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CADERNO DE REVISÃO

RESUMOS TOPIFICADOS
SEMANA 01
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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

Sumário
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ............................................................. 7
1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS...................................................................................................................... 7
2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ...................................................................................................... 8
2.1 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos ............................................................................................................. 8
2.2 Geração dos direitos fundamentais: ....................................................................................................................... 8
2.3. Características dos direitos fundamentais ............................................................................................................ 11
2.4. Dimensões dos Direitos Fundamentais ................................................................................................................. 12
2.5. Destinatários ......................................................................................................................................................... 13
2.6. Os Direitos Fundamentais Na Constituição Federal De 1988 ................................................................................ 13
2.7 Hierarquia Dos Tratados Internacionais De Direitos Humanos .............................................................................. 14
3. ALGUNS DIREITOS INDIVIDUAIS – rol do art. 5º .......................................................................................... 14
4. DIREITOS SOCIAIS ..................................................................................................................................... 23
DIREITO PROCESSUAL PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ....................................................................... 26
1. PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL........................................................................................................... 26
2. PRETENSÃO PUNITIVA ................................................................................................................................. 26
3. SISTEMAS DO PROCESSO PENAL ................................................................................................................. 27
4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL ................................................................................... 28
4.1 Princípios Constitucionais Explícitos...................................................................................................................... 28
4.2 Princípios Constitucionais Implícitos ...................................................................................................................... 35
5. OUTROS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL ................................................................................................ 38
6. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL ................................................................................................................. 38
6.1 Aplicação da Lei Processual no Tempo .................................................................................................................. 38
6.2 Aplicação da Lei Processual no Espaço:.................................................................................................................. 39
6.3 Aplicação da Lei Processual em Relação às Pessoas .............................................................................................. 39
7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL ............................................................................................. 41
8. FONTES ........................................................................................................................................................ 41
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ............................................................. 43
1. NATUREZA JURÍDICA DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. ......................................................................... 43
3. COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS DE QUALQUER NATUREZA ........................................................................ 44
4. QUEBRA DO SIGILO DE DADOS TELEFÔNICOS ............................................................................................. 44
5. QUEBRA DE ERB ........................................................................................................................................... 45
6. MOMENTO DE DECRETAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ................................................................ 47
7. DA NECESSIDADE DE CONTRADITÓRIO. ...................................................................................................... 48
8. REQUISITOS PARA A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA: ................................................................................... 48
9. SIGILO PROFISSIONAL DO ADVOGADO ....................................................................................................... 50
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10. ENCONTRO FORTUITO DE ELEMENTO PROBATÓRIO EM RELAÇÃO A OUTROS FATOS DELITUOSOS


(SERENDIPIDADE): ........................................................................................................................................... 51
11. PROCEDIMENTO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA .................................................................................. 51
12. EXECUÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA – art. 6º ............................................................................. 53
13. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA E AUTORIDADES COM FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO .............. 54
14. INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES AMBIENTAIS ............................................................................... 54
14.2 Captação Ambiental Clandestina e Figura Criminosa Respectiva ........................................................................ 56
DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ............................................................................................. 59
1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL ................................... 59
2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS ......................................................................................................... 61
3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO .............................................................................. 62
4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI)............................................................................................................... 62
4.1 Máximas do garantismo ......................................................................................................................................... 63
5. DIREITO PENAL DO INIMIGO ....................................................................................................................... 64
5.1 Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez) ..................................................................................... 64
6. FONTES DO DIREITO PENAL ........................................................................................................................ 65
7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ................................................................................................................... 66
DIREITO PENAL: A LEI PENAL E SUA APLICAÇÃO ............................................................................................. 74
1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL ............................................................................................................................ 74
1.1. Classificação das Leis Penais.................................................................................................................................. 74
1.2 Características da Lei Penal .................................................................................................................................... 75
2. LEI PENAL NO TEMPO .................................................................................................................................. 76
2.2. Abolitio Criminis .................................................................................................................................................... 76
2.3. Crime continuado, Crime permanente, Sucessão de leis penais .......................................................................... 78
2.4. Lei Excepcional e Temporária ................................................................................................................................ 79
2.5. Lei Intermediária ................................................................................................................................................... 80
3. LEI PENAL NO ESPAÇO ................................................................................................................................. 80
3.1. Extraterritorialidade .............................................................................................................................................. 82
3.2. Lugar Do Crime ...................................................................................................................................................... 83
4. EFICÁCIA DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS (IMUNIDADES) ............................................................ 84
4.1 Imunidades Diplomáticas ....................................................................................................................................... 84
4.3 Imunidades Parlamentares .................................................................................................................................... 85
5. EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA ...................................................................................................... 86
6. CONTAGEM DO PRAZO E FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA ............................................................ 87
7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL ................................................................................................................... 87
7.1 Espécies de Interpretação ...................................................................................................................................... 87
7.2. Interpretação Extensiva X Interpretação Analógica X Analogia ............................................................................ 88
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8. CONFLITO APARENTE DE NORMAS ............................................................................................................. 89


DIREITO ADMINISTRATIVO: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS .......................................................................... 92
1. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO .............................................................................................. 92
2. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO ................................................................................................ 92
3. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO: ............................................................................................................. 93
4. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO ............................................................................................................... 93
5. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO....................................................................................................... 95
6. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................ 96
7. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA ......................................................................... 97
8. REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO .......................................................................................................... 97
9. PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO ................................................................................................. 97
10. OUTROS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS ................................................................................................ 100
DIREITO ADMINISTRATIVO: PODERES DA ADMINISTRAÇÃO ........................................................................ 106
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 106
2. PODER VINCULADO E PODER DISCRICIONÁRIO ........................................................................................ 106
2.1 Poder Vinculado/Regrado: ................................................................................................................................... 106
2.2 Poder Discricionário ............................................................................................................................................. 107
2.3 Limites da discricionariedade e controle judicial ................................................................................................. 107
3. PODERES EM ESPÉCIE ................................................................................................................................ 108
3.1 Poder Normativo (Ou Regulamentar) .................................................................................................................. 108
3.2 Poder Hierárquico ................................................................................................................................................ 109
3.3 Poder Disciplinar .................................................................................................................................................. 111
3.4 Poder De Polícia ................................................................................................................................................... 112
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI MARIA DA PENHA ................................................................................... 117
1. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ..................................................................... 117
3. SUJEITOS DO DELITO .............................................................................................................................. 117
4. ELEMENTO SUBJETIVO ........................................................................................................................... 118
5. HIPÓTESES DE CONFIGURAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ................................................................. 119
6. FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ......................................................................................... 120
8. FORMAS DE PREVENÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA ................................................................................. 121
9. DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA FAMILIAR ...................................................... 122
10. DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL ................................................................................... 122
11. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA ..................................................................................................... 123
13. PRISÃO PREVENTIVA ................................................................................................................................ 128
14. RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO NOS CRIMES PRATICADOS NO CONTEXTO DA LEI 11.340/06 ........ 128
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15. VEDAÇÕES PREVISTAS NA LEI MARIA DA PENHA .................................................................................... 129


16. AÇÃO PENAL NOS CRIMES DA LEI MARIA DA PENHA .............................................................................. 129
17. COMPETÊNCIA NA LEI MARIA DA PENHA ................................................................................................ 130
18. REPARAÇÃO DE DANOS NO ÂMBITO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ..... 130
19. ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS IMPORTANTES ............................................................................ 131
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DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

1. São decididos antes da elaboração do texto, no momento de construção das normas.


2. Têm natureza de vetores interpretativos que imprimem coesão, harmonia e unidade ao sistema.
3. Princípios que regem as relações internacionais (art. 4º):
● independência nacional;
● prevalência dos direitos humanos;
● autodeterminação dos povos;
● não-intervenção;
● igualdade entre os Estados;
● defesa da paz;
● solução pacífica dos conflitos;
● repúdio ao terrorismo e ao racismo;
● cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
● concessão de asilo político.

4. Outros princípios constitucionais

a) Dignidade da pessoa humana: o “princípio da dignidade humana expressa um conjunto de valores


civilizatórios que se pode considerar incorporado ao patrimônio da humanidade. Dele
se extrai o sentido mais nuclear dos direitos fundamentais, para tutela do mínimo existencial e da
personalidade humana, tanto na dimensão física como na moral”.

b) Legalidade: O princípio da legalidade significa que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
algo que não esteja previamente estabelecido na própria CR e nas normas jurídicas dela derivadas.

● Legalidade x Reserva Legal: O princípio da reserva legal é um desdobramento da legalidade, que


impõe e vincula a regulação de determinadas matérias constantes na constituição à fonte formal do
tipo lei.
● Acepções do princípio da legalidade:
1) Para particulares: Somente a lei pode criar obrigações, de forma que a inexistência de lei proibitiva
de determinada conduta implica ser ela permitida.
2) Para a Administração Pública: O Estado se sujeita às leis, e deve atuar em conformidade à previsão
legal. O administrador público só poderá agir dentro daquilo que é previsto e autorizado por lei.

c) Isonomia:
● Isonomia formal: Igualdade perante a lei;
● Isonomia Material: Tratar os desiguais na medida de sua desigualdade.

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Obs.1: STF – É possível estabelecer, em algumas hipóteses, critérios diferenciadores para admissão de
candidato em concursos públicos, sem que isso viole a isonomia, desde que sejam observados 2 requisitos:
(1) Previsão legal anterior definindo os critérios de admissão para o cargo; e
(2) Razoabilidade da exigência, decorrente da natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

Obs.2: STF - É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia, a exigência de requisitos legais
diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-servidores públicos em relação a seus
respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras.

2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

2.1 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos

● Direitos Humanos: são direitos reconhecidos no âmbito internacional.


● Direitos fundamentais: são direitos reconhecidos no plano interno de um determinado Estado.
Preferencialmente, positivados na CF.

DIREITOS FUNDAMENTAIS DIREITOS HUMANOS


FORMAL Encontram previsão formal Encontram fundamento nos
FUNDAMENTO DE nas constituições Tratados Internacionais;
VALIDADE/JURÍDICO Exemplo: Declaração Universal
dos Direitos Humanos da ONU
MATERIAL Estabelecem o conjunto de Buscam a proteção da pessoa
LIGADA AO CONTEÚDO bens jurídicos básicos, humana(exclusivamente).
FINALIDADE DE CADA UM essenciais de uma Não há que se falar em direito
DOS INSTITUTOS sociedade, não se limitando
à proteção da pessoa física

2.2 Geração dos direitos fundamentais:

1. DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO OU PRIMEIRA DIMENSÃO (individuais, negativos, direito de defesa):


Surgem no contexto histórico das revoluções liberais, diante do nascimento do constitucionalismo liberal.
– Séc. XIX.
● Os direitos de 1ª geração fundamentam-se na igualdade formal.
● Trata-se de impor ao Estado obrigações de não-fazer e se relacionam às pessoas, individualmente.
● Estão relacionados à luta pela liberdade e segurança diante do Estado. Ex: propriedade, igualdade formal
(perante a lei), liberdade de crença, de manifestação de pensamento, direito à vida etc.
● Grandes Marcos dos direitos de 1ª dimensão:
▪ Inglaterra – 1.215 – Magna Carta
▪ EUA – 1.776 – Declaração de Independência Americana
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▪ EUA – 1.787 – Constituição Americana


▪ França – 1.789 – Revolução Francesa
▪ França – 1.791 – Constituição Francesa
2. DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO OU SEGUNDA DIMENSÃO (sociais, econômicos e culturais ou direitos
positivos): Surgem no final do século XIX e início do século XX, diante do fenômeno do constitucionalismo
social (ligado ao movimento do socialismo)

● Os direitos de 2ª geração fundamentam-se na igualdade material.


● São os direitos de grupos sociais menos favorecidos, e que impõem ao Estado uma obrigação de fazer,
de prestar (por isso são chamados de direitos prestacionais).
● São direitos que buscam viabilizar, através do Estado, a satisfação das necessidades básicas dos
indivíduos como forma de lhes proporcionar uma vida digna. Ex: saúde, educação, moradia, segurança
pública.
● Os direitos sociais elencados no art. 6º da CF/88 são exemplos clássicos de direitos de 2ª
geração/dimensão
● Grandes Marcos:
▪ Constituição Mexicana de 191
▪ Constituição Alemã de Weimar de 191
▪ Rússia – 1.917/18 – Declaração do Povo Oprimido e Trabalhador – Revolução Russ
▪ Constituição Brasileira de 1934.

Observação: A teoria da reserva do possível é uma limitação fática e jurídica oponível à realização dos direitos
fundamentais, sobretudo os de cunho prestacional. Como é cediço, o Estado não possui recursos materiais
ilimitados, o que leva os administradores a realizarem escolhas trágicas, alocando esses recursos em ações
prioritárias. O limite da reserva do possível é o mínimo existencial, núcleo da dignidade da pessoa humana. -
Nesse contexto, a reserva do possível deve ser analisada sob três aspectos:
I- Disponibilidade fática dos recursos para efetivação dos direitos fundamentais.
II- Disposibilidade jurídica dos recursos, mediante autorização orçamentária.
III- Razoabilidade e proporcionalidade da prestação, levando-se em consideração a universalização da
demanda, não apenas o indivíduo. Nesse sentido, não se pode exigir judicialmente do Estado uma prestação
que não possa ser concedida a todos os indivíduos que se encontrem em situação idêntica, sob pena de
violação do princípio da isonomia.

Obs.: O efeito bipolar dos direitos de 2ª dimensão e princípio da vedação ao retrocesso. Os Direitos de 2ª
geração (direitos sociais) não possuem apenas um viés positivo, mas também um viés negativo.

● Viés negativo - Fruto da vedação ao retrocesso. − Uma vez implementado o direito de 2ª dimensão
por medida estatal, o próprio Estado passa a ter o dever de se abster de retornar ao status a quo de
quando o direito ainda não tinha efetividade. Ou seja, o Estado não pode promover um retrocesso

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social no sentido revogar ou enfraquecer normas que já alcançaram o grau de densidade normativo
adequado. Ex.: 13º salário.
● Viés positivo – Aqui a ideia não é só manter o status quo, mas também implementar/desenvolver
novos direitos sociais. E, enquanto não for implementado, o indivíduo possui o direito de exigir um
atuar do Estado com o intuito de realizá-lo. (Ideia de direitos prestacionais)

3. DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO OU TERCEIRA DIMENSÃO (difusos e coletivos): Surgem na 2º metade


do séc. XX, no pós 2ª Guerra, ligados aos movimentos de melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

● São direitos transindividuais, isto é, direitos que são de várias pessoas, mas não pertencem a ninguém
isoladamente.
● Possuem caráter indivisível e são titularizados por toda a coletividade. Ex.: direito ao meio ambiente
● São também conhecidos como direitos de fraternidade/ direitos metaindividuais (estão além do
indivíduo) ou direitos supraindividuais (estão acima do indivíduo isoladamente considerado).

Vamos esquematizar?
Direitos de 1ª Direitos de 2ª Direitos de 3ª
GERAÇÃO/DIMENSÃO GERAÇÃO/DIMENSÃO GERAÇÃO/DIMENSÃO
Surgem com revoluções liberais, Surgem no final do século XIX e 2º metade do séc. XX, no pós
CONTEXTO burguesas, diante do início do século XX, diante do 2ª Guerra, ligados aos
HISTÓRICO nascimento do fenômeno do movimentos de melhoria da
constitucionalismo liberal. – constitucionalismo social. qualidade de vida dos
Séc. XIX. cidadãos
MARCOS Inglaterra – 1.215 – Magna Carta Constituição Mexicana de 1917
EUA – 1.776 – Declaração de Constituição Alemã de Weimar
Independência Americana de 1919
EUA – 1.787 – Constituição Rússia – 1.917/18 – Declaração
Americana do Povo Oprimido e
França – 1.789 – Revolução Trabalhador – Revolução Russa
Francesa Constituição Brasileira de
França – 1.791 – Constituição 1934.
Francesa
SINÔNIMOS direitos negativos, direitos de direitos sociais, econômicos e difusos e coletivos
abstenção. culturais direitos metaindividuais
Direitos positivos, direitos direitos supraindividuais
prestacionais
FUNDAMENTO Igualdade FORMAL Igualdade MATERIAL FRATERNIDADE

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CONCEITO Buscam limitar o poder estatal, São direitos que impõem ao São direitos transindividuais,
impondo ao Estado obrigações Estado uma obrigação de fazer, isto é, titularizados por toda a
de não-fazer e se relacionam às de prestar. coletividade, não
pessoas, individualmente. Buscam viabilizar, através do pertencendo a uma pessoa
Estado, a satisfação das isoladamente.
necessidades básicas dos
indivíduos como forma de lhes Possuem caráter indivisível.
proporcionar uma vida digna.
EXEMPLOS Propriedade, igualdade formal Saúde, educação, moradia, Direito ao meio ambiente
(perante a lei), liberdade de segurança pública.
crença, de manifestação de
pensamento, direito à vida

4. DIREITOS DE QUARTA GERAÇÃO OU QUARTA DIMENSÃO: Não há consenso na doutrina sobre qual o
conteúdo desse tipo de direitos. Segundo o autor Paulo Bonavides os direitos de quarta dimensão seriam
fruto do processo de globalização dos direitos fundamentais, no sentido de uma universalização desses
direitos no plano institucional, o que corresponde à última fase da institucionalização do Estado Social, de
forma a sacramentar a evolução democrática e social alcançada até então.

● Direitos à democracia participativa


● Direito à informação
● Direitos ligados às questões de bioética.
● Direitos ao pluralismo (art. 1º, CF)

5. DIREITOS DE QUINTA GERAÇÃO OU DIMENSÃO: Direito à paz.

2.3. Características dos direitos fundamentais

● Historicidade: o que se entende por direitos fundamentais varia de acordo com o momento histórico,
não são conceitos herméticos e fechados, variando no tempo e no espaço.
● Inalienabilidade: são direitos sem conteúdo econômico patrimonial, não podem ser comercializados ou
permutados.
● Imprescritibilidade: são sempre exigíveis, ainda que não exercidos;
● Irrenunciabilidade: o indivíduo pode não exercer os seus direitos, mas não pode renunciá-los.
● Personalidade: não se transmitem.
● Concorrência e cumulatividade: são direitos que podem ser exercidos ao mesmo tempo.
● Proibição de retrocesso: não se pode retroceder nos avanços históricos conquistados.

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● Universalidade: é a característica da Universalidade que fundamenta a interpretação extensiva do art.


5º, caput da CF, permitindo a aplicação dos direitos fundamentais aos apátridas, aos estrangeiros não
residentes no país.
● Relatividade: não são direitos absolutos. Se houver um choque entre os direitos fundamentais, serão
resolvidos por um juízo de ponderação ou pela aplicação do princípio da proporcionalidade. Obs.: parte
da doutrina aponta que existem Direitos Fundamentais Absolutos:
▪ Direito a Não Tortura (apontado por Norberto Bobbio)
▪ Direito a Não Escravidão
▪ Direito a Não Extradição do Brasileiro Nato (art. 5º, LI, CF) → apontado por Carlos Ayres Brito;

TEORIA DA RESTRIÇÃO DAS RESTRIÇÕES (= LIMITAÇÃO DAS LIMITAÇÕES)


▪ É teoria alemã, adotada no Brasil pelo STF;
▪ Uma das características dos direitos fundamentais é que eles são relativos, ou seja, podem sofrer limitações.
Porém, essas restrições devem ser feitas com critérios e de forma excepcional a não esvaziar o seu núcleo
essencial. Conclusão: Pode haver restrições aos direitos fundamentais, mas essas restrições devem ser
restritas, não atingindo seu núcleo essencial.
▪ Só podem ser impostas restrições se obedecerem aos seguintes requisitos:
Requisito formal: Os direitos fundamentais só podem ser restringidos em caráter geral por meio de normas
elaboradas por órgãos dotados de atribuição legiferante conferido pela CF/88. A restrição deve estar
expressa ou implicitamente autorizada.
Requisitos materiais: para a restrição ser válida, deve observar aos princípios:
- Não retroatividade;
- Proporcionalidade;
- Generalidade e abstração;
- Proteção do núcleo essencial.

Obs.: Eventual novo direito individual criado por meio de emenda constitucional é considerado cláusula
pétrea? R.: NÃO. Não é possível que o poder de reforma crie cláusulas pétreas. Apenas o poder constituinte
originário pode fazê-lo. Caso EC crie um novo direito fundamental, este não será cláusula pétrea. É preciso
distinguir, contudo, a situação em que uma EC apenas especifica, detalha ou incrementa um direito
fundamental já criado, sem inovar no rol de direitos. Nesse caso, ainda que introduzida por EC, a novidade
é considerada cláusula pétrea.

2.4. Dimensões dos Direitos Fundamentais

a) Dimensão subjetiva: Os direitos fundamentais conferem aos seus titulares o poder de exigir algo, seja
ação ou omissão.
b) Dimensão objetiva: Consiste em atribuir aos direitos fundamentais importância máxima dentro do
Ordenamento Jurídico: eles são a base, o eixo axiológico de todo o ordenamento jurídico.
Desdobramentos da dimensão objetiva dos DF’s
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● Eficácia interpretativa dos direitos fundamentais: Com a dimensão objetiva, os direitos fundamentais
ganham um reforço na sua juridicidade, ganhando força no Ordenamento Jurídico e, além disso, se
tornam normas de eficácia irradiante, que, tendo como base o princípio da dignidade da pessoa
humana, irradiam para todo o Ordenamento Jurídico.

● Eficácia horizontal dos direitos fundamentais: Consiste na possibilidade de aplicação dos direitos
fundamentais nas relações jurídicas estritamente privadas. Em relação à eficácia horizontal dos
direitos fundamentais, pode-se destacar 2 teorias:

(1) Eficácia indireta ou mediata: os direitos fundamentais são aplicados de maneira reflexa, tanto
em uma dimensão proibitiva e voltada para o legislador, que não poderá editar lei que viole
direitos fundamentais, como, ainda, positiva, voltada para que o legislador implemente os direitos
fundamentais, ponderando quais devam aplicar-se às relações privadas;
(2) Eficácia direta ou imediata: alguns direitos fundamentais podem ser aplicados às relações
privadas sem que haja a necessidade de “intermediação legislativa” para a sua concretização.

● Eficácia vertical dos direitos fundamentais: Aplica-se à tradicional ideia de limitação de poder do
Estado e respeito aos direitos dos indivíduos, conferindo direitos básicos e garantias aos indivíduos.
Há um poder superior (Estado), em face do indivíduo, em posições diferentes (ESTADO X PARTICULAR);

● Eficácia diagonal dos direitos fundamentais: Consiste na incidência e observância dos direitos
fundamentais nas relações privadas marcadas por desigualdade de forças, ante a vulnerabilidade de
uma das partes. Ex.: demandas consumeristas e trabalhistas.
2.5. Destinatários

1. Os destinatários das normas dos direitos individuais, que são os direitos fundamentais, é o ser humano,
o indivíduo.
2. Podem ser brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil. Para a doutrina, os estrangeiros não
residentes no Brasil também são destinatários de direitos fundamentais!
3. Para a maioria da doutrina e o STF, as pessoas jurídicas de direito privado e de direito Público podem
ser titulares de direitos fundamentais.

2.6. Os Direitos Fundamentais Na Constituição Federal De 1988

1. O ordenamento jurídico brasileiro adotou um sistema aberto de direitos fundamentais no Brasil, não se
podendo considerar taxativo o rol do artigo 5º.
2. Nos aproximamos do denominado liberalismo igualitário, que busca se equilibrar entre a proteção das
liberdades civis e a redução das desigualdades sociais.
3. Princípio da indivisibilidade - os direitos das diferentes gerações não se excluem, na verdade, se
interpenetram, sofrendo influência mútua. Ou seja, uma geração fortalece o advento da outra.
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4. Não há hierarquia entre os direitos fundamentais.


5. Ingo Sarlet faz a seguinte divisão:
● Direitos formalmente constitucionais - os incluídos pelo Poder Constituinte originário no catálogo
de direitos fundamentais (estão presentes no art. 5º ou no título II da CF)
● Direitos materialmente constitucionais - direitos que não se encontram no rol formal da CF, mas
possuem status de fundamentais haja vista seu conteúdo jusfundamental (não importando o local
de positivação). A baliza para saber qual conteúdo confere a norma status de direito fundamental é
a dignidade da pessoa humana.

2.7 Hierarquia Dos Tratados Internacionais De Direitos Humanos

1. Segundo o art. 5º, §3º da CF, os tratados internacionais sobre direitos humanos que observarem o
procedimento de incorporação análogo ao das Emendas Constitucionais terão paridade normativa, isto
é: terão status normativo de emendas constitucionais. Procedimento de incorporação:
● Aprovação em cada Casa do Congresso Nacional,
● Em 2 turnos de votação
● Com pelo menos 3/5 dos votos dos respectivos membros.

2. Os tratados internacionais de direitos humanos que não observarem o procedimento especial do art.
5º, §3º da CF terão hierarquia normativa supralegal: acima das leis e abaixo da Constituição.

3. Os Tratados Internacionais que não versam sobre direitos humanos terão hierarquia
infraconstitucional, com status normativo equivalente à lei ordinária.

RESUMINDO:
Tratado internacional SOBRE DIREITOS
HUMANOS, aprovado pelo mesmo rito da Status normativo de emenda constitucional.
Emenda Constitucional (art. 5º, §3º)
Tratado internacional SOBRE DIREITOS
HUMANOS, aprovado com quórum Status normativo de supralegalidade: superior
diverso das emendas constitucionais às leis e inferior à Constituição.

Tratados Internacionais QUE NÃO Independente do procedimento e quórum de


VERSAM SOBRE DIREITOS HUMANOS votação, terão status normativo de leis
ordinária.

3. ALGUNS DIREITOS INDIVIDUAIS – rol do art. 5º

A. DIREITO À VIDA (art. 5º, caput, CF):

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1. O direito à vida compreende o direito ao mínimo necessário a uma existência digna, que abrange:
● Direito à integridade física: direito à saúde, vedação de pena de morte, proibição do aborto, etc;
● Direito às condições materiais e espirituais mínimas necessárias a uma existência digna.

2. Dupla acepção do direito à vida:


● Acepção positiva: está associada ao direito à existência digna, que assegura o acesso a bens e
utilidades indispensáveis para isso.
● Acepção negativa: é um direito de defesa e um pressuposto elementar para o exercício de todos os
demais direitos. Uma decorrência dessa acepção é a proibição da pena de morte (em regra)

B. DIREITO À IGUALDADE (art. 5º, I, CF):

1. Concepções da igualdade:
● Concepção formal: é a igualdade perante a lei e perante o Estado. Por essa concepção, a igualdade
impede que os indivíduos sejam tratados pelos poderes públicos de maneira diversa. Trata-se de
uma concepção estática e negativa, insuficiente para solucionar as desigualdades sociais;
● Concepção material: representa o tratamento igual dos iguais e o tratamento desigual daqueles em
situações desiguais. Por essa concepção, a igualdade deve adotar critérios distintivos justos e
razoáveis, de modo que os poderes públicos devem adotar medidas concretas para reduzir ou
compensar desigualdades.

2. Dimensões da igualdade
● Dimensão objetiva: é a igualdade compreendida como princípio material estruturante do Estado
brasileiro que impõe o tratamento igual para os iguais e desigual para os desiguais, bem como ações
voltadas à redução das desigualdades sociais e regionais;
● Dimensão subjetiva: confere a indivíduos e grupos posições jurídicas de caráter negativo (proteção
contra diferenciações ou igualizações arbitrárias) e de caráter positivo (direito a exigir determinadas
prestações materiais e jurídicas destinadas à redução de desigualdades).

C. DIREITO À DIGNIDADE: É um valor, um princípio, servindo como parâmetro para a definição dos direitos
formal e materialmente fundamentais.

ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL


- Inspiração: Corte Constitucional Colombiana.
- Definição: Quadro insuportável de violação massiva de direitos fundamentais, agravado pela inércia
continuada das autoridades.
- Pressupostos:
● Violação generalizada e sistemática de direitos fundamentais;
● Inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a
conjuntura;
● Situação que exige a atuação de uma pluralidade de autoridades públicas.
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Análise pelo STF em ADPF (PSOL X União e Estados) – Concessão parcial de liminar para:
● Obrigar a União a liberar o saldo acumulado no FUNPEN;
● Implementação pelos juízes e Tribunais da audiência de custódia, no máximo em 90 (noventa) dias;

● Responsabilidade dos três poderes e de todos os entes Federativos.
● No julgado, entendeu-se que incumbiria ao STF retirar os demais poderes da inércia, coordenando ações
para resolver os problemas e monitorar resultados. Porém, NÃO cabe ao Judiciário definir o conteúdo
dessas políticas públicas (Ex: Medidas judiciais para abater o tempo de prisão).

D. DIREITO À SAÚDE:
1. A saúde é direito de todos e dever do Estado (art. 196 da CF/88), sendo assegurada por meio de
políticas sociais e econômicas que busquem:
● A redução do risco de doença e de outros agravos; e
● O acesso universal e igualitário às ações e serviços voltados à sua promoção, proteção e recuperação.

2. Cuidar da saúde da população é uma competência COMUM que deve ser exercida por todos os entes
federados. (art. 23, CF)

3. O SUS é compatível com o federalismo cooperativo, adotado pelo Brasil, segundo o qual existe um
entrelaçamento de competências e atribuições dos diferentes níveis governamentais.

4. Jurisprudência relevante sobre o tema:

● Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de
vacinação forçada)
● É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção
filosófica (Info 1003, STF)
● União não pode requisitar seringas e agulhas que já foram contratadas pelo Estado-membro para
o plano estadual de imunização e que ainda estão na indústria, apesar de já terem sido
empenhados (Info 1008, STF)
● STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos
grupos prioritários (Info 1007, STF)
● A intervenção do Poder Judiciário em políticas públicas voltadas à realização de direitos
fundamentais, em caso de ausência ou deficiência grave do serviço, não viola o princípio da
separação dos Poderes. (Info 1101, STF)

E. DIREITO À INTEGRIDADE: A Carta Magna proíbe a prática lesões, psíquica e moral (provocação de
dor interna e sofrimento). Ademais, veda a prática da tortura, bem como qualquer tipo de
comercialização de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e
tratamento (art. 199, §4º).
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F. PROIBIÇÃO DA TORTURA: Parte da doutrina defende que o direito de não ser torturado (inciso III do
art. 5º da CF) é um exemplo de direito fundamental absoluto, sendo uma exceção à característica da
relatividade dos direitos fundamentais.

G. DIREITO À PRIVACIDADE – DIMENSÕES (art. 5º, X, CF/88)

● Privacidade e Sigilo bancário e fiscal: O STF admite a quebra do sigilo pelo Judiciário ou por CPI
(federal ou estadual, mas não municipal), mas resiste a que o MP possa requisita-la diretamente, por
falta de autorização legal específica, salvo a hipótese de existir procedimento administrativo
investigando utilização indevida de patrimônio público.

● Privacidade, produção de relatórios de inteligência e vinculação ao interesse público – ADPF


722/DF: Caracterizam desvio de finalidade e abuso de poder a colheita, a produção e o
compartilhamento de dados, informações e conhecimentos específicos para satisfazer interesse
privado de órgão ou de agente público STF, ADPF 722, Plenário, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento
13.5.2022.

H. INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO: (art. 5º, XI, CF/88)

1. O conceito de casa abrange:


● O escritório de trabalho
● O estabelecimento industrial
● Clube recreativo
● Quarto de hotel/ motel
● Automóveis quando usados para fins de moradia
● Barcos quando usados para fins de moradia.
● Bens públicos de uso especial não abertos ao público como gabinetes de prefeitos, gabinete do
delegado de polícia

2. Exceções ao direito à inviolabilidade do domicílio:


● Em caso de flagrante delito, a qualquer momento;
● Em caso de desastre ou para prestar socorro;
● Através de autorização judicial, durante o dia.

3. Para a jurisprudência, o ingresso regular da polícia no domicílio em caso de flagrante delito, para que
seja válido, necessita que haja fundadas razões (justa causa) que sinalizem a ocorrência de crime no
interior da residência.

I) LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO – Art. 5º, IV e V

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1. A Constituição assegurou a liberdade de manifestação do pensamento, vedando o anonimato.

2. Se, durante a manifestação do pensamento, houver dano material, moral ou à imagem, assegura-se o
direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização.

3. O inciso IV estabelece uma espécie de “cláusula geral” que, em conjunto com outros dispositivos,
asseguram a liberdade de expressão nas suas diversas manifestações:
● liberdade de manifestação do pensamento (incluindo a liberdade de opinião);
● liberdade de expressão artística;
● liberdade de ensino e pesquisa;
● liberdade de comunicação e de informação (liberdade de “imprensa”);
● liberdade de expressão religiosa

4. Marcha da Maconha (ADPF 187) – Vedar a marcha da maconha viola a liberdade de expressão.

5. Tatuagem e o concurso público – Se não for contrária à moral e aos bons costumes, a tatuagem não
pode impedir o acesso a cargo público, por se tratar de uma forma de liberdade de expressão.

6. Liberdade de expressão e imunidade parlamentar – A liberdade de expressão não alcança a prática


de discursos dolosos, com intuito manifestamente difamatório ou injurioso. Dessa forma, a garantia
da imunidade parlamentar não alcança os atos praticados sem claro nexo de vinculação recíproca
entre o discurso e o desempenho das funções parlamentares.

J) LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E CULTO – ART 5º, VI a VIII

1. Assegura-se a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre


exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas
liturgias.

● Liberdade de crença: é a liberdade de pensamento de foro íntimo em questões de natureza religiosa,


incluindo o direito de professar ou não uma religião, de acreditar ou não na existência de um, em
nenhum ou em vários deuses (art. 5º, VI); e
● Liberdade de consciência em sentido estrito: é a liberdade de pensamento de foro íntimo em
questões não religiosas.

K) LIBERDADE DE ATIVIDADE INTELECTUAL, ARTÍSTICA, CIENTÍFICA OU DE COMUNICAÇÃO – ART. 5º, IX

1. É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente


de censura ou licença.
2. Veda-se a censura de natureza política, ideológica e artística (art. 220, § 2.º), porém, apesar da
liberdade de expressão acima garantida, a lei federal deverá regular as diversões e os espetáculos
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públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se
recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada.

