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Da Evicção .................................................................................................................................................. 22
Do Testamento ........................................................................................................................................ 45
Do Testamento Particular.................................................................................................................... 49
Do Testamento Militar.......................................................................................................................... 52
Do Codicilo ................................................................................................................................................ 53
Da Deserdação ......................................................................................................................................... 53
Da Indignidade ........................................................................................................................................ 55
Da Propriedade ........................................................................................................................................ 58
Posse ............................................................................................................................................................ 67
Regras Do Condomínio........................................................................................................................ 69
A Cláusula Penal...................................................................................................................................... 90
Casamento ................................................................................................................................................. 93
Impedimentos .......................................................................................................................................... 94
Separação Convencional....................................................................................................................104
Da Alienação Parental.........................................................................................................................123
Veremos abaixo os principais artigos comentados para você dar início ao estudo da teoria
geral dos contratos.
Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do
contrato. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)
Flávio Tartuce afirma que a função social do contrato é uma norma geral de ordem
pública, através da qual o contrato necessariamente deve ser interpretado de acordo com o
contexto do todo social, não devendo trazer desproporções entre as partes e muito menos
desembocar em injustiças sociais. Os contratos também não podem extrapolar os interesses
metainidividuais ou aqueles que se relacionam com a dignidade humana.1
A Lei da Liberdade Econômica alterou o art. 421 do Código Civil. Destacamos o parágrafo
único, que acrescenta que devem prevalecer a intervenção mínima e que a revisão do contrato
por parte do poder público deve ser feita em caráter excepcional. O que demonstra que as
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TARTUCE, Flávio. MANUAL DE DIREITO CIVIL. 9° Edição. Método, 2019.
relações contratuais devem ser construídas e resolvidas entre as partes, buscando garantir a
autonomia para contratar de maneira mais ampla.
Mais um artigo acrescentado pela Lei da Liberdade Econômica, o qual possibilita a criação
de regras de interpretação das disposições contratuais.
Jurisprudência Selecionada
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas que gerem dúvida
quanto à sua interpretação, será adotada a mais favorável ao aderente. (Redação
dada pela Medida Provisória nº 881, de 2019) (Vide Lei nº 13. 874, de 2019)
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor (vide Art. 54) “Contrato de adesão é
aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas
unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa
discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.”
Porém, esta regra não exclui a possibilidade de a intenção das partes ser aclarada por
outros elementos, pois, nos termos do art. 112 do Código Civil, o fundamental é a intenção
consubstanciada nas declarações de vontade. Desse modo, por exemplo, a própria prática que
os contratantes estabelecerem para cumprimento do contrato revela o intento delas ao contratar.
A interpretação mais favorável ao aderente, é, portanto, uma regra subsidiária.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia
antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais
fixadas neste Código.
O dispositivo é dispensável, visto que ao código Civil cumpre regular apenas os negócios
jurídicos mais frequentes, complexos e de maior relevância prática, sem prejuízo de toda
variedade de negócios que possam ser criados.
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
Para obrigar, a vontade deve ser certa. Exemplos de declarações não sérias são as feitas
por brincadeiras, por reserva mental conhecida do destinatário, com caráter puramente
potestativo, por mera cortesia e as incompletas.
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita.
Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio
de comunicação semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para
chegar a resposta ao conhecimento do proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do
prazo dado;
Chegar tarde, no caso acima, significa não apenas fora do prazo eventualmente fixado para
a resposta, nem apenas a que ultrapassa o prazo suficiente para chegar ao conhecimento do
proponente, mas a que, sendo extemporânea, deixa de ser acatada pelo proponente. Isto é, o
proponente deve comunicar imediatamente ao aceitante a recusa de se vincular ao contrato por
causa da extemporaneidade da chegada da resposta.
Para que haja o encontro de vontades, a proposta deve ser aceita tal como formulada.
Qualquer alteração introduzida pelo aceitante extingue a força vinculante da proposta inicial e
passa a representar nova proposta que tem de ser aceita integralmente pelo proponente original.
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação
expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato,
não chegando a tempo a recusa.
Este dispositivo é uma exceção à regra, pois, uma vez que o aceitante se arrependa e
comunique seu arrependimento ao proponente, fazendo chegar a este a retratação
simultaneamente ou anteriormente à própria aceitação, o contrato não estará formado.
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação
é expedida, exceto:
Alguns já foram citados na teoria geral dos contratos, mas é importante que você conheça
cada um deles.
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TARTUCE, Flávio. MANUAL DE DIREITO CIVIL. 9° Edição. Método, 2019.
Ainda segundo Tartuce, é interessante deixar claro que a função social não elimina
totalmente a autonomia privada ou a liberdade contratual, mas apenas atenua ou reduz o
alcance desse princípio. Esse é o teor citado do Enunciado n. 23 do CJF/STJ, aprovado na I
Jornada de Direito Civil , um dos mais importantes enunciados entre todos os aprovados nas
Jornadas de Direito Civil, que merece mais uma vez transcrição: 3
“A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não
elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance
desse princípio, quando presentes interesses metaindividuais ou interesse
individual relativo à dignidade da pessoa humana”.
A palavra função social deve ser visualizada com o sentido de finalidade coletiva, sendo
efeito do princípio em questão a mitigação ou relativização da força obrigatória das convenções
(pacta sunt servanda). Nesse contexto, o contrato não pode ser mais visto como uma bolha,
que isola as partes do meio social. Simbolicamente, a função social funciona como uma agulha,
que fura a bolha, trazendo uma interpretação social dos pactos. Não se deve mais interpretar
os contratos somente de acordo com aquilo que foi assinado pelas partes, mas sim levando-se
em conta a realidade social que os circunda. Na realidade, à luz da personalização e
constitucionalização do Direito Civil, pode-se afirmar que a real função do contrato não é a
segurança jurídica, mas sim atender aos interesses da pessoa humana. 4
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TARTUCE, Flávio. MANUAL DE DIREITO CIVIL. 9° Edição. Método, 2019.
