Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMOS TOPIFICADOS
SEMANA 01
RETA FINAL
Sumário
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ............................................................. 7
1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS...................................................................................................................... 7
2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ...................................................................................................... 8
2.1 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos ............................................................................................................. 8
2.2 Geração dos direitos fundamentais: ....................................................................................................................... 8
2.3. Características dos direitos fundamentais ............................................................................................................ 11
2.4. Dimensões dos Direitos Fundamentais ................................................................................................................. 12
2.5. Destinatários ......................................................................................................................................................... 13
2.6. Os Direitos Fundamentais Na Constituição Federal De 1988 ................................................................................ 13
2.7 Hierarquia Dos Tratados Internacionais De Direitos Humanos .............................................................................. 14
3. ALGUNS DIREITOS INDIVIDUAIS – rol do art. 5º .......................................................................................... 14
4. DIREITOS SOCIAIS ..................................................................................................................................... 23
DIREITO PROCESSUAL PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ....................................................................... 26
1. PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL........................................................................................................... 26
2. PRETENSÃO PUNITIVA ................................................................................................................................. 26
3. SISTEMAS DO PROCESSO PENAL ................................................................................................................. 27
4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL ................................................................................... 28
4.1 Princípios Constitucionais Explícitos...................................................................................................................... 28
4.2 Princípios Constitucionais Implícitos ...................................................................................................................... 35
5. OUTROS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL ................................................................................................ 38
6. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL ................................................................................................................. 38
6.1 Aplicação da Lei Processual no Tempo .................................................................................................................. 38
6.2 Aplicação da Lei Processual no Espaço:.................................................................................................................. 39
6.3 Aplicação da Lei Processual em Relação às Pessoas .............................................................................................. 39
7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL ............................................................................................. 41
8. FONTES ........................................................................................................................................................ 41
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ............................................................. 43
1. NATUREZA JURÍDICA DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. ......................................................................... 43
3. COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS DE QUALQUER NATUREZA ........................................................................ 44
4. QUEBRA DO SIGILO DE DADOS TELEFÔNICOS ............................................................................................. 44
5. QUEBRA DE ERB ........................................................................................................................................... 45
6. MOMENTO DE DECRETAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ................................................................ 47
7. DA NECESSIDADE DE CONTRADITÓRIO. ...................................................................................................... 48
8. REQUISITOS PARA A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA: ................................................................................... 48
9. SIGILO PROFISSIONAL DO ADVOGADO ....................................................................................................... 50
RETA FINAL
1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
b) Legalidade: O princípio da legalidade significa que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
algo que não esteja previamente estabelecido na própria CR e nas normas jurídicas dela derivadas.
c) Isonomia:
● Isonomia formal: Igualdade perante a lei;
● Isonomia Material: Tratar os desiguais na medida de sua desigualdade.
7
RETA FINAL
Obs.1: STF – É possível estabelecer, em algumas hipóteses, critérios diferenciadores para admissão de
candidato em concursos públicos, sem que isso viole a isonomia, desde que sejam observados 2 requisitos:
(1) Previsão legal anterior definindo os critérios de admissão para o cargo; e
(2) Razoabilidade da exigência, decorrente da natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.
Obs.2: STF - É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia, a exigência de requisitos legais
diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-servidores públicos em relação a seus
respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras.
Observação: A teoria da reserva do possível é uma limitação fática e jurídica oponível à realização dos direitos
fundamentais, sobretudo os de cunho prestacional. Como é cediço, o Estado não possui recursos materiais
ilimitados, o que leva os administradores a realizarem escolhas trágicas, alocando esses recursos em ações
prioritárias. O limite da reserva do possível é o mínimo existencial, núcleo da dignidade da pessoa humana. -
Nesse contexto, a reserva do possível deve ser analisada sob três aspectos:
I- Disponibilidade fática dos recursos para efetivação dos direitos fundamentais.
II- Disposibilidade jurídica dos recursos, mediante autorização orçamentária.
III- Razoabilidade e proporcionalidade da prestação, levando-se em consideração a universalização da
demanda, não apenas o indivíduo. Nesse sentido, não se pode exigir judicialmente do Estado uma prestação
que não possa ser concedida a todos os indivíduos que se encontrem em situação idêntica, sob pena de
violação do princípio da isonomia.
Obs.: O efeito bipolar dos direitos de 2ª dimensão e princípio da vedação ao retrocesso. Os Direitos de 2ª
geração (direitos sociais) não possuem apenas um viés positivo, mas também um viés negativo.
● Viés negativo - Fruto da vedação ao retrocesso. − Uma vez implementado o direito de 2ª dimensão
por medida estatal, o próprio Estado passa a ter o dever de se abster de retornar ao status a quo de
quando o direito ainda não tinha efetividade. Ou seja, o Estado não pode promover um retrocesso
9
RETA FINAL
social no sentido revogar ou enfraquecer normas que já alcançaram o grau de densidade normativo
adequado. Ex.: 13º salário.
● Viés positivo – Aqui a ideia não é só manter o status quo, mas também implementar/desenvolver
novos direitos sociais. E, enquanto não for implementado, o indivíduo possui o direito de exigir um
atuar do Estado com o intuito de realizá-lo. (Ideia de direitos prestacionais)
● São direitos transindividuais, isto é, direitos que são de várias pessoas, mas não pertencem a ninguém
isoladamente.
● Possuem caráter indivisível e são titularizados por toda a coletividade. Ex.: direito ao meio ambiente
● São também conhecidos como direitos de fraternidade/ direitos metaindividuais (estão além do
indivíduo) ou direitos supraindividuais (estão acima do indivíduo isoladamente considerado).
Vamos esquematizar?
Direitos de 1ª Direitos de 2ª Direitos de 3ª
GERAÇÃO/DIMENSÃO GERAÇÃO/DIMENSÃO GERAÇÃO/DIMENSÃO
Surgem com revoluções liberais, Surgem no final do século XIX e 2º metade do séc. XX, no pós
CONTEXTO burguesas, diante do início do século XX, diante do 2ª Guerra, ligados aos
HISTÓRICO nascimento do fenômeno do movimentos de melhoria da
constitucionalismo liberal. – constitucionalismo social. qualidade de vida dos
Séc. XIX. cidadãos
MARCOS Inglaterra – 1.215 – Magna Carta Constituição Mexicana de 1917
EUA – 1.776 – Declaração de Constituição Alemã de Weimar
Independência Americana de 1919
EUA – 1.787 – Constituição Rússia – 1.917/18 – Declaração
Americana do Povo Oprimido e
França – 1.789 – Revolução Trabalhador – Revolução Russa
Francesa Constituição Brasileira de
França – 1.791 – Constituição 1934.
Francesa
SINÔNIMOS direitos negativos, direitos de direitos sociais, econômicos e difusos e coletivos
abstenção. culturais direitos metaindividuais
Direitos positivos, direitos direitos supraindividuais
prestacionais
FUNDAMENTO Igualdade FORMAL Igualdade MATERIAL FRATERNIDADE
10
RETA FINAL
CONCEITO Buscam limitar o poder estatal, São direitos que impõem ao São direitos transindividuais,
impondo ao Estado obrigações Estado uma obrigação de fazer, isto é, titularizados por toda a
de não-fazer e se relacionam às de prestar. coletividade, não
pessoas, individualmente. Buscam viabilizar, através do pertencendo a uma pessoa
Estado, a satisfação das isoladamente.
necessidades básicas dos
indivíduos como forma de lhes Possuem caráter indivisível.
proporcionar uma vida digna.
EXEMPLOS Propriedade, igualdade formal Saúde, educação, moradia, Direito ao meio ambiente
(perante a lei), liberdade de segurança pública.
crença, de manifestação de
pensamento, direito à vida
4. DIREITOS DE QUARTA GERAÇÃO OU QUARTA DIMENSÃO: Não há consenso na doutrina sobre qual o
conteúdo desse tipo de direitos. Segundo o autor Paulo Bonavides os direitos de quarta dimensão seriam
fruto do processo de globalização dos direitos fundamentais, no sentido de uma universalização desses
direitos no plano institucional, o que corresponde à última fase da institucionalização do Estado Social, de
forma a sacramentar a evolução democrática e social alcançada até então.
● Historicidade: o que se entende por direitos fundamentais varia de acordo com o momento histórico,
não são conceitos herméticos e fechados, variando no tempo e no espaço.
● Inalienabilidade: são direitos sem conteúdo econômico patrimonial, não podem ser comercializados ou
permutados.
● Imprescritibilidade: são sempre exigíveis, ainda que não exercidos;
● Irrenunciabilidade: o indivíduo pode não exercer os seus direitos, mas não pode renunciá-los.
● Personalidade: não se transmitem.
● Concorrência e cumulatividade: são direitos que podem ser exercidos ao mesmo tempo.
● Proibição de retrocesso: não se pode retroceder nos avanços históricos conquistados.
11
RETA FINAL
Obs.: Eventual novo direito individual criado por meio de emenda constitucional é considerado cláusula
pétrea? R.: NÃO. Não é possível que o poder de reforma crie cláusulas pétreas. Apenas o poder constituinte
originário pode fazê-lo. Caso EC crie um novo direito fundamental, este não será cláusula pétrea. É preciso
distinguir, contudo, a situação em que uma EC apenas especifica, detalha ou incrementa um direito
fundamental já criado, sem inovar no rol de direitos. Nesse caso, ainda que introduzida por EC, a novidade
é considerada cláusula pétrea.
a) Dimensão subjetiva: Os direitos fundamentais conferem aos seus titulares o poder de exigir algo, seja
ação ou omissão.
b) Dimensão objetiva: Consiste em atribuir aos direitos fundamentais importância máxima dentro do
Ordenamento Jurídico: eles são a base, o eixo axiológico de todo o ordenamento jurídico.
Desdobramentos da dimensão objetiva dos DF’s
12
RETA FINAL
● Eficácia interpretativa dos direitos fundamentais: Com a dimensão objetiva, os direitos fundamentais
ganham um reforço na sua juridicidade, ganhando força no Ordenamento Jurídico e, além disso, se
tornam normas de eficácia irradiante, que, tendo como base o princípio da dignidade da pessoa
humana, irradiam para todo o Ordenamento Jurídico.
● Eficácia horizontal dos direitos fundamentais: Consiste na possibilidade de aplicação dos direitos
fundamentais nas relações jurídicas estritamente privadas. Em relação à eficácia horizontal dos
direitos fundamentais, pode-se destacar 2 teorias:
(1) Eficácia indireta ou mediata: os direitos fundamentais são aplicados de maneira reflexa, tanto
em uma dimensão proibitiva e voltada para o legislador, que não poderá editar lei que viole
direitos fundamentais, como, ainda, positiva, voltada para que o legislador implemente os direitos
fundamentais, ponderando quais devam aplicar-se às relações privadas;
(2) Eficácia direta ou imediata: alguns direitos fundamentais podem ser aplicados às relações
privadas sem que haja a necessidade de “intermediação legislativa” para a sua concretização.
● Eficácia vertical dos direitos fundamentais: Aplica-se à tradicional ideia de limitação de poder do
Estado e respeito aos direitos dos indivíduos, conferindo direitos básicos e garantias aos indivíduos.
Há um poder superior (Estado), em face do indivíduo, em posições diferentes (ESTADO X PARTICULAR);
● Eficácia diagonal dos direitos fundamentais: Consiste na incidência e observância dos direitos
fundamentais nas relações privadas marcadas por desigualdade de forças, ante a vulnerabilidade de
uma das partes. Ex.: demandas consumeristas e trabalhistas.
2.5. Destinatários
1. Os destinatários das normas dos direitos individuais, que são os direitos fundamentais, é o ser humano,
o indivíduo.
2. Podem ser brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil. Para a doutrina, os estrangeiros não
residentes no Brasil também são destinatários de direitos fundamentais!
3. Para a maioria da doutrina e o STF, as pessoas jurídicas de direito privado e de direito Público podem
ser titulares de direitos fundamentais.
1. O ordenamento jurídico brasileiro adotou um sistema aberto de direitos fundamentais no Brasil, não se
podendo considerar taxativo o rol do artigo 5º.
2. Nos aproximamos do denominado liberalismo igualitário, que busca se equilibrar entre a proteção das
liberdades civis e a redução das desigualdades sociais.
3. Princípio da indivisibilidade - os direitos das diferentes gerações não se excluem, na verdade, se
interpenetram, sofrendo influência mútua. Ou seja, uma geração fortalece o advento da outra.
13
RETA FINAL
1. Segundo o art. 5º, §3º da CF, os tratados internacionais sobre direitos humanos que observarem o
procedimento de incorporação análogo ao das Emendas Constitucionais terão paridade normativa, isto
é: terão status normativo de emendas constitucionais. Procedimento de incorporação:
● Aprovação em cada Casa do Congresso Nacional,
● Em 2 turnos de votação
● Com pelo menos 3/5 dos votos dos respectivos membros.
2. Os tratados internacionais de direitos humanos que não observarem o procedimento especial do art.
5º, §3º da CF terão hierarquia normativa supralegal: acima das leis e abaixo da Constituição.
3. Os Tratados Internacionais que não versam sobre direitos humanos terão hierarquia
infraconstitucional, com status normativo equivalente à lei ordinária.
RESUMINDO:
Tratado internacional SOBRE DIREITOS
HUMANOS, aprovado pelo mesmo rito da Status normativo de emenda constitucional.
Emenda Constitucional (art. 5º, §3º)
Tratado internacional SOBRE DIREITOS
HUMANOS, aprovado com quórum Status normativo de supralegalidade: superior
diverso das emendas constitucionais às leis e inferior à Constituição.
14
RETA FINAL
1. O direito à vida compreende o direito ao mínimo necessário a uma existência digna, que abrange:
● Direito à integridade física: direito à saúde, vedação de pena de morte, proibição do aborto, etc;
● Direito às condições materiais e espirituais mínimas necessárias a uma existência digna.
1. Concepções da igualdade:
● Concepção formal: é a igualdade perante a lei e perante o Estado. Por essa concepção, a igualdade
impede que os indivíduos sejam tratados pelos poderes públicos de maneira diversa. Trata-se de
uma concepção estática e negativa, insuficiente para solucionar as desigualdades sociais;
● Concepção material: representa o tratamento igual dos iguais e o tratamento desigual daqueles em
situações desiguais. Por essa concepção, a igualdade deve adotar critérios distintivos justos e
razoáveis, de modo que os poderes públicos devem adotar medidas concretas para reduzir ou
compensar desigualdades.
2. Dimensões da igualdade
● Dimensão objetiva: é a igualdade compreendida como princípio material estruturante do Estado
brasileiro que impõe o tratamento igual para os iguais e desigual para os desiguais, bem como ações
voltadas à redução das desigualdades sociais e regionais;
● Dimensão subjetiva: confere a indivíduos e grupos posições jurídicas de caráter negativo (proteção
contra diferenciações ou igualizações arbitrárias) e de caráter positivo (direito a exigir determinadas
prestações materiais e jurídicas destinadas à redução de desigualdades).
C. DIREITO À DIGNIDADE: É um valor, um princípio, servindo como parâmetro para a definição dos direitos
formal e materialmente fundamentais.
Análise pelo STF em ADPF (PSOL X União e Estados) – Concessão parcial de liminar para:
● Obrigar a União a liberar o saldo acumulado no FUNPEN;
● Implementação pelos juízes e Tribunais da audiência de custódia, no máximo em 90 (noventa) dias;
●
● Responsabilidade dos três poderes e de todos os entes Federativos.
● No julgado, entendeu-se que incumbiria ao STF retirar os demais poderes da inércia, coordenando ações
para resolver os problemas e monitorar resultados. Porém, NÃO cabe ao Judiciário definir o conteúdo
dessas políticas públicas (Ex: Medidas judiciais para abater o tempo de prisão).
D. DIREITO À SAÚDE:
1. A saúde é direito de todos e dever do Estado (art. 196 da CF/88), sendo assegurada por meio de
políticas sociais e econômicas que busquem:
● A redução do risco de doença e de outros agravos; e
● O acesso universal e igualitário às ações e serviços voltados à sua promoção, proteção e recuperação.
2. Cuidar da saúde da população é uma competência COMUM que deve ser exercida por todos os entes
federados. (art. 23, CF)
3. O SUS é compatível com o federalismo cooperativo, adotado pelo Brasil, segundo o qual existe um
entrelaçamento de competências e atribuições dos diferentes níveis governamentais.
● Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de
vacinação forçada)
● É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção
filosófica (Info 1003, STF)
● União não pode requisitar seringas e agulhas que já foram contratadas pelo Estado-membro para
o plano estadual de imunização e que ainda estão na indústria, apesar de já terem sido
empenhados (Info 1008, STF)
● STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos
grupos prioritários (Info 1007, STF)
● A intervenção do Poder Judiciário em políticas públicas voltadas à realização de direitos
fundamentais, em caso de ausência ou deficiência grave do serviço, não viola o princípio da
separação dos Poderes. (Info 1101, STF)
E. DIREITO À INTEGRIDADE: A Carta Magna proíbe a prática lesões, psíquica e moral (provocação de
dor interna e sofrimento). Ademais, veda a prática da tortura, bem como qualquer tipo de
comercialização de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e
tratamento (art. 199, §4º).
16
RETA FINAL
F. PROIBIÇÃO DA TORTURA: Parte da doutrina defende que o direito de não ser torturado (inciso III do
art. 5º da CF) é um exemplo de direito fundamental absoluto, sendo uma exceção à característica da
relatividade dos direitos fundamentais.
● Privacidade e Sigilo bancário e fiscal: O STF admite a quebra do sigilo pelo Judiciário ou por CPI
(federal ou estadual, mas não municipal), mas resiste a que o MP possa requisita-la diretamente, por
falta de autorização legal específica, salvo a hipótese de existir procedimento administrativo
investigando utilização indevida de patrimônio público.
3. Para a jurisprudência, o ingresso regular da polícia no domicílio em caso de flagrante delito, para que
seja válido, necessita que haja fundadas razões (justa causa) que sinalizem a ocorrência de crime no
interior da residência.
17
RETA FINAL
2. Se, durante a manifestação do pensamento, houver dano material, moral ou à imagem, assegura-se o
direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização.
3. O inciso IV estabelece uma espécie de “cláusula geral” que, em conjunto com outros dispositivos,
asseguram a liberdade de expressão nas suas diversas manifestações:
● liberdade de manifestação do pensamento (incluindo a liberdade de opinião);
● liberdade de expressão artística;
● liberdade de ensino e pesquisa;
● liberdade de comunicação e de informação (liberdade de “imprensa”);
● liberdade de expressão religiosa
4. Marcha da Maconha (ADPF 187) – Vedar a marcha da maconha viola a liberdade de expressão.
5. Tatuagem e o concurso público – Se não for contrária à moral e aos bons costumes, a tatuagem não
pode impedir o acesso a cargo público, por se tratar de uma forma de liberdade de expressão.
públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se
recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada.
19
RETA FINAL
N) LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO: É o direito de ir e vir, amparado por habeas corpus – ART. 5º, XV e LXI
● Em caso de prisão em flagrante ou prisão por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar (art. 5º, LXI, CF)
● Durante o estado de defesa (art. 136, 3º,I da CF) o decreto poderá estabelecer restrição ao direito
de reunião, ainda que exercida no seio das associações.