L) LIBERDADE DE PROFISSÃO – ART. 5º, XIII

1. Assegura a liberdade do exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações


profissionais que a lei estabelecer.
2. Trata-se de norma constitucional de eficácia contida, podendo a legislação infraconstitucional limitar
o seu alcance, fixando condições ou requisitos para o pleno exercício da profissão.
3. A jurisprudência do STF admite que a lei poderá disciplinar, restritivamente, o exercício de algumas
profissões, quando estas puderem trazer danos a terceiros. Ou seja: quando “atingir negativamente a
esfera pública de outros indivíduos ou de valores ou interesses da própria sociedade” (ADI 3.870,
2019).

M) LIBERDADE DE INFORMAÇÃO – ART. 5º, XIV e XXXIII

1. Liberdade de informação jornalística:


● É necessária a manutenção da divulgação integral dos dados epidemiológicos relativos à pandemia
da Covid-19. (Info 1009, STF).
● STF determina que Ministério da Saúde faça a divulgação integral de dados sobre Covid-19 (Info
1000, STF).
● É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020, porque ele impõe
uma série de restrições ao livre acesso do cidadão a informações (Info 975, STF)
● Jornal poderá acessar dados sobre mortes registradas em ocorrências policiais (Info 682, STJ)

2. Liberdade de informação x direito ao esquecimento: O direito ao esquecimento é o direito que uma


pessoa possui de não permitir que um fato, ainda que verídico, ocorrido em determinado momento
de sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe sofrimento ou transtornos.

● A discussão quanto ao direito ao esquecimento envolve um conflito aparente entre a liberdade de


expressão/informação e atributos individuais da pessoa humana, como a intimidade, privacidade e
honra, passando por recente evolução jurisprudencial. Veja:
● O STJ reconheceu o direito ao esquecimento em dois julgados principais: O caso “Aída Curi” (REsp
1.335.153-RJ) e a situação da “chacina da Candelária” (REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgados em 28/5/2013), hipótese em que entendeu que tal direito que deveria ser
exercido de forma compatível com a intimidade e da honra das pessoas.
● No entanto, o tema passou por uma evolução jurisprudencial. Isso porque o STJ passou a relativizar
o direito ao esquecimento (Info 670, STJ), ao passo que o STF passou a entender pela sua
incompatibilidade com a Constituição Federal (Info 1005, STF).

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● STJ - O direito ao esquecimento não justifica a exclusão de matéria jornalística. O direito ao


esquecimento é considerado incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro. Logo, não é capaz
de justificar a atribuição da obrigação de excluir a publicação relativa a fatos (Info 723, STJ)

3. Liberdade artística e os veículos de comunicação social: É ampla liberdade na produção da arte.

N) LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO: É o direito de ir e vir, amparado por habeas corpus – ART. 5º, XV e LXI

1. A liberdade de locomoção no território nacional é livre NOS TEMPOS DE PAZ.

2. Existem 4 hipóteses de exceção a liberdade de locomoção:

● Em caso de prisão em flagrante ou prisão por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar (art. 5º, LXI, CF)
● Durante o estado de defesa (art. 136, 3º,I da CF) o decreto poderá estabelecer restrição ao direito
de reunião, ainda que exercida no seio das associações.
● Durante o estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, da CF, poderão ser tomadas
contra as pessoas as medidas de obrigação de permanência em localidade determinada (art. 139, I
da CF); detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns (art. 139,
II da CF); suspensão da liberdade de reunião (art. 139, IV da CF).
● Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira (hipóteses de
decretação de estado de sítio – art. 137, II da CF), a liberdade de locomoção também poderá ser
restringida ou suspensa (art. 138, caput da CF).

O) LIBERDADE DE REUNIÃO – ART. 5º, XVI

1. É o agrupamento organizado de pessoas de caráter transitório, com uma determinada finalidade.

2. O exercício válido do direito de reunião deve satisfazer os requisitos constitucionais


● Reunião pacífica
● Sem armas
● Em locais abertos ao público
● Dispensa autorização, mas deve haver aviso prévio aviso à autoridade competente
● Não pode frustrar outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local

3. O que se entende por aviso prévio para os fins do direito de reunião do art. 5º, XVI, da CF/88? O STF
fixou a seguinte tese: A exigência constitucional de aviso prévio relativamente ao direito de reunião é
satisfeita com a veiculação de informação que permita ao poder público zelar para que seu exercício se
dê de forma pacífica ou para que não frustre outra reunião no mesmo local. STF (Repercussão Geral –
Tema 855).
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P) LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO:

XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente;

1. Agrupamento de pessoas, organizado e per manente, para fins lícitos. Abrange:


● Direito de associar-se a outras pessoas para a formação de uma entidade;
● Aderir a uma associação já formada;
● Desligar-se da associação;
● Autodissolução das associações.

2. O direito de associação somente é livre se: (art. 5º, XVII)


● For para fins lícitos
● Não tiver caráter paramilitar.

3. Associações são criadas independentemente de autorização (art. 5º, XVIII)

4. Cooperativas devem ser criadas na forma da lei e independem de autorização (art. 5º, XVIII)

5. A CF/88 veda qualquer interferência estatal no funcionamento das associações e cooperativas. (art. 5º,
XVIII)

6. As associações: (art. 5º, XIX)


● Podem ser dissolvidas de forma compulsória por decisão judicial, mas apenas após o trânsito em
julgado.
● Podem ter suas atividades suspensas por decisão judicial, não sendo exigido o trânsito em julgado.

Q) DIREITO DE PROPRIEDADE – ART. 5º, XXII e XXIII

1. É garantido pela Constituição, mas não é absoluto, uma vez que a propriedade poderá ser
desapropriada. É necessário também a propriedade cumpra sua função social, atendendo aos
interesses da coletividade e não apenas do proprietário.
2. É garantido o direito de propriedade (art. 5º, XXII).
3. A propriedade atenderá a sua função social (art. 5º, XXIII).
4. A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos na
Constituição (art. 5º, XXIV).
5. No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano (art. 5º, XXV).

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6. Impenhorabilidade da pequena propriedade rural: Dispõe o art. 5º, XXVI que “a pequena propriedade
rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de
financiar o seu desenvolvimento”
● Quanto ao tema, decidiu o STJ que a pequena propriedade rural é impenhorável mesmo que o imóvel
não sirva de moradia ao executado e a sua família.
R) DIREITO DE PETIÇÃO E DE OBTENÇÃO DE CERTIDÕES – ART. 5º, XXXIV

1. São assegurados independentemente do pagamento de taxas


2. Caso o pedido de certidão não seja atendido, o remédio constitucional cabível será o mandado de
segurança e não o habeas data
3. O direito de certidão não é absoluto, pois pode ser negado em caso de o sigilo ser imprescindível à
segurança da sociedade ou do Estado.

S) INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO – ART. 5º, XXXV

1. Não se confunde com o direito de petição, já que este consiste em um direito de participação política
que não demanda a demonstração de interesse processual ou lesão a direito pessoal.
2. Exceção à regra da inafastabilidade da jurisdição: O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à
disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada
em lei (art. 217, §1º, da CF).

T) IRRETROATIVIDADE DA LEI – ART. 5º, XXXVI

Conceitos (art. 6º da LINDB):


I- Direito adquirido: direito que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aquele cujo começo do
exercício tenha termo prefixo ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem;
II- Ato jurídico perfeito: ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou;
III- Coisa julgada: decisão judicial de que não caiba mais recurso.

U) PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE

1. Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação
do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até
o limite do valor do patrimônio transferido (art. 5º XLV, da CF).

2. O princípio da pessoalidade tem duas dimensões:


● Dimensão negativa: impede que sanções de natureza penal extrapolem o âmbito estritamente
pessoal do infrator, vedando a imposição de pena a terceiros;
● Dimensão positiva: impõe o dever de expor circunstancialmente as condutas responsáveis pelo
ilícito, bem como de narrar com clareza o grau de participação dos acusados.
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3. A veiculação de matéria jornalística sobre delito histórico que expõe a vida cotidiana de terceiros não
envolvidos no fato criminoso, em especial de criança e de adolescente, representa ofensa ao princípio
da intranscendência (Info 670, STJ)

V) PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA – ART. 5º, XLVI

1. A aplicação do princípio ocorre em três âmbitos:

● Plano legislativo: dirige-se ao legislador no momento da fixação dos limites mínimos e máximos da
pena, do regime de cumprimento e dos benefícios que podem ser concedidos ao infrator.
● Plano judicial: o magistrado, ao aplicar a pena, deve definir, fundamentadamente, a sua quantidade
conforme os parâmetros legais, o regime inicial e os benefícios aplicáveis;
● Plano executório: no momento da execução penal, deverá ser definido o estabelecimento prisional
de cumprimento da pena, tendo em conta a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado (art. 5º,
XLVIII, da CF).

4. DIREITOS SOCIAIS

1. A Constituição define no art. 6º quais são os direitos sociais:


● Educação
● Saúde
● Alimentação
● Trabalho
● Moradia
● Transporte
● Lazer
● Segurança
● previdência social
● proteção à maternidade e à infância
● assistência aos desamparados

2. São direitos de 2ª geração.

3. Direitos dos trabalhadores nas suas relações individuais de trabalho: São os direitos dos
trabalhadores do art. 7º da CF, cujo dispositivo recomendamos leitura atenta. Dentre esses direitos,
destacamos:
● Direito ao trabalho: Infere-se do valor social do trabalho como fundamento da República (art. 2º) e
demais dispositivos constitucionais;
● Garantia do emprego: É a proteção da relação de emprego contra despedida arbitrária ou sem justa
causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, entre outros
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direitos, impedindo-se, dessa forma, a dispensa injustificada, sem motivo socialmente relevante. É
norma de eficácia contida.

4. A EC 72/2013 ampliou os direitos dos empregados domésticos!

5. É possível a efetivação de direitos sociais pelo poder judiciário? R.: Embora seja prerrogativa dos
Poderes Legislativo e Executivo formular e executar políticas públicas, o STF entende possível a
efetivação de direitos sociais via Poder Judiciário, excepcionalmente, sobretudo nas hipóteses de
políticas públicas definidas pela própria Constituição. Vejamos algumas jurisprudências
(importantíssimas) sobre o tema:

● STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos
grupos prioritários (quem deveria ser vacinado primeiro dentro do grupo prioritário) – Info 1007, STF

● Judiciário pode determinar a realização de obras emergenciais em estabelecimento prisional – Info


794, STF.

● Judiciário pode obrigar administração pública a manter quantidade mínima de medicamento em


estoque – Info 752, STF

6. Direitos coletivos dos trabalhadores: Exercidos pelos trabalhadores coletivamente ou no interesse de


uma coletividade deles, previstos nos arts. 8-11. Destacamos:

● Organização sindical: O art. 8º, da CF/88 institui ampla autonomia coletiva para a fundação e direção
desse ente associativo, não podendo o Estado intervir ou condicionar o exercício desse direito. Pode,
contudo, ser exigida a inscrição do sindicato em órgão próprio (Ministério do Trabalho), bem como
admite-se que a lei disponha genericamente sobre regras básicas de organização sindical.

● Direito de substituição processual: A CF/88 previu a possibilidade de os sindicatos ingressar em juízo


na defesa de direitos e interesses coletivos e individuais da categoria, em hipótese de substituição
processual, pois o sindicato ingressa em nome próprio na defesa de interesses alheios.

● Greve: A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das
necessidades inadiáveis da comunidade, inclusive responsabilizando os abusos cometidos. Cuidado!
Policial civil não pode fazer greve!!! (Info 860, STF)

ATENÇÃO – Direito de greve para os servidores públicos civis: Como não existe lei específica sobre o assunto
para servidores públicos civis, o STF conferiu efeitos concretos aos Mandados de Injunção ajuizados pelos
Sindicatos de Servidores Civis. Por maioria, conheceu dos mandados de injunção e propôs a solução para a
omissão legislativa com a aplicação, no que couber, da Lei 7.783/89, que dispõe sobre o exercício do direito
de greve na iniciativa privada.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

1. PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL

1. O Processo Penal Brasileiro deve observância às normas previstas na Carta Magna. Devem as normas
processuais serem interpretadas a partir de uma filtragem constitucional.
2. Características decorrentes da constitucionalização:
● O juiz não pode requisitar provas, depois da manifestação pelo arquivamento feita pelo MP (STF);
● O juiz não pode substituir o MP em sua função probatória, em que pese, certa liberdade de produção
conferida ao juiz pelo CPP;
● O interrogatório do réu deve perder a sua característica de prova, passando a ser exclusivamente
meio de defesa.

3. Se a perspectiva teórica do Código de Processo Penal era nitidamente autoritária, prevalecendo


sempre a preocupação com a segurança pública, a Constituição Federal encaminhou em direção
diametralmente oposta. Isso porque, enquanto a legislação codificada pautava-se pelo princípio da
culpabilidade e da periculosidade do agente, o texto constitucional instituiu um sistema de amplas
garantias individuais
4. Nesta direção é o que o professor Rubens Casara propõe a interpretação prospectiva do processo
penal, ou seja, toda a interpretação deve ter por objetivo a construção do projeto constitucional, deve
buscar a radical e incansavelmente, a realização de valores consagrados na constituição.
5. Como decorrência da interpretação prospectiva do processo penal, há uma preocupação com a tutela
de direitos fundamentais, o que dá espaço ao garantismo penal. São princípios do sistema garantista:
● Jurisdicionalidade (nulla poena, nulla culpa sine iudicio): exclusividade do poder jurisdicional
● Inderrogabilidade do juízo: infungibilidade e indeclinabilidade da jurisdição.
● Separação das atividades de julgar e acusar (nullum iudicium sine accusatione);
● Presunção de inocência;
● Contraditório (nulla probatio sine defensione).

2. PRETENSÃO PUNITIVA

1. Conceito: Consiste no poder do Estado de exigir a aplicação da sanção penal a quem comete um delito,
tornando efetivo o jus puniendi.
2. Função do Processo Penal: É o instrumento pelo qual o Estado se vale para a imposição de sanção penal
ao possível autor do fato delituoso.
3. Finalidades do Processo Penal:
⋅ Pacificação social obtida com a solução do conflito;
⋅ Viabilizar a aplicação do direito penal;
⋅ Garantir ao acusado, presumidamente inocente, meios de defesa diante de uma acusação.

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3. SISTEMAS DO PROCESSO PENAL

A) SISTEMA INQUISITÓRIO:
1. As funções de acusar, defender e julgar se encontram concentradas em uma única pessoa, o
chamado de juiz inquisidor, o que acarreta a perda da imparcialidade do magistrado.
2. A gestão das provas compete ao juiz que é dotado de ampla iniciativa probatória,
3. Não há que se falar em contraditório, o qual nem sequer seria concebível em virtude da falta de
contraposição entre acusação e defesa;
4. Vigora o princípio da verdade real/material e, em decorrência dele, o acusado não era considerado
sujeito de direito, sendo tratado, em verdade, como mero objeto do processo, daí por que se admitia,
inclusive, a tortura como meio de se obter a verdade absoluta.
5. Caráter escrito e sigiloso da instrução processual.
6. Existência de provas tarifadas

B) SISTEMA ACUSATÓRIO: [adotado pela CF/88 e CPP]


1. As funções de acusar, defender e julgar são atribuídas a pessoas diversas
2. Paridade entre acusação e defesa, sobrepondo-se um juiz, de maneira equidistante e imparcial. O
processo caracteriza-se, assim, como legítimo actum trium personarum.
3. A gestão da prova recai precipuamente sobre as partes. Na fase investigatória, o juiz só deve intervir
quando provocado.
4. Oralidade, publicidade, aplicação do princípio da presunção de inocência e atividade probatória
pertencem às partes.
5. O acusado deixa de ser considerado mero objeto e passa a configurar como sujeito de direitos.
6. Respeito ao contraditório
7. Prevalência do caráter público e oral da instrução processual.
8. O princípio da verdade real é substituído pelo princípio da busca da verdade, devendo a prova ser
produzida com fiel observância ao contraditório e a ampla defesa;
9. Garantia da imparcialidade e observância ao princípio do devido processo legal;

ANTES DO PACOTE ANTICRIME APÓS O PACOTE ANTICRIME


● 1ª C - afirma que, em um sistema acusatório puro, O Pacote Anticrime retirou do juiz a iniciativa
o juiz não pode produzir provas de ofício de probatória (Art.3º-A do CPP), entregando ao juiz de
maneira nenhuma, independentemente de ser na garantias a competência para decidir sobre a produção
fase investigatória ou na fase processual. de provas cautelares durante a investigação.
● 2ª C (posição majoritária e Jurisprudência) - juiz Assim, a doutrina advoga no sentido de que, com o
pode produzir provas de ofício, mas apenas na advento do PAC, o juiz não poderá mais agir de ofício em
fase processual e desde que de forma residual. nenhuma das fases (investigatória ou processual), de
(atuação complementar e subsidiária) modo que inúmeros artigos do CPP estariam tacitamente
revogados. Obs.: É importante aguardar a posição da
jurisprudência sobre o tema

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SISTEMA INQUISITÓRIO SISTEMA ACUSATÓRIO


Não há separação das funções de acusar, defender e Separação das funções de acusar, defender e julgar. Por
julgar, que estão concentradas em uma única pessoa, consequência, caracteriza-se pela presença de partes
que assume as vestes de um juiz inquisidor. distintas (actum trium personarum), contrapondo-se
acusação e defesa em igualdade de condições,
sobrepondo-se a ambas um juiz, de maneira
equidistante e imparcial.
Como se admite o princípio da verdade real, o O princípio da verdade real é substituído pelo princípio
acusado não é sujeito de direitos, sendo tratado da busca da verdade, devendo a prova ser produzida
como mero objeto do processo, daí por que se admite com fiel observância ao contraditório e à ampla defesa.
inclusive a tortura como meio de se obter a verdade
absoluta.
O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa A gestão da prova recai precipuamente sobre as partes.
acusatória e probatória, tendo liberdade para Na fase investigatória, o juiz só deve intervir quando
determinar de ofício a colheita de elementos provocado, e desde que haja necessidade de intervenção
informativos e de provas, seja no curso das judicial.
investigações, seja no curso da instrução processual.
Durante a instrução processual, o juiz tem iniciativa A separação das funções e a iniciativa probatória residual
probatória, podendo determinar a produção de restrita à fase judicial preserva a equidistância que o juiz
provas de ofício. Há disparidade de poderes entre deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo
acusação e defesa e verifica-se o caráter escrito e compatível com a CF/88. Além disso, deve ser
secreto da instrução. assegurada a paridade entre acusação e defesa.

C) SISTEMA MISTO, ACUSATÓRIO FORMAL OU FRANCÊS:


1. É uma fusão dos dois modelos anteriores
2. Para este sistema, há duas fases distintas: uma primeira fase inquisitorial e uma segunda fase que
se aproxima do sistema acusatório:
● 1ª fase - Investigação preliminar: polícia judiciária: instrução escrita e secreta, sem
contraditório.
● 2ª fase – instrução preparatória e julgamento: o órgão acusador apresenta a acusação, o réu
se defende e o juiz julga, vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade. Apenas nesta
última fase há contraditório e ampla defesa.

4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL

4.1 Princípios Constitucionais Explícitos

A) PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA


1. Conceito: Consiste no direito de não ser declarado culpado, senão após o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória - ou, na visão do STF (HC 126.292, ADC 44 e 43 e ARE 964.246 RG/SP):
“após a prolação de acordão condenatório por Tribunal de Segunda instância”.
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2. Dimensões:
● Dimensão Interna ao processo: O princípio da presunção de inocência se manifestando dentro do
processo.
I- Regra probatória (in dubio pro reo): A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a
culpabilidade do acusado além de qualquer dúvida razoável, logo, não é o acusado que deve
comprovar sua inocência.
II- Regra de tratamento: o Poder Público está impedido de agir e de se comportar em relação
ao acusado como se ele já houvesse sido condenado.

● Dimensão externa ao processo: destacada no tratamento dado pela imprensa. O princípio da


presunção de inocência e as garantias constitucionais da imagem, dignidade e privacidade
demandam uma proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado.

3. Consequências de tais regras:


● Ônus da prova: em regra da acusação.
● Prisões cautelares: a privação cautelar da liberdade de locomoção somente se justifica em hipóteses
estritas, ou seja, a regra é que o acusado permaneça em liberdade durante o processo, enquanto
que a imposição de medidas cautelares pessoais é a exceção.

4. Limite temporal: Até quando o sujeito é presumidamente inocente?

Vejamos a evolução jurisprudencial...


Para o STF, é possível o início do cumprimento da pena caso somente reste o julgamento de recurso sem
efeito suspensivo (ex: só falta julgar Resp ou RE)? É possível a execução provisória da pena?

1ª PERÍODO: ATÉ FEV/2009: Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível
a execução provisória da pena. Assim, se o réu
SIM - É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA estivesse condenado e interpusesse recurso especial ou
PENA recurso extraordinário, teria que iniciar o cumprimento
provisório da pena enquanto aguardava o julgamento.

No dia 05/02/2009, o STF mudou de posição e passou a


entender que não era possível a execução provisória
da pena. Principais argumentos:
⋅ A prisão antes do trânsito em julgado da condenação
somente pode ser decretada a título cautelar.
⋅ A execução da sentença após o julgamento do recurso
de apelação significa restrição do direito de defesa.
2ª PERÍODO: DE FEV/2009 A FEV/2016: ⋅ A antecipação da execução penal é incompatível com
o texto da Constituição.
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NÃO É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA Esse entendimento durou até fevereiro de 2016.
PENA

No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel.


Min. Teori Zavascki), retornou para a sua primeira
posição e voltou a dizer que era possível a execução
provisória da pena.

Principais argumentos:
⋅ É possível o início da execução da pena condenatória
após a prolação de acórdão condenatório em 2º grau
e isso não ofende o princípio constitucional da
presunção da inocência.
⋅ O RE e REsp não possuem efeito suspensivo (art. 637
do CPP). Isso significa que, mesmo a parte tendo
interposto algum desses recursos, a decisão
recorrida continua produzindo efeitos. Logo, é
3º PERÍODO: DE FEV/2016 A NOV/2019: possível a execução provisória da decisão recorrida
enquanto se aguarda o julgamento do recurso.
⋅ Até que seja prolatada a sentença penal, confirmada
SIM - É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA em 2º grau, deve-se presumir a inocência do réu.
PENA Mas, após esse momento, exaure-se o princípio da
não culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da
decisão de segundo grau ao STJ ou STF não se
prestam a discutir fatos e provas, mas apenas
matéria de direito.
⋅ É possível o estabelecimento de determinados
limites ao princípio da presunção de não
culpabilidade. Assim, a presunção da inocência não
impede que, mesmo antes do trânsito em julgado, o
acórdão condenatório produza efeitos contra o
acusado.
⋅ A execução da pena na pendência de recursos de
natureza extraordinária não compromete o núcleo
essencial do pressuposto da não culpabilidade,
desde que o acusado tenha sido tratado como
inocente no curso de todo o processo ordinário
criminal, observados os direitos e as garantias a ele
inerentes, bem como respeitadas as regras
probatórias e o modelo acusatório atual.
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⋅ É necessário equilibrar o princípio da presunção de


inocência com a efetividade da função jurisdicional
penal. Neste equilíbrio, deve-se atender não apenas
os interesses dos acusados, como também da
sociedade, diante da realidade do intrincado e
complexo sistema de justiça criminal brasileiro.

No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54,


retornou para a sua segunda posição e afirmou que o
cumprimento da pena somente pode ter início com o
4º PERÍODO: ENTENDIMENTO ATUAL: esgotamento de todos os recursos. Assim, é proibida a
execução provisória da pena.
NÃO É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA
PENA Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes
do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos
os recursos), no entanto, para isso, é necessário que
seja proferida uma decisão judicial individualmente
fundamentada na qual o magistrado demonstre que
estão presentes os requisitos para a prisão preventiva
previstos no art. 312 do CPP.

Principais argumentos:
⋅ O art. 283 do CPP é plenamente compatível com a
Constituição em vigor.
⋅ O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual
“ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória”, não
deixa margem a dúvidas ou a controvérsias de
interpretação.
⋅ É infundada a interpretação de que a defesa do
princípio da presunção de inocência pode obstruir as
atividades investigatórias e persecutórias do Estado.
A repressão a crimes não pode desrespeitar e
transgredir a ordem jurídica e os direitos e garantias
fundamentais dos investigados.
⋅ A Constituição não pode se submeter à vontade dos
poderes constituídos nem o Poder Judiciário
embasar suas decisões no clamor público.
Tabela via
@dizerodireito

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B) PRINCÍPIO DA IGUALDADE PROCESSUAL OU PARIDADE DE ARMAS: As partes devem ter em juízo as


mesmas oportunidades de atuação no processo e devem ser tratadas de forma igualitária, na medida da
sua igualdade.

C) PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA: Vista não apenas como um direito do indivíduo, mas sim uma garantia. A
ampla defesa divide-se em autodefesa e defesa técnica:

1. AUTODEFESA: é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos cruciais do processo.


Compreende:
● Direito de audiência: é o direito de ser ouvido no processo.

● Direito de presença: Direito de estar presente/acompanhar os atos processuais, inclusive


quando estiver preso em outra unidade da federação.

⮚ Obs.1: Embora a doutrina garantista entenda que a inobservância desse direito deve
acarretar nulidade absoluta, a jurisprudência vem entendendo que se trata de
nulidade relativa, devendo-se comprovar o prejuízo.

⮚ Obs.2: O direito de presença tem natureza relativa. Ou seja, há situações em que o


direito de presença pode causar constrangimento à vítima ou às testemunhas. Nesse
caso, se não for possível realizar a audiência mediante videoconferência, o acusado
será retirado da audiência, mediante decisão fundamentada do juiz. (art. 217, CPP)

● Capacidade postulatória autônoma: o ordenamento jurídico confere ao acusado uma


capacidade postulatória autônoma para praticar certos atos processuais, ainda que ele não seja
profissional da advocacia. Ex.: o acusado pode interpor recursos; provocar incidentes da
execução (livramento condicional, progressão de regime, etc.); impetrar habeas corpus.

2. DEFESA TÉCNICA: Direito de ser representado por advogado. A defesa técnica é indisponível e
irrenunciável.

Art. 261 do CPP: Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem
defensor.
Súmula 523, STF: no processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência
só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
Súmula 707, STF: constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao
recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação do defensor dativo.
Súmula 708, STF: é nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do
único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro.

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STF (Info. 950/2019): A ausência de defensor, devidamente intimado, à sessão de julgamento não
implica, por si só, nulidade processual. STF. 1ª Turma. HC 165534/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.
p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2019 (Info 950).

3. Aspectos da ampla defesa:


● Positivo: representa a efetiva utilização dos instrumentos, dos meios e modos de produção,
esclarecimento ou confrontação de elementos de prova relacionados à materialidade da
infração criminal e à autoria
● Negativo: impede a produção de elementos probatórios de elevado risco ou com potencialidade
danosa à defesa do réu.

4. Consequências da ampla defesa:


● Apenas o réu tem direito à revisão criminal, nunca a sociedade;
● O juiz deve sempre fiscalizar a eficiência da defesa do réu.

⮚ Obs.1: O acusado pode exercer sua própria defesa técnica, desde que seja profissional da advocacia,
regularmente inscrito nos quadros da OAB.

⮚ Obs.2: Diversos acusados podem ter a mesma defesa técnica, desde que não haja colidência de
teses pessoais.

D) PRINCÍPIO DA PLENITUDE DA DEFESA: Aplicado especificamente ao Tribunal do Júri.


● A atenção do juiz com a efetividade da defesa do réu deve ser ainda maior;
● É possível apresentar nova tese na tréplica;
● Ampliação do tempo de defesa nos debates sem que igual direito seja concedido ao MP.
E) PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO: Envolve regra de tratamento que milita em favor do acusado. O juiz
só pode proferir decreto condenatório se não existirem dúvidas acerca da autoria e materialidade do
delito, sendo indispensável um juízo de certeza para a condenação.

F) PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO OU BILATERALIDADE DA AUDIÊNCIA: É o direito de ser intimado e se


manifestar sobre fatos e provas.
1. Elementos:
● Direito à informação – parte adversa deve estar ciente da existência da demanda ou dos
argumentos da parte contrária.
● Direito de participação – possibilidade de a parte oferecer reação, manifestação ou contrariedade
à pretensão da parte contrária.
● Direito e obrigatoriedade de assistência técnica de um defensor

2. Espécies:

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● Contraditório para a prova (contraditório real): É o contraditório realizado na formação do


elemento de prova, sendo indispensável que sua produção ocorra na presença do órgão julgador e
das partes. Ex.: Prova testemunhal.
● Contraditório sobre a prova (contraditório diferido/postergado): É a atuação do contraditório
após a formação da prova. Ex.: Interceptação telefônica. Nesse caso, o contraditório será conferido
quando concluída a interceptação.

G) PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE:
1. Ligado ao caráter democrático do processo penal. Isso porque, a partir do momento que se assegura
o princípio da publicidade, a ideia é de que a publicidade vai proporcionar o controle da sociedade
sobre a atividade jurisdicional.
2. Alguns doutrinadores dizem que o princípio da publicidade funciona como uma garantia de segundo
grau ou garantia de garantia (Ferrajoli). Isso porque, na verdade, a publicidade proporciona o
controle sobre outras garantias. Assim, a partir do momento em que se dá publicidade ao processo,
poderemos analisar se as outras garantias também foram respeitadas (ex.: juiz natural, contraditório,
ampla defesa, etc.).
3. Regra: Publicidade ampla, permitindo a todos o acesso ao processo e não apenas às partes e aos
procuradores. Dessa publicidade ampla é possível extrair 3 direitos:
● Direito de assistência à realização dos atos processuais: o público, as partes e os advogados
podem acompanhar os atos processuais;
● Direito de narração dos atos processuais: da mesma forma que pode assistir, pode descrever
os atos processuais;
● Consulta dos autos: qualquer pessoa pode acessar os autos.

1. Exceção: Com fundamento na própria CF/88, em algumas situações a publicidade deve ser restrita
às partes e seus advogados (prevalência do direito à intimidade sobre o direito à informação). Ex.:
crimes sexuais correm em segredo de justiça.

H) PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DAS PROVAS ILÍCITAS: Art. 5º, LVI, da CF: São inadmissíveis, no processo, as
provas obtidas por meios ilícitos.
1. O reconhecimento da prova ilícita ou da prova ilegítima que enseja a nulidade absoluta tem como
consequência imediata o desentranhamento dos autos e sua inutilização, para que não se possa
influenciar indevidamente o convencimento do magistrado.
2. O que deve ser desentranhado dos autos é a PROVA, e não os autos processuais que fazem menção
à prova ilícita.
3. Exceção: a prova ilícita NÃO será inutilizada quando:
● Pertencer licitamente a alguém;
● Prova ilícita consistir no próprio corpo de delito em relação àquele que praticou um crime para
obtê-la.

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⮚ Obs.: O STF começou a admitir, excepcionalmente, a utilização da prova ilícita em benefício do réu
inocente que produziu prova para a sua absolvição.

I) PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL, CELERIDADE PROCESSUAL E DURAÇÃO RAZOÁVEL DO


PROCESSO: Corresponde à busca pelo equilíbrio: o processo não pode ser moroso ao ponto de ensejar
a impunidade, mas também não tão célere de modo a inobservar as garantias do acusado.
Consequências:
● As prisões cautelares devem persistir por tempo razoável, enquanto presentes as necessidades;
● Possibilidade de utilizar a carta precatória itinerante;
● A suspensão do processo, havendo questão prejudicial, só deve ser feita quando há caso de
difícil solução.

J) PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL: Art. 5, LIV, da CF - ninguém será privado da liberdade ou de
seus bens sem o devido processo legal. Subdivide-se em:
● Aspecto material ou substancial: Ninguém será processado, senão por crime previsto em lei;
● Aspecto processual ou procedimental: Atrelado à possibilidade de produzir provas.

K) JUIZ IMPARCIAL OU NATURAL


1. Previsão constitucional: art. 5°, XXXVII e LIII, CF/88

2. Conceito: Consiste no direito que cada cidadão possui de conhecer antecipadamente a autoridade
jurisdicional que o processará e o julgará. A ideia do juiz natural está relacionada com a imparcialidade.
3. Regras de Proteção que derivam do Juiz Natural
● Só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição;
● Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato;
● Entre os juízes pré-constituídos vigoram regras de competência que excluem qualquer tipo de
discricionariedade.

⮚ Obs.1: Convocação de juízes de 1º grau para substituir desembargadores não viola o princípio do juiz
natural.

⮚ Obs.2: Julgamento por turma (ou câmara) composta, em sua maioria, por juízes convocados não viola o
princípio do juiz natural.

4.2 Princípios Constitucionais Implícitos

A) PRINCÍPIO DO NEMO TENETUR SE DETEGERE (Princípio de que ninguém está obrigado a produzir prova
contra si mesmo)

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1. Conceito: A garantia da não autoincriminação consiste no direito de não produzir prova contra si
próprio (“nemo tenetur se detegere”), estando materializada pelo direito ao silêncio (art. 5º, LXIII,
CF/88)

2. Titularidade:
● Abrange o suspeito, investigado, indiciado ou o acusado.
● A testemunha tem a obrigação de dizer a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso
testemunho. Entretanto, se das perguntas a ela formuladas puder resultar uma autoincriminação,
também poderá invocar este princípio (Info 754 STF).
● O imputado deve ser advertido acerca do direito de não produzir prova contra si mesmo, sob pena
de ilicitude das provas obtidas.

3. Desdobramentos do Princípio da Não Autoincriminação

● Direito ao silêncio: Consiste no direito de não responder às perguntas formuladas pela autoridade,
funcionando como espécie de manifestação passiva de defesa. É uma forma de se exercer a
autodefesa.

● Inexigibilidade de dizer a verdade ou direito de mentir: Mentiras agressivas, incriminadoras de 3º


NÃO estão sob o manto do direito de defesa.

● Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo: Por comportamento
ativo, entende-se um “fazer” por parte do acusado, a exemplo do fornecimento do padrão vocal para
realização de exame de espectrograma; fornecimento de material escrito para exame grafotécnico;
exame de bafômetro.

⮚ Obs.1: Tratando-se de comportamentos passivos, em que o agente se sujeita à prova, não há


proteção do referido princípio, a exemplo do reconhecimento de pessoas e coisas.