4
TARTUCE, Flávio. MANUAL DE DIREITO CIVIL. 9° Edição. Método, 2019.
De acordo com Tartuce, o princípio em questão está, portanto, mitigado ou relativizado,
sobretudo pelos princípios sociais da função social do contrato e da boa-fé objetiva. A par de
tudo isso, no momento, não há ainda como concordar com o posicionamento no sentido de que
o princípio da força obrigatória do contrato foi definitivamente extinto pela codificação
emergente. Isso porque, tal conclusão afasta o mínimo de segurança e certeza que se espera do
ordenamento jurídico, principalmente a segurança no direito, ícone também importante, como a
própria justiça, objetivo maior buscado pelo Direito e pela ciência que o estuda.
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TARTUCE, Flávio. MANUAL DE DIREITO CIVIL. 9° Edição. Método, 2019.
de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele
decorrentes (art. 467 do CC). Tal figura é muito comum no contrato preliminar.
Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada
por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada,
ou lhe diminuam o valor.
Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato ( art. 441 ), pode o
adquirente reclamar abatimento no preço.
§ 1º Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o
prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo
de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os
imóveis.
§ 2º Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos
serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais,
aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras
disciplinando a matéria.
Vício Redibitório é um vício oculto em uma coisa, que a torna imprestável para sua
utilidade ou que cause uma depreciação em seu apreço financeiro. É uma das manifestações do
princípio da segurança jurídica, já que o alienante tem que garantir o uso da coisa, para que sua
finalidade seja alcançada, ao adquirente.
O prazo para reclamação no vício redibitório é Enquanto no erro o prazo é de quatro anos.
de 30 dias para bens móveis e um anoanos;
para
bens imóveis.
Enquanto no vício redibitório o defeito está na No erro a coisa é perfeita e o adquirente é quem
coisa. a adquire por engano;
Por fim, o vício redibitório dá ensejo à rescisão Enquanto o erro é passível de anulação do
ou revisão contratual. negócio.
O adquirente prejudicado pelo vício redibitório pode fazer uso das ações edilícias, nos
termos do art. 442 do CC. Anote-se que a expressão “edilícias” tem origem no Direito Romano,
pois a questão foi regulamentada pela aediles curules, por volta do século II a.C., “com o objetivo
de evitar fraudes praticadas pelos vendedores no mercado romano. Ressaltemos que os
vendedores eram, em geral, estrangeiros (peregrinos) que tinham por hábito dissimular muito
bem os defeitos da coisa que vendiam”.64 Assim, poderá o adquirente, por meio dessas ações:
1. Pleitear abatimento proporcional no preço, por meio de ação quanti minoris ou ação estimatória.
DA EVICÇÃO
Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste
esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.
Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir
a responsabilidade pela evicção.
Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta
se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se
não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição
integral do preço ou das quantias que pagou:
Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada
esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente.
Art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver
sido condenado a indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia
que lhe houver de dar o alienante.
Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas
pelo alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida.
Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre
a rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao
desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a indenização.
Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa
era alheia ou litigiosa.
o Consentimento às negociações;
o Dano patrimonial;
Assim posto, aquele que consente a outra parte a efetuar despesas e trabalhos acerca das
negociações, tem responsabilidade pelo seu rompimento arbitrário ou imprudente, pois gerou
confiança na outra parte em relação à efetivação do contrato. Não pode, assim, o indivíduo
incorrer em prejuízo por uma atitude arbitrária ou imprudente da outra parte.
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TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2018.
Da mesma forma, a parte prejudicada deve demonstrar a legítima confiança da seriedade
das tratativas. O indivíduo necessita provar a sua convicção de que o contrato seria realizado. Por
fim, deve existir um dano efetivo, pois sem ele não haverá responsabilidade e muito menos o
consequente dever de indenizar.
OS CONTRATOS PRELIMINARES
Os contratos preliminares estão dispostos nos artigos 462 ao 466 da Código Civil, vejamos:
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os
requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado.
O dispositivo exige que o contrato preliminar deve atender aos requisitos necessários ao
contrato (que será definitivo). Estes requisitos são:
1. Partes;
2. Objeto;
3. Prazo;
4. Forma.
Se o pré-contrato preencher os requisitos mínimos exigíveis legalmente, de todo modo ele é válido.
Nesta esteira de raciocínio o artigo seguinte, 463 do mesmo diploma, a norma dispõe da
seguinte maneira:
Como o pré-contrato tem por escopo a realização de um outro contrato, fica a critério
das partes a necessidade de convenção de cláusula de arrependimento. Ela inexistindo, garante a
qualquer das partes envolvidas a possibilidade de exigir, mediante notificação à outra, prazo para
que o contrato definitivo seja realizado, possibilitando o pedido por perdas e danos, caso não
realizado no tempo acordado.
O parágrafo único, ressalta a necessidade de ser levado o contrato preliminar ao registro
competente para ser validado publicamente perante terceiros.
Isto posto, se o contrato preliminar preenche todos os requisitos pautados em Lei, e ainda
foi levado a registro, ele passa a gerar direitos e obrigações, caso que, o seu descumprimento
gera a parte lesada o direito as perdas e danos.
De acordo com Flávio Tartuce,7 o contrato nasce da conjunção de duas ou mais vontades
coincidentes, sem prejuízo de outros elementos, o que consubstancia aquilo que se denomina
autonomia privada. Sem o mútuo consenso, sem a alteridade, não há contrato. Desse modo,
reunindo o que há de melhor na doutrina, é possível identificar quatro fases na formação do
contrato civil:
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TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2018.