● Durante o estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, da CF, poderão ser tomadas
contra as pessoas as medidas de obrigação de permanência em localidade determinada (art. 139, I
da CF); detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns (art. 139,
II da CF); suspensão da liberdade de reunião (art. 139, IV da CF).
● Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira (hipóteses de
decretação de estado de sítio – art. 137, II da CF), a liberdade de locomoção também poderá ser
restringida ou suspensa (art. 138, caput da CF).
3. O que se entende por aviso prévio para os fins do direito de reunião do art. 5º, XVI, da CF/88? O STF
fixou a seguinte tese: A exigência constitucional de aviso prévio relativamente ao direito de reunião é
satisfeita com a veiculação de informação que permita ao poder público zelar para que seu exercício se
dê de forma pacífica ou para que não frustre outra reunião no mesmo local. STF (Repercussão Geral –
Tema 855).
20
RETA FINAL
P) LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO:
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente;
4. Cooperativas devem ser criadas na forma da lei e independem de autorização (art. 5º, XVIII)
5. A CF/88 veda qualquer interferência estatal no funcionamento das associações e cooperativas. (art. 5º,
XVIII)
1. É garantido pela Constituição, mas não é absoluto, uma vez que a propriedade poderá ser
desapropriada. É necessário também a propriedade cumpra sua função social, atendendo aos
interesses da coletividade e não apenas do proprietário.
2. É garantido o direito de propriedade (art. 5º, XXII).
3. A propriedade atenderá a sua função social (art. 5º, XXIII).
4. A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos na
Constituição (art. 5º, XXIV).
5. No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano (art. 5º, XXV).
21
RETA FINAL
6. Impenhorabilidade da pequena propriedade rural: Dispõe o art. 5º, XXVI que “a pequena propriedade
rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de
financiar o seu desenvolvimento”
● Quanto ao tema, decidiu o STJ que a pequena propriedade rural é impenhorável mesmo que o imóvel
não sirva de moradia ao executado e a sua família.
R) DIREITO DE PETIÇÃO E DE OBTENÇÃO DE CERTIDÕES – ART. 5º, XXXIV
1. Não se confunde com o direito de petição, já que este consiste em um direito de participação política
que não demanda a demonstração de interesse processual ou lesão a direito pessoal.
2. Exceção à regra da inafastabilidade da jurisdição: O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à
disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada
em lei (art. 217, §1º, da CF).
U) PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE
1. Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação
do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até
o limite do valor do patrimônio transferido (art. 5º XLV, da CF).
3. A veiculação de matéria jornalística sobre delito histórico que expõe a vida cotidiana de terceiros não
envolvidos no fato criminoso, em especial de criança e de adolescente, representa ofensa ao princípio
da intranscendência (Info 670, STJ)
● Plano legislativo: dirige-se ao legislador no momento da fixação dos limites mínimos e máximos da
pena, do regime de cumprimento e dos benefícios que podem ser concedidos ao infrator.
● Plano judicial: o magistrado, ao aplicar a pena, deve definir, fundamentadamente, a sua quantidade
conforme os parâmetros legais, o regime inicial e os benefícios aplicáveis;
● Plano executório: no momento da execução penal, deverá ser definido o estabelecimento prisional
de cumprimento da pena, tendo em conta a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado (art. 5º,
XLVIII, da CF).
4. DIREITOS SOCIAIS
3. Direitos dos trabalhadores nas suas relações individuais de trabalho: São os direitos dos
trabalhadores do art. 7º da CF, cujo dispositivo recomendamos leitura atenta. Dentre esses direitos,
destacamos:
● Direito ao trabalho: Infere-se do valor social do trabalho como fundamento da República (art. 2º) e
demais dispositivos constitucionais;
● Garantia do emprego: É a proteção da relação de emprego contra despedida arbitrária ou sem justa
causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, entre outros
23
RETA FINAL
direitos, impedindo-se, dessa forma, a dispensa injustificada, sem motivo socialmente relevante. É
norma de eficácia contida.
5. É possível a efetivação de direitos sociais pelo poder judiciário? R.: Embora seja prerrogativa dos
Poderes Legislativo e Executivo formular e executar políticas públicas, o STF entende possível a
efetivação de direitos sociais via Poder Judiciário, excepcionalmente, sobretudo nas hipóteses de
políticas públicas definidas pela própria Constituição. Vejamos algumas jurisprudências
(importantíssimas) sobre o tema:
● STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos
grupos prioritários (quem deveria ser vacinado primeiro dentro do grupo prioritário) – Info 1007, STF
● Organização sindical: O art. 8º, da CF/88 institui ampla autonomia coletiva para a fundação e direção
desse ente associativo, não podendo o Estado intervir ou condicionar o exercício desse direito. Pode,
contudo, ser exigida a inscrição do sindicato em órgão próprio (Ministério do Trabalho), bem como
admite-se que a lei disponha genericamente sobre regras básicas de organização sindical.
● Greve: A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das
necessidades inadiáveis da comunidade, inclusive responsabilizando os abusos cometidos. Cuidado!
Policial civil não pode fazer greve!!! (Info 860, STF)
ATENÇÃO – Direito de greve para os servidores públicos civis: Como não existe lei específica sobre o assunto
para servidores públicos civis, o STF conferiu efeitos concretos aos Mandados de Injunção ajuizados pelos
Sindicatos de Servidores Civis. Por maioria, conheceu dos mandados de injunção e propôs a solução para a
omissão legislativa com a aplicação, no que couber, da Lei 7.783/89, que dispõe sobre o exercício do direito
de greve na iniciativa privada.
24
RETA FINAL
25
RETA FINAL
1. O Processo Penal Brasileiro deve observância às normas previstas na Carta Magna. Devem as normas
processuais serem interpretadas a partir de uma filtragem constitucional.
2. Características decorrentes da constitucionalização:
● O juiz não pode requisitar provas, depois da manifestação pelo arquivamento feita pelo MP (STF);
● O juiz não pode substituir o MP em sua função probatória, em que pese, certa liberdade de produção
conferida ao juiz pelo CPP;
● O interrogatório do réu deve perder a sua característica de prova, passando a ser exclusivamente
meio de defesa.
2. PRETENSÃO PUNITIVA
1. Conceito: Consiste no poder do Estado de exigir a aplicação da sanção penal a quem comete um delito,
tornando efetivo o jus puniendi.
2. Função do Processo Penal: É o instrumento pelo qual o Estado se vale para a imposição de sanção penal
ao possível autor do fato delituoso.
3. Finalidades do Processo Penal:
⋅ Pacificação social obtida com a solução do conflito;
⋅ Viabilizar a aplicação do direito penal;
⋅ Garantir ao acusado, presumidamente inocente, meios de defesa diante de uma acusação.
26
RETA FINAL
A) SISTEMA INQUISITÓRIO:
1. As funções de acusar, defender e julgar se encontram concentradas em uma única pessoa, o
chamado de juiz inquisidor, o que acarreta a perda da imparcialidade do magistrado.
2. A gestão das provas compete ao juiz que é dotado de ampla iniciativa probatória,
3. Não há que se falar em contraditório, o qual nem sequer seria concebível em virtude da falta de
contraposição entre acusação e defesa;
4. Vigora o princípio da verdade real/material e, em decorrência dele, o acusado não era considerado
sujeito de direito, sendo tratado, em verdade, como mero objeto do processo, daí por que se admitia,
inclusive, a tortura como meio de se obter a verdade absoluta.
5. Caráter escrito e sigiloso da instrução processual.
6. Existência de provas tarifadas
27
RETA FINAL
2. Dimensões:
● Dimensão Interna ao processo: O princípio da presunção de inocência se manifestando dentro do
processo.
I- Regra probatória (in dubio pro reo): A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a
culpabilidade do acusado além de qualquer dúvida razoável, logo, não é o acusado que deve
comprovar sua inocência.
II- Regra de tratamento: o Poder Público está impedido de agir e de se comportar em relação
ao acusado como se ele já houvesse sido condenado.
1ª PERÍODO: ATÉ FEV/2009: Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível
a execução provisória da pena. Assim, se o réu
SIM - É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA estivesse condenado e interpusesse recurso especial ou
PENA recurso extraordinário, teria que iniciar o cumprimento
provisório da pena enquanto aguardava o julgamento.
NÃO É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA Esse entendimento durou até fevereiro de 2016.
PENA
Principais argumentos:
⋅ É possível o início da execução da pena condenatória
após a prolação de acórdão condenatório em 2º grau
e isso não ofende o princípio constitucional da
presunção da inocência.
⋅ O RE e REsp não possuem efeito suspensivo (art. 637
do CPP). Isso significa que, mesmo a parte tendo
interposto algum desses recursos, a decisão
recorrida continua produzindo efeitos. Logo, é
3º PERÍODO: DE FEV/2016 A NOV/2019: possível a execução provisória da decisão recorrida
enquanto se aguarda o julgamento do recurso.
⋅ Até que seja prolatada a sentença penal, confirmada
SIM - É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA em 2º grau, deve-se presumir a inocência do réu.
PENA Mas, após esse momento, exaure-se o princípio da
não culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da
decisão de segundo grau ao STJ ou STF não se
prestam a discutir fatos e provas, mas apenas
matéria de direito.
⋅ É possível o estabelecimento de determinados
limites ao princípio da presunção de não
culpabilidade. Assim, a presunção da inocência não
impede que, mesmo antes do trânsito em julgado, o
acórdão condenatório produza efeitos contra o
acusado.
⋅ A execução da pena na pendência de recursos de
natureza extraordinária não compromete o núcleo
essencial do pressuposto da não culpabilidade,
desde que o acusado tenha sido tratado como
inocente no curso de todo o processo ordinário
criminal, observados os direitos e as garantias a ele
inerentes, bem como respeitadas as regras
probatórias e o modelo acusatório atual.
30
RETA FINAL
Principais argumentos:
⋅ O art. 283 do CPP é plenamente compatível com a
Constituição em vigor.
⋅ O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual
“ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória”, não
deixa margem a dúvidas ou a controvérsias de
interpretação.
⋅ É infundada a interpretação de que a defesa do
princípio da presunção de inocência pode obstruir as
atividades investigatórias e persecutórias do Estado.
A repressão a crimes não pode desrespeitar e
transgredir a ordem jurídica e os direitos e garantias
fundamentais dos investigados.
⋅ A Constituição não pode se submeter à vontade dos
poderes constituídos nem o Poder Judiciário
embasar suas decisões no clamor público.
Tabela via
@dizerodireito
31
RETA FINAL
C) PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA: Vista não apenas como um direito do indivíduo, mas sim uma garantia. A
ampla defesa divide-se em autodefesa e defesa técnica:
⮚ Obs.1: Embora a doutrina garantista entenda que a inobservância desse direito deve
acarretar nulidade absoluta, a jurisprudência vem entendendo que se trata de
nulidade relativa, devendo-se comprovar o prejuízo.
2. DEFESA TÉCNICA: Direito de ser representado por advogado. A defesa técnica é indisponível e
irrenunciável.
Art. 261 do CPP: Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem
defensor.
Súmula 523, STF: no processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência
só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
Súmula 707, STF: constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao
recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação do defensor dativo.
Súmula 708, STF: é nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do
único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro.
32
RETA FINAL
STF (Info. 950/2019): A ausência de defensor, devidamente intimado, à sessão de julgamento não
implica, por si só, nulidade processual. STF. 1ª Turma. HC 165534/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.
p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2019 (Info 950).
⮚ Obs.1: O acusado pode exercer sua própria defesa técnica, desde que seja profissional da advocacia,
regularmente inscrito nos quadros da OAB.
⮚ Obs.2: Diversos acusados podem ter a mesma defesa técnica, desde que não haja colidência de
teses pessoais.
2. Espécies:
33
RETA FINAL
G) PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE:
1. Ligado ao caráter democrático do processo penal. Isso porque, a partir do momento que se assegura
o princípio da publicidade, a ideia é de que a publicidade vai proporcionar o controle da sociedade
sobre a atividade jurisdicional.
2. Alguns doutrinadores dizem que o princípio da publicidade funciona como uma garantia de segundo
grau ou garantia de garantia (Ferrajoli). Isso porque, na verdade, a publicidade proporciona o
controle sobre outras garantias. Assim, a partir do momento em que se dá publicidade ao processo,
poderemos analisar se as outras garantias também foram respeitadas (ex.: juiz natural, contraditório,
ampla defesa, etc.).
3. Regra: Publicidade ampla, permitindo a todos o acesso ao processo e não apenas às partes e aos
procuradores. Dessa publicidade ampla é possível extrair 3 direitos:
● Direito de assistência à realização dos atos processuais: o público, as partes e os advogados
podem acompanhar os atos processuais;
● Direito de narração dos atos processuais: da mesma forma que pode assistir, pode descrever
os atos processuais;
● Consulta dos autos: qualquer pessoa pode acessar os autos.
1. Exceção: Com fundamento na própria CF/88, em algumas situações a publicidade deve ser restrita
às partes e seus advogados (prevalência do direito à intimidade sobre o direito à informação). Ex.:
crimes sexuais correm em segredo de justiça.
H) PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DAS PROVAS ILÍCITAS: Art. 5º, LVI, da CF: São inadmissíveis, no processo, as
provas obtidas por meios ilícitos.
1. O reconhecimento da prova ilícita ou da prova ilegítima que enseja a nulidade absoluta tem como
consequência imediata o desentranhamento dos autos e sua inutilização, para que não se possa
influenciar indevidamente o convencimento do magistrado.
2. O que deve ser desentranhado dos autos é a PROVA, e não os autos processuais que fazem menção
à prova ilícita.
3. Exceção: a prova ilícita NÃO será inutilizada quando:
● Pertencer licitamente a alguém;
● Prova ilícita consistir no próprio corpo de delito em relação àquele que praticou um crime para
obtê-la.
34
RETA FINAL
⮚ Obs.: O STF começou a admitir, excepcionalmente, a utilização da prova ilícita em benefício do réu
inocente que produziu prova para a sua absolvição.
J) PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL: Art. 5, LIV, da CF - ninguém será privado da liberdade ou de
seus bens sem o devido processo legal. Subdivide-se em:
● Aspecto material ou substancial: Ninguém será processado, senão por crime previsto em lei;
● Aspecto processual ou procedimental: Atrelado à possibilidade de produzir provas.
2. Conceito: Consiste no direito que cada cidadão possui de conhecer antecipadamente a autoridade
jurisdicional que o processará e o julgará. A ideia do juiz natural está relacionada com a imparcialidade.
3. Regras de Proteção que derivam do Juiz Natural
● Só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição;
● Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato;
● Entre os juízes pré-constituídos vigoram regras de competência que excluem qualquer tipo de
discricionariedade.
⮚ Obs.1: Convocação de juízes de 1º grau para substituir desembargadores não viola o princípio do juiz
natural.
⮚ Obs.2: Julgamento por turma (ou câmara) composta, em sua maioria, por juízes convocados não viola o
princípio do juiz natural.
A) PRINCÍPIO DO NEMO TENETUR SE DETEGERE (Princípio de que ninguém está obrigado a produzir prova
contra si mesmo)
35
RETA FINAL
1. Conceito: A garantia da não autoincriminação consiste no direito de não produzir prova contra si
próprio (“nemo tenetur se detegere”), estando materializada pelo direito ao silêncio (art. 5º, LXIII,
CF/88)
2. Titularidade:
● Abrange o suspeito, investigado, indiciado ou o acusado.
● A testemunha tem a obrigação de dizer a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso
testemunho. Entretanto, se das perguntas a ela formuladas puder resultar uma autoincriminação,
também poderá invocar este princípio (Info 754 STF).
● O imputado deve ser advertido acerca do direito de não produzir prova contra si mesmo, sob pena
de ilicitude das provas obtidas.
● Direito ao silêncio: Consiste no direito de não responder às perguntas formuladas pela autoridade,
funcionando como espécie de manifestação passiva de defesa. É uma forma de se exercer a
autodefesa.
● Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo: Por comportamento
ativo, entende-se um “fazer” por parte do acusado, a exemplo do fornecimento do padrão vocal para
realização de exame de espectrograma; fornecimento de material escrito para exame grafotécnico;
exame de bafômetro.
⮚ Obs.2: Atualmente, há teste de bafômetro ativo (não é obrigado a realizar, pois pode acarretar
autoincriminação) e teste de bafômetro passivo, em que é colocado um objeto próximo ao
agente, capaz de captar, por meio da respiração, o teor alcoólico. Este último, por não demandar
qualquer comportamento do agente, pode ser realizado, mesmo contra sua vontade.
⮚ SUM 522: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda
que em situação de alegada autodefesa.
36
RETA FINAL
⋅ Prova não invasiva - É aquela em que não há penetração no organismo humano. Admite-se a
coleta, mas não deve ser retirada do corpo. Por exemplo, o fio de cabelo coletado de um pente.
O mesmo vale para a coleta de lixo de placenta descartada (caso Glória Trevi).
⮚ Obs.: raio-x, segundo o STJ (HC 149.146/SP), é considerado prova não invasiva. Logo, poderá
ser realizado mesmo contra a vontade do indivíduo.
● Fuga do local de ocorrência de trânsito (art. 305 do CTB): a fuga do local do acidente é crime
compatível com a CF/88 e não pode ser usada como justificativa para aplicação do princípio do
nemo tenetur se detegere.
6. Entendimentos do STF:
● O acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de
verificação de interlocutor (HC 83.096/RJ).
● O acusado não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico (HC 77135/SP).
● Configura constrangimento ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da
recusa destes em participarem de reconstituição do crime (HC 99.245/RJ).
B) PRINCÍPIO DA INICIATIVA DAS PARTES: Em conformidade com o sistema acusatório, o juiz não pode
iniciar um processo penal sem provocação anterior (nemo judex actore ou ne procedat judex ex officio).
EXCEÇÃO: O juiz pode agir de ofício:
● Habeas corpus de ofício (art. 654, § 2º, CPP); e
● Quando se tratar do início da execução penal (art. 195, Lei 7.210/84).
C) DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO: NÃO é princípio constitucional expresso, pois decorre de direitos
previstos em tratados de direitos humanos, como o Pacto de São José da Costa Rica
37
RETA FINAL
D) PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE: A atividade de persecução criminal deve ocorrer por órgão oficial.
Aplicável à ação penal pública.
A) PRINCÍPIO DA ORALIDADE: A prova oral prevalece sobre a escrita. Desse princípio decorre:
● Princípio da Concentração: Toda a colheita de prova e julgamento devem ocorrer em uma única
audiência.
● Princípio da Imediaticidade: O magistrado deve ter contato direto com a prova produzida.
● Princípio da Identidade Física do Juiz: O juiz que instrui o processo deve julgá-lo.
B) INDIVISIBILIDADE DA AÇÃO PENAL PRIVADA: NÃO pode o ofendido escolher contra qual agente
ofertará a ação penal privada.
ATENÇÃO: Para o STF, a ação penal pública é divisível, pois o MP pode, até sentença final, incluir novos
agentes por aditamento à denúncia ou oferecer nova ação penal, caso já prolatada sentença no feito.
Todavia, para doutrina majoritária, prevalece a indivisibilidade.
C) COMUNHÃO DA PROVA: Uma vez produzida, a prova não pertence mais a parte que a produziu, mas
ao processo.
1. Normas de Direito Penal: Princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa, do qual deriva o
princípio da ultratividade da lei penal mais benéfica. A lei nova só vai valer para os crimes praticados a
partir daquele momento.