⮚ Obs.2: Atualmente, há teste de bafômetro ativo (não é obrigado a realizar, pois pode acarretar
autoincriminação) e teste de bafômetro passivo, em que é colocado um objeto próximo ao
agente, capaz de captar, por meio da respiração, o teor alcoólico. Este último, por não demandar
qualquer comportamento do agente, pode ser realizado, mesmo contra sua vontade.

⮚ SUM 522: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda
que em situação de alegada autodefesa.

● Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva


⋅ Prova invasiva - Implica na penetração do organismo humano e na extração de uma parte dele.
Ex.: coleta de sangue

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⋅ Prova não invasiva - É aquela em que não há penetração no organismo humano. Admite-se a
coleta, mas não deve ser retirada do corpo. Por exemplo, o fio de cabelo coletado de um pente.
O mesmo vale para a coleta de lixo de placenta descartada (caso Glória Trevi).

⮚ Obs.: raio-x, segundo o STJ (HC 149.146/SP), é considerado prova não invasiva. Logo, poderá
ser realizado mesmo contra a vontade do indivíduo.

4. Natureza relativa ao princípio da vedação a não autoincriminação: Nemo tenetur se detegere e a


prática de outros ilícitos: nenhum direito pode ser usado como escudo protetor para a realização de
atividades ilícitas.
● Crime de Fraude Processual (art. 347, CP): o princípio do nemo tenetur se detegere não confere
à pessoa o direito de praticar de alterar o estado de coisa ou pessoa, incorrendo no crime de
fraude processual, como forma de defesa. (Caso Nardoni)

● Fuga do local de ocorrência de trânsito (art. 305 do CTB): a fuga do local do acidente é crime
compatível com a CF/88 e não pode ser usada como justificativa para aplicação do princípio do
nemo tenetur se detegere.

5. Aviso de Miranda é uma construção do direito norte-americano, segundo o qual, o policial, no


momento da prisão, deve advertir o preso acerca de seus direitos, sob pena de invalidação do que por
ele for dito (direito de advertência):
I- Que tem o direito de não responder
II- Que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ela;
III- Que tem o direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado.

6. Entendimentos do STF:
● O acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de
verificação de interlocutor (HC 83.096/RJ).
● O acusado não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico (HC 77135/SP).
● Configura constrangimento ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da
recusa destes em participarem de reconstituição do crime (HC 99.245/RJ).

B) PRINCÍPIO DA INICIATIVA DAS PARTES: Em conformidade com o sistema acusatório, o juiz não pode
iniciar um processo penal sem provocação anterior (nemo judex actore ou ne procedat judex ex officio).
EXCEÇÃO: O juiz pode agir de ofício:
● Habeas corpus de ofício (art. 654, § 2º, CPP); e
● Quando se tratar do início da execução penal (art. 195, Lei 7.210/84).
C) DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO: NÃO é princípio constitucional expresso, pois decorre de direitos
previstos em tratados de direitos humanos, como o Pacto de São José da Costa Rica

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D) PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE: A atividade de persecução criminal deve ocorrer por órgão oficial.
Aplicável à ação penal pública.

E) PRINCÍPIO DA OFICIOSIDADE: As autoridades incumbidas da persecução penal devem agir de ofício, ou


seja, independentemente de provocação, salvo exceções. Ex.: crimes de ação penal condicionada ou de
ação penal de iniciativa privada.

5. OUTROS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

A) PRINCÍPIO DA ORALIDADE: A prova oral prevalece sobre a escrita. Desse princípio decorre:
● Princípio da Concentração: Toda a colheita de prova e julgamento devem ocorrer em uma única
audiência.
● Princípio da Imediaticidade: O magistrado deve ter contato direto com a prova produzida.
● Princípio da Identidade Física do Juiz: O juiz que instrui o processo deve julgá-lo.

B) INDIVISIBILIDADE DA AÇÃO PENAL PRIVADA: NÃO pode o ofendido escolher contra qual agente
ofertará a ação penal privada.

ATENÇÃO: Para o STF, a ação penal pública é divisível, pois o MP pode, até sentença final, incluir novos
agentes por aditamento à denúncia ou oferecer nova ação penal, caso já prolatada sentença no feito.
Todavia, para doutrina majoritária, prevalece a indivisibilidade.

C) COMUNHÃO DA PROVA: Uma vez produzida, a prova não pertence mais a parte que a produziu, mas
ao processo.

6. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL

6.1 Aplicação da Lei Processual no Tempo

1. Normas de Direito Penal: Princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa, do qual deriva o
princípio da ultratividade da lei penal mais benéfica. A lei nova só vai valer para os crimes praticados a
partir daquele momento.

2. Normas de Direito Processual Penal: Existem duas espécies de normas de Direito Processual Penal.
● Norma genuinamente processual;
● Norma processual material, mista ou híbrida
● Dependendo da espécie de norma processual penal os critérios de aplicação serão diferentes.
3. Norma genuinamente processual - São aquelas que cuidam de procedimentos, atos processuais,
técnicas do processo. Nesse caso, o critério a ser aplicado é o previsto no art. 2°, CPP (princípio da
aplicação imediata).

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⮚ Obs.: Princípio do efeito imediato, a lei processual penal será aplicada de imediato, seja benéfica
ou maléfica. Portanto, do princípio da aplicação imediata derivam 2 regras fundamentais:
⋅ 1ª - A lei genuinamente processual tem aplicação imediata;
⋅ 2ª - A vigência dessa nova lei não invalida os atos processuais anteriores.

⮚ Obs.: ordenamento jurídico brasileiro adota o sistema do isolamento dos atos do processo (tempus
regit actum), segundo o qual a lei será aplicada unicamente em relação ao ato processual e, uma
vez praticado este, a nova lei processual já poderá ter incidência sobre os atos futuros.

4. Norma processual material (mista ou híbrida) - São aquelas que possuem caráter dúplice, de direito
penal e de processo penal. Assim, se um dispositivo legal, embora inserido em lei processual, versa sobre
regra penal, de direito material, a ele serão aplicáveis os princípios que regem a lei penal, de
ultratividade e retroatividade da lei mais benigna.

ATENÇÃO! Normas heterotópicas são aquelas em que, apesar de seu conteúdo conferir-lhe uma
determinada natureza, encontra-se prevista em diploma de natureza distinta. Ou seja, é uma norma penal
colocada no CPP, ou então norma processual penal colocada no CP.

6.2 Aplicação da Lei Processual no Espaço:

1. Princípio da territorialidade absoluta (art. 1º, CPP): o CPP vale em todo território nacional, SALVO nas
hipóteses excludentes da jurisdição criminal brasileira, casos em que o CPP possui aplicação subsidiária.

6.3 Aplicação da Lei Processual em Relação às Pessoas

1. IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS: Objetivam garantir o livre exercício dos representantes diplomáticos, e


são atribuídas em função do cargo, e não da pessoa.

a) Abrangência:
● Chefes de governo ou Estado estrangeiro, sua família e membros de sua comitiva;
● Embaixador e família: Imunidade absoluta;
● Funcionários das organizações internacionais (ONU) quando em serviço;
● Agentes consulares, apenas quanto aos crimes relacionados com a sua função (Cuidado!).

b) Considerações importantes:
● A imunidade não subtrai o diplomata da investigação, mas do processo e julgamento em território
brasileiro.
● As embaixadas NÃO são extensão do território que representam, mas são invioláveis.
● É possível ao país renunciar à imunidade do agente diplomático, mas o agente não pode renunciar
por iniciativa pessoal, já que a imunidade se fundamenta no interesse da função.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

2. IMUNIDADES PARLAMENTARES: É uma prerrogativa para o desempenho das funções de deputados e


senadores de legislar e fiscalizar o Poder Executivo. Podem ser absolutas ou relativas.

a) Imunidade absoluta (material, substancial, real, inviolabilidade ou indenidade): Os deputados e


senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

● Para STF, a imunidade é causa de atipicidade.


● A abrangência dessa imunidade deve ser analisada:
⋅ Se ofensa proferida nas dependências da casa legislativa, o nexo funcional é presumido, há
imunidade.
⋅ Se a ofensa é proferida fora das dependências da casa legislativa, o nexo funcional NÃO é
presumido

b) Imunidade relativa (formal): Somente após a diplomação (em ambos os casos):


● Para a prisão:
⋅ Passam a ter imunidade formal para a prisão a partir do momento em que são diplomados pela
Justiça Eleitoral (antes da posse)
⋅ Só poderão ser cautelarmente presos nas hipóteses de flagrante de crime inafiançável
⋅ Nesse caso, os autos deverão ser encaminhados a Casa Parlamentar respectiva, no prazo de 24h
para que, pelo voto (aberto) da maioria absoluta de seus membros, resolva sobre a prisão.

● Para o processo:
⋅ Oferecida denúncia, o Ministro do STF poderá recebê-la sem prévia licença da Casa
Parlamentar.
⋅ Após o recebimento da denúncia, o STF dará ciência a Casa respectiva que, por iniciativa de
partido político nela representado e pelo voto da maioria absoluta de seus membros, decidirá
sustar o andamento da ação.
⋅ O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de 45 dias do
seu recebimento pela mesa diretora, e a sustação do processo suspende a prescrição enquanto
durar o mandato.

3. PRERROGATIVA DE FORO: Desde a expedição de diploma, deputados e senadores serão julgados pelo
STF pela prática de qualquer tipo de crime, desde que seja durante o mandato e em razão dele.

Obs.: Não existe foro de prerrogativa para vereadores e vice-prefeitos

ESQUEMATIZANDO...
PARLAMENTAR IMUNIDADE JULGAMENTO

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Deputados Federais e Imunidade absoluta e Julgados pelo STF, inclusive


Senadores relativa. nos crimes dolosos contra a
vida.
Deputados estaduais Imunidade absoluta e Julgados pelo TJ, inclusive nos
relativa. crimes dolosos contra a vida.

7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

1. Conceito: Interpretar é buscar o sentido da lei, é descobrir o seu significado. Não interessa a vontade
do legislador, mas sim o sentido da lei.

2. Interpretação quanto ao resultado: 4 espécies de interpretação:


a) Declaratória - O intérprete não amplia e nem restringe o significado da lei, ou seja, o significado da
lei corresponde à sua literalidade.
b) Restritiva - Conclui-se que a lei disse mais do que pretendia dizer, por isso ela deve sofrer uma
restrição na hora de sua interpretação.
c) Extensiva - A lei disse menos do que pretendia dizer, por isso ela deve ser interpretada
extensivamente para abranger outras situações (art. 3, CPP).
d) Progressiva - Busca adaptar o texto da lei à realidade social vigente naquele determinado momento.

3. Analogia: A analogia está no art. 3°, CPP na expressão: “aplicação analógica”, sendo admitida no âmbito
puramente processual penal, independentemente de ser em bonam partem ou em malam partem.

4. Analogia ≠ Interpretação Extensiva.


● Analogia - É um método de integração (busca suprir lacunas);
● Interpretação extensiva - É um método de interpretação.

5. Aplicação supletiva e subsidiária do novo CPC ao processo penal: Só pode aplicar o CPC no processo
Penal quando houver lacuna. Pois é diante da omissão que se pode valer da analogia com o CPC. Assim,
se houver disposição legal expressa no CPP, não é possível aplicar o CPC!
8. FONTES

1. Conceito: As fontes correspondem à origem do direito processual penal, que se divide em espécies.

2. Espécies:

a) Fonte Material, Substancial ou de Produção: Refere-se ao órgão responsável pela criação de normas
jurídicas. Conforme estabelecido no art. 22, I, CF compete privativamente à União legislar sobre
Processo Penal. Contudo, nos termos do art. 22, §único, CF, lei complementar federal pode autorizar
Estados e o Distrito Federal a legislar sobre questões específicas.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

b) Fonte Formal, Cognitiva ou de Cognição: Refere-se ao instrumento de exteriorização da regulamentação


de determinada matéria. Nesse sentido, no âmbito do processo penal, podem ser:
● Imediata ou Direta: Constituição Federal, leis infraconstitucionais e os tratados, convenções e regras
de direito internacional.
● Mediata ou Indireta: analogia, costumes e princípios gerais de direitos (art. 3, CPP).

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

1. NATUREZA JURÍDICA DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA.

1. Deve se entender que as comunicações telefônicas, são FONTES DE PROVA e a interceptação


telefônica, por sua vez, funciona como MEIO DE OBTENÇÃO DE PROVA, mais especificamente como
medida cautelar processual, de natureza real, consubstanciada em uma apreensão imprópria.

2. Por sua vez, “interceptar” significa “cortar” o fluxo de algo, logo, podemos entender a interceptação
telefônica como o ato de interromper o fluxo de comunicação entre duas pessoas diferentes do
receptador., serão exemplos de provas inominadas.

3. Nem toda obtenção de diálogos alheios trata-se de uma interceptação telefônica. Veja:

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ESCUTA TELEFÔNICA GRAVAÇÃO TELEFÔNICA


Ocorre quando um terceiro Ocorre quando um terceiro Ocorre quando o diálogo telefônico travado
capta o diálogo telefônico capta o diálogo telefônico entre duas pessoas é gravado por um dos
travado entre duas pessoas, travado entre duas pessoas, próprios interlocutores, sem o
sem que nenhum dos sendo que um dos consentimento ou a ciência do outro.
interlocutores saibam. interlocutores sabe que está Também é chamada de GRAVAÇÃO
sendo realizada a escuta. CLANDESTINA (obs: a palavra “clandestina”
Há o consentimento deste está empregada no sentido de “feito às
interlocutor ocultas”, não na acepção de “ilícito”, mas
sim).
Ex: polícia, com autorização Ex: polícia grava a conversa Ex: mulher grava a conversa telefônica no
judicial, grampeia os telefones telefônica que o pai mantém qual o ex-marido ameaça matá-la.
dos membros de uma quadrilha com o sequestrador de seu
e grava os diálogos mantidos filho.
entre eles.
Para que a interceptação seja Para que seja realizada é A gravação telefônica é válida mesmo que
válida é indispensável a indispensável a autorização tenha sido realizada SEM autorização
autorização judicial judicial (posição majoritária). judicial.
(entendimento pacífico). A única exceção em que haveria ilicitude se
dá no caso em que a conversa era
amparada por sigilo (ex: advogados e
clientes, padres e fiéis).

4. Em relação à ESCUTA TELEFÔNICA, é importante notar que o consentimento dado por um dos
interlocutores não pode estar viciado. Em se tratando de consentimento viciado, envolvendo suposto
consentimento de um suspeito e gravação de conversas telefônicas por viva-voz, o STJ entendeu que
o consentimento não foi válido e declarou a ilicitude da prova.
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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

5. À luz do entendimento do STJ, no Info 543, quando um dos interlocutores é incapaz, o consentimento
para a interceptação (escuta) será dado por seu representante.

6. Em relação à GRAVAÇÃO TELEFÔNICA, o STJ possui entendimento no sentido de que, se consistir em


gravação clandestina de conversa com investigados, sem prévia advertência quanto ao direito ao
silêncio, tal prova não será válida.
3. COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS DE QUALQUER NATUREZA

1. A expressão “comunicação telefônica” não deve se restringir às comunicações por telefone, mas deve
também abranger a transmissão, emissão ou recepção de símbolos, caracteres, sinais, escritos,
imagens, sons ou informações de qualquer natureza, por meio de telefonia, estática ou móvel.
Entretanto, os tribunais superiores divergem quanto à aplicação da lei 9296 em algumas hipóteses;

2. Jurisprudência pertinente:
• STJ – Conversas realizadas em salas de bate-papo da Internet não estão amparadas pelo sigilo das
comunicações, tendo em vista que o ambiente virtual é de acesso irrestrito e destinado a conversas
informais. (RHC 18116)
• STJ - As informações obtidas por monitoramento de e-mail corporativo de servidor público não
configuram prova ilícita quando relacionadas com aspectos "não pessoais" e de interesse da
Administração Pública e da própria coletividade, especialmente quando exista, nas disposições
normativas acerca do seu uso. (RMS 48.665-SP)
• STJ – É ilícita a devassa de dados, bem como das conversas de whatsapp, obtidas diretamente pela
polícia em celular apreendido no flagrante, sem prévia autorização judicial. (RHC 51531)
• O acesso ao chip telefônico descartado pelo acusado em via pública não se qualifica como quebra
de sigilo telefônico. STJ, 5ª Turma, HC 720.605, julgado em 09.08.2022.

4. QUEBRA DO SIGILO DE DADOS TELEFÔNICOS

1. A interceptação das comunicações telefônicas NÃO se confunde com a quebra de sigilo de dados
telefônicos:
● A interceptação de comunicação telefônica diz respeito a algo que está acontecendo.
● A quebra do sigilo de dados telefônicos está relacionada aos registros documentados e armazenados
pelas companhias telefônicas, tais como data da chamada telefônica, horário da ligação, número do
telefone chamado, duração do uso, ou seja, se refere a registros pretéritos.

2. Como já se manifestou a jurisprudência, a Lei n° 9.296/96 é aplicável apenas às interceptações


telefônicas (atuais, presentes), não alcançando os registros telefônicos relacionados às
comunicações passadas.

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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

3. Isso, contudo, não significa dizer que o Delegado de Polícia e o Ministério Público podem requisitar o
registro telefônico diretamente, pois se trata de matéria que exige autorização judicial, mas sim que a
proteção do sigilo de dados não se fundamenta na Lei de Interceptação Telefônica, mas na proteção
constitucional relativa à intimidade, constante do art. 5, inc. X, CF/88. CUIDADO! O fundamento
constitucional é o inciso X da CF/88! E não o inciso XII!

4. Ressalta-se que parte da doutrina afirma que a quebra do sigilo de dados telefônicos não está
submetida à cláusula de reserva de jurisdição absoluta pois, além da autoridade judiciária competente,
Comissões Parlamentares de Inquérito também podem determinar a quebra do sigilo de dados
telefônicos com base em seus poderes de investigação (CF, art. 58, §3°), desde que o ato deliberativo
esteja devidamente fundamentado (MS 23.452/RJ).

5. Nesse sentido, podemos concluir que:


● Tanto o sigilo de dados telefônicos como o sigilo das comunicações telefônica exigem a autorização
judicial, mas baseadas em fundamentos diversos.
● O sigilo de dados telefônicos não se confunde com dados cadastrais, os quais o delegado de polícia
e o ministério público podem ter acesso, independentemente de autorização judicial.

6. Cuidado para não confundir o registro de ligações armazenados pelas empresas de telefonia, cujo
acesso depende da autorização judicial, com o registro de ligações presentes no próprio celular do
indivíduo preso em flagrante. Nessa hipótese, os Tribunais consideram LÍCITA a prova obtida através
do acesso às últimas chamadas efetuadas e recebidas, bem como à agenda telefônica do indivíduo.

5. QUEBRA DE ERB

1. Por meio da estação rádio base (ERB), é possível saber a localização aproximada de qualquer aparelho
celular ligado, desde que este esteja em uso, seja enviando ou recebendo uma mensagem, seja
efetuando ou recebendo uma ligação, e, consequentemente, de seu usuário.

2. Note, portanto, que essa quebra não permite acesso ao conteúdo da comunicação, mas somente o
local aproximado onde se encontra determinado aparelho.

3. Há divergência acerca da necessidade ou não de autorização judicial para obter o acesso a tais dados.

• 1ª C (STJ) – Dispensa prévia autorização judicial. Não se pode confundir a interceptação das
comunicações telefônicas com a obtenção de informações quanto ao posicionamento das ERB´s,
verdadeira espécie de dados telefônicos. O STJ tem precedente afirmando ser desnecessária a
autorização judicial para quebra de ERB. (HC 247331)

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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

• 2ª C (Doutrina + CPP) – Depende de autorização judicial. A obtenção das informações colhidas pela
quebra da ERB permite obter informações acerca da localização aproximada de uma pessoa, fato
que guarda relação e tangencia o direito à intimidade e à vida privada (art. 13-B, CPP)

4. Jurisprudência pertinente sobre o tema:

A determinação judicial para identificação dos usuários que operaram em


determinada área geográfica, suficientemente fundamentada, não ofende a
proteção à privacidade e à intimidade A quebra do sigilo de dados armazenados
não obriga a autoridade judiciária a indicar previamente as pessoas que estão
sendo investigadas, até porque o objetivo precípuo dessa medida é justamente de
proporcionar a identificação do usuário do serviço ou do terminal utilizado. Logo, a
ordem judicial para quebra do sigilo dos registros, delimitada por parâmetros de
pesquisa em determinada região e por período de tempo, não se mostra medida
desproporcional, porquanto, tendo como norte a apuração de gravíssimos crimes,
não impõe risco desmedido à privacidade e à intimidade dos usuários
possivelmente atingidos por tal diligência. STJ. 3ª Seção. RMS 61302-RJ, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/08/2020 (Info 678).

A decisão do magistrado foi acertada? É possível a determinação de ordem


judicial nesses termos? SIM. A determinação judicial de quebra de sigilo de dados
informáticos estáticos (registros), relacionados à identificação de usuários que
operaram em determinada área geográfica, suficientemente fundamentada, não
ofende a proteção constitucional à privacidade e à intimidade.

Proteção do sigilo pode ser afastada por decisão judicial fundamentada


Embora deva ser preservado na sua essência, é possível afastar a proteção ao sigilo
quando presentes circunstâncias que denotem a existência de interesse público
relevante, invariavelmente por meio de decisão proferida por autoridade judicial
competente, suficientemente fundamentada, na qual se justifique a necessidade
da medida para fins de investigação criminal ou de instrução processual criminal,
sempre lastreada em indícios que devem ser, em tese, suficientes à configuração
de suposta ocorrência de crime sujeito à ação penal pública.

Acesso a dados informáticos estáticos não é o mesmo que interceptação das


comunicações
A determinação de quebra de dados informáticos estáticos, relativos a arquivos
digitais de registros de conexão ou acesso a aplicações de internet e eventuais
dados pessoais a eles vinculados, é absolutamente distinta daquela que ocorre com
as interceptações das comunicações, as quais dão acesso ao fluxo de comunicações

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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

de dados, isto é, ao conhecimento do conteúdo da comunicação travada com o seu


destinatário.
Há uma distinção conceitual entre a quebra de sigilo de dados armazenados e a
interceptação do fluxo de comunicações. O art. 5º, X, da CF/88 garante a
inviolabilidade da intimidade e da privacidade, inclusive quando os dados
informáticos constarem de banco de dados ou de arquivos virtuais mais sensíveis.
Entretanto, o acesso a esses dados registrados ou arquivos virtuais não se confunde
com a interceptação das comunicações e, por isso mesmo, a amplitude de proteção
não pode ser a mesma. Desse modo, o procedimento disciplinado pelo art. 2º da
Lei nº 9.296/96 (Lei de Interceptação Telefônica) não se aplicam quando se busca
obter dados pessoais estáticos armazenados em sistemas informatizados de um
provedor de serviços de internet. A quebra do sigilo desses dados nesse caso na
hipótese, corresponde à obtenção de registros informáticos existentes ou dados já
coletados.

Decisão se mostra proporcional


Assim, a ordem judicial para quebra do sigilo dos registros, delimitada por
parâmetros de pesquisa em determinada região e por período de tempo, não se
mostra medida desproporcional, considerando que tem por objetivo a apuração de
gravíssimos crimes, além do fato de que não impõe risco desmedido à privacidade
e à intimidade dos usuários possivelmente atingidos por tal diligência.

6. MOMENTO DE DECRETAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

1. A interceptação telefônica para fins de investigação criminal pode ser efetivada independentemente
da prévia instauração de inquérito policial e pode ser decretada durante o curso da instrução
processual penal..

2. Apesar de a decretação da interceptação telefônica ser mais comum durante a fase investigatória, é
perfeitamente possível o deferimento da medida durante a instrução processual penal. Não se admite
tal medida no curso de um processo de natureza cível, comercial, trabalhista, administrativa etc.

3. A jurisprudência dos tribunais superiores entende que dados obtidos em interceptação de


comunicações telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente autorizadas para produção de prova
em investigação criminal ou em instrução processual penal, podem ser usados em procedimento
administrativo disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos,
ou contra outros servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova. (Súmula
591-STJ)

4. Admite-se a possibilidade de compartilhamento das provas obtidas pela interceptação telefônica em


outro processo penal, através do compartilhamento de provas.
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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

7. DA NECESSIDADE DE CONTRADITÓRIO.

1. Em regra, haverá o que a doutrina convencionou chamar de “contraditório diferido”, ante a própria
natureza da interceptação telefônica como medida cautelar inaudita. Por conta disso o contraditório
será observado, a posteriori, tão logo concluída a diligência.

2. Acesso do advogado às interceptações já realizadas: O advogado não pode acompanhar as


interceptações em andamento (pois ainda não documentadas), mas pode consultar as interceptações
já encerradas e juntadas aos autos do apenso do IP – SV. 14

8. REQUISITOS PARA A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA:

A) INDÍCIOS RAZOÁVEIS DE AUTORIA E PARTICIPAÇÃO: art. 2º, I

1. O procedimento de interceptação telefônica possui natureza cautelar, razão pela qual devem estar
presentes o “fumus comissi delicti” e o “periculum in mora/libertatis”.
● Fumus comissi delicti - comprovação da existência de um crime e indícios suficientes de autoria
● Periculum in mora/libertatis - presente quando a liberdade do acusado oferece perigo, sendo uma
razão premente para a decretação de medidas cautelares pessoais (aqui falaremos em periculum in
libertatis), ou Reais (aqui falaremos em periculum in mora), que possam subsidiar lastro para
eventual medida pessoal, como a prisão preventiva, que tem como requisitos a certeza de
materialidade e indícios de autoria.

2. Não é possível interceptação telefônica para verificar se uma determinada pessoa, contra a qual
inexiste qualquer indício, está ou não cometendo algum crime. É absolutamente proibida a chamada
INTERCEPTAÇÃO DE PROSPECÇÃO, desconectada da realização de um fato delituoso, sobre o qual
ainda não se conta com indícios suficientes.

B) QUANDO A PROVA NÃO PUDER SER FEITA POR OUTROS MEIOS DISPONÍVEIS: Art. 2º, II

1. A interceptação telefônica deve ser utilizada como medida de ultima ratio, sob pena de ilicitude da
prova, sendo inegável o caráter subsidiário esta possui como meio de prova.
2. Ou seja, a medida é exceção, e não regra, só podendo ser manejada quando não houver outro meio
para apurar o fato, nesse sentido;
3. Considerando seu caráter subsidiário, uma vez que a interceptação telefônica somente deve ser
utilizada diante da insuficiência dos meios de obtenção de prova tradicionais, é certo que não deve ser
adotada, de imediato, pela autoridade policial, ao receber uma denúncia anônima. No entanto, se após
a denúncia anônima houver a investigação preliminar, poderá ser decretada a interceptação
telefônica.

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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

C) CRIME PUNIDO COM RECLUSÃO: Art 2º, III

1. O legislador limitou o uso da interceptação telefônica em razão da natureza da pena, só sendo possível
manejá-la caso o crime seja punido com pena de reclusão.

2. Na medida em que o art. 2°, inciso III, da Lei n° 9.296/96, demanda que a infração penal seja punida
com pena de reclusão, depreende-se que não é possível a decretação de interceptação telefônica
para investigar crimes de responsabilidade em sentido estrito (Lei n° 1.079/50 e Decreto-Lei n°
201/67). Afinal, tais crimes não têm natureza jurídica de infração penal, mas sim de infração político-
administrativa, passível de sanções político-administrativas, aplicadas por órgãos jurisdicionais
políticos.

OBS.1: DELIMITAÇÃO DO OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: será sempre obrigatória a descrição com clareza da
situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo
impossibilidade manifesta, devidamente justificada.

OBS.2: ORDEM JUDICIAL DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA: O deferimento da interceptação é matéria afeta


à reserva de jurisdição, conforme se depreende do artigo 5°XII, CF/88. Ademais, o entendimento do STJ é no
sentido de que eventual consentimento posterior de um dos interlocutores não supre a falta de
autorização judicial prévia.

Considerações importantes:

1. JUIZ DAS GARANTIAS: Com o implemento do pacote anticrime, as decisões sobre interceptação
telefônica no inquérito policial ficarão a cargo do juiz das garantias. Lembre-se que este dispositivo
encontra-se suspenso pelo STF.
2. TEORIA DO JUÍZO APARENTE: Para a TEORIA DO JUIZO APARENTE, se, no momento da decretação da
medida, os elementos informativos até então obtidos apontavam para a competência da autoridade
judiciária responsável pela decretação da interceptação telefônica, devem ser reputadas válidas as
provas assim obtidas, ainda que, posteriormente, seja reconhecida a incompetência do juiz inicialmente
competente para o feito.

3. DECRETAÇÃO DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA DE OFÍCIO PELO JUIZ: De acordo com a doutrina


majoritária, o magistrado NÃO pode atuar de ofício na fase pré-processual, por caracterizar ofensa ao
Sistema Acusatório (consagrado expressamente no art. 3ª-A, CPP). Logo, em tese, não pode decretar de
ofício a interceptação telefônica fora da instrução processual. No entanto, uma vez em curso o processo,
a autoridade judiciária passaria a deter poderes inerentes ao próprio exercício da função jurisdicional,
podendo determinar a interceptação telefônica de ofício.
➢ Ressalta-se que a atuação de ofício do magistrado na fase processual não foge às diversas
críticas doutrinárias, uma vez que o juiz deixa de estar em posição equidistante das partes,

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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

atuando como interessado na instrução processual, o que acabaria ferindo o processo penal
contraditório, maculando-o com traços de inquisitoriedade.

4. REQUERIMENTO DO MINISTÉRIO PÚBLICO: O Ministério Público, como “dominus litis” da ação penal,
poderá realizar o requerimento de interceptação telefônica tanto na etapa pré processual, seja qual for
o procedimento de investigação adotado, quanto na instrução processual, em virtude de sua posição
processual.

5. REPRESENTAÇÃO DO DELEGADO DE POLÍCIA: A autoridade policial, em cumprimento de sua função de


presidir o inquérito policial, poderá representar pela interceptação das comunicações telefônicas
durante o procedimento investigatório, quando for a única hipótese possível para carear eventual justa
causa contra o investigado, em respeito à subsidiariedade da interceptação como meio de prova. Assim,
prevalece na doutrina que a autoridade policial possui legitimatio propter officium (legitimidade do
próprio ofício conferido por lei) para representar pela imposição de tutelas cautelares.

9. SIGILO PROFISSIONAL DO ADVOGADO

1. A conversa pessoal e reservada entre advogado e cliente tem toda a proteção da lei, porquanto, entre
outras reconhecidas garantias do advogado, está a inviolabilidade de suas comunicações. Como estão
proibidas de depor as pessoas que, em razão de profissão, devem guardar segredo, é inviolável a
comunicação entre advogado e cliente. No entanto, o STJ já decidiu que o simples fato de o advogado
do investigado ter sido interceptado não é causa, por si só, para gerar a anulação do processo

2. A anulação do processo e da condenação imposta ao réu só ocorrerá se for indevida e violar as


prerrogativas da defesa, podendo gerar consequências processuais distintas:
• Cassação ou invalidação do ato judicial que determinou a interceptação
Invalidação dos atos processuais subsequentes ao ato atentatório com ele relacionado
Afastamento do magistrado caso de demonstre que, ao agir assim, atuava de forma parcial.

3. As conversas entre investigado e seu advogado, obtidas mediante interceptação telefônica


judicialmente autorizada, seria válida ou a prova deverá ser considerada ilícita?
• Conversas entre investigado e seu advogado sobre estratégias de defensa: A conversa estará
acobertada pelo sigilo profissional do advogado (desdobramento lógico do devido processo legal).

• Advogado como autor, coautor ou partícipe de crime: O sigilo profissional do advogado não
poderá ser invocado como uma espécie de blindagem indiscriminada capaz de imunizá-lo da
prática de crimes. Dessa forma, se o advogado estiver envolvido na prática de crimes
autorizadores da medida excepcional da interceptação telefônica, eventuais conversas gravadas
nesse contexto poderão ser utilizadas como prova de crime

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RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

10. ENCONTRO FORTUITO DE ELEMENTO PROBATÓRIO EM RELAÇÃO A OUTROS FATOS DELITUOSOS


(SERENDIPIDADE):

1. Fala-se em encontro fortuito de provas, “crime achado” ou Serendipidade quando a prova de


determinada infração penal é obtida a partir de diligência regularmente autorizada para a
investigação de outro crime.
2. Nesses casos, a validade da prova inesperadamente obtida está condicionada à forma como foi
realizada a diligência: se houve desvio de finalidade, a prova não deve ser considerada válida; se não
houve desvio de finalidade, a prova é válida.
3. Dessa forma, a prova é considerada lícita, mesmo que o “crime achado” não tenha relação (não seja
conexo) com o delito que estava sendo investigado, desde que tenham sido respeitados os requisitos
constitucionais e legais.
4. STJ - Descobertos novos crimes durante a interceptação, a autoridade deve apurá-los, ainda que
sejam punidos com detenção
5. A serendipidade pode ser objetiva ou subjetiva:
• Serendipidade objetiva - Ocorre quando, no curso da medida, surgirem indícios da prática de
OUTRO CRIME que não estava sendo investigado.
• Serendipidade subjetiva - Ocorre quando, no curso da medida, surgirem indícios do
envolvimento criminoso DE OUTRA PESSOA que inicialmente não estava sendo investigada. Ex:
durante a interceptação telefônica instaurada para investigar João, descobre-se que um de
seus comparsas é Pedro (Deputado Federal)

6. A serendipidade pode ser em 1º e 2º grau.


• Serendipidade de primeiro grau - A prova obtida fortuitamente, quando houver relação de
conexão ou continência.
• Serendipidade de 2º Grau – Aqui, os fatos descobertos não guardam relação de conexão ou
continência.