FASE DE NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES OU DE PUNTUAÇÃO
Essa fase não está prevista no Código Civil de 2002, sendo anterior à formalização da
proposta, podendo ser também denominada fase de proposta não formalizada, estando presente,
por exemplo, quando houver uma carta de intenções assinada pelas partes, em que elas apenas
manifestam a sua vontade de celebrar um contrato no futuro.
o Proposta (ou oferta, policitação ou oblação) – Deve ser séria, clara, precisa e
definitiva – art. 427.
o Aceitação – Deve ser pura e simples – art. 431.
o Deixa de ser obrigatória a proposta, se, feita sem prazo a pessoa presente, não
foi imediatamente aceita (art. 428, I). Esse mesmo dispositivo enuncia que deve
ser considerada entre presentes a proposta feita por telefone ou outro meio
semelhante, podendo nesse dispositivo se enquadrar o contrato eletrônico
celebrado entre presentes (v.g., por videoconferência digital ou pelo Skype). A
categoria jurídica em questão é denominada pela doutrina como contrato com
declaração consecutiva.
o Não será obrigatória a proposta se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver
decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do
proponente (art. 428, II, do CC). Trata-se do contrato com declarações intervaladas.
O tempo suficiente é um conceito legal indeterminado denominado como prazo
moral, deve ser analisado caso a caso pelo juiz, de acordo com a boa-fé, os usos
e costumes do local e das partes (art. 113 do CC).
o Não será obrigatória a proposta se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida
a resposta dentro do prazo dado pelo proponente (art. 428, III, do CC).
o Por fim, não obriga a proposta, se antes dela ou juntamente com ela, chegar ao
conhecimento da outra parte – o oblato – a retratação do proponente (art. 428,
IV, do CC).
INTRODUÇÃO
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...]
Ementa Oficial
DIREITO DAS SUCESSÕES. RECURSO ESPECIAL. SUCESSÃO ABERTA NA VIGÊNCIA
DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. CÔNJUGE SOBREVIVENTE. DIREITO REAL DE
HABITAÇÃO. ART. 1.611, § 2º, DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. EXTINÇÃO.
CONSTITUIÇÃO DE NOVA ENTIDADE FAMILIAR. UNIÃO ESTÁVEL. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO. 1. O recurso especial debate a possibilidade de equiparação
da união estável ao casamento, para fins de extinção do direito real de habitação
assegurado ao cônjuge supérstite. 2. Em sucessões abertas na vigência do Código
Civil de 1916, o cônjuge sobrevivente tem direito real de habitação enquanto
permanecer viúvo.
3. A atribuição do direto real de habitação consiste em garantia do direito de
moradia por meio da limitação do direito de propriedade de terceiros, uma vez
que herdeiros e legatários adquirem o patrimônio do acervo hereditário desde a
abertura da sucessão, por força do princípio da saisine.
4. Conquanto o marco para extinção fizesse referência ao estado civil, o qual
somente se alteraria pela contração de novas núpcias, não se pode perder de
vista que apenas o casamento era instituição admitida para a constituição de
novas famílias.
5. Após a introdução da união estável no sistema jurídico nacional, especialmente
com o reconhecimento da família informal pelo constituinte originário, o direito
e a jurisprudência paulatinamente asseguram a equiparação dos institutos quanto
aos efeitos jurídicos, especialmente no âmbito sucessório, o que deve ser
observado também para os fins de extinção do direito real de habitação.
6. Tendo em vista a novidade do debate nesta Corte Superior, bem como a
existência de um provimento jurisdicional que favorecia o recorrido e o induzia a
acreditar na legitimidade do direito real de habitação exercido até o presente
julgamento, deve o aluguel ser fixado com efeitos prospectivos em relação à
apreciação deste recurso especial.
7. Recurso especial provido.
(REsp 1617636/DF, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,
julgado em 27/08/2019, DJe 03/09/2019)
Portanto, a base legal deste instituto está no Art. 1.784 do CC/2002, que assim inaugura
o Livro V do Código Civil de 2002, que trata do Direito Sucessório: “Aberta a sucessão, a herança
transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”.
Princípio da Territorialidade
Você se pergunta se os sucessores do autor da herança (de cujus) responderão pelas dívidas
deixadas pelo falecido?
Este princípio estabelece que o herdeiro não responderá por débitos que ultrapassem o
patrimônio da herança. Ou seja, o sucessor, não aceitando a herança por ter percebido que o
patrimônio deixado é superado pelas dívidas do monte, não será economicamente penalizado,
conforme disposto no Art. 1.792 do CC/2002:
Princípio da Temporariedade
Pelo referido princípio, a vontade do titular originário do patrimônio (de cujus) deverá
ser respeitada sempre que tiver sido manifestada, desde que dentro dos limites impostos pela lei.
válido.”
herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não
8 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: contratos. Volume 4. TOMOS I e II. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2019.
9 Art. 1.788 do CC.
Se as regras da Sucessão Legítima existem para a preservação da parte indisponível da
herança — prestigiando-se alguns dos herdeiros —, não se pode negar que o estabelecimento de
uma ordem de vocação hereditária tem por finalidade, também, permitir a transmissibilidade do
patrimônio do falecido, especialmente para os casos em que ele não manifestou, de forma prévia,
a sua vontade sobre o sentido do direcionamento daqueles bens. Por isso, a própria lei cuida de
imprimir destinação ao patrimônio, segundo uma suposta vontade presumível do autor da
herança.10
Nos
Nesse contexto, é muito importante frisarmos que é característica básica
do sistema a regra segundo a qual o sucessor mais próximo exclui o
mais remoto.
exatos termos do Art. 1.829 do atual Código Civil (CC/2002), a sucessão legítima defere-
se na seguinte ordem:
IV - aos colaterais.
10 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: contratos. Volume 4. TOMOS I e II. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2019.
Da primeira classe de sucessores
Como vimos pela leitura do inciso I do dispositivo anterior, os descendentes estão na primeira
classe de sucessores legítimos. Há, contudo, uma questão importante a ser enfrentada: o cônjuge
sobrevivente, a depender do regime de bens adotado no casamento, herdará em concorrência
com os descendentes.
