanciais: Impedem a alteração da Constituição em momentos de extrema gravidade,


nos quais a livre manifestação do poder reformador possa estar ameaçada, tal como ocorre no Estado
de Defesa, Estado de Sítio e na Intervenção Federal.

c) Formais/Processuais/Procedimentais: Podem ser de duas espécies:

• Formal subjetiva: Legitimados específicos para propositura de emendas constitucionais;


27

• Formal objetiva: Quórum qualificado de 3/5, em dois turnos, em cada Casa do


Congresso, com promulgação pelas Mesas da Câmara e do Senado.

d) Implícitas: Veda a alteração das regras pertinentes ao processo para modificação da


Constituição.

e) Materiais/Substanciais: Cláusulas pétreas.

• As cláusulas pétreas (ou “de pedra, duras”) estão dispostas no artigo 60, § 4º, da CF/88:
forma federativa de estado; voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos
poderes; os direitos e garantais individuais. Não será objeto de emenda constitucional
proposta tendente a aboli-las.
• O STF entende que os direitos e garantias individuais considerados cláusulas pétreas
pela CF não se restringem àqueles expressos no rol do artigo 5º, admitindo
interpretação extensiva para definição de direitos análogos. Tal entendimento foi
resultado do julgamento da ADI 939, da relatoria do Min. Sydney Sanches, que
considerou o direito e garantia individual a anterioridade tributária, prevista no
artigo 150, III, “b, da CF/88, como cláusula pétrea.
• As cláusulas pétreas visam prevenir a erosão da Constituição Federal, inibindo
tentativas de abolir o projeto constitucional deixado pelo constituinte (que ocorre
normalmente em momentos de pressões e revoltas populares, consoante lição de Karl
Loewenstein na obra Teoria de la constitución).
• O poder constituinte reformador não pode criar novas cláusulas pétreas, ou seja,
não pode ampliar as hipóteses do artigo 60, § 4º, da CF/88. Todavia, é possível que haja
uma ampliação do catálogo dos direitos fundamentais criado pelo poder constituinte
originário, e, naturalmente, tais novos direitos passariam a estar protegidos pelo manto
pétreo.
• O sistema constitucional brasileiro admite a existência de cláusulas pétreas implícitas, a
exemplo da forma Republicana de governo. Tal entendimento se encontra na
jurisprudência do STF (ADI 829 e MS 24.875).

27. Há no Brasil normas constitucionais inconstitucionais? Ou seja, é possível falar de


inconstitucionalidade de norma constitucional?
28

Segundo entendimento do STF, as normas constitucionais (previstas na Constituição)


ORIGINÁRIAS serão SEMPRE CONSTITUCIONAIS, em razão das características do Poder
Constituinte Originário (inicialidade e ilimitação).

Todavia, normas constitucionais (previstas na Constituição) DERIVADAS podem ser


declaradas INCONSTITUCIONAIS, em razão das características do Poder Constituinte Derivado
(deve buscar fundamentação de validade na Constituição Federal).

Poder Constituinte Derivado Reformador (secundário, de segundo grau,


instituído, constituído ou de reforma)

28. Defina Poder Constituinte Derivado Reformador.

O Poder Constituinte Derivado Reformador é o poder de modificar a Constituição. É


responsável pela reforma da Constituição, que, no Brasil, é feito por meio de Emendas
Constitucionais ou da incorporação de Tratados Internacionais de Direitos Humanos.

A CF/88 não prevê expressamente o poder de reforma, que materializa o poder constituinte
derivado, mas este se encontra implícito e se extrai, por exemplo, da norma constitucional que prevê
as propostas de emendas à Constituição.

29. Defina Cláusulas Pétreas.

As Cláusulas Pétreas estão relacionadas ao Poder Constituinte Derivado Reformador da


Constituição, funcionando como um mecanismo limitativo à modificação de certas matérias
constitucionais, ou seja, consubstanciam-se em verdadeiro parâmetro objetivo de limitação ao
Poder Constituinte Derivado Reformador.

As cláusulas pétreas (ou “de pedra, duras”) estão dispostas no artigo 60, § 4º, da CF/88: “CF/88.
Art. 60. (...) § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma
federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV
- os direitos e garantias individuais”.

O STF entende que os direitos e garantias individuais considerados cláusulas pétreas pela
CF/88 não se restringem àqueles expressos no rol do artigo 5º, admitindo interpretação extensiva
29

para definição de direitos análogos. Tal entendimento foi resultado do julgamento da ADI 939 que
considerou o direito e garantia individual a anterioridade tributária, prevista no artigo 150, III, “b, da
CF/88, como cláusula pétrea.

As cláusulas pétreas visam prevenir a erosão da Constituição Federal, inibindo tentativas de


abolir o projeto constitucional deixado pelo constituinte (que ocorre normalmente em momentos de
pressões e revoltas populares, consoante lição de Karl Loewenstein na obra Teoria de la constitución).

O Poder Constituinte Reformador não pode criar novas cláusulas pétreas, ou seja, não pode
ampliar as hipóteses do artigo 60, § 4º, da CF/88. Todavia, é possível que haja uma ampliação do
catálogo dos direitos fundamentais criado pelo poder constituinte originário, e, naturalmente, tais
novos direitos passariam a estar protegidos pelo manto pétreo.

O sistema constitucional brasileiro admite a existência de cláusulas pétreas implícitas. Há


consenso na doutrina de que há duas limitações implícitas: a) a titularidade e exercício do Poder
Constituinte, o qual pertence ao povo (art. 1º, p. u.: todo poder emana do povo) e; b) o processo de
reforma constitucional (art. 60, caput, §§ 2º, 3º e 5º).

Todavia, existem questões controversas em que há divergência doutrinária se tais situações se


enquadrariam no conceito de limitação implícita ou não. São elas: dupla reforma, forma e sistema de
governo e possibilidade de nova revisão à Constituição.

Poder Constituinte Derivado Decorrente

30. Defina Poder Constituinte Derivado Decorrente. É possível manifestação de Poder


Constituinte nos Municípios?

O Poder Constituinte Derivado Decorrente é aquele exercido pelos Estados-membros, na


construção das Constituições Estaduais (artigo 25, da CF/88). Ele é responsável por elaborar as
constituições dos estados membros nos Estados Federados.

Vale ressaltar que não há manifestação de Poder Constituinte (seja originário, derivado ou
decorrente) nos Municípios. Estes já têm a sua estrutura jurídica dada por meio de Lei Orgânica
por expressa disposição constitucional, ou seja, não existe Constituição para Municípios.
30

NOVA CONSTITUIÇÃO E ORDEM JURÍDICA ANTERIOR

Recepção Constitucional

31. Defina Recepção Constitucional.

É certo que a instituição de uma nova Constituição, atualmente, não representa uma interrupção
integral com o ordenamento jurídico sustentado pela Constituição anterior. Isso porque, com o
intuito de aproveitar as normas já existentes sem a necessidade de reproduzi-las, criou-se o fenômeno
da recepção constitucional, em que consiste no ingresso na nova ordem jurídica de normas legais
anteriores e com ela materialmente compatíveis.

Vale ressaltar que a incompatibilidade formal não impede a recepção, uma vez que a norma é
recepcionada com a forma que a Constituição lhe der. Ex: Código Penal é Decreto-Lei, mas foi
recepcionado com status de lei ordinária. CTN é lei ordinária, mas foi recepcionado com status de lei
complementar.

Assim, a recepção tem relação com as normas infraconstitucionais elaboradas antes do advento
da nova constituição. A norma infraconstitucional (pré-constitucional), que não contrariar a nova
ordem, será recepcionada, podendo, inclusive, adquirir uma outra “roupagem”.

No entanto, as normas que forem incompatíveis com a nova Constituição serão revogadas,
por ausência de recepção. Portanto, o efeito da não-recepção é a revogação.

Segundo LENZA5, “pode-se afirmar, então, que, nos casos de normas infraconstitucionais
produzidas antes da nova Constituição, incompatíveis com as novas regras, não se observará
qualquer situação de inconstitucionalidade, mas, apenas, como vimos, de revogação da lei anterior
pela nova Constituição, por falta de recepção”.

Vale ressaltar que, embora a recepção constitucional garanta a continuação de vigência da


norma após a instituição de nova ordem constitucional, esse fenômeno não garante a filtragem
constitucional, a qual consiste na ressignificação de norma legal anterior à Constituição que
sofreu recepção.

5
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 429.
31

Desconstitucionalização

32. O que é fenômeno da desconstitucionalização? Aplica-se no Brasil?

Pela desconstitucionalização, as normas da Constituição anterior, desde que compatíveis


com a nova ordem, permanecem em vigor, mas com o status de lei infraconstitucional.

Dessa forma, significa dizer que, as normas da Constituição anterior são recepcionadas com o
status de norma infraconstitucional pela nova ordem.

Assim, a desconstitucionalização é a conservação de vigência de norma formalmente


constitucional com status de norma legal. Ou seja, é o fenômeno por meio do qual normas de uma
Constituição anterior seriam recepcionadas pela nova Constituição, porém com status de normas
infraconstitucionais.

Não é aplicada no Brasil, uma vez que, para a sua aplicação, é necessária disposição
expressa no texto constitucional, o que não ocorre com a CF/88.

Nesse sentido explica LENZA6 que o fenômeno da desconstitucionalização, como regra geral,
não é verificado no Brasil, “no entanto, poderá ser percebido quando a nova Constituição,
expressamente, assim o requerer, tendo em vista ser o poder constituinte originário ilimitado e
autônomo do ponto de vista jurídico. A Constituição pode prever o aludido fenômeno desde que o
faça, como referido, de maneira inequívoca e expressa”.

Vale ressaltar que tal fenômeno já foi observado na Constituição Paulista de 1967 que, em
seu artigo 147, mencionava que: “consideram-se vigentes, com o caráter de lei ordinária, os artigos
da Constituição promulgada em 9 de julho de 1947 que não contrariem esta Constituição” . Desse
modo, as normas da Constituição paulista de 1967 que não fossem contrárias à nova Constituição
seriam, por consequência, recepcionadas como normas infraconstitucionais.

Recepção material de normas constitucionais

33. Fale sobre a recepção material de normas constitucionais.

6
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 436.
32

A recepção material de normas constitucionais trata-se da persistência de normas


constitucionais anteriores que guardam, se bem que a título secundário, a antiga qualidade de
normas constitucionais.

Segundo LENZA7, “referidas normas são recebidas por prazo certo, em razão de seu caráter
precário, características marcantes no fenômeno da recepção material das normas constitucionais.
Desde já, porém, há de se observar que pela própria teoria do poder constituinte originário exposta,
que rompe por completo com a antiga ordem jurídica, instaurando uma nova, um novo Estado, o
fenômeno da recepção material só será admitido se houver expressa manifestação da nova
Constituição; caso contrário, as normas da Constituição anterior, como visto, serão revogadas”.

OUTROS CONCEITOS/ASPECTOS RELEVANTES

Poder Constituinte Difuso - Mutação Constitucional

34. O que é mutação constitucional?

MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL é o processo não formal de mudança na Constituição em


que o texto (formal) permanece inalterado, modificando-se apenas o significado e o sentido
interpretativo de determinada norma constitucional. A modificação produzida pelo poder
constituinte difuso se instrumentaliza de modo informal e espontâneo.

Em outras palavras: na mutação constitucional altera-se a interpretação sobre o texto da


Constituição, fazendo com que a norma tenha um novo sentido jurídico ou valorativo. Como
exemplo de mutação constitucional promovida pelo STF tem-se o sentido/conceito de “Casa”,
previsto no artigo 5º, XI, da CF/88, o qual passou a abranger escritórios profissionais, hotéis, motéis,
pensões e congêneres.

São exemplos de fenômenos da mutação constitucional já reconhecidos pelo STF:

Art. 226, § 3º da CF/88 - União Homoafetiva: a dificuldade da sociedade em acompanhar os


fatos da vida, alterações nos modos de convivência, dificulta o processo de amadurecimento, de
modo que a união entre pessoas do mesmo sexo é uma realidade no mundo, sendo necessária uma
reinterpretação da expressão “união entre homem e mulher” para o fim de abranger a união entre

7
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 437.
33

pessoas do mesmo sexo, não podendo tal condição impedir o reconhecimento da união estável
dessas pessoas como constitutivo de entidade familiar.

Art. 5º, inciso XI da CF/88 – inviolabilidade da casa: a expressão "casa", prevista na CF/88 foi
reinterpretada a fim de não ser compreendida apenas como "residência", mas também o local de
trabalho – escritórios de advocacia. Assim, a partir do novo significado à luz da mutação
constitucional, a inviolabilidade da casa/residência da pessoa foi estendida aos escritórios de
advocacia, aos consultórios médicos e etc.

”Excelência, salienta-se que há doutrinadores que conceituam MUTAÇÃO como uma mudança
de contexto sem mudança de texto.” (frase de efeito)

Poder Constituinte Supranacional

35. O que é o Poder Constituinte Supranacional?

Poder Constituinte Supranacional: Tem a capacidade de submeter as diversas constituições


nacionais ao seu poder supremo, distinguindo-se do ordenamento jurídico positivo interno assim
como do direito internacional.

Exemplo concreto é a tentativa de criação de uma Constituição para a União Européia, entidade
internacional responsável pela regência de vários países da Europa e que não se confunde com os
ordenamentos jurídicos internos de cada país, nem mesmo com os tratados internacionais.

Poder Constituinte Histórico

36. Defina Poder Constituinte Histórico.

O Poder Constituinte Histórico é aquele responsável pelo surgimento da primeira Constituição


de um Estado. Seria o verdadeiro poder constituinte originário. Seria aquele poder estruturando, pela
primeira vez, o Estado.
34

Poder Constituinte Revolucionário

37. Defina Poder Constituinte Revolucionário.

O Poder Constituinte Revolucionário seriam todos os Poderes Constituintes posteriores ao


histórico. Rompem por completo com a antiga ordem e instauram uma nova, um novo Estado.
35

3. NORMAS CONSTITUCIONAIS: HERMENÊUTICA E FILOSOFIA CONSTITUCIONAL.

INTERPRETAÇÃO DO TEXTO CONSTITUCIONAL - MÉTODOS DE


INTERPRETAÇÃO

38. Fale sobre os métodos de interpretação constitucional, citando pelo menos três
métodos apresentados pela doutrina.

Segundo LENZA8 anota Canotilho que “a interpretação das normas constitucionais é um


conjunto de métodos, desenvolvidos pela doutrina e pela jurisprudência com base em critérios ou
premissas (filosóficas, metodológicas, epistemológicas) diferentes, mas, em geral, reciprocamente
complementares”.

Referido doutrinador destaca os seguintes métodos:

Método jurídico ou hermenêutico clássico: Segundo este método, a Constituição deve ser
encarada como uma lei e, assim, todos os métodos tradicionais de hermenêutica deverão ser
utilizados na tarefa interpretativa. O papel do intérprete resume-se a descobrir o verdadeiro
significado da norma, o seu sentido. Portanto, se vale dos seguintes elementos de exegese: genético,
gramatical ou filológico, lógico, sistemático, histórico, teleológico ou sociológico, popular,
doutrinário e evolutivo.

Método tópico-problemático (ou método da tópica): Utilizando-se esse método, na


interpretação das normas constitucionais, deve-se partir de um problema concreto (de um caso
concreto) para a norma, atribuindo-se à interpretação um caráter prático na busca da solução dos
problemas concretizados.

Método hermenêutico-concretizador: O método hermenêutico-concretizador,


diferentemente do método tópico-problemático, parte da Constituição para o problema.

Método científico-espiritual: Pelo método científico-espiritual, a interpretação das normas


constitucionais, parte da realidade social e dos valores subjacentes do texto da Constituição. Dessa
forma, a Constituição deve ser interpretada como algo dinâmico e que se renova constantemente, no
compasso das modificações da vida em sociedade.

8
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 347.
36

Método normativo-estruturante: Para os que defendem o método normativo-estruturante, há


uma inexistência de identidade entre a norma jurídica e o texto normativo, pois o teor literal da norma,
que será considerado pelo intérprete, deve ser analisado à luz da concretização da norma em sua
realidade social. Assim, a norma terá de ser concretizada não só pela atividade do legislador, mas,
também, pela atividade do Judiciário, da administração, do governo etc.

Método da comparação constitucional: Pelo método da comparação constitucional, a


interpretação dos institutos se implementa mediante comparação nos vários ordenamentos jurídicos.
Assim, se estabelece uma comunicação entre as várias Constituições.

PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL

39. Quais são os mecanismos/princípios de hermenêutica constitucional? Cite pelo menos


três deles.

Princípio da Unidade da Constituição: Em resumo, significa que a Constituição é una, motivo


pelo qual seu texto deve ser interpretado sempre no sentido de se afastar de contradições ou em
relação de contradição entre suas próprias normas. O intérprete deverá sempre analisar a
Constituição em sua totalidade, primando por uma análise harmônica das normas constitucionais,
devendo a Constituição ser interpretada em sua globalidade, como um todo, e, assim, as aparentes
antinomias deverão ser afastadas. A partir de tal postulado defende-se a ideia de que todas as normas
constitucionais teriam idêntico nível de relevância, inexistindo cenário de sobreposição de uma por
outra, constituindo-se em verdadeira inexistência de hierarquia entre as normas constitucionais.

Princípio do Efeito Integrador: Corolário do princípio da Unidade da Constituição, observa


que a melhor interpretação é aquela que favoreça a integração política, social e igualitária das normas
constitucionais, buscando-se uma harmonização dos valores insculpidos no texto.

Princípio da Máxima Efetividade: É também chamado de princípio da eficiência ou da


interpretação efetiva. Segundo esse princípio o intérprete deve atribuir à norma constitucional um
sentido que lhe proporcione a maior eficácia possível, a mais ampla efetividade social.

Princípio da Justeza ou da conformidade (exatidão ou correção) funcional: O intérprete


máximo da Constituição, que no caso brasileiro é o STF, ao concretizar a norma constitucional, será
responsável por estabelecer a força normativa da Constituição. Ele não poderá alterar a repartição
de funções constitucionalmente estabelecidas pelo constituinte originário, como é o caso da
37

separação de poderes, no sentido de preservação do Estado de Direito. O intérprete final não pode
chegar a um resultado que subverta ou perturbe o esquema organizatório-funcional
constitucionalmente estabelecido. As relações devem sempre ser pautadas pela irrestrita fidelidade
e adequação à Constituição.

Princípio da concordância prática ou Harmonização: O princípio da concordância prática ou


Harmonização decorre do princípio da unidade da Constituição. Orienta para uma necessária
organização e coordenação dos bens jurídicos dispostos na CF, notadamente por ocasião de
eventual sacrifício de direitos em colisão. Assim, os bens jurídicos constitucionalizados deverão
coexistir de forma harmônica na hipótese de eventual conflito ou concorrência entre eles, buscando,
deste modo, evitar o sacrifício (total) de um princípio em relação a outro em choque. O fundamento
da ideia de concordância decorre da inexistência de hierarquia entre os princípios.

Princípio da Força Normativa: KONRAD HESSE ensina que o intérprete deve fazer a
interpretação de forma a conferir à Constituição a força normativa cogente necessária à sua
imposição. Assim, os aplicadores da Constituição, ao solucionar conflitos, devem conferir a máxima
efetividade às normas constitucionais.

Princípio da Interpretação Conforme à Constituição: O texto constitucional pode admitir


diferentes significados ou interpretações, do que se extrai a existência de normas com acepções
múltiplas ou plurissignificativas. Em tais hipóteses, caberá ao intérprete dar à norma uma
interpretação que a compatibilize com o conteúdo material da Constituição. Assim, Diante de normas
plurissignificativas ou polissêmicas (que possuem mais de uma interpretação), deve-se preferir a
exegese que mais se aproxime da Constituição e, portanto, que não seja contrária ao texto
constitucional. É este princípio que orienta a conservação da validade de uma lei adotando-se uma
interpretação conforme à Constituição. Todavia, tal regra de interpretação não é absoluta, devendo
observar certos limites – o intérprete não poderá contrariar o texto expresso da norma, devendo
manter a vontade do legislador.

LIMITES DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL

Decisões interpretativas em sentido estrito

40. Fale sobre as decisões interpretativas em sentido estrito.


38

Diante das premissas de interpretação, considerando a certeza e segurança jurídica, surgiu a


necessidade de se estabelecerem parâmetros objetivos e critérios firmes de interpretação.

Conforme LENZA9, “Não se pode desconhecer a realidade atual e inevitável de, muitas vezes,
criação judicial do direito, já que entre a declaração de nulidade absoluta total da lei ou ato normativo
e o não conhecimento da ação, em termos de segurança, preferem-se as decisões interpretativas
com efeitos modificativos ou corretivos. Nesse sentido, o texto constitucional apresenta-se como
porto seguro para os necessários limites da interpretação, destacando-se a interpretação conforme
a Constituição como verdadeira técnica de decisão”.

Assim, as DECISÕES INTERPRETATIVAS EM SENTIDO ESTRITO são umas das espécies de


interpretação conforme ou de adequação das leis à Constituição. Elas podem ser:

• SENTENÇA INTERPRETATIVA DE RECHAÇO: Na hipótese de duas possíveis


interpretações que determinado ato normativo possa ter, por meio das sentenças
interpretativas de rechaço, a Corte Constitucional adota aquela que se conforma à
Constituição. Assim, ela repudia qualquer outra que contrarie o texto constitucional.
Conforme explica LENZA10, “o enunciado “permanece válido, mas só poderá ser
interpretado de maneira conforme à Constituição, o que significa dizer que,
implicitamente, e sob pena de vir a considerá-la nula, a Corte proíbe que se dê ao citado
dispositivo interpretação contrária à Constituição”.
• SENTENÇA INTERPRETATIVA DE ACEITAÇÃO: nas sentenças interpretativas de
aceitação, a Corte Constitucional anula decisão tomada pela magistratura comum
(instâncias ordinárias), que adotou interpretações ofensivas à Constituição. LENZA11
explica que não se “... anula o dispositivo mal interpretado, mas apenas uma das suas
interpretações, dizendo que esse preceito é inconstitucional se interpretado de modo
contrário à Constituição ou na parte em que expressa uma norma inconstitucional.
Também nesse caso, prossegue Guastini, o preceito questionado continua válido, mas
a norma extraída da sua interpretação inconstitucional é anulada em caráter definitivo e
com eficácia erga omnes”.

Decisões manipuladoras (ou manipulativas) (ou normativas)

9
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 358.
10
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 359.
11
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Páginas 359 e 360.
39

41. Fale sobre as decisões manipuladoras (ou manipulativas) (ou normativas).

As decisões manipuladoras (ou manipulativas) (ou normativas) são originárias da doutrina e


jurisprudência italianas.

Sobre o tema, LENZA12, cita Coelho, o qual aduz que as decisões manipuladoras (ou
manipulativas) (ou normativas) podem ser caracterizadas como “... sentenças de aceitação em que
a Corte Constitucional não se limita a declarar a inconstitucionalidade das normas que lhe são
submetidas, mas, agindo como legislador positivo, modifica (=manipula) diretamente o
ordenamento jurídico, adicionando-lhe ou substituindo-lhe normas, a pretexto ou com o propósito
de adequá-lo à Constituição. Daí a existência das chamadas sentenças aditivas e substitutivas, como
subespécies das decisões normativas ou manipuladoras”.

• SENTENÇAS ADITIVAS (ou sentenças manipulativas de efeito aditivo): Na sentença


aditiva, a Corte Constitucional declara inconstitucional determinado dispositivo legal
não pelo que expressa, mas pelo que omite, alargando o texto da lei ou seu âmbito de
incidência. Haverá uma declaração de inconstitucionalidade com efeito acumulativo
ou aditivo. Segundo LENZA13, “A sentença aditiva pode ser justificada, por exemplo, em
razão da não observância do princípio da isonomia, notadamente nas situações em que
a lei concede certo benefício ou tratamento a determinadas pessoas, mas exclui outras
que se enquadrariam na mesma situação. Nessas hipóteses, o Tribunal Constitucional
declara inconstitucional a norma na parte em que trata desigualmente os iguais, sem
qualquer razoabilidade e/ou nexo de causalidade. Assim, a decisão se mostra aditiva, já
que a Corte, ao decidir, “cria uma norma autônoma”, estendendo aos excluídos o
benefício”. Vale ressaltar que as sentenças aditivas já são realidades no Brasil. Destaca-
se os seguintes julgados:
o ADPF 54 — antecipação terapêutica do parto em casos de gravidez de feto
anencefálico;
o MI 670/ES, MI 708/DF, MI 712/PA — direito de greve dos servidores públicos (art.
37, VII, da CF/88);
o RMS 22.307 — reajuste para os servidores civis não contemplado por lei que o
concedeu aos militares;

12
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 359.
13
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 361.
40

o ADO 26 e MI 4.733: O enquadramento da homofobia e da transfobia como


crimes de racismo pelo STF, etc.
• SENTENÇAS SUBSTITUTIVAS: nas sentenças substitutivas, há declaração de
inconstitucionalidade com efeito substitutivo. Nesse sentido, LENZA14 cita Branco, o
qual aduz que ao editar sentenças substitutivas, “... a Corte declara a
inconstitucionalidade de um preceito na parte em que expressa certa norma em
lugar de outras, substancialmente distinta, que dele deveria constar para que fosse
compatível com a Constituição. Atuando dessa forma, a Corte não apenas anula a
norma impugnada, como também a substitui por outra, essencialmente diferente,
criada pelo próprio tribunal, o que implica a produção heterônoma de atos legislativos
ou de um direito judicial, como o denomina Prieto Sanchís, para quem tais normas já
nascem enfermas porque desprovidas de fundamento democrático. Apesar dessa
ressalva, esse mesmo jurista pondera que, embora os juízes não ostentem uma
legitimidade de origem, de que desfruta o Parlamento por força de eleições periódicas,
é de se reconhecer à magistratura uma legitimidade de exercício, de resto passível de
controle pela crítica do seu comportamento”.

Pensamento jurídico do possível

42. O que se entende por “pensamento jurídico do possível”, segundo a jurisprudência


do STF?

O instituto do pensamento jurídico do possível foi analisado no bojo da ADI 1.289, na qual se
discutia o preenchimento da regra do “quinto constitucional” no âmbito do TRT. A CF/88 prevê
que os TRTs serão compostos por 1/5 dentre advogados com mais de 10 anos de efetiva atividade
profissional e membros do MPT com mais de 10 anos de efetivo exercício.

No caso concreto eis que surge um problema: na vaga destinada ao membro do MPT, não havia
membros suficientes com mais de 10 anos de exercício aptos a compor a lista sêxtupla a ser indicada
ao Tribunal para definição da lista tríplice.

A Corte Suprema se deparou com evidente lacuna constitucional, e, a par disso, o relator Min.
Gilmar Mendes propôs a adoção do denominado “pensamento jurídico do possível”, citando PETER

14
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 367.
41

HABERLE como um dos defensores do PENSAMENTO JURÍDICO DO POSSÍVEL como expressão,


consequência, pressuposto e limite para uma interpretação constitucional aberta. Concluiu seu
voto valendo-se da lição de Scheuner no sentido de que para se preservar a força regulatória em uma
sociedade pluralista, a Constituição não pode ser vista como texto acabado ou definitivo, mas sim
como ‘projeto’ (‘Entwurf’) em contínuo desenvolvimento.

Vejamos a ementa do julgado:

EMENTA: (...) Cargos vagos de juízes do TRT. Composição de lista.


Requisitos dos arts. 94 e 115 da Constituição: quinto constitucional e lista
sêxtupla. Ato normativo que menos se distancia do sistema constitucional,
ao assegurar aos órgãos participantes do processo a margem de escolha
necessária. Salvaguarda simultânea de princípios constitucionais em lugar
da prevalência de um sobre o outro. Interpretação constitucional aberta
que tem como pressuposto e limite o chamado ‘pensamento jurídico do
possível’. Lacuna constitucional. Embargos acolhidos para que seja
reformado o acórdão e julgada improcedente a ADI 1.289, declarando-se a
constitucionalidade da norma impugnada” (ADI 1.289-EI, Rel. Min. Gilmar
Mendes, j. 03.04.2003, Plenário, DJ de 27.02.2004).
42

4. APLICABILIDADE E EFICÁCIA DAS NORMAS

EFICÁCIA JURÍDICA E EFICÁCIA SOCIAL

43. O que se entende por Eficácia Jurídica? E Eficácia Social?

Em regra, todas as normas constitucionais apresentam eficácia. Algumas apresentam eficácia


jurídica e eficácia social e outras apenas eficácia jurídica.

LENZA15 cita Michel Temer que observa que a “eficácia social se verifica na hipótese de a norma
vigente, isto é, com potencialidade para regular determinadas relações, ser efetivamente aplicada a
casos concretos. Eficácia jurídica, por sua vez, significa que a norma está apta a produzir efeitos na
ocorrência de relações concretas; mas já produz efeitos jurídicos na medida em que a sua simples
edição resulta na revogação de todas as normas anteriores que com ela conflitam”.

A CLASSIFICAÇÃO DE JOSÉ AFONSO DA SILVA

44. Diferencie normas constitucionais de eficácia plena, contida e limitada.

Segundo José Afonso da Silva, as normas constitucionais podem ser de eficácia plena, de
eficácia contida e de eficácia limitada.

As normas constitucionais de EFICÁCIA PLENA são normas com aplicabilidade direta,


imediata e integral. São aquelas normas da Constituição que, no momento que esta entra em vigor,
estão aptas a produzir todos os seus efeitos, independentemente de norma integrativa
infraconstitucional. Situam-se predominantemente entre os elementos orgânicos da Constituição.
São normas que não necessitam de providência normativa ulterior para sua aplicação. Dessa forma,
elas se aproximam do que a doutrina clássica norte-americana chamou de normas autoaplicáveis.

As normas constitucionais de EFICÁCIA CONTIDA também denominadas de prospectiva


possuem aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não integral. A despeito de
possuírem condições de produzirem todos os seus efeitos, quando da promulgação da nova

15
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 445.
43

Constituição, ou da entrada em vigor, poderá haver uma redução de sua abrangência. Assim, haverá
uma limitação (restrição) à sua eficácia e à sua aplicabilidade.