11. PROCEDIMENTO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

1. Pedido oral: Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado verbalmente, desde
que:
• Estejam presentes os pressupostos que autorizem a interceptação,
• Seja reduzida a termo

2. Fundamentação da decisão judicial: Requisitos da decisão judicial:


● Quais são os concretos indícios de autoria ou de participação (art. 2., I);
● Quais são as provas existentes a respeito da infração penal (materialidade) (art. 2º, I);
● Que se trata de infração punida com reclusão (art. 2°, III);
● Que a interceptação é necessária em virtude da inexistência de outros meios disponíveis para a
obtenção da prova (art. 2°, II, e art. 4°);
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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

● A descrição com clareza da situação objeto da investigação (delimitação fática da medida)


● A individualização da linha telefônica que servirá de fonte para a captação da comunicação;
● Quais meios serão empregados para a execução da medida (quais recursos tecnológicos, quais
operações serão feitas etc.) (art. 4°);
● Qual será a forma de execução da diligência — recursos próprios da polícia, recursos da
concessionária, técnicos da concessionária etc. (art. 5°);
● Qual é a duração da medida (o prazo não pode exceder quinze dias);
● Qual é a intensidade da medida (captação de todas as comunicações ou só das chamadas
feitas/recebidas, ou ambas, apenas constatação das chamadas sem importar o conteúdo etc.);
● Que a interceptação é proporcional no caso concreto, em razão da gravidade da infração, da
necessidade da prova, dos interesses afetados etc.;
● Que tudo deve ser feito "sob segredo de justiça" (art. 10)

3. Prazo para o juiz decidir: O juiz decidirá no prazo máximo de 24 horas. Esse prazo possui natureza
imprópria, não gerando qualquer nulidade para a prova.

4. Duração da interceptação
• Em regra, execução da diligência não pode ultrapassar o limite de 15 dias, a partir do dia em que a
medida é efetivada.
• O prazo de 15 dias pode ser renovado indefinidamente, desde que comprovada a indispensabilidade
do meio de prova.
• São lícitas as sucessivas renovações de interceptações telefônicas desde que:
(1) verificados os requisitos do art.2 da Lei 9296/96
(2) demonstrada a necessidade da medida diante de elementos concretos e a complexidade da
investigação, a decisão judicial inicial e as prorrogações sejam devidamente motivadas, com
justificativa legítima, ainda que sucinta, a embasar a continuidade das investigações.

• Havendo necessidade de renovação do prazo da interceptação:


→ O pedido deve ocorrer antes do decurso do prazo fixado na decisão originária
→ Mediante decisão judicial motivada, evitando-se uma solução de continuidade na captação das
comunicações telefônicas.
→ Em regra, admite-se a motivação per relationem. No entanto, é necessário que se traga novos
fundamentos. Veja:

É válida a decisão judicial que se utiliza de fundamentação per relationem para


decretar a interceptação telefônica? Sim! Admite-se o uso da motivação per
relationem para justificar a quebra do sigilo das comunicações telefônicas. No
entanto, as decisões que deferem a interceptação telefônica e respectiva
prorrogação devem prever, expressamente, os fundamentos da representação que
deram suporte à decisão – o que constituiria meio apto a promover a formal
incorporação, ao ato decisório, da motivação reportada como razão de decidir –
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RETA FINAL

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

sob pena de ausência de fundamento idôneo para deferir a medida cautelar. STJ.
6ª Turma. HC 654131-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/11/2021
(Info 723).

Em decisões que autorizem a interceptação das comunicações telefônicas de


investigados, é inválida a utilização da técnica da fundamentação per
relationem (por referência) sem tecer nenhuma consideração autônoma, ainda
que sucintamente, justificando a indispensabilidade da autorização de inclusão
ou de prorrogação de terminais em diligência de interceptação telefônica. Isso
porque o STJ admite o emprego da técnica da fundamentação per relationem.
Sem embargo, tem-se exigido, na jurisprudência da Sexta Turma, que o juiz, ao
reportar-se a fundamentação e a argumentos alheios, ao menos os reproduza e
os ratifique, eventualmente, com acréscimo de seus próprios motivos. RHC
119.342-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 20/09/2022.

OBS.1: Em 15.09.2020, o STJ, no bojo do AgRg no AREsp 1.861.383, entendeu que a captação de áudio em
interceptação telefônica fora do período autorizado resulta na nulidade apenas da gravação realizada no dia
excedente, e não na nulidade de toda a gravação!

OBS.2: A limitação temporal somente é necessária para o fluxo das comunicações, não sendo requisito
indispensável quando se tratar de quebra de sigilo que envolva dados estáticos/já armazenados.

12. EXECUÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA – art. 6º

1. Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação, dando ciência ao


Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização.
2. Segundo o STJ (RHC 80.773/2020), o artigo 6º, ao atribuir à autoridade policial a competência para
conduzir a interceptação, não pode ser interpretado de forma totalmente estrita. Isso porque admite-
se a legitimidade de órgão da Secretaria de Segurança Pública para conduzir o trabalho de
interceptação.
3. No caso de a diligência possibilitar a gravação da comunicação interceptada, será determinada a sua
transcrição. No entanto, a jurisprudência é clara no sentido de que não há necessidade de degravação
integral das conversas efetuadas, desde que assegurado às partes o acesso à integralidade dos
registros
4. Cumprida a diligência, a autoridade policial encaminhará o resultado da interceptação ao juiz,
acompanhado de auto circunstanciado, que deverá conter o resumo das operações realizadas.
5. A interceptação de comunicação telefônica, de qualquer natureza, ocorrerá em autos apartados,
apensados aos autos do inquérito policial ou do processo criminal, preservando-se o sigilo das
diligências, gravações e transcrições respectivas. A ausência de autos apartados configura mera
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irregularidade, sem o condão de macular a prova, uma vez que, dessa ausência, não se pode auferir
prejuízo em concreto à nenhuma das partes.
6. A gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o inquérito, a
instrução processual ou após esta, em virtude de requerimento do Ministério Público ou da parte
interessada.
a) Momento: O incidente de inutilização das conversas telefônicas que poderá ser instaurado ao longo
de toda a persecução penal, inclusive após a instrução processual, mas até a prolação da sentença,
já que exaurido a sua competência, não podendo reconhecer esse incidente.O terceiro pode
requerer o desarquivamento da condenação ao juízo da condenação originária sendo um exemplo
de jurisdição voluntária. Isso pode ocorrer quando um terceiro vê sua vida exposta.

b) Legitimidade: Quem pode requerer é o MP ou a parte interessada. Utilizar o termo “parte


interessada” foi proposital do legislador para gerar um termo amplo que envolve o ofendido e
terceiros interessados.

c) Presença do acusado: A presença é facultativa, mas a notificação pessoal do imputado é obrigatória


sob pena de nulidade de toda a intercepção telefônica. Isso porque a defesa não terá a sua disposição
todo o material interceptado e, sim, apenas material editado, não sendo possível aferir se forma ou
não destruídas conversas telefônicas que poderiam ser exploradas pelo réu em seu prol.

13. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA E AUTORIDADES COM FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

1. O entendimento do STJ é pacífico no sentido de que, na hipótese de o interceptado manter contato


telefônico com autoridade detentora de foro por prerrogativa de função, sendo a interceptação deferida
por juízo de 1ª instância, a gravação dessas conversas NÃO é nula por violação ao foro por prerrogativa
de função, considerando que não era a autoridade quem estava sendo interceptada.

2. No entanto, é importante ressaltar que a gravação não será nula se a presença da autoridade detentora
de foro for descoberta fortuitamente, hipótese em que a autoridade judicial não deve demorar a
declinar a competência.

3. Assim, a partir do momento em que surgem indícios de participação de detentor de prerrogativa de


foro nos fatos apurados, cumpre à autoridade judicial declinar da competência, e não persistir na prática
de atos objetivando aprofundar a investigação.
14. INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES AMBIENTAIS

1. A par da interceptação das comunicações telefônicas, a Lei 9296/96 também disciplina a interceptação
das comunicações ambientais, que já eram disciplinadas pela doutrina brasileira. Note que, com o
advento do Pacote Anticrime, a captação ambiental passou a ser tratada expressamente na Lei
9296/96.

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2. Conceitos relevantes:
a) Comunicação ambiental: Enfim, trata-se de conversa mantida entre duas ou mais pessoas sem a
utilização do telefone, em qualquer recinto, privado ou público.
b) Interceptação ambiental: é a captação sub-reptícia de uma comunicação no próprio ambiente dela,
por um terceiro, sem conhecimento dos comunicadores.
c) Escuta ambiental: é a captação de uma comunicação, no ambiente dela, feita por terceiro, com o
consentimento de um dos comunicadores.
d) Gravação ambiental: é a captação no ambiente da comunicação feita por um dos comunicadores (ex.
gravador, câmeras ocultas etc.)

3. Com a inserção do art. 8º-A, a captação ambiental tornou-se um meio de obtenção de prova nominado
e típico.

Art. 8º-A. Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada pelo juiz,
a requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público, a captação
ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, quando: (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes;
e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em
infrações criminais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou
em infrações penais conexas. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o local e a forma de
instalação do dispositivo de captação ambiental. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019) § 2º A instalação do dispositivo de captação ambiental poderá ser realizada,
quando necessária, por meio de operação policial disfarçada ou no período
noturno, exceto na casa, nos termos do inciso XI do caput do art. 5º da
Constituição Federal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) havia sido
inicialmente vetado pelo Presidente da República, seguido de posterior cassação
do veto pelo Congresso Nacional
§ 3º A captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15 (quinze) dias,
renovável por decisão judicial por iguais períodos, se comprovada a
indispensabilidade do meio de prova e quando presente atividade criminal
permanente, habitual ou continuada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º A captação ambiental feita por um dos interlocutores sem o prévio
conhecimento da autoridade policial ou do Ministério Público poderá ser
utilizada, em matéria de defesa, quando demonstrada a integridade da gravação.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) havia sido inicialmente vetado pelo
Presidente da República, seguido de posterior cassação do veto pelo Congresso
Nacional

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§ 5º Aplicam-se subsidiariamente à captação ambiental as regras previstas na


legislação específica para a interceptação telefônica e telemática.

4. À semelhança do art. 1º da Lei 9.296/96, que abrange tanto a interceptação telefônica em sentido estrito
quanto a escuta telefônica, o art. 8º faz uso da expressão “captação ambiental” em sentido amplo,
englobando a interceptação ambiental em sentido estrito e a escuta ambiental, pois ambas consistem
em processos de captação da conversa alheia.

5. Ressalta-se ainda que a doutrina e jurisprudência apontam que a interceptação ambiental está tutelada
no inciso X do art. 5º da CF/88 – garantia constitucional da intimidade e vida privada.

6. Cláusula de Reserva de Jurisdição: Trata-se de hipótese sujeita à cláusula de reserva de jurisdição, de


modo que não poderá ser decretada de ofício, nem mesmo na fase processual, já que exige:
(a) Representação da autoridade policial (curso da investigação).
(b) Requerimento do membro do Ministério Público (curso da investigação ou no curso do processo).

7. Quais os requisitos para que a autorização judicial seja deferida?


• Demonstração da extrema necessidade da medida, ou seja, a prova não pode ser passível de
produção por outro meio menos lesivo a disposição das autoridades.
• Elementos probatórios razoáveis de autoria ou participação em infrações penais cuja pena seja
superior a 04 anos ou em infrações penais conexas cuja soma das penas sejam superiores a esse
quantitativo. (O critério é quantitativo, de modo que pode ser crime apenado com detenção ou
reclusão).
• Descrição circunstanciada do local e da forma que o dispositivo de captação ambiental será
instalado.

8. Qual é o prazo em que ocorrerá a captação ambiental? R.: A captação ambiental será autorizada
inicialmente pelo prazo de até 15 dias, sem prejuízo de sucessivas prorrogações por meio de decisão
judicial nos casos de:
• Indispensabilidade dos meios de prova.
• Atividade criminal permanente, habitual ou continuada.

14.2 Captação Ambiental Clandestina e Figura Criminosa Respectiva

Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de


informática ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da
Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que determina a
execução de conduta prevista no caput deste artigo com objetivo não autorizado
em lei.
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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

Art. 10-A. Realizar captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou


acústicos para investigação ou instrução criminal sem autorização judicial, quando
esta for exigida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1º Não há crime se a captação é realizada por um dos interlocutores.


§ 2º A pena será aplicada em dobro ao funcionário público que descumprir
determinação de sigilo das investigações que envolvam a captação ambiental ou
revelar o conteúdo das gravações enquanto mantido o sigilo judicial.

1. São três os comportamentos punidos pelo caput do art. 10 em dois contextos:

(1) Realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática-, popularmente


chamado de "grampo", ocorre quando terceira pessoa intercepta as comunicações de terceiros sem a
ciência e autorização dos interlocutores;

(2) Promover escuta ambiental: essa modalidade, em grande parte, foi tacitamente revogada pelo novo
crime previsto no art. 10-A da Lei n° 9.296/96, tema que estudaremos no tópico seguinte. Funcionará
apenas subsidiariamente quando a escuta ambiental foi realizada sem prévia autorização judicial;

(3) Quebrar segredo de justiça: sabendo que as informações captadas a partir de interceptações de
comunicações telefônicas são sigilosas, pratica o crime o agente que fornece a terceiro estranho à
persecução penal as informações até então protegidas pelo segredo de justiça.

2. Os comportamentos acima podem ser praticados nos seguintes contextos:


a) Sem autorização judicial: basta a prática de qualquer das condutas estudadas acima sem autorização
judicial, seja porque nem mesmo foi apresentado requerimento ao magistrado, seja porque houve o
seu indeferimento prévio.
b) Com objetivos não autorizados em lei: ao contrário do contexto anterior, nesta modalidade há
autorização judicial, todavia, com desvio de finalidade. A conduta é praticada com qualquer objetivo
estranho à investigação criminal ou instrução processual penal

A captação promovida por um dos interlocutores, mesmo sem o conhecimento dos demais, não depende de
autorização judicial, sendo, portanto, fato atípico (conclusão reforçada pelo §i» do art. 10-A da Lei n°
9.296/96).
- A captação promovida em lugares públicos também independe de autorização judicial. Sendo assim, se
colocada em prática não haverá crime e a prova obtida será considerada lícita.

3. Considerações importantes:
• Condutas punidas apenas à título de dolo.
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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

• Crime de ação penal pública incondicionada em razão do silêncio legal;


• Em regra, competência da Justiça Comum Estadual. Pode ser competência da Justiça Federal caso se
enquadre no rol do art. 109, CF (Ex.: crime perpetrado por funcionário público federal no exercício
da função)

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DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL

A) CONCEITO
1. Direito Penal é “o conjunto de princípios e regras destinados a combater o crime e a contravenção
penal, mediante a imposição de sanção penal”.
2. Diz-se que a pena é a 1ª via do direito penal, a medida de segurança é a 2ª e a reparação do dano é a 3ª.
3. Em seu aspecto formal: o direito penal é um conjunto de normas que qualifica certos
comportamentos humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções as lhe
serem aplicadas.
4. Em seu aspecto material: o Direito Penal se refere a comportamentos considerados altamente
reprováveis ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria
conservação e progresso da sociedade.
5. Em seu aspecto sociológico: o direito penal é mais um instrumento do controle social de
comportamentos desviados, visando a assegurar a necessária disciplina social.

B) CARACTERÍSTICAS
De acordo com Cleber Masson (2017, p. 5), o Direito Penal é uma ciência cultural, normativa,
valorativa, finalista, de natureza predominantemente sancionatória, e fragmentária.

1. Ciência: suas regras estão contidas em normas e princípios que, por sua vez, formam a dogmática
jurídico-penal;
2. Cultural: o Direito Penal é uma ciência do “dever ser”, ao contrário das ciências naturais, que cultuam
o “ser”;
3. Normativa: o objeto principal é o estudo da lei penal (Direito positivo);
4. Valorativa: sua aplicação não está pautada em regras matemáticas de certo ou errado, mas sim em
uma escala de valores que são sopesados a partir de critérios e princípios próprios do Direito Penal.
Dessa forma, esse ramo do direito valoriza hierarquicamente as suas normas;
5. Finalista: o objetivo do direito penal é a proteção de bens jurídicos fundamentais, o que torna a sua
missão prática, e não simplesmente teórica;
6. Sancionatória: o Direito Penal é predominantemente sancionador porque não cria bens jurídicos,
mas acrescenta proteção penal aos bens jurídicos disciplinados por outros ramos do Direito. No
entanto, é possível que ele seja também constitutivo, quando protege interesses não regulados por
outras áreas do Direito, como o uso indevido de drogas;
7. Fragmentária: o Direito Penal não tutela todos os valores ou interesses, mas somente os mais
importantes para a manutenção e o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade.

C) OBJETO DE PROTEÇÃO DO DIREITO PENAL

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1. Segundo Luiz Regis Prado, bem jurídico é um ENTE MATERIAL ou IMATERIAL haurido do contexto
social, de titularidade individual ou metaindividual reputado como ESSENCIAL PARA A COEXISTÊNCIA
E O DESENVOLVIMENTO DO HOMEM EM SOCIEDADE e, por isso, jurídico-penalmente protegido.

D) FUNÇÕES DO DIREITO PENAL

1. Missão mediata:
● Instrumento de Controle Social ou de preservação da paz pública (Papel intimidador);
● Limitação ao poder de punir estatal ou Função de Garantia – garantia dos cidadãos contra o arbítrio
estatal, vez que só podem ser punidos por atos previstos como infração penal e por pena também
determinada em lei.

2. Missão imediata:
● Funcionalismo teleológico (moderado) – Claus Roxin (Predomina) - A missão do Direito Penal é a
proteção dos bens jurídicos mais relevantes;
● Funcionalismo sistêmico (radical) – Günter Jakobs - A missão do Direito Penal é assegurar a vigência
do sistema, protegendo o império da norma;

FUNCIONALISMO PENAL

● Finalidade do Direito Penal: proteção de bens


jurídicos indispensáveis. Não veio para trazer
valores éticos, morais;
● Moderado: o direito penal tem limites impostos
FUNCIONALISMO pelo próprio direito penal e demais ramos do
TELEOLÓGICO direito;
(Características: Moderado, ● Dualista: convive em harmonia com os demais
dualista, de política criminal ramos do Direito. Reconhece o sistema jurídico em
ou racional teleológico) geral;
ROXIN ● De política criminal: aplica a lei de acordo com os
anseios da sociedade. Se adapta à sociedade em que
ele se insere;
● Racional teleológico: movido pela razão e em busca
de sua finalidade.
● Finalidade do Direito Penal: é a proteção das
FUNCIONALISMO SISTÊMICO normas penais, assegurar o império da norma. É
(Características: punir. Aplicar a lei;
Radical, monista e sistêmico) ● A sociedade que deve se ajustar ao Direito Penal;
JAKOBS ● Para ele, o Direito Penal é:
Direito Penal do Inimigo - Radical: só reconhece os limites impostos por ele

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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

mesmo;
- Monista: é um sistema próprio de regras e de
valores que independe dos demais;
- Sistêmico: é autônomo (independe dos demais
ramos), autorreferente (todas as referências e
conceitos que precisa buscar do próprio direito
penal) e se autoproduz;
● Quem viola reiterada e deliberadamente a norma =
não-cidadão / inimigo = não tem direitos.

E) CLASSIFICAÇÕES DO DIREITO PENAL


1. Direito Penal Fundamental (Primário): é o conjunto de normas e princípios do Direito Penal
aplicáveis genericamente, inclusive às leis penais especiais. É composto pelas normas da Parte Geral
do Código Penal e, excepcionalmente, algumas normas de amplo conteúdo previstas na Parte
Especial, como os conceitos de domicílio (art. 150, §§4º e 5º) e funcionário público (art. 327);
2. Direito Penal Complementar (Secundário): corresponde à legislação penal extravagante;

3. Direito Penal Comum: é o conjunto de normas penais aplicável indistintamente a todas as pessoas,
como o Código Penal;
4. Direito Penal Especial: é o conjunto de normas penais aplicável apenas a pessoas determinadas que
preencham certas condições legais. São exemplos o Código Penal Militar e o Decreto-lei nº 201/1967
(crimes de responsabilidade dos prefeitos);

5. Direito Penal Geral: é o conjunto de normas penais aplicáveis em todo o território nacional. Essas
normas são produzidas privativamente pela União (art. 22, I, da CF);
6. Direito Penal Local: é o conjunto de normas penais aplicáveis somente a determinada parte do
território nacional. A existência dessas normas somente é possível se houver autorização da União
por lei complementar para que os Estados legislem sobre questões específicas de Direito Penal (art.
22, parágrafo único, da CF);

7. Direito Penal Objetivo: é o conjunto de leis penais em vigor;


8. Direito Penal Subjetivo: é o direito de punir (ius puniendi), que pertence exclusivamente ao Estado
e nasce quando uma lei penal é violada;

9. Direito Penal Substantivo: é o direito penal material, propriamente dito. É o que consta no Código
Penal;
10. Direito Penal Adjetivo: também chamado de “formal” (grave as nomenclaturas), é o direito
processual penal.

2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS

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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA POLÍTICA CRIMINAL


Ciência normativa e valorativa, que
Ciência empírica e
analisa os fatos humanos Trabalha as estratégias e meios
interdisciplinar, que estuda o
indesejados e define quais devem de controle social da
crime, o criminoso, a vítima e o
ser tipificados como crime ou criminalidade.
controle social.
contravenção.
Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto
norma. fato. valor.
Ex: Quais fatores contribuem Ex: Estuda como diminuir os
Ex: Define o crime de roubo.
para o crime de roubo. casos de roubo.

3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO

1. Direito Penal do Fato – Adotado pelo Ordenamento Penal Brasileiro – consiste que o direito penal
deve punir condutas, ou seja, fatos, praticados pelos indivíduos que sejam lesivas a bens jurídicos de
terceiros. Está atrelado ao Princípio da exteriorização ou materialização do fato, pelo qual o Estado só pode
incriminar condutas humanas voluntárias (fatos). Assim, ninguém pode ser castigado por seus pensamentos,
desejos ou meras cogitações ou estilo de vida.
2. Direito Penal do autor consiste na punição do indivíduo baseada em seus pensamentos, desejos
e estilo de vida, condições pessoais, do modo de ser, grau de culpabilidade (reprovabilidade), antecedentes
do autor, está interligado ao Direito Penal do Inimigo. Aqui teríamos uma inobservância do princípio da
exteriorização do fato.

Obs: Coculpabilidade e coculpabilidade às avessas (Zaffaroni)


Coculpabilidade é corresponsabilidade do Estado no cometimento de determinados delitos, praticados por
cidadãos que possuem menor âmbito de autodeterminação diante das circunstâncias do caso concreto,
principalmente no que se refere a condições sociais e econômicas do agente, o que enseja menor reprovação
social, segundo o princípio da coculpabilidade, o Estado-juiz haveria de considerar como atenuante as
condições socioeconômicas do réu no momento na aplicação da pena. Veja que o artigo 66 do Código Penal
autoriza ao Juiz esse postulado, através da, chamada pela doutrina, atenuante inominada. A outra face da
teoria da coculpabilidade pode ser identificada como a coculpabilidade às avessas, por meio da qual defende-
se a possibilidade de reprovação penal mais severa no tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de
elevado poder econômico, e que abusam desta vantagem para a execução de delitos, em regra
prevalecendo-se das facilidades proporcionadas pelo livre trânsito nos centros de controle político e
econômico.

4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI)

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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

1. Para Ferrajoli, “o garantismo é entendido no sentido do ESTADO CONSTITUCIONAL DE DIREITO, isto


é, aquele conjunto de vínculos e de regras racionais impostos a todos os poderes na tutela dos
direitos de todos, representa o único remédio para os poderes selvagens”.
● Garantismo negativo: visa limitar a função punitiva do Estado, que deve ser aplicada
estritamente aos casos necessários e em medida adequada, consistindo na proibição de excesso.
● Garantismo positivo: busca evitar a impunidade e garantir que os bens jurídicos relevantes à
sociedade sejam efetivamente protegidos, caracterizando-se pela proibição da proteção
insuficiente.

2. Garantias primárias – limites e vínculos normativos: Consistem nas proibições e obrigações, formais
e substanciais, impostos na tutela dos direitos, ao exercício de qualquer poder;
3. Garantias secundárias – diversas formas de reparação: Subsequentes às violações das garantias
primárias, diz respeito à anulabilidade dos atos inválidos e a responsabilidade pelos atos ilícitos.
- Ex: a CF prevê como garantia primária que não haverá pena de banimento. O legislador não a
observa e comina tal pena a determinado crime. Neste caso, será utilizado o controle de
constitucionalidade, previsto na própria constituição como garantia secundária, julgando o ato nulo.

4.1 Máximas do garantismo

● Nulla poena sine crimine: somente será possível a aplicação de pena quando houver, efetivamente, a
prática de determinada infração penal;
● Nullum crimen sine lege: a infração penal deverá sempre estar expressamente prevista na lei penal;
● Nulla lex (poenalis) sine necessitate: a lei penal somente poderá proibir ou impor determinados
comportamentos, sob a ameaça de sanção, se houver absoluta necessidade de proteger determinados
bens, tidos como fundamentais ao nosso convívio em sociedade, (direito penal mínimo);
● Nulla necessitas sine injuria: as condutas tipificadas na lei penal devem, obrigatoriamente, ultrapassar
a sua pessoa, isto é, não poderão se restringir à sua esfera pessoa, à sua intimidade, ou ao seu
particular modo de ser, somente havendo possibilidade de proibição de comportamentos quando
estes vierem a atingir bens de terceiros;
● Nulla injuria sine actione: as condutas tipificadas só podem ser exteriorizadas mediante a ação do
agente, ou omissão, quando previsto em lei;
● Nulla actio sine culpa: somente as ações culpáveis podem ser reprovadas;
● Nulla culpa sine judicio: é necessário adoção de um sistema nitidamente acusatório, com a presença
de um juiz imparcial e competente para o julgamento da causa;
● Nullum judicium sine accusatione: o juiz que julga não pode ser responsável pela acusação;
● Nulla accusatio sine probatione: fica a cargo do acusador todo o ônus probatório, que não poderá ser
transferido para o acusado da prática de determinada infração penal;
● Nulla accusatio sine defensione: deve ser assegurada ao acusado a ampla defesa, com todos os
recursos a ela inerentes.

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RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

5. DIREITO PENAL DO INIMIGO

1. Conceito: Aquele que viola o sistema deve ser considerado e tratado como inimigo.
2. Características do direito penal do inimigo:
● Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios;
● É um direito penal prospectivo e não retrospectivo;
● O inimigo não é visto como um sujeito de direitos, pois perdeu seu status de cidadão;
● Pune-se o inimigo pela sua periculosidade e não pela sua culpabilidade;
● Criação de tipos de mera conduta;
● Previsão de crimes de perigo abstrato;
● As garantias processuais aplicadas ao inimigo são relativizadas ou até mesmo suprimidas.
● Flexibilização do Princípio da Legalidade: é a descrição vaga dos crimes e das penas;
● Inobservância dos Princípios da Ofensividade: relação com a criação de crimes de perigo abstrato e
da Exteriorização do Fato (relação com o direito penal do autor);
● Preponderância do Direito Penal do autor: Flexibilização do princípio da exteriorização do fato;
● Desproporcionalidade das penas;
● Surgimento das chamadas “leis de luta ou de combate”: Exemplo - Lei 8.072/90 e Lei 12.850/2013.
Alguns doutrinadores sustentam que tais leis têm predicados de direito penal do inimigo;
● Endurecimento da Execução Penal: O regime disciplinar diferenciado é um resquício do direito penal
do inimigo;

*ATENÇÃO: O Direito Penal do inimigo também é conhecido como a “terceira velocidade do Direito Penal”.
Isto porque se aplica a pena de prisão e também por ser extremamente célere, já que suprime direitos e
garantias.

5.1 Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez)

● Primeira velocidade: Direito Penal “da prisão”, aplicando-se penas privativas de liberdade como
resposta aos crimes praticados, com a rígida observância das garantias constitucionais e processuais.
Aplicada a delitos graves.
● Segunda velocidade: Direito penal reparador. São aplicadas aqui penas alternativas à prisão, como
restritivas de direitos ou pecuniárias, de forma mais rápida, sendo admissível, para tanto, uma
flexibilização proporcional dos princípios e regras processuais. Aplicável a delitos de menor
gravidade.
● Terceira velocidade: Novamente temos aqui a prisão por excelência. Contudo, difere-se da primeira
por permitir a flexibilização e até a supressão de determinadas garantias. Aplicada aos delitos de
maior gravidade.
● Quarta velocidade: Neopunitivismo. Ligada ao direito internacional. É o processamento e
julgamento pelo TPI de chefes de Estado que violarem tratados e convenções internacionais de tutela

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de Direitos Humanos e praticarem crimes de lesa-humanidade, de modo que, por esta razão, se
tornarão réus perante o referido tribunal e terão, dentro do contexto, suas garantias penais e
processuais penais diminuídas.
● Quinta velocidade: trata-se de uma sociedade com maior assiduidade do controle policial, o Estado
com a presença maciça de policiais na rua, no cenário onde o Direito Penal tem o escopo de
responsabilizar os autores, diante da agressividade presente em nossa sociedade de relações
complexas e, muitas vezes, (in)compreensíveis.

6. FONTES DO DIREITO PENAL

a) Fonte Material: Diz respeito à criação do Direito Penal. Via de regra, é a União, art.22, I, da CF/88, pois
“compete privativamente à União legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”.

⮚ Obs.: Medida provisória pode versar sobre direito penal? R.: A doutrina e a jurisprudência são
pacíficas no sentido de que é possível a edição de medida provisória versando sobre direito penal
quando favorável ao réu.

b) Fonte Formal: Diz respeito à aplicação do Direito Penal. Esse ponto varia um pouco de doutrinador para
doutrinador.

DOUTRINA CLÁSSICA DOUTRINA MODERNA


Imediata: Imediata:
● Lei ● Lei
● Constituição Federal
● Tratados Internacionais de Direitos Humanos
● Jurisprudência
● Princípios
● Atos administrativos

*Porém, até mesmo aqui, a única fonte formal que pode


criar tipos penais e culminar penas é a lei (reserva legal).
O restante é fonte não-incriminadora.
Mediatas: Mediatas:
● Costumes ● Doutrina
● Princípios gerais do Direito
● *Alguns colocam atos administrativos.
Fonte informal:
● Costumes

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Princípio da Legalidade x Costumes:


A lex scripta, uma das funções de garantia do princípio da legalidade proíbe que se utilize dos costumes
como fonte incriminadora do direito penal (impossibilidade de utilizar costumes para incriminar condutas
ou cominar penas). Portanto, os costumes não têm o condão de criminalizar condutas e nem cominar penas.
Qual a função dos costumes no direito penal?
De acordo com Nilo Batista e Zaffaroni, os costumes têm uma função integrativa ou integradora. Isso quer
dizer que os costumes desempenham a função de integrar a atribuição de sentidos de determinadas
expressões do tipo penal, em especial os elementos normativos do tipo. Trata-se de uma função
interpretativa/hermenêutica.

7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

A função dos princípios é limitar o poder de punir do Estado. Isso porque, o Estado, por natureza, é
arbitrário, pois invade a esfera de liberdade do indivíduo. Então o Direito Penal é visto como instrumento de
contenção do Estado, que vai tolher o Estado ao máximo visando garantir a liberdade do sujeito, garantias
mínimas para que se possa desenvolver direitos de 1ª geração.

1. PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS: O Direito Penal deve servir apenas e tão
somente para proteger bens jurídicos relevantes (Roxin). Impede que o Estado utilize o Direito Penal
para a proteção de bens ilegítimos.

2. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA: O direito penal só deve ser aplicado quando a criminalização
de um fato é estritamente necessária à proteção de determinado bem ou interesse, não sendo
suficientemente tutelado por outras searas do direito. O direito penal é o último grau de proteção
jurídica. Em outras palavras: O direito penal em um Estado Democrático de Direito atua como
ultima ratio/ultima razão/ultima saída.

● Finalidade do princípio da intervenção mínima: trata-se de um reforço ao princípio da reserva


legal, posto que não é suficiente que tenha lei prevendo aquela conduta como criminosa, é
necessário ainda que a intervenção penal cominada pela lei seja efetivamente necessária.

Do princípio da intervenção mínima decorrem dois outros princípios:

a) Fragmentariedade: A fragmentariedade prevê que somente devem ser tutelados pelo direito penal
os casos de relevante lesão ou perigo de lesão aos bens jurídicos fundamentais para a manutenção
e o progresso do ser humano e da sociedade.

⮚ Obs.: Fragmentariedade às avessas: Ocorre nas situações em que o direito penal perde o
interesse em uma determinada conduta, inicialmente tida por criminosa, por entendê-la

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desnecessária, com a evolução da sociedade e modificação de seus valores, ocorrendo a


abolitio criminis.

b) Subsidiariedade: está ligada à autonomia do Direito Penal. Somente após se constatar que outros
meios de solução social dos conflitos não são aptos a dirimi-los, é que serão utilizados modelos
coercitivos de que dispõe o Direito Penal. Funciona como um soldado de reserva.

3. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU DA BAGATELA

● O princípio da Insignificância decorre da fragmentariedade, de modo que o Direito Penal só vai intervir
nos casos de relevante lesão, quando for indispensável para a proteção de determinado bem jurídico,
e quando não houver como proteger o bem jurídico como os outros ramos do direito.
● Nesse sentido, o princípio da insignificância traduz a ideia de que não há crime quando a conduta
praticada pelo agente é insignificante, não é capaz de ofender ou colocar em perigo o bem jurídico
tutelado pela norma penal.
● Natureza Jurídica: Causa de Exclusão da tipicidade (atipicidade) material. Ou seja: torna o fato atípico
por ausência de tipicidade material.

Vejamos algumas casuísticas importantes em relação ao princípio da insignificância:

▪ PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA x AGENTE REINCIDENTE: Em regra, o STF e o STJ afastam a aplicação


do princípio da insignificância aos acusados reincidentes ou de habitualidade delitiva comprovada.
Vale ressaltar, no entanto, que a reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a
insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto

⮚ Obs.: Em regra, a multirreincidência específica, via de regra, afasta a aplicação do princípio


da insignificância no crime de furto. Exceção: Entretanto, em casos excepcionais, nos quais é
reduzidíssimo o grau de reprovabilidade da conduta, tem esta Corte Superior admitido a
incidência do referido princípio, ainda que existentes outras condenações.

▪ INSIGNIFICÂNCIA x FURTO QUALIFICADO: STF/STJ: Via de regra, entendem não ser possível a
aplicação do princípio da insignificância no furto qualificado, pois falta o requisito do reduzido grau
de reprovabilidade do comportamento. No entanto, recentemente, o Plenário do STF analisou a
questão e entendeu que não há como fixar tese sobre isso, que também deve ser analisado caso a
caso. (STF-HC 123108/MG).