Falecido o autor da herança, esta será deferida ao(s) seu(s) descendente(s), primeira classe
sucessória, respeitada a regra segundo a qual o parente mais próximo exclui o mais remoto. A
questão, porém, não é mais tão simples, pois é preciso verificar se haverá a concorrência do(a)
cônjuge em relação ao descendente, nos termos do referido inciso I do art. 1.829.11
Nos termos desse dispositivo legal, havendo cônjuge sobrevivente (viúva ou viúvo), este NÃO
terá direito de concorrer com o descendente, se o regime de bens adotado foi de:
COMUNHÃO
SEPARAÇÃO COMUNHÃO PARCIAL SE O
UNIVERSAL AUTOR DA HERANÇA NÃO
OBRIGATÓRIA
DEIXOU BENS
PARTICULARES
11
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: contratos. Volume 4. TOMOS I e II. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2019.
Por outro lado, haverá, SIM, direito de concorrer com o descendente, se o regime de
bens adotado foi de:
PARTICIPAÇÃO
FINAL NOS COMUNHÃO
ATENÇÃO!
Como visto, o cônjuge sobrevivente, na parte do patrimônio em que for meeiro do autor
da herança, não concorrerá como herdeiro com os descendentes do de cujus, na hipótese
do inciso I do Art. 1.829.
Não havendo herdeiros na primeira classe (descendentes), serão chamados à sucessão os que
se encontram na SEGUNDA CLASSE, composta pelos ascendentes, em concorrência com o cônjuge.
Ou seja, na sucessão pelos ascendentes, o cônjuge será herdeiro necessário, independentemente
do regime de bens adotado no casamento, conforme disposto no inciso II do Art. 1.829 do
CC/2002.
No mesmo sentido expressa o enunciado 609, aprovado na VII Jornada de Direito Civil
do CJF:
São colaterais, nos termos do Artigo 1.592 do CC/2002, aquelas pessoas provenientes do
mesmo tronco, sem descenderem umas das outras. Entretanto, para efeitos sucessórios, há uma
limitação para que o colateral seja chamado a suceder:
12 TARTUCE, Flavio. Manual de Direito Civil. Volume único. 9. ed. São Paulo: Método, 2019.
13 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil Brasileiro. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em: 04 abr. 2019.
Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no
art. 1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau.
Ou seja, apenas herdará o colateral do de cujus até o quarto grau. Contudo, no caso da
sucessão pelos irmãos do falecido, há uma importante regra que diferencia os irmãos bilaterais
(também conhecidos como germanos) dos irmãos unilaterais:
NOTÍCIA SELECIONADA
O entendimento foi fixado pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
ao negar provimento ao recurso especial de parentes de quarto grau contra acórdão do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) que reconheceu à companheira o direito à
totalidade da herança do falecido, incluídos os bens adquiridos antes do início da união
estável.
Dispositivo inconstitucional
O ministro Villas Bôas Cueva lembrou que, em maio de 2017, o Supremo Tribunal Federal
(STF) reconheceu incidentalmente a inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil,
dispositivo que estabelecia a diferenciação dos direitos de cônjuges e companheiros para fins
sucessórios. Para o STF – em entendimento também adotado pelo STJ –, deveria ser aplicado
em ambos os casos o regime estabelecido pelo artigo 1.829 do CC/2002.
Já de acordo com o artigo 1.839 do Código Civil, incidente por analogia aos
companheiros, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge sobrevivente no caso de
ausência de descendentes e ascendentes.
“Logo, é possível concluir que o companheiro, assim como o cônjuge, não partilhará
herança legítima com os parentes colaterais do autor da herança, salvo se houver disposição
de última vontade, como, por exemplo, um testamento”, concluiu o ministro, ainda que por
fundamentos diversos, ao manter o acórdão do TJMG.
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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Companheira tem direito à totalidade da herança na falta de filhos ou ascendentes.
2018.
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
Do Testamento
“Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus
bens, ou de parte deles, para depois de sua morte”.
Há, segundo o Código Civil vigente, a classificação dos testamentos em duas modalidades
distintas, sendo elas:
TESTAMENTO ORDINÁRIO
TESTAMENTO ESPECIAL
Nos termos do Art. 1.862 do Código Civil, são espécies de testamentos ordinários:
Do testamento público
“Entende-se por testamento público aquele elaborado por tabelião (ou por seu
substituto legal), devidamente registrado em cartório, na perspectiva do princípio
da publicidade. Trata-se de um negócio jurídico solene, para o qual a lei
expressamente estabelece requisitos formais de validade, cujo descumprimento
deve importar a nulidade da cláusula correspondente ou até mesmo de todo o
ato. ”
Ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, de
acordo com as declarações do testador, podendo este servir-se de minuta, notas
ou apontamentos;
Lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador e a duas
testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador, se o quiser, na presença destas
e do oficial;
Em seguida à leitura, ser o instrumento assinado pelo testador, pelas
testemunhas e pelo tabelião.
O testamento terá sempre a forma escrita e pode ser escrito manual ou
mecanicamente. Estabelece o parágrafo único do Art. 1.864 que:
Sobre o testador surdo, cego ou que não souber ou não puder assinar, estabelece
o Código Civil algumas regras específicas nos Arts. 1.865 a 1.867:
Art. 1.865. Se o testador não souber, ou não puder assinar, o tabelião ou seu
substituto legal assim o declarará, assinando, neste caso, pelo testador, e, a seu
rogo, uma das testemunhas instrumentárias.
Art. 1.866. O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu testamento,
e, se não o souber, designará quem o leia em seu lugar, presentes as
testemunhas.
Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em
voz alta, duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra
por uma das testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo
circunstanciada menção no testamento.
Do testamento cerrado
O testamento cerrado está previsto nos Arts. 1.868 e seguintes do CC/2002. Sobre o seu
conceito, ensina Tartuce:
“Denominado como testamento místico, pois não se sabe qual o seu conteúdo,
que permanece em segredo até a morte do testador. Trata-se de instituto sem
grande aplicação no presente, tendo pouca operabilidade na prática
sucessionista. O fato de não se saber o conteúdo gera vantagens e
desvantagens. Como desvantagem, se a integralidade do documento for atingida
de alguma forma (ex.: por uma enchente ou água de chuva), o testamento pode
não gerar efeitos.”