2. Normas de Direito Processual Penal: Existem duas espécies de normas de Direito Processual Penal.
● Norma genuinamente processual;
● Norma processual material, mista ou híbrida
● Dependendo da espécie de norma processual penal os critérios de aplicação serão diferentes.
3. Norma genuinamente processual - São aquelas que cuidam de procedimentos, atos processuais,
técnicas do processo. Nesse caso, o critério a ser aplicado é o previsto no art. 2°, CPP (princípio da
aplicação imediata).
38
RETA FINAL
⮚ Obs.: Princípio do efeito imediato, a lei processual penal será aplicada de imediato, seja benéfica
ou maléfica. Portanto, do princípio da aplicação imediata derivam 2 regras fundamentais:
⋅ 1ª - A lei genuinamente processual tem aplicação imediata;
⋅ 2ª - A vigência dessa nova lei não invalida os atos processuais anteriores.
⮚ Obs.: ordenamento jurídico brasileiro adota o sistema do isolamento dos atos do processo (tempus
regit actum), segundo o qual a lei será aplicada unicamente em relação ao ato processual e, uma
vez praticado este, a nova lei processual já poderá ter incidência sobre os atos futuros.
4. Norma processual material (mista ou híbrida) - São aquelas que possuem caráter dúplice, de direito
penal e de processo penal. Assim, se um dispositivo legal, embora inserido em lei processual, versa sobre
regra penal, de direito material, a ele serão aplicáveis os princípios que regem a lei penal, de
ultratividade e retroatividade da lei mais benigna.
ATENÇÃO! Normas heterotópicas são aquelas em que, apesar de seu conteúdo conferir-lhe uma
determinada natureza, encontra-se prevista em diploma de natureza distinta. Ou seja, é uma norma penal
colocada no CPP, ou então norma processual penal colocada no CP.
1. Princípio da territorialidade absoluta (art. 1º, CPP): o CPP vale em todo território nacional, SALVO nas
hipóteses excludentes da jurisdição criminal brasileira, casos em que o CPP possui aplicação subsidiária.
a) Abrangência:
● Chefes de governo ou Estado estrangeiro, sua família e membros de sua comitiva;
● Embaixador e família: Imunidade absoluta;
● Funcionários das organizações internacionais (ONU) quando em serviço;
● Agentes consulares, apenas quanto aos crimes relacionados com a sua função (Cuidado!).
b) Considerações importantes:
● A imunidade não subtrai o diplomata da investigação, mas do processo e julgamento em território
brasileiro.
● As embaixadas NÃO são extensão do território que representam, mas são invioláveis.
● É possível ao país renunciar à imunidade do agente diplomático, mas o agente não pode renunciar
por iniciativa pessoal, já que a imunidade se fundamenta no interesse da função.
39
RETA FINAL
● Para o processo:
⋅ Oferecida denúncia, o Ministro do STF poderá recebê-la sem prévia licença da Casa
Parlamentar.
⋅ Após o recebimento da denúncia, o STF dará ciência a Casa respectiva que, por iniciativa de
partido político nela representado e pelo voto da maioria absoluta de seus membros, decidirá
sustar o andamento da ação.
⋅ O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de 45 dias do
seu recebimento pela mesa diretora, e a sustação do processo suspende a prescrição enquanto
durar o mandato.
3. PRERROGATIVA DE FORO: Desde a expedição de diploma, deputados e senadores serão julgados pelo
STF pela prática de qualquer tipo de crime, desde que seja durante o mandato e em razão dele.
ESQUEMATIZANDO...
PARLAMENTAR IMUNIDADE JULGAMENTO
40
RETA FINAL
1. Conceito: Interpretar é buscar o sentido da lei, é descobrir o seu significado. Não interessa a vontade
do legislador, mas sim o sentido da lei.
3. Analogia: A analogia está no art. 3°, CPP na expressão: “aplicação analógica”, sendo admitida no âmbito
puramente processual penal, independentemente de ser em bonam partem ou em malam partem.
5. Aplicação supletiva e subsidiária do novo CPC ao processo penal: Só pode aplicar o CPC no processo
Penal quando houver lacuna. Pois é diante da omissão que se pode valer da analogia com o CPC. Assim,
se houver disposição legal expressa no CPP, não é possível aplicar o CPC!
8. FONTES
1. Conceito: As fontes correspondem à origem do direito processual penal, que se divide em espécies.
2. Espécies:
a) Fonte Material, Substancial ou de Produção: Refere-se ao órgão responsável pela criação de normas
jurídicas. Conforme estabelecido no art. 22, I, CF compete privativamente à União legislar sobre
Processo Penal. Contudo, nos termos do art. 22, §único, CF, lei complementar federal pode autorizar
Estados e o Distrito Federal a legislar sobre questões específicas.
41
RETA FINAL
42
RETA FINAL
2. Por sua vez, “interceptar” significa “cortar” o fluxo de algo, logo, podemos entender a interceptação
telefônica como o ato de interromper o fluxo de comunicação entre duas pessoas diferentes do
receptador., serão exemplos de provas inominadas.
3. Nem toda obtenção de diálogos alheios trata-se de uma interceptação telefônica. Veja:
4. Em relação à ESCUTA TELEFÔNICA, é importante notar que o consentimento dado por um dos
interlocutores não pode estar viciado. Em se tratando de consentimento viciado, envolvendo suposto
consentimento de um suspeito e gravação de conversas telefônicas por viva-voz, o STJ entendeu que
o consentimento não foi válido e declarou a ilicitude da prova.
43
RETA FINAL
5. À luz do entendimento do STJ, no Info 543, quando um dos interlocutores é incapaz, o consentimento
para a interceptação (escuta) será dado por seu representante.
1. A expressão “comunicação telefônica” não deve se restringir às comunicações por telefone, mas deve
também abranger a transmissão, emissão ou recepção de símbolos, caracteres, sinais, escritos,
imagens, sons ou informações de qualquer natureza, por meio de telefonia, estática ou móvel.
Entretanto, os tribunais superiores divergem quanto à aplicação da lei 9296 em algumas hipóteses;
2. Jurisprudência pertinente:
• STJ – Conversas realizadas em salas de bate-papo da Internet não estão amparadas pelo sigilo das
comunicações, tendo em vista que o ambiente virtual é de acesso irrestrito e destinado a conversas
informais. (RHC 18116)
• STJ - As informações obtidas por monitoramento de e-mail corporativo de servidor público não
configuram prova ilícita quando relacionadas com aspectos "não pessoais" e de interesse da
Administração Pública e da própria coletividade, especialmente quando exista, nas disposições
normativas acerca do seu uso. (RMS 48.665-SP)
• STJ – É ilícita a devassa de dados, bem como das conversas de whatsapp, obtidas diretamente pela
polícia em celular apreendido no flagrante, sem prévia autorização judicial. (RHC 51531)
• O acesso ao chip telefônico descartado pelo acusado em via pública não se qualifica como quebra
de sigilo telefônico. STJ, 5ª Turma, HC 720.605, julgado em 09.08.2022.
1. A interceptação das comunicações telefônicas NÃO se confunde com a quebra de sigilo de dados
telefônicos:
● A interceptação de comunicação telefônica diz respeito a algo que está acontecendo.
● A quebra do sigilo de dados telefônicos está relacionada aos registros documentados e armazenados
pelas companhias telefônicas, tais como data da chamada telefônica, horário da ligação, número do
telefone chamado, duração do uso, ou seja, se refere a registros pretéritos.
44
RETA FINAL
3. Isso, contudo, não significa dizer que o Delegado de Polícia e o Ministério Público podem requisitar o
registro telefônico diretamente, pois se trata de matéria que exige autorização judicial, mas sim que a
proteção do sigilo de dados não se fundamenta na Lei de Interceptação Telefônica, mas na proteção
constitucional relativa à intimidade, constante do art. 5, inc. X, CF/88. CUIDADO! O fundamento
constitucional é o inciso X da CF/88! E não o inciso XII!
4. Ressalta-se que parte da doutrina afirma que a quebra do sigilo de dados telefônicos não está
submetida à cláusula de reserva de jurisdição absoluta pois, além da autoridade judiciária competente,
Comissões Parlamentares de Inquérito também podem determinar a quebra do sigilo de dados
telefônicos com base em seus poderes de investigação (CF, art. 58, §3°), desde que o ato deliberativo
esteja devidamente fundamentado (MS 23.452/RJ).
6. Cuidado para não confundir o registro de ligações armazenados pelas empresas de telefonia, cujo
acesso depende da autorização judicial, com o registro de ligações presentes no próprio celular do
indivíduo preso em flagrante. Nessa hipótese, os Tribunais consideram LÍCITA a prova obtida através
do acesso às últimas chamadas efetuadas e recebidas, bem como à agenda telefônica do indivíduo.
5. QUEBRA DE ERB
1. Por meio da estação rádio base (ERB), é possível saber a localização aproximada de qualquer aparelho
celular ligado, desde que este esteja em uso, seja enviando ou recebendo uma mensagem, seja
efetuando ou recebendo uma ligação, e, consequentemente, de seu usuário.
2. Note, portanto, que essa quebra não permite acesso ao conteúdo da comunicação, mas somente o
local aproximado onde se encontra determinado aparelho.
3. Há divergência acerca da necessidade ou não de autorização judicial para obter o acesso a tais dados.
• 1ª C (STJ) – Dispensa prévia autorização judicial. Não se pode confundir a interceptação das
comunicações telefônicas com a obtenção de informações quanto ao posicionamento das ERB´s,
verdadeira espécie de dados telefônicos. O STJ tem precedente afirmando ser desnecessária a
autorização judicial para quebra de ERB. (HC 247331)
45
RETA FINAL
• 2ª C (Doutrina + CPP) – Depende de autorização judicial. A obtenção das informações colhidas pela
quebra da ERB permite obter informações acerca da localização aproximada de uma pessoa, fato
que guarda relação e tangencia o direito à intimidade e à vida privada (art. 13-B, CPP)
46
RETA FINAL
1. A interceptação telefônica para fins de investigação criminal pode ser efetivada independentemente
da prévia instauração de inquérito policial e pode ser decretada durante o curso da instrução
processual penal..
2. Apesar de a decretação da interceptação telefônica ser mais comum durante a fase investigatória, é
perfeitamente possível o deferimento da medida durante a instrução processual penal. Não se admite
tal medida no curso de um processo de natureza cível, comercial, trabalhista, administrativa etc.
7. DA NECESSIDADE DE CONTRADITÓRIO.
1. Em regra, haverá o que a doutrina convencionou chamar de “contraditório diferido”, ante a própria
natureza da interceptação telefônica como medida cautelar inaudita. Por conta disso o contraditório
será observado, a posteriori, tão logo concluída a diligência.
1. O procedimento de interceptação telefônica possui natureza cautelar, razão pela qual devem estar
presentes o “fumus comissi delicti” e o “periculum in mora/libertatis”.
● Fumus comissi delicti - comprovação da existência de um crime e indícios suficientes de autoria
● Periculum in mora/libertatis - presente quando a liberdade do acusado oferece perigo, sendo uma
razão premente para a decretação de medidas cautelares pessoais (aqui falaremos em periculum in
libertatis), ou Reais (aqui falaremos em periculum in mora), que possam subsidiar lastro para
eventual medida pessoal, como a prisão preventiva, que tem como requisitos a certeza de
materialidade e indícios de autoria.
2. Não é possível interceptação telefônica para verificar se uma determinada pessoa, contra a qual
inexiste qualquer indício, está ou não cometendo algum crime. É absolutamente proibida a chamada
INTERCEPTAÇÃO DE PROSPECÇÃO, desconectada da realização de um fato delituoso, sobre o qual
ainda não se conta com indícios suficientes.
B) QUANDO A PROVA NÃO PUDER SER FEITA POR OUTROS MEIOS DISPONÍVEIS: Art. 2º, II
1. A interceptação telefônica deve ser utilizada como medida de ultima ratio, sob pena de ilicitude da
prova, sendo inegável o caráter subsidiário esta possui como meio de prova.
2. Ou seja, a medida é exceção, e não regra, só podendo ser manejada quando não houver outro meio
para apurar o fato, nesse sentido;
3. Considerando seu caráter subsidiário, uma vez que a interceptação telefônica somente deve ser
utilizada diante da insuficiência dos meios de obtenção de prova tradicionais, é certo que não deve ser
adotada, de imediato, pela autoridade policial, ao receber uma denúncia anônima. No entanto, se após
a denúncia anônima houver a investigação preliminar, poderá ser decretada a interceptação
telefônica.
48
RETA FINAL
1. O legislador limitou o uso da interceptação telefônica em razão da natureza da pena, só sendo possível
manejá-la caso o crime seja punido com pena de reclusão.
2. Na medida em que o art. 2°, inciso III, da Lei n° 9.296/96, demanda que a infração penal seja punida
com pena de reclusão, depreende-se que não é possível a decretação de interceptação telefônica
para investigar crimes de responsabilidade em sentido estrito (Lei n° 1.079/50 e Decreto-Lei n°
201/67). Afinal, tais crimes não têm natureza jurídica de infração penal, mas sim de infração político-
administrativa, passível de sanções político-administrativas, aplicadas por órgãos jurisdicionais
políticos.
OBS.1: DELIMITAÇÃO DO OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: será sempre obrigatória a descrição com clareza da
situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo
impossibilidade manifesta, devidamente justificada.
Considerações importantes:
1. JUIZ DAS GARANTIAS: Com o implemento do pacote anticrime, as decisões sobre interceptação
telefônica no inquérito policial ficarão a cargo do juiz das garantias. Lembre-se que este dispositivo
encontra-se suspenso pelo STF.
2. TEORIA DO JUÍZO APARENTE: Para a TEORIA DO JUIZO APARENTE, se, no momento da decretação da
medida, os elementos informativos até então obtidos apontavam para a competência da autoridade
judiciária responsável pela decretação da interceptação telefônica, devem ser reputadas válidas as
provas assim obtidas, ainda que, posteriormente, seja reconhecida a incompetência do juiz inicialmente
competente para o feito.
49
RETA FINAL
atuando como interessado na instrução processual, o que acabaria ferindo o processo penal
contraditório, maculando-o com traços de inquisitoriedade.
4. REQUERIMENTO DO MINISTÉRIO PÚBLICO: O Ministério Público, como “dominus litis” da ação penal,
poderá realizar o requerimento de interceptação telefônica tanto na etapa pré processual, seja qual for
o procedimento de investigação adotado, quanto na instrução processual, em virtude de sua posição
processual.
1. A conversa pessoal e reservada entre advogado e cliente tem toda a proteção da lei, porquanto, entre
outras reconhecidas garantias do advogado, está a inviolabilidade de suas comunicações. Como estão
proibidas de depor as pessoas que, em razão de profissão, devem guardar segredo, é inviolável a
comunicação entre advogado e cliente. No entanto, o STJ já decidiu que o simples fato de o advogado
do investigado ter sido interceptado não é causa, por si só, para gerar a anulação do processo
• Advogado como autor, coautor ou partícipe de crime: O sigilo profissional do advogado não
poderá ser invocado como uma espécie de blindagem indiscriminada capaz de imunizá-lo da
prática de crimes. Dessa forma, se o advogado estiver envolvido na prática de crimes
autorizadores da medida excepcional da interceptação telefônica, eventuais conversas gravadas
nesse contexto poderão ser utilizadas como prova de crime
50
RETA FINAL
1. Pedido oral: Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado verbalmente, desde
que:
• Estejam presentes os pressupostos que autorizem a interceptação,
• Seja reduzida a termo
3. Prazo para o juiz decidir: O juiz decidirá no prazo máximo de 24 horas. Esse prazo possui natureza
imprópria, não gerando qualquer nulidade para a prova.
4. Duração da interceptação
• Em regra, execução da diligência não pode ultrapassar o limite de 15 dias, a partir do dia em que a
medida é efetivada.
• O prazo de 15 dias pode ser renovado indefinidamente, desde que comprovada a indispensabilidade
do meio de prova.
• São lícitas as sucessivas renovações de interceptações telefônicas desde que:
(1) verificados os requisitos do art.2 da Lei 9296/96
(2) demonstrada a necessidade da medida diante de elementos concretos e a complexidade da
investigação, a decisão judicial inicial e as prorrogações sejam devidamente motivadas, com
justificativa legítima, ainda que sucinta, a embasar a continuidade das investigações.
sob pena de ausência de fundamento idôneo para deferir a medida cautelar. STJ.
6ª Turma. HC 654131-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/11/2021
(Info 723).
OBS.1: Em 15.09.2020, o STJ, no bojo do AgRg no AREsp 1.861.383, entendeu que a captação de áudio em
interceptação telefônica fora do período autorizado resulta na nulidade apenas da gravação realizada no dia
excedente, e não na nulidade de toda a gravação!
OBS.2: A limitação temporal somente é necessária para o fluxo das comunicações, não sendo requisito
indispensável quando se tratar de quebra de sigilo que envolva dados estáticos/já armazenados.
irregularidade, sem o condão de macular a prova, uma vez que, dessa ausência, não se pode auferir
prejuízo em concreto à nenhuma das partes.
6. A gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o inquérito, a
instrução processual ou após esta, em virtude de requerimento do Ministério Público ou da parte
interessada.
a) Momento: O incidente de inutilização das conversas telefônicas que poderá ser instaurado ao longo
de toda a persecução penal, inclusive após a instrução processual, mas até a prolação da sentença,
já que exaurido a sua competência, não podendo reconhecer esse incidente.O terceiro pode
requerer o desarquivamento da condenação ao juízo da condenação originária sendo um exemplo
de jurisdição voluntária. Isso pode ocorrer quando um terceiro vê sua vida exposta.
2. No entanto, é importante ressaltar que a gravação não será nula se a presença da autoridade detentora
de foro for descoberta fortuitamente, hipótese em que a autoridade judicial não deve demorar a
declinar a competência.
1. A par da interceptação das comunicações telefônicas, a Lei 9296/96 também disciplina a interceptação
das comunicações ambientais, que já eram disciplinadas pela doutrina brasileira. Note que, com o
advento do Pacote Anticrime, a captação ambiental passou a ser tratada expressamente na Lei
9296/96.
54
RETA FINAL
2. Conceitos relevantes:
a) Comunicação ambiental: Enfim, trata-se de conversa mantida entre duas ou mais pessoas sem a
utilização do telefone, em qualquer recinto, privado ou público.
b) Interceptação ambiental: é a captação sub-reptícia de uma comunicação no próprio ambiente dela,
por um terceiro, sem conhecimento dos comunicadores.
c) Escuta ambiental: é a captação de uma comunicação, no ambiente dela, feita por terceiro, com o
consentimento de um dos comunicadores.
d) Gravação ambiental: é a captação no ambiente da comunicação feita por um dos comunicadores (ex.
gravador, câmeras ocultas etc.)
3. Com a inserção do art. 8º-A, a captação ambiental tornou-se um meio de obtenção de prova nominado
e típico.