▪ INSIGNIFICÂNCIA x BENS JURÍDICOS DIFUSOS/COLETIVOS: Em regra, os tribunais superiores vêm


entendendo pela NÃO APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, pois se estaria atingindo a
coletividade e, portanto, não caberia a insignificância da lesão.

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▪ INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES TRIBUTÁRIOS E DESCAMINHO: Em regra, o princípio da insignificância


se aplica aos crimes tributários federais e de descaminho [também é um crime tributário] quando o
crédito tributário não ultrapassar o limite de 20.000 reais.

⮚ Obs.: O valor de 20 mil reais para aplicação do princípio da insignificância será somente aos
crimes tributários FEDERAIS!!! Não se aplica o parâmetro dos tributos federais aos crimes
tributários estaduais, devendo ser observada a lei estadual vigente em razão da autonomia
do ente federativo!!!

⮚ Obs.: Regra: Não se aplica o princípio da insignificância ao crime de contrabando!!! Exceção: No


STJ, temos um precedente ISOLADO em sentido contrário, admitindo a aplicação do princípio da
insignificância ao crime de contrabando de pequena quantidade de medicamento destinada a
uso próprio.

▪ INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


o STF - Antes não admitia, mas possui decisões recentes admitindo, como por exemplo, em caso
de peculato.
o STJ – Possui entendimento sumulado negando a aplicação (súmula 599).

Informativo 742 (01/08/2022) - Admite-se, excepcionalmente, a aplicação do princípio da insignificância a


crime praticado em prejuízo da administração pública quando for ínfima a lesão ao bem jurídico tutelado.
RHC 153.480-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 24/05/2022, DJe
31/05/2022. Logo, em determinadas hipóteses, nas quais for ínfima a lesão ao bem jurídico tutelado - como
na espécie -, admite-se afastar a aplicação do entendimento sedimentado na Súmula n. 599/STJ, pois "a
subsidiariedade do direito penal não permite tornar o processo criminal instrumento de repressão moral,
de condutas típicas que não produzam efetivo dano"
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS:
1. STF/STJ: para aplicação do princípio da insignificância, considera-se a capacidade econômica da vítima
2. STF/STJ: admitem a aplicação a atos infracionais.
3. STF: O princípio da insignificância pode ser reconhecido mesmo após o trânsito em julgado da
sentença condenatória (STF-HC 95570).
4. “Flanelinha” e exercício da profissão sem registro competente: STF admite a aplicação (Info. 699).
5. STF/STJ NÃO admitem o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública, mais precisamente,
nos crimes de moeda falsa (STF-HC105.829).
6. STF/STJ: Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em situação de violência
doméstica (STJ-HC 33195/MS; STF-RHC 133043/MT).
7. STF/STJ: Ao Tráfico internacional de armas e munições não se aplica o princípio da insignificância (STF-
HC 97777), de igual modo é inaplicável aos crimes de posse e porte de arma de fogo (STJ-HC
338153/RS).
8. É atípica a conduta daquele que porta, na forma de pingente, munição desacompanhada de arma.

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(STF - HC 133984/MG)
9. Porte de drogas para uso (art. 28 da LD) – Majoritariamente, o STF e o STJ não aplicam a
insignificância, nem mesmo em se tratando de quantidades ínfimas, pelo fato de ser crime de perigo
presumido e o bem tutelado ser a saúde pública. No entanto, há um antigo julgado isolado do STF
permitindo a aplicação.
10. Violação de direito autoral – não se aplica. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1380149/RS
11. Apropriação indébita previdenciária: tanto o STF como o STJ afirmam que é inaplicável o princípio
da insignificância ao crime de apropriação indébita previdenciária.
12. Crimes ambientais:
STJ: É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais, devendo ser analisadas as
circunstâncias específicas do caso concreto para se verificar a atipicidade da conduta em exame (STJ AgRg
no AREsp 654.321/SC).
STF: Já negou em situação de pesca ilegal, a um indivíduo flagrado junto a outras três pessoas, POR TRÊS
VEZES CONSECUTIVAS, em embarcação motorizada, praticando pesca em local proibido e com redes de
arrasto de fundo (HC 137652).
- Já negou em caso de realização de pesca de 7kg de camarão em período de defeso com o uso de método
não permitido (HC 122560/SC).
- A partir do caso acima, publicou a seguinte redação no Info 901:: O princípio da bagatela não se aplica
ao crime previsto no art. 34, caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98 (pesca ilegal).
- No entanto, existem julgados tanto do STF como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da
insignificância para este delito. Atente-se ao comando da questão!
13. É possível aplicar o princípio da insignificância para a conduta de manter rádio clandestina?
• No STJ: é pacífico que NÃO. Súmula 606-STJ: não se aplica o princípio da insignificância aos casos de
transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência que caracterizam o fato típico previsto
no artigo 183 da lei 9.472/97.

• No STF: o tema ainda é controverso.


-1ª Turma do STF: é inaplicável o princípio da insignificância no crime de transmissão clandestina de
sinal de internet, por configurar o delito previsto no art. 183 da Lei nº 9.472/97, que é crime formal, e,
como tal, prescinde de comprovação de prejuízo para sua consumação.STF. 1ª Turma. HC 124795 AgR,
Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 23/08/2019.

-2ª Turma do STF:O princípio da insignificância também se aplica ao fornecimento clandestino de


internet tipificado no art. 183 da Lei nº 9.472/97 desde que (i) a conduta seja minimamente ofensiva
do agente, (ii) não haja risco social da ação, (iii) seja reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e (iv) inexpressiva a lesão jurídica. A expressividade da lesão jurídica deve ser
verificada in concreto à luz do alcance do alcance dos aparelhos consignado em laudo da autoridade
regulatória.Ausente laudo que ateste a expressividade concreta da lesão e havendo indícios de sua
inexpressividade, deve incidir o princípio da insignificância, a autorizar a concessão da ordem.
14. STJ – Info 672/2020: Não se admite a incidência do princípio da insignificância na prática de

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estelionato qualificado por médico que, no desempenho de cargo público, registra o ponto e se retira
do hospital.

▪ BAGATELA PRÓPRIA X BAGATELA IMPRÓPRIA:

INFRAÇÃO BAGATELAR PRÓPRIA INFRAÇÃO BAGATELAR IMPRÓPRIA


= PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA = PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA PENAL DO FATO
A situação nasce penalmente relevante. O fato é
típico do ponto vista formal e material.
A situação já nasce atípica.
Em virtude de circunstâncias envolvendo o fato e o
O fato é atípico por atipicidade material.
seu autor, consta-se que a pena se tornou
desnecessária.
O agente tem que ser processado (a ação penal deve
O agente não deveria nem mesmo ser processado já ser iniciada) e somente após a análise das
que o fato é atípico. peculiaridades do caso concreto, o juiz poderia
reconhecer a desnecessidade da pena.
Natureza jurídica: Causa Supralegal de extinção de Natureza jurídica: causa supralegal de extinção de
tipicidade material punibilidade
Não tem previsão legal no direito brasileiro. Está previsto no art. 59 do CP, conforme a doutrina.

4. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE/LESIVIDADE: Não pode haver crime sem que haja conteúdo ofensivo
a bens jurídicos. Assim, para que ocorra o delito, é imprescindível a efetiva lesão ou perigo de lesão
ao bem jurídico tutelado. São de 4 ordens/ funções e garantias do princípio da lesividade:
(1) Proibição de incriminar uma atitude interna – motivo pelo qual não se pune a cogitação (fase
interna do inter criminis)
(2) Proibição de incriminar condutas que não excedam o âmbito do autor – motivo pelo qual não se
pune a autolesão.
(3) Proibição de incriminar simples estados ou condições existenciais - tendo em vista que nosso
ordenamento Jurídico adota o direito penal do fato – e não direito penal do autor
(4) Proibição de incriminar condutas desviadas que não afetam qualquer bem jurídico - motivo pelo qual
não se pune o crime impossível e, em regra, os atos preparatórios.

5. PRINCÍPIO DA ALTERIDADE: Subprincípio do princípio da lesividade. Dispõe que a conduta deve


necessariamente atingir, ou ameaçar atingir, bem jurídico de terceiro para ser criminalizada. Deve
transcender a esfera do próprio agente. Por isso, o direito penal não pune a autolesão.

6. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ESTRITA OU RESERVA LEGAL: Encontra previsão no art. 5º, XXXIX da
CFRB/88 e no art. 1º do CP: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal”. Assim, a lei precisa ser anterior, escrita, estrita, certa (taxativa) e necessária.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

Dupla face do princípio da legalidade:

1) Funções constitutivas – garante-se ao Estado a possibilidade de criminalizar condutas e cominar


penas. Quando falamos em legalidade na função constitutiva, estou abrangendo a legalidade não só
na pena cominada, mas na pena aplicada e pena executada também.
● Princípio da legalidade direcionado ao legislador – ao cominar as penas
● Princípio da legalidade direcionado ao aplicador do direito – quando o juiz veda que se aplique
um regime de cumprimento de pena mais severo do que o previsto pelo legislador, por exemplo.
● Princípio da legalidade direcionado à Administração Penitenciária - Os órgãos não podem
executar pena diversa daquela prevista em lei e aplicada pelo juiz.

2) Funções de garantia (face de garantia) – busca limitar o poder de punir do estado trazendo garantias
mínimas ao cidadão perante o estado. Nesse ponto, o princípio da legalidade se desdobra em 4
máximas:
● Lex scripta: A lex scripta proíbe que se utilize dos costumes como fonte incriminadora do direito
penal
● Lex stricta: proibição do emprego da analogia in malan partem
● Lex Praevia: Representa o princípio da anterioridade penal: veda a criminalização ex post facto
● Lex certa (aspecto material do princípio da legalidade): A lex certa materializa a proibição de o
legislado formular tipos penais genéricos, vazios, vagos etc. (Princípio da taxatividade)

7. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE: De acordo com este princípio, a lei penal apenas se aplica a fatos
praticados após a sua entrada em vigor. Daí, por consequência lógica, deriva a sua irretroatividade,
não se aplicando a fatos pretéritos, nem mesmo os praticados durante a vacatio legis, SALVO se
benéfica ao acusado.

8. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO BIS IN IDEM: Tem previsão no art. 8º, 4 do Pacto de São José da Costa
Rica, incorporado ao nosso ordenamento jurídico pelo Dec. 678/1992 e proíbe que o agente seja
punido duas vezes pelo mesmo fato, inclusive sopesando a mesma situação ou circunstância para
agravar a pena em mais de um momento da dosimetria.

9. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL: este princípio traz a ideia de que as condutas tidas por
socialmente adequadas não poderiam constituir delitos, pois o tipo penal implica em uma seleção
de comportamentos reprováveis cuja sociedade realiza um desvalor da ação e do resultado. Dessa
forma, não caberia a criminalização de comportamentos nos quais não há esse desvalor. Há 3
correntes sobre a natureza jurídica do princípio da adequação social:

(1) Excludente da tipicidade (doutrina majoritária): A adequação social exclui a tipicidade material da
conduta, não seria crime uma vez que a conduta não é socialmente reprovável/é socialmente
adequada.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

(2) Excludente da ilicitude - Há doutrinadores minoritários dizendo que seria uma excludente da
ilicitude (no plano da ilicitude material).
(3) Regra geral de hermenêutica/princípio geral de interpretação: A jurisprudência caminha de forma
tranquila e dominante no sentido de que a adequação social deve sofrer uma aplicação restritiva no
direito penal, comportando 2 vertentes:
● 1ª vertente – voltada ao legislador (função seletiva) – vertente meramente orientadora, pois
busca orientar o legislador para que esse não selecione condutas socialmente adequadas
para serem criminalizadas.
● 2ª vertente – voltada ao intérprete (função interpretativa limitadora) – traduz uma regra
geral de hermenêutica/ princípio geral de interpretação. Assim, em havendo várias
interpretações possíveis, pela adequação social, exclui a incidência do tipo penal das
hipóteses que são socialmente adequadas.

10. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL / DA PESSOALIDADE / DA INTRANSCENDÊNCIA DA


PENA:
De acordo com esse princípio, a responsabilidade penal é sempre uma responsabilidade pessoal,
que não pode ultrapassar a pessoa do autor do crime, motivo pelo qual se proíbe o castigo penal pelo fato
de outrem.
No entanto, os efeitos secundários extrapenais da sentença penal condenatória (obrigação de
reparar o dano e decretação de perdimento de bens), podem se estender aos sucessores até o limite da
herança. (Art. 5º, XLV da CF)

11. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA; Não basta que o fato seja materialmente causado
pelo agente, o agente somente pode ser responsabilizado se o fato tiver sido querido, assumido ou
previsto. Não há responsabilidade penal sem dolo ou culpa. EXCEÇÃO: Rixa qualificada. *qualificado
pela lesão grave e morte. Independentemente de quem tenha causado a lesão ou morte, todos
responderão pela rixa qualificada.

12. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE: Só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável
(penalmente capaz), com potencial consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter
ilícito do comportamento), quando dele exigível conduta diversa (podendo agir de outra forma).

13. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE: Exige que se faça um juízo de ponderação sobre a relação
existente entre o bem que é lesionado ou posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que alguém
pode ser privado (gravidade da pena).

1. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE/HUMANIDADE DAS PENAS: Consiste no princípio da dignidade da


pessoa humana do Direito Constitucional, quebé transportado para o Direito Penal, e ganha uma
nomenclatura diferente: humanidade.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

2. PRINCÍPIO DA CONFIANÇA: Segundo este princípio, quem atua observando as regras de trânsito,
possui o direito acreditar que as demais pessoas irão agir também de acordo com as normas. Assim,
quando aquele que continua avançando no sinal verde e acaba colidindo com outro veículo que
avançou no sinal vermelho, agiu amparado pelo princípio da confiança, não tendo culpa, já que dirigia
na expectativa de que os demais respeitariam as regras de sinalização. Atualmente é aplicado no Brasil
para os crimes em geral.

3. PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE: Trata-se de um macroprincípio dos direitos humanos e passa a ter uma
nova leitura prática, diante do constitucionalismo fraternal prometido na Constituição federal de 88.
É possível de ser concretizado no âmbito penal, através da chamada justiça Restaurativa, do respeito
aos direitos humanos e da humanização da aplicação do próprio direito penal e do correspondente
processo penal.

⮚ Obs.: Com base nesse princípio, o STJ já determinou a progressão de pena (STJ HC 562.452)
julgado em 23/04/2020: Recentemente, o princípio da Fraternidade foi usado como
fundamentação para decidir pelo cômputo da pena de maneira mais benéfica ao condenado
que é mantido preso em local degradante. O ministro João Otávio de Noronha observou que o
voto “consagra um princípio já agasalhado na Constituição Federal [o Princípio da Fraternidade],
em que os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e princípios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte”, afirmou.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

DIREITO PENAL: A LEI PENAL E SUA APLICAÇÃO

1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL

1. A lei penal é fonte formal imediata do direito penal e detém o monopólio para a criação de infrações
penais e cominação de penas.

2. No tocante à lei penal incriminadora, ela é formada por duas partes:


● Preceito primário: descrição da conduta típica (ex.: “matar alguém”);
● Preceito secundário: cominação da pena em abstrato (“reclusão de 6 a 20 anos”).

1.1. Classificação das Leis Penais

A) INCRIMINADORAS: Criam crimes e cominam penas. Estão na Parte Especial do Código Penal e na
Legislação Penal Especial.

B) NÃO INCRIMINADORAS: Não criam crimes nem cominam penas, podendo ser subdividas em:

● Justificantes: Autorizam a prática de condutas típicas em determinadas hipóteses, excluindo a


ilicitude. Em regra, estão previstas na Parte Geral do Código Penal (art. 23), mas algumas estão na
Parte Especial (art. 128 do CP) ou na Legislação Extravagante.

● Exculpantes: Afastam a culpabilidade do agente ou estabelecem a impunidade de determinados


delitos. São exemplos: doença mental, menoridade, prescrição e perdão judicial.

● Interpretativas: São normas que esclarecem o conteúdo e o significado de outras normas penais. É
o caso, por exemplo, do conceito de funcionário público para fins penais, previsto no art. 327, CP.

● Finais (Complementares): Delimitam o campo de validade das leis incriminadoras. Ex.: art. 2º, CP.

● Diretivas: Estabelecem princípios, como o art. 1º do CP, que trata da reserva legal.

● Integrativas (de Extensão): Complementam a tipicidade no tocante ao nexo causal em crimes


omissivos impróprios, à tentativa e à participação (arts. 13, §2º, 14, II e 29, caput, do CP,
respectivamente).

C) COMPLETAS / PERFEITAS: Apresentam todos os elementos da conduta criminosa.

D) INCOMPLETAS / IMPERFEITAS: São normas que reservam a complementação da definição da conduta


criminosa a uma outra lei, a um ato da Administração Pública ou a análise do julgador. São leis penais em
branco, nos dois primeiros casos, e tipos penais abertos, no último. Espécies de lei penal em branco:
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RETA FINAL

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

● Lei penal em branco EM SENTIDO LATO / HOMOGÊNEA / IMPRÓPRIA: O complemento tem a


mesma natureza jurídica e deriva do mesmo órgão que elaborou a lei incriminadora, ou seja, é outra
lei. Ex.: art. 169, § único, I, CP, complementado pelo art. 1.264 do CC. Podem ser de duas espécies:
(1) Lei penal em branco em sentido lato HOMOVITELINA: A lei incriminadora e o complemento
estão no mesmo diploma legislativo. Ex.: Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados
ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302.
(2) Lei penal em branco em sentido lato HETEROVITELINA: A lei incriminadora e o complemento
estão em diplomas normativos diversos. Ex.: art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro
essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior.
É complementado pelo CC.

● Lei penal em branco EM SENTIDO ESTRITO / HETEROGÊNEA / FRAGMENTÁRIA / PRÓPRIA: O


complemento tem natureza jurídica diversa e emana de órgão distinto do que elaborou a norma
incriminadora. Ex.: Lei de drogas e Portaria 344/98.

● Lei penal em branco INVERSA ou AO AVESSO: O preceito primário é completo, mas o preceito
secundário (pena) depende de complementação. O complemento, nesse caso, deve ser uma lei,
tendo em vista o princípio da reserva legal. Ex.: genocídio.

● Lei penal em branco DE FUNDO CONSTITUCIONAL: O complemento do preceito primário é uma


norma constitucional. Ex.: crime de abandono intelectual, definido no art. 246 do CP, uma vez que o
conceito de “instrução primária” está previsto no art. 208, I, da CF.

● Lei penal em branco AO QUADRADO: É a norma cujo complemento também depende de


complementação. Ex.: No art. 38 da Lei 9.605/98, o conceito de "floresta de preservação
permanente" é dado pelo Código Florestal, que, dentre várias hipóteses, previu um caso em que a
área de preservação permanente será assim considerada após declaração de interesse social por
parte do Chefe do Poder Executivo.

1.2 Características da Lei Penal

a) Exclusividade: Somente a lei pode criar delitos e as penas correspondentes (art. 5º, XXXIX, da CF).
b) Imperatividade: Caso seja descumprida haverá a imposição de sanção (pena ou de uma medida).
c) Generalidade: Direciona-se a todas as pessoas, indistintamente, até mesmo aos inimputáveis.
d) Impessoalidade: Seus efeitos são projetados a fatos futuros, incidindo sobre qualquer pessoa que venha
a praticá-los, ressalvadas duas exceções: as leis de anistia e a abolitio criminis, as quais alcançam fatos
concretos.
e) Anterioridade: Somente pode ser aplicada se estava em vigor no momento da prática da infração penal,
ressalvado o caso da retroatividade benéfica.

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2. LEI PENAL NO TEMPO

1. Em decorrência do princípio da legalidade, aplica-se, em regra, a lei penal vigente ao tempo da


realização do fato criminoso (tempus regit actum).

2. Excepcionalmente, será permitida a retroatividade da lei penal para alcançar os fatos passados, desde
que benéfica ao réu, de modo que NÃO há, no direito penal, irretroatividade maléfica ao réu. Nesse
contexto, a lei benéfica poderá retroagir mesmo que já tenha havido o trânsito em julgado da sentença
penal condenatória.

3. Essa sistemática se aplica a norma que tenha caráter material (direito penal) ou misto (direito penal e
processual penal). Apenas as normas de natureza processual (puras) NÃO se submetem à
retroatividade benéfica.

4. Ressalta-se que a irretroatividade maléfica da norma NÃO se aplica aos entendimentos


jurisprudenciais.

5. Teorias sobre a Eficácia da Lei Penal no Tempo

● Teoria da Atividade: Considera-se praticado o crime no momento da conduta, ou seja, no momento


da ação ou da omissão. (adotada pelo CP no art. 4º!)
● Teoria do Resultado (do Evento): Considera-se praticado o crime no momento do resultado.
● Teoria da Ubiquidade (Mista): Considera-se praticado o crime no momento da conduta OU do
resultado.

6. Consequências da adoção da Teoria da Atividade:


● Aplica-se a lei penal que estava em vigor no momento da conduta, salvo se a lei penal posterior for
mais favorável (irretroatividade maléfica ou retroatividade benéfica);
● A imputabilidade do agente deve ser analisada no tempo da conduta.

ATENÇÃO! Quanto ao termo inicial da prescrição da pretensão punitiva, o Código Penal adota a TEORIA DO
RESULTADO (art. 111, I, CP): A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: I
- do dia em que o crime se consumou.

Dica DD: Mnemônico LUTA


Lugar do crime = Ubiquidade
Tempo do crime = Atividade

2.2. Abolitio Criminis

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1. Conceito: É a supressão da figura criminosa, abolir do ordenamento a figura de um tipo penal


incriminador, aplicando-se a retroatividade benéfica.

2. Natureza jurídica: Causa de extinção da punibilidade. Parece ter sido a adotada pelo CP, conforme
art.107, III, CP. Prevalece na doutrina.

3. O que é abolitio criminis temporária? R.: Com o Estatuto do Desarmamento, foi previsto um prazo
para que proprietários de arma de fogo entregassem ou regularizassem o registro da arma. Durante
esse prazo, não incidiu o tipo penal respectivo, o crime de posse irregular de arma de fogo ficaria
“suspenso” por algum tempo. Esse prazo foi chamado de “abolitio criminis temporária”.

4. Abolitio Criminis X Princípio da continuidade normativo-típica

● Na abolitio criminis há supressão da figura criminosa, pois a intenção do legislador é não mais
considerar o fato criminoso.
● No princípio da continuidade normativo-típica há a migração do conteúdo criminoso para outro
tipo penal incriminador, pois a intenção é manter a natureza criminosa do fato. O STF também já
utilizou o termo transmudação geográfica do tipo penal.

ABOLITIO CRIMINIS PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA


Supressão formal e material da figura Supressão formal do tipo.
criminosa.
O fato deixa de ser criminoso. A intenção do legislador é manter a natureza
criminosa do fato, mas com outra roupagem, em
outro tipo penal.
A intenção é não mais considerar o fato Migração do conteúdo criminoso para outro tipo
criminoso penal incriminador.
Ex.: art. 240 – Adultério. Houve supressão Ex.: art. 214 - Atentado violento ao pudor. O que
tanto material, quanto formal da conduta do antes era este crime, agora é estupro. Não houve
campo de incidência do direito penal, abolitio.
deixando de ser crime.

5. Abolitio Criminis x Novatio Legis in Mellius (“lex mitior”): A novatio legis in mellius é a nova lei que de
qualquer modo favoreça o agente (art. 2°, §único, CP): A lei posterior, que de qualquer modo favorecer
o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.

6. Semelhanças entre abolitio criminis e novatio legis:


● A retroatividade benéfica é automática, independente de cláusula expressa;
● Pode ser aplicada de ofício pelo juiz ou, ainda, mediante provocação das partes;

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● Alcança, inclusive, fatos já definitivamente julgados, visto que a coisa julgada não é oponível à
retroatividade benéfica.

7. Juízo competente para a aplicação: Depende do momento em que se encontra a persecução penal.
● Se estiver na fase do inquérito ou na ação penal de 1ª instância quem aplica é o juiz de 1ª grau.
● Se estiver no Tribunal (recurso ou competência originária), será aplicada por ele.
● Se a condenação já transitou em julgado, cabe ao juízo da execução, pouco importando a origem da
condenação.

Súmula 611 do STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao


JUÍZO DAS EXECUÇÕES a aplicação da lei mais benigna.

2.3. Crime continuado, Crime permanente, Sucessão de leis penais

1. Crime continuado (art. 71, CP): Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e
outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe
a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso,
de um sexto a dois terços.

2. Crime permanente: Trata-se de crime cuja consumação é prolongada no tempo pela vontade do
agente. Ex.: extorsão mediante sequestro - a consumação já se deu com a privação da liberdade, mas
enquanto a vítima não é libertada o crime continua se consumando.

Nestes dois casos, considerando que o agente deu continuidade às condutas por opção, aplica-se
sempre a última lei vigente, mesmo que mais grave, conforme entendimento sumulado.

Súmula 711, do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.

CRIME PERMANENTE CRIME CONTINUADO


É aquele cuja consumação se prolonga no É aquele em que o agente pratica, mediante mais
tempo, por vontade do agente. de uma ação ou omissão, dois ou mais delitos
Ex.: art. 159, CP (extorsão mediante sequestro). da mesma espécie, e pelas condições de tempo,
O crime se consuma no momento em que o lugar, maneira de execução e outras
agente priva a liberdade da vítima, mas continua semelhantes, devem os subsequentes ser
se consumando até a libertação do ofendido. havidos como continuação do primeiro. Trata-
se de uma ficção jurídica.

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Se a vítima foi sequestrada enquanto estava em Ex.: Caso o agente pratique cinco crimes, porém
vigor a lei menos gravosa, mas no período em os quatro primeiros estavam sob a regência da
que ficou sob o poder do agente entrou em vigor lei menos gravosa, enquanto que o quinto é
lei mais gravosa, aplica-se a última. praticado na vigência da lei mais gravosa, aplica-
se a última.

OBS.: Não é possível a combinação de leis penais para favorecer o réu (lex tertia).

Súmula 501, STJ: “É cabível a aplicação retroativa da lei n. 11.343/06, desde que o
resultado da incidência de suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu
do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.360/76, sendo vedada a combinação de
leis”.

2.4. Lei Excepcional e Temporária

1. Lei temporária: É aquela que tem prefixado no seu texto o tempo de sua vigência. Logo, possui prazo
determinado na lei. Ex.: Lei 12.663/12 (Lei da FIFA).

2. Lei excepcional: É a que atende a transitórias necessidades estatais, tais como guerra, epidemias,
calamidades. Perdura por todo o tempo excepcional, que não é preestabelecido na lei. É editada em
função de algum evento transitório, sendo que perdura enquanto persistir o estado de emergência.

3. Características:
● Autorrevogabilidade: Consideram-se revogadas assim que encerrado o prazo fixado (lei temporária)
ou cessada a situação de anormalidade (lei excepcional).
● Ultratividade: Os fatos praticados durante sua vigência continuam sendo punidos ainda que
revogadas as leis temporária ou excepcional.

4. As leis temporárias e excepcionais NÃO se sujeitam aos efeitos da abolitio criminis, salvo se lei posterior
for expressa nesse sentido.
ATENÇÃO! A lei penal benéfica possui ULTRATIVIDADE, ou seja, pode ser aplicada mesmo após a sua
revogação, caso o fato tenha sido praticado durante a sua vigência.
A alteração de complemento de norma penal em branco, retroage?
Segundo o STF, depende. Em se tratando de norma penal em branco homogênea (imprópria), cujo
complemento será outra lei, deve retroagir para beneficiar o réu.

Já nos casos de norma penal em branco heterogênea, cuja complementação normalmente é feita por ato
administrativo, só retroagirá caso o ato não se dê em situação de excepcionalidade, ou seja, se for proferido
em situação de normalidade. Assim, temos as seguintes hipóteses:

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- Ato não visa proteger situação excepcional, ou seja, proferido em situações de normalidade: Há
retroatividade da lei penal benéfica, a exemplo da retirada do cloreto de etila da lista da Portaria da Anvisa
que complementa a Lei de Drogas.

- Ato que visa proteger situação excepcional: Não retroage. Por exemplo, portarias que fazem tabelamento
de preços, para reger, por exemplo, crimes contra a ordem econômica. Nestas hipóteses, se não foi
obedecido o tabelamento daquela data, mas posteriormente houve a correção da tabela para um patamar
superior, não haverá a retroatividade da lei penal, vez que o que se buscava era tutelar aquela situação de
caráter excepcional.

2.5. Lei Intermediária

1. Fulano praticou um delito durante a vigência da Lei 1, que cominou para tal conduta a pena de 6 anos
de reclusão. Durante o processo, entra em vigor a Lei 2, modificando a respectiva pena para 3 anos. Por
fim, quando da sentença, já está em vigor a Lei 3, que pune a mesma conduta com 4 anos de reclusão.
2. Assim, podemos facilmente verificar que a lei mais benéfica a ele é a 2ª, certo? Porém, ela não estava
em vigor nem na data do fato, nem na data da sentença, sendo uma lei intermediária. E aí, será que ela
pode ser aplicada?
3. Tanto a doutrina, como o STF entendem que SIM, é possível aplicar a lei intermediária, desde que seja
a mais benéfica entre as 3 na sua integralidade.
4. E esta é uma lei possui duplo-efeito:
● retroatividade - retroage para alcançar o fato;
● ultratividade - possui força para alcançar a sentença ou o julgamento.

3. LEI PENAL NO ESPAÇO

1. Vetores:
● Territorialidade (art. 5º, CP): Aplicação da lei penal brasileira aos crimes cometidos no território
brasileiro. REGRA GERAL.
● Extraterritorialidade (art. 7º, CP): Aplicação da lei penal brasileira aos crimes cometidos do
exterior. EXCEÇÃO.
● Intraterritorialidade: Aplicação da lei estrangeira a crimes cometidos no Brasil. EXCEÇÃO. Ex.:
imunidades diplomáticas.

No ordenamento jurídico brasileiro, portanto, aplica-se a regra da TERRITORIALIDADE MITIGADA


(RELATIVIZADA / TEMPERADA). Cuidado: De forma diversa, no processo penal é adotado o princípio da
territorialidade absoluta.

2. Princípios
● Princípio da Nacionalidade / Personalidade Ativa: Aplica-se a lei penal da nacionalidade do
agente, não importando o local do crime, a nacionalidade da vítima ou dos bens jurídicos
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lesados. Ou seja, a lei brasileira é aplicada em razão da nacionalidade do sujeito ativo - art. 7º,
II, b, CP.
● Princípio da Nacionalidade / Personalidade Passiva: Aplica-se a lei penal da nacionalidade do
sujeito passivo. Ou seja, a lei brasileira é aplicada ao crime praticado por estrangeiro contra
brasileiro - art. 7º, § 3º, CP.
● Princípio da Defesa Real / da Proteção / Real: Aplica-se a lei da nacionalidade do bem jurídico
violado, não importando o local ou nacionalidade do agente. Ou seja, a lei brasileira é aplicada
ao crime cometido fora do Brasil, que afete interesse nacional - art. 7º, I, a, b, c, CP.
● Princípio da Justiça Universal / Universalidade / Justiça Cosmopolita: O agente fica sujeito à lei
do país em que for capturado, não importa o local do crime, nem a nacionalidade do agente ou
da vítima. Este princípio está normalmente presente nos tratados internacionais de cooperação
de repressão a determinados delitos de alcance transnacional. É pautado no direito de todos os
países em punir qualquer crime - art. 7º, I, d e II, a, CP (obs.: em relação ao inciso I, d, existem
autores que dizem que se trata do princípio do domicílio, mas a doutrina majoritária entende
como justiça universal).
● Princípio da Representação / da Bandeira / Subsidiário: A lei brasileira será aplicada aos crimes
cometidos no estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas brasileiras, desde que não
sejam julgados no local do crime - art. 7º, II, c, CP.

3. O que é o território nacional para fins de limite de aplicação da lei? Território é o espaço que o país
exerce sua soberania política.
● O conceito de território nacional abrange não apenas o espaço físico, mas, também, um espaço
jurídico por ficção, equiparação ou extensão, previsto no art. 5º, § 1º, CP.
● Para aeronaves e navios:
⋅ Se públicos ou a serviço do Brasil: considera-se território brasileiro onde quer que se
encontre
⋅ Se privada ou mercante: somente se tiver em alto-mar (aplica-se a bandeira).

EMBARCAÇÕES E AERONAVES SERÁ APLICADA A LEI BRASILEIRA


Públicas ou a serviço do governo Quer se encontre em território nacional ou
estrangeiro. estrangeiro.
Mercantes ou particulares brasileiras. Se estiverem em alto-mar ou no espaço aéreo
correspondente.
Estrangeiras. Apenas quando privadas em território nacional.

⮚ OBS.1: Princípio da reciprocidade: As embarcações e aeronaves estrangeiras, de natureza pública ou


a serviço do governo estrangeiro, são consideradas extensão do território estrangeiro, mesmo se
estiverem em território brasileiro.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

⮚ OBS.2: Embaixada é território nacional. NÃO é extensão do território que representa. No entanto, é
inviolável.
3.1. Extraterritorialidade

1. É a aplicação da lei brasileira ao CRIME praticado no estrangeiro. Não se aplica a lei brasileira às
CONTRAVENÇÕES PENAIS praticadas no exterior (art. 2°, DL 3.688/41).

2. A extraterritorialidade pode ser:

A) INCONDICIONADA: A simples prática do crime no exterior já autoriza a incidência da lei brasileira,


independentemente de qualquer requisito. As hipóteses estão previstas no art. 7°, I, CP:

● Crimes praticados contra a vida ou a liberdade do Presidente da República: Princípio da defesa real
ou proteção.

● Crimes contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território,


de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída
pelo Poder Público: Princípio da defesa real ou proteção.

● Crimes praticados contra a administração pública, por quem está a seu serviço: Princípio da defesa
real ou proteção.

● Crimes de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil: Princípios:


cosmopolita ou universalidade (genocídio), personalidade ativa (agente brasileiro), domicílio
(domiciliado no Brasil).

● A Lei de Tortura prevê mais uma hipótese de extraterritorialidade incondicionada. (Art. 2°, Lei
9.455/97)

B) CONDICIONADA: Admissível nos crimes previstos no art. 7°, II, CP. É preciso respeitar as condições
cumulativas previstas no Código Penal.

● Crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir: Princípio da justiça universal.