Um exemplo de norma constitucional de eficácia contida é o artigo 5º, inciso XIII, da CF/88:
“CF/88. Art. 5º. (...) XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Dessa forma, é livre o exercício profissional, todavia,
uma lei pode vir a estabelecer qualificações profissionais que devem ser atendidas, como exemplo o
Estatuto da OAB e a aprovação no exame de ordem para se tornar advogado. Vale ressaltar que,
segundo o STF16, nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionados ao cumprimento de
condições legais para o seu exercício, mas apenas quando houver potencial lesivo na atividade. Um
exemplo é a atividade de músico que prescinde de controle.

As normas Constitucionais de EFICÁCIA LIMITADA são normas de aplicabilidade indireta,


mediata e reduzida. São normas que, de imediato, no momento em que a Constituição é
promulgada, ou entra em vigor, não têm o condão de produzir todos os seus efeitos, precisando,
assim, de uma norma regulamentadora infraconstitucional. Elas são dividias em:

• Normas de princípio institutivo (ou organizativo / orgânicos): são aquelas que possuem
esquemas gerais (iniciais) de estruturação de instituições, órgãos ou entidades.
• Normas de princípio programático: são aquelas que veiculam programas a serem
implementados pelo Estado, visando à realização de fins sociais

Quadro-resumo: Normas Constitucionais:

✓ Eficácia Plena: aplicabilidade direta, imediata e integral.


✓ Eficácia Contida: aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não integral.
✓ Eficácia Limitada: aplicabilidade indireta, mediata e reduzida.

16
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inscrição no Conselho nem sempre é necessária para o exercício da
profissão. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/86a2f353e1e6692c05fe83d6fc79cf9d>.
44

5. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE:

INTRODUÇÃO

45. Qual o pressuposto de existência e de necessidade do controle de


constitucionalidade?

O controle de constitucionalidade é baseado, inicialmente, numa ideia de hierarquia ou de


SUPREMACIA CONSTITUCIONAL. O constituinte originário criou mecanismos para efetuar o
controle dos atos normativos editados, a fim de aferir a adequação/compatibilidade com aqueles
previstos na Carta Magna vigente.

Como pressupostos essenciais para o controle, destaca-se a classificação da CF/88 como uma
CONSTITUIÇÃO RÍGIDA – a existência de procedimento especial mais solene para alteração do texto
constitucional, e, ainda, a atribuição de verificação constitucional a um órgão exclusivo.

É dizer que a ideia de um controle de constitucionalidade emana de sua rigidez, pressupondo


uma estrutura escalonada de normas, na qual a Constituição ocupa o último degrau, investindo-se da
posição de norma de validade ou NORMA-PARÂMETRO (paradigma abstrato de controle) para os
demais atos legislativos do sistema.

46. Fale sobre a relação do poder constituinte originário e o controle de


constitucionalidade.

O controle de constitucionalidade é baseado, inicialmente, numa ideia de hierarquia ou de


SUPREMACIA CONSTITUCIONAL. A Constituição Federal de 1.988 possui duas espécies de
hierarquia: supremacia material e supremacia formal.

Assim, a superioridade da CF/88 será tanto em relação a FORMA – procedimento especial


agravado para alteração do texto da Carta Magna, como em relação ao seu CONTEÚDO – normas
infraconstitucionais devem respeitar o conteúdo normatizado na CF/88 sob pena de serem
consideradas inconstitucionais.

Trata-se do princípio da supremacia da Constituição, resultado da premissa da necessária


compatibilidade vertical das normas da ordenação jurídica de um país, no sentido de que as normas
45

de grau inferior somente valerão se forem compatíveis com as normas de grau superior, que é a
Constituição.

CONCEITO

47. Conceitue controle de constitucionalidade.

O controle de Constitucionalidade é um mecanismo de correção presente em determinado


ordenamento jurídico. Consiste em um sistema de verificação da conformidade de um ato em
relação à Constituição Federal, ou seja, consiste na aferição da validade das normas face à
Constituição.

A partir do controle de constitucionalidade as normas são consideradas inconstitucionais ou


constitucionais. As inconstitucionais são aquelas que estão em desacordo com a Constituição
Federal, já as constitucionais são as compatíveis com a Constituição Federal.

TEORIAS SOBRE OS EFEITOS DAS LEIS E ATOS NORMATIVOS


DECLARADOS INCONSTITUCIONAIS

48. No controle de constitucionalidade, qual a teoria adotada para efeito de declaração


de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo?

Por influência do direito norte-americano, no ordenamento jurídico brasileiro, adotou-se a


“teoria da nulidade” no que se refere aos efeitos das leis e atos normativos declarados
inconstitucionais. Conforme esta teoria, a lei declarada inconstitucional é nula desde o seu
nascimento, ou seja, a declaração de inconstitucionalidade vai afetar o plano de validade daquela lei,
e, por ser nula, considera que a lei inconstitucional nunca chegou a produzir efeitos.

Por este motivo, em regra, a declaração de inconstitucionalidade opera efeitos retroativos


(“ex tunc”). Ainda, para esta teoria, a decisão que declarou a inconstitucionalidade da lei possui
natureza declaratória, a qual reconhece a inconstitucionalidade desde a origem.

Há ainda a “teoria da anulabilidade”, desenvolvida pela escola austríaca, que defende que a
declaração de inconstitucionalidade da lei afeta o plano da eficácia, e, portanto, a lei não é
46

considerada nula, mas sim anulável. Para esta teoria a lei produziu efeitos normalmente, até o
momento da sua declaração de inconstitucionalidade, o que gera, portanto, efeitos prospectivos
(“ex nunc”), sendo a decisão que declarou a inconstitucionalidade da lei de natureza constitutiva.

Assim, para o sistema austríaco, a Corte Constitucional não declara uma nulidade, mas anula,
cassa uma lei que, até o momento em que o pronunciamento da Corte não seja publicado, é válida e
eficaz, posto que inconstitucional. Mais ainda, a Corte Constitucional tem, de resto, o poder
discricionário de dispor que a anulação da lei opere somente a partir de uma determinada data
posterior (‘Kundmachung’) de seu pronunciamento, contanto que este diferimento de eficácia
constitutiva do pronunciamento não seja superior a um ano. É a ideia da ineficácia a partir da decisão,
sendo tese minoritária no Brasil. (PONTES DE MIRANDA)

Mitigação da teoria da nulidade no controle concentrado

49. A teoria da nulidade tem aplicação absoluta?

Da análise de julgado feitos pelo STF no tocante à compatibilidade das normas ao texto da
CF/88 vem, aos poucos, colaborando para o afastamento pontual da teoria da nulidade. Ou seja,
pode-se dizer que está em processo um movimento jurisprudencial de flexibilização/mitigação da
teoria da nulidade no controle concentrado de constitucionalidade.

Isso tem se dado, em grande parte, por conta da consideração dada a outros valores
constitucionais de igual estatura, tais como a segurança jurídica e o da boa-fé ou confiança.

Há quem defenda, inclusive, que a ideia de ineficácia absoluta (efeitos ex tunc) da norma
inconstitucional não deve prosperar, uma vez que há efeitos factualmente percebidos pelos
destinatários da norma, os quais se tornam de impossível desconstituição sumária por simples ordem
judicial.

Nesse sentido, estabelece o artigo 27, da Lei nº 9.868/99: “Art. 27. Ao declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de
excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus
membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu
trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado”.

Trata-se da técnica de MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO no controle de


constitucionalidade concentrado, pautado nos valores constitucionais da segurança jurídica, do
47

interesse social, da boa-fé e da proteção da confiança legítima, todos, axiomas do Estado


Democrático de Direito.

Assim, como regra, vigora a teoria da nulidade no controle concentrado de


constitucionalidade. Contudo, a lei autoriza, em casos excepcionais, pautado em razões atinentes à
segurança jurídica ou de interesse social, que o STF module os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade (nulidade), fixando um marco temporal para o efeito da decisão ou consignar
o efeito EX NUNC (a partir do trânsito em julgado).

Mitigação da teoria da nulidade no controle difuso

50. Pode existir a mitigação da teoria da nulidade no controle difuso de


constitucionalidade?

Atualmente, tem-se defendido que a regra prevista no artigo 27 da Lei nº 9.868/99, na análise
de casos concretos, vem sendo aplicada, por analogia, no controle difuso.

O caso paradigma é o da ACP em que o MP paulista pretendia a redução do número de


vereadores no Município de Mira Estrela (SP), a fim de adequá-lo ao mínimo constitucional, pedindo,
ainda, a declaração incidental da inconstitucionalidade da lei municipal (controle difuso), com efeitos
retroativos.

O Ministro relator em seu voto ponderou: “... a declaração de nulidade com os ordinários efeitos
ex tunc da composição da Câmara representaria um verdadeiro caos quanto à validade, não apenas,
em parte, das eleições já realizadas, mas dos atos legislativos praticados por esse órgão sob o manto
presuntivo da legitimidade. Nessa situação específica, tenho presente excepcionalidade tal a justificar
que a presente decisão prevaleça tão somente para as legislaturas futuras, assegurando-se a
prevalência, no caso, do sistema até então vigente em nome da segurança jurídica...”. (RE 197.917/SP)

Assim, é possível concluir que, à luz do princípio da segurança jurídica, do princípio da


confiança, da ética jurídica, da boa-fé, conclui-se que, o STF, em verdadeira ponderação de valores,
vem, casuisticamente, mitigando os efeitos da decisão que reconhece a inconstitucionalidade das
leis também no controle difuso, preservando-se situações pretéritas consolidadas com base na lei
objeto do controle.
48

ESPÉCIES/FORMAS DE INCONSTITUCIONALIDADE

INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO E INCONSTITUCIONALIDADE POR


OMISSÃO

51. Conceitue Inconstitucionalidade por ação e a Inconstitucionalidade por omissão.

A Inconstitucionalidade por ação se verifica quando há uma conduta comissiva/positiva do


Poder Público incompatível com a Constituição Federal. Ex: Edição de uma lei contrária à Constituição
Federal.

A Inconstitucionalidade por omissão se verifica pela inércia do legislador frente a um


dispositivo constitucional carente de regulamentação por lei. Ex: Artigo 37, VII da CF/88 – Exigência
da edição de uma lei dispondo sobre o Direito de Greve dos servidores públicos. Não foi elaborada
até hoje.

52. O que significa erosão da consciência constitucional?

Erosão da consciência constitucional trata-se de uma terminologia criada pelo jurista KARL
LOEWENSTEIN. (ADI 484 Celso De Melo).

A erosão da consciência constitucional ocorre quando há uma desvalorização funcional da


constituição escrita, ou seja, a omissão dos poderes públicos desvaloriza a função da Constituição.
Portanto, é o Processo de desvalorização funcional da Constituição Federal escrita. Se a
Constituição Federal estabelece algo que depende do legislador e ele se omite a Constituição
Federal não tem como ser aplicada, o que acaba a desvalorizando.

INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL X FORMAL X VÍCIO DE DECORO

53. Fale sobre a Inconstitucionalidade Material, Inconstitucionalidade Formal e a


Inconstitucionalidade em razão de vício de decoro parlamentar.
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Material (ou Nomoestática): O conteúdo da lei contraria a Constituição Federal. O vício


material se refere à substância da norma, tendo caráter estático (Nomoestática). Ocorre também nos
casos da aferição do excesso do poder legislativo, em que a lei não é compatível com os fins
constitucionais previstos (desvio de poder) ou quando há violação ao princípio da proporcionalidade
(proibição de excesso e proibição de proteção deficiente).

Formal (ou Nomodinâmica): Há um desrespeito ao processo de elaboração da norma,


preconizado pela Constituição Federal. O vício formal decorre da violação ao processo legislativo,
trazendo uma ideia de dinamismo, movimento (Nomodinâmica). Pode ser:

• Orgânica: Decorre da inobservância da competência legislativa para a elaboração do


ato. Para se ter um exemplo, o STF entende inconstitucional lei municipal que discipline
o uso do cinto de segurança, já que se trata de competência da União, nos termos do
art. 22, XI, da CF/88 legislar sobre trânsito e transporte.
• Propriamente dita: Inobservância do processos legislativo, seja na fase iniciativa (vício
formal subjetivo) ou nas demais (vício formal objetivo).
• Por violação a pressupostos objetivos do ato normativo: Inobservância de
pressupostos essenciais para a edição de atos legislativos.

Inconstitucionalidade em razão de vício de decoro parlamentar: Não se refere a uma


inconstitucionalidade formal ou material. Se trata de uma inconstitucionalidade por vício na
formação da vontade do parlamentar, que votou em determinado sentido em troca do
recebimento de propina. (Tese desenvolvida por conta da Ação penal nº 470 (“Mensalão”), com
fundamento no art. 55, § 1º da CF/88). Trata-se do caso envolvendo esquema de “compra de votos”
dos parlamentares (mensalão), para votar de acordo com o governo em um ou outro sentido.

INCONSTITUCIONALIDADE TOTAL OU PARCIAL

54. Fale sobre a inconstitucionalidade parcial e o princípio da parcelaridade.

A Inconstitucionalidade pode ser Total ou Parcial.

Será Total quando o ato normativo for considerado, em sua totalidade, incompatível com a
Constituição Federal. Será Parcial quando apenas parte do ato normativo for considerada inválido.

Nesse sentido há o princípio da parcelaridade, pelo qual Poder Judiciário, no Brasil, pode
declarar a inconstitucionalidade parcial de fração de artigo, parágrafo, inciso, alínea ou até mesmo
50

sobre uma única palavra ou expressão do ato normativo (sem, é claro, modificar o sentido e o alcance
da lei, isto é, não pode subverter o sentido da norma). Diferentemente do veto parcial do Presidente
da República a projeto de lei, o qual deverá abranger texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou
alínea.

INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO

55. O que se entende por inconstitucionalidade por Reverberação Normativa?

A inconstitucionalidade por arrastamento também denominada de inconstitucionalidade


Derivada, ou Consequencial ou “Por Atração” ou ainda por Reverberação Normativa ocorre
quando há uma relação de dependência entre, pelo menos, duas normas, sendo uma delas a
principal; e as outras, acessórias. Caso a norma principal for declarada inconstitucional em um
determinado processo, todas as normas dela dependentes também deverão ser consideradas
inconstitucionais.

Trata-se de uma exceção ao princípio do pedido. De acordo com este princípio, o STF, em uma
ADI, deverá examinar, em regra, a constitucionalidade apenas dos dispositivos que forem objeto de
impugnação na petição inicial. Portanto, a inconstitucionalidade por arrastamento é uma exceção ao
princípio do pedido, e somente será declarado inconstitucional dispositivos e atos normativos que
não tenham sido objeto de impugnação na petição inicial se houver uma relação de dependência
entre eles e a norma atacada.

LENZA explica que, por tal teoria, quando for julgada inconstitucional a norma principal,
oportunamente, em futuro processo, outra norma dependente daquela que foi declarada
inconstitucional em processo anterior — tendo em vista a relação de instrumentalidade que entre elas
existe — também estará eivada pelo vício de inconstitucionalidade “consequente”, ou por
“arrastamento” ou “atração”.

Complementa aduzindo que já na própria decisão, a Corte define quais normas são atingidas,
e no dispositivo, por “arrastamento”, também reconhece a invalidade das normas que estão
“contaminadas”, mesmo na hipótese de não haver pedido expresso na petição inicial.

Tal técnica pode se estender ao decreto, ato normativo secundário dependente da lei – norma-
base da insurgência constitucional. É o arrastamento no plano vertical.
51

Arremata o autor afirmando que o instituto do “arrastamento” é exceção à regra de que o juiz
deve ater-se aos limites da lide fixados na exordial, especialmente em virtude da correlação, conexão
ou interdependência dos dispositivos legais e do caráter político do controle de constitucionalidade
realizado pelo STF.

INCONSTITUCIONALIDADE ORIGINÁRIA E SUPERVENIENTE

56. É admitido a inconstitucionalidade superveniente?

A Inconstitucionalidade pode ser classificada como Originária e Superveniente.

A Inconstitucionalidade Originária ocorre quando a norma parâmetro for anterior à norma


objeto da impugnação. Já a Inconstitucionalidade Superveniente ocorre quando a norma
parâmetro for posterior à norma objeto da impugnação.

A regra é pela INADMISSIBILIDADE do fenômeno da constitucionalidade ou da


inconstitucionalidade superveniente.

Relaciona-se, de certa maneira, com o fenômeno da recepção. Todo ato normativo anterior à
Constituição não pode ser objeto de controle de constitucionalidade perante a nova Constituição. O
que se verifica é se foi ou não recepcionado pelo novo ordenamento jurídico. Se for compatível (do
ponto de vista material), será recebido, recepcionado. Quando não, não será recepcionado e,
portanto, será revogado pela nova ordem, não se podendo falar em inconstitucionalidade
superveniente.

Assim, CONSTITUCIONALIDADE superveniente é o fenômeno no qual um ato normativo que


nasceu com algum vício de inconstitucionalidade, formal ou material, após o decurso do tempo ou
de alguma providência, acaba por se “constitucionalizando”. Por INCONSTITUCIONALIDADE
superveniente tem-se o fenômeno pelo qual uma lei ou ato normativo que “nasceu” “perfeita”, sem
nenhum tipo de vício de inconstitucionalidade, vem a se tornar inconstitucional. Como regra, é
inadmitido.

PEDRO LENZA relembra uma exceção, pela admissibilidade do fenômeno, no julgamento pelo
STF da ADI 2.240 e da ADO 3.682, pelas quais se possibilitaria, artificialmente, a “correção” do
processo de criação do município Luís Eduardo Magalhães. Estaríamos diante do fenômeno da
constitucionalidade superveniente por decisão judicial, o que não se verificou, pois o prazo fixado na
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ADO 3.682, para se corrigir o vício congênito da lei estadual que criou o novo município, transcorreu
in albis.

Contudo, o STF entende que a regra da inadmissibilidade da inconstitucionalidade


superveniente comporta duas exceções: mutação constitucional e mudança no substrato fático
da norma.

57. É possível o controle de constitucionalidade de normas pré-constitucionais?

Todo ato normativo anterior à Constituição (à nova ordem constitucional), não poderá ser
objeto de controle de constitucionalidade perante a nova Constituição. O juízo de verificação
jurisdicional dessa norma com vigência em data anterior à nova Constituição dar-se-á no âmbito da
recepção ou não recepção da norma perante o novo texto constitucional.

Se compatível, será a norma recepcionada pela Constituição – a exemplo do Código


Tributário Nacional, recepcionado com status de lei complementar.

Ao contrário, quando incompatível, a norma não será recepcionada pela nova ordem
constitucional, sendo então revogada pela nova Carta Constitucional – caso da Lei de Imprensa.

Assim, inexiste o fenômeno da inconstitucionalidade superveniente, pois somente os atos


normativos editados após a nova Constituição poderão ser contestados em face da CF, por meio do
controle de constitucionalidade, via ADI, à luz da regra da contemporaneidade.

Nesse sentido, a Lei nº 9.882/99 regulamentou a ADPF como instrumento processual adequado
para ser utilizado para resolver controvérsia (recepção ou não) relativa à lei ou ato normativo
federal, estadual ou municipal anteriores à Constituição. Os legitimados para sua propositura são os
mesmos da ADI.

INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA

58. Fale sobre a inconstitucionalidade progressiva no tempo.

A inconstitucionalidade progressiva ocorre quando a norma está ‘em trânsito’ para a


inconstitucionalidade. Trata-se de situações intermediárias entre a constitucionalidade plena e a
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inconstitucionalidade absoluta, nas quais as situações fáticas do momento justificam a manutenção


da norma, que progressivamente irá se tornar inconstitucional.

No julgamento do HC 70.154/RS (rel. min. Ilmar Galvão, DJ de 1º-7-1993), o STF aplicou a


técnica da lei ainda constitucional, originária do direito constitucional germânico, na qual se
reconhece que determinadas peculiaridades fáticas ou sociais impõem o reconhecimento
temporário da validade de uma norma, não obstante seja ela a rigor inconstitucional, para evitar uma
situação de anomia ou de dano ainda maior à ordem constitucional. O leading case, no direito
comparado, dizia respeito à lei sobre casamentos mistos editada sob o regime nazista. Ainda que a
referida lei, porque discriminatória, fosse manifestamente inconstitucional em face da nova
Constituição da República Federal da Alemanha, o Tribunal Constitucional daquele país se viu
obrigado a reconhecê-la como “ainda constitucional”, à constatação de que a declaração da sua
inconstitucionalidade acarretaria lacuna normativa intolerável.

Já no HC 70.154/RS, paradigma da adoção dessa tese no direito constitucional brasileiro, o STF


reconheceu, incidentalmente, como ainda constitucional, a lei que assegurava prazo em dobro às
defensorias públicas ao entendimento de que a situação de desorganização administrativa das
defensorias públicas – naquele momento as defensorias públicas ainda não existiam na maioria dos
estados da Federação – legitimava o tratamento desigual, e a elas favorável, em relação ao Ministério
Público. A lei deixaria de ser constitucional, assim, quando as defensorias públicas adquirissem nível
de organização equivalente ao dos Ministérios Públicos, situação em que o tratamento desigual
previsto na lei em questão passaria a traduzir afronta ao devido processo legal.

59. O que é “apelo ao legislador” no controle de constitucionalidade?

“Apelo ao legislador” (Appellentscheidung) no controle de constitucionalidade trata-se de


técnica de decisão, desenvolvida, sobretudo, para os casos de omissão inconstitucional, decisão
na qual se afirma que a situação jurídica em apreço ainda se afigura constitucional, devendo o
legislador empreender as medidas requeridas para evitar a consolidação de um estado de
inconstitucionalidade. Essa técnica de decisão assumiu relevância ímpar nos casos da legislação
pré-constitucional incompatível com a Lei Fundamental.

A cassação dessas leis pré-constitucionais poderia levar, em muitos casos, a uma situação de
autêntico caos jurídico. Daí ter a Corte Constitucional reconhecido que o legislador haveria de dispor
de um prazo razoável para adaptar o direito ordinário à nova ordem constitucional, reconhecendo
como “ainda constitucional” o direito anterior, que deveria ser aplicado nessa fase de transição.
54

A doutrina constitucional mais moderna considera que o apelo ao legislador


(Appellentscheidung) configura apenas uma decisão de rejeição de inconstitucionalidade,
caracterizando-se essa recomendação dirigida ao legislador como simples obiter dictum. Essa
qualificação não retira a eficácia desse pronunciamento, não havendo, até agora, registro de
qualquer caso de recalcitrância ou de recusa do legislador no cumprimento de dever constitucional
de legislar (ADI 3.682).

60. Defina Inconstitucionalidade Chapada, Enlouquecida ou Desvairada.

A Inconstitucionalidade Chapada, Enlouquecida ou Desvairada trata-se de expressão


utilizada pelo ex-ministro Sepúlveda Pertence para se referir a situações em que a
inconstitucionalidade é evidente, clara, flagrante, não restando qualquer dúvida sobre o vício,
seja formal ou material. Destaca-se alguns julgados em que a expressão foi utilizada: ADI 2.527, ADI
3.715, ADI 1.923.

O Min. Carlos Britto, descrevendo o que seria uma inconstitucionalidade manifesta, usou os
termos “enlouquecida, desvairada” (ADI 3.232).

SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

61. Fale sobre os sistemas de controle de constitucionalidade.

O sistema de controle de Constitucionalidade tem relação com os órgãos pelos quais o


Poder Constituinte atribuiu competência para controlar a constitucionalidade das leis. A
definição dos órgãos responsáveis pela realização do controle de constitucionalidade é livre para
cada Estado. Existem 3 tipos de sistemas de controle:

• Sistema jurisdicional: Sistema em que o controle é realizado preponderantemente pelo


Judiciário. Esse modelo nasceu nos Estados Unidos. No Brasil o sistema de controle
aplicado é preponderantemente judicial.
• Sistema político: Esse controle é realizado por um órgão político, desprovido de
natureza jurisdicional, ou seja, não pertence ao Poder Judiciário. É o modelo adotado
55

na França, em que o controle é feito pelo Conselho Constitucional. Lá existe a jurisdição


comum e a administrativa. Acima dessas duas jurisdições há o Conselho Constitucional.
• Sistema misto: Conjuga o controle jurisdicional com o político. Em algumas normas a
fiscalização da constitucionalidade cabe ao Poder Judiciário, e outras normas cabe ao
órgão político. É o caso da Suíça, dependendo da natureza da lei o controle será feito
pelo Poder Judiciário (leis locais) ou pelo Parlamento (leis nacionais).

FORMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

62. Há controle político de constitucionalidade no Brasil?

Quanto à natureza do órgão o controle de constitucionalidade pode ser Jurisdicional ou


Político.

O controle Jurisdicional é o controle realizado por órgão do Judiciário.

O controle político é o controle realizado por órgãos sem natureza jurisdicional (por
exclusão). Assim, ele está presente em Estados nacionais em que o controle de constitucionalidade
será exercido por órgão distinto dos três poderes tradicionais. É comum em países da Europa, tais
como Portugal e Espanha, sendo tal controle realizado pelo que se denomina Cortes ou Tribunais
Constitucionais.

LUIS ROBERTO BARROSO defende a tese de que o veto do Chefe do Executivo a lei, quando o
considerá-la inconstitucional (controle preventivo) e, também, a rejeição a PL na CCJ, seriam
exemplos de controle POLÍTICO de constitucionalidade.

63. Fale sobre o controle preventivo.

O Controle preventivo ou prévio tem por objeto evitar a violação da CF. É o controle que se
aplica no curso do processo legislativo, pelo qual a fiscalização de constitucionalidade incide sobre
a norma em fase de elaboração (incide sobre o projeto de lei e de emenda constitucional).

Assim, é aquele realizado antes da vigência da lei ou ato normativo. Em regra, é aquele
realizado pelo Legislativo durante o processo de formação do ato normativo. Apresentado o projeto
de lei, observadas as regras de tramitação de cada Casa Legislativa, haverá a verificação da
56

constitucionalidade por Comissões (CCJ na Câmara dos Deputados e Senado Federal), a fim de
verificar a existência de algum vício a ensejar sua inconstitucionalidade.

Tal controle é típico dos atos normativos originários ou que tramitam nas Casas Legislativas, não
ocorrendo quanto a projetos de Medidas Provisórias (iniciação e finalização no Executivo; Resoluções
de Tribunais e Decretos).

O controle preventivo, no Brasil, pode ser de dois tipos:

o Controle político-preventivo: Realizado pelo Poder Legislativo e pelo Poder


Executivo. Incide sobre a norma em fase de elaboração.
▪ Poder Legislativo: As comissões de constituição e cidadania exercem o
controle preventivo de constitucionalidade dos projetos de lei. CCJC
(câmara) e CCJ. Podem arquivar determinados projetos. Além da
comissão, o plenário também pode fazer o controle.
▪ Poder Executivo: Através do veto jurídico do Presidente.
o Controle judicial-preventivo: É a possibilidade, de forma excepcional, de análise
pelo STF se o direito dos parlamentares ao devido processo legislativo estão
sendo respeitados. O Controle judicial-preventivo se concretiza sempre através
de mandado de segurança impetrado por parlamentar no STF, em caso de
▪ Inobservância do devido processo legislativo constitucional.
▪ PEC que viola cláusula pétrea ou que desrespeita o processo legislativo
constitucional.
Ressalta-se que a legitimidade é exclusiva dos parlamentares. O mandado de
segurança deve ser impetrado pelo parlamentar integrante da casa Legislativa,
na qual a proposta a Emenda Constitucional ou o projeto de lei estiver
tramitando.

64. Há controle preventivo de constitucionalidade? (TJPR/Cartórios/2021)

Inicialmente, impera registrar que o sistema de controle de constitucionalidade no Brasil é


divido em controle preventivo e repressivo.

O CONTROLE PREVENTIVO de constitucionalidade, a rigor, está sob o crivo dos Poderes


Executivo e Legislativo, nada obstante, em casos específicos, possa ser realizado pelo Judiciário.
57

Em seu nascedouro, quando da propositura de um PL perante uma das Casas legislativas, CD


ou SF, antes de ser apreciado pelos parlamentares (votação/aprovação), o projeto de lei é submetido
à comissão permanente responsável pela aferição da compatibilidade constitucional e/ou legal da
pretensão legislativa - comissão de constituição, justiça e cidadania (CCJ) na CD e ou SF.

A CCJ, em sede de controle preventivo, verifica a existência de algum vício de


inconstitucionalidade a ensejar a rejeição do PL, corporificado por meio de parecer pela
inconstitucionalidade (arquivamento definitivo), que somente poderá ser superado quando, não
unânime o parecer da comissão (importância da escolha do relator e membros), houver recurso
interposto por no mínimo 1/10 dos membros do SF, manifestando-se favoravelmente ao trâmite do
PL.

O Chefe do Poder Executivo também poderá exercer o controle preventivo de


constitucionalidade na hipótese de apreciação do projeto de lei aprovado pelo Legislativo, no âmbito
do exercício da competência privativa de sanção ou veto.

Caso considere inconstitucional o PL aprovado, vetá-lo-á, apontando o vício de


inconstitucionalidade existente, devolvendo o projeto de lei com os motivos do veto à respectiva
Casa Legislativa. Todavia, tal controle não será definitivo, uma vez que, observado o tiro especial
previsto na CF/88 – maioria absoluta de deputados e senadores, em votação aberta, o Congresso
Nacional poderá derrubar o veto e, assim, afastar o óbice à promulgação e validade da lei, que, após
sua publicação e eventual vacatio legis, passará a ter vigência plena, só podendo ser alcançada pelo
controle repressivo.

65. É possível ao Judiciário exercer o controle preventivo de constitucionalidade?

A rigor, o CONTROLE PREVENTIVO será exercido pelo Poder Legislativo, por meio das
comissões de constituição, justiça e cidadania (CCJ) ou, ainda, pelo Chefe do Poder Executivo,
quando do veto jurídico a projeto de lei aprovado, quando fundamentado em vício de
inconstitucionalidade.