Art. 8º-A. Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada pelo juiz,
a requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público, a captação
ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, quando: (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes;
e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em
infrações criminais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou
em infrações penais conexas. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o local e a forma de
instalação do dispositivo de captação ambiental. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019) § 2º A instalação do dispositivo de captação ambiental poderá ser realizada,
quando necessária, por meio de operação policial disfarçada ou no período
noturno, exceto na casa, nos termos do inciso XI do caput do art. 5º da
Constituição Federal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) havia sido
inicialmente vetado pelo Presidente da República, seguido de posterior cassação
do veto pelo Congresso Nacional
§ 3º A captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15 (quinze) dias,
renovável por decisão judicial por iguais períodos, se comprovada a
indispensabilidade do meio de prova e quando presente atividade criminal
permanente, habitual ou continuada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º A captação ambiental feita por um dos interlocutores sem o prévio
conhecimento da autoridade policial ou do Ministério Público poderá ser
utilizada, em matéria de defesa, quando demonstrada a integridade da gravação.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) havia sido inicialmente vetado pelo
Presidente da República, seguido de posterior cassação do veto pelo Congresso
Nacional
55
RETA FINAL
4. À semelhança do art. 1º da Lei 9.296/96, que abrange tanto a interceptação telefônica em sentido estrito
quanto a escuta telefônica, o art. 8º faz uso da expressão “captação ambiental” em sentido amplo,
englobando a interceptação ambiental em sentido estrito e a escuta ambiental, pois ambas consistem
em processos de captação da conversa alheia.
5. Ressalta-se ainda que a doutrina e jurisprudência apontam que a interceptação ambiental está tutelada
no inciso X do art. 5º da CF/88 – garantia constitucional da intimidade e vida privada.
8. Qual é o prazo em que ocorrerá a captação ambiental? R.: A captação ambiental será autorizada
inicialmente pelo prazo de até 15 dias, sem prejuízo de sucessivas prorrogações por meio de decisão
judicial nos casos de:
• Indispensabilidade dos meios de prova.
• Atividade criminal permanente, habitual ou continuada.
(2) Promover escuta ambiental: essa modalidade, em grande parte, foi tacitamente revogada pelo novo
crime previsto no art. 10-A da Lei n° 9.296/96, tema que estudaremos no tópico seguinte. Funcionará
apenas subsidiariamente quando a escuta ambiental foi realizada sem prévia autorização judicial;
(3) Quebrar segredo de justiça: sabendo que as informações captadas a partir de interceptações de
comunicações telefônicas são sigilosas, pratica o crime o agente que fornece a terceiro estranho à
persecução penal as informações até então protegidas pelo segredo de justiça.
A captação promovida por um dos interlocutores, mesmo sem o conhecimento dos demais, não depende de
autorização judicial, sendo, portanto, fato atípico (conclusão reforçada pelo §i» do art. 10-A da Lei n°
9.296/96).
- A captação promovida em lugares públicos também independe de autorização judicial. Sendo assim, se
colocada em prática não haverá crime e a prova obtida será considerada lícita.
3. Considerações importantes:
• Condutas punidas apenas à título de dolo.
57
RETA FINAL
58
RETA FINAL
A) CONCEITO
1. Direito Penal é “o conjunto de princípios e regras destinados a combater o crime e a contravenção
penal, mediante a imposição de sanção penal”.
2. Diz-se que a pena é a 1ª via do direito penal, a medida de segurança é a 2ª e a reparação do dano é a 3ª.
3. Em seu aspecto formal: o direito penal é um conjunto de normas que qualifica certos
comportamentos humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções as lhe
serem aplicadas.
4. Em seu aspecto material: o Direito Penal se refere a comportamentos considerados altamente
reprováveis ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria
conservação e progresso da sociedade.
5. Em seu aspecto sociológico: o direito penal é mais um instrumento do controle social de
comportamentos desviados, visando a assegurar a necessária disciplina social.
B) CARACTERÍSTICAS
De acordo com Cleber Masson (2017, p. 5), o Direito Penal é uma ciência cultural, normativa,
valorativa, finalista, de natureza predominantemente sancionatória, e fragmentária.
1. Ciência: suas regras estão contidas em normas e princípios que, por sua vez, formam a dogmática
jurídico-penal;
2. Cultural: o Direito Penal é uma ciência do “dever ser”, ao contrário das ciências naturais, que cultuam
o “ser”;
3. Normativa: o objeto principal é o estudo da lei penal (Direito positivo);
4. Valorativa: sua aplicação não está pautada em regras matemáticas de certo ou errado, mas sim em
uma escala de valores que são sopesados a partir de critérios e princípios próprios do Direito Penal.
Dessa forma, esse ramo do direito valoriza hierarquicamente as suas normas;
5. Finalista: o objetivo do direito penal é a proteção de bens jurídicos fundamentais, o que torna a sua
missão prática, e não simplesmente teórica;
6. Sancionatória: o Direito Penal é predominantemente sancionador porque não cria bens jurídicos,
mas acrescenta proteção penal aos bens jurídicos disciplinados por outros ramos do Direito. No
entanto, é possível que ele seja também constitutivo, quando protege interesses não regulados por
outras áreas do Direito, como o uso indevido de drogas;
7. Fragmentária: o Direito Penal não tutela todos os valores ou interesses, mas somente os mais
importantes para a manutenção e o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade.
59
RETA FINAL
1. Segundo Luiz Regis Prado, bem jurídico é um ENTE MATERIAL ou IMATERIAL haurido do contexto
social, de titularidade individual ou metaindividual reputado como ESSENCIAL PARA A COEXISTÊNCIA
E O DESENVOLVIMENTO DO HOMEM EM SOCIEDADE e, por isso, jurídico-penalmente protegido.
1. Missão mediata:
● Instrumento de Controle Social ou de preservação da paz pública (Papel intimidador);
● Limitação ao poder de punir estatal ou Função de Garantia – garantia dos cidadãos contra o arbítrio
estatal, vez que só podem ser punidos por atos previstos como infração penal e por pena também
determinada em lei.
2. Missão imediata:
● Funcionalismo teleológico (moderado) – Claus Roxin (Predomina) - A missão do Direito Penal é a
proteção dos bens jurídicos mais relevantes;
● Funcionalismo sistêmico (radical) – Günter Jakobs - A missão do Direito Penal é assegurar a vigência
do sistema, protegendo o império da norma;
FUNCIONALISMO PENAL
60
RETA FINAL
mesmo;
- Monista: é um sistema próprio de regras e de
valores que independe dos demais;
- Sistêmico: é autônomo (independe dos demais
ramos), autorreferente (todas as referências e
conceitos que precisa buscar do próprio direito
penal) e se autoproduz;
● Quem viola reiterada e deliberadamente a norma =
não-cidadão / inimigo = não tem direitos.
3. Direito Penal Comum: é o conjunto de normas penais aplicável indistintamente a todas as pessoas,
como o Código Penal;
4. Direito Penal Especial: é o conjunto de normas penais aplicável apenas a pessoas determinadas que
preencham certas condições legais. São exemplos o Código Penal Militar e o Decreto-lei nº 201/1967
(crimes de responsabilidade dos prefeitos);
5. Direito Penal Geral: é o conjunto de normas penais aplicáveis em todo o território nacional. Essas
normas são produzidas privativamente pela União (art. 22, I, da CF);
6. Direito Penal Local: é o conjunto de normas penais aplicáveis somente a determinada parte do
território nacional. A existência dessas normas somente é possível se houver autorização da União
por lei complementar para que os Estados legislem sobre questões específicas de Direito Penal (art.
22, parágrafo único, da CF);
9. Direito Penal Substantivo: é o direito penal material, propriamente dito. É o que consta no Código
Penal;
10. Direito Penal Adjetivo: também chamado de “formal” (grave as nomenclaturas), é o direito
processual penal.
61
RETA FINAL
1. Direito Penal do Fato – Adotado pelo Ordenamento Penal Brasileiro – consiste que o direito penal
deve punir condutas, ou seja, fatos, praticados pelos indivíduos que sejam lesivas a bens jurídicos de
terceiros. Está atrelado ao Princípio da exteriorização ou materialização do fato, pelo qual o Estado só pode
incriminar condutas humanas voluntárias (fatos). Assim, ninguém pode ser castigado por seus pensamentos,
desejos ou meras cogitações ou estilo de vida.
2. Direito Penal do autor consiste na punição do indivíduo baseada em seus pensamentos, desejos
e estilo de vida, condições pessoais, do modo de ser, grau de culpabilidade (reprovabilidade), antecedentes
do autor, está interligado ao Direito Penal do Inimigo. Aqui teríamos uma inobservância do princípio da
exteriorização do fato.
62
RETA FINAL
2. Garantias primárias – limites e vínculos normativos: Consistem nas proibições e obrigações, formais
e substanciais, impostos na tutela dos direitos, ao exercício de qualquer poder;
3. Garantias secundárias – diversas formas de reparação: Subsequentes às violações das garantias
primárias, diz respeito à anulabilidade dos atos inválidos e a responsabilidade pelos atos ilícitos.
- Ex: a CF prevê como garantia primária que não haverá pena de banimento. O legislador não a
observa e comina tal pena a determinado crime. Neste caso, será utilizado o controle de
constitucionalidade, previsto na própria constituição como garantia secundária, julgando o ato nulo.
● Nulla poena sine crimine: somente será possível a aplicação de pena quando houver, efetivamente, a
prática de determinada infração penal;
● Nullum crimen sine lege: a infração penal deverá sempre estar expressamente prevista na lei penal;
● Nulla lex (poenalis) sine necessitate: a lei penal somente poderá proibir ou impor determinados
comportamentos, sob a ameaça de sanção, se houver absoluta necessidade de proteger determinados
bens, tidos como fundamentais ao nosso convívio em sociedade, (direito penal mínimo);
● Nulla necessitas sine injuria: as condutas tipificadas na lei penal devem, obrigatoriamente, ultrapassar
a sua pessoa, isto é, não poderão se restringir à sua esfera pessoa, à sua intimidade, ou ao seu
particular modo de ser, somente havendo possibilidade de proibição de comportamentos quando
estes vierem a atingir bens de terceiros;
● Nulla injuria sine actione: as condutas tipificadas só podem ser exteriorizadas mediante a ação do
agente, ou omissão, quando previsto em lei;
● Nulla actio sine culpa: somente as ações culpáveis podem ser reprovadas;
● Nulla culpa sine judicio: é necessário adoção de um sistema nitidamente acusatório, com a presença
de um juiz imparcial e competente para o julgamento da causa;
● Nullum judicium sine accusatione: o juiz que julga não pode ser responsável pela acusação;
● Nulla accusatio sine probatione: fica a cargo do acusador todo o ônus probatório, que não poderá ser
transferido para o acusado da prática de determinada infração penal;
● Nulla accusatio sine defensione: deve ser assegurada ao acusado a ampla defesa, com todos os
recursos a ela inerentes.
63
RETA FINAL
1. Conceito: Aquele que viola o sistema deve ser considerado e tratado como inimigo.
2. Características do direito penal do inimigo:
● Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios;
● É um direito penal prospectivo e não retrospectivo;
● O inimigo não é visto como um sujeito de direitos, pois perdeu seu status de cidadão;
● Pune-se o inimigo pela sua periculosidade e não pela sua culpabilidade;
● Criação de tipos de mera conduta;
● Previsão de crimes de perigo abstrato;
● As garantias processuais aplicadas ao inimigo são relativizadas ou até mesmo suprimidas.
● Flexibilização do Princípio da Legalidade: é a descrição vaga dos crimes e das penas;
● Inobservância dos Princípios da Ofensividade: relação com a criação de crimes de perigo abstrato e
da Exteriorização do Fato (relação com o direito penal do autor);
● Preponderância do Direito Penal do autor: Flexibilização do princípio da exteriorização do fato;
● Desproporcionalidade das penas;
● Surgimento das chamadas “leis de luta ou de combate”: Exemplo - Lei 8.072/90 e Lei 12.850/2013.
Alguns doutrinadores sustentam que tais leis têm predicados de direito penal do inimigo;
● Endurecimento da Execução Penal: O regime disciplinar diferenciado é um resquício do direito penal
do inimigo;
*ATENÇÃO: O Direito Penal do inimigo também é conhecido como a “terceira velocidade do Direito Penal”.
Isto porque se aplica a pena de prisão e também por ser extremamente célere, já que suprime direitos e
garantias.
● Primeira velocidade: Direito Penal “da prisão”, aplicando-se penas privativas de liberdade como
resposta aos crimes praticados, com a rígida observância das garantias constitucionais e processuais.
Aplicada a delitos graves.
● Segunda velocidade: Direito penal reparador. São aplicadas aqui penas alternativas à prisão, como
restritivas de direitos ou pecuniárias, de forma mais rápida, sendo admissível, para tanto, uma
flexibilização proporcional dos princípios e regras processuais. Aplicável a delitos de menor
gravidade.
● Terceira velocidade: Novamente temos aqui a prisão por excelência. Contudo, difere-se da primeira
por permitir a flexibilização e até a supressão de determinadas garantias. Aplicada aos delitos de
maior gravidade.
● Quarta velocidade: Neopunitivismo. Ligada ao direito internacional. É o processamento e
julgamento pelo TPI de chefes de Estado que violarem tratados e convenções internacionais de tutela
64
RETA FINAL
de Direitos Humanos e praticarem crimes de lesa-humanidade, de modo que, por esta razão, se
tornarão réus perante o referido tribunal e terão, dentro do contexto, suas garantias penais e
processuais penais diminuídas.
● Quinta velocidade: trata-se de uma sociedade com maior assiduidade do controle policial, o Estado
com a presença maciça de policiais na rua, no cenário onde o Direito Penal tem o escopo de
responsabilizar os autores, diante da agressividade presente em nossa sociedade de relações
complexas e, muitas vezes, (in)compreensíveis.
a) Fonte Material: Diz respeito à criação do Direito Penal. Via de regra, é a União, art.22, I, da CF/88, pois
“compete privativamente à União legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”.
⮚ Obs.: Medida provisória pode versar sobre direito penal? R.: A doutrina e a jurisprudência são
pacíficas no sentido de que é possível a edição de medida provisória versando sobre direito penal
quando favorável ao réu.
b) Fonte Formal: Diz respeito à aplicação do Direito Penal. Esse ponto varia um pouco de doutrinador para
doutrinador.
65
RETA FINAL
A função dos princípios é limitar o poder de punir do Estado. Isso porque, o Estado, por natureza, é
arbitrário, pois invade a esfera de liberdade do indivíduo. Então o Direito Penal é visto como instrumento de
contenção do Estado, que vai tolher o Estado ao máximo visando garantir a liberdade do sujeito, garantias
mínimas para que se possa desenvolver direitos de 1ª geração.
1. PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS: O Direito Penal deve servir apenas e tão
somente para proteger bens jurídicos relevantes (Roxin). Impede que o Estado utilize o Direito Penal
para a proteção de bens ilegítimos.
2. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA: O direito penal só deve ser aplicado quando a criminalização
de um fato é estritamente necessária à proteção de determinado bem ou interesse, não sendo
suficientemente tutelado por outras searas do direito. O direito penal é o último grau de proteção
jurídica. Em outras palavras: O direito penal em um Estado Democrático de Direito atua como
ultima ratio/ultima razão/ultima saída.
a) Fragmentariedade: A fragmentariedade prevê que somente devem ser tutelados pelo direito penal
os casos de relevante lesão ou perigo de lesão aos bens jurídicos fundamentais para a manutenção
e o progresso do ser humano e da sociedade.
⮚ Obs.: Fragmentariedade às avessas: Ocorre nas situações em que o direito penal perde o
interesse em uma determinada conduta, inicialmente tida por criminosa, por entendê-la
66
RETA FINAL
b) Subsidiariedade: está ligada à autonomia do Direito Penal. Somente após se constatar que outros
meios de solução social dos conflitos não são aptos a dirimi-los, é que serão utilizados modelos
coercitivos de que dispõe o Direito Penal. Funciona como um soldado de reserva.
● O princípio da Insignificância decorre da fragmentariedade, de modo que o Direito Penal só vai intervir
nos casos de relevante lesão, quando for indispensável para a proteção de determinado bem jurídico,
e quando não houver como proteger o bem jurídico como os outros ramos do direito.
● Nesse sentido, o princípio da insignificância traduz a ideia de que não há crime quando a conduta
praticada pelo agente é insignificante, não é capaz de ofender ou colocar em perigo o bem jurídico
tutelado pela norma penal.
● Natureza Jurídica: Causa de Exclusão da tipicidade (atipicidade) material. Ou seja: torna o fato atípico
por ausência de tipicidade material.
▪ INSIGNIFICÂNCIA x FURTO QUALIFICADO: STF/STJ: Via de regra, entendem não ser possível a
aplicação do princípio da insignificância no furto qualificado, pois falta o requisito do reduzido grau
de reprovabilidade do comportamento. No entanto, recentemente, o Plenário do STF analisou a
questão e entendeu que não há como fixar tese sobre isso, que também deve ser analisado caso a
caso. (STF-HC 123108/MG).
67
RETA FINAL
⮚ Obs.: O valor de 20 mil reais para aplicação do princípio da insignificância será somente aos
crimes tributários FEDERAIS!!! Não se aplica o parâmetro dos tributos federais aos crimes
tributários estaduais, devendo ser observada a lei estadual vigente em razão da autonomia
do ente federativo!!!
68
RETA FINAL
(STF - HC 133984/MG)
9. Porte de drogas para uso (art. 28 da LD) – Majoritariamente, o STF e o STJ não aplicam a
insignificância, nem mesmo em se tratando de quantidades ínfimas, pelo fato de ser crime de perigo
presumido e o bem tutelado ser a saúde pública. No entanto, há um antigo julgado isolado do STF
permitindo a aplicação.
10. Violação de direito autoral – não se aplica. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1380149/RS
11. Apropriação indébita previdenciária: tanto o STF como o STJ afirmam que é inaplicável o princípio
da insignificância ao crime de apropriação indébita previdenciária.
12. Crimes ambientais:
STJ: É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais, devendo ser analisadas as
circunstâncias específicas do caso concreto para se verificar a atipicidade da conduta em exame (STJ AgRg
no AREsp 654.321/SC).
STF: Já negou em situação de pesca ilegal, a um indivíduo flagrado junto a outras três pessoas, POR TRÊS
VEZES CONSECUTIVAS, em embarcação motorizada, praticando pesca em local proibido e com redes de
arrasto de fundo (HC 137652).
- Já negou em caso de realização de pesca de 7kg de camarão em período de defeso com o uso de método
não permitido (HC 122560/SC).
- A partir do caso acima, publicou a seguinte redação no Info 901:: O princípio da bagatela não se aplica
ao crime previsto no art. 34, caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98 (pesca ilegal).
- No entanto, existem julgados tanto do STF como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da
insignificância para este delito. Atente-se ao comando da questão!
13. É possível aplicar o princípio da insignificância para a conduta de manter rádio clandestina?
• No STJ: é pacífico que NÃO. Súmula 606-STJ: não se aplica o princípio da insignificância aos casos de
transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência que caracterizam o fato típico previsto
no artigo 183 da lei 9.472/97.
69
RETA FINAL
estelionato qualificado por médico que, no desempenho de cargo público, registra o ponto e se retira
do hospital.
4. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE/LESIVIDADE: Não pode haver crime sem que haja conteúdo ofensivo
a bens jurídicos. Assim, para que ocorra o delito, é imprescindível a efetiva lesão ou perigo de lesão
ao bem jurídico tutelado. São de 4 ordens/ funções e garantias do princípio da lesividade:
(1) Proibição de incriminar uma atitude interna – motivo pelo qual não se pune a cogitação (fase
interna do inter criminis)
(2) Proibição de incriminar condutas que não excedam o âmbito do autor – motivo pelo qual não se
pune a autolesão.