● Crimes praticados por brasileiro: Princípio da personalidade / nacionalidade ativa.

● Crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade


privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados: Princípio da representação /
bandeira / pavilhão.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

CONDIÇÕES (CUMULATIVAS):
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; (PRINCÍPIO DA DUPLA TIPICIDADE)
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável.

C) HIPERCONDICIONADA: Conforme previsão no art. 7°, §3°, CP, a lei brasileira aplica-se também ao
crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil - princípio da personalidade passiva -, se,
além de reunidas as condições acima:
● Não tiver sido pedida ou foi negada a extradição;
● Ter havido requisição do Ministro da Justiça.

3.2. Lugar Do Crime

1. Pelo art. 6º, CP, adota-se a teoria da ubiquidade ou mista:

2. Lugar do delito x Locus comissi delicti: Cuidado para não confundir o lugar do delito para o Código
Penal (teoria da ubiquidade) com locus comissi deliciti para o código de Processo Penal (teoria do
resultado):
● Lugar do delito: serve para os crimes à distância (crimes que perpassam mais de um país).
. Tema de direito penal (art. 6º, CP);
. Adota a Teoria da Ubiquidade.
● Locus comissi delicti: lugar onde se consuma o crime.
. Tema de direito processual penal (art. 70, CPP)
. Adota a Teoria do Resultado.

3. Crime à distância x Crime plurilocal


● Crime à distância (espaço máximo): percorre territórios de dois Estados soberanos. Envolve
conflito internacional de jurisdição que se resolve com base no art. 6º, CP (teoria da
ubiquidade).
● Crime plurilocal: Percorre pluralidade de locais de um mesmo Estado Soberano. Aplica-se o art.
70, do CPP (teoria do resultado).

DICA DD: De acordo com o CP o crime cometido dentro do território nacional, a bordo de navio que apenas
passava pelo mar territorial brasileiro aplica-se a lei nacional, porque o crime tocou o nosso território.
Atualmente, aplica-se a chamada PASSAGEM INOCENTE, dispondo que quando um navio passa no território
nacional somente como passagem necessária para chegar ao seu destino, não há necessidade de autorização
do Governo Brasileiro para tanto, hipótese em que NÃO se aplica a lei brasileira. A passagem inocente

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somente se refere a navio, segundo Rogério Sanches os aviões não desfrutam da passagem inocente (art. 3º
da Lei nº 8.617/93).

4. EFICÁCIA DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS (IMUNIDADES)

PRIVILÉGIO PRERROGATIVA
É uma exceção da lei comum deduzida da É o conjunto de precauções que rodeiam a função.
situação de superioridade das pessoas que a Servem para o exercício da função.
desfrutam. O privilégio trabalha com a ideia de
que há pessoas superiores a outras.
É subjetivo e anterior à lei. É objetiva e deriva da lei.
Tem uma essência pessoal. É um anexo à qualidade do órgão.
É poder frente à lei. É conduto para que a lei se cumpra.
É próprio da aristocracia das ordens sociais É próprio das aristocracias das instituições
(nobreza, clero). governamentais.

4.1 Imunidades Diplomáticas

1. São imunidades de direito público internacional de que desfrutam:

● Chefes de governo ou de Estado estrangeiro, sua família e membros de sua comitiva;


● Embaixador e sua família;
● Funcionários do corpo diplomático e suas respectivas famílias;
● Funcionários das organizações internacionais, quando em serviço (ex. funcionários da ONU).

2. A imunidade diplomática garante o que? O diplomata deve obediência à nossa lei? R.: Por força da
característica da generalidade da lei penal, os agentes diplomáticos devem obediência ao preceito
primário do país em que se encontram. Escapam, no entanto, da sua competência jurídica, ou seja, da
punição (preceito secundário), permanecendo sob a eficácia da lei penal do Estado a que pertencem
(INTRATERRITORIALIDADE).

● Não podem ser objeto de nenhuma forma de detenção ou prisão.


● Tal inviabilidade se estende à sua residência particular, documentos, correspondências e bens
● A imunidade diplomática NÃO impede a investigação policial!

3. Natureza jurídica da imunidade diplomática? Existem duas correntes discutindo esse assunto.
● 1ª Corrente (majoritária): causa pessoal de isenção de pena.
● 2ª Corrente: causa impeditiva de punibilidade.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

4. É possível renunciar à imunidade? R.: O diplomata NÃO pode renunciar à sua imunidade, pois é uma
prerrogativa do cargo. Contudo, o país de origem pode renunciar a imunidade do seu diplomata.

5. Os agentes consulares desfrutam de imunidade? R.: O agente consular possui imunidade somente nos
delitos praticados em razão da função, NÃO abrangendo os crimes praticados fora da função.

6. A embaixada é extensão do território que representa? R.: Segundo o STF, as embaixadas NÃO FAZEM
parte do território do país que representam, porém são invioláveis. Diante disso, para se cumprir a lei
do país no interior da embaixada, deve primeiro se passar pelas regras de direito internacional, NÃO se
podendo cumprir a lei do país nem mesmo se houver mandado judicial, ou flagrante delito.

4.3 Imunidades Parlamentares

1. Imunidade Parlamentar Absoluta / Material / Real / Substancial ou Inviolabilidade / Indenidade

Art. 53, caput, CF - Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e


penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

● Natureza jurídica da imunidade parlamentar absoluta: Prevalece ser causa de atipicidade


● A imunidade só se aplica quando verificado o nexo causal com o exercício da função parlamentar

2. Imunidade Parlamentar Relativa / Formal: Prevê que o parlamentar só pode ser preso em flagrante
delito de crime inafiançável. Em todos os demais casos, NÃO é cabível a prisão, pois incide a imunidade!
● O termo inicial dessa imunidade é desde a expedição do diploma e a garantia por ela prevista é a
de que o
● No caso de flagrante em crime inafiançável, a Casa Legislativa faz um juízo político da prisão. O
juízo NÃO é jurídico, mas político, ou seja, conforme a conveniência e oportunidade de se manter
o parlamentar preso.

Art.53, §2º, CF - Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional


não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os
autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que,
pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.

3. Imunidade relativa ao processo: Consiste na garantia funcional consiste no fato de a Casa Legislativa
respectiva (Câmara ou Senado) poder sustar o andamento do processo, o que também suspende a
prescrição. Cuidado: A imunidade NÃO impede a instauração de Inquérito Policial e nem a realização
de investigação penal (STF).

Art.53, CF, §3º - Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime
ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa
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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto
da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da
ação.
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo
improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.

4. Imunidade relativa à condição de testemunha: Os deputados e senadores, quando arrolados, são


obrigados a servir como testemunha. Eles prestam o compromisso de dizer a verdade. Contudo, NÃO
estão obrigados a testemunhar sobre as informações recebidas ou prestadas em razão do mandato,
nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam as informações.

Art.53, §6º, CF - Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar


sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem
sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações.

Ressalta-se que os Congressistas, quando ouvidos na condição de testemunhas, serão inquiridos em


local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz, nos termos do art.221, do CPP.

5. Imunidades dos Parlamentares dos Estados (Deputados Estaduais): Os parlamentares dos Estados
possuem as mesmas imunidades dos deputados federais, em razão do princípio da simetria. Vejamos o
entendimento do STF sobre o tema

6. Imunidades dos Parlamentares dos Municípios (Vereadores): Só possuem imunidade material, limitada
aos atos praticados no exercício do mandato e dentro da circunscrição do município. Então, essa é uma
imunidade material limitada. Os vereadores NÃO possuem imunidade formal ou relativa.

5. EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA

Dispõe o art. 9º, do CP: A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie
as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para:

Obrigar o condenado à:
I- ⋅ Reparação de danos civis; Depende de requerimento da parte interessada
⋅ Restituições;
⋅ Outros efeitos civis.
II - ⋅ Sujeitar o condenado à medida de Depende da existência de tratado de extradição entre o BR
segurança. e o país de origem OU requisição do MJ.
OBS.: Efeitos incondicionados
INDEPENDEM de homologação.
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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

● Reincidência;
● Detração.

1. Em regra, a sentença estrangeira NÃO precisa ser homologada no Brasil para gerar efeitos, bastando
prova legal da existência de condenação.

2. No entanto, a sentença estrangeira necessita ser homologada no Brasil pelo STJ (art. 105, I, “i”, da CF/88)
para gerar:
● Efeitos civis, a exemplo da reparação de danos, dependendo, ainda, de pedido da parte interessada;
● Sujeição à medida de segurança:
⋅ Se existir tratado de extradição: mediante requisição do PGR;
⋅ Se inexistir tratado de extradição: mediante requisição do Ministro de Justiça.

6. CONTAGEM DO PRAZO E FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA

1. Ao contrário dos prazos processuais, os prazos penais são improrrogáveis e, na sua contagem, o dia
de início se inclui no cálculo. (art. 10, CP)

2. Frações não computáveis da pena: Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas
de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. (art. 11, CP)

7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL

7.1 Espécies de Interpretação

A) QUANTO AO SUJEITO (ORIGEM):


● Autêntica / Legislativa: Dada pela própria lei, ou seja, realizada pelo legislador, que edita uma lei
com a finalidade de explicar o significado de outra norma. Divide-se em contextual (quando a norma
interpretativa é editada no momento da norma interpretada) e posterior (quando é criada depois da
norma interpretada).
● Doutrinária / Científica: Dada pelos estudiosos, doutrinadores do direito penal. Ex.: exposição de
motivos do Código Penal, vez que dada pelos doutrinadores que elaboraram o projeto. (OBS.: a do
CPP é autêntica).
● Judicial / Jurisprudencial: Realizada pelos magistrados na decisão das causas que lhes são
submetidas ou fruto das decisões reiteradas dos tribunais, como regra não vinculantes. Exceção (são
vinculantes): sentença de caso concreto após o trânsito em julgado e súmulas vinculantes editadas
pelo STF.

B) QUANTO AO MODO ou MEIOS E MÉTODOS:


● Literal / Gramatical: Considera o sentido literal das palavras.

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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

● Teleológica: Considera à vontade ou intenção objetivada na lei, sua finalidade, utilizando-se de vários
elementos (é a sugerida pelo artigo 5º da LINDB).
● Histórica: Busca a origem da lei, o fundamento de sua criação.
● Sistemática: Conjunto da legislação e dos princípios gerais de direito, sistema em que a norma está
inserida como um todo.
● Progressiva: A lei é interpretada de acordo com o progresso da ciência que está progredindo.

C) QUANTO AO RESULTADO:
● Declarativa: A letra da lei corresponde aquilo que o legislador quis dizer.
● Extensiva: Amplia o alcance das palavras da lei para corresponder ao alcance/vontade do texto.
Corrige a lei tímida, visto que ela disse menos do que gostaria.
● Restritiva: Reduz o alcance das palavras da lei para corresponder ao alcance/vontade do texto. A lei
disse mais do que desejava.
● Progressiva / Adaptativa / Evolutiva: Busca amoldar a lei à realidade atual, de acordo com os
progressos da cultura, da sociedade, da tecnologia, das ciências etc.

7.2. Interpretação Extensiva X Interpretação Analógica X Analogia

1. Interpretação Extensiva: Existe norma para o caso concreto, mas amplia-se o alcance da norma,
podendo ser feita até mesmo in malam partem. Ex.: antigo art. 157, §2º, II, CP, hoje revogado, que
utilizava o termo “arma” e a interpretação era de que qualquer arma estaria abarcada;

ATENÇÃO! Esse entendimento, embora prevaleça em parte da doutrina, encontra


precedente em sentido contrário no STJ, entendendo pela proibição da
interpretação extensiva in malam partem.

STJ entende que em direito penal, não é permitida a interpretação extensiva para
prejudicar o réu, impondo-se a integração da norma mediante a analogia in bonam
partem, devendo a lei penal ser interpretada restritivamente quando prejudicial ao
réu e extensivamente quando a ele favorável. (EDcl no AgRg no HC 651.765/SP, Rel.
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA TURMA, julgado em 07/12/2021,
DJe 14/12/2021).

2. Interpretação Analógica: Existe norma para o caso, mas o legislador previu uma fórmula casuística
seguida de uma genérica, permitindo ao juiz encontrar outros casos similares. Também pode ser in
malam partem. Ex.: art.121, §2º, I, CP:
● “Paga, promessa de recompensa” – fórmula casuística
● “Ou outro motivo torpe” – fórmula genérica

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3. Analogia: NÃO existe norma para o caso concreto, e o juiz aplica a lei prevista para outro caso quando
verificada lacuna legislativa. Não é forma de interpretação, é FORMA DE INTEGRAÇÃO, de suprir
lacunas. Só é possível em benefício do réu.

a) Características:
● Não é forma de interpretação, mas de integração;
● Pressupõe lacuna;
● Parte-se do pressuposto de que não existe uma lei a ser aplicada ao caso concreto, motivo pelo
qual é preciso socorrer-se de previsão legal empregada à outra situação similar.

b) Pressupostos para aplicar a analogia:


● Certeza de que sua aplicação é favorável ao réu (analogia in bonan partem);
● Existência de uma efetiva lacuna legal a ser preenchida.

INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA ANALOGIA


É forma de interpretação É forma de interpretação É forma de integração do direito.
Existe norma para o caso Existe norma para o caso Não existe norma para o caso
concreto. concreto. concreto.
Amplia-se o alcance da palavra Utilizam-se exemplos seguidos de Cria-se uma nova norma a partir de
(não importa no surgimento de uma forma genérica para alcançar outra (analogia legis) ou do todo do
uma nova norma). outras hipóteses. ordenamento jurídico (analogia iuris)
Prevalece ser possível sua É possível sua aplicação no Direito É possível sua aplicação no Direito
aplicação no Direito Penal in Penal in bonam ou in malam Penal somente in bonam partem.
bonam ou in malam partem. partem.
Ex.: a antiga expressão “arma” no Ex.: Homicídio mediante paga ou Ex.: isenção de pena, prevista nos
crime de roubo majorado (art. promessa de recompensa, ou por crimes contra o patrimônio, para
157, §2º, II, CP – hoje revogado). outro motivo torpe (art. 121, §2º, cônjuge e, analogicamente, para o
I, III e IV do CP) companheiro (art. 181, I do CP).

8. CONFLITO APARENTE DE NORMAS

1. Incidência: Verifica-se quando há um só fato e, aparentemente, duas ou mais normas vigentes são
aplicáveis a ele.

2. O objetivo do instituto é evitar o bis in idem e manter a unidade lógica e a coerência do sistema penal.
Pode até haver conflitos entre normas, mas o sistema é único, perfeito e apresenta ele próprio meios
para solucioná-los.

3. Requisitos:
● Unidade de fato (fato único);
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● Pluralidade de normas;
● Vigência simultânea de todas elas.

Cuidado: Aqui NÃO se trata de sucessão de leis penais no tempo, mas de duas leis penais que estão em vigor
simultaneamente. Se NÃO estão vigentes, aí sim o assunto é o conflito de leis penais no tempo, que se
resolverá, em regra, pela posterioridade; e, excepcionalmente, pela lei penal mais benéfica (art. 4º do CP).

4. Princípios Orientadores:

A) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE: Há subsidiariedade entre duas leis penais quando ambas tratam
de estágios ou graus diversos de ofensa a um mesmo bem jurídico, de forma que a ofensa mais ampla
e dotada de maior gravidade, descrita pela lei primária, engloba a menos ampla, contida na
subsidiária, ficando a aplicabilidade desta condicionada à não incidência da outra.

● A norma subsidiária só se aplica quando não houver subsunção do fato à norma mais grave, que
é a norma principal, devendo então ser aplicada a norma subsidiária, que funciona como “soldado
de reserva”.
● No contexto da incidência do princípio da subsidiariedade o delito menos grave funcionará como
CRIME DE PASSAGEM ou TIPO PENAL DE PASSAGEM.

● A subsidiariedade pode ser:


⋅ Expressa: Ocorre quando o próprio tipo penal traz a fórmula “se não houver crime mais
grave”. Ex.: crime de dano qualificado.
⋅ Tácita: Ocorre quando o tipo penal não traz a fórmula, mas é possível perceber o caráter de
subsidiariedade da norma. Ex.: roubo e furto, a depender de haver ou não a violência ou
grave ameaça.

B) PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE: A lei especial derroga a lei geral.


● O princípio da especialidade é de utilização obrigatória e prevalece sobre os demais.
● É a soma dos elementos da lei geral com elementos especializantes.
● Pode estar no mesmo diploma legislativo ou diversos. Ex.: homicídio e infanticídio; omissão de
socorro do CP e omissão de socorro de idoso e vários outros.
● O princípio da especialidade é o único que se aplica sempre de maneira abstrata. Ou seja: a
comparação entre a norma geral e a norma especial é feita no plano abstrato. Todos os outros
princípios são aplicados em concreto (comparação em concreto)

C) PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO: Verifica-se quando o crime previsto por uma norma (consumida) não
passa de uma fase de realização do crime previsto em outra norma (consuntiva) ou é uma norma de
transição para o último (crime progressivo). A consunção pressupõe que esses crimes protejam o
mesmo bem jurídico. Aplica-se às seguintes hipóteses:

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● Crime progressivo: Quando o agente, para alcançar um resultado ou crime mais grave, precisa
passar por um crime menos grave. Ex.: Para o homicídio, passa-se pela lesão corporal.

● Progressão criminosa: Há alteração do dolo. O agente pretende inicialmente produzir um


resultado e, depois de alcançá-lo opta por prosseguir na prática ilícita e reinicia outra conduta,
produzindo um evento mais grave.

● Fato anterior impunível (ante factum impunível): São fatos anteriores que estão na linha de
desdobramento da ofensa mais grave. A diferença é que no crime progressivo o crime anterior
era obrigatório; aqui o crime anterior (meio) foi o escolhido dentre os possíveis.

● Fato simultâneo impunível: Também chamado de concomitante impunível, é aquele praticado


no mesmo momento em que é praticado o fato principal. Ex.: estupro em via pública (o ato
obsceno é um meio para prática do estupro).

● Fato posterior impunível (post factum impunível): O fato posterior impunível retrata o
exaurimento do crime principal praticado pelo agente, por ele não podendo ser punido. Aqui se
absorve o crime praticado, após exaurido o crime querido. Ex.: falsificação de documento e uso
de documento falso – quando praticados pelo mesmo agente, ele só responde pela falsificação.

● Hipóteses casuísticas de incidência do princípio da consunção ou absorção:


(1) O crime consumado (delito perfeito) absorve o crime tentado (delito imperfeito).
(2) O crime de dano absorve o crime de perigo.
(3) Legítima defesa e uso de arma de fogo (Info 775 STF)

D) PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE:
● Própria: Tem aplicação nos crimes plurinucleares, ou seja, crimes de ação múltipla ou conteúdo
variado. Nesse caso, o crime permanece único, não desnatura a unidade do crime. E
● Imprópria: Quando duas ou mais normas penais disciplinam o mesmo fato.

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DIREITO ADMINISTRATIVO: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

1. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

1. Administração Patrimonialista: Não havia diferença entre os interesses pessoais dos agentes
públicos e os interesses da própria administração.
2. Administração Burocrática: Superou o patrimonialismo ao adotar o princípio da impessoalidade.
Foram criados rígidos controles sobre a atuação dos agentes públicos.
3. Administração Gerencial: É o modelo adotado na Administração moderna. Busca superar o modelo
burocrático por meio da adoção do princípio da eficiência, que tem as seguintes consequências
principais:
• Utilização do controle de resultados substituindo o controle de meios;
• Maior autonomia dos agentes/órgãos/entidades públicas;
• Serviço orientado para o cidadão;
• Utilização de indicadores de desempenho.

➢ Obs.: Administração Pública Dialógica: Segundo Ronny Charles, Administração pública dialógica é
uma tendência identificada em algumas atividades administrativas, notadamente na prestação de
serviços públicos e contratações de grandes empreendimentos, que consiste na abertura de diálogo
com os administrados, permitindo que eles colaborem para o aperfeiçoamento ou a legitimação da
atividade administrativa.

2. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO

1. Direito alemão - o direito administrativo brasileiro herdou a inspiração para aplicação do princípio
da segurança jurídica, especialmente sob o aspecto subjetivo da proteção à confiança.

2. Direito francês - herdou o conceito de serviço público, a teoria dos atos administrativos com o
atributo da executoriedade, as teorias sobre responsabilidade civil do Estado, o princípio da
legalidade, a teoria dos contratos administrativos, as formas de delegação da execução de serviços
públicos, a ideia de que a Administração Pública se submete a um regime jurídico de direito público,
derrogatório e exorbitante do direito comum, que abrange o binômio autoridade/liberdade.

3. Direito italiano - recebeu o conceito de mérito, o de autarquia e entidade paraestatal (dois


vocábulos criados no direito italiano). Os autores italianos (ao lado dos alemães) também
contribuíram para a adoção de um método técnico-científico.

4. Direito inglês (sistema da common law) - o direito administrativo brasileiro herdou o princípio da
unidade de jurisdição, o mandado de segurança e o mandado de injunção, o princípio do devido
processo legal, inclusive, mais recentemente, em sua feição substantiva, e que praticamente se

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confunde com o princípio da razoabilidade. No fim do século XX, também herdou do sistema
common law o fenômeno da agencificação e a própria ideia de regulação.

3. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO:

1. Corrente Legalista/Exegética/Empírica: O direito administrativo seria o conjunto da legislação


administrativa existente no país. Limitava-se a fazer compilação de leis que tratassem da função
administrativa e desconsiderava doutrina e jurisprudência.

2. Critério do Poder Executivo/Italiano/Subjetivista: O Direito Administrativo seria um complexo de leis


disciplinadoras da atuação do poder executivo. Assim, o objeto do direito administrativo seria toda
atuação do Poder Executivo.

3. Critério das Relações Jurídicas: O Direito Administrativo é a disciplina das relações jurídicas entre a
Administração e o particular. Assim, todas as relações entre o Estado e o administrado seriam função
administrativa.

4. Critério do Serviço Público (França): O Direito Administrativo teria por objetivo a disciplina jurídica
dos serviços públicos. Ou seja, a função administrativa seria a instituição, organização e prestação do
serviço público. → Escola do Serviço Público (Leon Duguit).
● Sentido amplo (Leon Duguit): Inclui todas as atividades do Estado;
● Sentido estrito (Gaston Jeze): Inclui apenas atividades materiais (leia-se: aquela de dentro para
fora, com a finalidade de satisfação das necessidades coletivas).

5. Critério Teleológico ou Finalístico: O Direito Administrativo é sistema de princípios jurídicos que


regula as atividades do Estado para o cumprimento dos seus fins. Assim, o Direito Administrativo deve
ser conceituado como toda atuação do Estado com finalidade pública.

6. Critério Negativista: Esse critério surgiu da dificuldade de identificar o objeto do Direito


Administrativo. Assim, o Direito Administrativo seria conceituado por exclusão, abrangendo tudo que
não era função legislativa e jurisdicional.

7. Critério Funcional: O Direito Administrativo é ramo jurídico que estuda e analisa a disciplina da função
administrativa, esteja ela sendo exercida pelo Executivo, Legislativo, Judiciário ou por delegação
estatal.

4. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO

1. Formal, Orgânico ou Subjetivo: É o conjunto de órgãos, agentes públicos e pessoas jurídicas no


exercício da função administrativa. Importa apenas quem realiza a atividade, sendo irrelevante qual
a atividade por eles desempenhada. É a máquina administrativa.
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2. Material, Funcional ou Objetivo: Se confunde com função administrativa, sendo a atividade


administrativa exercida pelo Estado, designando a atividade consistente na defesa concreta do
interesse público.
5. DIREITO ADMINISTRATIVO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1. Direito administrativo: pode ser definido como conjunto harmônico de princípios que regem os
órgãos, os agentes e a atividade pública para realização dos fins desejados pelo Estado de forma
DIRETA, CONCRETA e IMEDIATA.

● Direta: Ao se falar que a atuação é direta, quer-se dizer que ela atua de ofício, não dependendo
de provocação.
● Concreta: diferente da legislativa, que é geral e abstrata (não atinge pessoas específicas), a função
administrativa é concreta porque se materializa em casos concretos.
● Imediata: realiza os fins do Estado (necessidades do Estado). Quem define os fins do Estado, por
sua vez, é o Direito Constitucional.

2. Administração Pública:
• Em sentido amplo: objetivamente considerada, compreende a função política + função
administrativa.
• Em sentido estrito: envolve tão somente a função administrativa propriamente dita.

3. Administração Pública Extroversa e Introversa

• Introversa: corresponde à atividade-meio da Administração. É instrumental, atende ao interesse


público secundário e não atinge diretamente os cidadãos. É atribuída a todos os órgãos
administrativos;
• Administração Extroversa: corresponde à atividade-fim da Administração. É finalística, atende ao
interesse público primário e atinge diretamente os cidadãos. Logo, envolve as relações entre a
Administração e os particulares. É atribuída apenas aos entes políticos. Exemplo: poder de polícia.

4. Transadministrativismo: Diogo de Figueiredo Moreira Neto adota a tese de que existe um novo ramo
do Direito Administrativo denominado transadministrativismo.
• Trata-se de um direito administrativo transnacional, fenômeno semelhante ao
transconstitucionalismo.
• Para Diogo de Figueiredo, o direito administrativo global é um gênero, do qual o direito
administrativo transestatal (transadministrativismo) é espécie. O transadministrativismo refere-
se exclusivamente ao produto normativo desses centros de poder transestatais: aqueles que se
originam de necessidades ordinatórias das diversas sociedades, que não são providas pelos
Estados.

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5. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A doutrina costuma apontar a existência de cinco fontes principais deste ramo do Direito, quais
sejam: a lei, a jurisprudência, a doutrina, os princípios gerais e os costumes.

1. LEI
• Fonte Primária – qualquer espécie normativa (lei em sentido amplo);
• A lei é a fonte primária do direito administrativo, pois inova no ordenamento jurídico. A atuação
administrativa tem que ser pautada pela lei, pois só existe a atuação do administrador se houver
permissivo legal nesse sentido (princípio da legalidade).

2. JURISPRUDÊNCIA
• Fonte Secundária – julgamentos reiterados no mesmo sentido. Súmula é a consolidação da
jurisprudência.
• A jurisprudência se traduz na reiteração de julgados dos órgãos do judiciário, travando uma
orientação acerca de determinada matéria.

3. DOUTRINA
• Fonte Secundária – forma o sistema teórico de princípio aplicável ao Direito Positivo.
• É fonte interpretativa. Expõe uma interpretação sobre determinada matéria ou lei, ao estabelecer
o que provavelmente buscava, ou seja, sua razão/sentido.

4. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO – estão na base da disciplina (alicerce). Exs.: Ninguém pode causar
dano a outrem. É vedado o enriquecimento ilícito. Ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.

5. COSTUMES – Práticas reiteradas da autoridade administrativa. Lembre-se que o costume não cria e
nem exime obrigação.

• Elementos do costume:
- Elemento objetivo: repetição de condutas;
- Elemento subjetivo: convicção de sua obrigatoriedade.
• Espécies de costumes:
- Secundum legem: previstos ou admitidos pela lei;
- Praeter legem: preenchem as lacunas normativas, possuindo caráter subsidiário;
- Contra legem: se opõem à norma legal.

COSTUME SOCIAL COSTUME ADMINISTRATIVO


De acordo com Matheus Carvalho, “os Na dicção de Matheus Carvalho: “o costume
costumes sociais se apresentam como um administrativo é caracterizado como prática
conjunto de regras não escritas, que são, reiteradamente observada pelos agentes

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todavia, observadas de modo uniforme por administrativos diante de determinada situação


determinada sociedade, que as considera concreta. A prática comum na Administração Pública é
obrigatórias. Ainda considera-se fonte admitida em casos de lacuna normativa e funciona como
relevante do Direito Administrativo, tendo em fonte secundária de Direito Administrativo, podendo
vista a deficiência legislativa na matéria”. gerar direitos para os administrados, em razão dos
princípios da lealdade, boa-fé, moralidade
administrativa, entre outros”.

6. PRECEDENTES ADMINISTRATIVOS (art. 30, LINDB)


• Pressupõem a prática reiterada e uniforme de atos administrativos em situações similares.
• A teoria dos precedentes administrativos é aplicada em relações jurídicas que, apesar de distintas,
apresentam identidade subjetiva e objetiva.
• A força vinculante do precedente administrativo decorre da segurança jurídica, e pode ser
afastada pela Administração em duas situações em que se pode aplicar a TEORIA DO PROSPECTIVE
OVERRULING:
(1) Quando o ato invocado pelo precedente for ilegal;
(2) Quando o interesse público, devidamente motivado, justificar a alteração do entendimento
administrativo.

Resumindo...
FONTE PRIMÁRIA 1) Lei - em sentido material/amplo: qualquer espécie normativa
1) Jurisprudência
FONTES 2) Doutrina
SECUNDÁRIAS 3) Costumes - secundum legem e praeter legem
4) Princípios Gerais do Direito.

1) Constituição
FONTES FORMAIS 2) Lei
3) Regulamento e outros atos normativos da Administração
Pública.
5) Jurisprudência (sem efeito vinculante)
FONTES MATERIAIS 6) Doutrina
7) Costumes - secundum legem e praeter legem
8) Princípios Gerais do Direito.

6. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A interpretação do Direito Administrativo deve se pautar em 3 pressupostos básicos:

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1. Desigualdade entre a administração e o particular (desigualdade jurídica) - a Administração atua


com supremacia em face ao particular (princípio da supremacia do interesse público sobre o privado).
2. Presunção de legitimidade dos atos praticados pela Administração - Os atos praticados pela
Administração são presumivelmente legítimos. Trata-se de presunção relativa.
3. Necessidade de discricionariedade – A discricionariedade é indispensável para que o administrador
possa concretizar a norma geral e abstrata prevista. Contudo, é uma discricionariedade
regrada/mitigada, pois exercida dentro dos limites da lei.

7. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA

1. Sistema Francês (contencioso administrativo)


● Dualidade de jurisdição;
● Proíbe o conhecimento, pelo Poder Judiciário, de atos ilícitos praticados pela Administração, ficando
os atos sujeitos à jurisdição especial do contencioso administrativo.

2. Sistema Inglês (jurisdição única)


● Todos os litígios podem ser resolvidos na justiça comum;
● Sistema adotado pelo Brasil (princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, art. 5º, XXXV,
CF/88).
8. REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO

É o conjunto de regras e princípios que regem a Administração Pública. Celso Antônio Bandeira de
Mello defende a existência de verdadeiras “PEDRAS DE TOQUE” no Direito Administrativo, quais sejam:

● Princípio da supremacia do interesse público sobre o privado: Os interesses coletivos devem


prevalecer ao interesse particular;
● Princípio da indisponibilidade do interesse público: O interesse público não se encontra à livre
disposição do administrador.

9. PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO

PRINCÍPIOS EXPRESSOS PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS


● Legalidade ● Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade
● Impessoalidade ● Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o
● Moralidade Privado (Princípio da Finalidade Pública)
● Publicidade ● Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade
● Eficiência ● Princípio Da Continuidade Do Serviço Público
● Princípio da Motivação
● Princípio da Ampla Defesa e Contraditório
● Princípio da Segurança Jurídica e Legítima Confiança
● Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções
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1. LEGALIDADE (JURIDICIDADE): a atuação da administração pública subordina-se à lei, de modo que o


agente público somente poderá fazer o que proclama a lei. Assim, não havendo previsão legal, está
proibida a atuação do ente público e qualquer conduta praticada de forma arbitrária por ele.

a) Legalidade administrativa x legalidade privada:

LEGALIDADE ADMINISTRATIVA LEGALIDADE PRIVADA


A atuação da administração pública Vigora a autonomia privada. Por isso, o
subordina-se à lei, de modo que o particular pode fazer tudo aquilo que a lei não
agente público somente poderá fazer o proibir. Só deve deixar de fazer se estiver
que proclama a lei. expressamente proibido em lei.

Obs.: Exceções ao princípio da legalidade administrativa: (Celso Antônio Bandeira de Melo)


- Nesses três casos, deve a Administração atuar, mesmo que não haja lei regulamentando sua atuação, o que
revela a mitigação da obrigatoriedade do princípio da legalidade.
• Estado de defesa;
• Estado de sítio e
• Medida provisória.

b) Desdobramentos do princípio da legalidade:


• Supremacia da lei: A lei prevalece e tem preferência sobre os atos da Administração. Relaciona-
se com a doutrina da NEGATIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO NEGATIVA), segundo a qual a lei
representa uma limitação à vontade do Administrador.

• Reserva de lei: o tratamento de certas matérias deve ser formalizado necessariamente pela
legislação. Relaciona-se com a POSITIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO POSITIVA), que condiciona a
validade da atuação dos agentes públicos à prévia autorização legal.

c) Considerações importantes:
● A legalidade deve ser reinterpretada a partir da constitucionalização do Direito Administrativo.
● Por ser submissa ao princípio da legalidade, a Administração não pode levar a termo interpretação
extensiva ou restritiva de direitos, quando a lei assim não o prever de modo expresso.
● A legalidade encontra-se inserida no denominado PRINCÍPIO DA JURIDICIDADE, que exige a
submissão da atuação administrativa à lei e ao Direito → Exige-se compatibilidade com o BLOCO
DE LEGALIDADE. Pelo princípio da juridicidade, deve-se respeitar, inclusive, a noção de
legitimidade do Direito.

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ATENÇÃO AOS CONCEITOS:


I) Juridicidade: Compatibilidade com todo ordenamento jurídico;
II) Legalidade: Compatibilidade com as exigências formais ou padrões materiais da lei;
III) Legitimidade: É o ato que observa não só as formalidades prescritas ou não defesas em lei, mas se há
adequação aos princípios da boa administração, dentro de padrões razoáveis e morais, e aos princípios
constitucionalmente reconhecidos.
IV) Economicidade: Foco no binômio custo/ benefício em face do meio utilizado para satisfação social, junto
ao controle de eficiência da gestão financeira, para atingir melhor índice de resultado.

O que é o PRINCÍPIO DA RESPONSIVIDADE?


Consoante entendimento de Diogo de Figueiredo, a responsividade é um dos princípios modernos que
norteia a atuação da Administração Pública. Determina que, ao atuar, a Administração não obedeça apenas
à legalidade, mas também à legitimidade e ao princípio democrático, ou seja, que atue de modo a atender
os anseios da população. É, então, inegavelmente, um dever jurídico autônomo dos agentes do Poder
Público para, ao perfazerem suas escolhas discricionárias, observarem as demandas da sociedade.