Contudo, excepcionalmente, admite-se o controle preventivo pelo JUDICIÁRIO acerca de


projeto de lei cujo objeto seja inconstitucional, que esteja em trâmite na Casa Legislativa, visando
garantir ao parlamentar o respeito ao devido processo legislativo, esse, um direito líquido e certo
do agente político.
58

A legitimidade para intentar o MANDADO DE SEGURANÇA que tenha como escopo o


controle preventivo de constitucionalidade perante o STF é exclusiva do parlamentar – deputado
ou senador. É dizer que o parlamentar tem direito subjetivo à participação em processo legislativo
hígido, vedando-se sua participação em processo legislativo cujo objeto seja inconstitucional – formal
ou material. Ou seja, o vício de inconstitucionalidade pode dizer respeito a eventual violação das
regras constitucionais de processamento (iniciativa, quórum e etc) ou, igualmente, a matéria/objeto
que viole o texto magno (a exemplo das cláusulas pétreas).

Vale registrar que a PERDA superveniente do mandato parlamentar o desqualifica da


legitimação ativa, pois tal requisito deve subsistir desde a instauração e durante o prosseguimento
da causa perante o STF, impondo-se a extinção do processo de mandado de segurança. (MS
27.257/DF)

66. Fale sobre o controle repressivo de constitucionalidade. (TJPR/Cartórios/2021)

No Brasil, o controle de constitucionalidade de uma lei ou ato normativo pode ocorrer em dois
momentos distintos: preventivamente, quando ainda do trâmite legislativo do projeto de lei junto
às casas legislativas ou na apreciação pelo Chefe do Executivo quando da sanção ou veto; ou
repressivamente.

O Controle repressivo ou posterior é a fiscalização de constitucionalidade incidente sobre


norma pronta integrante do ordenamento jurídico. Como o nosso sistema é o jurisdicional, aqui o
poder judiciário vai ser o principal. Assim, é aquele realizado após a promulgação da lei, ou seja,
quando uma lei ou ato normativo está vigente – foi editada com base em processo legislativo válido
e publicizada por meio da promulgação, ainda que no plano de eficácia tenha alguma restrição
temporal (vacatio legis).

Nessa hipótese o controle de constitucionalidade será posterior, submetido aos órgãos de


controle que a Constituição e a lei disciplinaram como sendo os competentes para aferir a verificação
constitucional, via controle concentrado ou difuso.

Em regra, no âmbito constitucional, podemos encontrar o controle político e o controle


jurisdicional. Assim, o controle repressivo, no Brasil, pode ser de dois tipos:

o Controle político-repressivo: Em regra, o controle repressivo é realizado pelo


Poder Judiciário. Contudo, há hipóteses excepcionais que esse controle será
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realizado pelo Poder Legislativo e pelo Poder Executivo. Situações em que o


controle repressivo será realizado pelo:
▪ Poder Legislativo: 1) Quando o Congresso Nacional susta atos normativos
do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites
de delegação legislativa. Será realizado através de decreto legislativo a
ser expedido pelo Congresso Nacional prevista no art. 62 da CF/88. 2)
Quando Medidas Provisórias são submetidas a apreciação do Congresso
Nacional, podendo ser rejeitadas pelo Congresso com fundamento em
inconstitucionalidade.
▪ Poder Executivo: Quando o Presidente da República deixa de aplicar uma
lei que considere inconstitucional. Há precedentes no STF17 e no STJ18.
o Controle judicial-repressivo: É a regra, tendo em vista que o Brasil adotou o
sistema jurisdicional. Cabe aos juízes e Tribunais do Poder Judiciário realizar o
controle de constitucionalidade das normas prontas integrantes do
ordenamento jurídico. O controle adotado pelo Brasil, dentro do sistema
jurisdicional, é misto (controle difuso e concentrado).

67. Há alguma hipótese de controle repressivo de constitucionalidade pelo Poder


Legislativo?

Em regra, o controle REPRESSIVO de constitucionalidade foi deferido ao Poder Judiciário,


que o exercerá na modalidade concentrada através do STF, quanto a leis e atos normativos estaduais
e federais contestados em face da CF/88, ou pelos TJ´s locais, quanto a leis estaduais e municipais
contestadas em face da CE; e na modalidade difusa, incidentalmente, por qualquer juiz ou Tribunal
quando contestada a constitucionalidade da lei/ato normativo em face da CE.

Excepcionalmente, a CF/88 trouxe a competência exclusiva do Congresso Nacional para


sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites

17
O controle de constitucionalidade da lei ou dos atos normativos é da competência exclusiva do Poder
Judiciário. Os Poderes Executivo e Legislativo, por sua chefia — e isso mesmo tem sido questionado com o
alargamento da legitimação ativa na ação direta de inconstitucionalidade —, podem tão só determinar aos seus
órgãos subordinados que deixem de aplicar administrativamente as leis ou atos com força de lei que
considerem inconstitucionais” (ADI 221-MC/DF, Rel. Min. Moreira Alves; DJ de 22.10.1993, p. 22251, Ement. v.
01722-01, p. 28 — grifamos).
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Lei inconstitucional — Poder Executivo — Negativa de eficácia. O poder executivo deve negar execução
a ato normativo que lhe pareça inconstitucional” (REsp 23121/GO, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros; 1.ª
Turma, j. 06.10.1993, DJ de 08.11.1993, p. 23521, LEXSTJ 55/152).
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de delegação legislativa. Tal controle repressivo dar-se-á por intermédio de decreto legislativo a ser
expedido pelo Congresso Nacional prevista no art. 62 da CF/88.

A outra exceção relaciona-se com as medidas provisórias. Considerando que o Presidente


poderá editar MP´s, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional
(Poder Legislativo), o Legislativo, entendendo-a inconstitucional, estará realizando controle de
constitucionalidade posterior.

Ambas as situações se posicionam como exceções à regra geral do controle repressivo de


constitucionalidade – após a vigência da lei – pelo Poder Judiciário, haja vista que, nessas hipóteses,
o controle não será exercido pelos órgãos jurisdicionais, mas sim pelo Legislativo.

68. Imagine a situação de um projeto de lei encaminhado para sanção do Presidente da


República, que, fundado na existência de vício de inconstitucionalidade, veta a lei aprovada,
devolvendo-o para a Câmara dos Deputados. O CN, em sessão conjunta, observando o rito
especial constitucional, por maioria absoluta, derruba o veto do Presidente, promulgando a lei.
Referida lei produz efeitos genéricos no âmbito da atividade/execução de política pública por
um dos Ministros de Estado, subordinados ao Presidente da República. Pergunto: é possível
que o Presidente deixe de cumprir esta lei por considerá-la inconstitucional? Fundamente.

Apesar do princípio da presunção de constitucionalidade das leis, bem como do postulado


da segurança jurídica a ser garantido pelo Estado na elaboração e vigência dos diplomas normativos,
tem- se sustentado, doutrinária e jurisprudencialmente, a possibilidade de o Presidente
descumprir ou determinar a não aplicação de uma lei pautado em flagrante
inconstitucionalidade, determinando sua inaplicabilidade a seus subordinados.

Defendem a admissibilidade dessa excepcional espécie de controle repressivo pelo


Executivo quando for a única saída viável para salvaguardar o interesse da administração pública, o
que justificaria essa atitude extrema de “estado de necessidade administrativa”.

Tal mecanismo tinha mais força antes da CF/88, porquanto, anteriormente, a representação
pela inconstitucionalidade no controle concentrado era exclusiva do PGR, de tal modo que, em
hipótese de lei claramente inconstitucional, aos Chefes do Poder Executivo (Presidente,
Governadores e Prefeitos), não lhes era dada a possibilidade de ajuizar a ADI. Esse hiato foi corrigido
na CF/88, que passou a admitir os Chefes do Poder Executivo como legitimados no controle
concentrado de constitucionalidade.
61

A despeito disso, o STF, mesmo após a CF/88, continuou admitindo essa hipótese excepcional,
ponderando, todavia, alguns limites: “O Poder Executivo e Legislativo, por sua chefia – e isso
mesmo tem sido questionado com o alargamento da legitimação ativa na ação direta de
inconstitucionalidade – podem tão só determinar aos seus órgãos subordinados que deixem de
aplicar administrativamente as leis ou atos com força de lei que considerem inconstitucionais.”
(ADI 221/DF, 1993)

69. Fale sobre o controle difuso.

No CONTROLE DIFUSO (Aberto / Modelo Americano), a competência é atribuída a todos os


órgãos do Poder Judiciário, ou seja, a qualquer juiz ou Tribunal. Não existe limitação, sendo por
isso também denominado de controle aberto.

Ele também é conhecido como sistema norte-americano de controle, tendo em vista que surgiu
nos Estados Unidos, com o caso “Marbury x Madison”, em que firmou o entendimento de que o Poder
Judiciário poderia deixar de aplicar uma lei aos casos concretos quando a considerasse
inconstitucional.

O controle difuso, no Brasil surgiu pela primeira vez na CF de 1891, num caso envolvendo a
aplicação e concurso público em fase objetiva.

É repressivo ou posterior, também denominado controle pela via de exceção ou defesa,


pode ser realizado por qualquer juiz ou tribunal, desde que observadas as regras de organização
judiciária e de competência processual.

A constitucionalidade ou inconstitucionalidade será aferida no caso concreto – por isso controle


CONCRETO, de maneira incidental, e de forma prejudicial ao exame do mérito da causa.

Tem por finalidade principal assegurar a proteção de direitos subjetivos. Não possui requisito
específico, sendo o controle feito incidentalmente em qualquer processo, inexistindo ação específica
para realizar o controle concreto ou difuso – poder suscitado em MS, HC ou outra ação ordinária
qualquer.

Pode ser feito de ofício, pelo juiz, inclusive sem provocação da parte. Apesar da divergência,
prevalece no STF que o controle difuso pode ser feito de ofício pelo juiz.
62

70. No controle difuso, qual a regra dos efeitos do reconhecimento de


inconstitucionalidade?

Tal como se dá no controle abstrato de constitucionalidade, realizado tanto pelo STF como por
qualquer Tribunal de Justiça local, no CONTROLE DIFUSO, no momento que a sentença declara ser
a lei inconstitucional (controle difuso realizado incidentalmente), produz efeitos pretéritos,
atingindo a lei desde a sua edição, tornando-a nula de pleno direito. Produz, portanto, efeitos
retroativos. Assim, no controle difuso, para as partes os efeitos serão (regra):

• Inter Partes: a decisão está limitada às partes do processo (e essa regra terá que ser lida
com os temperamentos decorrentes da perspectiva de efeito erga omnes da tese do
julgamento a partir de uma perspectiva de mutação constitucional)
• Ex Tunc: consagra-se a regra na nulidade. Se a lei ou o ato normativo é inconstitucional,
estamos diante de vício congênito.

Vale ressaltar que a regra geral do efeito (nulidade) possui exceções (modulação de feitos).

71. É possível, no controle difuso, produzir efeitos extraprocessuais?

A regra geral é de que as decisões no CONTROLE DIFUSO de constitucionalidade produzem


efeitos inter partes e com abrangência temporal retroativa – teoria da nulidade, ressalvando-se a
possiblidade de modulação dos efeitos, por analogia ao que a lei prevê expressamente para o
controle concentrado, desde que observado o quórum especial de aprovação da proposta de
modulação dos efeitos (maioria de 2/3).

É dizer, tal modulação, no controle difuso, somente pode ocorrer no âmbito do Tribunal de
Justiça, observada ainda a cláusula de reserva de plenário.

Quanto à extensão dos efeitos, autores da doutrina constitucional contemporânea destacam


uma nova tendência/realidade em razão daquilo que vem sendo chamado de transcendência dos
motivos determinantes da sentença em controle difuso ou de abstrativização do controle
difuso, ou de objetivação do controle difuso, tema já enfrentado pelo STF no julgamento da Rcl
4.335.

Apesar da aparente semelhança – atribuir efeitos vinculantes e erga omnes a uma questão
constitucional incidentalmente decidida –, guardam algumas diferenças.
63

Na TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES, pretende-se que os motivos pelos


quais determinada norma foi declarada (in)constitucional sejam vinculantes para as demais normas
de conteúdo igual.

Já a ABSTRATIVIZAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO, por sua vez, consiste em dar a esta


modalidade de controle tratamento semelhante ao do controle concentrado-abstrato, conferindo
eficácia vinculante e erga omnes, para além das partes (o que pode ocorrer num RE ou num HC).
Essa técnica implica na aproximação dos dois meios de controle, em especial quanto à eficácia
subjetiva das decisões.

72. O STF pode ser considerado uma Corte Constitucional?

JOSÉ AFONSO DA SILVA, aduz que o fato de o STF ter tido sua competência no controle
abstrato a matérias eminentemente constitucionais não o converte em Corte Constitucional.

Primeiro porque NÃO é o único órgão jurisdicional competente para o exercício da jurisdição
constitucional, uma vez que, no controle difuso, qualquer juízo ou tribunal poderá fazer análise de
constitucionalidade incidentalmente, no caso concreto.

Em segundo lugar, porque ainda detém competência de julgamento relativa aos Tribunais
ordinários, podendo vir a julgar questões constitucionais em casos concretos – nos RE´s, e, em tais
casos, deverá sempre primar, se possível, pela constitucionalidade das normas, sem declarar
inconstitucionalidades.

Ademais, o STF NÃO é um órgão absolutamente independente dentro do Poder Judiciário


e em relação aos demais poderes do Estado, notadamente porque a forma de escolha de seus
membros se dá mediante a ingerência do Poder Executivo que indica, devendo tal nome ser
referendado pelo Legislativo.

ROGER STIEFELMANN LEAL ensina que a primeira característica básica dos TRIBUNAIS
CONSTITUCIONAIS reside na sua própria autonomia em relação aos demais poderes do Estado.
O Tribunal Constitucional deve, portanto, compor uma magistratura independente do aparato
jurisdicional ordinário e das estruturas dos demais poderes.

Nesse sentido, configura um poder autônomo, distinto e organicamente independente do


Poder Legislativo, do Poder Executivo e do Poder Judiciário. É este o atributo que diferencia um
Tribunal Constitucional de um TRIBUNAL SUPREMO de última instância.
64

Vale destacar que, no âmbito do STF, parece existir uma posição fortemente fixada no sentido
de ser o que se denomina de “guardião da Constituição”, semelhante ao que se entende por Corte
Constitucional.

73. Fale sobre o controle concentrado de constitucionalidade.

No CONTROLE CONCENTRADO (Reservado / Modelo Europeu), a competência é atribuída


com exclusividade a um determinado órgão jurisdicional, isto é, trata-se de um controle reservado
a um determinado órgão, ou um número bastante limitado de órgãos. Dessa forma, a competência
para controlar a constitucionalidade das leis estará concentrada nas mãos de um único ou mesmo
poucos órgãos.

Este controle teve sua origem na Áustria por influência de Hans Kelsen, também chamado,
portanto, de modelo europeu ou austríaco. De acordo com as ideias de Hans Kelsen, a Constituição
austríaca de 1920 atribuiu a competência para fiscalizar a constitucionalidade das leis a um Tribunal
Constitucional. Esse sistema surgiu no Brasil no ano de 1934, através da previsão da Representação
Interventiva, que hoje é a ADI interventiva.

Assim, é aquele cuja finalidade precípua – principal – consiste em assegurar a supremacia da


Constituição, a fim de evitar que haja violação da CF. O objetivo secundário é a proteção de
direitos subjetivos.

A pretensão será submetida ao órgão jurisdicional competente por meio de um processo


constitucional OBJETIVO, o qual possui regras próprias para sua tramitação.

Na CF/88 é reservado para exercício do STF – quanto o parâmetro for a CF/88, e aos Tribunais
de Justiça, quando o parâmetro para a aferição de constitucionalidade for a Constituição Estadual.

São instrumentos utilizados para provocar o controle concentrado de constitucionalidade: ADI,


ADC, ADO, ADPF, e ADI INTERVENTIVA.

Os efeitos do controle de constitucionalidade concentrado são verificados quando “a decisão


que reconhece a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, como regra geral, terá eficácia
erga omnes (em face de todos), vinculante para os órgãos do da administração pública e do
Judiciário (não vincula o legislativo na função de legislar), bem como efeitos ex tunc (retroativos à
data da edição). Ressalva necessária à possiblidade de modulação dos efeitos.
65

74. Diferencie controle concreto de controle abstrato.

No CONTROLE CONCRETO / Incidental De Exceção / Via De Defesa a pretensão é deduzida


em juízo, através de um processo constitucional subjetivo. A aferição da constitucionalidade se dá
diante de um caso concreto, ou seja, através de uma lide, pelo qual uma das partes requer a
declaração de inconstitucionalidade de uma lei. Assim, caso a pessoa tem o seu direito violado, será
necessário afastar a lei, declarando a sua inconstitucionalidade. A inconstitucionalidade pode ser
reconhecida, inclusive de ofício. Ressalta-se que a aferição da constitucionalidade não é o objeto
principal do pedido, mas apenas um incidente do processo. Por isso é chamado também de controle
incidental, realizado pela via incidental.

No CONTROLE ABSTRATO / Por Via De Ação / Por Via Direta / Principal, a pretensão é
deduzida em juízo, através de um processo constitucional objetivo, em razão da ausência de
partes formais. Não há a defesa de interesses próprios. A aferição da constitucionalidade é o pedido
principal do autor (objeto principal da ação), pelo qual requer que determinada lei tenha sua
constitucionalidade aferida para resguardar o ordenamento jurídico. Ele é realizado pela via principal.

CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO (FULL BENCH)

75. O que é cláusula de reserva de plenário? (TJPR/Cartórios/2021)

No âmbito de Tribunal estadual, distribuído o processo ao relator, e, sendo arguida a


inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, após ouvir o MP e as partes, deverá
o julgador submeter a questão ao órgão fracionário a quem compete conhecer do processo (turma;
câmara), que poderá:

1) rejeitar a arguição, prosseguindo o julgamento; ou

2) acolher a arguição, submetendo ao plenário ou ao órgão especial, se


houver.

Se acolher a arguição, estabeleceu a CF/88 o que se denomina de “cláusula de reserva de


plenário”: “CF/88. Art. 97. Somente pelo VOTO da MAIORIA ABSOLUTA de seus membros ou dos
66

membros do respectivo órgão especial poderão os TRIBUNAIS DECLARAR A


INCONSTITUCIONALIDADE de lei ou ato normativo do Poder Público”.

A CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO destaca-se como verdadeira condição de eficácia


jurídica da própria declaração de inconstitucionalidade dos atos do Poder Público. Nesse sentido, a
Súmula Vinculante 10/STF:

Súmula Vinculante 10/STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF,


artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não
declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do
poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

76. A cláusula de reserva de plenário pode ser dispensada?

O STF tinha firme posição no sentido de dispensar o procedimento do artigo 97 da CF/88


sempre que já houver decisão do órgão especial, do pleno do tribunal, ou do STF sobre o assunto,
a qual foi reproduzida no atual CPC/15: “CPC/15. Art. 949. (…) Parágrafo único. Os órgãos fracionários
dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade
quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a
questão”.

Portanto, o procedimento da cláusula de reserva de plenário (art. 97 da CF/88) pode ser


dispensado, nos casos em que o STF ou o órgão especial ou o plenário do Tribunal respectivo já
tiverem decidido a respeito do assunto.

77. A cláusula de plenário aplica-se às turmas do STF?

Nos termos do Regimento Interno do STF, o julgamento do recurso extraordinário é de


competência das Turmas, por isso são distribuídos a cada Ministro, vinculado à respectiva turma.

O RISTF possui previsão de que a Turma remeterá feito ao julgamento pelo plenário quando:

• houver relevante arguição de inconstitucionalidade ainda não decidida pelo Plenário e


o relator não tiver afetado o julgamento;
• ainda que decidida a inconstitucionalidade pelo plenário, algum ministro propuser o
reexame; e
67

• quando algum ministro propuser revisão da jurisprudência compendiada na súmula.

Assim, conclui-se que, considerando que o julgamento do RE compete à turma, e, ainda, que o
regimento estabeleceu uma série de requisitos para a remessa da matéria constitucional ao plenário,
conclui-se que, a rigor, a regra do artigo 97 da CF/88 não se aplica às Turmas do STF no
julgamento do RE.

PARÂMETRO PARA CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

78. Defina parâmetro abstrato de controle de constitucionalidade.

O parâmetro ou a referência para aferição da constitucionalidade é a NORMA


CONSTITUCIONAL OFENDIDA. Já o objeto do controle de constitucionalidade, em si, a ser realizado
pelo órgão jurisdicional competente, é o ato normativo infraconstitucional impugnado. Para existir
controle de constitucionalidade importa o tipo de norma que foi violada – índole constitucional.

Assim, considerando que o controle concentrado (abstrato) no Brasil é realizado de forma


MISTA, ou seja, é atribuído ao STF e aos Tribunais de Justiça local, a depender da lei ou ato
normativo impugnado e da norma-paradigma ofendida, ter-se-ão como parâmetros abstratos para
o controle de constitucionalidade o texto da Constituição Federal e o das Constituições Estaduais.

Doutrina e jurisprudência evoluíram para admitir também como parâmetros abstratos de


controle de constitucionalidade os princípios constitucionais implícitos, os tratados de direitos
humanos aprovados pelo rito especial, além do bloco de constitucionalidade.

79. Todo texto inscrito na Constituição será parâmetro para o controle de


constitucionalidade?

Inicialmente forçoso registrar que o texto da CF/88 resta divido em 3 partes: a) o preâmbulo,
conjunto de enunciados principiológicos legitimadores da ideologia do Constituinte; b) a parte
permanente (arts. 1º ao 250), rol de normas formalmente constitucionais e; c) o ADCT, conjunto de
normas constitucionais de eficácia transitória da CF/88.

O STF já se pronunciou, em mais de uma oportunidade, que tanto o PREÂMBULO, quando as


normas relativas ao ADCT já exauridas, ambos não servem de parâmetro abstrato para fins de
68

controle de constitucionalidade. No que toca ao ADCT, ressalvou que servirão de parâmetro abstrato
para o controle apenas as normas de eficácia exaurível, ou seja, que ainda não esgotaram sua plena
eficácia.

80. O que é o bloco de constitucionalidade?

Expressão originada no direito francês (Louis Favoreu), o bloco de constitucionalidade é


utilizado para se referir às normas com status constitucional. No Brasil, não há consenso acerca de
sua aplicabilidade, a despeito de muito utilizado pelo ex-ministro Celso de Mello.

Em sentido estrito, o termo é usado no mesmo sentido de “parâmetro” (CELSO DE MELLO),


tratando-o como paradigma de confronto.

Em sentido amplo, “BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE” abrange as normas que têm


conteúdo constitucional, ou seja, aquelas que possuem conteúdo, mas não têm a forma
constitucional, bem como aquelas normas com vocação para conferir eficácia às normas
constitucionais. Ex.: Pacto de San Jose da Costa Rica (status de norma supralegal).

É a Constituição em sua faceta material admitida como paradigma de confronto para o controle
de constitucionalidade.

Assim, o bloco de constitucionalidade pode ser definido como parâmetro definido não só pela
Constituição escrita posta, mas também pelas leis com valor constitucional formal (Emendas à CF);
pelos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos aprovados pelo rito do art. 5, §
3º, da CF; pelo conjunto de preceitos e princípios decorrentes da CF, inclusive implícitos (não
escritos).

81. Os tratados internacionais aprovados de acordo com o rito especial do § 3º, do artigo
5º da CF/88 (tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros) servem
de parâmetro abstrato no controle de constitucionalidade?

A CF/88 prevê expressamente que os tratados e convenções internacionais sobre DIREITOS


HUMANOS que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
69

Desse modo, tem-se que, observado o rito especial de aprovação, APENAS os tratados
internacionais sobre DIREITOS HUMANOS, equivalem-se a emendas constitucionais, e, assim,
passam a incorporar o texto constitucional, podendo suas disposições normativas servirem,
inclusive, de parâmetro abstrato no controle concentrado de constitucionalidade.

82. Os tratados internacionais sobre direitos humanos que forem incorporados à ordem
interna SEM a observância do rito especial constitucional podem servir de parâmetro para
controle de constitucionalidade?

Os TIDH aprovados por quórum simples de votação após a EC nº 45, bem como aqueles
importados à ordem interna antes da referida emenda constitucional, terão status de norma
infraconstitucional, mas de caráter supra legal (Pacto de San Jose da Costa Rica). Os tratados e
convenções internacionais que não versam sobre direitos humanos possuem status de lei ordinária.

Em tais casos, poderá existir questionamento acerca da compatibilidade de lei ou ato normativo
da ordem interna em face desses tratados internacionais de direitos humanos – sem status de norma
constitucional, hipótese em que haverá o que a doutrina denominou de CONTROLE DE
CONVENCIONALIDADE.

É dizer que o Poder Judiciário está internacionalmente obrigado a exercer um “controle de


convencionalidade” ex officio entre as normas internas e o tratado internacional de direito humanos.
Nessa tarefa, considerará não somente o tratado, mas também a interpretação que a ele conferiu a
Corte Interamericana, se for o caso.

A operacionalização do controle de convencionalidade se dá tal como o controle de


constitucionalidade, podendo ocorrer, judicialmente, tanto na via difusa como na concentrada.

No âmbito federal, será realizado pelo STF, tendo por objeto a declaração de
convencionalidade ou inconvencionalidade, sendo um processo de índole constitucional, por
intermédio do ajuizamento de ação direita de convencionalidade ou de inconvencionalidade
(LAZARI).

83. Defina Controle de Convencionalidade.


70

O Controle de Convencionalidade é aquele aplicável quando a norma-parâmetro for tratado


de direitos humanos não aprovados pelo rito especial (3/5 + 2 turnos). Nesse caso, haverá o que a
doutrina denomina de controle de convencionalidade das leis. (VALÉRIO MAZUOLI)

O CONTROLE NO DIREITO BRASILEIRO

84. Como se dá o controle de constitucionalidade no Brasil?

No Brasil, foi inaugurado pela Constituição de 1891 (promulgada após a Proclamação da


República), que, influenciada pelo direito norte-americano, instituiu o sistema de controle de
constitucionalidade de lei ou ato normativo (infraconstitucional), por juiz ou tribunal, considerando
as regras de competência e organização judiciária.

É também quando surge o controle de constitucionalidade difuso, repressivo, posterior, pela


via de exceção ou defesa, aonde a declaração de inconstitucionalidade se dá de modo incidental, de
forma prejudicial ao mérito da lide debatida.

Atualmente, o sistema de controle de constitucionalidade é regido pela CF/88, a qual trouxe


em seu texto como principais destaques: (i) a ampliação do rol de legitimados para propositura da
representação de inconstitucionalidade acabando com o monopólio do PGR, admitindo o PR, as
mesas da CD e do SF, a Mesa de Assembleia Legislativa, Governador, o CFOAB, Partido Político com
representação no CN, a Confederação Sindical ou entidade de classe em âmbito nacional; (ii)
controle de constitucionalidade das omissões legislativas por meio da ADO ou, incidentalmente, no
controle difuso, pelo mandado de injunção; (iii) o controle de constitucionalidade de atos normativos
estaduais ou municipais em face da CE; (iv) facultou a criação da ADPF.

O Brasil adotou o SISTEMA JURISDICIONAL MISTO – combina critério DIFUSO por via de
defesa com o critério CONCENTRADO, sendo que o controle de constitucionalidade repressivo será
realizado privativamente pelo Poder Judiciário, nas modalidades concentrada (STF) e/ou Tribunais
locais e difusa, por qualquer juiz ou tribunal.

Assim, tem-se que o controle abstrato realizado pelo STF ou pelos Tribunais de Justiça a
depender da lei e/ou ato normativo impugnado e a norma-parâmetro, sendo de competência do STF
o processamento e julgamento das ações que versem sobre lei ou ato normativo estadual e federal
confrontado em face da CF/88, restando aos TJ´s quando se tratar de lei ou ato normativo municipal
ou estadual confrontado em face das Constituições Estaduais.
71

85. No âmbito do Supremo Tribunal Federal, o controle concentrado/abstrato de


constitucionalidade é exercido mediante quais ações?

No âmbito do Supremo Tribunal Federal, o controle concentrado/abstrato de


constitucionalidade é exercido mediante as seguintes ações:

• Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADC;


• Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica – ADI;
• Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – APDF.
• Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO;

86. Lei promulgada com previsão de vacatio legis pode ser objeto de controle de
constitucionalidade antes do início da sua eficácia plena?

De início, forçoso registrar que, nos termos da LINDB, uma lei aprovada e promulgada passa a
vigorar no país no prazo de 45 dias após oficialmente publicada, salvo disposição expressa em
contrário. Esse referido lapso temporal entre sua promulgação e o início da vigência plena denomina-
se de vacatio legis.

Parcela importante da doutrina entende que é possível o controle de constitucionalidade de


lei que ainda se encontra em estado de vacatio legis, fundados no fato de que o ato normativo
existe e é válido, havendo restrição apenas no âmbito de sua eficácia.

Ademais, se a lei em estado de vacatio legis pode vir a ser revogada antes da vigência plena,
poderá também ser objeto de ADI. Afinal, um dos objetivos da vacatio legis é exatamente evitar a
insegurança jurídica que pode ocorrer quando de sua entrada em vigor.

Por outro lado, há posição do STF, extraída do voto da Ministra Rosa Weber, no sentido de que
a conclusão do processo legislativo é o pressuposto para a constituição válida da instauração
de um processo de controle de constitucionalidade, e que, na ADI, o interesse na tutela judicial
pressupõe a existência de ato normativo em pleno vigor, para somente assim caracterizar o
descumprimento à Constituição. Tal posicionamento se deu no âmbito de ADI que questionava MP
que acabou por perder sua eficácia durante o trâmite da ação em face de sua não conversão em lei
nos prazos previstos na CF/88 (ADI 5466).
72

AÇÃO DIREITA DE INCONSTITUCIONALIDADE (ADI GENÉRICA)

87. Defina ação direita de inconstitucionalidade.

A Ação Direita de Inconstitucionalidade (ADI genérica) será utilizada quando a insurgência à


lei ou ato normativo (válido e completo), virtualmente incompatível tenha como o parâmetro
abstrato de confronto a Constituição Federal ou a Constituição Estadual.

É dizer: não se admite controle de constitucionalidade preventivo ou abstrato de uma


proposição legislativa (projeto de lei).