Pode fazer testamento cerrado o surdo-mudo, contanto que o escreva todo e o assine
de sua mão, e que, ao entregá-lo ao oficial público, ante as duas testemunhas, escreva, na face
externa do papel ou do envoltório, que aquele é o seu testamento, cuja aprovação lhe pede.
O testamento pode ser escrito em língua nacional ou estrangeira, pelo próprio testador,
ou por outrem, a seu rogo (Art. 1.871).
Do testamento particular
ATENÇÃO!
Pela leitura do Art. 1.888, percebemos que essas modalidades de testamento podem
corresponder ao formato dos testamentos público ou cerrado, conforme disponha o testador.
Assim, esse tipo especial de testamento apenas configura uma simplificação procedimental das
duas mencionadas formas ordinárias de testamento, em função das circunstâncias peculiares em
que é feita a disposição de última vontade.15
Ressaltamos ainda que, conforme disposto no Art. 1.892 do CC/2002, como o testamento
marítimo é modalidade extraordinária de testamento, não valerá o testamento marítimo, ainda
que feito no curso de uma viagem, se, ao tempo em que se fez, o navio estava em porto onde o
testador pudesse desembarcar e testar na forma ordinária.
Do testamento militar
Art. 1.893 O testamento dos militares e demais pessoas a serviço das Forças
Armadas em campanha, dentro do país ou fora dele, assim como em praça
sitiada, ou que esteja de comunicações interrompidas, poderá fazer-se, não
havendo tabelião ou seu substituto legal, ante duas, ou três testemunhas, se o
testador não puder, ou não souber assinar, caso em que assinará por ele uma
delas.”
Destarte, o codicilo nada mais é do que uma disposição testamentária que versa sobre um
patrimônio de pequena monta. Nesse sentido, assim estabelece o Art. 1.881 do CC/2002:
“Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular seu, datado e
assinado, fazer disposições especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de
pouca monta a certas e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos
pobres de certo lugar, assim como legar móveis, roupas ou joias, de pouco valor,
Da Deserdação
16 TARTUCE, Flavio. Manual de Direito Civil. Volume único. 9. ed. São Paulo: Método, 2019.
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave
enfermidade.
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a
do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta;
IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave
enfermidade. (BRASIL, 2002.)
Consoante o Art. 1.961 do CC/2002, “os herdeiros necessários podem ser privados de sua
legítima, ou deserdados, em todos os casos em que podem ser excluídos da sucessão”.
Como veremos a seguir, pela nova redação dada ao Art. 1.815 do CC/2002, o Ministério Público
passou a integrar o rol dos que podem demandar a exclusão de herdeiro ou legatário.
Os efeitos da exclusão não atingirão os sucessores do excluído, que serão chamados a suceder
no seu lugar. Vejamos a letra de lei:
Ademais, os demais herdeiros do excluído serão chamados a suceder a quota que lhe caberia,
como se o excluído morto fosse antes da abertura da sucessão.
Da Reabilitação do Indigno
Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança
será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em
testamento, ou em outro ato autêntico. (BRASIL, 2002.)
Direito das Coisas é o conjunto de normas direcionadas às relações jurídicas que envolvem
bens passíveis de apropriação pelo homem, ou seja, que são predispostas de valor econômico.
Direito Real: é o direito absoluto capaz de subordinar determinada coisa à pessoa a quem
se acha diretamente vinculada, o seu dono. Os Direitos Reais são definidos em lei.
Violação pode ser por ato positivo (dar, Violação se dá sempre por ato positivo.
fazer) ou negativo (não fazer algo que
deveria ter feito).
Objeto: fato/comportamento (dar, fazer ou Objeto: coisa.
não fazer).
Da Propriedade
Conforme conceitua Flávio Tartuce, pode-se definir a propriedade como o direito que
alguém possui em relação a um bem determinado. Trata-se de um direito fundamental,
protegido no art. 5.º, inc. XXII, da Constituição Federal, mas que deve sempre atender a uma
função social, em prol de toda a coletividade. A propriedade é preenchida a partir dos atributos
que constam do Código Civil de 2002 (art. 1.228), sem perder de vista outros direitos, sobretudo
aqueles com substrato constitucional.
17
TARTUCE, Flávio. MANUAL DE DIREITO CIVIL. 9° Edição. Método, 2019.
1. Faculdade de gozar ou fruir da coisa (antigo ius fruendi) – trata-se da faculdade
de retirar os frutos da coisa, que podem ser naturais, industriais ou civis (os frutos
civis são os rendimentos). Exemplificando, o proprietário de um imóvel urbano
poderá locá-lo a quem bem entender, o que representa exercício direto da
propriedade.
4. Faculdade de dispor da coisa (antigo ius disponendi), seja por atos inter vivos
ou mortis causa – como atos de disposição podem ser mencionados a compra e
venda, a doação e o testamento
Para findar o tópico, é fundamental verificar o conceito de domínio, que para muitos é
sinônimo de propriedade. Todavia, há quem entenda de forma contrária, caso de Cristiano
Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, que lecionam:
A propriedade, como direito real por excelência, tem características muito próximas dos
direitos reais expostos no início do capítulo. Vejamos tais caracteres, à luz da melhor doutrina,
clássica e contemporânea, consultada para a composição deste livro:18
1. Direito absoluto, em regra, mas que deve ser relativizado em algumas situações –
ficou claro que a propriedade é o mais completo dos direitos reais. Diante do seu
caráter erga omnes, ou seja, contra todos, é comum afirmar que a propriedade é um
direito absoluto. Também no sentido de certo absolutismo, o proprietário pode
desfrutar da coisa como bem entender. Porém, existem claras limitações dispostas no
interesse do coletivo, caso da função social e socioambiental da propriedade (art. 1.228,
§ 1.º, do CC).
18
TARTUCE, Flávio. MANUAL DE DIREITO CIVIL. 9° Edição. Método, 2019.