2. IMPESSOALIDADE: A atuação da administração pública deve ser imparcial, não visando beneficiar ou
prejudicar pessoa determinada, tendo em vista que a sua atuação está voltada à busca do interesse
público em geral. O princípio da impessoalidade possui duas acepções:

• Igualdade ou Isonomia: A Administração deve dispensar tratamento impessoal e isonômico aos


particulares para atender a finalidade pública, vedada a discriminação odiosa ou desproporcional.
Ex.: realização de concurso público é uma forma de observar o princípio da igualdade ou isonomia
e o princípio republicano.

• Proibição de promoção pessoal: Vedação do exercício da máquina pública para atingir interesses
particulares. Ex.: art. 37, §1º da CF/88. (lembrando que o § 1º do art. 37 da CF/88 não admite
flexibilização por norma infraconstitucional ou regulamentar – Info 1017, STF)
3. MORALIDADE: trata-se de princípio que exige a honestidade, legalidade, boa-fé de conduta no exercício
da função administrativa, ou seja, a atuação não corrupta dos gestores públicos, ao tratar com a coisa
de titularidade do Estado.

➢ Obs.: Odete Medauar aponta que a ação popular é um dos instrumentos constitucionais para
sancionar a inobservância da moralidade, uma vez que pode ser proposta por qualquer cidadão
para anular ato lesivo à moralidade administrativa.

➢ Obs.: A prática do nepotismo (inclusive nepotismo cruzado) na Administração Pública viola o


princípio da moralidade. No entanto, o STF tem afastado, em regra, a aplicação da SV 13 (que
veda o nepotismo) a cargos públicos de natureza política.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

4. PUBLICIDADE: impõe a divulgação e exteriorização dos atos do poder público, guardando relação
com o princípio democrático, ao possibilitar o controle social sobre os atos públicos.

➢ Obs.: Inclusive, nos moldes da Lei de Improbidade Administrativa, constitui-se em ato de


improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública negar
publicidade aos atos oficiais (art. 11, IV, da Lei 8.429/92).

➢ Obs.: A publicidade também representa condição de eficácia dos atos administrativos, de modo
que estes só começam a produzir efeitos a partir de sua publicidade.

5. EFICIÊNCIA (inserido pela EC 19/98): exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza,
perfeição e rendimento funcional. Sua aplicação orienta e serve de fundamento para a construção de
uma concepção de Administração Pública Gerencial.

➢ Obs.: A concretização dos resultados deve ser realizada por meio de processo político-
participativo. A implementação da eficiência administrativa depende, por exemplo, da adoção de
medidas de desburocratização, de inovação, de transformação digital e da participação do
cidadão, na forma indicada na Lei 14.129/2021 que dispõe princípios, regras e instrumentos para
o Governo Digital e para o aumento da eficiência pública.

➢ Exemplos de aplicação determinando a observância da aplicação da eficiência: O art. 41 da CF


demonstra a exigência da eficiência na atividade administrativa, ao exigir avaliação especial de
desempenho, assim como a avalição periódica, que depende de regulamentação por lei.

10. OUTROS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS

1. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE: Para os administrativistas, o princípio da


proporcionalidade está embutido no princípio da razoabilidade, pois prevalece a tese de fungibilidade
dos princípios. A proporcionalidade subdivide-se em 03 subprincípios:

• Adequação ou idoneidade: o ato estatal deverá contribuir para a realização do resultado pretendido.
• Necessidade ou exigibilidade: caso existam duas medidas adequadas para alcançar o fim perseguido,
o Poder Público deve adotar a medida menos gravosa aos direitos fundamentais (ex. invalidade da
sanção de demissão ao servidor que pratica infração leve).
• Proporcionalidade em sentido estrito: é a ponderação, no caso concreto, entre o ônus imposto pela
atuação estatal e o benefício por ela produzido, razão pela qual a restrição ao direito fundamental
deve ser justificada pela importância do princípio ou direito que se quer efetivar.

ATENÇÃO! princípio da proporcionalidade é, ainda, um limite à discricionariedade do legislador, que, muitas


vezes, ultrapassa uma linha tênue e se torna arbitrariedade (a qual é vedada no ordenamento jurídico
brasileiro). Assim, mesmo que se trate de um ato administrativo discricionário, se tal ato não obedecer ao
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princípio da proporcionalidade/razoabilidade, será possível a interferência do Poder Judiciário sem que


isso acarrete violação à Separação de Poderes.

2. PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO (PRINCÍPIO DA FINALIDADE


PÚBLICA)
• Interesse público primário: Necessidade de satisfação das necessidades coletivas. É o interesse em
dar cabo às necessidades sociais;
• Interesse público secundário: É o interesse do próprio Estado, enquanto sujeito de direitos e
obrigações, ligando-se à noção de interesse do erário. É o interesse do Estado com si próprio, como
pessoa jurídica de direito público que é.

PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA OU SINDICABILIDADE: A administração pública tem a prerrogativa de rever


os seus próprios atos independentemente de provocação, seja para revogá-los ou para anulá-los.
• Ato ilegal → ANULAÇÃO → efeitos ex tunc;
• Ato inconveniente/inoportuno → REVOGAÇÃO → efeitos ex nunc;

Art. 53 da Lei 9.784/99: A Administração deve anular seus próprios atos, quando
eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

Súmula 346 STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus
próprios atos.

Súmula 473 STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados
de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-
los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

Cuidado (1): Não confundir autotutela com autoexecutoriedade!


● Autotutela: Designa o poder-dever de corrigir ilegalidades e de garantir o interesse público dos atos
editados pela própria Administração;
● Autoexecutoriedade: Prerrogativa de imposição da vontade administrativa, independentemente de
recurso ao Poder Judiciário.

Cuidado (2): Não confundir autotutela com tutela!


● Autotutela: o princípio da autotutela autoriza a administração a realizar controle dos seus atos,
podendo anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou inoportunos, independentemente de
decisão do Poder Judiciário.
● Tutela: pelo princípio da tutela, a administração exerce controle sobre pessoa jurídica por ela
instituída, com o objetivo de garantir a observância de suas finalidades institucionais. (= supervisão
ministerial = controle finalístico).
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Cuidado (3): Necessidade de processo administrativo


• O STF possui entendimento no sentido de que, a despeito deste poder-dever de anular os atos ilegais,
se a invalidação do ato administrativo repercutir no campo de interesses individuais, faz-se
necessária a instauração de processo administrativo que assegure o devido processo legal e a
ampla defesa (Informativo 763 do STF).

• Prazo para o exercício da autotutela: O art. 54 da lei 9.784/99 estipula que o direito da Administração
de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis aos destinatários decai em 5
anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má fé.

Súmula 633 STJ: A Lei 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo
decadencial para revisão de atos administrativos no âmbito da administração
pública federal, pode ser aplicada de forma subsidiária aos Estados e Municípios se
inexistente norma local e específica regulando a matéria.

Considerações relevantes:
• Mesmo depois de terem se passado mais de 5 anos, a Administração Pública pode anular a anistia
política concedida quando se comprovar a ausência de perseguição política, desde que respeitado
o devido processo legal e assegurada a não devolução das verbas já recebidas. (Info 668, STJ).
• O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta
diretamente a Constituição Federal. (Info 741, STF)
• Em regra, o prazo decadencial para que a Administração anule atos administrativos inválidos é de 5
anos, aplicável a todos os entes federativos, por força do princípio da isonomia. (Info 1012, STF)
• Em decisão na qual se evidencie não acarretar lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os
atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Administração.

3. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO (art. 6º, §1º, Lei 8987/95):

1. REGRA: A atuação administrativa, buscando atender da melhor forma o interesse público, preconiza que
a atividade do Estado deve ser prestada de forma contínua, ou seja, sem interrupções, motivo pelo qual
o princípio da continuidade veda a interrupção na prestação dos serviços públicos.

EXCEÇÃO: De acordo com o entendimento doutrinário majoritário e da jurisprudência do STJ, autoriza


o corte no fornecimento do serviço em caso de emergência ou, após prévio aviso, nas hipóteses de:
• razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e
• inadimplemento do usuário.

2. A interrupção por inadimplemento do usuário não pode paralisar serviços essenciais. Ex.: corte de
energia elétrica do hospital público/iluminação pública.

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3. Segundo o STJ, é possível o corte de energia elétrica por fraude no medidor, DESDE que sejam
observados alguns requisitos: (Info 634, STJ)
• Fraude deve ser apurada em observância do contraditório e ampla defesa
• Aviso prévio ao consumidor
• Inadimplemento restrito ao período de 90 dias anteriores à constatação da fraude, devendo efetuar
o corte em até 90 dias após o vencimento do débito

4. Desdobramentos normativos decorrentes do princípio da continuidade dos serviços públicos, dentre


os quais:

• O direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica (art. 37, VII, da CF). Lembre-se que o policial civil não pode fazer greve!
• Restrição à aplicabilidade da exceptio non adimpleti contractus, pois o contratado só pode
interromper a execução do contrato após atraso superior a 2 (dois) meses, contado da emissão da
nota fiscal, dos pagamentos ou de parcelas de pagamentos devidos pela Administração por
despesas de obras, serviços ou fornecimentos (art. 137, §2º, IV, da Lei n. 14.133/2021);
• Possibilidade de intervenção na concessionária para garantia de continuidade na prestação do
serviço (art. 32 da Lei n. 8.987/95);
• Ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços vinculados ao objeto do
contrato nas hipóteses de: i) risco à prestação de serviços essenciais; ii) necessidade de acautelar
apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, inclusive após extinção do contrato.
(art. 104, V, da Lei n. 14.133/2021);
• Reversão de bens do concessionário indispensáveis à continuidade do serviço (art. 36 da Lei n.
8.987/95);
• Encampação do contrato de concessão mediante a retomada do serviço pelo concedente (art. 37
da Lei n. 8.987/95);
• Necessidade de institutos como a suplência, a delegação e a substituição para preencher as funções
públicas temporariamente vagas.

5. PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO: Impõe à Administração Pública o dever de indicação dos pressupostos de


fato e de direito que determinaram a prática do ato (art. 2º, parágrafo único, VII, da Lei n. 9.784/99),
sendo condição de validade do ato.

1. Trata-se de um mecanismo de controle sobre a legalidade e legitimidade das decisões da


Administração Pública
2. A motivação deve ser apresentada simultaneamente ou no instante seguinte à prática do ato.
Motivação intempestiva (posterior) ou extemporânea (anterior) causa nulidade do ato
administrativo.

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3. O princípio da motivação comporta exceção, por exemplo, nomeação ou exoneração (exoneração


"ad nutum") de cargos comissionados. No entanto, se mesmo essa motivação sendo
“desnecessária”, a Administração optar por motivá-la, estará vinculada aos motivos que explicitou
no ato, em decorrência da chamada: TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES. Isso porque os
motivos vinculam todo o ato, e se não forem respeitados, o ato torna-se nulo.

4. Motivação aliunde ou per relationem – Ocorre todas as vezes que a motivação de um determinado
ato remete à motivação de ato anterior que embasa sua edição.

5. Motivação x Motivo x Móvel:


• Motivo = fato que autoriza a realização do ato administrativo;
• Motivação = exigência de enunciação dos motivos.
• Móvel = intenção declarada pelo agente como justificativa para a prática do ato.

6. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO

a) Contraditório: as decisões administrativas devem ser tomadas considerando a manifestação dos


interessados. Para isso, é necessário dar oportunidade para que os afetados pela decisão sejam
ouvidos antes do resultado final do processo.

b) Ampla defesa: assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, a utilização dos meios
de prova, dos recursos e dos instrumentos necessários para defesa de seus interesses perante o
Judiciário e a Administração.

7. PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA E LEGÍTIMA CONFIANÇA

a) Segurança jurídica: abarca dois sentidos:


• Objetivo: estabilização do ordenamento jurídico (proteção à coisa julgada, ao direito adquirido
e ao ato jurídico perfeito).
• Subjetivo: proteção à confiança das pessoas em relação às expectativas geradas por promessas
e atos estatais. É princípio autônomo.

b) Segurança jurídica x Legítima confiança


• Segurança jurídica: possui caráter amplo, aplicado às relações públicas e privadas;
• Legítima confiança: tutela apenas a esfera jurídica do particular, protegendo-o da atuação
arbitrária do Estado.

c) Requisitos para configurar a confiança legítima:


● Ato da administração suficientemente conclusivo para gerar no administrado confiança:
· De que a Administração atuou corretamente;
· De que a conduta do afetado é lícita na relação jurídica que mantém com a Administração;
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· De que as suas expectativas são razoáveis.


• Presença de signos externos que orientam o cidadão a adotar determinada conduta;
• Ato da administração que reconhece ou constitui uma situação jurídica individualizada, cuja
durabilidade é confiável;
• Causa idônea para provocar a confiança do afetado;
• Cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e obrigações no caso.

d) Quando NÃO se aplica o princípio da confiança legítima:


● Hipóteses de má-fé do administrado;
● Quando existir mera expectativa de direitos pelo interessado (ex. concessão de liminar, de
caráter precário, que possa ser revista).

8. PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA SUBJETIVA DAS SANÇÕES: Significa que não podem ser impostas
sanções e restrições que superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que
não tenham sido as causadoras do ato ilícito.

➢ Obs.: Na jurisprudência do STF, encontramos dois exemplos de aplicação desse princípio em casos
envolvendo inscrição de Estados e Municípios nos cadastros de inadimplentes da União:

● 1ª acepção: quando a irregularidade foi praticada pela gestão anterior: Existem julgados do STF
afirmando que, se a irregularidade no convênio foi praticada pelo gestor anterior e a gestão atual,
depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário e corrigir as falhas, neste caso,
o ente (Estado ou Município) não poderá ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União.
Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a
aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações
anteriores. No mesmo sentido, STJ:

Súmula 615 STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em


cadastros restritivos fundada em irregularidades na gestão anterior quando, na
gestão sucessora, são tomadas as providências cabíveis à reparação dos danos
eventualmente cometidos.

● 2ª acepção: quando a irregularidade foi praticada por uma entidade do Estado/Município ou


pelos outros Poderes que não o Executivo: O princípio da intranscendência subjetiva das sanções
pode ser aplicado também nas situações em que uma entidade estadual/municipal (ex: uma
autarquia) descumpriu as regras do convênio e a União inscreve não apenas essa entidade, como
também o próprio ente (Estado/Município) nos cadastros restritivos.

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DIREITO ADMINISTRATIVO: PODERES DA ADMINISTRAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

1. Para o adequado cumprimento de suas competências constitucionais, a legislação confere à


Administração Pública competências especiais. Sendo prerrogativas ligadas às obrigações, as
competências administrativas constituem verdadeiros poderes-deveres instrumentais para a defesa do
interesse público.
2. Em face disto, os poderes da administração só serão legítimos enquanto buscar alcançar o interesse
coletivo, de modo que, se extrapolar o caráter da instrumentalidade, ocorrerá o chamado ABUSO DE
PODER.
3. O abuso de poder se subdivide em:
● Excesso de Poder: A autoridade pública atua fora dos limites de sua competência - VÍCIO DE
COMPETÊNCIA.
● Desvio de Poder: O agente público visa interesses individuais OU a autoridade busca o interesse
público, mas NÃO respeita a finalidade da lei para determinado ato - VÍCIO NA FINALIDADE.

4. Assim, seja em decorrência de excesso ou desvio de finalidade, o abuso de poder ensejará a nulidade do
ato administrativo.
Vamos esquematizar?
ABUSO DE PODER
EXCESSO DE PODER DESVIO DE PODER
O excesso de poder é o extrapolamento O desvio de poder se manifesta quando o agente
da competência que foi atribuída ao pratica o ato visando outra finalidade que não
Agente Público, ou seja, a atuação deste aquela prevista pela lei. O agente busca fins
vai além do que lhe foi conferido diversos daquele previsto na regra de
competência.
Vício de competência Vício de finalidade
Vício sanável Vício insanável

2. PODER VINCULADO E PODER DISCRICIONÁRIO

2.1 Poder Vinculado/Regrado:

Está presente quando a lei estabelece uma única solução possível diante de uma situação de fato, fixando todos
os requisitos e não deixando margem de apreciação subjetiva. Assim no Poder Vinculado, não há margem de
escolha no caso concreto, pois todos os elementos do ato administrativo são vinculados.
Elementos sempre vinculados dos atos administrativos: COMPETÊNCIA, FINALIDADE e FORMA.

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2.2 Poder Discricionário

Nesse caso, há situações nas quais o próprio texto legal confere margem de opção/discricionariedade ao
administrador, e esse tem o encargo de identificar a solução mais adequada para defender o interesse
público. Em outras palavras: essa margem de escolha conferida ao agente público é denominada de mérito
(conveniência e oportunidade).
Elementos dos atos administrativos que podem ser discricionários: MOTIVO e CONTEÚDO/OBJETO.

2.3 Limites da discricionariedade e controle judicial

O controle feito pelo Judiciário sob os atos administrativos limitar-se-á à análise da sua legitimidade.

● Assim, em relação aos atos vinculados, o Poder Judiciário poderá examinar, em todos os seus
aspectos, a conformidade do ato com a lei. Por outro lado, quanto aos atos discricionários, o controle
judicial somente é possível quanto aos aspectos da legalidade, de modo que não pode haver
interferência no mérito administrativo.
● No caso da discricionariedade proveniente dos conceitos jurídicos indeterminados, o limite do mérito
para fins de averiguação de sua legitimidade é o princípio da razoabilidade e proporcionalidade.
● Teorias elaboradas para fixar limites ao exercício do poder discricionário:
1. TEORIA DO DESVIO DE PODER: o desvio ocorre quando a autoridade usa do poder discricionário para
atingir fim diferente daquele que a lei fixou. Quando isso ocorre, fica o Judiciário autorizado a
decretar a nulidade do ato;
2. TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES: quando a Administração indica os motivos que a levaram
a praticar o ato, este somente será válido se os motivos forem verdadeiros.

CONTROLE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS DISCRICIONÁRIOS:


(1) O Administrador está livre para agir diante de competência discricionárias, mas nos devidos parâmetros
do Direito, sem prejudicar ou desrespeitar os direitos dos Administrados.
(2) A discricionariedade deve ser entendida de forma ampla, a abarcar não só a ideia de mérito
administrativo, mas de conceitos indeterminados e a sua compreensão a partir de princípios.
(3) O Poder Judiciário, quando chamado a emitir controle jurisdicional sobre atos administrativos, deve
inicialmente verificar se os atos são discricionários ou vinculados.
. Se vinculado – o controle se efetiva tendo por base a LEGALIDADE;
. Se discricionário – Deve ser apreciada a correspondência da NORMA + MÉRITO.
(4) Existe corrente doutrinária que entende que o Judiciário NÃO pode analisar os atos administrativos
discricionários de forma ampla, pois são expedidos segundo juízo de discricionariedade e oportunidade do
administrador e se refere ao mérito administrativo. Por isso, outro poder que não o próprio que expediu o
ato pode apreciá-lo, em face da separação dos poderes.
(5) É pacífico o entendimento de que o Judiciário NÃO pode apreciar o mérito dos atos administrativos;
(7) Há possibilidade de o Judiciário verificar, à luz da legalidade, a validade dos atos administrativos
discricionários.
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3. PODERES EM ESPÉCIE

PODER PODER PODER DISCIPLINAR PODER DE


NORMATIVO HIERÁRQUICO POLÍCIA
Refere-se à É uma decorrência da Autoriza a Administração É destinado a
faculdade que tem forma como se Pública a aplicar disciplinar,
o Chefe do Poder organiza a penalidades aos servidores restringir ou
Executivo de Administração públicos e às demais condicionar o
expedir decretos Pública, havendo pessoas sujeitas à disciplina exercício dos
que, em regra, agentes ou órgãos administrativa. Dessa direitos
possuem apenas a cujas atuações se forma, somente está sujeito individuais em
finalidade de encontram ao poder disciplinar aquele prol dos
explicar a lei subordinadas a outros que possui algum vínculo interesses
agentes ou órgãos específico com a coletivos.
superiores. Administração, seja
funcional ou contratual.

3.1 Poder Normativo (Ou Regulamentar)

1. Conceito: É a prerrogativa reconhecida à Administração Pública para editar atos administrativos gerais
para a fiel execução das leis, sem inovar no Ordenamento Jurídico.

2. Fundamento: Seu fundamento para a competência do Presidente encontra-se no art. 84, IV, da CF/88
estende-se, por simetria, a Governadores e Prefeitos.

3. Espécies de Regulamentos: São as duas as espécies de regulamento existentes no Ordenamento Jurídico


brasileiro: regulamentos executivos e os regulamentos autônomos.

a) Regulamentos Executivos:
● O regulamento executivo é norma geral e abstrata.
● São editados para fiel execução de lei;
● NÃO inovam no Ordenamento jurídico.

b) Regulamentos Autônomos:
● O regulamento executivo não se presta a detalhar a lei, mas sim substituem a Lei;
● Os regulamentos autônomos podem inovar no Ordenamento Jurídico;
● São considerados atos normativos primários, pois retiram sua força diretamente da Constituição e
não se submetem à intermediação legislativa.
● Se submetem ao controle de constitucionalidade direto.

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REGULAMENTOS EXECUTIVOS REGULAMENTOS AUTÔNOMOS


Explicita a lei para a sua fiel Trata de questão ainda não prevista em lei.
execução.
Art. 84, IV da CF. Art. 84,VI da CF – alterado com o advento da EC
de 32.
NÃO inova na ordem jurídica. INOVA na ordem jurídica
Ato normativo secundário. Ato normativo primário.
Não Admite delegação. Admite delegação.

c) Regulamentos autorizados (delegados): Editados no exercício de função normativa delimitada em ato


legislativo.

d) Regulamentos de necessidade: Produzidos em situação de emergência.

Obs.1: Cuidado para não confundir Poder Regulamentar com Poder Regulatório!

PODER REGULAMENTAR PODER REGULATÓRIO


Competência privativa do chefe do Competência atribuída às entidades administrativas,
executivo; com destaque para as agências reguladoras;
Envolve a edição de normas gerais Engloba o exercício de atividades normativas,
para fiel cumprimento da lei; executivas e judicantes;
Conteúdo político. Conteúdo técnico.

Obs.2: Deslegalização: Consiste na possibilidade do Poder Legislativo, através de lei, transferir para a
Administração Pública a competência para editar normas sobre assuntos cuja complexidade e velocidade de
transformação exigem uma nova dinâmica normativa, que possibilita inclusive, o exercício de
discricionariedade técnica. A questão deixa de ser tratada pela lei e passa a ser tratada pelo ato
administrativo.
● O STF admite, desde que ocorra dentro dos parâmetros estabelecidos na lei.
● A lei que promove a deslegalização deve definir os parâmetros dentro dos quais a administração deve
atuar.
● A deslegalização surge como instrumento de atuação para as agências reguladoras.

3.2 Poder Hierárquico

1. Conceito: É poder de estruturação interna da atividade pública (dentro da mesma pessoa jurídica), de
modo que NÃO existe manifestação de hierarquia externa. Trata-se, portanto, de relação de subordinação
administrativa entre agentes públicos, que pressupõe o escalonamento vertical de funções no interior
da organização administrativa.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

2. Subordinação e vinculação: A relação de subordinação decorre da hierarquia existente no interior dos


órgãos e das entidades administrativas, pois há hierarquia em toda e qualquer desconcentração
administrativa. Por outro lado, a relação de vinculação é encontrada entre entidades da Administração
Indireta e os respectivos entes federados. Assim, não existe hierarquia, mas apenas os controles
previstos expressamente a legislação (vinculação). Trata-se de relação externa, envolvendo pessoas
jurídicas dotadas de personalidade jurídica própria e autonomia.

3. Delegação x Avocação: a hierarquia justifica as hipóteses de avocação e delegação de competência.

a) Delegação: A delegação de atribuições, uma das manifestações do poder hierárquico, é o ato de conferir
a outro servidor atribuições que, originalmente, eram de competência da autoridade delegante.
● Extensão de atribuições de um órgão a outro de mesma hierarquia ou de hierarquia inferior.
● Decorre do Poder Hierárquico, mas não precisa ser hierarquicamente subordinado.
● Revogável a qualquer tempo
● Cláusula de Reserva: O agente delegante NÃO perde a competência delegada.
● O mandado de segurança deve ser impetrado em face de quem praticou o ato (e não em face da
autoridade delegante) – SUM 510, STF.

● Nos termos propostos pela Lei nº 9.784, é VEDADA a delegação e avocação:


× Casos de competência exclusiva definida em lei;
× Para decisão de recurso administrativo;
× Para edição de atos normativos.

b) Avocação: A avocação é fenômeno inverso ao da delegação e consiste na possibilidade de o superior


hierárquico trazer para si temporariamente o exercício de competências legalmente estabelecidas para
órgão ou agente hierarquicamente inferior.
● Não cabe avocação fora da linha hierárquica
● O chefe chama para si, de forma temporária, a competência que seria de agente subalterno.
● A avocação é medida excepcional.
● A excepcionalidade da avocação nos permite concluir que ela sempre deverá ser temporária.
É importante a leitura dos artigos 11 a 17 da Lei nº 9784/99!!!

Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a


que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente
admitidos

Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento
legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que
estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em
razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de


competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes

Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:


I - a edição de atos de caráter normativo
II - a decisão de recursos administrativos
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.

Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial.
§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites
da atuação do delegado, a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível,
podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada.

§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante.

§ 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta


qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado.

Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes


devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a
órgão hierarquicamente inferior.
Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divulgarão publicamente os locais
das respectivas sedes e, quando conveniente, a unidade fundacional competente
em matéria de interesse especial.

3.3 Poder Disciplinar

1. Conceito: O Poder Disciplinar consiste na possibilidade de a Administração aplicar punições àqueles que
possuem algum vínculo específico com a Administração, seja de natureza funcional ou contratual.

2. Engloba duas situações:


● Relações funcionais travadas com agentes públicos, independentemente da natureza do vínculo –
legal ou negocial.
● Particulares inseridos em relações jurídicas especiais com a administração, mas que não são
considerados agentes públicos.

3. Considerações importantes:
● As sanções NÃO podem ser aplicadas a particulares, devendo existir um vínculo de natureza especial.
● É um poder interno, não permanente e discricionário. Na verdade, é vinculado quanto ao dever de
punir e discricionário quanto à seleção da pena aplicável.

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DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

● A aplicação de qualquer penalidade exige instauração de prévio processo administrativo com


garantia de contraditório e ampla defesa, sob pena de nulidade da punição.
● O Poder Disciplinar pode decorrer do Poder Hierárquico, haja vista tratar-se a hierarquia de uma
espécie de vinculação especial, mas também pode decorrer dos contratos celebrados pela
Administração Pública, sejam regidos pelo direito público ou pelo direito privado.
● É um poder interno, sancionatório, por meio do qual a administração pública pode aplicar sanção às
pessoas a este vinculado.

ATENÇÃO: É lição comum na doutrina que o poder disciplinar é exercido de forma discricionária. A afirmação
deve ser analisada com bastante cuidado no que concerne ao seu alcance. A aplicação da pena é ato
vinculado. A discricionariedade, quando existente, é relativa à graduação da penalidade ou à escolha entre
as sanções legalmente cabíveis, uma vez que no direito administrativo não predomina o princípio da pena
específica.

ATENÇÃO: Súmula 650 do STJ – A autoridade administrativa não dispõe de discricionariedade para aplicar
ao servidor pena diversa de demissão quando caraterizadas as hipóteses previstas no artigo 132 da Lei
8.112/1990.

3.4 Poder De Polícia

1. Conceito: O poder de polícia consiste na prerrogativa que tem o Estado de restringir, frenar, limitar a
atuação do particular em razão do interesse público. É fruto da compatibilização do interesse público
em face do privado. (Ler a definição do art. 78 do CTN!)

2. Decorre da supremacia do interesse público, não dependendo para sua manifestação de nenhum
vínculo especial (ao contrário do que exige o poder disciplinar).

3. Natureza dos Atos: É poder negativo, mas em alguns casos também é positivo. Exemplos do emprego
do poder de polícia:
● Apreensão de mercadoria estragada em depósito alimentício;
● Suspensão de atividades lesivas ao meio ambiente;
● Apreensão de mercadoria ilegal na alfândega;
● Interdição de um estabelecimento que viole normas sanitárias;
● Aplicação de uma multa a restaurante que infringiu normas ligadas à saúde pública;
● Lavratura de auto de infração contra empresa que violou normas relativas à vigilância sanitária;

4. Sentidos do Poder de Polícia:


a) Sentido amplo: compreende toda e qualquer atuação estatal restritiva à liberdade e propriedade;
b) Sentido restrito: diretamente relacionada ao exercício da função administrativa. Pode ser:

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RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

● Preventiva. Ex.: quando trata de disposições genéricas e abstratas, como portarias e


regulamentos que se materializam nos atos que disciplinam horário para funcionamento de
determinado estabelecimento, proíbem desmatar área de proteção ambiental, soltar balões,
entre outros.
● Repressiva: ao praticar atos específicos observando sempre a obediência à lei e aos
regulamentos, como por exemplo, dissolver passeata tumultuosa, apreender revistas
pornográficas, aplicação de multa etc.
● Fiscalizadora: quando previne eventuais lesões, como, por exemplo, vistoria de veículos,
fiscalização de pesos e medidas entre outros.

5. Polícia Judiciária x Administrativa


a) Judiciária – incide sobre as pessoas, infrações criminais.
● Não se exaure em si mesma;
● Incide sobre os próprios indivíduos;
● Predominantemente repressiva

b) Administrativa – incide sobre bens e direitos, infrações administrativas e se manifesta na edição de


atos administrativos.
● Exaure-se em si mesma;
● Incide sobre bens e direitos;
● Eminentemente preventiva.

6. Ciclos do Poder de Polícia: O Poder de Polícia compreende 4 ciclos:


1. Ordem de Polícia
2. Consentimento de Polícia
3. Fiscalização de Polícia
4. Sanção de Polícia

1. ORDEM DE POLÍCIA: é o preceito legal básico que dá validade à limitação prevista, para que não se
pratique ato que lesionará o interesse público ou para que não deixe de fazer algo que evitará a lesão
ao interesse público. Ex: Código de Trânsito Brasileiro que contém normas genéricas e abstratas para
a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação.

2. CONSENTIMENTO DE POLÍCIA: é o ato administrativo que confere anuência ao exercício de atividade


ou ao uso de propriedade. Pode ser:
● Licença: ato vinculado;
● Autorização: ato discricionário.

3. FISCALIZAÇÃO DE POLÍCIA: é a verificação se as ordens de polícia estão sendo cumpridas. Ex:


Administração instala equipamentos eletrônicos para verificar se há respeito à velocidade
estabelecida em lei.
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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

4. SANÇÃO DE POLÍCIA: é a fase em que, verificada afronta à ordem de polícia, é aplicada a pena de
polícia. Ex: aplicação das multas de trânsito.

Obs.: LEGISLAÇÃO (ORDEM DE POLÍCIA) e FISCALIZAÇÃO são as únicas fases que sempre existirão num ciclo
de polícia; O CONSENTIMENTO nem sempre estará presente, pois há atos que, embora sem consentimento,
são aplicados por previsão legal.

7. Limites ao poder de polícia:


● princípio da legalidade
● princípio da proporcionalidade (necessário, adequado e proporcional em sentido estrito);
● núcleo essencial dos direitos individuais;
● o limite do limite (limitação de liberdades públicas)

8. O poder de polícia pode ser delegado?

1. O Poder de Polícia é considerado atividade típica de Estado e, portanto, somente pode ser exercido
pelas pessoas jurídicas de direitos público componentes da Administração Direta ou da
Administração Indireta.
2. Nesse sentido, para o STJ e doutrina amplamente majoritária, as atividades de ordem de polícia e
de aplicação de sanções derivam de indiscutível poder coercitivo do Estado e, justamente por isso,
NÃO poderiam ser delegadas a pessoas jurídicas de direito privado. Por outro lado, as atividades de
consentimento e fiscalização (2º e 3º ciclos do Poder de Polícia) seriam compatíveis com a natureza
de uma sociedade de economia mista, sendo, em tese, passíveis de delegação.
3. No entanto, embora a doutrina seja praticamente uníssona no sentido de que somente os ciclos de
fiscalização e consentimento do Poder de Polícia podem ser delegados às pessoas jurídicas de
direito privado integrantes da Administração Pública, em recente entendimento do Plenário do STF,
no bojo (RE) 633782, com repercussão geral reconhecida (Tema 532), a Corte fixou a seguinte
tese: “É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, à pessoas jurídicas de
direito privado integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente
público que prestem exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime
não concorrencial”.
4. Nesse sentido, para o STF, além da fiscalização e do consentimento, no âmbito do ciclo de polícia,
a sanção também poderia ser delegada!

● Poder de Legislar – Indelegável;


● Fiscalização – Delegável;
● Atos de consentimento – Delegável;
● Aplicar sanções – Delegável (STF).

DELEGAÇÃO DO PODER DE POLÍCIA: FUNDAMENTOS DO ENTENDIMENTO DO STF


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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

(Aprofundamento para subjetivas)


A tese da indelegabilidade do poder de polícia as pessoas jurídicas de direito privado,
fundamenta-se em quatro pilares argumentativos:
(i) ausência de autorização constitucional;
(ii) indispensabilidade da estabilidade do serviço público para o seu exercício;
(iii) impossibilidade de delegação da prerrogativa da coercibilidade, atributo intrínseco ao
poder de polícia, por ser atividade típica de Estado, e
(iv) incompatibilidade da função de polícia com finalidade lucrativa.

ATENÇÃO!!! Cumpre ressaltar a única fase do ciclo de polícia que, por sua natureza, é
absolutamente indelegável: a ordem de polícia, ou seja, a função legislativa. Os atos de
consentimento, de fiscalização e de aplicação de sanções podem ser delegados a estatais
que, à luz do entendimento desta Corte, possam ter um regime jurídico próximo daquele
aplicável à Fazenda Pública.

9. Atributos do Poder de Polícia:

1. DISCRICIONARIEDADE: Consiste na liberdade conferida pelo legislador ao administrador para


escolher o melhor momento de atuação ou a sanção mais adequada. Porém, o poder de polícia
também pode se manifestar por atos vinculados. Ex: Licenças para construir.