88. Quais os tipos de atos do Poder Público que podem ser objeto de controle de
constitucionalidade concentrado?

Por lei deve se entender todas as espécies previstas no artigo 59 da CF: emendas à
constituição; leis complementares; leis ordinárias; leis delegadas; medidas provisórias; decretos
legislativos e resoluções.

Já atos normativos, ensina o Ministro Celso de Mello: “A noção de ato normativo, para efeito
de controle concentrado de constitucionalidade, pressupõe, além da autonomia jurídica da
deliberação estatal, a constatação de seu coeficiente de generalidade abstrata, bem assim de sua
impessoalidade. Todos esses elementos — autonomia jurídica, abstração, generalidade e
impessoalidade — qualificam-se como requisitos essenciais que conferem, ao ato estatal, a
necessária aptidão para atuar, no plano do direito positivo, como norma revestida de eficácia
subordinante de comportamentos estatais ou de condutas individuais” (ADI 2.321 MC, j. 25.10.2000).

Segundo ALEXANDRE DE MORAES, atos normativos podem ser: a) resoluções administrativas


dos tribunais; b) atos estatais de conteúdo meramente derrogatório, como as resoluções
administrativas, desde que incidam sobre atos de caráter normativo.

Também poderão ser objeto do controle de constitucionalidade concentrado:


73

1) as deliberações administrativas19 dos órgãos judiciários (precedente:


STF, ADI 728, Rel. Min. Marco Aurélio).

2) as deliberações dos Tribunais Regionais do Trabalho judiciários que


determinam o pagamento a magistrados e servidores das diferenças de
plano econômico (STF, ADI 681/DF, Rel. Min. Néri da Silveira,
reconhecendo o seu caráter normativo), salvo as convenções coletivas de
trabalho;

3) resolução do Conselho Interministerial de Preços — CIP (STF, Pleno, ADI


8-0/DF, Rel. Min. Carlos Velloso), que concedeu aumento de preço aos
produtos farmacêuticos, permitindo, portanto, a verificação de sua
compatibilidade com a Constituição Federal.

89. As súmulas pode ser objeto de controle de constitucionalidade?

De acordo com a ADI 594-DF, só podem ser objeto de controle perante o STF leis e atos
normativos federais ou estaduais. Súmula de jurisprudência não possui o grau de normatividade
qualificada, não podendo, portanto, ser questionada perante o STF através do controle concentrado.

90. As súmulas VINCULANTES podem ser objeto de controle de constitucionalidade?

A EC nº 45/2004 fixou a possibilidade de o STF, de ofício ou por provocação, mediante decisão


de 2/3 dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula
que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais
órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual
e municipal (art. 103-A). O seu § 2.º, por seu turno, fixa a possibilidade de, sem prejuízo do que vier
a ser estabelecido em lei, proceder-se a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula, mediante
provocação daqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.

19
EMENTA: Resolução administrativa do TRT da 3.ª Região. Natureza normativa da resolução. Atribuição do
Congresso Nacional para ato normativo que aumenta vencimentos de servidor. Inconstitucionalidade da resolução
configurada. Precedentes do STF” (ADI 1.614, Rel. p/ ac. Min. Nelson Jobim, j. 18.12.98, Plenário, DJ de 06.08.99). “É cabível
o controle concentrado de resoluções de tribunais que deferem reajuste de vencimentos. Precedentes” (ADI 2.104, Rel.
Min. Eros Grau, j. 21.11.2007)
74

Assim, tendo em vista o fato de a súmula não ser marcada pela generalidade e abstração,
diferentemente do que acontece com as leis, não se pode aceitar a técnica do “controle de
constitucionalidade” de súmula, mesmo no caso da súmula vinculante.

O que existe é um procedimento de revisão pelo qual se poderá cancelar a súmula. O


cancelamento desta significará a não mais aplicação do entendimento que vigorava. Nesse caso,
naturalmente, a nova posição produzirá as suas consequências a partir do novo entendimento,
vinculando os demais órgãos do Poder Judiciário e a Administração Pública direta e indireta, nas
esferas federal, estadual e municipal.

91. Medida Provisória pode ser objeto de controle de constitucionalidade?

Considerando que a Medida Provisória, a despeito de sua edição direta pelo Executivo, tem
força de lei, poderá ser objeto de controle de constitucionalidade, uma vez que o ato estatal estará
em plena vigência.

Em perdendo a eficácia por decurso do tempo, ou, ainda, sendo ela convertida em lei,
considerar-se-á por prejudicada a ADI pela perda do objeto da ação. No primeiro caso – conversão
em lei, faculta-se ao autor aditar seu pedido com base na lei de conversão da MP.

92. Os requisitos de relevância e urgência para edição da Medida Provisória podem ser
objeto de controle de constitucionalidade?

Em caráter de exceção, o STF20 tem posição no sentido de serem passíveis de controle desde
que o exame seja feito cum grano salis, ou seja, com muita parcimônia.

Conforme entendimento consolidado da Corte Suprema, os requisitos constitucionais


legitimadores da edição de medidas provisórias, vertidos nos conceitos jurídicos indeterminados de
‘relevância’ e ‘urgência’ (art. 62 da CF), apenas em caráter excepcional, se submetem ao crivo do
Poder Judiciário, por força da regra da separação de poderes (ADI n. 2.213).

20
“Conforme entendimento consolidado da Corte, os requisitos constitucionais legitimadores da edição
de medidas provisórias, vertidos nos conceitos jurídicos indeterminados de ‘relevância’ e ‘urgência’ (art. 62 da
CF), apenas em caráter excepcional se submetem ao crivo do Poder Judiciário, por força da regra da separação
de poderes (art. 2.º da CF) (ADI n. 2.213, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 23.04.2004; ADI n. 1.647, Rel. Min.
Carlos Velloso, DJ de 26.03.1999; ADI n. 1.753-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 12.06.1998; ADI n.
162-MC, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 19.09.1997)” (ADC 11- MC, voto do Min. Cezar Peluso, j. 28.03.2007,
DJ de 29.06.2007).
75

93. Decretos regulamentares expedidos pelo Executivo podem ser objeto de controle de
constitucionalidade?

Como regra geral, NÃO. Tais atos não são revestidos de autonomia jurídica a fim de qualificar-
se como atos normativos suscetíveis de controle.

Trata-se de questão de legalidade, sendo tais atos, portanto, ilegais e não inconstitucionais.

O STF chamou de crise de legalidade, caracterizada pela inobservância do dever jurídico de


subordinação normativa à lei, escapando das balizas previstas na Constituição Federal (STF, Pleno,
ADI 264/DF)

É dizer que, nesses casos, se fosse admitido, o objeto do controle de constitucionalidade seria
um ato secundário, e não a lei ou ato normativo primário – pressuposto necessário para o controle.

O STF não admite controle de inconstitucionalidade pela via indireta, reflexa ou oblíqua
quanto pautado em ato normativo secundário – exige fundamento em ato normativo primário. (ADI
996-MC)

94. Decretos Autônomos podem ser objeto de controle de constitucionalidade?

Em caráter de exceção, o STF tem admitido o controle de constitucionalidade na hipótese


de decretos autônomos que não se prestam a regulamentar a lei, mas a inovar do ponto de vista
normativo: “Estão sujeitos ao controle de constitucionalidade concentrado os atos normativos,
expressões da função normativa, cujas espécies compreendem a função regulamentar (do Executivo),
a função regimental (do Judiciário) e a função legislativa (do Legislativo). Os decretos que veiculam
ato normativo também devem sujeitar-se ao controle de constitucionalidade exercido pelo Supremo
Tribunal Federal. O Poder Legislativo não detém o monopólio da função normativa, mas apenas de
uma parcela dela, a função legislativa” (ADI 2.950-AgR, Rel. p/ o acórdão Min. Eros Grau, j. 06.10.2004,
DJ de 09.02.2007).

95. Resolução do CNJ ou do CNMP podem ser objeto de controle de constitucionalidade?


76

O CNJ e o CNPM, órgãos de controle administrativo e financeiro do Poder Judiciário e do


Ministério Público, foram introduzidos pela EC nº 45 (Reforma do Poder Judiciário), os quais, no
exercício de suas respectivas atribuições, podem editar resoluções.

Algumas delas, porque dotadas dos atributos da generalidade, da impessoalidade e da


abstração – tais como as resoluções que vedam o nepotismo e sobre a habilitação e celebração do
casamento ou união estável entre pessoas do mesmo sexo, pode ser tidas como atos normativos
primários, inovando na ordem jurídica, a, portanto, podem ser objeto de controle concentrado por
meio de ADI genérica.

A par disso, o STF firmou entendimento pela impossibilidade de mandado de segurança para
questionar tais resoluções - com natureza de ato normativo primário, conforme Súmula nº 266, uma
vez que, analogicamente, se estar-se-ia diante de “lei em tese”.

96. O que se entende por fossilização constitucional?

Como regra, o efeito vinculante das decisões proferidas em sede de ADI e ADC não atinge o
Poder Legislativo no exercício de sua função típica de legislar21.

Essa não vinculação se justifica pois, a contrário senso, seria o mesmo que admitir a ocorrência
do inconcebível fenômeno da fossilização da Constituição, ficando o legislador “engessado” no
entendimento do STF sobre uma matéria, subtraindo do parlamento sua principal vocação: exprimir
a soberania popular outorgada pelo voto por meio da elaboração de leis.

PEDRO LENZA se posiciona no mesmo sentido: “O Legislativo, assim, poderá, inclusive, legislar
em sentido diverso da decisão dada pelo STF, ou mesmo contrário a ela, sob pena, em sendo vedada
essa atividade, de significar inegável petrificação da evolução social. Isso porque o valor segurança
jurídica, materializado com a ampliação dos efeitos erga omnes e vinculante, sacrificaria o valor
justiça da decisão, já que impediria a constante atualização das Constituições e dos textos normativos
por obra do Poder Legislativo. A mesma orientação poderá ser adotada, também, para o efeito
vinculante da súmula, que, em realidade, possui idêntica significação prática em relação ao efeito
vinculante do controle concentrado de constitucionalidade”.

21
LENZA estende essa não vinculação por órgãos do Judiciário e Executivo quando no exercício de
função atípica normativa – edição de MP pelo Presidente da República.
77

97. Fale sobre a competência para processar e julgar as ADI´s.

A definição da competência para processar e julgar as ADI´s será definida a partir da análise do
objeto da ação (norma impugnada), ou seja, se lei ou ato normativo federal, estadual, distrital ou
municipal, à luz do parâmetro abstrato de confronto – CF, CE ou Lei Orgânica do DF (status de CE),
ou qualquer outro preceito com força normativa constitucional (ampliação pela ideia do bloco de
constitucionalidade).

Lei ou ato normativo federal ou estadual impugnada em face da CF/88: conforme artigo 102, I,
da CF/88, defere ao STF a competência para ADI, em sede de controle concentrado, mediante ação
a ser proposta diretamente perante a Suprema Corte.

Lei ou ato normativo estadual ou municipal impugnada em face da Constituição Estadual:


conforme artigo 102, I, da CF/88, defere ao Tribunal de Justiça do Estado (TJ) a competência para
ADI, em sede de controle concentrado, mediante ação a ser proposta diretamente perante a
Suprema Corte.

Lei ou ato normativo municipal impugnada em face da Lei Orgânica: nesse caso não haverá
controle de constitucionalidade, mas simples controle de legalidade, cujas regras serão previstas na
própria LOM.

98. É possível controle concentrado no STF de lei municipal contestada em face da CF/88?

Por expressa disposição constitucional, inexiste controle concentrado por ADI genérica,
podendo a situação de inconstitucionalidade ser analisada pela via difusa, acessando o STF por meio
de recurso extraordinário.

Nesse ponto, houve na CF/88 o que se denomina por “silêncio eloquente” para traduzir uma
regra: não cabe ADI com objeto em lei municipal em face da CF.

Em se tratando de lei ou ato normativo municipal que contrariar a CF/88, apesar de inexistir
controle concentrado pelo STF, haverá, contudo, a possibilidade de ajuizamento da arguição de
descumprimento de preceito fundamental – ADPF, tendo por objeto lei municipal confrontada
perante a CF, sendo julgada originariamente pelo STF.
78

99. É possível ADI de lei municipal cujo fundamento seja a violação de normas da CF/88
de reprodução obrigatória pelos Estados?

O STF estabeleceu a seguinte tese, excepcionando a regra geral acima exposta: “é


constitucional o exercício pelos Tribunais de Justiça do controle abstrato de constitucionalidade de
leis municipais em face da Constituição da República, quando se tratar de normas de reprodução
obrigatória pelos Estados-membros”. [ADI 5.646 (j. 07.02.2019)]

100. Quando se dá o início da eficácia da decisão de procedência proferida em ADI?

O STF entende que a decisão passa a valer a partir da publicação da ata de julgamento no DJE,
sendo desnecessário aguardar o trânsito em julgado, salvo nos casos excepcionais a serem
examinados pelo Presidente do Tribunal, de maneira a garantir a eficácia da decisão.

O efeito da decisão passa a valer, inclusive para eventual interposição de reclamação, a partir
da publicação da ata de julgamento no DJE.

101. Fale sobre o princípio da parcelaridade na declaração de inconstitucionalidade.

É a possibilidade de o STF julgar parcialmente procedente o pedido de declaração de


inconstitucionalidade, retirando apenas uma expressão, palavra, diferentemente do que se dá com
ao VETO PARCIAL presidencial, o qual deverá ser integral – artigos, incisos e parágrafos.

É dizer que, no controle de constitucionalidade REPRESSIVO, será possível expurgar do texto


normativo impugnado apenas uma expressão ou palavra (parcelaridade), mantendo-se o restante do
texto intocável, válido e vigente.

É denominada interpretação com redução de texto, a exemplo do que ocorreu na ADI 1227-
8, que suspendeu a eficácia da expressão “desacato” do art. 7º, § 2.º, do Estatuto dos Advogados.

Outro caso foi na ADI 5855 (j. 10/04/2019), em que o STF declarou a nulidade parcial com
redução de texto da expressão “independe de homologação” prevista no art. 29, § 4º, da Lei nº
6.015/73, o que significa dizer que, para o RCPN poder prestar outros serviços, desde que conexos,
deve firmar convênios com órgãos públicos ou entidades interessadas, devendo tais convênios
79

serem homologados pelo Poder Judiciário (ao contrário do que previa a lei), por expressa exigência
constitucional.

Quadro-resumo:
✓ Controle de constitucionalidade repressivo
o Pode ser parcial: pode declarar inconstitucionalidade de apenas uma
expressão ou palavra (princípio da parcelaridade). É a interpretação com
redução de texto.
✓ Veto Presidencial
o Deve ser integral: não pode vetar uma palavra ou expressão, deve vetar a
integralidade de um artigo, parágrafo, inciso ou alínea.

102. Fale sobre a inconstitucionalidade sem redução de texto.

Trata-se de técnica de julgamento do controle de constitucionalidade.

Quando o STF declara que, o vício de inconstitucionalidade, está em aplicar a lei em um


determinado sentido interpretativo. Nesse caso, caberá à Suprema Corte indicar qual é a
interpretação conforme, a qual não induzirá à inconstitucionalidade.

Com essa técnica de redução interpretativa, o órgão jurisdicional competente para o controle
de constitucionalidade declara a inconstitucionalidade de algumas interpretações possíveis do texto
legal impugnado, sem, contudo, suprimir ou alterá-lo literalmente, apenas cesurando uma ou
algumas interpretações por considerá-las inconstitucionais.

103. Há repristinação no controle de constitucionalidade?

O STF utiliza a expressão EFEITO REPRISTINATÓRIO (cf. ADI 2.215-PE, medida cautelar, Rel.
Min. Celso de Mello, Inf. 224/STF) da declaração de inconstitucionalidade.

Isso porque, se a lei é nula, ela nunca teve eficácia. Se nunca teve eficácia, nunca revogou
nenhuma norma. Se nunca revogou nenhuma norma, aquela que teria sido supostamente “revogada”
continua tendo eficácia. Esse é o efeito repristinatório da decisão.
80

Não se pode confundir “efeito repristinatório da declaração de inconstitucionalidade” com


“repristinação da norma”. A repristinação, nos termos do art. 2.º, § 3.º, da LINDB, salvo disposição em
contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência, ou seja, precisa
de pedido expresso desta terceira lei (que revoga a lei revogadora da lei inicial).

Assim, pode existir repristinação da norma anteriormente revogada no Brasil apenas na


hipótese em que for expressamente consignada tal circunstância na lei que revoga o diploma
revogador da lei que irá repristinar.

LEGITIMADOS

104. Quem são os legitimados para propor a ação direta de inconstitucionalidade e a


ação declaratória de constitucionalidade?

Conforme o artigo 103 da CF/88, podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação
declaratória de constitucionalidade: I – o Presidente da República; II – a Mesa do Senado Federal; III -
a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa
do Distrito Federal; V – o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI – o Procurador-Geral da
República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com
representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito
nacional.

O Supremo Tribunal Federal criou uma classificação dividindo os referidos legitimados em


legitimados universais e legitimados especiais.

• Legitimados Universais: São aqueles que podem questionar qualquer lei ou ato
normativo. São eles: o Presidente da República, a Mesa do Senado Federal, a Mesa da
Câmara dos Deputados, o Procurador-Geral da República, o partido político com
representação no Congresso Nacional e o Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil.
• Legitimados Especiais: São aqueles que teriam que comprovar a pertinência temática.
Eles precisariam provar que o objeto impugnado viola algum interesse do grupo ou
classe que representam. São eles: a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara
Legislativa do Distrito Federal, o Governador de Estado ou do Distrito Federal, a
confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
81

105. No controle concentrado de constitucionalidade, há necessidade de advogado?

O STF entendeu que somente aos partidos políticos e as confederações sindicais ou


entidades de classe de âmbito nacional impõe-se a necessidade de advogado para a propositura
da ADI (art. 103, VIII e IX), devendo, no instrumento do mandato (procuração — art. 653, CC), haver a
outorga de poderes específicos para atacar a norma impugnada. (ADI 2.187-QO)

Quanto aos demais legitimados (art. 103, I-VII), a capacidade postulatória decorre da
Constituição.

106. O que ocorre no caso de perda de representação do partido político no


Congresso Nacional, após o ajuizamento da ADI?

O STF decidiu que a perda de representação do partido político no Congresso Nacional,


após o ajuizamento da ADI, não descaracteriza a legitimidade ativa para o prosseguimento na
ação. Entendeu que “... a aferição da legitimidade deve ser feita no momento da propositura da
ação...” (ADI 2.159 AgR/DF, Rel. orig. Min. Carlos Velloso, Rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes,
12.08.2004.).

107. No contexto do controle abstrato de constitucionalidade em nível estadual, na


hipótese de ajuizamento de ADI pelo Prefeito, como será feita a qualificação na legitimação
ativa? Em nome do Município ou do agente político?

Inicialmente, vale destacar que a CF/88 não estabeleceu os legitimados, apenas vedou a
atribuição desse controle a um único órgão, como se vê: “CF/88. Art. 125. §2º Cabe aos ESTADOS a
instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou
municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único
órgão”.

Por isso, cabe aos Estados, no exercício do Poder Constituinte Derivado Decorrente, respeitar
os parâmetros gerais fixados na CF/88, e, em homenagem à simetria constitucional, indicar como
legitimados, a depender da qualidade do ato normativo ou lei impugnada (estadual ou municipal):
82

– Governador de Estado ou Prefeito.

– Mesa da Assembleia Legislativa ou Mesa da Câmara Municipal.

– Conselho Seccional da OAB.

– Partido político com representação na Assembleia Legislativa.

– Federação sindical.

– Entidade de classe em âmbito estadual.

Desse modo, forçoso destacar que o Município é ente político, ao lado da União, dos Estados
e do DF, sendo uma pessoa jurídica de direito público interno, não confundindo-se com a pessoa do
agente político que, transitoriamente, ocupa o mandato de Prefeito, o qual, ope legis, é o
representante legal do município.

Assim, para respeitar a simetria constitucional, é legitimado para propor ADI/ADC no âmbito
estadual a figura do PREFEITO, tal como é legitimado no âmbito federal o Presidente da República
e os Governadores, todos Chefes do Poder Executivo, cada qual em sua esfera de representação.

Desse modo, tem-se que a CF/88 não deferiu legitimidade ativa aos Estados ou à União,
enquanto entes políticos – o que se infere que não deferiu também legitimidade aos Municípios no
âmbito estadual –, de modo que, para o controle concentrado de constitucionalidade, não cabe fazer
interpretação extensiva ou analógica.

Portanto, a petição inicial deverá ser qualificada em nome do PREFEITO como o autor da ADI,
dispensando-se, inclusive, instrumento de mandato ou mesmo representação pela procuradoria ou
por advogado.

AMICUS CURIAE

108. Fale sobre o amicus curiae. (TJPR/Cartórios/2021)

A concepção sobre o AMICUS CURIAE parte da teoria defendida por Peter Haberle (“sociedade
aberta dos intérpretes da Constituição”), de que a interpretação não pode ficar restrita aos órgãos
estatais, devendo ser aberta a todos os agentes destinatários da norma, estabelecendo um processo
de revisão da metodologia jurídica tradicional de interpretação constitucional.
83

Nessa esteira surge, em tradução literal do latim, o “amigo da corte”. É alguém que, mesmo
sem a qualidade de parte, em razão de sua representatividade, é chamado ou se disponibiliza para
intervir em processo de cunho relevante para a sociedade.

A lei que regulamenta o processo e julgamento da ADI (Lei nº 9.868/99) veda a intervenção
de terceiros nos processos de controle concentrado. Todavia, há previsão no sentido de que o
relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá
admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros órgãos ou entidades.

Serão exigidos dois requisitos: relevância da matéria E representatividade dos postulantes.

A jurisprudência do STF vem fixando direitos do amicus curiae a partir de sua admissão,
deferindo-lhe, inclusive, o direito à sustentação oral.

Assim, seja na ADI, seja na ADC, será possível admitir o terceiro amicus curiae.

Igualmente, também caberá o amicus curiae na ADPF, conforme expressa previsão da Lei nº
9.882/99, e na ADO (art. 12-E, da Lei nº 9.868/99)

109. Uma pessoa natural pode ser admitida como amicus curiae?

Inicialmente, vale registrar que o STF não admitia o ingresso de pessoa física como amicus
curiae, tal como decidiu na ADI 4.178/GO: “... 4. Não assiste razão ao pleito de (...), que requerem
admissão na condição de amici curiae. É que os requerentes são pessoas físicas, terceiros
concretamente interessados no feito, carecendo do requisito de representatividade inerente à
intervenção prevista pelo art. 7.º, § 2.º, da Lei n. 9.868, de 10.11.1999, o qual, aliás, é explícito ao
admitir somente a manifestação de outros ‘órgãos ou entidades’ como medida excepcional”.

Todavia, o CPC/15, no artigo 138, trouxe a possiblidade: “Art. 138. O juiz ou o relator,
considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão
social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de
quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a manifestação de pessoa natural ou jurídica, órgão
ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de quinze dias da sua
intimação”.

110. Qual a natureza jurídica do amicus curiae?


84

O STF, na ADI 2.581, localizou o amicus curiae como um “colaborador informal da Corte”, não
sendo, tecnicamente, hipótese de intervenção na qualidade de um terceiro interessado.

Por isso, como um mero colaborador informal, o amicus curiae não está legitimado para
recorrer das decisões proferidas em ação direta” (DJ de 18.04.2002).

No julgamento do RE 602.584 (17.10.2018), o STF reafirmou não ser parte o amicus curiae,
mas um agente colaborador: “Portanto, sua intervenção é concedida como privilégio, e não como
uma questão de direito. O privilégio acaba quando a sugestão é feita” (Inf. 920/STF).

AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE (ADC)

111. Qual a finalidade da ADC? (TJPR/Cartórios/2021)

A Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) foi introduzida no ordenamento jurídico


pátrio apenas no ano 1.993, pela EC n. 3, tendo seu processamento e julgamento regulamentados
pela Lei nº 9.868/99.

O objetivo da ADC, tal como o próprio nome diz, é a declaração de constitucionalidade de


lei ou ato normativo FEDERAL.

Toda lei ou ato normativo editado pelo poder público presume-se constitucional. Todavia, tal
presunção é relativa, admitindo prova em contrário, sendo declarada a constitucionalidade, quando
necessária, através de mecanismos como a ADI genérica – improcedente, ou mesmo no controle
difuso.

Assim, o objetivo da ADC é transformar a presunção relativa de constitucionalidade em


absoluta, não mais admitindo prova em contrário. Julgada procedente, a decisão vinculará os demais
órgãos do Poder Judiciário e a Administração Pública, os quais não poderão declarar a
inconstitucionalidade da lei objeto da ADC, ou mesmo, agir em desconformidade com a decisão
vinculativa do STF.

Em síntese, a ADC visa o reconhecimento definitivo e absoluto da constitucionalidade da


norma, afastando eventual insegurança jurídica quanto a sua aplicabilidade, preservando assim a
ordem jurídica constitucional.

112. O que significa ambivalências das ações do controle de constitucionalidade?


85

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) e a Ação Declaratória de Constitucionalidade


(ADC) são ações de mesma natureza. Elas possuem caráter dúplice ou ambivalente. Por este
motivo, no caso de uma mesma lei ser objeto de uma ADI e de uma ADC elas serão reunidas e
deverão ser julgadas em conjunto. Com isso, uma será julgada procedente e outra julgada
improcedente.

113. Qual é o requisito de admissibilidade na Ação Declaratória de Constitucionalidade


(ADC)?

A Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) possui um requisito de admissibilidade: a


existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação
declaratória. A controvérsia não pode ser meramente doutrinária, é necessário que ela seja judicial,
e necessita ser efetiva, não bastando ser potencial.

ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF)

114. Fale sobre o caráter subsidiário da ADPF.

Conforme a Lei nº 9.882/1999, que dispõe sobre o processo e julgamento da Arguição de


Descumprimento de Preceito Fundamental, a ADPF não será admitida quando houver qualquer outro
meio de sanar a lesividade (artigo 4º, § 1º).

Portanto, a ADPF possui um requisito essencial: caráter subsidiário, em que não será admitida
ADPF quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.

Sobre esse “outro meio eficaz de sanar a lesividade” o Supremo Tribunal Federal interpreta no
sentido de que o meio deve ter a mesma imediaticidade, amplitude e efetividade da ADPF. Para o
STF o meio não precisa ser necessariamente o instrumento de controle abstrato, basta que ele
substitua aquilo que a ADPF poderia fazer. Nesse sentido, verifica-se como exemplo a decisão da
ADPF 128/DF, pelo qual possuía como objeto uma súmula vinculante. O STF decidiu que existia o
pedido de cancelamento ou revisão de súmula vinculante, pelo qual se trata de um mecanismo que
86

tem a mesma imediaticidade, amplitude e efetividade da ADPF, de forma a não se observar o caráter
subsidiário da ADPF.

115. Cabe ADPF contra decisão judicial transitada em julgado?

O STF já decidiu que “Não cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF)
contra decisão judicial transitada em julgado. Este instituto de controle concentrado de
constitucionalidade não tem como função desconstituir a coisa julgada”. STF. Decisão monocrática.
ADPF 81 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 27/10/2015 (Info 810).

116. Fale sobre o objeto da ADPF.

Caberá ADPF em duas modalidades: arguição autônoma – para evitar (caráter preventivo) ou
reparar lesão (repressivo) a preceito fundamental, resultante de ato do poder público; ou em forma
incidental – quando relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato
normativo federal, estadual ou municipal, incluído os anteriores à Constituição.

117. O que significa preceito fundamental?

Nem a Constituição, tampouco a lei regulamentadora da ADPF definiu o conceito de preceito


fundamental, cabendo tal tarefa à doutrina e ao STF.

PEDRO LENZA, citando o Professor Cássio Juvenal Faria, ensina que preceitos fundamentais
seriam aquelas “normas qualificadas, que veiculam princípios e servem de vetores de
interpretação das demais normas constitucionais, por exemplo, os ‘princípios fundamentais’ do
Título I (arts. 1.º ao 4.º); os integrantes da cláusula pétrea (art. 60, § 4.º); os chamados princípios
constitucionais sensíveis (art. 34, VII); os que integram a enunciação dos direitos e garantias
fundamentais (Título II); os princípios gerais da atividade econômica (art. 170); etc.”.

Para LAMMEGO BULOS “qualificam-se de fundamentais os grandes preceitos que informam o


sistema constitucional, que estabelecem comandos basilares e imprescindíveis à defesa dos pilares
da manifestação constituinte originária”.
87

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO (ADO)

118. Fale sobre a ADO.

Inovação trazida pela CF/88, inspirada na Constituição Portuguesa. Denominada também de


“síndrome de inefetividade das normas constitucionais”. A ADO está prevista no artigo 103, § 2º da
CF/88, o qual dispõe que “Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar
efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências
necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias”.

A Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) trata-se de uma ação pertinente
para tornar efetiva norma constitucional em razão de omissão de qualquer dos Poderes ou de
órgão administrativo por falta de lei regulamentadora. Assim, o objeto da ADO é provocar o
Poder Judiciário para que este reconheça a demora na produção da norma regulamentadora.

119. O que se entende por síndrome de inefetividade das normas constitucionais de


eficácia limitada?

A ADO, juntamente com o Mandado de Injunção servem para combater a síndrome de


inefetividade das normas constitucionais de eficácia limitada. A síndrome da inefetividade, de
acordo com a doutrina, deriva da omissão legislativa em regulamentar direitos previstos na
Constituição Federal, mas que dependem de norma regulamentadora para a sua efetivação.

Dessa forma, como instrumento de combate a esta síndrome se tem as ações diretas de
inconstitucionalidade por omissão.

REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA

120. Fale sobre a Representação Interventiva.


88

A Representação Interventiva origina-se a partir da Constituição de 1.934, tratando-se da


mais antiga ação do controle concentrado existente no ordenamento pátrio, que, em linhas gerais,
visa assegurar a observância de alguns princípios constitucionais – denominados “sensíveis” -,
tendo como legitimado para sua utilização o Procurador-Geral da República.

A Lei nº 12.562/2011 disciplina o processo e o julgamento da representação interventiva –


indicada pela sigla “IF” (intervenção federal) no sistema de cadastro do STF, denominada pela
doutrina de Ação Direita de Inconstitucionalidade Interventiva (ADI interventiva).