(3) Proibição de incriminar simples estados ou condições existenciais - tendo em vista que nosso
ordenamento Jurídico adota o direito penal do fato – e não direito penal do autor
(4) Proibição de incriminar condutas desviadas que não afetam qualquer bem jurídico - motivo pelo qual
não se pune o crime impossível e, em regra, os atos preparatórios.
6. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ESTRITA OU RESERVA LEGAL: Encontra previsão no art. 5º, XXXIX da
CFRB/88 e no art. 1º do CP: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal”. Assim, a lei precisa ser anterior, escrita, estrita, certa (taxativa) e necessária.
70
RETA FINAL
2) Funções de garantia (face de garantia) – busca limitar o poder de punir do estado trazendo garantias
mínimas ao cidadão perante o estado. Nesse ponto, o princípio da legalidade se desdobra em 4
máximas:
● Lex scripta: A lex scripta proíbe que se utilize dos costumes como fonte incriminadora do direito
penal
● Lex stricta: proibição do emprego da analogia in malan partem
● Lex Praevia: Representa o princípio da anterioridade penal: veda a criminalização ex post facto
● Lex certa (aspecto material do princípio da legalidade): A lex certa materializa a proibição de o
legislado formular tipos penais genéricos, vazios, vagos etc. (Princípio da taxatividade)
7. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE: De acordo com este princípio, a lei penal apenas se aplica a fatos
praticados após a sua entrada em vigor. Daí, por consequência lógica, deriva a sua irretroatividade,
não se aplicando a fatos pretéritos, nem mesmo os praticados durante a vacatio legis, SALVO se
benéfica ao acusado.
8. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO BIS IN IDEM: Tem previsão no art. 8º, 4 do Pacto de São José da Costa
Rica, incorporado ao nosso ordenamento jurídico pelo Dec. 678/1992 e proíbe que o agente seja
punido duas vezes pelo mesmo fato, inclusive sopesando a mesma situação ou circunstância para
agravar a pena em mais de um momento da dosimetria.
9. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL: este princípio traz a ideia de que as condutas tidas por
socialmente adequadas não poderiam constituir delitos, pois o tipo penal implica em uma seleção
de comportamentos reprováveis cuja sociedade realiza um desvalor da ação e do resultado. Dessa
forma, não caberia a criminalização de comportamentos nos quais não há esse desvalor. Há 3
correntes sobre a natureza jurídica do princípio da adequação social:
(1) Excludente da tipicidade (doutrina majoritária): A adequação social exclui a tipicidade material da
conduta, não seria crime uma vez que a conduta não é socialmente reprovável/é socialmente
adequada.
71
RETA FINAL
(2) Excludente da ilicitude - Há doutrinadores minoritários dizendo que seria uma excludente da
ilicitude (no plano da ilicitude material).
(3) Regra geral de hermenêutica/princípio geral de interpretação: A jurisprudência caminha de forma
tranquila e dominante no sentido de que a adequação social deve sofrer uma aplicação restritiva no
direito penal, comportando 2 vertentes:
● 1ª vertente – voltada ao legislador (função seletiva) – vertente meramente orientadora, pois
busca orientar o legislador para que esse não selecione condutas socialmente adequadas
para serem criminalizadas.
● 2ª vertente – voltada ao intérprete (função interpretativa limitadora) – traduz uma regra
geral de hermenêutica/ princípio geral de interpretação. Assim, em havendo várias
interpretações possíveis, pela adequação social, exclui a incidência do tipo penal das
hipóteses que são socialmente adequadas.
11. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA; Não basta que o fato seja materialmente causado
pelo agente, o agente somente pode ser responsabilizado se o fato tiver sido querido, assumido ou
previsto. Não há responsabilidade penal sem dolo ou culpa. EXCEÇÃO: Rixa qualificada. *qualificado
pela lesão grave e morte. Independentemente de quem tenha causado a lesão ou morte, todos
responderão pela rixa qualificada.
12. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE: Só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável
(penalmente capaz), com potencial consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter
ilícito do comportamento), quando dele exigível conduta diversa (podendo agir de outra forma).
13. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE: Exige que se faça um juízo de ponderação sobre a relação
existente entre o bem que é lesionado ou posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que alguém
pode ser privado (gravidade da pena).
72
RETA FINAL
2. PRINCÍPIO DA CONFIANÇA: Segundo este princípio, quem atua observando as regras de trânsito,
possui o direito acreditar que as demais pessoas irão agir também de acordo com as normas. Assim,
quando aquele que continua avançando no sinal verde e acaba colidindo com outro veículo que
avançou no sinal vermelho, agiu amparado pelo princípio da confiança, não tendo culpa, já que dirigia
na expectativa de que os demais respeitariam as regras de sinalização. Atualmente é aplicado no Brasil
para os crimes em geral.
3. PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE: Trata-se de um macroprincípio dos direitos humanos e passa a ter uma
nova leitura prática, diante do constitucionalismo fraternal prometido na Constituição federal de 88.
É possível de ser concretizado no âmbito penal, através da chamada justiça Restaurativa, do respeito
aos direitos humanos e da humanização da aplicação do próprio direito penal e do correspondente
processo penal.
⮚ Obs.: Com base nesse princípio, o STJ já determinou a progressão de pena (STJ HC 562.452)
julgado em 23/04/2020: Recentemente, o princípio da Fraternidade foi usado como
fundamentação para decidir pelo cômputo da pena de maneira mais benéfica ao condenado
que é mantido preso em local degradante. O ministro João Otávio de Noronha observou que o
voto “consagra um princípio já agasalhado na Constituição Federal [o Princípio da Fraternidade],
em que os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e princípios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte”, afirmou.
73
RETA FINAL
1. A lei penal é fonte formal imediata do direito penal e detém o monopólio para a criação de infrações
penais e cominação de penas.
A) INCRIMINADORAS: Criam crimes e cominam penas. Estão na Parte Especial do Código Penal e na
Legislação Penal Especial.
B) NÃO INCRIMINADORAS: Não criam crimes nem cominam penas, podendo ser subdividas em:
● Interpretativas: São normas que esclarecem o conteúdo e o significado de outras normas penais. É
o caso, por exemplo, do conceito de funcionário público para fins penais, previsto no art. 327, CP.
● Finais (Complementares): Delimitam o campo de validade das leis incriminadoras. Ex.: art. 2º, CP.
● Diretivas: Estabelecem princípios, como o art. 1º do CP, que trata da reserva legal.
● Lei penal em branco INVERSA ou AO AVESSO: O preceito primário é completo, mas o preceito
secundário (pena) depende de complementação. O complemento, nesse caso, deve ser uma lei,
tendo em vista o princípio da reserva legal. Ex.: genocídio.
a) Exclusividade: Somente a lei pode criar delitos e as penas correspondentes (art. 5º, XXXIX, da CF).
b) Imperatividade: Caso seja descumprida haverá a imposição de sanção (pena ou de uma medida).
c) Generalidade: Direciona-se a todas as pessoas, indistintamente, até mesmo aos inimputáveis.
d) Impessoalidade: Seus efeitos são projetados a fatos futuros, incidindo sobre qualquer pessoa que venha
a praticá-los, ressalvadas duas exceções: as leis de anistia e a abolitio criminis, as quais alcançam fatos
concretos.
e) Anterioridade: Somente pode ser aplicada se estava em vigor no momento da prática da infração penal,
ressalvado o caso da retroatividade benéfica.
75
RETA FINAL
2. Excepcionalmente, será permitida a retroatividade da lei penal para alcançar os fatos passados, desde
que benéfica ao réu, de modo que NÃO há, no direito penal, irretroatividade maléfica ao réu. Nesse
contexto, a lei benéfica poderá retroagir mesmo que já tenha havido o trânsito em julgado da sentença
penal condenatória.
3. Essa sistemática se aplica a norma que tenha caráter material (direito penal) ou misto (direito penal e
processual penal). Apenas as normas de natureza processual (puras) NÃO se submetem à
retroatividade benéfica.
ATENÇÃO! Quanto ao termo inicial da prescrição da pretensão punitiva, o Código Penal adota a TEORIA DO
RESULTADO (art. 111, I, CP): A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: I
- do dia em que o crime se consumou.
76
RETA FINAL
2. Natureza jurídica: Causa de extinção da punibilidade. Parece ter sido a adotada pelo CP, conforme
art.107, III, CP. Prevalece na doutrina.
3. O que é abolitio criminis temporária? R.: Com o Estatuto do Desarmamento, foi previsto um prazo
para que proprietários de arma de fogo entregassem ou regularizassem o registro da arma. Durante
esse prazo, não incidiu o tipo penal respectivo, o crime de posse irregular de arma de fogo ficaria
“suspenso” por algum tempo. Esse prazo foi chamado de “abolitio criminis temporária”.
● Na abolitio criminis há supressão da figura criminosa, pois a intenção do legislador é não mais
considerar o fato criminoso.
● No princípio da continuidade normativo-típica há a migração do conteúdo criminoso para outro
tipo penal incriminador, pois a intenção é manter a natureza criminosa do fato. O STF também já
utilizou o termo transmudação geográfica do tipo penal.
5. Abolitio Criminis x Novatio Legis in Mellius (“lex mitior”): A novatio legis in mellius é a nova lei que de
qualquer modo favoreça o agente (art. 2°, §único, CP): A lei posterior, que de qualquer modo favorecer
o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.
77
RETA FINAL
● Alcança, inclusive, fatos já definitivamente julgados, visto que a coisa julgada não é oponível à
retroatividade benéfica.
7. Juízo competente para a aplicação: Depende do momento em que se encontra a persecução penal.
● Se estiver na fase do inquérito ou na ação penal de 1ª instância quem aplica é o juiz de 1ª grau.
● Se estiver no Tribunal (recurso ou competência originária), será aplicada por ele.
● Se a condenação já transitou em julgado, cabe ao juízo da execução, pouco importando a origem da
condenação.
1. Crime continuado (art. 71, CP): Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e
outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe
a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso,
de um sexto a dois terços.
2. Crime permanente: Trata-se de crime cuja consumação é prolongada no tempo pela vontade do
agente. Ex.: extorsão mediante sequestro - a consumação já se deu com a privação da liberdade, mas
enquanto a vítima não é libertada o crime continua se consumando.
Nestes dois casos, considerando que o agente deu continuidade às condutas por opção, aplica-se
sempre a última lei vigente, mesmo que mais grave, conforme entendimento sumulado.
Súmula 711, do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.
78
RETA FINAL
Se a vítima foi sequestrada enquanto estava em Ex.: Caso o agente pratique cinco crimes, porém
vigor a lei menos gravosa, mas no período em os quatro primeiros estavam sob a regência da
que ficou sob o poder do agente entrou em vigor lei menos gravosa, enquanto que o quinto é
lei mais gravosa, aplica-se a última. praticado na vigência da lei mais gravosa, aplica-
se a última.
OBS.: Não é possível a combinação de leis penais para favorecer o réu (lex tertia).
Súmula 501, STJ: “É cabível a aplicação retroativa da lei n. 11.343/06, desde que o
resultado da incidência de suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu
do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.360/76, sendo vedada a combinação de
leis”.
1. Lei temporária: É aquela que tem prefixado no seu texto o tempo de sua vigência. Logo, possui prazo
determinado na lei. Ex.: Lei 12.663/12 (Lei da FIFA).
2. Lei excepcional: É a que atende a transitórias necessidades estatais, tais como guerra, epidemias,
calamidades. Perdura por todo o tempo excepcional, que não é preestabelecido na lei. É editada em
função de algum evento transitório, sendo que perdura enquanto persistir o estado de emergência.
3. Características:
● Autorrevogabilidade: Consideram-se revogadas assim que encerrado o prazo fixado (lei temporária)
ou cessada a situação de anormalidade (lei excepcional).
● Ultratividade: Os fatos praticados durante sua vigência continuam sendo punidos ainda que
revogadas as leis temporária ou excepcional.
4. As leis temporárias e excepcionais NÃO se sujeitam aos efeitos da abolitio criminis, salvo se lei posterior
for expressa nesse sentido.
ATENÇÃO! A lei penal benéfica possui ULTRATIVIDADE, ou seja, pode ser aplicada mesmo após a sua
revogação, caso o fato tenha sido praticado durante a sua vigência.
A alteração de complemento de norma penal em branco, retroage?
Segundo o STF, depende. Em se tratando de norma penal em branco homogênea (imprópria), cujo
complemento será outra lei, deve retroagir para beneficiar o réu.
Já nos casos de norma penal em branco heterogênea, cuja complementação normalmente é feita por ato
administrativo, só retroagirá caso o ato não se dê em situação de excepcionalidade, ou seja, se for proferido
em situação de normalidade. Assim, temos as seguintes hipóteses:
79
RETA FINAL
- Ato não visa proteger situação excepcional, ou seja, proferido em situações de normalidade: Há
retroatividade da lei penal benéfica, a exemplo da retirada do cloreto de etila da lista da Portaria da Anvisa
que complementa a Lei de Drogas.
- Ato que visa proteger situação excepcional: Não retroage. Por exemplo, portarias que fazem tabelamento
de preços, para reger, por exemplo, crimes contra a ordem econômica. Nestas hipóteses, se não foi
obedecido o tabelamento daquela data, mas posteriormente houve a correção da tabela para um patamar
superior, não haverá a retroatividade da lei penal, vez que o que se buscava era tutelar aquela situação de
caráter excepcional.
1. Fulano praticou um delito durante a vigência da Lei 1, que cominou para tal conduta a pena de 6 anos
de reclusão. Durante o processo, entra em vigor a Lei 2, modificando a respectiva pena para 3 anos. Por
fim, quando da sentença, já está em vigor a Lei 3, que pune a mesma conduta com 4 anos de reclusão.
2. Assim, podemos facilmente verificar que a lei mais benéfica a ele é a 2ª, certo? Porém, ela não estava
em vigor nem na data do fato, nem na data da sentença, sendo uma lei intermediária. E aí, será que ela
pode ser aplicada?
3. Tanto a doutrina, como o STF entendem que SIM, é possível aplicar a lei intermediária, desde que seja
a mais benéfica entre as 3 na sua integralidade.
4. E esta é uma lei possui duplo-efeito:
● retroatividade - retroage para alcançar o fato;
● ultratividade - possui força para alcançar a sentença ou o julgamento.
1. Vetores:
● Territorialidade (art. 5º, CP): Aplicação da lei penal brasileira aos crimes cometidos no território
brasileiro. REGRA GERAL.
● Extraterritorialidade (art. 7º, CP): Aplicação da lei penal brasileira aos crimes cometidos do
exterior. EXCEÇÃO.
● Intraterritorialidade: Aplicação da lei estrangeira a crimes cometidos no Brasil. EXCEÇÃO. Ex.:
imunidades diplomáticas.
2. Princípios
● Princípio da Nacionalidade / Personalidade Ativa: Aplica-se a lei penal da nacionalidade do
agente, não importando o local do crime, a nacionalidade da vítima ou dos bens jurídicos
80
RETA FINAL
lesados. Ou seja, a lei brasileira é aplicada em razão da nacionalidade do sujeito ativo - art. 7º,
II, b, CP.
● Princípio da Nacionalidade / Personalidade Passiva: Aplica-se a lei penal da nacionalidade do
sujeito passivo. Ou seja, a lei brasileira é aplicada ao crime praticado por estrangeiro contra
brasileiro - art. 7º, § 3º, CP.
● Princípio da Defesa Real / da Proteção / Real: Aplica-se a lei da nacionalidade do bem jurídico
violado, não importando o local ou nacionalidade do agente. Ou seja, a lei brasileira é aplicada
ao crime cometido fora do Brasil, que afete interesse nacional - art. 7º, I, a, b, c, CP.
● Princípio da Justiça Universal / Universalidade / Justiça Cosmopolita: O agente fica sujeito à lei
do país em que for capturado, não importa o local do crime, nem a nacionalidade do agente ou
da vítima. Este princípio está normalmente presente nos tratados internacionais de cooperação
de repressão a determinados delitos de alcance transnacional. É pautado no direito de todos os
países em punir qualquer crime - art. 7º, I, d e II, a, CP (obs.: em relação ao inciso I, d, existem
autores que dizem que se trata do princípio do domicílio, mas a doutrina majoritária entende
como justiça universal).
● Princípio da Representação / da Bandeira / Subsidiário: A lei brasileira será aplicada aos crimes
cometidos no estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas brasileiras, desde que não
sejam julgados no local do crime - art. 7º, II, c, CP.
3. O que é o território nacional para fins de limite de aplicação da lei? Território é o espaço que o país
exerce sua soberania política.
● O conceito de território nacional abrange não apenas o espaço físico, mas, também, um espaço
jurídico por ficção, equiparação ou extensão, previsto no art. 5º, § 1º, CP.
● Para aeronaves e navios:
⋅ Se públicos ou a serviço do Brasil: considera-se território brasileiro onde quer que se
encontre
⋅ Se privada ou mercante: somente se tiver em alto-mar (aplica-se a bandeira).
81
RETA FINAL
⮚ OBS.2: Embaixada é território nacional. NÃO é extensão do território que representa. No entanto, é
inviolável.
3.1. Extraterritorialidade
1. É a aplicação da lei brasileira ao CRIME praticado no estrangeiro. Não se aplica a lei brasileira às
CONTRAVENÇÕES PENAIS praticadas no exterior (art. 2°, DL 3.688/41).
● Crimes praticados contra a vida ou a liberdade do Presidente da República: Princípio da defesa real
ou proteção.
● Crimes praticados contra a administração pública, por quem está a seu serviço: Princípio da defesa
real ou proteção.
● A Lei de Tortura prevê mais uma hipótese de extraterritorialidade incondicionada. (Art. 2°, Lei
9.455/97)
B) CONDICIONADA: Admissível nos crimes previstos no art. 7°, II, CP. É preciso respeitar as condições
cumulativas previstas no Código Penal.
● Crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir: Princípio da justiça universal.
82
RETA FINAL
CONDIÇÕES (CUMULATIVAS):
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; (PRINCÍPIO DA DUPLA TIPICIDADE)
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável.
C) HIPERCONDICIONADA: Conforme previsão no art. 7°, §3°, CP, a lei brasileira aplica-se também ao
crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil - princípio da personalidade passiva -, se,
além de reunidas as condições acima:
● Não tiver sido pedida ou foi negada a extradição;
● Ter havido requisição do Ministro da Justiça.
2. Lugar do delito x Locus comissi delicti: Cuidado para não confundir o lugar do delito para o Código
Penal (teoria da ubiquidade) com locus comissi deliciti para o código de Processo Penal (teoria do
resultado):
● Lugar do delito: serve para os crimes à distância (crimes que perpassam mais de um país).
. Tema de direito penal (art. 6º, CP);
. Adota a Teoria da Ubiquidade.
● Locus comissi delicti: lugar onde se consuma o crime.
. Tema de direito processual penal (art. 70, CPP)
. Adota a Teoria do Resultado.
DICA DD: De acordo com o CP o crime cometido dentro do território nacional, a bordo de navio que apenas
passava pelo mar territorial brasileiro aplica-se a lei nacional, porque o crime tocou o nosso território.