2. AUTOEXECUTORIEDADE: Prerrogativa da administração de implementar seus atos sem a


participação do Judiciário. O contraditório é diferido, pois em caso excepcional, a Administração
pode praticar ato de polícia para impedir prejuízo à coletividade, conferindo direito de defesa após
a prática do ato.

⮚ Obs.: Alguns atos de polícia NÃO possuem o atributo, a exemplo da multa que não é
adimplida e a respectiva cobrança ocorre por execução fiscal.

EXECUTORIEDADE X EXIGIBILIDADE
. Executoriedade (executoriedade propriamente dita ou direta): o Administrador
utiliza meios diretos de coerção para implementar a vontade administrativa.
. Exigibilidade (executoriedade indireta): meios indiretos de coerção.

3. COERCIBILIDADE (OU EXIGIBILIDADE): Impõem restrições ou condições a serem cumpridas pelos


particulares. Há atos que são despidos de coercibilidade, a exemplo da licença solicitada pelo
particular.

10. Prazo para aplicar penalidades:


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● Prazo prescricional de 5 anos (art. 1º, Lei nº 9783/99). EXCEÇÃO: se o fato objeto da ação punitiva da
Administração também constituir crime, o prazo prescricional será pautado no prazo da lei penal.
● Contagem tem início com a prática do ato lesivo pelo particular ou da cessação da conduta continuada
que configure infração de caráter permanente.
● Se não houver lei estadual ou municipal prevendo o prazo prescricional da sanção de polícia, este prazo
será de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/32.
● Prazo para aplicação de sanções administrativas pelo Tribunal de Contas da União: de acordo com o
STF, com exceção do ressarcimento de valores pleiteados pela via judicial decorrentes da ilegalidade de
despesa ou da irregularidade de contas, as sanções administrativas aplicadas pelo Tribunal de Contas da
União (TCU) são prescritíveis, aplicando-se os prazos da Lei 9.873/1999 (informativo 1089/2023).
Portanto, aplica-se o prazo prescricional de 5 anos.

11. Jurisprudências relevantes sobre o Poder de Polícia:

A Lei não pode estipular um prazo para que o chefe do Poder Executivo faça a sua
regulamentação. Ofende os arts. 2º e 84, II, da Constituição Federal norma de
legislação estadual que estabelece prazo para o chefe do Poder Executivo
apresentar a regulamentação de disposições legais. Exemplo: Art. 9º O Chefe do
Poder Executivo regulamentará a matéria no âmbito da Administração Pública
Estadual no prazo de 90 dias. Essa previsão é inconstitucional. STF. Plenário. ADI
4728/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/11/2021 (Info 1037).

A administração pública possui interesse de agir para tutelar em juízo atos em


que ela poderia atuar com base em seu poder de polícia. Um dos atributos do
poder de polícia é a autoxecutoriedade. Isso significa que a Administração Pública
pode, com os seus próprios meios, executar seus atos e decisões, sem precisar de
prévia autorização judicial. A Administração, contudo, pode, em vez de executar o
próprio ato, ingressar com ação judicial pedindo que o Poder Judiciário determine
essa providência ao particular. Ex: diante de uma irregularidade grave, a
Administração Pública poderia, em tese, interditar o estabelecimento. Se ela, em
vez de executar esta ordem diretamente, ajuíza ação pedindo que o Poder
Judiciário determine essa providência, tal ação não pode ser julgada extinta por
falta de interesse de agir. A autoexecutoriedade não retira da Administração
Pública a possibilidade de valer-se de decisão judicial que lhe assegure a
providência fática que almeja, pois nem sempre as medidas tomadas pelo Poder
Público no exercício do poder de polícia são suficientes. STJ. 2ª Turma. REsp
1651622/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/03/2017.

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI MARIA DA PENHA

1. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

1. O conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher é extraído do art. 5º, conjugado com o art.
7º, ambos da Lei 11.340/06. De forma genérica, são exigidos três requisitos para a configuração de
violência doméstica:
1) A vítima deve ser mulher. (Aqui é importante ser cuidadoso, uma vez que há jurisprudência do STJ
reconhecendo o direito de transexuais à alteração do registro civil, mesmo sem realizar a cirurgia de
redesignação sexual, logo a este seria extensível a proteção da Lei Maria da penha.)

2) Deve ocorrer uma das hipóteses do artigo 5º da referida lei:

● A violência deve ter ocorrido âmbito da unidade doméstica


● A violência deve ter ocorrido âmbito da família
● Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação (SUM. 600, STJ)

3) Produção de forma de violência prevista nos incisos do art. 7º, Lei 11.340/06:
● Violência física
● Violência patrimonial
● Violência sexual
● Violência moral
● Violência psicológica (ex.: violação da intimidade da mulher)

2. Considerações importantes:
● Não há necessidade de habitualidade. O art. 5º, caput refere-se apenas à ação ou omissão.
● É indispensável que ocorra uma violência de gênero, tal qual expresso no caput do art.5º. Ausente
esta violência de gênero, não se aplica a Lei Maria da Penha.
● Para o STJ há presunção legal da hipossuficiência da mulher vítima de violência doméstica: não
depende da demonstração de concreta fragilidade, física, emocional ou financeira.

PARA AS PROVAS DISCURSIVAS...


STJ – presunção legal de vulnerabilidade
Doutrina – Há de fazer uma diferenciação:
- Violência perpetrada por um homem contra a mulher: presunção absoluta de vulnerabilidade
- Violência perpetrada por uma mulher contra outra: presunção relativa de vulnerabilidade

3. SUJEITOS DO DELITO

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1. SUJEITO PASSIVO: A Lei Maria da Penha aplica-se exclusivamente à mulher (violência de gênero),
independentemente da orientação sexual.

● Atenção: O homem pode ser vítima de violência doméstica e familiar, porém sem a possibilidade
de aplicação da Lei Maria da Penha. Isso porque a Lei Maria da Penha exige uma qualidade especial,
qual seja, ser mulher. Assim, se a violência doméstica sofrida pelo sujeito do sexo masculino
qualificar o crime de lesão corporal, aplica-se art.129, §9º, do CP.

● Ressalta-se que, para a doutrina majoritária e os Tribunais Superiores, é possível que os


transgêneros e transexuais sejam vítimas no contexto da violência doméstica e familiar contra a
mulher. Para o STJ, o fato de a ofendida ser transexual feminina não afasta a proteção legal,
tampouco a competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar

2. SUJEITO ATIVO: Pode ser tanto o homem quanto a mulher. Assim, é possível aplicar a Lei à relações
homoafetivas, bem como a conflitos que envolvem mãe e filha, irmãs, ou mesmo sogra e nora.

4. ELEMENTO SUBJETIVO

1. Para a doutrina amplamente majoritária: apenas crimes dolosos podem atrair a aplicação da Lei Maria
da Penha.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

2. Cuidado! Apesar de o STF não ter enfrentado diretamente a questão no julgamento da ADI 4.424/DF (j.
09/02/ 2012), o Plenário concluiu que o crime de lesão corporal praticada contra a mulher em âmbito
doméstico será de ação penal pública incondicionada, mesmo que de natureza leve ou culposa. Logo,
por via oblíqua as infrações penais culposas também se sujeitam à incidência da Lei Maria da Penha. O
mesmo se aplica no caso da contravenção penal de vias de fato:

Em caso de vias de fato, se praticada em contexto de violência doméstica ou


familiar, não há falar em necessidade de representação da vítima para a
persecução penal. STJ, AgRg no HC 713415, j. em 22/02/2022.

5. HIPÓTESES DE CONFIGURAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

1. A ação ou omissão da qual resulta a violência doméstica não precisa ser necessariamente uma infração
penal, ações que não são típicas, ou são praticadas no bojo de alguma excludente de ilicitude ou
culpabilidade, podem ser consideradas violência doméstica, mesmo não sendo punidas criminalmente.

2. NO ÂMBITO DA UNIDADE DOMÉSTICA, compreendida como o espaço de convívio permanente de


pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas
● Não se exige o vínculo familiar para a caracterização do âmbito de unidade doméstica, sendo
necessário apenas que o espaço seja de convivência permanente incluindo-se as pessoas agregadas
esporadicamente.
● Nesse sentido, é possível aplicar a Lei Maria da Penha em relações de amigos que moram juntos, ou,
ainda, em violência perpetrada contra empregada doméstica, desde que presentes os demais
requisitos, sobretudo a situação de vulnerabilidade.

3. NO ÂMBITO DA FAMÍLIA, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
● Nessa hipótese, deve-se haver o vínculo familiar, de origem biológica ou não.
● A violência pode ocorrer dentro ou fora do espaço habitado pelos familiares.
● Lembrando que não basta a relação de parentesco, sendo imprescindível a presença dos requisitos:
motivação de gênero e situação de vulnerabilidade.

4. EM QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação.

Vamos esquematizar?
ÂMBITO DA UNIDADE ÂMBITO DA FAMÍLIA. QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE
DOMÉSTICA AFETO

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

Espaço de convívio permanente Indivíduos que são ou se Em qualquer relação íntima de


de pessoas, COM OU SEM consideram aparentados, afeto, na qual o agressor conviva
VÍNCULO FAMILIAR, inclusive as unidos por laços naturais, por ou tenha convivido com a
esporadicamente agregadas. afinidade ou por vontade ofendida, INDEPENDENTEMENTE
expressa DE COABITAÇÃO.
Não se exige o vínculo familiar. Aqui importam os laços, pouco Aqui, o importante é que haja um
Leva em conta apenas o aspecto importando o lugar, pouco relacionamento entre duas
espacial. importando se há coabitação. pessoas, seja baseado na amizade
ou em qualquer outro
sentimento, desde que não seja
uma relação passageira.

● DICA DD: foi editada a lei 14.550/2023 que altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 e
garante que a Lei Maria da Penha seja aplicada em todos os casos de violência doméstica e
familiar “independentemente da causa ou da motivação” e da condição do agressor ou da
vítima.
● Note que o art. 40-A determina que a Lei será aplicada a todas as situações previstas no seu
art. 5º. (Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial).
● Conclui-se, portanto, que a lei continuou, acertadamente, delimitando a aplicação nas
hipóteses de violência de gênero definidas pelo art. 5°.

6. FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Note que o art. 7° faz uso da expressão "entre outras", portanto não se trata de um rol taxativo, mas
sim exemplificativo. Logo, é perfeitamente possível o reconhecimento de outras formas de violência
doméstica e familiar contra a mulher. Tem-se aí verdadeira hipótese de interpretação analógica.

1. VIOLÊNCIA FÍSICA– Entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal

2. VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA – entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
diminuição da autoestima, lhe prejudique o pleno desenvolvimento, ou que vise degradar ou controlar
suas ações de maneira geral

Lei 13.772/2018: acrescenta um novo crime ao Código Penal - Crime de registro não
autorizado da intimidade sexual (art. 216-B).

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

Promoveu ainda uma pequena mudança na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) para
deixar expresso que a violação da intimidade da mulher é uma forma de violência
doméstica, classificada como violência psicológica.

3. VIOLÊNCIA SEXUAL- entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que
a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto
ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

4. VIOLÊNCIA PATRIMONIAL - entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração,
destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

5. VIOLÊNCIA MORAL - entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

8. FORMAS DE PREVENÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA

Art. 8o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de
um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-
governamentais, tendo por diretrizes, dentre outras:

● A integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as


áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação;
● A promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes;
● A implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas
Delegacias de Atendimento à Mulher
● A capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros
e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de
gênero e de raça ou etnia;

● DICA DD: foi editada a Lei nº 14.541/2023, dispondo sobre a criação e funcionamento ininterrupto
de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deam). Destaca-se que:
● O Poder Público deverá prestar a assistência psicológica e jurídica à mulher vítima de violência;
● A finalidade da Deam é atender todas as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, crimes
contra a dignidade sexual e feminicídios.
● Atendimento em sala reservada e, preferencialmente, por policiais do sexo feminino.
● Nos municípios onde não houver Deam, deve priorizar o atendimento da mulher vítima de violência
por agente feminina especializada.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

● Por fim, a Deam deverá disponibilizar número de telefone ou outro mensageiro eletrônico destinado
ao acionamento imediato da polícia em casos de violência contra a mulher.

9. DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA FAMILIAR

1. Ao tratar sobre a assistência à mulher em condição de violência doméstica (art. 9º), o legislador
possibilitou a decretação judicial de diversas ações e programas de auxílio por prazo determinado para
a vítima, dentre as quais:
● Possibilidade de remoção prioritária da servidora pública, integrante da administração direta e
indireta.
● Encaminhamento à assistência judiciária, inclusive para ajuizamento da ação de separação judicial,
de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável.
● Manutenção do vínculo trabalhista pelo prazo de até seis meses quando necessário o afastamento
da vítima de seu local de trabalho.

⮚ Obs.: Segundo o STJ, o INSS deverá arcar com a subsistência das mulheres que precisaram se
afastar do trabalho para se proteger de violência doméstica. Tais situações ofendem a
integridade física ou psicológica da vítima, o que justifica o direito ao “auxílio-doença.

● Prioridade para matricular seus dependentes em instituição de educação básica mais próxima de
seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos
comprobatórios do registro da ocorrência policial. (independentemente de vaga, cf. art. 23, V)

2. Considerações importantes:
● Se a vítima e o agressor forem casados ou viverem em união estável, a mulher deverá ser
encaminhada à assistência judiciária para que possa ter a oportunidade de, assim desejando,
desvincular-se formalmente do marido/companheiro agressor por meio da ação judicial própria

● O autor de violência doméstica praticada contra mulher terá que ressarcir os custos relacionados
com os serviços de saúde prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às vítimas de violência
doméstica e familiar e com os dispositivos de segurança utilizados pelas vítimas para evitar nova
violência.
⋅ O ressarcimento não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e
dos seus dependentes;
⋅ O fato de o agressor ter feito o ressarcimento não configura atenuante (art. 65, III, b, CP);
⋅ O ressarcimento não enseja possibilidade de substituição da pena aplicada (SUM 588 STJ).

10. DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

1. Trata-se de tema rotineiramente abordado em prova de carreiras policiais, uma vez que é direito da
mulher ser atendida de forma especializada, ininterrupta e preferencialmente, por servidoras do sexo
feminino. Como se depreende do texto legal, não há uma necessidade absoluta de que o atendimento
seja realizado por Mulher.

2. Os arts. 11 e 12 da Lei Maria da Penha tratam das providências que devem ser tomadas pela autoridade
policial quando houver crime praticado no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Exemplos:
● Garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao
Poder Judiciário;
● Fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver
risco de vida;
● Ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada;
● Remeter, no prazo de 48 horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a
concessão de medidas protetivas de urgência;
⮚ Obs.: Note que a autoridade policial não tem legitimidade para aplicar diretamente a medida
protetiva ou representar por ela. O delegado apenas encaminha ao juiz, em 48 horas, quando
há pedido da ofendida!

● Determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames
periciais necessários.
⮚ Obs.: Há uma mitigação da obrigatoriedade do exame de corpo de delito, pois o art. 12, §3º
prevê que serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos
fornecidos por hospitais e postos de saúde.

● Verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de


existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição
responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos do Estatuto do
Desarmamento.

● Ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais,
indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;
⮚ Obs.: Nessa toada, é igualmente importante que o delegado verifique se há, no banco de
dados criado pela Lei n. 13.829/19 (que inseriu o art. 38-A na Lei), eventual registro de
medida protetiva de urgência anteriormente determinada em detrimento do agressor.

11. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA

1. Conceito: As medidas protetivas de urgência são medidas adotadas para proteger a mulher em situação
de vulnerabilidade.

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

2. Natureza Jurídica: Possuem natureza de medidas cautelares, razão pela qual se submetem, em regra, à
cláusula de reserva de jurisdição, devendo, portanto, apresentar os seguintes pressupostos:
● Fumus comissi delicti;
● Periculum libertatis.

⮚ Obs.1: As medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do art. 22 da Lei Maria da
Penha têm natureza de cautelares penais, não cabendo falar em citação do requerido para
apresentar contestação, tampouco a possibilidade de decretação da revelia, nos moldes da lei
processual civil. (Info 756, STJ/2022)
⮚ Obs.2: Medidas cautelares situacionais: As medidas protetivas de urgência sujeitam-se à cláusula
rebus sic stantibus, de modo que sua manutenção depende da situação fática de perigo que
legitimou a sua decretação. É nesse sentido a recente decisão do STJ: “É ilegal a fixação ad eternum
de medida protetiva, devendo o magistrado avaliar periodicamente a pertinência da manutenção
da cautela imposta. (Info 756, STJ/2022)
⮚ Obs.3: Independentemente da extinção de punibilidade do autor, a vítima de violência doméstica
deve ser ouvida para que se verifique a necessidade de prorrogação/concessão das medidas
protetivas (Informativo 770, STJ/2023).

3. Autonomia das medidas protetivas: Antes, entendia-se que poderiam ser requeridas e deferidas
durante a investigação preliminar e também após a instauração do processo penal. Inclusive, para o STJ,
ocorrendo a conclusão do inquérito policial sem indiciamento do recorrente, é indevida a manutenção
de medidas protetivas. Contudo, em reação legislativa, a partir da lei 14.550/2023, que alterou a lei
Maria da Penha, as medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da
tipificação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de inquérito
policial ou do registro de boletim de ocorrência. Isso significa que, visando uma maior proteção à
vítima, ou seja, desvinculando a aplicação das medidas protetivas de qualquer procedimento ou ação
penal, a legislação define a natureza autônoma das medidas protetivas.

4. Possibilidade de aplicação de mais de uma medida protetiva concomitantemente: As medidas


protetivas de urgência poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente (tanto com outras medidas
protetivas como com outras medidas cautelares do art. 319, CPP).

5. Legitimidade para conceder as medidas protetivas de urgência: As medidas protetivas de urgência, em


regra, são concedidas pela autoridade judicial, após requerimento do Ministério Público ou da ofendida
– cujo pedido é formulado perante a autoridade policial.

⮚ EXCEÇÃO: A medida protetiva de AFASTAMENTO DO LAR pode, excepcionalmente, ser concedida


pelo Delegado de polícia, ou até mesmo pelo policial, nos seguintes casos:
● Pelo Delegado de Polícia – quando o Município não for sede de comarca (art. 12-C, II)

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CADERNO DE REVISÃO – SEMANA 01/12

● Pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível
no momento da denúncia (art. 12-C, III)

⮚ Nas hipóteses em que o afastamento do lar for determinado pelo Delegado ou Policial, o juiz será
comunicado no prazo máximo de 24 horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a
revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente.

CONCLUSÃO: Em regra, as medidas protetivas de urgência somente podem ser concedidas pela
autoridade judiciária, por se tratar de medida submetida à cláusula de reserva de jurisdição, após o
requerimento do MP ou da ofendida. No entanto, em havendo risco à vida ou integridade física ou
psicológica da ofendida ou de seus dependentes, poderá o Delegado de Polícia ou o próprio policial
determinarem o AFASTAMENTO IMEDIATO DO LAR, nas hipóteses previstas em lei!

PEGADINHA DE PROVA:
* REGRA: O delegado tem 48 horas para enviar a representação da vítima ao juiz (art. 12, III), e o juiz
também possui 48 horas para tomar as devidas providências (art. 18, caput)
* EXCEÇÃO: Em caso de medida protetiva de afastamento do lar concedida pelo Delegado de Polícia ou
pelo Policial, nas hipóteses previstas em lei, a comunicação ao juiz deve ser feita em 24 horas, tendo este
o mesmo prazo de 24 horas para decidir sobre ela. (Art. 12-C, §1º).

6. As medidas protetivas podem ser concedidas de ofício pelo juiz?


● 1ª C – NÃO! Em observância ao Sistema Acusatório, que inclusive foi reforçado com o advento do
Pacote Anticrime, não pode o juiz, de ofício, decretar as medidas protetivas de urgência. Isso
porque é vedado, ao magistrado, decretar qualquer medida cautelar de ofício. Obs.: há quem
defenda que, nas hipóteses de afastamento imediato do lar (art. 12-C, inc. I) ou decretação da prisão
preventiva, o juiz poderia agir de ofício.

● 2ª C – SIM! Apesar de o dispositivo não prever expressamente, seria possível que as medidas
protetivas fossem concedidas pelo Juiz de ofício. Isso porque o juiz, ao conceder medidas protetivas
de urgência de ofício, não estaria promovendo a persecução penal contra o acusado, mas apenas
tomando medidas que visam a beneficiar a vítima de violência doméstica. Inclusive, o próprio
parágrafo primeiro determina que as medidas devem ser concedidas de imediato,
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, confirmando
a possibilidade de o Juiz poder concedê-las de ofício.

CUIDADO! Embora o art. 19, §1º autorize o juiz a apreciar as medidas protetivas sem a prévia oitiva do MP,
o mesmo não ocorre nas hipóteses de alteração ou reforço das medidas já concedidas, em que se exigirá a
prévia oitiva do MP, à luz do art. 19, §3º.

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CONCESSÃO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE CONCESSÃO DE NOVAS MEDIDAS PROTETIVAS OU


URGÊNCIA REVISÃO
Art. 19, §1º Art. 19, §3º
Dispensam prévia oitiva do MP Exigem prévia oitiva do MP
§ 1º - As medidas protetivas de urgência poderão § 3º - Poderá o juiz, a requerimento do Ministério
ser concedidas de imediato, independentemente Público ou a pedido da ofendida, conceder novas
de audiência das partes e de manifestação do medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já
Ministério Público, devendo este ser prontamente concedidas, se entender necessário à proteção da
comunicado ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido
o Ministério Público.

7. Descumprimento das medidas protetivas de urgência: Quais as consequências caso o indivíduo


descumpra a decisão judicial que impôs a medida protetiva de urgência?
● É possível a execução da multa imposta;
● É possível a decretação de sua prisão preventiva (art. 313, III, do CPP) – caso presentes também os
indícios do art. 312, CPP
● O agente responderá pelo crime do art. 24-A da Lei nº 11.340/2006, o que não exclui a aplicação de
outras sanções cabíveis.

8. Considerações sobre o crime de descumprimento de medida protetiva de urgência (art. 24-A):

a) Sujeito ativo: Comete este delito a pessoa (homem ou mulher) que descumpre a medida protetiva
de urgência imposta com base na Lei Maria da Penha. Admite participação.

b) Sujeito passivo: O sujeito passivo é o Estado. Em relação à vítima mediata ou secundária, há


divergência: uns defendem que a vítima secundária é a mulher vítima da violência doméstica,
enquanto outros entendem que é o juiz que expediu a ordem.
c) Tipo objetivo:
⋅ Descumprir: consiste em desobedecer, ou seja, não atender, não cumprir a decisão judicial.
⋅ Ação ou omissão: pode ser praticado mediante conduta comissiva (ex: aproximar-se da vítima
mesmo havendo uma proibição) ou omissiva (ex: não pagar os alimentos provisórios fixados pelo
juiz como medida protetiva).
⋅ Decisão judicial: deve-se entender em sentido amplo. O fato de a medida em questão ter sido
decretada por um juízo cível não afasta a tipificação do delito do delito. É nesse sentido, aliás, o
teor do art. 24-A, §1º, da LMP.
⋅ Medidas protetivas de urgência previstas na Lei Maria da Penha: O crime somente se verifica se
o agente descumprir uma medida protetiva prevista na Lei nº 11.340/2006. Se o sujeito
descumprir medida protetiva atípica, ou seja, não prevista expressamente na Lei Maria da Penha,
não haverá o crime do art. 24-A.

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⋅ Reserva de jurisdição: Importante esclarecer que apenas o juiz (ou Tribunal) pode impor as
medidas protetivas de urgência. A autoridade policial ou o membro do Ministério Público não
gozam dessa possibilidade.
⋅ Desobediência: O art. 24-A é um tipo especial de desobediência (art. 330 do CP).
⋅ Não se exige violência ou grave ameaça: O crime do art. 24-A pode se consumar mesmo que o
sujeito ativo não tenha agido com violência ou grave ameaça. Se houver violência ou grave
ameaça, o agente poderá responder pelo delito do art. 24-A em concurso com outros delitos.

d) Tipo subjetivo: O crime é punido a título de dolo. Não há crime se o sujeito age com culpa. Ex: vai a
uma festa de aniversário de amigos em comum e ali encontra a ex-mulher sendo que havia uma
ordem de não aproximação.

e) Consumação e tentativa: O crime se consuma no momento em que o agente faz a conduta proibida
na decisão judicial (ex: entra em contato com a ex-mulher, mesmo isso tendo sido proibido) ou,
então, no instante em que termina o prazo que havia sido fixado para que o sujeito adotasse
determinado comportamento (ex: juiz fixou o prazo de 24h para que o agressor deixasse a casa; após
isso, sem cumprimento, o crime já terá se consumado).

f) Fiança: Na hipótese de prisão em flagrante pelo crime do art. 24-A, apenas a autoridade judicial
poderá conceder fiança. Trata-se de exceção à regra do art. 322 do CPP. Cuidado!!!

CUIDADO! Veda-se a concessão de fiança pela autoridade policial somente no delito do


art. 24-A! Caso seja praticado outro delito, com pena máxima de 4 anos, ainda que no
âmbito da Lei Maria da Penha, será possível a concessão da fiança, nos moldes do art.
322 do CPP!

g) Considerações gerais sobre o crime do art. 24-A:


● Trata-se de crime próprio, pois exige característica especial do agente.
● Formal, pois se consuma independentemente da existência de um resultado material
● Doloso, pois não está presente a tipicidade específica exigida pelos crimes culposos.
● Instantâneo, pois se aperfeiçoa de imediato.
● Plurissubsistente, pois sua conduta é fracionável, admitindo-se a tentativa
● Ação penal: A ação penal é pública incondicionada.
● Apesar de parte da doutrina entender que se trata de infração de menor potencial ofensivo (PPL
não ultrapassa 2 anos), a jurisprudência é extremamente refratária à aplicação de qualquer
medida despenalizadora em se tratando de delitos que envolvam violência doméstica. (SUM
536, STJ)

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NÃO CONFUNDA: Em se tratando de crimes praticados com violência doméstica e familiar


contra a mulher NÃO SE APLICA A SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO, ENTRETANTO
É POSSÍVEL A CONCESSÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA (Código Penal).

13. PRISÃO PREVENTIVA

1. A Lei Maria da Penha, em seu art. 20, prevê a possibilidade de decretação da cautelar, pelo juiz, de ofício,
em qualquer fase da persecução penal, o que, para a doutrina amplamente majoritária, violaria do
Sistema Acusatório.

2. O STJ decidiu que NÃO cabe decretação de prisão de ofício nem no rito da Lei Maria da Penha (2022)

3. Após o advento do Pacote Anticrime, como proceder?


⦁ Prova objetiva – Verificar se a assertiva contempla a letra da lei ou a posição da doutrina e da
jurisprudência do STJ. Pois na lei admite a possibilidade de o juiz decretar a prisão preventiva de
ofício, seja em fase de inquérito policial ou instrução penal. Já em decisão do STJ, não cabe preventiva
de ofício.
⦁ Prova discursiva – é imprescindível trazer os dois posicionamentos sobre o tema, no sentido de que,
para uma primeira corrente, é possível a decretação de ofício pelo juiz, em razão do princípio da
especialidade, enquanto para uma segunda corrente, é inviável tal decretação, sob pena de violar o
Sistema Acusatório.

4. Prisão preventiva em razão do descumprimento das medidas protetivas de urgência (art. 313, III, CPP):
Não basta o mero descumprimento das medidas protetivas de urgência, sendo imprescindível, ainda,
preencher os requisitos previstos no art. 312, CPP.

5. Segundo a jurisprudência do STJ, NÃO É POSSÍVEL a decretação de prisão preventiva do autor de


contravenção penal, mesmo que tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica, mesmo que
ele tenha descumprido medida protetiva imposta (STJ. 6º turma. HC437.535).

14. RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO NOS CRIMES PRATICADOS NO CONTEXTO DA LEI 11.340/06

1. Ao contrário do CPP, a retratação da representação nos crimes praticados no contexto da Lei Maria da
Penha deve ser feita até o RECEBIMENTO da denúncia.

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL LEI 11.340/06


A retratação poderá ocorrer até o A retratação poderá ocorrer antes do recebimento
oferecimento da denúncia (art. 25) da denúncia (art. 16)

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2. Essa retratação deve ser feita perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade.
Portanto, se a mulher, vítima de crime de ação pública condicionada, comparecer ao cartório da vara e
manifestar interesse em se retratar da representação, ainda assim o juiz deverá designar audiência para
que ela confirme essa intenção e seja ouvido o MP.

3. A realização da audiência prevista no art. 16 da Lei somente se faz necessária se a vítima houver
manifestado, de alguma forma, em momento anterior ao recebimento da denúncia, ânimo de desistir da
representação. STJ. 5ª Turma. (Info 743/STJ, 2022).

15. VEDAÇÕES PREVISTAS NA LEI MARIA DA PENHA

Nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, NÃO se admite:


● Aplicação da pena de "cesta básica" (art. 17)
● Quaisquer espécies de prestação pecuniária (art. 17 da Lei c/c art. 45, §§ 1º e 2º, CP);
● Pagamento isolado de multa (art. 44, § 2º do CP).
● Substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos (SUM 588, STJ)
● Aplicação do princípio da insignificância (SUM 589, STJ)
● Aplicação dos institutos despenalizadores da Lei nº 9099 (suspensão condicional do processo e
transação penal)

16. AÇÃO PENAL NOS CRIMES DA LEI MARIA DA PENHA

1. Inicialmente, cumpre salientar que não são todos os crimes praticados no contexto de violência
doméstica e familiar contra a mulher que são de ação penal pública incondicionada.

● Se o crime praticado no âmbito de violência doméstica e familiar contra a mulher estiver previsto
no CÓDIGO PENAL como um crime condicionado à representação (ex.: ameaça), assim será. As
ameaças no contexto de violência doméstica precisarão de representação da ofendida pois esta é a
regra geral do Código Penal - e a Lei Maria da Penha não afasta a incidência do Código Penal.

● Por outro lado, se o crime praticado no âmbito de violência doméstica e familiar contra a mulher
estiver previsto NA LEI DE JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS como um crime condicionado à
representação, como é o caso da lesão corporal leve e culposa, essa regra não será aplicada aos
crimes praticados no contexto de violência doméstica pois a própria Lei Maria da Penha afasta a
incidência da Lei 9.099/95.

Súmula 542 - STJ: a ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

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17. COMPETÊNCIA NA LEI MARIA DA PENHA

1. Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher


● Não se confunde com os Juizados Especiais Criminais (cuja aplicação, inclusive, é expressamente
vedada pela Lei Maria da Penha). Trata-se de um órgão fracionário do Poder Judiciário.
● A criação do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher é facultativa, estando inserida
no âmbito da autonomia política de cada ente federativo
● Possui competência mista, ou seja, cível e criminal. Ao mesmo tempo em que se julga o delito
praticado em situação de violência doméstica e familiar contra a mulher, praticam-se atos de
natureza cível, como a separação judicial, entre outros.

CUIDADO: Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e


Familiar contra a Mulher a pretensão relacionada à partilha de bens.

● O STF atribuiu INTERPRETAÇÃO CONFORME, por unanimidade, à primeira parte do art. 3º-C do CPP,
para esclarecer que as normas relativas ao juiz das garantias não se aplicam aos casos de violência
doméstica e familiar.

2. Quem julga o crime de estupro de vulnerável praticado por pai contra filha de 4 anos: vara criminal
“comum” ou vara de violência doméstica e familiar contra a mulher?

● Posição da 5ª Turma do STJ: Se o fato de a vítima ser do sexo feminino não foi determinante para
a caracterização do crime de estupro de vulnerável, mas sim a tenra idade da ofendida, que residia
sobre o mesmo teto do réu, que com ela manteve relações sexuais, não há que se falar em
competência do Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a MulheR.
● Julgado recente da 6ª Turma do STJ: A idade da vítima é irrelevante para afastar a competência da
vara especializada em violência doméstica e familiar contra a mulher e as normas protetivas da Lei
Maria da Penha. STJ. 6ª Turma. HC 121813-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
20/10/2020 (Info 682).

3. Em caso de ameaça por redes sociais ou pelo Whatsapp, o juízo competente para deferir as medidas
protetivas é aquele no qual a mulher tomou conhecimento das intimidações.

18. REPARAÇÃO DE DANOS NO ÂMBITO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

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1. A sentença penal condenatória, depois de transitada em julgado, produz diversos efeitos. Um deles é
que a condenação gera a obrigação do réu de reparar o dano causado. Inclusive, à luz do CPC (art. 515),
a sentença condenatória constitui-se em título executivo judicial.

2. Assim, a vítima (ou seus sucessores), na posse da sentença que condenou o réu, após o seu trânsito em
julgado, dispõe de um título que poderá ser executado no juízo cível para cobrar o ressarcimento pelos
prejuízos sofridos em decorrência do crime.

3. O art. 387, IV, do CPP prevê que o juiz, ao condenar o réu, já estabeleça na sentença um valor mínimo
que o condenado estará obrigado a pagar a título de reparação dos danos causados. Acerca da fixação
desse valor mínimo, atente-se à algumas considerações:
● Para que seja fixado o valor da reparação deverá haver pedido expresso e formal do MP ou do
ofendido;
● Não é necessário que o MP ou o ofendido, ao fazer o pedido, apontem o valor líquido e certo
pretendido;
● A posterior reconciliação entre a vítima e o agressor não é fundamento suficiente para afastar a
necessidade de fixação do valor mínimo previsto no art. 387, inciso IV, do CPP
● A reparação dos danos abrange tanto os danos materiais como os danos morais:

⋅ Danos materiais - o juiz somente poderá fixar a indenização se existirem provas nos autos que
demonstrem os prejuízos sofridos pela vítima em decorrência do crime.

⋅ Danos morais - Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e
familiar, o valor mínimo a ser fixado a título de danos morais independe de instrução
probatória. (O dano moral é in re ipsa)

19. ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS IMPORTANTES

Não cabe o arbitramento de aluguel em desfavor da coproprietária vítima de


violência doméstica, que, em razão de medida protetiva de urgência decretada
judicialmente, detém o uso e gozo exclusivo do imóvel de cotitularidade do
agressor. STJ. 3ª Turma. REsp 1966556-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 08/02/2022 (Info 724).

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