A despeito da nomenclatura legal “representação interventiva”, parte importante da doutrina


entende que se trata efetivamente de uma ação a ser ajuizada pelo PGR, junto ao STF, nas
hipóteses em que houver violação a um dos princípios previstos no art. 34, VI, da CF/88, tendo dois
objetivos: a) Declarar um ato ou omissão inconstitucional; b) Decretar a intervenção.

Diferentemente das demais espécies do controle concentrado, a ADI interventiva questiona


a constitucionalidade não de lei ou ato normativo federal ou estadual, mas QUALQUER ATO ou
OMISSÃO do Poder Público.

CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE NOS ESTADOS

121. É possível controle abstrato de constitucionalidade em nível estadual?

O art. 125, § 2.º, da CF/88 estabelece que cabe aos Estados a instituição de representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição
Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.

É dizer, o legislador constituinte previu a possibilidade do controle abstrato de


constitucionalidade em nível estadual.

Apenas leis ou atos normativos estaduais ou municipais quando em confronto com a


Constituição Estadual poderão ser objeto de controle abstrato. Assim, o parâmetro abstrato para
confronto será a Constituição Estadual.

A competência para processar e julgar será do Tribunal de Justiça local.

Vale ressaltar que a norma constitucional não estabeleceu os legitimados, apenas vedou a
atribuição desse controle a um único órgão. Por isso, cabe aos Estados, no exercício do poder
constituinte derivado decorrente, respeitar os parâmetros gerais fixados na CF/88, e, em homenagem
89

à simetria constitucional, indicar como legitimados, a depender da qualidade do ato normativo ou lei
impugnada (estadual ou municipal): Governador de Estado ou Prefeito; Mesa da AL ou Mesa da
Câmara Municipal; Conselho Seccional da OAB; Partido político com representação na AL;
Federação sindical; Entidade de classe em âmbito estadual.

ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS AUTÔNOMOS (TCU, CNJ e CNMP)

122. Os “órgãos administrativos autônomos” podem realizar controle de


constitucionalidade?

A atuação dos denominados órgãos administrativos de controle – CNJ, TCU, e CNMP – no


controle de constitucionalidade tem gerado bastante celeuma na doutrina e na jurisprudência. Isso,
especialmente, em face do teor da Súmula nº 347, do STF, a qual determinava que “o Tribunal de
Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do
poder público”.

Inicialmente, vale registrar que tais órgãos administrativos não exercem jurisdição, ou seja,
não detém competência jurisdicional para apreciar qualquer matéria em caráter definitivo, com
efeito de coisa julgada. Assim, ainda que afastem a aplicação de determinada norma com base em
virtual incompatibilidade com o parâmetro abstrato (CF; CE), tal decisão será passível de impugnação
na esfera jurisdicional.

Outra informação relevante é a de que a Súmula nº 347, do STF, que autoriza a apreciação da
constitucionalidade das leis pelo TCU no exercício de suas funções, data de 1963, época em que
inexistia o controle concentrado de leis e atos normativos. Por tal motivo, há quem critique a sua
aplicabilidade atualmente, mormente por conta da substancial alteração no sistema de controle
concentrado e difuso de constitucionalidade a partir de 1988.

Sobre o tema, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, por maioria de votos, na sessão virtual
finalizada em 12/4/202122 (MS 35410), seguindo o voto do relator da matéria, ministro Alexandre de
Moraes, determinou que o Tribunal de Contas da União, na análise de aposentadorias e pensões
submetidas à sua apreciação, não pode afastar a incidência de dispositivos da Lei nº 13.464/2017
que preveem o pagamento do bônus de eficiência e produtividade aos servidores da carreira

22
Portal Notícias STF. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=464124&ori=1
90

Tributária e Aduaneira da Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho. O TCU


considerou inconstitucional o pagamento do bônus aos inativos, porque não incide sobre a parcela
o desconto da contribuição previdenciária, se baseando no argumento de que essa competência lhe
é atribuída pela Súmula 347 do STF a qual dispõe que “o Tribunal de Contas, no exercício de suas
atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público”.

Contudo, no entendimento do relator, não cabe à Corte de Contas, que não tem função
jurisdicional, exercer o controle de constitucionalidade nos processos sob sua análise com
fundamento nesse enunciado.

Para o ministro Alexandre de Moraes, relator da matéria, a subsistência da Súmula 347 do STF
está comprometida desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. Além disso, ressaltou
que o TCU é um órgão técnico de fiscalização contábil, financeira e orçamentária, com competência
funcional claramente estabelecida no artigo 71 da Constituição Federal. Entendeu que ao declarar
incidentalmente a inconstitucionalidade de dispositivos da Lei nº 13.464/2017 aos casos concretos
submetidos à sua apreciação, a corte de contas, na prática, retira a eficácia da lei e acaba
determinando aos órgãos da administração pública federal que deixem de aplicá-la aos demais casos
idênticos, extrapolando os efeitos concretos e entre as partes de suas decisões. Com isso, estaria
usurpando competência exclusiva do STF. O ministro considerou ainda que o entendimento do TCU
afronta as funções do Legislativo, responsável pela produção das normas jurídicas, gerando um
“triplo desrespeito” à Constituição.

Assim, pode-se concluir que os órgãos administrativos autônomos (CNJ, CNMP e TCU), não
podem usurpar o exercício da função jurisdicional de controle de constitucionalidade, isto é, eles
estão impedidos de realizar controle de constitucionalidade. Permitir que referidos órgãos usurpem
da função jurisdicional de controle de constitucionalidade, acarretaria um triplo desrespeito à
CF/88, tendo em vista que atentaria contra o Poder Legislativo, que é o responsável por editar as
leis; o Poder Judiciário, que detém as competências jurisdicionais; bem como contra o Supremo
Tribunal Federal, que é aquele que declara a constitucionalidade ou inconstitucionalidade das leis
ou atos normativos, de forma geral e vinculante.

Assim, com base na referida decisão do STF no MS 35410 (Plenário 12/04/2021), a


Constituição Federal não permite aos órgãos administrativos autônomos realizarem controle
de constitucionalidade de normas no âmbito de seus processos administrativos.

Súmula 347-STF: O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições,


pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder público. •
Aprovada em 13/12/1963. • SUPERADA.
91

6. O PRINCÍPIO DA MORALIDADE NA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL.

123. Fale sobre o princípio da moralidade na Constituição do Brasil.

O princípio da moralidade impõe aos agentes públicos o dever de observar a moralidade


administrativa. Da própria atividade interna da Administração é que se retira a moralidade
administrativa. Como princípio jurídico que é, a moralidade administrativa gera, obviamente, efeitos
jurídicos.

Trata-se de um princípio jurídico que tem por base o respeito a padrões éticos, de boa--fé,
decoro, lealdade, honestidade e probidade na prática diária de boa administração.

Ele serve como referência para comunicar o que é lícito e o que é ilícito, e não o que é bom e o
que é mau. Dessa forma, o princípio da moralidade administrativa anda sempre ao lado do princípio
constitucional da boa-fé, uma vez que a boa-fé é um componente implícito da moralidade.

Como exemplo, a Administração Pública não pode agir de má-fé, e ao mesmo tempo, cumprir
o princípio da moralidade administrativa.
92

7. ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO

PREÂMBULO

124. Qual a natureza jurídica do preâmbulo? Tem relevância jurídica?

Muito se discute sobre a natureza jurídica do preâmbulo. A doutrina se refere a três posições:

• Tese da irrelevância jurídica: o preâmbulo situa-se no domínio da política. Para eles o


preâmbulo não possui relevância jurídica;
• Tese da plena eficácia: o preâmbulo tem a mesma eficácia jurídica das normas
constitucionais, sendo, porém, apresentado de forma não articulada;
• Tese da relevância jurídica indireta: ponto intermediário entre as duas, já que, muito
embora participe “das características jurídicas da Constituição”, não deve ser
confundido com o articulado.

Segundo o Ministro Carlos Velloso, Relator da ADI 2.076, “o preâmbulo ... não se situa no âmbito
do Direito, mas no domínio da política, refletindo posição ideológica do constituinte (...). Não contém
o preâmbulo, portanto, relevância jurídica. O preâmbulo não constitui norma central da
Constituição, de reprodução obrigatória na Constituição do Estado-membro. O que acontece é
que o preâmbulo contém, de regra, proclamação ou exortação no sentido dos princípios inscritos na
Carta (...). Esses princípios sim, inscritos na Constituição, constituem normas centrais de reprodução
obrigatória, ou que não pode a Constituição do Estado-membro dispor de forma contrária, dado que,
reproduzidos, ou não, na Constituição estadual, incidirão na ordem local...”. Julgamento na ADI
2.076-AC, Rel. Min. Carlos Velloso, 15.08.2002, DJ, 08.08.2003, e Infs. STF ns. 277/2002 e 320/2003,
08 a 12.12.2003.

ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS (ADCT)

125. Qual a finalidade do ADCT? Qual a natureza jurídica do ADCT?


93

O ADCT tem como finalidade estabelecer regras de transição entre o antigo ordenamento
jurídico e o novo, instituído pela manifestação do poder constituinte originário. Assim, ele
providencia a acomodação e a transição do antigo e do novo direito edificado.

LENZA23 explica que, “diante de sua eficácia temporária (essa a ideia das disposições de
transição), após produzirem os seus efeitos, ou diante do advento da condição ou termo
estabelecidos, esgotam-se, tornando-se normas de eficácia exaurida. Nesse momento, aponta
José Afonso da Silva, a norma do ADCT que se esgotou “... não é mais norma jurídica, mas simples
proposição sintática, com valor meramente histórico”, não mais se restabelecendo. Daí, Raul
Machado Horta conclui que “norma permanente nas Disposições Transitórias é norma anômala
(...)”. O autor24 acrescenta que “essa sistemática, contudo, vem sendo desvirtuada pelo constituinte
reformador, que, por vezes, introduziu, por emenda ao ADCT, normas permanentes, sem qualquer
conteúdo de direito intertemporal e sem qualquer conexão com o momento de transição, em total
atecnia legislativa, como, por exemplo, o seu art. 96 (acrescentado pela EC n. 57/2008), que, de modo
inconstitucional (e, por que não dizer, imoral), convalidou a criação de municípios em total violação
ao art. 18, § 4.º, da CF/88”.

No que se refere à natureza jurídica das disposições do ADCT, a doutrina ensina que o ADCT,
tem natureza jurídica de norma constitucional e poderá, portanto, trazer exceções às regras
colocadas no corpo da Constituição.

Por este motivo, isto é, em virtude de sua natureza constitucional, a alteração das normas do
ADCT ou o acréscimo de novas regras dependerão da manifestação do poder constituinte derivado
reformador, ou seja, necessariamente por meio de emendas constitucionais, que, por sua vez,
deverão observar os limites ao poder de reforma. Assim, essas disposições novas estabelecidas por
emenda serão suscetíveis ao controle de constitucionalidade.

Ademais, as disposições do ADCT servirão de parâmetro ou paradigma de confronto para a


análise da constitucionalidade dos demais atos normativos.

23
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 393.
24
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página 394.
94

8. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA BRASILEIRA.

FUNDAMENTOS DA RFB

126. Quais são os fundamentos da República Federativa do Brasil?

Doutrinariamente é consenso que o artigo 1º da CF/88, traz os fundamentos da República


Federativa do Brasil: “CF/88. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político”.

• Soberania: é o poder do Estado na ordem interna, sendo superior a todos os outros


poderes existentes internamente, e, no âmbito internacional, faz com que o Brasil se
encontre em nível de equivalência com outros Estados soberanos e independentes.
• Cidadania: no sentido abrangente significa o incentivo e viabilização da participação
social e política dos cidadãos, para além de mera garantia de direitos positivos.
• Dignidade da pessoa humana: o Estado brasileiro se funda essencialmente na pessoa
humana, primariamente, em caráter inaugural do texto, sendo que a propriedade e
outros bens jurídicos exsurgem posteriormente a sua fixação.
• Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa: o Brasil é um país capitalista -
atualmente em sua vertente financeira, “do dinheiro pelo dinheiro”. Todavia, o valor
social do trabalho refere-se à pessoa humana, de modo que, em eventual conflito,
prevalecerá esse último valor.
• Pluralismo político: a CF é fruto de um conjunto de ideologias, sendo, portanto,
eclética, fazendo com que a coletividade tenha a garantia de participação em suas mais
diversas facetas sociais, culturais e ideológicas na formação da vontade legislativa.

127. A dignidade da pessoa humana pode ser utilizada como fundamento de uma decisão
judicial?

O STF consolidou que a dignidade da pessoa humana é princípio supremo, “significativo


vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento
95

constitucional vigente em nosso País e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que
se assenta, entre nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema de direito
constitucional positivo. ”

Dentre outros julgados, a Corte Suprema baseou-se nesse postulado para decidir temáticas
importantes e controversas na interpretação das normas constitucionais, dentre elas:

• Considerou legítima a união homoafetiva como entidade familiar, em razão do


princípio da dignidade da pessoa humana e do direito à busca pela felicidade.
• Considera que não ofende o direito à vida e a dignidade da pessoa humana a pesquisa
com células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por
fertilização “in vitro” e não utilizados neste procedimento.
• Entendeu que não é possível, por violar o princípio da dignidade da pessoa humana, a
submissão compulsória do pai ao exame de DNA na ação de investigação de
paternidade.

OBJETIVOS DA RFB

128. Quais são os objetivos da República Federativa do Brasil?

O artigo 3º da CF/88 prevê os objetivos da República Federativa do Brasil: “CF/88. Art. 3º


Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade
livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

PRINCÍPIOS DA RFB NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

129. Quais são os princípios que a República Federativa do Brasil rege-se nas suas
relações internacionais?

O artigo 4º da CF/88 prevê os princípios da República Federativa do Brasil nas suas relações
internacionais: “CF/88. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
96

internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos


humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX
- cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político”.
97

9. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

130. Fale sobre os eventos históricos ligados à origem dos direitos fundamentais.

Inicialmente, há quem diga que os direitos fundamentais têm seu marco histórico na Magna
Carta de 1.215, do rei inglês João Sem Terra - quinto filho de Henrique II, não herdou nenhuma terra
aquando da morte de seu pai, fato que lhe deu o seu cognome “sem terra”.

Há época, vigorava em grande parte da Europa o costume da “primogenitura”, segundo a qual


o filho mais velho herdava todas as posses /propriedades do pai, por isso, sendo o João o quinto
filho do Rei Ricardo “Coração de Leão”, a rigor, nada herdaria de seu ascendente.

Tal posição é bastante criticada, tendo sido tal evento histórico, em verdade, um mero pacto
concessivo de privilégios, que, somente foi possível, em razão da delicada situação que o rei João se
encontrava em relação aos nobres e à Igreja, sendo a Carta Magna resultado desse imbróglio político
e de poder que estava instaurado.

Referendando a posição trazida pela crítica, ANDRE RAMOS TAVARES ensina que o texto inicial
inscrito da referida Carta contava com a expressão inaugural “Qualquer Barão…”, a qual,
posteriormente, fora alterada em vários dispositivos passando a prescrever “Qualquer homem
livre…”.

J.J. CANOTILHO, também um dos dissonantes de tal posição, atribui à Declaração Universal
dos Direitos do Homem, na França, juntamente com a Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do Homem, como sendo os dois marcos históricos da origem dos direitos fundamentais.

Tais “declarações" se originaram a partir de movimentos sociais contra absolutistas, tendo seu
nascedouro ligado à necessidade de impor limites aos poderes do Estado, com a necessária proteção
a direitos individuais do cidadão, sendo por isso denominados de direitos negativos, de defesa ou
de primeira geração.

No Séc. XX, verifica-se que não bastava somente impor barreira ao Poder Estatal, fazendo-se
imperioso demandar do Estado comportamentos positivos a fim de garantir a igualdade material
entre os cidadãos. Surgem os direitos de segunda geração: direitos sociais, culturais e econômicos,
denominados, assim, de direitos positivos ou prestacionais, consubstanciando-se numa
atividade/comportamento do Estado em favor/garantia do sujeito.
98

CONCEITO DE DIREITO FUNDAMENTAL

131. Conceitue direito fundamental.

A expressão “direitos fundamentais” em muito se aproxima da noção de direitos naturais, no


sentido de que a natureza humana seria portadora de certo número de direitos fundamentais.
Contudo, sabe-se que não há uma lista imutável dos direitos fundamentais, que variam no tempo.

DIREITO FUNDAMENTAL é o bem jurídico em si considerado, tal como o direito à liberdade


de expressão ou direito à vida, dentre tantos outros previstos na CF/88.

Os direitos fundamentais são especialmente relevantes para avaliar a legitimidade dos poderes
sociais, políticos e individuais, notadamente num Estado que ostenta o caráter democrático,
porquanto inexiste se falar em democracia sem o necessário reconhecimento e proteção dos direitos
fundamentais.

Difere-se de GARANTIA FUNDAMENTAL, que, por sua vez é o meio ou instrumento pelo qual
esse “direito fundamental” será protegido. Ex.: o mandado de segurança é garantia contra a violação
de direito líquido e certo.

Ainda, a fim de dar efetivação à garantia, surgem os REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS.

Portanto, os direitos fundamentais, as garantias fundamentais e os remédios constitucionais têm


como ponto de contato a ideia de proteção, mas diferenciam-se no tempo. Isso porque enquanto,
em um primeiro momento, há a afirmação de um direito, posteriormente é disponibilizada uma
garantia, a fim de garantir esse direito. Em um terceiro momento, nascem os remédios constitucionais
com o fim precípuo de efetivar a garantia posta.

No âmbito do direito penal, por exemplo, é afirmado pela Carta Magna o direito de locomoção.
A fim de garantir esse direito, o ordenamento prevê formalidades a serem seguidas para que seja
válida a privação desse direito (prisão provisória). Caso venha a ser violado o direito, o seu titular tem
em seu poder a possibilidade de impetração de um habeas corpus para que seja efetivada sua
garantia.

Portanto, Excelência, a todo direito constitui uma garantia que o assegura e a toda garantia
corresponde a um remédio que a torna eficaz.

Quadro-resumo:
99

✓ Direitos fundamentais: afirmação de um direito. Bem jurídico em si considerado.


o Ex: direito à liberdade de expressão, direito à vida, direito de locomoção.
✓ Garantias fundamentais: meio ou instrumento pelo qual esse “direito
fundamental” será protegido. Disponibilização de uma garantia.
o Ex: mandado de segurança é garantia contra a violação de direito líquido e
certo.
✓ Remédios constitucionais: Tem finalidade de dar efetivação à garantia.
o Ex: habeas corpus e mandado de segurança.

132. Os direitos fundamentais são autoaplicáveis?

Por expressa disposição do artigo 5º, § 1º, da CF/88, tem-se, de forma cristalina, que as normas
definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

O STF, guardião da Constituição Federal, a quem cabe dar interpretação finalística às normas
constitucionais, possui decisões corroborando a aplicação imediata dos direitos fundamentais, tal
como fez de forma expressa, quando do julgamento do RE 136.753 (impenhorabilidade da pequena
propriedade rural trabalhada pela família), bem como por ocasião do julgamento da Extradição 986,
e do MI 712 – Direito de Greve dos Servidores Públicos.

Muitos são os julgados em que a Corte Suprema referenda a aplicação imediata dos direitos
fundamentais: à intimidade (HC 71.373), à liberdade de expressão (RE 460.880), à inviolabilidade do
domicílio (ADPF 130), ao direito de o estrangeiro impetrar habeas corpus (HC 72391-QO) e etc.

A despeito disso, o tema ainda gera debates na doutrina. Inicialmente, vale frisar que a
aplicabilidade direta e imediata dos direitos fundamentais pressupõe, a rigor, a desnecessidade
de atuação dos Poderes Executivo e Legislativo na criação de norma-infralegal hábil a permitir o
exercício pleno do direito.

Nessa esteira, alguns constitucionalistas (FERREIRA FILHO) entendem que é impraticável


conferir aplicabilidade imediata às normas constitucionais que dependem de regulamentação legal,
defendendo que existem, no rol dos direitos fundamentais, normas que não são autoaplicáveis,
razão pela qual o próprio constituinte previu mecanismos para remediar a omissão legislativa –
mandado de injunção e ADI por omissão.

Já EROS GRAU sugere que os direitos fundamentais têm aplicabilidade imediata em toda e
qualquer situação, imunes a qualquer atuação legislativa ou administrativa. A CF/88 atribuiu,
100

expressamente, força máxima a esta categoria de direitos, tendo, portanto, os direitos fundamentais,
imediata exequibilidade e máximo alcance, a despeito de qualquer lacuna ou referência a
complementação legislativa superveniente.

Propondo um “meio termo”, CELSO R. BASTOS defende que as normas definidoras de direitos
e garantias fundamentais têm aplicabilidade imediata, na medida do possível. É dizer, a
aplicabilidade imediata é a regra, a qual comporta duas exceções: (i) quando a CF previu regra de
complementação legislativa; ou (ii) no caso de a aplicação imediata transformar o juiz em legislador.

133. As normas que definem os direitos fundamentais são programáticas?

Os direitos e garantias fundamentais não são meras normas programáticas ou que


originam outras normas, ao contrário, geram direitos SUBJETIVOS, CONCRETOS e
AUTÔNOMOS de aplicação direta.

Nessa linha, configuram normas de aplicação atual e independem de critérios de


oportunidade e conveniência dos Poderes Públicos. Ademais, constituem normas de estatura
superior, por se derivarem da própria Constituição, isto é, contam com a vinculação inafastável e
imediata dos Poderes Públicos.

DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS HUMANOS

134. Direito fundamental é sinônimo de direito humano?

Os conceitos de direitos fundamentais e direitos humanos tem relação de significados bastante


aproximada, uma vez que os direitos fundamentais compõem um grupo de direitos escolhidos pelo
constituinte para constar expressamente no texto da Constituição, ao passo que os “direitos
humanos” são aqueles escolhidos e protegidos por normas oriundas de documentos internacionais
- tratados, pactos e convenções.

É dizer, os DIREITOS HUMANOS têm base jusnaturalista, sendo aqueles pertencentes ao


homem universalmente considerado, existindo independentemente de qualquer previsão
normativa. São os direitos inatos à pessoa humana por conta dessa condição.
101

Os DIREITOS FUNDAMENTAIS são aqueles expressamente inscritos no texto da carta magna


projetados para as pessoas ali mencionadas, demandando positivação estatal por cada um dos
Estados. É pressuposto para sua caracterização sua fixação em uma ordem jurídica interna.

Quadro-resumo:

✓ Direitos humanos:
o Próprio do direito internacional.
o Pertencentes ao homem universalmente.
o Independem de qualquer previsão normativa.
✓ Direitos fundamentais:
o Próprio do direito interno.
o Expressamente inscritos no texto da carta magna.

DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Direitos de 1ª Geração (ou dimensão) - Liberdade

135. O que é o direito fundamental de 1ª geração/dimensão?

Surge juntamente com o Estado Liberal, no Séc. XVIII, englobando os atualmente denominados
“direitos individuais e direitos políticos”.

O princípio da liberdade, a partir de elementos indutores relacionados a direitos civis e


políticos, impuseram restrições e limitações à atuação do Estado - à época, absolutista. Assim, o
primeiro direito fundamental de que se tem notícia visava proteger a pessoa contra a prisão arbitrária
- o habeas corpus. JELLINEK tem posição contrária, sendo que, para ele, o direito fundamental
originário foi o da liberdade de religião.

No primeiro conjunto de direito estavam, além do já citado: a inviolabilidade do domicílio, a


liberdade e o segredo de correspondência. É ideia da liberdade em sua faceta negativa - conduta do
Estado.

Também pertencem à esta categoria um conjunto de liberdades de viés econômico, tais como
a liberdade de iniciativa, da atividade econômica, da escolha da profissão, bem como a liberdade de
dispor sobre a propriedade.
102

Direitos de 2ª Geração (ou dimensão) - Igualdade

136. O que é o direito fundamental de 2ª geração/dimensão?

A antiga visão do Estado monarca absolutista como um inimigo das pessoas, que justificava a
proteção da liberdade dos indivíduos, restou substancialmente alterada a partir do surgimento da
filosofia social, de modo que, agora, verifica-se uma necessidade de atuação do Estado na satisfação
das demandas coletivas.

Os direitos negativos de primeira geração já não conseguiam satisfazer as demandas sociais,


fazendo-se necessário um comportamento estatal para efetivação dos direitos em grau de
igualdade material entre as pessoas.

Surgem, então, os direitos econômicos, sociais e culturais: direitos à saúde, trabalho e


educação. São os direitos prestacionais ou positivos, que, especificamente, podem ser visualizados
na atuação do Estado ao estabelecer: direito social ao trabalho; direito à proteção contra o
desemprego; direito ao salário-mínimo, jornada de trabalho diária máxima; repouso semanal
remunerado; dentre outros.

Direitos de 3ª Geração (ou dimensão) - Fraternidade

137. O que é o direito fundamental de 3ª geração/dimensão?

Caracterizam-se por sua titularidade coletiva ou difusa, tais como: direito ao consumidor e o
direito ambiental. Por isso são frequentemente denominados de direitos da solidariedade e/ou
fraternidade.

Para ANDRE RAMOS TAVARES a consequência mais veemente do reconhecimento dessa


categoria ampla de interesses foi a de pôr a descoberto a insuficiência estrutural de uma
Administração Pública e de um sistema judicial calcados exclusivamente no ideário liberal, que
apenas comporta a referência individual, incapaz que é de lidar com fenômenos metaindividuais.
103

Direitos de 4ª, 5ª e 6ª Geração (ou dimensão)

138. Existem direitos fundamentais de 4ª, 5ª ou 6ª geração/dimensão?

Direitos de 4ª geração : PAULO BONAVIDES fala numa nova dimensão de direitos


fundamentais como sendo o direito à democracia, à informação e ao pluralismo político, tudo,
pautado numa ideia de globalização política em constante andamento. NORBERTO BOBBIO define
o direito de 4ª geração como decorrência dos avanços da engenharia genética - direitos limitadores
à pesquisa genética em pessoas, pois ela põe em risco a própria existência humana, na medida em
que, cada vez mais, se torna possível a manipulação do patrimônio genético humano. Outros autores
incluem nessa categoria os direitos à alteração de sexo/gênero, bem como ao respetivo nome da
pessoa, na esteira da autoidentificação e efetivação da busca pela felicidade.

Direitos de 5ª Geração: PAULO BONAVIDES indica a PAZ como o direito de 5ª geração. Por
outro lado, vários autores apontam como componentes desta categoria os direitos oriundos da
REALIDADE VIRTUAL ante a preocupação do sistema constitucional com a difusão da cibernética,
envolvendo, inclusive, a internacionalização da jurisdição constitucional, notadamente por conta do
rompimento das barreiras físicas promovido pela internet e pelo BigData.

Direitos de 6ª Geração: Uadi Lâmmego Bulos acredita que tal geração alcança a democracia,
o pluralismo político e o direito à informação. Outros autores, em sentido oposto, falam em
direitos relacionados à água potável.

Quadro-resumo: Gerações/dimensões dos direitos fundamentais:


✓ 1ª geração: liberdade (direitos negativos) – direitos civis e políticos.
✓ 2ª geração: igualdade (direitos positivos) – direitos econômicos, sociais e culturais.
✓ 3ª geração: fraternidade (direitos difusos) – direito ao consumidor e direito
ambiental.
✓ 4ª geração: globalização política – direito à democracia, à informação e ao pluralismo
político.
✓ 5ª geração: paz / direitos oriundos da realidade virtual.
✓ 6ª geração: democracia, o pluralismo político e o direito à informação / direitos
relacionados à água potável.
104

VETORES DE EFICÁCIA

139. O que se entende por eficácia horizontal imediata dos direitos fundamentais?

A rigor, os direitos fundamentais têm aplicação numa relação dita VERTICAL, qual seja do
Estado para o particular. É dizer, eles estão expressamente consignados na Carta Magna a fim de
garantir um direito individual da pessoa em relação ao poder estatal, seja num viés negativo ou,
também, de premissa comportamental positiva do Estado para a efetividade de determinado direito.

Nada obstante, é possível que os direitos fundamentais tenham raio de aplicabilidade direta e,
exclusivamente, entre os particulares, por meio do que a doutrina denomina de Teoria da Eficácia
HORIZONTAL dos direitos fundamentais.

É chamada também de eficácia imediata dos direitos fundamentais nas relações privadas ou
eficácia externa dos direitos fundamentais. Os defensores da teoria da eficácia imediata pregam que
os direitos fundamentais são aplicáveis de forma direta em relação aos particulares. Sustentam que
as normas constitucionais devem possuir um caráter primário e justificador, independentemente de
haver ou não normas infraconstitucionais numa decisão.

ANDRIETA KRETZ diz que o prestígio da eficácia direta nas relações entre particulares é uma
espécie de cláusula geral que legitima o preceito de proteção dos direitos fundamentais, além de
acudir as restrições impostas pelos instrumentos de controle do direito privado, uma vez que estes,
de per si, apenas proporcionam uma proteção genérica e fragmentária, fazendo-se imperativo,
portanto, em determinados casos, a aplicação direta dos direitos fundamentais.

Quadro-resumo:
✓ Eficácia vertical: entre Estado e particular.
✓ Eficácia horizontal: entre particulares.

COLISÃO ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS

140. Os direitos fundamentais são absolutos?

A principal característica dos direitos fundamentais, por mais estranho que pareça à primeira
vista, é a sua RELATIVIDADE, ou seja, por se tratar de princípios normativos constitucionais, nenhum
105

deles será dotado de caráter absoluto, de tal modo que, no caso de tensionamento entre eles, caberá
ao intérprete o sopesamento ou uso de técnica de ponderação de valores para que se possa
produzir, por via da hermenêutica, a adequada norma-decisão a dirimir o conflito aparente.

O intérprete deve tentar ao máximo compatibilizar ambos os direitos fundamentais em


choque, sendo que, em última análise, e, analisado as peculiaridades do caso concreto, definirá qual
direito irá prevalecer.

Tal método de ponderação pode se pautar no princípio da proporcionalidade, projetado


sobre o caso concreto, a fim de possibilitar ao hermeneuta uma proposta de solução
constitucionalmente legítima.