Atualmente, aplica-se a chamada PASSAGEM INOCENTE, dispondo que quando um navio passa no território
nacional somente como passagem necessária para chegar ao seu destino, não há necessidade de autorização
do Governo Brasileiro para tanto, hipótese em que NÃO se aplica a lei brasileira. A passagem inocente
83
RETA FINAL
somente se refere a navio, segundo Rogério Sanches os aviões não desfrutam da passagem inocente (art. 3º
da Lei nº 8.617/93).
PRIVILÉGIO PRERROGATIVA
É uma exceção da lei comum deduzida da É o conjunto de precauções que rodeiam a função.
situação de superioridade das pessoas que a Servem para o exercício da função.
desfrutam. O privilégio trabalha com a ideia de
que há pessoas superiores a outras.
É subjetivo e anterior à lei. É objetiva e deriva da lei.
Tem uma essência pessoal. É um anexo à qualidade do órgão.
É poder frente à lei. É conduto para que a lei se cumpra.
É próprio da aristocracia das ordens sociais É próprio das aristocracias das instituições
(nobreza, clero). governamentais.
2. A imunidade diplomática garante o que? O diplomata deve obediência à nossa lei? R.: Por força da
característica da generalidade da lei penal, os agentes diplomáticos devem obediência ao preceito
primário do país em que se encontram. Escapam, no entanto, da sua competência jurídica, ou seja, da
punição (preceito secundário), permanecendo sob a eficácia da lei penal do Estado a que pertencem
(INTRATERRITORIALIDADE).
3. Natureza jurídica da imunidade diplomática? Existem duas correntes discutindo esse assunto.
● 1ª Corrente (majoritária): causa pessoal de isenção de pena.
● 2ª Corrente: causa impeditiva de punibilidade.
84
RETA FINAL
4. É possível renunciar à imunidade? R.: O diplomata NÃO pode renunciar à sua imunidade, pois é uma
prerrogativa do cargo. Contudo, o país de origem pode renunciar a imunidade do seu diplomata.
5. Os agentes consulares desfrutam de imunidade? R.: O agente consular possui imunidade somente nos
delitos praticados em razão da função, NÃO abrangendo os crimes praticados fora da função.
6. A embaixada é extensão do território que representa? R.: Segundo o STF, as embaixadas NÃO FAZEM
parte do território do país que representam, porém são invioláveis. Diante disso, para se cumprir a lei
do país no interior da embaixada, deve primeiro se passar pelas regras de direito internacional, NÃO se
podendo cumprir a lei do país nem mesmo se houver mandado judicial, ou flagrante delito.
2. Imunidade Parlamentar Relativa / Formal: Prevê que o parlamentar só pode ser preso em flagrante
delito de crime inafiançável. Em todos os demais casos, NÃO é cabível a prisão, pois incide a imunidade!
● O termo inicial dessa imunidade é desde a expedição do diploma e a garantia por ela prevista é a
de que o
● No caso de flagrante em crime inafiançável, a Casa Legislativa faz um juízo político da prisão. O
juízo NÃO é jurídico, mas político, ou seja, conforme a conveniência e oportunidade de se manter
o parlamentar preso.
3. Imunidade relativa ao processo: Consiste na garantia funcional consiste no fato de a Casa Legislativa
respectiva (Câmara ou Senado) poder sustar o andamento do processo, o que também suspende a
prescrição. Cuidado: A imunidade NÃO impede a instauração de Inquérito Policial e nem a realização
de investigação penal (STF).
Art.53, CF, §3º - Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime
ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa
85
RETA FINAL
respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto
da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da
ação.
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo
improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.
5. Imunidades dos Parlamentares dos Estados (Deputados Estaduais): Os parlamentares dos Estados
possuem as mesmas imunidades dos deputados federais, em razão do princípio da simetria. Vejamos o
entendimento do STF sobre o tema
6. Imunidades dos Parlamentares dos Municípios (Vereadores): Só possuem imunidade material, limitada
aos atos praticados no exercício do mandato e dentro da circunscrição do município. Então, essa é uma
imunidade material limitada. Os vereadores NÃO possuem imunidade formal ou relativa.
Dispõe o art. 9º, do CP: A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie
as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para:
Obrigar o condenado à:
I- ⋅ Reparação de danos civis; Depende de requerimento da parte interessada
⋅ Restituições;
⋅ Outros efeitos civis.
II - ⋅ Sujeitar o condenado à medida de Depende da existência de tratado de extradição entre o BR
segurança. e o país de origem OU requisição do MJ.
OBS.: Efeitos incondicionados
INDEPENDEM de homologação.
86
RETA FINAL
● Reincidência;
● Detração.
1. Em regra, a sentença estrangeira NÃO precisa ser homologada no Brasil para gerar efeitos, bastando
prova legal da existência de condenação.
2. No entanto, a sentença estrangeira necessita ser homologada no Brasil pelo STJ (art. 105, I, “i”, da CF/88)
para gerar:
● Efeitos civis, a exemplo da reparação de danos, dependendo, ainda, de pedido da parte interessada;
● Sujeição à medida de segurança:
⋅ Se existir tratado de extradição: mediante requisição do PGR;
⋅ Se inexistir tratado de extradição: mediante requisição do Ministro de Justiça.
1. Ao contrário dos prazos processuais, os prazos penais são improrrogáveis e, na sua contagem, o dia
de início se inclui no cálculo. (art. 10, CP)
2. Frações não computáveis da pena: Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas
de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. (art. 11, CP)
87
RETA FINAL
● Teleológica: Considera à vontade ou intenção objetivada na lei, sua finalidade, utilizando-se de vários
elementos (é a sugerida pelo artigo 5º da LINDB).
● Histórica: Busca a origem da lei, o fundamento de sua criação.
● Sistemática: Conjunto da legislação e dos princípios gerais de direito, sistema em que a norma está
inserida como um todo.
● Progressiva: A lei é interpretada de acordo com o progresso da ciência que está progredindo.
C) QUANTO AO RESULTADO:
● Declarativa: A letra da lei corresponde aquilo que o legislador quis dizer.
● Extensiva: Amplia o alcance das palavras da lei para corresponder ao alcance/vontade do texto.
Corrige a lei tímida, visto que ela disse menos do que gostaria.
● Restritiva: Reduz o alcance das palavras da lei para corresponder ao alcance/vontade do texto. A lei
disse mais do que desejava.
● Progressiva / Adaptativa / Evolutiva: Busca amoldar a lei à realidade atual, de acordo com os
progressos da cultura, da sociedade, da tecnologia, das ciências etc.
1. Interpretação Extensiva: Existe norma para o caso concreto, mas amplia-se o alcance da norma,
podendo ser feita até mesmo in malam partem. Ex.: antigo art. 157, §2º, II, CP, hoje revogado, que
utilizava o termo “arma” e a interpretação era de que qualquer arma estaria abarcada;
STJ entende que em direito penal, não é permitida a interpretação extensiva para
prejudicar o réu, impondo-se a integração da norma mediante a analogia in bonam
partem, devendo a lei penal ser interpretada restritivamente quando prejudicial ao
réu e extensivamente quando a ele favorável. (EDcl no AgRg no HC 651.765/SP, Rel.
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA TURMA, julgado em 07/12/2021,
DJe 14/12/2021).
2. Interpretação Analógica: Existe norma para o caso, mas o legislador previu uma fórmula casuística
seguida de uma genérica, permitindo ao juiz encontrar outros casos similares. Também pode ser in
malam partem. Ex.: art.121, §2º, I, CP:
● “Paga, promessa de recompensa” – fórmula casuística
● “Ou outro motivo torpe” – fórmula genérica
88
RETA FINAL
3. Analogia: NÃO existe norma para o caso concreto, e o juiz aplica a lei prevista para outro caso quando
verificada lacuna legislativa. Não é forma de interpretação, é FORMA DE INTEGRAÇÃO, de suprir
lacunas. Só é possível em benefício do réu.
a) Características:
● Não é forma de interpretação, mas de integração;
● Pressupõe lacuna;
● Parte-se do pressuposto de que não existe uma lei a ser aplicada ao caso concreto, motivo pelo
qual é preciso socorrer-se de previsão legal empregada à outra situação similar.
1. Incidência: Verifica-se quando há um só fato e, aparentemente, duas ou mais normas vigentes são
aplicáveis a ele.
2. O objetivo do instituto é evitar o bis in idem e manter a unidade lógica e a coerência do sistema penal.
Pode até haver conflitos entre normas, mas o sistema é único, perfeito e apresenta ele próprio meios
para solucioná-los.
3. Requisitos:
● Unidade de fato (fato único);
89
RETA FINAL
● Pluralidade de normas;
● Vigência simultânea de todas elas.
Cuidado: Aqui NÃO se trata de sucessão de leis penais no tempo, mas de duas leis penais que estão em vigor
simultaneamente. Se NÃO estão vigentes, aí sim o assunto é o conflito de leis penais no tempo, que se
resolverá, em regra, pela posterioridade; e, excepcionalmente, pela lei penal mais benéfica (art. 4º do CP).
4. Princípios Orientadores:
A) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE: Há subsidiariedade entre duas leis penais quando ambas tratam
de estágios ou graus diversos de ofensa a um mesmo bem jurídico, de forma que a ofensa mais ampla
e dotada de maior gravidade, descrita pela lei primária, engloba a menos ampla, contida na
subsidiária, ficando a aplicabilidade desta condicionada à não incidência da outra.
● A norma subsidiária só se aplica quando não houver subsunção do fato à norma mais grave, que
é a norma principal, devendo então ser aplicada a norma subsidiária, que funciona como “soldado
de reserva”.
● No contexto da incidência do princípio da subsidiariedade o delito menos grave funcionará como
CRIME DE PASSAGEM ou TIPO PENAL DE PASSAGEM.
C) PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO: Verifica-se quando o crime previsto por uma norma (consumida) não
passa de uma fase de realização do crime previsto em outra norma (consuntiva) ou é uma norma de
transição para o último (crime progressivo). A consunção pressupõe que esses crimes protejam o
mesmo bem jurídico. Aplica-se às seguintes hipóteses:
90
RETA FINAL
● Crime progressivo: Quando o agente, para alcançar um resultado ou crime mais grave, precisa
passar por um crime menos grave. Ex.: Para o homicídio, passa-se pela lesão corporal.
● Fato anterior impunível (ante factum impunível): São fatos anteriores que estão na linha de
desdobramento da ofensa mais grave. A diferença é que no crime progressivo o crime anterior
era obrigatório; aqui o crime anterior (meio) foi o escolhido dentre os possíveis.
● Fato posterior impunível (post factum impunível): O fato posterior impunível retrata o
exaurimento do crime principal praticado pelo agente, por ele não podendo ser punido. Aqui se
absorve o crime praticado, após exaurido o crime querido. Ex.: falsificação de documento e uso
de documento falso – quando praticados pelo mesmo agente, ele só responde pela falsificação.
D) PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE:
● Própria: Tem aplicação nos crimes plurinucleares, ou seja, crimes de ação múltipla ou conteúdo
variado. Nesse caso, o crime permanece único, não desnatura a unidade do crime. E
● Imprópria: Quando duas ou mais normas penais disciplinam o mesmo fato.
91
RETA FINAL
1. Administração Patrimonialista: Não havia diferença entre os interesses pessoais dos agentes
públicos e os interesses da própria administração.
2. Administração Burocrática: Superou o patrimonialismo ao adotar o princípio da impessoalidade.
Foram criados rígidos controles sobre a atuação dos agentes públicos.
3. Administração Gerencial: É o modelo adotado na Administração moderna. Busca superar o modelo
burocrático por meio da adoção do princípio da eficiência, que tem as seguintes consequências
principais:
• Utilização do controle de resultados substituindo o controle de meios;
• Maior autonomia dos agentes/órgãos/entidades públicas;
• Serviço orientado para o cidadão;
• Utilização de indicadores de desempenho.
➢ Obs.: Administração Pública Dialógica: Segundo Ronny Charles, Administração pública dialógica é
uma tendência identificada em algumas atividades administrativas, notadamente na prestação de
serviços públicos e contratações de grandes empreendimentos, que consiste na abertura de diálogo
com os administrados, permitindo que eles colaborem para o aperfeiçoamento ou a legitimação da
atividade administrativa.
1. Direito alemão - o direito administrativo brasileiro herdou a inspiração para aplicação do princípio
da segurança jurídica, especialmente sob o aspecto subjetivo da proteção à confiança.
2. Direito francês - herdou o conceito de serviço público, a teoria dos atos administrativos com o
atributo da executoriedade, as teorias sobre responsabilidade civil do Estado, o princípio da
legalidade, a teoria dos contratos administrativos, as formas de delegação da execução de serviços
públicos, a ideia de que a Administração Pública se submete a um regime jurídico de direito público,
derrogatório e exorbitante do direito comum, que abrange o binômio autoridade/liberdade.
4. Direito inglês (sistema da common law) - o direito administrativo brasileiro herdou o princípio da
unidade de jurisdição, o mandado de segurança e o mandado de injunção, o princípio do devido
processo legal, inclusive, mais recentemente, em sua feição substantiva, e que praticamente se
92
RETA FINAL
confunde com o princípio da razoabilidade. No fim do século XX, também herdou do sistema
common law o fenômeno da agencificação e a própria ideia de regulação.
3. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO:
3. Critério das Relações Jurídicas: O Direito Administrativo é a disciplina das relações jurídicas entre a
Administração e o particular. Assim, todas as relações entre o Estado e o administrado seriam função
administrativa.
4. Critério do Serviço Público (França): O Direito Administrativo teria por objetivo a disciplina jurídica
dos serviços públicos. Ou seja, a função administrativa seria a instituição, organização e prestação do
serviço público. → Escola do Serviço Público (Leon Duguit).
● Sentido amplo (Leon Duguit): Inclui todas as atividades do Estado;
● Sentido estrito (Gaston Jeze): Inclui apenas atividades materiais (leia-se: aquela de dentro para
fora, com a finalidade de satisfação das necessidades coletivas).
7. Critério Funcional: O Direito Administrativo é ramo jurídico que estuda e analisa a disciplina da função
administrativa, esteja ela sendo exercida pelo Executivo, Legislativo, Judiciário ou por delegação
estatal.
4. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO
1. Direito administrativo: pode ser definido como conjunto harmônico de princípios que regem os
órgãos, os agentes e a atividade pública para realização dos fins desejados pelo Estado de forma
DIRETA, CONCRETA e IMEDIATA.
● Direta: Ao se falar que a atuação é direta, quer-se dizer que ela atua de ofício, não dependendo
de provocação.
● Concreta: diferente da legislativa, que é geral e abstrata (não atinge pessoas específicas), a função
administrativa é concreta porque se materializa em casos concretos.
● Imediata: realiza os fins do Estado (necessidades do Estado). Quem define os fins do Estado, por
sua vez, é o Direito Constitucional.
2. Administração Pública:
• Em sentido amplo: objetivamente considerada, compreende a função política + função
administrativa.
• Em sentido estrito: envolve tão somente a função administrativa propriamente dita.
4. Transadministrativismo: Diogo de Figueiredo Moreira Neto adota a tese de que existe um novo ramo
do Direito Administrativo denominado transadministrativismo.
• Trata-se de um direito administrativo transnacional, fenômeno semelhante ao
transconstitucionalismo.
• Para Diogo de Figueiredo, o direito administrativo global é um gênero, do qual o direito
administrativo transestatal (transadministrativismo) é espécie. O transadministrativismo refere-
se exclusivamente ao produto normativo desses centros de poder transestatais: aqueles que se
originam de necessidades ordinatórias das diversas sociedades, que não são providas pelos
Estados.
94
RETA FINAL
A doutrina costuma apontar a existência de cinco fontes principais deste ramo do Direito, quais
sejam: a lei, a jurisprudência, a doutrina, os princípios gerais e os costumes.
1. LEI
• Fonte Primária – qualquer espécie normativa (lei em sentido amplo);
• A lei é a fonte primária do direito administrativo, pois inova no ordenamento jurídico. A atuação
administrativa tem que ser pautada pela lei, pois só existe a atuação do administrador se houver
permissivo legal nesse sentido (princípio da legalidade).
2. JURISPRUDÊNCIA
• Fonte Secundária – julgamentos reiterados no mesmo sentido. Súmula é a consolidação da
jurisprudência.
• A jurisprudência se traduz na reiteração de julgados dos órgãos do judiciário, travando uma
orientação acerca de determinada matéria.
3. DOUTRINA
• Fonte Secundária – forma o sistema teórico de princípio aplicável ao Direito Positivo.
• É fonte interpretativa. Expõe uma interpretação sobre determinada matéria ou lei, ao estabelecer
o que provavelmente buscava, ou seja, sua razão/sentido.
4. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO – estão na base da disciplina (alicerce). Exs.: Ninguém pode causar
dano a outrem. É vedado o enriquecimento ilícito. Ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.
5. COSTUMES – Práticas reiteradas da autoridade administrativa. Lembre-se que o costume não cria e
nem exime obrigação.
• Elementos do costume:
- Elemento objetivo: repetição de condutas;
- Elemento subjetivo: convicção de sua obrigatoriedade.
• Espécies de costumes:
- Secundum legem: previstos ou admitidos pela lei;
- Praeter legem: preenchem as lacunas normativas, possuindo caráter subsidiário;
- Contra legem: se opõem à norma legal.
95
RETA FINAL
Resumindo...
FONTE PRIMÁRIA 1) Lei - em sentido material/amplo: qualquer espécie normativa
1) Jurisprudência
FONTES 2) Doutrina
SECUNDÁRIAS 3) Costumes - secundum legem e praeter legem
4) Princípios Gerais do Direito.
1) Constituição
FONTES FORMAIS 2) Lei
3) Regulamento e outros atos normativos da Administração
Pública.
5) Jurisprudência (sem efeito vinculante)
FONTES MATERIAIS 6) Doutrina
7) Costumes - secundum legem e praeter legem
8) Princípios Gerais do Direito.
96
RETA FINAL
É o conjunto de regras e princípios que regem a Administração Pública. Celso Antônio Bandeira de
Mello defende a existência de verdadeiras “PEDRAS DE TOQUE” no Direito Administrativo, quais sejam:
• Reserva de lei: o tratamento de certas matérias deve ser formalizado necessariamente pela
legislação. Relaciona-se com a POSITIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO POSITIVA), que condiciona a
validade da atuação dos agentes públicos à prévia autorização legal.
c) Considerações importantes:
● A legalidade deve ser reinterpretada a partir da constitucionalização do Direito Administrativo.
● Por ser submissa ao princípio da legalidade, a Administração não pode levar a termo interpretação
extensiva ou restritiva de direitos, quando a lei assim não o prever de modo expresso.
● A legalidade encontra-se inserida no denominado PRINCÍPIO DA JURIDICIDADE, que exige a
submissão da atuação administrativa à lei e ao Direito → Exige-se compatibilidade com o BLOCO
DE LEGALIDADE. Pelo princípio da juridicidade, deve-se respeitar, inclusive, a noção de
legitimidade do Direito.