Além disso, não se pode esquecer a comum coexistência de um direito de propriedade
frente aos outros direitos da mesma espécie, nos termos do art. 1.231 do CC, pelo qual se
admite a prova em contrário da propriedade de determinada pessoa. A propriedade deve
ser relativizada se encontrar pela frente um outro direito fundamental protegido pelo Texto
Maior. Por isso é que se pode dizer que a propriedade é um direito absoluto, regra geral,
mas que pode e deve ser relativizado em muitas situações.
2. Direito exclusivo – determinada coisa não pode pertencer a mais de uma pessoa, salvo
os casos de condomínio ou copropriedade, hipótese que também não retira o seu
caráter de exclusividade. Isso justifica a presente característica, a ser retirada do art.
1.231 do CC, pelo qual a propriedade presume-se plena e exclusiva, salvo prova ou
previsão em contrário (presunção relativa ou iuris tantum). É correto afirmar que, apesar
de ser um direito exclusivo, a propriedade envolve interesses indiretos de outras
pessoas, e até de toda a sociedade, que almejam o atendimento à sua função social.
Como ocorre na posse e também nos demais direitos, a propriedade admite formas de
aquisição originárias e derivadas. Nas formas originárias, há um contato direto da pessoa com a
coisa, sem qualquer intermediação pessoal. Nas formas derivadas, há intermediação subjetiva.
Nos termos do art. 1.248 do CC, as acessões constituem o modo originário de aquisição da
propriedade imóvel em virtude do qual passa a pertencer ao proprietário tudo aquilo que foi
incorporado de forma natural ou artificial. Como acessões naturais estão previstas a formação de
ilhas, a aluvião, a avulsão e o abandono do álveo. Como acessões artificiais, decorrentes da
intervenção humana, o atual Código disciplina as plantações e as construções.
a) Da formação de ilhas
2.ª Regra. As ilhas que se formarem entre a referida linha e uma das margens
consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado.
3.ª Regra. As ilhas que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio
continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se
constituírem.
b) Da aluvião
c) Avulsão
Nos termos do art. 1.251, caput, do CC, quando, por força natural violenta, uma porção de
terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do
acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver
reclamado. O esquema a seguir expõe que a avulsão é uma faixa de terra avulsa, que se desloca
de um terreno, por força natural de corrente, para se juntar a outro.
d) Álveo abandonado
Conforme o art. 9.º do Código de Águas, o álveo é a superfície que as águas cobrem sem
transbordar para o solo natural e ordinariamente enxuto. Assim sendo, o álveo abandonado é o
rio ou a corrente de água que seca (o rio que desaparece). No que interessa à aquisição da
propriedade, prevê o art. 1.252 do CC que o álveo abandonado de corrente pertence aos
proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos
por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem
até o meio do álveo.
e) As plantações e as construções
1ª Regra: Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas
ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor,
além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé (art. 1.254 do CC). Exemplo: alguém
está guardando, por ato de amizade, cimento de um parente em sua fazenda. Certo dia, essa
pessoa utiliza o cimento e constrói um galpão na propriedade. No caso em questão, o
fazendeiro terá a propriedade do que foi construído, mas por óbvio terá que pagar ao amigo
o cimento, sem prejuízo de outros danos, pois claramente agiu de má-fé. O fazendeiro sabia
perfeitamente que o cimento não era seu, havendo desrespeito à boa-fé subjetiva, surgindo
daí a responsabilidade civil, pois a má-fé induz à culpa.
2ª Regra: Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do
proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a
indenização. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno,
aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante
pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo (art. 1.255 do CC, caput
e parágrafo único). Duas são as situações descritas. Primeiro, ilustrando, alguém está ocupando
a casa de um parente que está viajando para o exterior por um ano. Aproveitando a ausência
do familiar, essa pessoa constrói, com material próprio, uma piscina no fundo da casa. O
ocupante não terá qualquer direito, pois agiu de má-fé, já que sabia que a propriedade não
seria sua. Se agiu de boa-fé na construção, como no caso de algo que visava proteger o
imóvel de uma destruição, terá direito à indenização. Como segunda situação, se realizada de
boa-fé e a construção ou plantação tiver valor superior ao do imóvel, aquele que construiu
ou plantou adquirirá a propriedade do último, tendo apenas que pagar uma indenização a ser
fixada judicialmente, se não houver acordo entre as partes (art. 1.255, parágrafo único, do CC).
Esse último dispositivo, novidade no atual Código Civil, acaba por considerar como principal
a plantação ou a construção, fazendo com que o terreno o acompanhe, consagração do que
se denomina como acessão inversa ou invertida, o que está de acordo com o princípio da
função social da propriedade.
Posse
1. Posse com intenção de dono (animus domini) – entra em cena o conceito de posse de
Savigny, que tem como conteúdo o corpus (domínio fático) e o animus domini (intenção
de dono). Essa intenção de dono não está presente, em regra, em casos envolvendo
vigência de contratos, como nas hipóteses de locação, comodato e depósito.
3. Posse contínua e duradoura, em regra, e com determinado lapso temporal – posse sem
intervalos, sem interrupção. Como exceção a ser estudada, o art. 1.243 do CC admite a
soma de posses sucessivas ou accessio possessionis. Quanto à duração, há prazos
estabelecidos em lei, de acordo com a correspondente modalidade de usucapião. Cumpre
destacar a aprovação de interessante enunciado na V Jornada de Direito Civil, realizada em
2011 estabelecendo que “O prazo, na ação de usucapião, pode ser completado no curso
do processo, ressalvadas as hipóteses de má-fé processual do autor” (Enunciado n. 497 do
CJF/STJ).
4. Posse justa – a posse usucapível deve se apresentar sem os vícios objetivos, ou seja, sem
a violência, a clandestinidade ou a precariedade. Se a situação fática for adquirida por meio
de atos violentos ou clandestinos, não induzirá posse, enquanto não cessar a violência ou
a clandestinidade (art. 1.208, 2.ª parte, do CC). Este autor, frise-se, também é favorável ao
convalescimento da posse precária.