Foi o que ocorreu, por exemplo, na RCL 28.747/PR, em que o STF entendeu que ordem judicial
que determina retirada de matéria de blog jornalístico configura censura prévia, devendo, no caso, o
interesse geral pela informação e a liberdade de expressão prevalecer em relação à intimidade da
pessoa.

ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL

141. Fale sobre o que se entende por “estado de coisas inconstitucional”.

Estado de coisas inconstitucional: Teoria surgida na Colômbia e importada parcialmente pelo


STF em julgados recentes, reflete a ocorrência de uma situação de violação generalizada e
sistêmica de direito fundamentais, causado, em grande parte, por conta da omissão ou
incapacidade estatal de alterar a conjuntura violadora.

Em face do elevado grau de infringência à norma constitucional, originariamente, esta teoria


propõe transformações estruturais na forma de agir do poder público, por intermédio de uma
pluralidade de órgãos e agentes a fim de reestabelecer a situação inconstitucional.

O STF, na ADPF 347, Informativo 798, reconheceu que o sistema penitenciário brasileiro é
uma hipótese de “Estado de Coisas Inconstitucional”, uma vez que, em razão da precária e ilegal
estrutura das penitenciárias (física e funcional), as regulares sanções penais impostas pelo Estado
acabam por se transmutar em penas desumanas e cruéis, face à forma e condições nas quais são
efetivamente cumpridas pelos detentos.
106

Apesar disso, a Suprema Corte entendeu que não pode substituir a atribuição do Poder
Executivo e do Legislativo na execução de tarefas ínsita a estes Poderes, porquanto não é atribuição
do Judiciário definir o conteúdo das políticas pública do Estado. Lado outro, no mesmo julgado,
definiu que é lícito ao Judiciário impor à Administração Pública a obrigação de fazer consistente na
realização de medidas e/ou execução de obras emergenciais nos estabelecimentos prisionais a fim
de dar efetividade ao postulado da dignidade da pessoa humana, assegurando aos detentos o
respeito à sua integridade física e moral, restando inaplicável o princípio da reserva do possível,
tampouco alegação de violação à separação de poderes.

Vale ressaltar, por fim, que a ministra Cármen Lúcia já se posicionou para reconhecer o estado
de coisas inconstitucional quanto ao desmatamento ilegal da Floresta Amazônica e de omissão do
Estado brasileiro em relação à função protetiva do meio ambiente ecologicamente equilibrado
(ADPF 760/DF). Resta saber se os demais Ministros concordarão com ela.

TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS

142. Fale sobre os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos.

A EC nº 45/2004 incluiu o § 3º, no artigo 5º, da CF/88: “CF/88. Art. 5º. (...) § 3º Os tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
emendas constitucionais”.

Assim, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem


aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros equivalem a emendas constitucionais.

Já os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos aprovados pela regra


anterior à Reforma e desde que não confirmados pelo quorum qualificado, seguindo o entendimento
do STF, terão natureza supralegal.

Por fim, os tratados e convenções internacionais de outra natureza têm força de lei
ordinária.

DIREITO E DEVERES, INDIVIDUAIS E COLETIVOS


107

Artigo 5º - Dos Direitos Fundamentais

✓ Direito à Vida

143. Fale sobre o Direito à Vida.

Momento inicial da proteção constitucional: a vida.

ANDRE RAMOS TAVARES aduz, que, desde o primeiro e mais essencial elemento do direito à
vida, vale dizer, a garantia de continuar vivo, é preciso assinalar o momento a partir do qual se
considera haver um ser humano vivo, assim como o momento em que, seguramente, cessa a
existência humana e, nessa linha, o dever estatal, de cunho constitucional, de mantê-la e provê-la.

Várias são as teorias que tentam explicar o momento em que a vida tem inço para fins de
proteção jurídica, nada obstante, o STF, na ADI 3.510, entendeu que a CF/88 nada impõe sobre o
início da vida humana ou do instante em que ela teria início.

Assim, resta à ciência, à doutrina e à jurisprudência estudar e tentar encontrar parâmetros para
definição do momento inaugural da vida humana pra fins de proteção estatal, à luz do direito
fundamental à vida. Em linhas gerais, pode-se afirmar que o ordenamento jurídico brasileiro
protege a vida de uma forma bastante abrangente: seja no campo extra-uterino quanto na seara
intrauterina (proibição da prática do aborto, salvo estupro ou saúde da gestante em risco), em
alinhamento à teoria concepcionista da pessoa humana.

Registre-se que o direito à vida não se restringe ao elemento biológico, ou seja, de nascer com
vida (integridade física e psíquica), mas, lado outro, essa proteção abrange a efetivação de condições
materiais e espirituais para que a pessoa tenha uma vida em condições dignas (dignidade da pessoa
humana), pois tal qualidade resta inscrita como postulado fundante do próprio Estado brasileiro.

Assim, o ordenamento jurídico e a CF/88 não protegem apenas o nascimento com vida, mas,
especialmente, a sobrevivência em condições dignas.

✓ Direito à Liberdade

144. Considerando o direito fundamental à liberdade do pensamento, é permitido o


anonimato?
108

No inciso IV, do artigo 5º, resta prescrito que é livre a manifestação do pensamento, sendo
vedado o anonimato. Assim, o direito fundamental é o da liberdade do pensamento, e não o
anonimato.

A vedação ao anonimato produz consequência no âmbito das investigações de denúncias


anônimas, sendo que, resta inadmissível a instauração de investigações fundadas exclusivamente em
denúncias anônimas, devendo ser realizado previamente uma averiguação preliminar a fim de
mensurar as informações, para, então, deliberar sobre a instauração ou não do respectivo inquérito
policial ou civil (MP).

Tamanha a envergadura desse princípio constitucional, que o STF pacificou entendimento


afastando a necessidade de diploma de jornalismo para a pessoa exercer a profissão de jornalista.
Na oportunidade, entendeu a Corte Máxima que a exigência de diploma contraria o vetor da
liberdade de imprensa e da livre manifestação do pensamento, o qual é direito fundamental de
eficácia plena.

Na mesma linha, na ADI 4815, o STF firmou entendimento no sentido de ser inexigível a
autorização prévia da pessoa biografada ou de seus familiares - quando morta, a pessoa, para que
fossem produzidas e publicadas obrigas bibliográficas ou audiovisuais da pessoa.

✓ Direito à Reunião

145. É necessário autorização para se exercer o direito de reunião?

O direito de reunião está previsto no artigo 5º, XVI, da CF/88: “CF/88. Art. 5º. (…) XVI - Todos
podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de
autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local,
sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.

ANDRE RAMOS TAVARES ensina que a liberdade de reunião significa o direito de 1º) Convocar,
2º) Organizar ou Liderar e 3º) Participar, agrupando-se com outras pessoas que tenham o mesmo
intento.

Por meio dela permite-se a realização plena do exercício da liberdade de manifestação do


pensamento. Trata-se de manifestação coletiva da liberdade de expressão, pois enseja a livre
discussão de ideias e sua publicidade. É direito individual e coletivo, simultaneamente.
109

A expressão reunião abrange tanto agrupamentos estáticos de pessoas quanto reuniões


decorrentes de comícios, passeatas, manifestações, ou seja, um direito de reunião que seja
mobilizável em razão da motivação e desejo de seus titulares.

✓ Direito à Proteção dos Dados Pessoais

146. O Direito à Proteção dos Dados Pessoais é um direito fundamental?

Com o avanço do uso da tecnologia da informática os dados pessoais passaram a ter um valor
imensurável, necessitando desse modo de uma proteção eficiente. A facilidade de acesso aos
dados pessoais, somada à velocidade do acesso, da transmissão e do cruzamento de tais dados,
potencializou as possibilidades de afetação de direitos fundamentais das pessoas, mediante o
conhecimento e o controle de informações sobre a sua vida pessoal, privada e social.

E foi nesse contexto que o direito à proteção dos dados pessoais passou a integrar a
Constituição Federal de 1988 de forma explícita, sendo considerado, portanto, um direito
fundamental: CF/88. "Art. 5º. (...) LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos
dados pessoais, inclusive nos meios digitais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 115, de 2022)”.
110

10. DIREITOS SOCIAIS

CONCEITO

147. Conceitue direitos sociais.

Os direitos sociais são prestações positivas (ações) realizadas pelo Estado com o fim de
melhorar a qualidade de vida dos hipossuficientes, ou seja, dos mais necessitados.

Os direitos sociais foram conquistados ao longo dos séculos, através de pressão de movimentos
sociais e de trabalhadores. Eles estão previstos no artigo 6º da CF/88: “CF/88. Art. 6º. São direitos
sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança,
a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015)”.

Ressalta-se que a Emenda Constitucional nº 90, de 15 de setembro de 2015 deu nova redação
ao artigo 6º da CF/88, introduzindo o transporte como direito social.

Todos os direitos sociais previstos no artigo 6º da CF/88 são considerados normas de eficácia
limitada e aplicabilidade mediata. Isso quer dizer que eles dependem, para sua concretização, da
atuação estatal.

Por exigirem do Estado determinadas prestações materiais, surgem, em relação aos direitos
sociais, determinadas dificuldades relacionadas à efetividade e concretização dos mesmos; tendo em
vista que, todo direito possui um custo, e que esse custo interfere diretamente no orçamento estatal.
Portanto, diversos são os problemas relacionados à efetividade dos direitos sociais.

Vale destacar que a Emenda Constitucional nº 114, de 2021 incluiu o parágrafo único ao
artigo 6º da CF/88 dispondo que todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a
uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em programa permanente de transferência
de renda.

EFETIVIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS

148. Fale sobre os princípios relacionados à concretização (efetivação) dos Direitos


Sociais.
111

Os Direitos Sociais não bastam estar previstos a CF/88. Estes direitos precisam ser efetivados,
colocados em prática. É necessário, portanto, da firme atuação estatal por meio de políticas públicas
voltadas para a concretização dos Direitos Sociais.

A doutrina menciona importantes princípios relacionados à concretização (efetivação) dos


Direitos Sociais, sendo eles: 1) da reserva do possível; 2) do mínimo existencial e; 3) da vedação do
retrocesso.

• RESERVA DO POSSÍVEL: De acordo com a reserva do possível cabe ao Estado efetivar


os Direitos Sociais, contudo, apenas na medida do financeiramente possível. Este
princípio serve para determinar os limites em que o Estado deixa de ser obrigado a dar
efetividade aos Direitos Sociais. Isso porque, não é lícito ao Poder Público simplesmente
alegar que não possui recursos orçamentários para a efetiva concretização desses
direitos. O Poder Público deve demonstrar objetivamente a inexistência de recursos
públicos e a falta de previsão orçamentária da respectiva despesa.
• MÍNIMO EXISTENCIAL: O mínimo existencial seria o grupo de prestações essenciais
que se deve fornecer ao ser humano para que ele tenha uma existência digna. Este
princípio é compatível e deve conviver com a cláusula da reserva do possível, sendo
considerado uma limitação à cláusula da reserva do possível. Dessa forma, a reserva do
possível só poderá ser alegada pelo Poder Público como argumento para a não
concretização dos direitos sociais caso tenha sido assegurado o mínimo existencial pelo
Estado. O Estado deve garantir o mínimo existencial, sendo uma obrigação inafastável,
não sujeita à reserva do possível. Ressalta-se que o mínimo existencial está
intrinsecamente ligado ao fundamento da dignidade da pessoa humana previsto no art.
1º, III da CF/88.
• VEDAÇÃO DO RETROCESSO (EFEITO CLIQUET): Este princípio busca evitar que as
conquistas sociais já alcançadas pelo cidadão sejam desconstituídas. Por ele, os direitos
sociais já concretizados não podem ser objeto de retrocesso. Isso quer dizer que uma
vez alcançado a concretização de um direito social, o legislador fica proibido de suprimir
ou reduzir essa concretização sem que haja a criação de mecanismos equivalentes
chamados de medidas compensatórias. Ressalta-se que não há previsão na CF/88 de
vedação ao retrocesso, contudo há um conjunto de princípios dos quais se extrai essa
vedação: segurança jurídica, dignidade da pessoa humana, princípio da máxima
efetividade, princípio do Estado Democrático e Social de Direito.
112

11. DIREITOS DE NACIONALIDADE

CONCEITO DE NACIONALIDADE

149. Conceitue nacionalidade.

A nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga o indivíduo ao Estado, fazendo dele


um componente do povo (nacionais de um país). Dessa forma, a nacionalidade faz com que o
indivíduo integre uma dada comunidade política. Com isso, o Estado é capaz de distinguir o nacional
do estrangeiro para diversos fins.

Alguns doutrinadores, como Gilmar Ferreira Mendes, entendem que o conceito de


nacionalidade está associado ao ser humano. Com isso, para eles, somente por extensão pode-se
cogitar de nacionalidade de pessoas jurídicas, empresas ou coisas.

No estudo da nacionalidade é imperioso entender alguns conceitos:

• Povo: É o conjunto de nacionais. São os brasileiros natos e naturalizados.


• Nação: É o conjunto de pessoas ligadas por aspectos comuns, adquirindo uma mesma
identidade sociocultural. Ex: Ligados pela língua, cultura, costumes, tradições.
• População: São todos que estão em um determinado território, independentemente de
sua nacionalidade. Compõe, por exemplo, a população brasileira o povo brasileiro, os
estrangeiros e os apátridas que aqui residem.
• Cidadão: É o conjunto de pessoas que estão no pleno gozo dos direitos políticos.

NATUREZA JURÍDICA DA NACIONALIDADE

150. Qual a natureza jurídica da nacionalidade?

A doutrina diverge sobre a natureza jurídica da nacionalidade. Há duas correntes que a


explicam:

• Corrente contratualista: Para esta corrente a nacionalidade é um contrato entre o


indivíduo e o Estado, pelo qual resultariam direitos e deveres para os contratantes.
113

Contudo, esta corrente é insuficiente para explicar o fenômeno da nacionalidade. O


recém-nascido, por exemplo, também possui nacionalidade, contudo não pode concluir
um contrato, pois ainda não possui manifestação de vontade.
• Corrente de vínculo Jurídico e de Vínculo Político: Para esta corrente a nacionalidade
seria ao mesmo tempo um vínculo jurídico e político que une o indivíduo ao Estado.
Isso porque dá ao indivíduo direitos e deveres de um modo geral e, em especial, direitos
políticos.

ESPÉCIES DE NACIONALIDADE

151. Quais são as espécies de nacionalidade?

NACIONALIDADE ORIGINARIA; primária; de origem; involuntária; de 1º grau, nata -


brasileiros NATOS: A nacionalidade originária não é adquirida por um ato de vontade. Ela é imposta
de maneira unilateral, resulta de um fato natural, o nascimento. Há 2 critérios para a atribuição da
nacionalidade originária: jus soli (critério territorial) e jus sanguinis (critério sanguíneo). Compete a
cada Estado escolher o seu critério, levando em consideração a soberania de cada um. No Brasil o
critério utilizado é o misto: Como regra se adota o critério do jus soli, contudo há situações nas quais
o critério sanguíneo é aceito.

• JUS SANGUINIS: O que interessa é o sangue, a filiação, a ascendência.


• JUS SOLI ou da territorialidade: O que importa é o local de nascimento, e não a
descendência.

NACIONALIDADE SECUNDARIA; adquirida; voluntária; por aquisição; de 2ª grau; por


naturalização - brasileiros NATURALIZADOS: Esta nacionalidade decorre de um ato voluntário da
pessoa, que decide adquirir, para si, uma nova nacionalidade, ao que chamamos de naturalização,
sendo atribuída por fato posterior ao nascimento. Este ato voluntário pode ser expresso ou tácito. A
nacionalidade secundária pode ser requerida por estrangeiros ou mesmo pelos heimatlos (apátridas).

• Ordinária: Não cria direito público subjetivo. O ato é discricionário, é ato de soberania
do Estado, dependendo de oportunidade e conveniência políticas. Esta nacionalidade
pode ser adquirida por: a) todos os estrangeiros (menos os originários de países de
língua portuguesa); b) todos os originários de países de língua portuguesa (menos os
portugueses); c) portugueses; d) legais (Lei de Migração).
114

• Extraordinária: Cria direito público subjetivo para o naturalizando. Se ele preencher os


requisitos, terá direito à naturalização, bastando pedir.

BRASILEIROS NATOS

152. Quem são os brasileiros natos?

De acordo com o artigo 12, inciso I, da CF/88, são brasileiros natos:

• Os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde


que estes não estejam a serviço de seu país;
• Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer
deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
• Os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira;

153. Quais são os cargos privativos de brasileiros natos? O substituto eventual do titular
do cargo também deve ser brasileiro nato?

A CF/88 traz os cargos privativos de brasileiros natos: em seu artigo 12, §3º: “CF/88. Art. 12.
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II -
de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do
Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas; VII - de
Ministro de Estado da Defesa. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)”.

A razão para referida previsão consiste no fato de que o Vice-Presidente da República, o


Presidente da Câmara dos Deputados, o Presidente do Senado Federal; e o Presidente do Supremo
Tribunal Federal se encontram na linha sucessória do Presidente da República, e, por isso, devem ser
brasileiros natos (artigo 80 da CF/88).

Além disso, os demais cargos (da carreira diplomática, oficial das Forças Armadas e Ministro de
Estado da Defesa) atendem a uma questão de segurança nacional.
115

O Supremo Tribunal Federal entende ainda que não só o titular do cargo deve ser brasileiro
nato, como também seu substituto eventual.

BRASILEIROS NATURALIZADOS

154. Diferencie a Naturalização Ordinária da Naturalização Extraordinária.

Naturalização Ordinária: A naturalização ordinária é aquela prevista no artigo 12, inciso II,
alínea a, da CF/88: são brasileiros naturalizados os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade
brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano
ininterrupto e idoneidade moral.

Naturalização Extraordinária: A naturalização extraordinária é aquela prevista no artigo 12,


inciso II, alínea b, da CF/88: são brasileiros naturalizados os estrangeiros de qualquer nacionalidade,
residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação
penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

PERDA DA NACIONALIDADE

155. Quais são as hipóteses de perda da nacionalidade?

Segundo o art. 12, § 4º da CF/88, será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

• Tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva
ao interesse nacional. Trata-se aqui da perda-punição. Se aplica somente para os
naturalizados.
• Adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
o De reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
o De imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente
em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou
para o exercício de direitos civis.
É também denominada de perda-mudança. Nestes casos se aplica tanto aos natos
quanto aos naturalizados.
116

12. DIREITOS POLÍTICOS


117

INTRODUÇÃO

156. Conceitue direitos políticos.

Conforme LENZA25, “os direitos políticos nada mais são que instrumentos por meio dos quais
a CF garante o exercício da soberania popular, atribuindo poderes aos cidadãos para interferirem
na condução da coisa pública, seja direta, seja indiretamente”.

Conforme o artigo 14 da CF/88, a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e
pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: “I - plebiscito;
II - referendo; III - iniciativa popular”.

157. Conceitue plebiscito e referendo.

O plebiscito e o referendo são formas de consulta ao povo para que delibere sobre matéria
de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa.

Todavia, no plebiscito, a consulta é prévia, sendo convocado com anterioridade ao ato


legislativo ou administrativo. Nele cabe ao povo, por meio do voto, aprovar ou denegar o que lhe
tenha sido submetido à apreciação. Assim, primeiramente há uma consulta ao povo, para, só depois,
a decisão política ser tomada. Dessa forma, o governante fica condicionado ao que for deliberado
pelo povo.

Já no referendo, primeiro se tem o ato legislativo ou administrativo, para, só então, depois,


submetê-lo à apreciação do povo. Dessa forma, o povo ratifica (confirma) ou rejeita (afasta) o ato.

158. O resultado do plebiscito ou do referendo pode ser modificado por lei ou emenda à
constituição?

25
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página
2.335.
118

Segundo a doutrina (LENZA26), “tanto a lei como a EC seriam flagrantemente


inconstitucionais. Isso porque, uma vez manifestada a vontade popular, esta passa a ser
vinculante, não podendo ser desrespeitada. No caso, seus dispositivos seriam inconstitucionais por
violarem o art. 14, I ou II, c/c o art. 1.º, parágrafo único, qual seja, o princípio da soberania popular.
Assim sendo, parece-nos possível concluir que a democracia direta prevalece sobre a democracia
representativa. A única maneira de modificar a vontade popular seria mediante uma nova consulta
ao povo, a ser convocada ou autorizada por decreto legislativo do Congresso Nacional (art. 49, XV).
Cumpre alertar, contudo, que o decreto legislativo dependeria de provocação do legislador, seja por
meio de lei (no caso do porte de armas), seja por meio de nova emenda (no caso do sistema de
governo). Nessas hipóteses, a lei ou emenda deveria prever a futura convocação pelo Congresso
Nacional do novo plebiscito”.

159. De que forma é exercida a iniciativa popular?

Nos termos do § 2º do artigo 61 da CF/88, a iniciativa popular pode ser exercida pela
apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do
eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos
por cento dos eleitores de cada um deles.

DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS (DIREITO DE SUFRÁGIO)

160. Fale sobre a capacidade eleitoral ativa e passiva.

O direito de sufrágio se caracteriza pela capacidade eleitoral ativa (direito de votar, capacidade
de ser eleitor, alistabilidade) e pela capacidade eleitoral passiva (direito de ser votado, elegibilidade).
Assim, o sufrágio é o direito de votar e ser votado. O voto é o ato por meio do qual se exercita o
sufrágio. O escrutínio é o modo, a maneira, a forma pela qual se exercita o voto (público ou secreto).

A capacidade eleitoral ativa dá-se pelo voto, que pressupõe: a) alistamento eleitoral na forma
da lei (título eleitoral); b) nacionalidade brasileira (não podem alistar-se como eleitores os

26
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página
2.342.
119

estrangeiros - artigo 14, §2º, CF/88); c) não ser conscrito durante o serviço militar obrigatório; d) idade
mínima de 16 anos (art. 14, § 1.º, II, “c”).

Ademais, nos termos do § 1º do artigo 14 da CF/88, o alistamento eleitoral e o voto são: “I -


obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores
de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos”.

A capacidade eleitoral passiva é a possibilidade de eleger-se, concorrendo a um mandato


eletivo. É o direito de ser votado. Para isso, é necessário preencher todas as condições de
elegibilidade para o cargo ao qual se candidata e, ainda, não incidir em nenhum dos impedimentos
constitucionalmente previstos (direitos políticos negativos).

Conforme o § 3º do artigo 14 da CF/88, são condições de elegibilidade, na forma da lei: “I - a


nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o
domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco
anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-
Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado
Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos para Vereador”.

DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS

Inelegibilidades

161. Fale sobre as inelegibilidades absolutas e relativas.

As inelegibilidades são as circunstâncias que impedem o cidadão do exercício total ou parcial


da capacidade eleitoral passiva. Assim, as inelegibilidades impedem o cidadão da capacidade de
eleger-se. Essas circunstâncias podem ser tanto constitucionais (previstas na CF/88 em seu artigo 14,
§§ 4º a 8º, sendo normas essas que independem de regulamentação infraconstitucional, já que de
eficácia plena e aplicabilidade imediata), como também previstas em lei complementar (que poderá
estabelecer outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação).

As inelegibilidades se dividem em dois grandes grupos:

• Inelegibilidades Absolutas: impedimento eleitoral para qualquer cargo eletivo,


taxativamente previstas na CF/88. Nos termos do artigo 14, § 4º da CF/88, são
120

absolutamente inelegíveis, ou seja, não podem exercer a capacidade eleitoral passiva,


em relação a qualquer cargo eletivo, os:
o Inalistáveis: quem não pode ser eleitor não pode eleger-se. Conforme o § 2º do
artigo 14 da CF/88, não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e,
durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. Assim, são
considerados inalistáveis.
o Analfabetos: o analfabeto tem direito à alistabilidade e, portanto, direito de votar,
todavia, não pode ser eleito, pois não possui capacidade eleitoral passiva.
• Inelegibilidades Relativas: trata-se de impedimento eleitoral para algum cargo eletivo
ou mandato, em função de situações em que se encontre o cidadão candidato, previstas
na CF/88 — artigo 14, §§ 5º a 8º — ou em lei complementar — artigo 14, § 9º.
o Inelegibilidade relativa em razão da função exercida para um terceiro mandato
sucessivo: O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos
mandatos não poderão ser reeleitos para um terceiro mandato sucessivo.
o Inelegibilidade relativa em razão da função para concorrer a outros cargos: O § 6º
do artigo 14 da CF/88, determina que para concorrerem a outros cargos, o
Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os
Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do
pleito. Trata-se da chamada desincompatibilização, através do qual o candidato
(cidadão) se desvencilha de alguma circunstância que o impede de exercer a sua
capacidade eleitoral passiva, ou seja, de eleger-se para determinado cargo.
o Inelegibilidade relativa em razão do parentesco: Nos termos do § 7º do artigo 14
da CF/88, são inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os
parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do
Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
o Militares: O § 8º do artigo 14 da CF/88 prevê que o militar alistável é elegível,
atendidas as seguintes condições: “I - se contar menos de dez anos de serviço,
deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será
agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
da diplomação, para a inatividade”.
o Inelegibilidades previstas em lei complementar: Conforme o § 9º do artigo 14 da
CF/88, lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os
121

prazos de sua cessação, a fim de proteger: a probidade administrativa; a


moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do
candidato; e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do
poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na
administração direta ou indireta.

162. O que consiste a figura do prefeito itinerante?

Segundo LENZA27, “o denominado “prefeito itinerante” ou “prefeito profissional” é aquele


que, reeleito em um mesmo Município, na medida em que inelegível para o terceiro mandato
consecutivo, transfere o seu domicílio eleitoral para município diverso buscando afastar a
inelegibilidade estabelecida no art. 14, § 5.º, da CF/88.

Durante muito tempo, o TSE admitiu essa situação, com algumas ressalvas (municípios com
territórios limítrofes, a pressupor microrregião eleitoral única ou resultantes de desmembramento,
incorporação ou fusão), mas, no julgamento do Recurso Especial Eleitoral n. 32.507, em 17.12.2008,
a Corte Eleitoral mudou o seu entendimento, passando a não mais aceitar essa situação, mesmo se
observados os prazos de desincompatibilização, domicílio eleitoral, filiação partidária etc. (...) O tema
chegou a ser discutido pelo STF no julgamento do RE 637.485, que, em 1.º.08.2012, manteve o novo
entendimento firmado no TSE, não admitindo o terceiro mandato consecutivo, mesmo na
hipótese de municípios distintos”.

Privação dos direitos políticos — perda e suspensão

163. Fale sobre as situações que privam o cidadão dos direitos políticos de votar e ser
votado, tanto definitivamente (perda) como de modo temporário (suspensão).

Perda dos direitos políticos: A perda dos direitos políticos só se dará nos casos de:

• Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado: neste caso, o


indivíduo voltará à condição de estrangeiro, não mais podendo se alistar como eleitor

27
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Páginas 2.359 e 2.360.
122

(artigo 14, § 2º) nem eleger-se, já que deixa de ostentar a nacionalidade brasileira (artigo
14, § 3º, I).
• Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos
do art. 5º, VIII: o artigo 5º, inciso VIII da CF/88 determina que ninguém será privado de
direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as
invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
prestação alternativa, fixada em lei. Assim, se as invocar para eximir-se de obrigação
legal a todos imposta (exemplo: serviço militar obrigatório - CF/88, Art. 143. O serviço
militar é obrigatório nos termos da lei.) e recusar-se a cumprir a prestação alternativa,
fixada em lei, terá, como sanção, a declaração da perda de seus direitos políticos.
• Perda da nacionalidade brasileira em virtude de aquisição de outra: Conforme a
doutrina, embora não conste dos incisos do artigo 15 da CF/88, mediante interpretação
sistemática pode-se elencar o descrito no artigo 12, § 4º, II, da CF/88 como mais uma
hipótese constitucionalmente prevista de perda dos direitos políticos. LENZA28 bem
explica: “a nacionalidade brasileira é pressuposto para a aquisição de direitos políticos.
Perdendo a nacionalidade brasileira e adquirindo outra, o ex-brasileiro passa a ser
estrangeiro e, como vimos, os estrangeiros, bem como os conscritos, durante o serviço
militar obrigatório (só para lembrar o candidato atento e estudioso!), são inalistáveis
(quem não pode ser eleitor não pode eleger-se). O alistamento eleitoral, como vimos, é
indiscutível condição de elegibilidade. Assim e por todo o exposto, como o estrangeiro
não adquire direitos políticos, exclusivos de brasileiros natos ou naturalizados, a perda
da nacionalidade gera a indiscutível perda dos direitos políticos, outrora existentes”.

Suspensão dos direitos políticos:

• Incapacidade civil absoluta: levando em consideração que só se suspende aquilo que


já existia, deve-se partir do pressuposto de que o indivíduo tinha direitos políticos e estes
foram suspensos. Assim, somente nos casos de interdição é que se poderia falar em
suspensão de direitos políticos;
• Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos: os
direitos políticos ficam suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação.
• Improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º: os atos de improbidade
administrativa importarão na suspensão dos direitos políticos, bem como na perda da
função pública, na indisponibilidade dos bens e no ressarcimento ao erário, na forma e

28
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Páginas 2.378 e 2.379.
123

gradação previstas em lei (Lei nº 8.429/92, com as alterações trazidas pela Lei nº
14.230/2021), sem prejuízo da ação penal cabível.
• Exercício assegurado pela cláusula de reciprocidade (art. 12, § 1.º): Conforme o
artigo 17.3 do Decreto nº 3.927/2001 (Promulga o Tratado de Amizade, Cooperação e
Consulta, entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa, celebrado
em Porto Seguro em 22 de abril de 2000), “o gozo de direitos políticos no Estado de
residência importa na suspensão do exercício dos mesmos direitos no Estado da
nacionalidade”. Dessa forma, o gozo dos direitos políticos em Portugal (por brasileiro)
importará na suspensão do exercício dos mesmos direitos no Brasil;
• Art. 55, II e § 1º da CF/88 c/c o art. 1.º, I, “b”, da LC nº 64/90: procedimento do
Deputado ou Senador declarado incompatível com o decoro parlamentar.
Inelegibilidade por 8 anos (art. 1.º, I, “b”, da LC nº 64/90).
124

13. PARTIDOS POLÍTICOS

164. Fale sobre os partidos políticos.

Os Partidos Políticos são pessoas jurídicas que ostentam natureza jurídica especial pois sua
criação deve observar procedimento e formalidades próprias.
Enunciado 142 da JDC: Os partidos políticos, os sindicatos e as
organizações religiosas possuem natureza associativa, aplicando-se lhes
o Código Civil.