98
RETA FINAL
2. IMPESSOALIDADE: A atuação da administração pública deve ser imparcial, não visando beneficiar ou
prejudicar pessoa determinada, tendo em vista que a sua atuação está voltada à busca do interesse
público em geral. O princípio da impessoalidade possui duas acepções:
• Proibição de promoção pessoal: Vedação do exercício da máquina pública para atingir interesses
particulares. Ex.: art. 37, §1º da CF/88. (lembrando que o § 1º do art. 37 da CF/88 não admite
flexibilização por norma infraconstitucional ou regulamentar – Info 1017, STF)
3. MORALIDADE: trata-se de princípio que exige a honestidade, legalidade, boa-fé de conduta no exercício
da função administrativa, ou seja, a atuação não corrupta dos gestores públicos, ao tratar com a coisa
de titularidade do Estado.
➢ Obs.: Odete Medauar aponta que a ação popular é um dos instrumentos constitucionais para
sancionar a inobservância da moralidade, uma vez que pode ser proposta por qualquer cidadão
para anular ato lesivo à moralidade administrativa.
99
RETA FINAL
4. PUBLICIDADE: impõe a divulgação e exteriorização dos atos do poder público, guardando relação
com o princípio democrático, ao possibilitar o controle social sobre os atos públicos.
➢ Obs.: A publicidade também representa condição de eficácia dos atos administrativos, de modo
que estes só começam a produzir efeitos a partir de sua publicidade.
5. EFICIÊNCIA (inserido pela EC 19/98): exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza,
perfeição e rendimento funcional. Sua aplicação orienta e serve de fundamento para a construção de
uma concepção de Administração Pública Gerencial.
➢ Obs.: A concretização dos resultados deve ser realizada por meio de processo político-
participativo. A implementação da eficiência administrativa depende, por exemplo, da adoção de
medidas de desburocratização, de inovação, de transformação digital e da participação do
cidadão, na forma indicada na Lei 14.129/2021 que dispõe princípios, regras e instrumentos para
o Governo Digital e para o aumento da eficiência pública.
• Adequação ou idoneidade: o ato estatal deverá contribuir para a realização do resultado pretendido.
• Necessidade ou exigibilidade: caso existam duas medidas adequadas para alcançar o fim perseguido,
o Poder Público deve adotar a medida menos gravosa aos direitos fundamentais (ex. invalidade da
sanção de demissão ao servidor que pratica infração leve).
• Proporcionalidade em sentido estrito: é a ponderação, no caso concreto, entre o ônus imposto pela
atuação estatal e o benefício por ela produzido, razão pela qual a restrição ao direito fundamental
deve ser justificada pela importância do princípio ou direito que se quer efetivar.
Art. 53 da Lei 9.784/99: A Administração deve anular seus próprios atos, quando
eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.
Súmula 346 STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus
próprios atos.
Súmula 473 STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados
de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-
los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
• Prazo para o exercício da autotutela: O art. 54 da lei 9.784/99 estipula que o direito da Administração
de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis aos destinatários decai em 5
anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má fé.
Súmula 633 STJ: A Lei 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo
decadencial para revisão de atos administrativos no âmbito da administração
pública federal, pode ser aplicada de forma subsidiária aos Estados e Municípios se
inexistente norma local e específica regulando a matéria.
Considerações relevantes:
• Mesmo depois de terem se passado mais de 5 anos, a Administração Pública pode anular a anistia
política concedida quando se comprovar a ausência de perseguição política, desde que respeitado
o devido processo legal e assegurada a não devolução das verbas já recebidas. (Info 668, STJ).
• O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta
diretamente a Constituição Federal. (Info 741, STF)
• Em regra, o prazo decadencial para que a Administração anule atos administrativos inválidos é de 5
anos, aplicável a todos os entes federativos, por força do princípio da isonomia. (Info 1012, STF)
• Em decisão na qual se evidencie não acarretar lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os
atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Administração.
1. REGRA: A atuação administrativa, buscando atender da melhor forma o interesse público, preconiza que
a atividade do Estado deve ser prestada de forma contínua, ou seja, sem interrupções, motivo pelo qual
o princípio da continuidade veda a interrupção na prestação dos serviços públicos.
2. A interrupção por inadimplemento do usuário não pode paralisar serviços essenciais. Ex.: corte de
energia elétrica do hospital público/iluminação pública.
102
RETA FINAL
3. Segundo o STJ, é possível o corte de energia elétrica por fraude no medidor, DESDE que sejam
observados alguns requisitos: (Info 634, STJ)
• Fraude deve ser apurada em observância do contraditório e ampla defesa
• Aviso prévio ao consumidor
• Inadimplemento restrito ao período de 90 dias anteriores à constatação da fraude, devendo efetuar
o corte em até 90 dias após o vencimento do débito
• O direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica (art. 37, VII, da CF). Lembre-se que o policial civil não pode fazer greve!
• Restrição à aplicabilidade da exceptio non adimpleti contractus, pois o contratado só pode
interromper a execução do contrato após atraso superior a 2 (dois) meses, contado da emissão da
nota fiscal, dos pagamentos ou de parcelas de pagamentos devidos pela Administração por
despesas de obras, serviços ou fornecimentos (art. 137, §2º, IV, da Lei n. 14.133/2021);
• Possibilidade de intervenção na concessionária para garantia de continuidade na prestação do
serviço (art. 32 da Lei n. 8.987/95);
• Ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços vinculados ao objeto do
contrato nas hipóteses de: i) risco à prestação de serviços essenciais; ii) necessidade de acautelar
apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, inclusive após extinção do contrato.
(art. 104, V, da Lei n. 14.133/2021);
• Reversão de bens do concessionário indispensáveis à continuidade do serviço (art. 36 da Lei n.
8.987/95);
• Encampação do contrato de concessão mediante a retomada do serviço pelo concedente (art. 37
da Lei n. 8.987/95);
• Necessidade de institutos como a suplência, a delegação e a substituição para preencher as funções
públicas temporariamente vagas.
103
RETA FINAL
4. Motivação aliunde ou per relationem – Ocorre todas as vezes que a motivação de um determinado
ato remete à motivação de ato anterior que embasa sua edição.
b) Ampla defesa: assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, a utilização dos meios
de prova, dos recursos e dos instrumentos necessários para defesa de seus interesses perante o
Judiciário e a Administração.
8. PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA SUBJETIVA DAS SANÇÕES: Significa que não podem ser impostas
sanções e restrições que superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que
não tenham sido as causadoras do ato ilícito.
➢ Obs.: Na jurisprudência do STF, encontramos dois exemplos de aplicação desse princípio em casos
envolvendo inscrição de Estados e Municípios nos cadastros de inadimplentes da União:
● 1ª acepção: quando a irregularidade foi praticada pela gestão anterior: Existem julgados do STF
afirmando que, se a irregularidade no convênio foi praticada pelo gestor anterior e a gestão atual,
depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário e corrigir as falhas, neste caso,
o ente (Estado ou Município) não poderá ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União.
Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a
aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações
anteriores. No mesmo sentido, STJ:
105
RETA FINAL
1. INTRODUÇÃO
4. Assim, seja em decorrência de excesso ou desvio de finalidade, o abuso de poder ensejará a nulidade do
ato administrativo.
Vamos esquematizar?
ABUSO DE PODER
EXCESSO DE PODER DESVIO DE PODER
O excesso de poder é o extrapolamento O desvio de poder se manifesta quando o agente
da competência que foi atribuída ao pratica o ato visando outra finalidade que não
Agente Público, ou seja, a atuação deste aquela prevista pela lei. O agente busca fins
vai além do que lhe foi conferido diversos daquele previsto na regra de
competência.
Vício de competência Vício de finalidade
Vício sanável Vício insanável
Está presente quando a lei estabelece uma única solução possível diante de uma situação de fato, fixando todos
os requisitos e não deixando margem de apreciação subjetiva. Assim no Poder Vinculado, não há margem de
escolha no caso concreto, pois todos os elementos do ato administrativo são vinculados.
Elementos sempre vinculados dos atos administrativos: COMPETÊNCIA, FINALIDADE e FORMA.
106
RETA FINAL
Nesse caso, há situações nas quais o próprio texto legal confere margem de opção/discricionariedade ao
administrador, e esse tem o encargo de identificar a solução mais adequada para defender o interesse
público. Em outras palavras: essa margem de escolha conferida ao agente público é denominada de mérito
(conveniência e oportunidade).
Elementos dos atos administrativos que podem ser discricionários: MOTIVO e CONTEÚDO/OBJETO.
O controle feito pelo Judiciário sob os atos administrativos limitar-se-á à análise da sua legitimidade.
● Assim, em relação aos atos vinculados, o Poder Judiciário poderá examinar, em todos os seus
aspectos, a conformidade do ato com a lei. Por outro lado, quanto aos atos discricionários, o controle
judicial somente é possível quanto aos aspectos da legalidade, de modo que não pode haver
interferência no mérito administrativo.
● No caso da discricionariedade proveniente dos conceitos jurídicos indeterminados, o limite do mérito
para fins de averiguação de sua legitimidade é o princípio da razoabilidade e proporcionalidade.
● Teorias elaboradas para fixar limites ao exercício do poder discricionário:
1. TEORIA DO DESVIO DE PODER: o desvio ocorre quando a autoridade usa do poder discricionário para
atingir fim diferente daquele que a lei fixou. Quando isso ocorre, fica o Judiciário autorizado a
decretar a nulidade do ato;
2. TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES: quando a Administração indica os motivos que a levaram
a praticar o ato, este somente será válido se os motivos forem verdadeiros.
3. PODERES EM ESPÉCIE
1. Conceito: É a prerrogativa reconhecida à Administração Pública para editar atos administrativos gerais
para a fiel execução das leis, sem inovar no Ordenamento Jurídico.
2. Fundamento: Seu fundamento para a competência do Presidente encontra-se no art. 84, IV, da CF/88
estende-se, por simetria, a Governadores e Prefeitos.
a) Regulamentos Executivos:
● O regulamento executivo é norma geral e abstrata.
● São editados para fiel execução de lei;
● NÃO inovam no Ordenamento jurídico.
b) Regulamentos Autônomos:
● O regulamento executivo não se presta a detalhar a lei, mas sim substituem a Lei;
● Os regulamentos autônomos podem inovar no Ordenamento Jurídico;
● São considerados atos normativos primários, pois retiram sua força diretamente da Constituição e
não se submetem à intermediação legislativa.
● Se submetem ao controle de constitucionalidade direto.
108
RETA FINAL
Obs.1: Cuidado para não confundir Poder Regulamentar com Poder Regulatório!
Obs.2: Deslegalização: Consiste na possibilidade do Poder Legislativo, através de lei, transferir para a
Administração Pública a competência para editar normas sobre assuntos cuja complexidade e velocidade de
transformação exigem uma nova dinâmica normativa, que possibilita inclusive, o exercício de
discricionariedade técnica. A questão deixa de ser tratada pela lei e passa a ser tratada pelo ato
administrativo.
● O STF admite, desde que ocorra dentro dos parâmetros estabelecidos na lei.
● A lei que promove a deslegalização deve definir os parâmetros dentro dos quais a administração deve
atuar.
● A deslegalização surge como instrumento de atuação para as agências reguladoras.
1. Conceito: É poder de estruturação interna da atividade pública (dentro da mesma pessoa jurídica), de
modo que NÃO existe manifestação de hierarquia externa. Trata-se, portanto, de relação de subordinação
administrativa entre agentes públicos, que pressupõe o escalonamento vertical de funções no interior
da organização administrativa.
109
RETA FINAL
a) Delegação: A delegação de atribuições, uma das manifestações do poder hierárquico, é o ato de conferir
a outro servidor atribuições que, originalmente, eram de competência da autoridade delegante.
● Extensão de atribuições de um órgão a outro de mesma hierarquia ou de hierarquia inferior.
● Decorre do Poder Hierárquico, mas não precisa ser hierarquicamente subordinado.
● Revogável a qualquer tempo
● Cláusula de Reserva: O agente delegante NÃO perde a competência delegada.
● O mandado de segurança deve ser impetrado em face de quem praticou o ato (e não em face da
autoridade delegante) – SUM 510, STF.
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento
legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que
estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em
razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
110
RETA FINAL
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial.
§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites
da atuação do delegado, a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível,
podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada.
1. Conceito: O Poder Disciplinar consiste na possibilidade de a Administração aplicar punições àqueles que
possuem algum vínculo específico com a Administração, seja de natureza funcional ou contratual.
3. Considerações importantes:
● As sanções NÃO podem ser aplicadas a particulares, devendo existir um vínculo de natureza especial.
● É um poder interno, não permanente e discricionário. Na verdade, é vinculado quanto ao dever de
punir e discricionário quanto à seleção da pena aplicável.
111
RETA FINAL
ATENÇÃO: É lição comum na doutrina que o poder disciplinar é exercido de forma discricionária. A afirmação
deve ser analisada com bastante cuidado no que concerne ao seu alcance. A aplicação da pena é ato
vinculado. A discricionariedade, quando existente, é relativa à graduação da penalidade ou à escolha entre
as sanções legalmente cabíveis, uma vez que no direito administrativo não predomina o princípio da pena
específica.
ATENÇÃO: Súmula 650 do STJ – A autoridade administrativa não dispõe de discricionariedade para aplicar
ao servidor pena diversa de demissão quando caraterizadas as hipóteses previstas no artigo 132 da Lei
8.112/1990.
1. Conceito: O poder de polícia consiste na prerrogativa que tem o Estado de restringir, frenar, limitar a
atuação do particular em razão do interesse público. É fruto da compatibilização do interesse público
em face do privado. (Ler a definição do art. 78 do CTN!)
2. Decorre da supremacia do interesse público, não dependendo para sua manifestação de nenhum
vínculo especial (ao contrário do que exige o poder disciplinar).
3. Natureza dos Atos: É poder negativo, mas em alguns casos também é positivo. Exemplos do emprego
do poder de polícia:
● Apreensão de mercadoria estragada em depósito alimentício;
● Suspensão de atividades lesivas ao meio ambiente;
● Apreensão de mercadoria ilegal na alfândega;
● Interdição de um estabelecimento que viole normas sanitárias;
● Aplicação de uma multa a restaurante que infringiu normas ligadas à saúde pública;
● Lavratura de auto de infração contra empresa que violou normas relativas à vigilância sanitária;
112
RETA FINAL
1. ORDEM DE POLÍCIA: é o preceito legal básico que dá validade à limitação prevista, para que não se
pratique ato que lesionará o interesse público ou para que não deixe de fazer algo que evitará a lesão
ao interesse público. Ex: Código de Trânsito Brasileiro que contém normas genéricas e abstratas para
a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação.
4. SANÇÃO DE POLÍCIA: é a fase em que, verificada afronta à ordem de polícia, é aplicada a pena de
polícia. Ex: aplicação das multas de trânsito.
Obs.: LEGISLAÇÃO (ORDEM DE POLÍCIA) e FISCALIZAÇÃO são as únicas fases que sempre existirão num ciclo
de polícia; O CONSENTIMENTO nem sempre estará presente, pois há atos que, embora sem consentimento,
são aplicados por previsão legal.
1. O Poder de Polícia é considerado atividade típica de Estado e, portanto, somente pode ser exercido
pelas pessoas jurídicas de direitos público componentes da Administração Direta ou da
Administração Indireta.
2. Nesse sentido, para o STJ e doutrina amplamente majoritária, as atividades de ordem de polícia e
de aplicação de sanções derivam de indiscutível poder coercitivo do Estado e, justamente por isso,
NÃO poderiam ser delegadas a pessoas jurídicas de direito privado. Por outro lado, as atividades de
consentimento e fiscalização (2º e 3º ciclos do Poder de Polícia) seriam compatíveis com a natureza
de uma sociedade de economia mista, sendo, em tese, passíveis de delegação.
3. No entanto, embora a doutrina seja praticamente uníssona no sentido de que somente os ciclos de
fiscalização e consentimento do Poder de Polícia podem ser delegados às pessoas jurídicas de
direito privado integrantes da Administração Pública, em recente entendimento do Plenário do STF,
no bojo (RE) 633782, com repercussão geral reconhecida (Tema 532), a Corte fixou a seguinte
tese: “É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, à pessoas jurídicas de
direito privado integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente
público que prestem exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime
não concorrencial”.
4. Nesse sentido, para o STF, além da fiscalização e do consentimento, no âmbito do ciclo de polícia,
a sanção também poderia ser delegada!
ATENÇÃO!!! Cumpre ressaltar a única fase do ciclo de polícia que, por sua natureza, é
absolutamente indelegável: a ordem de polícia, ou seja, a função legislativa. Os atos de
consentimento, de fiscalização e de aplicação de sanções podem ser delegados a estatais
que, à luz do entendimento desta Corte, possam ter um regime jurídico próximo daquele
aplicável à Fazenda Pública.
⮚ Obs.: Alguns atos de polícia NÃO possuem o atributo, a exemplo da multa que não é
adimplida e a respectiva cobrança ocorre por execução fiscal.
EXECUTORIEDADE X EXIGIBILIDADE
. Executoriedade (executoriedade propriamente dita ou direta): o Administrador
utiliza meios diretos de coerção para implementar a vontade administrativa.
. Exigibilidade (executoriedade indireta): meios indiretos de coerção.
● Prazo prescricional de 5 anos (art. 1º, Lei nº 9783/99). EXCEÇÃO: se o fato objeto da ação punitiva da
Administração também constituir crime, o prazo prescricional será pautado no prazo da lei penal.
● Contagem tem início com a prática do ato lesivo pelo particular ou da cessação da conduta continuada
que configure infração de caráter permanente.
● Se não houver lei estadual ou municipal prevendo o prazo prescricional da sanção de polícia, este prazo
será de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/32.
● Prazo para aplicação de sanções administrativas pelo Tribunal de Contas da União: de acordo com o
STF, com exceção do ressarcimento de valores pleiteados pela via judicial decorrentes da ilegalidade de
despesa ou da irregularidade de contas, as sanções administrativas aplicadas pelo Tribunal de Contas da
União (TCU) são prescritíveis, aplicando-se os prazos da Lei 9.873/1999 (informativo 1089/2023).
Portanto, aplica-se o prazo prescricional de 5 anos.
A Lei não pode estipular um prazo para que o chefe do Poder Executivo faça a sua
regulamentação. Ofende os arts. 2º e 84, II, da Constituição Federal norma de
legislação estadual que estabelece prazo para o chefe do Poder Executivo
apresentar a regulamentação de disposições legais. Exemplo: Art. 9º O Chefe do
Poder Executivo regulamentará a matéria no âmbito da Administração Pública
Estadual no prazo de 90 dias. Essa previsão é inconstitucional. STF. Plenário. ADI
4728/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/11/2021 (Info 1037).
116
RETA FINAL
1. O conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher é extraído do art. 5º, conjugado com o art.
7º, ambos da Lei 11.340/06. De forma genérica, são exigidos três requisitos para a configuração de
violência doméstica:
1) A vítima deve ser mulher. (Aqui é importante ser cuidadoso, uma vez que há jurisprudência do STJ
reconhecendo o direito de transexuais à alteração do registro civil, mesmo sem realizar a cirurgia de
redesignação sexual, logo a este seria extensível a proteção da Lei Maria da penha.)
3) Produção de forma de violência prevista nos incisos do art. 7º, Lei 11.340/06:
● Violência física
● Violência patrimonial
● Violência sexual
● Violência moral
● Violência psicológica (ex.: violação da intimidade da mulher)
2. Considerações importantes:
● Não há necessidade de habitualidade. O art. 5º, caput refere-se apenas à ação ou omissão.
● É indispensável que ocorra uma violência de gênero, tal qual expresso no caput do art.5º. Ausente
esta violência de gênero, não se aplica a Lei Maria da Penha.