5. Posse de boa-fé e com justo título, em regra – a usucapião ordinária, seja de bem imóvel
ou móvel, exige a boa-fé e o justo título (arts. 1.242 e 1.260 do CC). Para outras
modalidades de usucapião, tais requisitos são até dispensáveis, como se verá mais adiante,
havendo uma presunção absoluta ou iure et de iure de sua presença.
Regras do Condomínio
Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre
ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro,
defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.
§ 1 o
Se os demais condôminos assumem as despesas e as dívidas, a renúncia
lhes aproveita, adquirindo a parte ideal de quem renunciou, na proporção dos
pagamentos que fizerem.
Art. 1.317. Quando a dívida houver sido contraída por todos os condôminos,
sem se discriminar a parte de cada um na obrigação, nem se estipular
solidariedade, entende-se que cada qual se obrigou proporcionalmente ao seu
quinhão na coisa comum.
Art. 1.319. Cada condômino responde aos outros pelos frutos que percebeu da
coisa e pelo dano que lhe causou.
Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa
comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da
divisão.
§ 1 o Podem os condôminos acordar que fique indivisa a coisa comum por prazo
não maior de cinco anos, suscetível de prorrogação ulterior.
Utilizar livremente de suas unidades e usar as partes comuns, conforme sua destinação,
desde que não exclua a utilização dos demais moradores.
Participar e votar nas assembleias, desde que esteja com as despesas em dia.
Deveres do condômino:
Multas
Teto da multa por atraso de pagamento das taxas condominiais: 2%;
Teto da multa por conduta antissocial: pode ser 10 vezes o valor da taxa condominial;
Teto da multa por descumprimento das normas: com aprovação de 3/4 dos
condôminos, será possível aplicar multa de até 5 vezes o valor da taxa condominial
para infratores reincidentes.
Obras
Se a obra for voluptuária (para embelezamento da fachada, por exemplo), sua realização
depende de voto de 2/3 dos condôminos. Se for obra útil, o voto da maioria é
suficiente;
As obras ou reparações necessárias podem ser realizadas, independentemente de
autorização, pelo síndico, ou, em caso de omissão ou impedimento deste, por qualquer
condômino;
Se as obras ou reparos necessários forem urgentes e forem gerar despesas excessivas,
o síndico ou o condômino que tomou a iniciativa deverá convocar a assembleia e
comunicá-la;
Não sendo urgentes, as obras ou reparos necessários que demandem despesas altas
somente poderão ser efetuadas após autorização da assembleia;
O condômino que realizar obras ou reparos necessários será reembolsado das despesas
que efetuar. Mas não tem direito à restituição dos gastos que tiver com obras ou
reparos de outra natureza, mesmo que de interesse comum;
A realização de obras para aumentar a utilização de estruturas de uso comum já
existentes depende da aprovação de 2/3 dos votos dos condôminos.
O Código Civil deve ser a base para a elaboração da Convenção do Condomínio e do
Regimento Interno. Também oferece orientações sobre as Assembleias.
Convenção do Condomínio
A Convenção do Condomínio tem caráter estatutário ou institucional. Detalha regras
sobre quota proporcional e modo de pagamento das despesas do condomínio, forma
de administração, realização de assembleias e penalidades.
Deve ser respeitada por todos os moradores. Para ter validade perante terceiros, precisa
ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis.
Uma convenção pode ser aprovada com a assinatura de 2/3 dos proprietários.
Regimento Interno
É elaborado pelos próprios condôminos para estabelecer regras sobre a conduta
de moradores e funcionários, uso de áreas e equipamentos compartilhados,
proibições, etc. Essas deliberações podem ser aprovadas por maioria simples.
Deve ser parte da Convenção do Condomínio e registrada em Cartório. Trata-se de
um dispositivo que requer constante atualização, para se adaptar às mudanças
sociais e ao perfil dos ocupantes dos condomínios.
Assembleias
As Assembleias devem acontecer, no mínimo, uma vez ao ano. Tem o objetivo de
aprovar despesas, contribuições dos condôminos, prestação de contas e,
eventualmente, eleger o síndico substituto.
Nas Assembleias, também é possível alterar a Convenção do Condomínio (com 2/3
dos votos dos condôminos) e o Regimento Interno (com maioria simples).
Consoante os ensinamentos de Tartuce 19, não há dúvidas de que o instituto aqui estudado
constitui uma modalidade de desapropriação e não de usucapião, como pretende parte da
doutrina. Isso porque o § 5.º do art. 1.228 do CC consagra o pagamento de uma justa indenização,
não admitindo o nosso sistema jurídico a usucapião onerosa. A propósito de distinção, Jones
Figueiredo Alves e Mário Luiz Delgado elencavam quatro diferenças fundamentais entre essa
forma de desapropriação e a usucapião coletiva urbana, prevista no art. 10 do Estatuto da Cidade
(Lei 10.257/2001). Pontue-se que a norma foi alterada pela Lei 13.465/2017, conforme anotações
de atualização a seguir:
19
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019.
3. A usucapião coletiva somente se aplica aos imóveis urbanos, enquanto a
desapropriação judicial privada pode ser aplicada aos imóveis urbanos ou rurais.
4. Na usucapião, não há direito à indenização, ao contrário da desapropriação
judicial privada.
Sujeito ativo – é o beneficiário da obrigação, podendo ser uma pessoa natural ou jurídica
ou, ainda, um ente despersonalizado a quem a prestação é devida. É denominado credor,
sendo aquele que tem o direito de exigir o cumprimento da obrigação.
Sujeito passivo – é aquele que assume um dever, na ótica civil, de cumprir o conteúdo da
obrigação, sob pena de responder com seu patrimônio. É denominado devedor.
20
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019.
Trata-se do conteúdo da obrigação. O objeto imediato da obrigação, perceptível de plano,
é a prestação, que pode ser positiva ou negativa. Sendo a obrigação positiva, ela terá como
conteúdo o dever de entregar coisa certa ou incerta (obrigação de dar) ou o dever de
cumprir determinada tarefa (obrigação de fazer). Sendo a obrigação negativa, o conteúdo
é uma abstenção (obrigação de não fazer).