São disciplinados pela Lei nº 9.096/95 e sua existência legal (personalidade jurídica) está
atrelada à observância dos requisitos previstos na legislação especial.
Conforme LENZA29, “partido político pode ser conceituado como uma “... organização de
pessoas reunidas em torno de um mesmo programa político com a finalidade de assumir o
poder e de mantê-lo ou, ao menos, de influenciar na gestão da coisa pública através de críticas
e oposição”. Para José Afonso da Silva, partido político “... é uma agremiação de um grupo social
que se propõe organizar, coordenar e instrumentar a vontade popular com o fim de assumir o poder
para realizar seu programa de governo. No dizer de Pietro Virga: ‘são associações de pessoas com
uma ideologia ou interesses comuns, que, mediante uma organização estável (Partei-Apparati),
miram exercer influência sobre a determinação da orientação política do país’”.
Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão
seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral (artigo 17, § 2º da CF/88).
O requerimento do registro de partido político é dirigido ao cartório competente do
Registro Civil das Pessoas Jurídicas do LOCAL DE SUA SEDE. É o que dispõe o artigo 8º da Lei
nº 9.096/95, com redação dada pela Lei nº 13.877, de 2019 (anteriormente, ele era dirigido ao
cartório competente do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, da Capital Federal, porém com a Lei nº
13.877, de 2019 passou a ser dirigido ao cartório competente do Registro Civil das Pessoas Jurídicas
do local de sua sede).
Feita a constituição e designação, os dirigentes nacionais promoverão o registro do estatuto
do partido junto ao Tribunal Superior Eleitoral.

29
LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022. Página
2.386.
125

165. O que é a candidatura nata? Ela é admitida no Brasil?

A candidatura nata é o direito de o titular do mandato eletivo ser, obrigatoriamente,


escolhido e registrado pelo partido como candidato à reeleição. Ela não existe no Brasil.
Conforme o STF30, "O legislador tentou impor essa obrigatoriedade no § 1º do art. 8º da Lei
nº 9.504/97: Art. 8º (...) § 1º Aos detentores de mandato de Deputado Federal, Estadual ou Distrital,
ou de Vereador, e aos que tenham exercido esses cargos em qualquer período da legislatura que
estiver em curso, é assegurado o registro de candidatura para o mesmo cargo pelo partido a que
estejam filiados. Isso foi denominado pela doutrina e jurisprudência de “candidatura nata”. Assim,
“candidatura nata” é o direito que o titular do mandato eletivo possui de, obrigatoriamente, ser
escolhido e registrado pelo partido político como candidato à reeleição. O STF, contudo, entendeu
que esse § 1º do art. 8º da Lei nº 9.504/97 é inconstitucional, não sendo possível a chamada
“candidatura nata”. O instituto da “candidatura nata” é incompatível com a Constituição Federal
de 1988, tanto por violar a isonomia entre os postulantes a cargos eletivos como, sobretudo, por
atingir a autonomia partidária (art. 5º, “caput”, e art. 17 da CF/88)”. STF. Plenário. ADI 2530/DF,
Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 18/8/2021 (Info 1026).

30
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não existe no Brasil a candidatura nata, ou seja, o direito de o titular do mandato
eletivo ser, obrigatoriamente, escolhido e registrado pelo partido como candidato à reeleição. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3ae4f12b897c4bb51327a8e1c921df7d>.
126

14. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

ELEMENTOS DO ESTADO

166. Quais são os elementos do Estado?

Povo: O povo é a DIMENSÃO PESSOAL do Estado, ou seja, são os seus cidadãos (nacionais).
Trata-se do conjunto de cidadãos de um Estado. O Povo se difere de população e de nação. A
população é a expressão numérica dos habitantes de um Estado. A nação é uma comunidade
histórica, cultural, étnica, linguística e tradicionalmente homogênea.

Governo: O Governo é a DIMENSÃO POLÍTICA do Estado. Ele deve ser soberano, sua vontade
não se subordina a nenhum outro poder, seja no plano interno ou no plano internacional.

Soberania: A Soberania é o poder de mando de última instância numa sociedade política. Ela
é indivisível, irrevogável, perpétua, suprema. Tem como efeito interno ser um poder superior a todos
os demais; bem como possui independência em seu relacionamento com os outros Estados e com
as organizações internacionais.

Território: O Território é a DIMENSÃO FÍSICA sobre a qual o Estado exerce seus poderes, ou
seja, é o espaço sobre o qual o Estado exercita o seu poder de mando (soberania). Trata-se do
domínio espacial (material) onde vigora uma determinada ordem jurídica estatal.

FORMAS DE GOVERNO

167. Quais são as formas de governo?

Trata-se da relação entre o governante e os governados. Existem duas principais formas de


governo, que é a Monarquia e a República.

Monarquia: A Monarquia significa “Governo de um só”, ou, “poder de um só”. O poder fica
concentrado com o Rei ou com o Monarca. Suas principais características são: Irresponsabilidade
política do governante perante os demais poderes; Hereditariedade, pela qual o poder é transmitido
por laços consanguíneos; e Vitaliciedade, pela qual o rei ou o monarca ficam no poder enquanto
tiverem vivos ou enquanto tiverem saúde.
127

República: A República significa “Coisa pública” ou “coisa de todos”. Ela surgiu como
alternativa à monarquia absoluta, idealizada para implementar a soberania popular. Suas principais
características são: Responsabilização política do Governante (O Presidente da República pode
praticar crime de responsabilidade – Exemplo: Impeachment); Eletividade, pela qual a transmissão
do poder se dá através da eleição; e Temporariedade, ou seja, o poder não é vitalício, ele é
temporário (há uma alternância de poder).

SISTEMAS DE GOVERNO

168. Quais são os sistemas de governo?

Parlamentarismo: No Parlamentarismo há uma divisão de funções do Executivo, divididas


para duas pessoas distintas: o chefe de Estado e o chefe de Governo. No parlamentarismo
monárquico, o chefe de estado pode ser um monarca ou um rei. No parlamentarismo republicano o
chefe de estado é o presidente da república.

O chefe de estado é mais uma figura simbólica de representação do estado, ou seja, uma
função mais formal. O chefe de estado não desempenha funções políticas dentro do estado. O chefe
de governo exerce as funções políticas mais importantes, ele é o primeiro ministro que é escolhido
pelo parlamento. A qualquer momento o parlamento pode destitui-lo, não há prazo fixo de mandato.

Presidencialismo: No Presidencialismo há uma concentração do poder: A função de chefe


de estado e chefe de governo se reúne em uma única pessoa.

O Presidente é o chefe de Estado e de Governo, ele representa o país dentro e fora do país.
Nesse sistema de Governo o mandato é temporário. O Presidente da República possui um tempo
fixo de mandato, e somente poderá perder o mandato se praticar algum crime.

Semipresidencialismo ou Semiparlamentarismo: trata-se de um sistema híbrido, que


conjuga o parlamentarismo com o presidencialismo. Ele possui a mesma articulação política do
parlamentarismo, possuindo a divisão entre o chefe de estado e de governo, contudo, o chefe de
estado será sempre o presidente da república, que é eleito diretamente e exerce funções políticas
importantes. O Presidente da República que escolhe o primeiro-ministro. O nome do primeiro-
ministro deve ser chancelado pelo parlamento. Dessa forma, é o Presidente da República que escolhe
o chefe de governo, e não o parlamento.
128

169. Defina Presidencialismo de Coalização.

Sobre o tema CAVALCANTE31 explica: O regime presidencialista brasileiro confere aos


parlamentares um poder que vai além da elaboração e votação de lei e outros atos normativos. Os
parlamentares possuem intensa participação nas decisões de governo, inclusive por meio da
indicação de cargos no Poder Executivo. Essa dinâmica é própria do sistema presidencialista
brasileiro, que exige uma coalizão para viabilizar a governabilidade. Trata-se do chamado
“presidencialismo de coalizão”. A expressão ‘presidencialismo de coalizão’ foi usada há 25 anos no
título de um artigo acadêmico do cientista político Sérgio Abranches, ao qual se atribui a criação do
termo. Ela designa a realidade de um país presidencialista em que a fragmentação do poder
parlamentar entre vários partidos obriga o Executivo a uma prática que costuma ser mais
associada ao parlamentarismo. Para governar, ele precisa costurar uma ampla maioria,
frequentemente contraditória em relação ao programa do partido no poder, difusa do ponto de vista
ideológico e problemática no dia a dia, em razão do potencial de conflitos trazido por uma aliança
formada por forças políticas muito distintas entre si e que com frequência travam violenta competição
interna. Diante disso, no “presidencialismo de coalização” o poder conferido aos parlamentares vai
muito além da mera deliberação de atos legislativos. Os Deputados Federais e Senadores possuem
grande poder nas decisões de governo por meio da indicação de quadros (nomes) para ocuparem
os cargos no Poder Executivo. Entretanto, infelizmente, acaba ocorrendo um “mercadejamento”
(comércio) da função parlamentar porque alguns Deputados Federais e Senadores cobram
vantagens indevidas para dar sustentação política na nomeação ou manutenção de determinadas
pessoas nos cargos públicos. Logo, os Deputados Federais e Senadores, mesmo não possuindo
competência formal para nomear ou exonerar pessoas de cargos públicos vinculados ao Poder
Executivo, podem praticar corrupção passiva ao receberem vantagens indevidas para interferirem
nesses atos. Assim, é plenamente viável a configuração do delito de corrupção passiva quando a
vantagem indevida é solicitada, recebida ou aceita pelo agente público, em troca da manifestação
da força política que este detém para a condução ou sustentação de determinado agente em cargo
que demanda tal apoio”.

31
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Pratica corrupção passiva o Deputado Federal que recebe vantagem indevida
para interceder junto a diretor da Petrobrás com o intuito de fazer com que a empresa faça acordo com empresa privada e
pague a ela determinadas quantias em atraso. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b11b7e3409b27e5c6e332399362105f8>.
129

REGIMES DE GOVERNO

170. Quais são os regimes de governo?

Autoritário: É o Regime de Governo que tem o poder baseado na força.

Democrático: É o Regime de Governo que tem o poder baseado no consentimento.

FORMAS DE ESTADO

171. Quais são as formas de Estado?

Unitário ou Simples: o poder político está territorialmente centralizado. O poder está


centralizado em um núcleo estatal único, do qual se irradiam todas as decisões. Para que se possa ter
governabilidade, admite-se, no Estado unitário, a descentralização administrativa, denominado de
Estado unitário descentralizado administrativamente, pelo qual se mantém a centralização
política, mas a execução dos serviços públicos e das políticas públicas é descentralizada.

Federal (Federação): o poder político está territorialmente descentralizado. Há várias


pessoas jurídicas com capacidade política, cada uma delas dotada de autonomia política. Há uma
união indissolúvel de entes autônomos, que tem como fundamento uma Constituição, a qual
consagra e protege o pacto federativo contra violações. O Brasil é um exemplo de Estado federal,
possuindo como entes federativos a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
dotados de autonomia política, que lhes é garantida pela CF/88. Essa autonomia política se manifesta
por meio das seguintes aptidões:

• Auto-organização: Os entes federativos possuem competência para se auto-


organizar. Os Estados através da elaboração das Constituições Estaduais
(Poder Constituinte Derivado Decorrente) e os Municípios através da
elaboração das suas Leis Orgânicas.

• Autolegislação: é a capacidade de os entes federativos editarem suas próprias


leis.

• Autoadministração: É o poder que os entes federativos têm para exercer suas


atribuições de natureza administrativa, tributária e orçamentária.
130

• Autogoverno: Os entes federativos têm poder para eleger seus próprios


representantes.

Vale ressaltar que a Confederação é uma reunião de Estados soberanos. Não se trata de uma
forma de estado propriamente dita. Os Estados soberanos estabelecem um vínculo com base em um
tratado internacional, o qual pode ser denunciado (dissolvido). Assim, a confederação se forma a
partir de um vínculo dissolúvel, e tem como fundamento um acordo internacional.

172. Diferencie federação por agregação e federação por segregação.

O Federalismo (Federação) possui outras classificações. Dentre elas está a classificação quanto
à origem, que pode ser por agregação ou por segregação.

• Por Agregação (Federalismo por Associação, ou por Aglutinação ou por Estado


Perfeito): Surge quando Estados Soberanos cedem uma parcela da sua soberania para
formar um ente único, que é o estado federal (ente principal∕ central). O poder que era
soberano passa a ser autônomo. O poder, portanto, é deslocado da periferia para o
centro (movimento centrípeto). Ex: Estados Unidos.
• Por Segregação (Desagregação): Na Segregação existe um Estado unitário e nele o
poder está concentrado no centro, este poder será dividido entre os Estados Membros.
Ele surge então, com a descentralização política de um Estado Unitário, ou seja, neste
caso o movimento é inverso (movimento centrífugo). Ex: Brasil.

Quadro-resumo: Classificação da Federação quanto à origem:


✓ Federação por Agregação:
o Estados Soberanos cedem uma parcela da sua soberania.
o Formam um ente único: o estado federal.
o Poder é deslocado da periferia para o centro.
o Movimento centrípeto.
✓ Federação por Segregação:
o O poder do Estado unitário (concentrado no centro) será dividido entre os
Estados Membros.
o Poder é deslocado do centro para a periferia.
o Movimento centrífugo.
131

173. Diferencie federação centrípeta e federação centrífuga.

O Federalismo (Federação) possui outras classificações. Dentre elas está a classificação quanto
à concentração de poder, que pode ser Federação Centrípeta, Federação Centrífuga ou
Federalismo de equilíbrio.

• Federação Centrípeta: O poder está concentrado no centro; portanto, o governo


central detém a maior parte do poder. Há maior concentração de poder na União, em
detrimento dos Estados. As federações que se formaram por um movimento centrífugo
(por exemplo, o Brasil) têm uma tendência de serem centrípetas quanto à concentração
de poder.
• Federação Centrífuga: O poder está mais concentrado na periferia. As entidades
regionais detém a maior parte do poder, a maior parte das competências. Há uma
grande descentralização, com menor concentração do poder no governo central e
ampliação dos poderes regionais. As federações que se formaram por um movimento
centrípeto (por exemplo, os EUA) têm uma tendência de serem centrífugas, quanto à
concentração de poder.
• Federalismo de equilíbrio: Busca a distribuição equitativa de poderes entre os
governos centrais e regionais.

Quadro-resumo: Classificação da Federação quanto à concentração de poder:


✓ Federação Centrípeta:
o Poder está concentrado no centro.
o Concentração de poder na União.
o As federações que se formaram por um movimento centrífugo: têm uma
tendência de serem centrípetas quanto à concentração de poder.
✓ Federação Centrífuga:
o Poder está mais concentrado na periferia.
o Concentração de poder nas entidades regionais.
o As federações que se formaram por um movimento centrípeto: têm uma
tendência de serem centrífugas quanto à concentração de poder.
✓ Federalismo de equilíbrio:
o Distribuição equitativa de poderes entre os governos centrais e regionais.
132

ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DA FEDERAÇÃO

Alterações na estrutura dos Estados

174. Quais são as formas de alteração na estrutura dos Estados conforme a CF/88?

As alterações na estrutura dos Estados estão dispostas no § 3º do artigo 18, da CF/88. Os


tipos de alterações na estrutura dos Estados não as seguintes:

• Fusão: A Fusão acontece quando um Estado “A” se une a um Estado “B”, formando o
Estado “C”. Há, portanto, a formação de um terceiro e novo ente federado, distinto
dos anteriores e com personalidade própria, sendo que os Estados que lhe deram
origem não mais existirão.
• Incorporação: A Incorporação acontece quando um Estado “A” se incorpora ao Estado
“B”, o qual continua a existir. O Estado “A” deixa de existir e o território do Estado “B”
aumenta. Assim, na incorporação, um dos entes federativos mantém a sua
personalidade jurídica. Na história do Brasil, temos um exemplo de incorporação: O
Estado de Guanabara se incorporou ao Estado do Rio de Janeiro.
• Subdivisão ou Cisão: A Subdivisão ou Cisão acontece quando um Estado “A” se
subdivide, dando origem ao Estado “B” e “C”. Dessa forma, o Estado “A” deixa de existir,
surgindo dois novos Estados (duas novas personalidades jurídicas). A subdivisão de
um Estado pode dar origem a novos Estados ou Territórios.
• Desmembramento-Anexação: O Desmembramento-Anexação acontece quando um
ou mais Estados cedem parte de seu território para que este seja anexado ao
território de outro Estado. O Estado “A” perde parcela do seu território, que é anexada
ao território do Estado “B”. Como se vê, o Estado “A” perdeu parte de seu território, mas
continuou existindo. Portanto, não há extinção de nenhum Estado.
• Desmembramento-Formação: O Desmembramento- Formação acontece quando um
ou mais Estados cedem parte de seu território para que haja a formação de um novo
ente. Não há extinção de nenhum Estado. Exemplo: O Estado de Goiás, quando este
cedeu parte de seu território para a formação de Tocantins. Goiás perdeu parte do seu
território, mas deu origem a um novo Estado-membro.
Ainda, será necessário preencher alguns requisitos para que seja realizado todas essas
alterações nas estruturas dos Estados, conforme a parte final do § 3º do artigo 18, da CF/88. São eles:
133

• Consulta às populações diretamente interessadas, mediante a realização de um


plebiscito. Caso a população seja desfavorável, a modificação territorial será
impossível. Contudo, caso a população seja favorável, a decisão final sobre a
modificação territorial é do Congresso Nacional, pois este poderá editar ou não a lei
complementar.
• Oitiva das Assembleias Legislativas dos Estados interessados. Após a manifestação
favorável da população diretamente interessada, será necessária também a oitiva das
Assembleias Legislativas dos estados interessados, sendo que esta consulta às
Assembleias Legislativas é meramente opinativa.
• Edição de lei complementar pelo Congresso Nacional. Assim, após a consulta da
população mediante plebiscito e a oitiva às Assembleias Legislativas, será editada a lei
complementar, sendo que este é um ato discricionário do Congresso Nacional.

Formação dos Municípios

175. Quais os requisitos para a formação dos Municípios?

Os requisitos para a criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios (previstos


no § 4º do artigo 18, da CF/88) são os seguintes:

• Edição de lei complementar federal pelo Congresso Nacional. Ela fixará


genericamente o período dentro do qual poderá ocorrer a criação, incorporação, fusão
e desmembramento de municípios.
• Aprovação de lei ordinária federal. Ela determinará os requisitos genéricos e a forma
de divulgação, apresentação e publicação dos estudos de viabilidade municipal.
• Divulgação dos estudos de viabilidade municipal. Eles serão estabelecidos na forma
da lei ordinária federal mencionada acima.
• Consulta prévia, por plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos. Caso o
plebiscito seja desfavorável, será impossível a criação do novo Município. Caso seja
favorável, caberá à Assembleia Legislativa decidir se irá ou não criar o Município.
• Aprovação de lei ordinária estadual pela Assembleia Legislativa. Ela determinará a
criação, incorporação, fusão e desmembramento do(s) município(s). Trata-se de ato
discricionário da Assembleia Legislativa.
134

Importante ressaltar que de 1988 até 1996, a criação de Municípios era bem simples e não
haviam restrições tão grandes, o que gerou a multiplicação de Municípios. Assim, na tentativa de
moralizar a criação de Municípios, foi promulgada a EC nº 15/1996, cujas regras estão válidas até
hoje. Referida Emenda deu nova redação ao § 4º do artigo 18, da CF/88 estabelecendo os requisitos
referidos acima.

Levando em consideração que, até hoje, o Congresso Nacional não editou lei complementar
dispondo sobre o período dentro do qual poderão ocorrer alterações na estrutura de Municípios,
conclui-se que, atualmente, esses entes federativos não podem ser criados.

176. A alteração dos limites de um Município exige plebiscito?

Conforme entendimento do STF32, a alteração dos limites de um Município exige plebiscito:


“Para que sejam alterados os limites territoriais de um Município é necessária a realização de consulta
prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, nos termos do art. 18, § 4º da
CF/88”. STF. Plenário. ADI 2921/RJ, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado
em 9/8/2017 (Info 872).

177. É possível uma lei estadual permitir a criação, incorporação, fusão e


desmembramento de municípios sem a edição prévia das leis federais previstas no art. 18, § 4º,
da CF/88?

Conforme entendimento do STF33, é inconstitucional lei estadual que permita a criação,


incorporação, fusão e desmembramento de municípios sem a edição prévia das leis federais
previstas no art. 18, § 4º, da CF/88: “Pendente a legislação federal prevista na redação atual do art.
18, § 4º, da Constituição Federal, são inadmissíveis os regramentos estaduais que possibilitem o
surgimento de novos municípios e que invadam a competência da União para disciplinar o tema. É
inconstitucional lei estadual que permita a criação, incorporação, fusão e desmembramento de

32
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Alteração dos limites de um Município exige plebiscito. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8452a95c40e2b232acd9b8a8712935d7>.
33
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É inconstitucional lei estadual que permita a criação, incorporação, fusão
e desmembramento de municípios sem a edição prévia das leis federais previstas no art. 18, § 4º, da CF/88. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e092aed5316b555a770029849e06a7de>.
135

municípios sem a edição prévia das leis federais previstas no art. 18, § 4º, da CF/88, com redação
dada pela Emenda Constitucional nº 15/96”. STF. Plenário. ADI 4711/RS, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 3/9/2021 (Info 1028).

VEDAÇÕES FEDERATIVAS

178. A União pode recusar fé aos documentos públicos?

As vedações federativas estão dispostas no artigo 19 da CF/88. Conforme referido artigo, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

• I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o


funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de
dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse
público. Sabe-se que o Brasil é um Estado laico, leigo ou não confessional, não
adotando qualquer religião oficial. Contudo, será admitido a colaboração de interesse
público com os cultos religiosos ou igrejas, na forma da lei. Exemplo: Município que
solicita a uma igreja abrigo para pessoas desabrigadas por conta de uma enchente/
desastre natural.
• II - recusar fé aos documentos públicos. É uma garantia que visa fortalecer o pacto
federativo.
• III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. Também trata-se de uma
garantia que visa fortalecer o pacto federativo.

BENS PÚBLICOS

179. Todas as terras devolutas são consideradas bens da União?

Conforme o artigo 20, inciso II, da CF/88, são bens da União as terras devolutas indispensáveis
à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e
à preservação ambiental, definidas em lei.
136

Assim, as terras devolutas são terras públicas, que não estão no nome de nenhum particular.
Ressalta-se que existem terras devolutas da União e terras devolutas dos Estados, sendo que são
bens dos Estados as terras devolutas que não forem da União.

Assim, as terras devolutas pertencem, em regra, aos Estados-membros, com exceção daquelas
indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de
comunicação e à preservação ambiental, que são de propriedade da União (artigo 20, II da CF/88).

180. As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são consideradas bens da União?
Elas podem ser consideradas como terras devolutas?

Conforme o artigo 20, inciso XI, da CF/88, são bens da União as terras tradicionalmente
ocupadas pelos índios. Ressalta-se que a palavra “tradicionalmente” não se refere ao tempo de
ocupação, mas sim ao modo de ocupação indígena. Conforme o STF, as terras tradicionalmente
ocupadas pelos indígenas são bens da União, porém são de usufruto exclusivo dos indígenas.

Segundo o STF34, não se pode caracterizar as terras ocupadas pelos indígenas como
devolutas: “As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são bens da União (art. 20, XI, da
CF/88) e, portanto, não podem ser consideradas como terras devolutas de domínio do Estado-
membro”. STF. Plenário. ACO 362/MT e ACO 366/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em
16/8/2017 (Info 873). CAVALCANTE explica que não se pode caracterizar as terras ocupadas
pelos indígenas como devolutas. As terras devolutas são aquelas que não tem nenhuma utilização
pública específica e que não se encontram, por qualquer título, integradas ao domínio privado. Elas
pertencem, em regra, aos Estados-membros, com exceção daquelas indispensáveis à defesa das
fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação
ambiental, que são de propriedade da União (art. 20, II).

INTERVENÇÃO

181. Defina intervenção. Quem tem competência para decretar a intervenção?

34
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não se pode caracterizar as terras ocupadas pelos indígenas como
devolutas. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9c22c0b51b3202246463e986c7e205df>.
137

Os entes federados são autônomos. Contudo, esta autonomia poderá ser temporariamente
suprimida, em algumas situações excepcionais, determinadas taxativamente pela CF/88.

Dessa forma, haverá intervenção da União sobre Estados ou Distrito Federal ou sobre
Municípios situados em Territórios, sendo chamada também de intervenção federal ou, ainda, haverá
intervenção do Estado em seu Município, chamada de intervenção estadual.

A intervenção, portanto, é um mecanismo de supressão temporária da autonomia política


de um ente federativo, típico de um Estado federal.

É um elemento de estabilização constitucional, medida de caráter excepcional, utilizada


quando o princípio federativo estiver em risco.

A competência para decretar a intervenção é do Chefe do Poder Executivo. Assim, na


intervenção federal, será competente o Presidente da República; e na intervenção estadual, a
competência é do Governador.

182. Em que hipóteses se autoriza a intervenção federal nos Estados?

A intervenção federal nos Estados está disciplinada na CF/88 em seu artigo 34, o qual traz as
hipóteses cabíveis em um rol taxativo.

CF/88. Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal,
exceto para:

I - manter a integridade nacional; (ESPONTÂNEA)

II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em


outra; (ESPONTÂNEA)

III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;


(ESPONTÂNEA)

IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da


Federação; (PROVOCADA)

V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o


pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo
motivo de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios receitas
138

tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em


lei; (ESPONTÂNEA)

VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;


(PROVOCADA)

VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a)


forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos
da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da
administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da
receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e
serviços públicos de saúde. (PROVOCADA)

A intervenção Federal pode ainda ser:

• Intervenção Federal Espontânea: Nela o Presidente da República age de ofício,


independentemente de provocação. São os casos previstos no artigo 34, I, II, III e V da
CF/88:
o Manter a integridade nacional.
o Repelir invasão estrangeira ou de uma outra unidade federativa em outra.
o Pôr termo a grave comprometimento da ordem pública.
o Reorganizar as finanças da unidade federativa que:
▪ Não pagar por mais de 2 anos consecutivos dívida fundada, salvo força
maior.
▪ Não repartir receita aos Municípios dentro do prazo estabelecido.
o
• Intervenção Federal Provocada: Nela a decretação de intervenção pelo Presidente da
República depende de provocação. O Presidente não decreta a intervenção de ofício,
ele precisa ser provocado. São os casos previstos no artigo 34, IV, VI e VII, da CF/88:

o Garantir o livre exercício de qualquer dos poderes. Depende de:


▪ Solicitação (pedido) do Poder Executivo (ato discricionário do PR).
▪ Solicitação (pedido) do Poder Legislativo (ato discricionário do PR).
▪ Requisição (ordem) do STF (ato vinculado do PR).
o Prover a execução de lei federal. Depende de:
▪ Ação de execução de lei federal pelo PGR.
139

▪ Provimento dessa ação pelo STF.


o Prover a execução de ordem ou decisão judicial. Depende de:
▪ Requisição (ordem) do TSE: se decisão descumprida é da Justiça Eleitoral.
▪ Requisição (ordem) do STJ: se decisão descumprida é do STJ.
▪ Requisição (ordem) do STF: se decisão descumprida é do STF, Justiça do
Trabalho ou Justiça Militar.
o Assegurar observância dos princípios constitucionais sensíveis. Depende de:
▪ ADI Interventiva proposta pelo PGR.
▪ Provimento dessa ação pelo STF.

Controle Político da Intervenção

183. Há controle político na intervenção federal?

A CF/88, no §1º e §2º do artigo 36, dispõe sobre o controle político da intervenção, realizado
pelo Poder Legislativo: “CF/88. Art. 36. (...) § 1º O decreto de intervenção, que especificará a
amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será
submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembléia Legislativa do Estado, no
prazo de vinte e quatro horas. § 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a Assembléia
Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas”.

Assim, o decreto de intervenção será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou


da Assembléia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas. Caso haja a rejeição do
decreto interventivo pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa, o Presidente da
República ou o Governador deverá cessar a intervenção imediatamente.

Contudo, referido controle político será dispensado nos seguintes casos:

• Intervenção federal para prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
• Intervenção federal em caso de afronta aos princípios sensíveis da Constituição.
É o que dispões o §3º do artigo 36 da CF/88.

Ressalta-se que uma das consequências da intervenção será o afastamento temporário das
autoridades de seus cargos. Contudo, nos termos do §4º do artigo 36 da CF/88, cessados os motivos
da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal.
140

REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

184. Como se dá a repartição de competências conforme a CF/88?

Na federação, o poder político é descentralizado. Isso quer dizer que os entes federados são
dotados de autonomia política, o que pressupõe a existência de uma repartição de competências.
A Constituição Federal delimita as atribuições de cada um dos entes federativos.

O objetivo da repartição de competências na Constituição Federal de 1988 é dividir o poder


político entre os entes federados de forma racional e equilibrada, garantindo o federalismo de
equilíbrio entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

A repartição de competências se baseia em dois princípios:

• Princípio da Predominância do Interesse: a União cuidará das matérias de


predominância do interesse geral (nacional); aos Estados, caberão as matérias de
interesse regional; e aos Municípios, caberão as matérias de interesse local.
• Princípio da Subsidiariedade: se baseia na lógica de que, sempre que for possível, as
questões devem ser resolvidas pelo ente federativo que estiver mais próximo da tomada
de decisões.
Há 2 técnicas de repartição de competências:

• Repartição Horizontal: a Constituição outorga aos entes federativos competência para


atuar em áreas específicas, sem a interferência de um sobre o outro, sob pena de
inconstitucionalidade. A Repartição Horizontal de competências é característica dos
Estados que adotam um federalismo dual ou clássico.
• Repartição Vertical: as competências serão exercidas em conjunto pelos entes
federativos, que irão, assim, atuar de forma coordenada. A Repartição Vertical de
competências é característica dos Estados que adotam um federalismo de cooperação
ou neoclássico.
A Constituição Federal de 1988, ao repartir competências entre os entes federativos, utilizou
das duas técnicas de repartição de competências. Ela adotou a técnica de repartição horizontal de
competências ao definir as competências exclusivas e as competências privativas da União; e
adotou a repartição vertical de competências ao estabelecer as competências comuns e as
competências concorrentes.
141

ORGANIZAÇÃO POLÍTICA ADMINISTRATIVA

185. Quais entes compõem a organização político-administrativa da República Federativa


do Brasil?