● Para o STJ há presunção legal da hipossuficiência da mulher vítima de violência doméstica: não
depende da demonstração de concreta fragilidade, física, emocional ou financeira.
3. SUJEITOS DO DELITO
117
RETA FINAL
1. SUJEITO PASSIVO: A Lei Maria da Penha aplica-se exclusivamente à mulher (violência de gênero),
independentemente da orientação sexual.
● Atenção: O homem pode ser vítima de violência doméstica e familiar, porém sem a possibilidade
de aplicação da Lei Maria da Penha. Isso porque a Lei Maria da Penha exige uma qualidade especial,
qual seja, ser mulher. Assim, se a violência doméstica sofrida pelo sujeito do sexo masculino
qualificar o crime de lesão corporal, aplica-se art.129, §9º, do CP.
2. SUJEITO ATIVO: Pode ser tanto o homem quanto a mulher. Assim, é possível aplicar a Lei à relações
homoafetivas, bem como a conflitos que envolvem mãe e filha, irmãs, ou mesmo sogra e nora.
4. ELEMENTO SUBJETIVO
1. Para a doutrina amplamente majoritária: apenas crimes dolosos podem atrair a aplicação da Lei Maria
da Penha.
118
RETA FINAL
2. Cuidado! Apesar de o STF não ter enfrentado diretamente a questão no julgamento da ADI 4.424/DF (j.
09/02/ 2012), o Plenário concluiu que o crime de lesão corporal praticada contra a mulher em âmbito
doméstico será de ação penal pública incondicionada, mesmo que de natureza leve ou culposa. Logo,
por via oblíqua as infrações penais culposas também se sujeitam à incidência da Lei Maria da Penha. O
mesmo se aplica no caso da contravenção penal de vias de fato:
1. A ação ou omissão da qual resulta a violência doméstica não precisa ser necessariamente uma infração
penal, ações que não são típicas, ou são praticadas no bojo de alguma excludente de ilicitude ou
culpabilidade, podem ser consideradas violência doméstica, mesmo não sendo punidas criminalmente.
3. NO ÂMBITO DA FAMÍLIA, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
● Nessa hipótese, deve-se haver o vínculo familiar, de origem biológica ou não.
● A violência pode ocorrer dentro ou fora do espaço habitado pelos familiares.
● Lembrando que não basta a relação de parentesco, sendo imprescindível a presença dos requisitos:
motivação de gênero e situação de vulnerabilidade.
4. EM QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação.
Vamos esquematizar?
ÂMBITO DA UNIDADE ÂMBITO DA FAMÍLIA. QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE
DOMÉSTICA AFETO
119
RETA FINAL
● DICA DD: foi editada a lei 14.550/2023 que altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 e
garante que a Lei Maria da Penha seja aplicada em todos os casos de violência doméstica e
familiar “independentemente da causa ou da motivação” e da condição do agressor ou da
vítima.
● Note que o art. 40-A determina que a Lei será aplicada a todas as situações previstas no seu
art. 5º. (Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial).
● Conclui-se, portanto, que a lei continuou, acertadamente, delimitando a aplicação nas
hipóteses de violência de gênero definidas pelo art. 5°.
Note que o art. 7° faz uso da expressão "entre outras", portanto não se trata de um rol taxativo, mas
sim exemplificativo. Logo, é perfeitamente possível o reconhecimento de outras formas de violência
doméstica e familiar contra a mulher. Tem-se aí verdadeira hipótese de interpretação analógica.
1. VIOLÊNCIA FÍSICA– Entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal
2. VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA – entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
diminuição da autoestima, lhe prejudique o pleno desenvolvimento, ou que vise degradar ou controlar
suas ações de maneira geral
Lei 13.772/2018: acrescenta um novo crime ao Código Penal - Crime de registro não
autorizado da intimidade sexual (art. 216-B).
120
RETA FINAL
Promoveu ainda uma pequena mudança na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) para
deixar expresso que a violação da intimidade da mulher é uma forma de violência
doméstica, classificada como violência psicológica.
3. VIOLÊNCIA SEXUAL- entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que
a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto
ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
4. VIOLÊNCIA PATRIMONIAL - entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração,
destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades
5. VIOLÊNCIA MORAL - entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
Art. 8o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de
um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-
governamentais, tendo por diretrizes, dentre outras:
● DICA DD: foi editada a Lei nº 14.541/2023, dispondo sobre a criação e funcionamento ininterrupto
de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deam). Destaca-se que:
● O Poder Público deverá prestar a assistência psicológica e jurídica à mulher vítima de violência;
● A finalidade da Deam é atender todas as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, crimes
contra a dignidade sexual e feminicídios.
● Atendimento em sala reservada e, preferencialmente, por policiais do sexo feminino.
● Nos municípios onde não houver Deam, deve priorizar o atendimento da mulher vítima de violência
por agente feminina especializada.
121
RETA FINAL
● Por fim, a Deam deverá disponibilizar número de telefone ou outro mensageiro eletrônico destinado
ao acionamento imediato da polícia em casos de violência contra a mulher.
1. Ao tratar sobre a assistência à mulher em condição de violência doméstica (art. 9º), o legislador
possibilitou a decretação judicial de diversas ações e programas de auxílio por prazo determinado para
a vítima, dentre as quais:
● Possibilidade de remoção prioritária da servidora pública, integrante da administração direta e
indireta.
● Encaminhamento à assistência judiciária, inclusive para ajuizamento da ação de separação judicial,
de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável.
● Manutenção do vínculo trabalhista pelo prazo de até seis meses quando necessário o afastamento
da vítima de seu local de trabalho.
⮚ Obs.: Segundo o STJ, o INSS deverá arcar com a subsistência das mulheres que precisaram se
afastar do trabalho para se proteger de violência doméstica. Tais situações ofendem a
integridade física ou psicológica da vítima, o que justifica o direito ao “auxílio-doença.
● Prioridade para matricular seus dependentes em instituição de educação básica mais próxima de
seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos
comprobatórios do registro da ocorrência policial. (independentemente de vaga, cf. art. 23, V)
2. Considerações importantes:
● Se a vítima e o agressor forem casados ou viverem em união estável, a mulher deverá ser
encaminhada à assistência judiciária para que possa ter a oportunidade de, assim desejando,
desvincular-se formalmente do marido/companheiro agressor por meio da ação judicial própria
● O autor de violência doméstica praticada contra mulher terá que ressarcir os custos relacionados
com os serviços de saúde prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às vítimas de violência
doméstica e familiar e com os dispositivos de segurança utilizados pelas vítimas para evitar nova
violência.
⋅ O ressarcimento não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e
dos seus dependentes;
⋅ O fato de o agressor ter feito o ressarcimento não configura atenuante (art. 65, III, b, CP);
⋅ O ressarcimento não enseja possibilidade de substituição da pena aplicada (SUM 588 STJ).
122
RETA FINAL
1. Trata-se de tema rotineiramente abordado em prova de carreiras policiais, uma vez que é direito da
mulher ser atendida de forma especializada, ininterrupta e preferencialmente, por servidoras do sexo
feminino. Como se depreende do texto legal, não há uma necessidade absoluta de que o atendimento
seja realizado por Mulher.
2. Os arts. 11 e 12 da Lei Maria da Penha tratam das providências que devem ser tomadas pela autoridade
policial quando houver crime praticado no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Exemplos:
● Garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao
Poder Judiciário;
● Fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver
risco de vida;
● Ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada;
● Remeter, no prazo de 48 horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a
concessão de medidas protetivas de urgência;
⮚ Obs.: Note que a autoridade policial não tem legitimidade para aplicar diretamente a medida
protetiva ou representar por ela. O delegado apenas encaminha ao juiz, em 48 horas, quando
há pedido da ofendida!
● Determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames
periciais necessários.
⮚ Obs.: Há uma mitigação da obrigatoriedade do exame de corpo de delito, pois o art. 12, §3º
prevê que serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos
fornecidos por hospitais e postos de saúde.
● Ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais,
indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;
⮚ Obs.: Nessa toada, é igualmente importante que o delegado verifique se há, no banco de
dados criado pela Lei n. 13.829/19 (que inseriu o art. 38-A na Lei), eventual registro de
medida protetiva de urgência anteriormente determinada em detrimento do agressor.
1. Conceito: As medidas protetivas de urgência são medidas adotadas para proteger a mulher em situação
de vulnerabilidade.
123
RETA FINAL
2. Natureza Jurídica: Possuem natureza de medidas cautelares, razão pela qual se submetem, em regra, à
cláusula de reserva de jurisdição, devendo, portanto, apresentar os seguintes pressupostos:
● Fumus comissi delicti;
● Periculum libertatis.
⮚ Obs.1: As medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do art. 22 da Lei Maria da
Penha têm natureza de cautelares penais, não cabendo falar em citação do requerido para
apresentar contestação, tampouco a possibilidade de decretação da revelia, nos moldes da lei
processual civil. (Info 756, STJ/2022)
⮚ Obs.2: Medidas cautelares situacionais: As medidas protetivas de urgência sujeitam-se à cláusula
rebus sic stantibus, de modo que sua manutenção depende da situação fática de perigo que
legitimou a sua decretação. É nesse sentido a recente decisão do STJ: “É ilegal a fixação ad eternum
de medida protetiva, devendo o magistrado avaliar periodicamente a pertinência da manutenção
da cautela imposta. (Info 756, STJ/2022)
⮚ Obs.3: Independentemente da extinção de punibilidade do autor, a vítima de violência doméstica
deve ser ouvida para que se verifique a necessidade de prorrogação/concessão das medidas
protetivas (Informativo 770, STJ/2023).
3. Autonomia das medidas protetivas: Antes, entendia-se que poderiam ser requeridas e deferidas
durante a investigação preliminar e também após a instauração do processo penal. Inclusive, para o STJ,
ocorrendo a conclusão do inquérito policial sem indiciamento do recorrente, é indevida a manutenção
de medidas protetivas. Contudo, em reação legislativa, a partir da lei 14.550/2023, que alterou a lei
Maria da Penha, as medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da
tipificação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de inquérito
policial ou do registro de boletim de ocorrência. Isso significa que, visando uma maior proteção à
vítima, ou seja, desvinculando a aplicação das medidas protetivas de qualquer procedimento ou ação
penal, a legislação define a natureza autônoma das medidas protetivas.
124
RETA FINAL
● Pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível
no momento da denúncia (art. 12-C, III)
⮚ Nas hipóteses em que o afastamento do lar for determinado pelo Delegado ou Policial, o juiz será
comunicado no prazo máximo de 24 horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a
revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente.
CONCLUSÃO: Em regra, as medidas protetivas de urgência somente podem ser concedidas pela
autoridade judiciária, por se tratar de medida submetida à cláusula de reserva de jurisdição, após o
requerimento do MP ou da ofendida. No entanto, em havendo risco à vida ou integridade física ou
psicológica da ofendida ou de seus dependentes, poderá o Delegado de Polícia ou o próprio policial
determinarem o AFASTAMENTO IMEDIATO DO LAR, nas hipóteses previstas em lei!
PEGADINHA DE PROVA:
* REGRA: O delegado tem 48 horas para enviar a representação da vítima ao juiz (art. 12, III), e o juiz
também possui 48 horas para tomar as devidas providências (art. 18, caput)
* EXCEÇÃO: Em caso de medida protetiva de afastamento do lar concedida pelo Delegado de Polícia ou
pelo Policial, nas hipóteses previstas em lei, a comunicação ao juiz deve ser feita em 24 horas, tendo este
o mesmo prazo de 24 horas para decidir sobre ela. (Art. 12-C, §1º).
● 2ª C – SIM! Apesar de o dispositivo não prever expressamente, seria possível que as medidas
protetivas fossem concedidas pelo Juiz de ofício. Isso porque o juiz, ao conceder medidas protetivas
de urgência de ofício, não estaria promovendo a persecução penal contra o acusado, mas apenas
tomando medidas que visam a beneficiar a vítima de violência doméstica. Inclusive, o próprio
parágrafo primeiro determina que as medidas devem ser concedidas de imediato,
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, confirmando
a possibilidade de o Juiz poder concedê-las de ofício.
CUIDADO! Embora o art. 19, §1º autorize o juiz a apreciar as medidas protetivas sem a prévia oitiva do MP,
o mesmo não ocorre nas hipóteses de alteração ou reforço das medidas já concedidas, em que se exigirá a
prévia oitiva do MP, à luz do art. 19, §3º.
125
RETA FINAL
a) Sujeito ativo: Comete este delito a pessoa (homem ou mulher) que descumpre a medida protetiva
de urgência imposta com base na Lei Maria da Penha. Admite participação.
126
RETA FINAL
⋅ Reserva de jurisdição: Importante esclarecer que apenas o juiz (ou Tribunal) pode impor as
medidas protetivas de urgência. A autoridade policial ou o membro do Ministério Público não
gozam dessa possibilidade.
⋅ Desobediência: O art. 24-A é um tipo especial de desobediência (art. 330 do CP).
⋅ Não se exige violência ou grave ameaça: O crime do art. 24-A pode se consumar mesmo que o
sujeito ativo não tenha agido com violência ou grave ameaça. Se houver violência ou grave
ameaça, o agente poderá responder pelo delito do art. 24-A em concurso com outros delitos.
d) Tipo subjetivo: O crime é punido a título de dolo. Não há crime se o sujeito age com culpa. Ex: vai a
uma festa de aniversário de amigos em comum e ali encontra a ex-mulher sendo que havia uma
ordem de não aproximação.
e) Consumação e tentativa: O crime se consuma no momento em que o agente faz a conduta proibida
na decisão judicial (ex: entra em contato com a ex-mulher, mesmo isso tendo sido proibido) ou,
então, no instante em que termina o prazo que havia sido fixado para que o sujeito adotasse
determinado comportamento (ex: juiz fixou o prazo de 24h para que o agressor deixasse a casa; após
isso, sem cumprimento, o crime já terá se consumado).
f) Fiança: Na hipótese de prisão em flagrante pelo crime do art. 24-A, apenas a autoridade judicial
poderá conceder fiança. Trata-se de exceção à regra do art. 322 do CPP. Cuidado!!!
127
RETA FINAL
1. A Lei Maria da Penha, em seu art. 20, prevê a possibilidade de decretação da cautelar, pelo juiz, de ofício,
em qualquer fase da persecução penal, o que, para a doutrina amplamente majoritária, violaria do
Sistema Acusatório.
2. O STJ decidiu que NÃO cabe decretação de prisão de ofício nem no rito da Lei Maria da Penha (2022)
4. Prisão preventiva em razão do descumprimento das medidas protetivas de urgência (art. 313, III, CPP):
Não basta o mero descumprimento das medidas protetivas de urgência, sendo imprescindível, ainda,
preencher os requisitos previstos no art. 312, CPP.
1. Ao contrário do CPP, a retratação da representação nos crimes praticados no contexto da Lei Maria da
Penha deve ser feita até o RECEBIMENTO da denúncia.
128
RETA FINAL
2. Essa retratação deve ser feita perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade.
Portanto, se a mulher, vítima de crime de ação pública condicionada, comparecer ao cartório da vara e
manifestar interesse em se retratar da representação, ainda assim o juiz deverá designar audiência para
que ela confirme essa intenção e seja ouvido o MP.
3. A realização da audiência prevista no art. 16 da Lei somente se faz necessária se a vítima houver
manifestado, de alguma forma, em momento anterior ao recebimento da denúncia, ânimo de desistir da
representação. STJ. 5ª Turma. (Info 743/STJ, 2022).
1. Inicialmente, cumpre salientar que não são todos os crimes praticados no contexto de violência
doméstica e familiar contra a mulher que são de ação penal pública incondicionada.
● Se o crime praticado no âmbito de violência doméstica e familiar contra a mulher estiver previsto
no CÓDIGO PENAL como um crime condicionado à representação (ex.: ameaça), assim será. As
ameaças no contexto de violência doméstica precisarão de representação da ofendida pois esta é a
regra geral do Código Penal - e a Lei Maria da Penha não afasta a incidência do Código Penal.
● Por outro lado, se o crime praticado no âmbito de violência doméstica e familiar contra a mulher
estiver previsto NA LEI DE JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS como um crime condicionado à
representação, como é o caso da lesão corporal leve e culposa, essa regra não será aplicada aos
crimes praticados no contexto de violência doméstica pois a própria Lei Maria da Penha afasta a
incidência da Lei 9.099/95.
Súmula 542 - STJ: a ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
129
RETA FINAL
● O STF atribuiu INTERPRETAÇÃO CONFORME, por unanimidade, à primeira parte do art. 3º-C do CPP,
para esclarecer que as normas relativas ao juiz das garantias não se aplicam aos casos de violência
doméstica e familiar.
2. Quem julga o crime de estupro de vulnerável praticado por pai contra filha de 4 anos: vara criminal
“comum” ou vara de violência doméstica e familiar contra a mulher?
● Posição da 5ª Turma do STJ: Se o fato de a vítima ser do sexo feminino não foi determinante para
a caracterização do crime de estupro de vulnerável, mas sim a tenra idade da ofendida, que residia
sobre o mesmo teto do réu, que com ela manteve relações sexuais, não há que se falar em
competência do Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a MulheR.
● Julgado recente da 6ª Turma do STJ: A idade da vítima é irrelevante para afastar a competência da
vara especializada em violência doméstica e familiar contra a mulher e as normas protetivas da Lei
Maria da Penha. STJ. 6ª Turma. HC 121813-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
20/10/2020 (Info 682).
3. Em caso de ameaça por redes sociais ou pelo Whatsapp, o juízo competente para deferir as medidas
protetivas é aquele no qual a mulher tomou conhecimento das intimidações.
130
RETA FINAL
1. A sentença penal condenatória, depois de transitada em julgado, produz diversos efeitos. Um deles é
que a condenação gera a obrigação do réu de reparar o dano causado. Inclusive, à luz do CPC (art. 515),
a sentença condenatória constitui-se em título executivo judicial.
2. Assim, a vítima (ou seus sucessores), na posse da sentença que condenou o réu, após o seu trânsito em
julgado, dispõe de um título que poderá ser executado no juízo cível para cobrar o ressarcimento pelos
prejuízos sofridos em decorrência do crime.
3. O art. 387, IV, do CPP prevê que o juiz, ao condenar o réu, já estabeleça na sentença um valor mínimo
que o condenado estará obrigado a pagar a título de reparação dos danos causados. Acerca da fixação
desse valor mínimo, atente-se à algumas considerações:
● Para que seja fixado o valor da reparação deverá haver pedido expresso e formal do MP ou do
ofendido;
● Não é necessário que o MP ou o ofendido, ao fazer o pedido, apontem o valor líquido e certo
pretendido;
● A posterior reconciliação entre a vítima e o agressor não é fundamento suficiente para afastar a
necessidade de fixação do valor mínimo previsto no art. 387, inciso IV, do CPP
● A reparação dos danos abrange tanto os danos materiais como os danos morais:
⋅ Danos materiais - o juiz somente poderá fixar a indenização se existirem provas nos autos que
demonstrem os prejuízos sofridos pela vítima em decorrência do crime.
⋅ Danos morais - Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e
familiar, o valor mínimo a ser fixado a título de danos morais independe de instrução
probatória. (O dano moral é in re ipsa)
131