Conforme o artigo 18 da CF/88, a organização político-administrativa da República


Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
autônomos, nos termos da CF/88. Assim, a nossa Federação é formada por quatro entes: a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

A União é uma pessoa jurídica de direito público interno, sem personalidade internacional,
autônoma, com competências administrativas e legislativas enumeradas pela CF/88. A União
representa a República Federativa do Brasil no plano internacional. Ela é o ente federativo que
atua em nome da federação.

Conforme o artigo 18, § 2º da CF/88, os Territórios Federais integram a União. Eles são
considerados meras descentralizações administrativas. Não são dotados de autonomia política.
Dessa forma, são considerados pela doutrina autarquias territoriais da União.

Os Estados-membros ou Estados federados, assim como a União, são entes autônomos,


apresentando personalidade jurídica de direito público interno. Eles são dotados de autonomia
política e, por isso, apresentam capacidade de auto-organização, autolegislação, autoadministração
e autogoverno.

Sobre o Distrito Federal, alguns autores defendem que ele tem natureza híbrida, por
apresentar algumas características dos Estados e outras dos Municípios. Para José Afonso da Silva, o
Distrito Federal não é nem Estado e nem Município. Para o STF o Distrito Federal é um ente federativo
com autonomia parcialmente tutelada pela União. O Distrito Federal é ente federado autônomo e,
como tal, dispõe de auto-organização, autoadministração, autolegislação e autogoverno (arts. 18, 32
e 34 da CF/88).

Os Municípios são entes autônomos, sendo sua autonomia alçada, pela CF/88, à condição de
princípio constitucional sensível (CF, art. 34, VII, “c”). Essa autonomia dos Municípios se baseia na
capacidade de auto-organização, autolegislação, autogoverno e autoadministração. Nos Municípios,
ao contrário do que acontece nos demais entes da federação, não há Poder Judiciário. O Poder
Legislativo, assim como nos Estados membros, é unicameral. Conforme o artigo 29 da CF/88, o
Município reger-se-á por lei orgânica. Ela será votada em dois turnos, com o interstício mínimo de
142

dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará,
atendidos os princípios estabelecidos na CF/88 e na Constituição do respectivo Estado.
143

LEGISLAÇÃO ESPECIAL

1. LEI Nº 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964 – ESTATUTO DA TERRA

TÍTULO I – DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Objeto

186. Qual o objeto de estudo do Estatuto da Terra?

A Lei nº 4.504 de 30 de novembro de 1964 regula, tal como consta em sua ementa, sobre o
“Estatuto da Terra”. Podemos definir o Estatuto da Terra como um conjunto de regras que regula a
propriedade territorial rural (imóvel rural) e, ainda, os direitos e obrigações inerentes à
propriedade rural, a fim de realizar a reforma agrária e regular a política agrícola no Brasil.

Assim, gravita em torno do imóvel rural, sua posse e disposição, visando a execução da
Reforma Agrária e a Promoção da Política Agrícola Nacional.

Além disso, diante da relevância para o direito agrário, o Estatuto da Terra conceitua vários
institutos relacionados à efetivação das diretrizes e seara de abrangência desse diploma normativo,
e, notadamente, como vimos, dedica capítulos específicos para disciplinar elementos estruturantes
da Reforma Agrária.

Princípios e Definições

➢ Princípio da Função Social da Propriedade

187. Fale sobre o Princípio da Função Social da Propriedade presente no Estatuto da


Terra.
144

Pelo princípio da função social da propriedade a propriedade possui uma obrigação de que
o seu uso atenda, além dos direitos individuais do proprietário, o interesse público, isto é, os
interesses da coletividade e a proteção do meio ambiente. Assim, este princípio presente no Estatuto
da Terra impõe limites e deveres a serem seguidos pelo proprietário rural e, de certo modo,
pela sociedade.

Podemos verificar o princípio da função social da propriedade no Estatuto da Terra em seu


artigo 2º, caput e § 1º: “Lei nº 4.504/1964. Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à
propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei”.

O §1º do artigo 2º, dispõe que a propriedade da terra desempenha integralmente a sua função
social quando, simultaneamente: “a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que
nela labutam, assim como de suas famílias; b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; c)
assegura a conservação dos recursos naturais; d) observa as disposições legais que regulam as justas
relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem”.

Da mesma forma, podemos verificar o princípio da função social da propriedade no Estatuto da


Terra nos artigos 12 e 13. Vejamos: “Lei nº 4.504/1964. Art. 12. À propriedade privada da terra cabe
intrinsecamente uma função social e seu uso é condicionado ao bem-estar coletivo previsto na
Constituição Federal e caracterizado nesta Lei. Art. 13. O Poder Público promoverá a gradativa
extinção das formas de ocupação e de exploração da terra que contrariem sua função social”.

➢ Princípio da Justiça Social

188. Fale sobre o Princípio da Justiça Social presente no Estatuto da Terra.

A Justiça Social trata-se de uma construção moral e política, que se baseia na igualdade de
direitos e na solidariedade coletiva.

Assim, o Princípio da Justiça Social se baseia no sentido de que as regras de Direito Agrário
são voltadas para atender a necessidade de justiça social no meio rural, combatendo a
desigualdade.

Podemos verificar o Princípio da Justiça Social no Estatuto da Terra em seu artigo 1º, § 1º: “Lei
nº 4.504/1964. Art. 1º (...) § 1° Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a
145

promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de
atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade”.

➢ Definições dos principais institutos

189. Em que consiste a Reforma Agrária?

Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a promover melhor


distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos
princípios de justiça social e ao aumento de produtividade (artigo 1º, § 1°).

Portanto, trata-se de um conjunto de medidas que visam a melhor distribuição das terras rurais,
baseando-se na posse e no uso. Assim, nesse sentido, aquelas propriedades que não produzem,
deveriam ser disponibilizadas a trabalhadores rurais que produzem e sustentam suas famílias, a fim
de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade.

190. Em que consiste a Política Agrícola?

Entende-se por Política Agrícola o conjunto de providências de amparo à propriedade da


terra, que se destinem a orientar, no interesse da economia rural, as atividades agropecuárias, seja
no sentido de garantir-lhes o pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o processo de
industrialização do país (artigo 1º, § 2º).

191. Defina Imóvel Rural nos termos do Estatuto da Terra. Qual a teoria adotada para a
diferenciação dos imóveis urbano e rural?

O Estatuto da Terra define Imóvel Rural como sendo o prédio rústico, de área contínua
qualquer que seja a sua localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou
agro-industrial, quer através de planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada
(artigo 4º, I).
146

Pela Teoria da Destinação para efeito de diferenciação dos imóveis urbano e rural, o critério
diferenciador adotado para identificar um imóvel como rural ou urbano é aquele relacionado à
destinação do imóvel, sendo irrelevante, portanto, a localização do mesmo.

Desse modo, é possível que tenhamos um imóvel rural localizado dentro do perímetro urbano
de uma cidade, porquanto suas características de uso e destinação da área se enquadram em alguma
atividade agrícola, agropecuária ou extrativa.

Portanto, conclui-se que o ordenamento jurídico pátrio adotou a Teoria da Destinação para
efeito de diferenciação dos imóveis urbano e rural.

TÍTULO II – DA REFORMA AGRÁRIA

Dos Objetivos e dos Meios de Acesso à Propriedade Rural

192. Como se dá o acesso à propriedade rural para fins de reforma agrária nos termos do
Estatuto da Terra?

Sobre o acesso à propriedade rural o artigo 17 do Estatuto da Terra dispõe que será
promovido mediante a distribuição ou a redistribuição de terras, pela execução de qualquer das
seguintes medidas:

a) desapropriação por interesse social;

b) doação;

c) compra e venda;

d) arrecadação dos bens vagos;

e) reversão à posse (Vetado) do Poder Público de terras de sua propriedade,


indevidamente ocupadas e exploradas, a qualquer título, por terceiros;

f) herança ou legado.

TÍTULO III - DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO RURAL


147

Da Tributação da Terra

193. Quais os critérios e finalidades do ITR?

A Lei nº 4.504/1964 estabeleceu os critérios legais para a tributação da terra nos artigos 47 ao
52, possuindo o ITR uma importante função extrafiscal.

O Imposto Territorial Rural (ITR), possui duas finalidades básicas. A primeira delas é a normal de
todos os impostos, que é a de incrementar a arrecadação do Estado, com o objetivo de adquirir
recursos financeiros que possibilite a realização de seus objetivos (fiscal); a segunda, possui caráter
extrafiscal, que é a de inibir a manutenção de propriedades improdutivas, e incentivar a melhor
distribuição de terras e que o mesmo cumpra sua função social.

O §4º, inciso I, do artigo 153 da Constituição Federal de 1988, com redação da pela Emenda
Constitucional nº 42/2003, é claro em destacar o objetivo extrafiscal do ITR, ao estabelecer que o
imposto será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de
propriedades improdutivas.

Da Colonização

194. Defina Colonização, nos termos do Estatuto da Terra.

A Colonização trata-se de toda a atividade oficial ou particular, que se destine a promover


o aproveitamento econômico da terra, pela sua divisão em propriedade familiar ou através de
Cooperativas.

Dessa forma, a Colonização pode se dar mediante atividade oficial, pelo qual o Poder Público
tomará a iniciativa de recrutar e selecionar pessoas ou famílias, dentro ou fora do território nacional,
reunindo-as em núcleos agrícolas ou agro-industriais, podendo encarregar-se de seu transporte,
recepção, hospedagem e encaminhamento, até a sua colocação e integração nos respectivos
núcleos. Ressalta-se que a colonização oficial deverá ser realizada em terras já incorporadas ao
Patrimônio Público ou que venham a sê-lo, e será efetuada, preferencialmente, nas áreas:

I - ociosas ou de aproveitamento inadequado;


148

II - próximas a grandes centros urbanos e de mercados de fácil acesso, tendo


em vista os problemas de abastecimento;

III - de êxodo, em locais de fácil acesso e comunicação, de acordo com os


planos nacionais e regionais de vias de transporte;

IV - de colonização predominantemente estrangeira, tendo em mira facilitar


o processo de interculturação;

V - de desbravamento ao longo dos eixos viários, para ampliar a fronteira


econômica do país.

Da mesma forma a Colonização pode se dar de forma particular. Consideram-se empresas


particulares de colonização as pessoas físicas, nacionais ou estrangeiras, residentes ou domiciliadas
no Brasil, ou jurídicas, constituídas e sediadas no País, que tiverem por finalidade executar programa
de valorização de área ou distribuição de terras.

As empresas particulares de colonização serão inscritas em registro próprio do Instituto


Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA), o qual examinará seus projetos no tocante à metodologia, sendo
posteriormente registrados após a aprovação do Ministério da Agricultura.

Do Uso ou da Posse Temporária da Terra

195. Quais são as formas de uso temporário e posse da terra rural disciplinadas pelo
Estatuto da Terra?

O Estatuto da Terra disciplina duas formas de uso temporário e posse da terra rural:

• O ARRENDAMENTO RURAL; e
• A PARCERIA agrícola, pecuária, agroindustrial e extrativa.

Ambos os institutos serão celebrados por meio de CONTRATO, o qual a lei autoriza serem
firmados de forma expressa ou tácita.

O proprietário garantirá ao arrendatário ou parceiro o uso e gozo do imóvel arrendado ou


cedido em parceria.
149

Importante ressaltar que este tema “Do Uso ou da Posse Temporária da Terra” foi objeto de
outra legislação e de regulamentação. A primeira lei que tratou desta matéria, depois do Estatuto da
Terra (Lei nº 4.504/64), foi a Lei de nº 4.947, de 06/04/1966. Posteriormente, veio o Decreto nº 59.566,
de 14/11/1966, o qual regulamentou este Capítulo IV, do Título III, do Estatuto da Terra.

DEVER DOS OFICIAIS DOS CARTÓRIOS DE REGISTRO DE IMÓVEIS

196. Diante de um loteamento para fins de urbanização ou formação de sítios de recreio


promovido por proprietário de terras próprias para a lavoura ou pecuária, qual o dever imposto
ao Oficial de Registro de Imóveis?

O Estatuto da Terra contém previsão expressa no artigo 61, § 3°, impondo aos Oficiais de
Registro de Imóveis o dever de comunicar o Ministério da Agricultura e ao INCRA (IBRA foi
extinto) sobre os registros efetuados nas respectivas circunscrições, a fim de possibilitar o
cadastro, o controle e a fiscalização dos loteamentos rurais, informando o nome do proprietário, a
denominação do imóvel e sua localização, bem como a área, o número de lotes, e a data do registro
nos citados órgãos

Lei nº 4.504/1964. Art. 61. (...) § 2º O proprietário de terras próprias para a


lavoura ou pecuária, interessados em loteá-las para fins de urbanização ou
formação de sítios de recreio, deverá submeter o respectivo projeto à prévia
aprovação e fiscalização do órgão competente do Ministério da
Agricultura ou do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, conforme o
caso. § 3º A fim de possibilitar o cadastro, o controle e a fiscalização dos
loteamentos rurais, os Cartórios de Registro de Imóveis são obrigados a
comunicar aos órgãos competentes, referidos no parágrafo anterior, os
registros efetuados nas respectivas circunscrições, nos termos da
legislação em vigor, informando o nome do proprietário, a denominação do
imóvel e sua localização, bem como a área, o número de lotes, e a data do
registro nos citados órgãos.
150

2. LEI Nº 10.257 DE 10 DE JULHO DE 2001 - ESTATUTO DA CIDADE

DIRETRIZES GERAIS

197. Em que consiste o Estatuto da Cidade?

A Lei nº 10.257/2001 regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal e estabelece


diretrizes gerais da política urbana.

O artigo 182 da CF/88 dispõe que a política urbana é responsabilidade do Município e deve
garantir as funções sociais da cidade e o bem-estar de seus habitantes.

Já o artigo 183 da CF/88 trata da aquisição da propriedade pelo ocupante de imóvel urbano
que o utiliza para sua moradia ou de sua família.

Assim, na execução da política urbana será aplicado o disposto na Lei nº 10.257/2001,


denominada de Estatuto da Cidade, a qual estabelece normas de ordem pública e interesse
social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-
estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.

Portanto, o Estatuto da Cidade objetiva trabalhar a função social da cidade, bem como a
função social da propriedade.

DOS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA URBANA

Dos instrumentos em geral

198. Quais são os instrumentos de política urbana previstos no Estatuto da Cidade? Fale
sobre suas finalidades.

A doutrina ensina que os instrumentos de política urbana podem ser subdivididos em


instrumentos urbanísticos gerais e instrumentos urbanísticos específicos.
151

Segundo FRANCISCO e GOLDFINGER35, “Os instrumentos gerais são os que possuem


utilidade para todas as cidades, enquanto os instrumentos específicos atendem de forma particular
algumas cidades. Os instrumentos gerais são basicamente aqueles definidos no art. 4º do EC; já os
especiais são aqueles empregados pelos governos das próprias cidades”.

As finalidades dos instrumentos de política urbana são:

• Originária: consistente na efetivação das diretrizes gerais; e


• Derivadas: as que se originam dessa concretização.

Do parcelamento, edificação ou utilização compulsórios

199. É possível que se determine ao particular o parcelamento, a edificação ou a utilização


compulsória do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado?

Segundo o artigo 5º do Estatuto da Cidade, por meio de lei municipal específica, no plano
diretor, poderão ser determinados o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsória do
solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado.

Segundo FRANCISCO e GOLDFINGER36, “O parcelamento, a edificação ou a utilização


compulsória do solo urbano é uma das primeiras providências a ser adotada pelo município para que
o proprietário adapte seu imóvel ao plano diretor da cidade, conforme previsão do art. 182, § 4º, inc.
I, da CF. Desse modo, podemos observar que o parcelamento, a edificação ou a utilização
compulsória do solo urbano nada mais são do que providências para possível aplicação de sanções
como o IPTU progressivo no tempo e a desapropriação sancionatória”.

Conforme o § 2º do artigo 5º da Lei nº 10.257/2001, o proprietário será notificado pelo Poder


Executivo municipal para o cumprimento da obrigação, devendo a notificação ser averbada no
cartório de Registro de Imóveis.

35
FRANCISCO, Ronaldo Vieira e GOLDFINGER, Fábio. Sinopses para Concursos - v.44 - Direito
Urbanístico - 5. ed. rev., ampl. e atual. - Salvador: Editora JusPodivm, 2020. Página 49.
36
FRANCISCO, Ronaldo Vieira e GOLDFINGER, Fábio. Sinopses para Concursos - v.44 - Direito
Urbanístico - 5. ed. rev., ampl. e atual. - Salvador: Editora JusPodivm, 2020. Página 55.
152

Da desapropriação com pagamento em títulos

200. Em que consiste a desapropriação estabelecida no Estatuto da Cidade?

A desapropriação trata-se de uma intervenção do Estado na propriedade privada. Com a


desapropriação haverá a transferência do patrimônio, em regra particular, ao Estado. Existem
diversas hipóteses de desapropriação com fundamentos na CF/88, regulamentado por diversas leis.

No que se refere ao Estatuto da Cidade, ele prevê a desapropriação como instituto jurídico
de política urbana, regulamentando a desapropriação sanção.

Conforme o artigo 8º do Estatuto da Cidade, decorridos cinco anos de cobrança do IPTU


progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou
utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos
da dívida pública. Os títulos da dívida pública terão prévia aprovação pelo Senado Federal e serão
resgatados no prazo de até dez anos, em prestações anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais de seis por cento ao ano.

Conforme se verifica do texto do artigo 8º, o ente municipal poderá proceder à desapropriação
do imóvel. Portanto, trata-se de uma atividade facultativa.

Da usucapião especial de imóvel urbano

201. Fale sobre a usucapião especial de imóvel urbano prevista no Estatuto da Cidade.

A usucapião trata-se de forma de aquisição originária da propriedade ou de outro direito real,


em razão do decurso do tempo, desde que preenchidos os requisitos estabelecidos em lei.

A Lei nº 10.257/2001, prevê a usucapião especial de imóvel urbano em seu artigo 9º “Aquele
que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados,
por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família,
adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”.

Lei nº 10.257/2001. Art. 9º. (...) § 1º O título de domínio será conferido ao


homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
153

§ 2º O direito de que trata este artigo não será reconhecido ao mesmo


possuidor mais de uma vez.

§ 3º Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de pleno


direito, a posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por
ocasião da abertura da sucessão.

202. Fale sobre a usucapião coletiva prevista no Estatuto da Cidade.

A Lei nº 10.257/2001 prevê a usucapião coletiva, a qual surgiu com a necessidade de


regularizar o domínio de áreas em que os possuidores não conseguem identificar terrenos
ocupados por pessoas de baixa renda.

Nesse sentido, dispõe o artigo 10 do Estatuto da Cidade: ”Os núcleos urbanos informais
existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida pelo número de
possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis
de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro
imóvel urbano ou rural”.

Lei nº 10.257/2001. Art. 10. (...) § 1º O possuidor pode, para o fim de


contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de seu
antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.

§ 2º A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo


juiz, mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório
de registro de imóveis.

§ 3º Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada


possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um
ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos,
estabelecendo frações ideais diferenciadas.

§ 4º O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível


de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços
dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à
constituição do condomínio.
154

§ 5º As deliberações relativas à administração do condomínio especial


serão tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes,
obrigando também os demais, discordantes ou ausentes.

Conforme FRANCISCO e GOLDFINGER37, “a usucapião coletiva não possui previsão


constitucional expressa nos arts. 182 e 183 da CF, razão pela qual chegou-se a ventilar a
inconstitucionalidade do referido instituto. Contudo, embora não expressamente prevista na CF, sua
inclusão no EC não extrapolou competência legislativa, bem como não houve ofensa a qualquer
norma ou princípio constitucional”.

Do direito de superfície

203. Fale sobre o direito de superfície nos termos do Estatuto da Cidade.

O direito de superfície tem origem no Direito Romano. Ele passou a ser regido pelo CC/02
em seus artigos 1.369 a 1.377. Contudo, já havia previsão do direito de superfície no Estatuto da
Cidade (artigos 21 a 24 da Lei nº 10.257/2001).

Assim, a superfície é regida pelo Código Civil de 2002, tratando de imóvel urbano ou rural; bem
como pelo Estatuto da Cidade, tratando de imóvel urbano (artigos 21 ao 24).

Conforme o artigo 21 do Estatuto da Cidade, o proprietário urbano poderá conceder a outrem


o direito de superfície do seu terreno, por tempo determinado ou indeterminado, mediante
escritura pública registrada no cartório de registro de imóveis. O direito de superfície abrange o
direito de utilizar o solo, o subsolo ou o espaço aéreo relativo ao terreno, na forma estabelecida no
contrato respectivo, atendida a legislação urbanística. A concessão do direito de superfície poderá
ser gratuita ou onerosa. O superficiário responderá integralmente pelos encargos e tributos que
incidirem sobre a propriedade superficiária, arcando, ainda, proporcionalmente à sua parcela de
ocupação efetiva, com os encargos e tributos sobre a área objeto da concessão do direito de
superfície, salvo disposição em contrário do contrato respectivo. O direito de superfície pode ser

37
FRANCISCO, Ronaldo Vieira e GOLDFINGER, Fábio. Sinopses para Concursos - v.44 - Direito Urbanístico - 5. ed. rev.,
ampl. e atual. - Salvador: Editora JusPodivm, 2020. Página 81.
155

transferido a terceiros, obedecidos os termos do contrato respectivo. Por morte do superficiário, os


seus direitos transmitem-se a seus herdeiros.

Nos termos do artigo 22 da Lei nº 10.257/2001, em caso de alienação do terreno, ou do direito


de superfície, o superficiário e o proprietário, respectivamente, terão direito de preferência, em
igualdade de condições à oferta de terceiros.

Extingue-se o direito de superfície (artigo 23):

I – pelo advento do termo;

II – pelo descumprimento das obrigações contratuais assumidas pelo


superficiário.

Extinto o direito de superfície, o proprietário recuperará o pleno domínio do terreno, bem


como das acessões e benfeitorias introduzidas no imóvel, independentemente de indenização, se as
partes não houverem estipulado o contrário no respectivo contrato (artigo 24).

Da outorga onerosa do direito de construir

204. Em que consiste a outorga onerosa do direito de construir previsto no Estatuto da


Cidade?

A outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso está entre os instrumentos


jurídicos e políticos previstos no Estatuto da Cidade que visam ordenar o pleno desenvolvimento
das funções sociais da cidade e da propriedade urbana.

Ela também é conhecida como solo criado (ou solo virtual).

Assim, conforme o Estatuto da Cidade o plano diretor poderá fixar áreas em que o direito
de construir poderá ser exercido acima do coeficiente de aproveitamento básico adotado,
mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficiário.

O coeficiente de aproveitamento é a relação entre a área edificável e a área do terreno, se refere


à possibilidade real do proprietário do direito de construir em seu terreno.
156

Nos termos do artigo 29 do Estatuto da Cidade, o plano diretor poderá fixar áreas nas quais
poderá ser permitida alteração de uso do solo, mediante contrapartida a ser prestada pelo
beneficiário.

Segundo FRANCISCO e GOLDFINGER38, “A alteração de uso do solo é instituto urbanístico


diferente da outorga onerosa do direito de construir, embora previstos em uma única seção. O
instituto acima mencionado consiste na faculdade da municipalidade de consentir que seja
modificado o uso do solo em determinada área, desde que a finalidade do uso do solo já esteja
definida no plano diretor. Tanto para a outorga onerosa do direito de construir como para a alteração
do uso do solo se faz necessária a edição de lei municipal especifica, complementando a lei aprovada
pelo plano diretor”.

Lei municipal específica estabelecerá as condições a serem observadas para a outorga onerosa
do direito de construir e de alteração de uso, determinando:

I – a fórmula de cálculo para a cobrança;

II – os casos passíveis de isenção do pagamento da outorga;

III – a contrapartida do beneficiário.

Das operações urbanas consorciadas

205. Em que consiste a operação urbana consorciada prevista no Estatuto da Cidade?

Segundo FRANCISCO e GOLDFINGER39, “A operação urbana consorciada é um dos


instrumentos de política urbana, caracterizada como um instituto jurídico e político com previsão
no Estatuto da Cidade. Para sua implementação é necessária uma lei municipal específica, baseada
no plano diretor, que poderá delimitar área para aplicação de operações consorciadas”.

Trata-se do conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público municipal,


com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com

38
FRANCISCO, Ronaldo Vieira e GOLDFINGER, Fábio. Sinopses para Concursos - v.44 - Direito Urbanístico - 5. ed. rev.,
ampl. e atual. - Salvador: Editora JusPodivm, 2020. Página 109.
39
FRANCISCO, Ronaldo Vieira e GOLDFINGER, Fábio. Sinopses para Concursos - v.44 - Direito Urbanístico - 5. ed. rev.,
ampl. e atual. - Salvador: Editora JusPodivm, 2020. Página 111.
157

o objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a


valorização ambiental.

Do estudo de impacto de vizinhança

206. Em que consiste o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) previsto no Estatuto da


Cidade?

Nos termos do artigo 36 do Estatuto da Cidade, lei municipal definirá os empreendimentos e


atividades privados ou públicos em área urbana que dependerão de elaboração de estudo prévio
de impacto de vizinhança (EIV) para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou
funcionamento a cargo do Poder Público municipal.

Conforme FRANCISCO e GOLDFINGER40, “O Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) é um


instrumento de atuação junto ao meio ambiente artificial que possui a perspectiva de assegurar
o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), e ainda tem por objetivo
compatibilizar a ordem econômica do capitalismo (art. 1º, IV, e art. 170 da CF). Trata-se de um
instrumento de política urbana, com diretrizes fixadas no Estatuto da Cidade como a garantia do
direito de cidades sustentáveis, a gestão democrática, o planejamento do desenvolvimento, bem
como o desenvolvimento das funções sociais da cidade”.

O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do


empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas
proximidades, incluindo a análise, no mínimo, das seguintes questões: I – adensamento populacional;
II – equipamentos urbanos e comunitários; III – uso e ocupação do solo; IV – valorização imobiliária; V
– geração de tráfego e demanda por transporte público; VI – ventilação e iluminação; VII – paisagem
urbana e patrimônio natural e cultural.

Dar-se-á publicidade aos documentos integrantes do EIV, que ficarão disponíveis para consulta,
no órgão competente do Poder Público municipal, por qualquer interessado.

Por fim, o artigo 38 dispõe que a elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação
de estudo prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação ambiental.

40
FRANCISCO, Ronaldo Vieira e GOLDFINGER, Fábio. Sinopses para Concursos - v.44 - Direito Urbanístico - 5. ed. rev.,
ampl. e atual. - Salvador: Editora JusPodivm, 2020. Página 124.
158

DO PLANO DIRETOR

207. Defina Plano Diretor.

Conforme o artigo 39 do Estatuto da Cidade, a propriedade urbana cumpre sua função social
quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor,
assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça
social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as diretrizes previstas no art. 2º
desta Lei.

O Plano Diretor possui fundamentação constitucional expressa no artigo 182, § 1º, bem como
no artigo 40 do Estatuto da Cidade:

CF/88. Art. 182. (...) § 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal,
obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento
básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

Lei nº 10.257/2001. Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o
instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana.

Trata-se de parte integrante do processo de planejamento municipal, o qual deverá


englobar o território do Município como um todo.

Lei nº 10.257/2001. Art. 40. (...) § 1º O plano diretor é parte integrante do


processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as
diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as
prioridades nele contidas.

§ 2º O plano diretor deverá englobar o território do Município como um


todo.

Nos termos do § 3º do artigo 40 da Lei nº 10.257/2001, a lei que instituir o plano diretor deverá
ser revista, pelo menos, a cada dez anos.
159

No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os


Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão:

I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da


população e de associações representativas dos vários segmentos da
comunidade;

II – a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos;

III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações


produzidos.

208. O plano diretor é obrigatório para quais cidades?

O Estatuto da Cidade prevê que o plano diretor é obrigatório para cidades:

I – com mais de vinte mil habitantes;

II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;

III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos


previstos no § 4º do art. 182 da Constituição Federal;

IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico;

V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades


com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional.

VI - incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à


ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou
processos geológicos ou hidrológicos correlatos. (Incluído pela Lei nº
12.608, de 2012)
160

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Jurisprudências Buscador Dizer o Direito.

FRANCISCO, Ronaldo Vieira e GOLDFINGER, Fábio. Sinopses para Concursos - v.44 - Direito
Urbanístico - 5. ed. rev., ampl. e atual. - Salvador: Editora JusPodivm, 2020

LENZA, Pedro. Direito Constitucional / Pedro Lenza. – 26. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2022.

MARTINS, Flávio. Curso de direito constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, 6ª edição,
Editora Saraiva, 2022.

NOVELINO, Marcelo. Manual de Direito Constitucional, 9ª edição, Editora Método, 2014.

NUNES JÚNIOR, FLÁVIO MARTINS ALVES. Curso de direito constitucional / Flávio Martins Alves
Nunes Júnior. – 3. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário / Silvia C. B. Opitz, Oswaldo Opitz. – 11.
ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2017.

REVISAÇO. Carreiras Jurídicas: Cartórios – Notário e Registrador. 3. ed. rev., ampl. e atual.
Salvador: Editora Juspodvum, 2018.

SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de direito constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, 11ª
edição. Editora Saraiva, 2022.

TAVARES, André Ramos Curso de direito constitucional / André Ramos Tavares. – 18. ed. – São
Paulo: Saraiva Educação, 2020.

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