Por outro lado, percebe-se que o objeto mediato da obrigação pode ser uma coisa ou uma
tarefa a ser desempenhada, positiva ou negativamente. Como exemplo de objeto mediato
da obrigação, pode ser citado um automóvel ou uma casa em relação a um contrato de
compra e venda. Esse também é o objeto imediato da prestação.
Obrigação de dar:
A obrigação de dar é aquela em que o sujeito passivo compromete-se a entregar algo, certo
ou incerto. Há, na maioria das vezes, uma intenção de transmissão da propriedade de uma
coisa, móvel ou imóvel.
a) Obrigação de dar coisa certa (arts. 233 a 242 do CC)
Ocorre quando o devedor se obriga a dar uma coisa única, móvel ou imóvel, cujas
características foram acertadas entre as partes, geralmente em um instrumento negocial.
Obrigação de fazer
Art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde
o dia em que executou o ato de que se devia abster.
Ou seja, o descumprimento da obrigação negativa se dá quando o ato é praticado. A
obrigação de não fazer é quase sempre infungível, personalíssima, sendo também
predominantemente indivisível pela sua natureza, nos termos do art. 258 do Código Civil.
SOLIDARIEDADE INDIVISIBILIDADE
Baseia-se na relação jurídica subjetiva Baseia-se na relação jurídica objetiva
Cada devedor solidário pode ser obrigado a Quando há pluralidade de credor e/ou
pagar, individualmente, a dívida inteira. devedores, cada um é responsável pela dívida
toda, e o devedor que paga a dívida inteira sub-
roga-se no direito do credor, havendo ação de
regresso em relação aos demais coobrigados.
Não há, na cessão, a extinção do vínculo obrigacional, razão pela qual ela deve ser
diferenciada em relação às formas especiais e de pagamento indireto (sub-rogação e
Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome,
tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do
credor.
Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado
depois que não era credor.
Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar,
se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu.
21
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019.
b) Do accipiens ou “a quem se deve pagar” (arts. 308 a 312 do CC)
Como regra geral, o accipiens será o credor. Mas o pagamento também pode ser
feito ao seu representante, que tem poderes para receber o pagamento, sob pena de
só valer depois de ratificação, de confirmação pelo credor, ou havendo prova de
reversão ao seu proveito (art. 308 do CC). Esclareça-se que apesar de a norma
mencionar a validade – assim como os dois comandos seguintes –, o pagamento é
resolvido no plano da eficácia. Nessa linha, enunciado aprovado na V Jornada de
Direito Civil, com o seguinte sentido: “O pagamento repercute no plano da eficácia, e
não no plano da validade como preveem os artigos 308, 309 e 310 do Código Civil”
(Enunciado n. 425). O pagamento também poderá ser feito aos sucessores do credor,
como no caso do herdeiro e do legatário, que podem ser reputados como
representantes.22
Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é
devida, ainda que mais valiosa.
Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode
o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim
não se ajustou.
22
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019.
Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda
estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da
moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial.
Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o
pagamento, enquanto não lhe seja dada.
Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular,
designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem
por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor,
ou do seu representante.
Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido
este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que
inutilize o título desaparecido.
Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se
pagos.
Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar,
em sessenta dias, a falta do pagamento.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre
eles.
Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar
determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor.
Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia
do credor relativamente ao previsto no contrato.
Designados dois ou mais lugares, caberá ao credor escolher entre eles (art. 327, parágrafo
único, do CC). Por uma questão prática que lhe é mais favorável, é muito comum o credor
escolher o próprio domicílio para o pagamento. Percebe-se que se trata de uma das poucas
vezes em que a escolha cabe ao credor, e não ao devedor, na teoria geral das obrigações.
Por outro lado, se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações a ele
23
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019.
relativas, far-se-á no lugar onde situado o bem (art. 328 do CC). Paulo Luiz Netto Lôbo
esclarece o teor do dispositivo exemplificando da seguinte forma:
“Entende-se que a referência do art. 328 do Código Civil a ‘prestações relativas a imóveis’
só não atinentes a direitos reais limitados (e.g.: direito do promitente do comprador, hipoteca
e penhor) ou a direito pessoal de uso do imóvel (e.g.: locação). O locador tem de entregar o
prédio no lugar em que este é situado; o locatário tem de recebê-lo onde está situado. Os
aluguéis prestam-se no lugar de situação do imóvel, e não no lugar do domicílio do devedor,
que pode não ser o do imóvel”.24
Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para
o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente.
Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo
estipulado no contrato ou marcado neste Código:
24
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019.
O vencimento é o momento em que a obrigação deve ser satisfeita, cabendo ao credor
a faculdade de cobrá-la. Esse vencimento, tempo ou data de pagamento, pode ser fixado
pelas partes por força do instrumento negocial. Como se sabe, o credor não pode exigir o
adimplemento antes do vencimento; muito menos o devedor pagar, após a data prevista, sob
pena de caracterização da mora ou do inadimplemento absoluto, fazendo surgir a
responsabilidade contratual do sujeito passivo obrigacional (Haftung).25
DA MORA
A mora pode ocorrer por atuação do devedor ou do credor. Ambos os polos de uma
relação obrigacional podem se encontrar em eventual inadimplemento por mora. O art. 394
do Código Civil traz os casos em que o devedor e o credor podem ser considerados em
mora.
Quando o devedor não quiser efetuar o pagamento ou o credor não quiser recebê-lo no
tempo, lugar e forma que a lei estabelecer, considerar-se-ão em mora. Assim, desse
dispositivo denota-se que a mora pode se dar em face do tempo, do lugar do pagamento
ou da forma como o pagamento é realizado.
Existem, portanto, dois tipos de mora: a mora solvendi (mora do devedor) que não
paga no tempo, no local ou na forma ajustada (mora solvendi) e a mora accipiendi (mora
do credor) que se recusa sem justa causa a receber o pagamento (mora accipiendi). Desse
conceito, destaca-se o elemento objetivo da mora que é o cumprimento imperfeito da
obrigação, ou seja, a obrigação não foi corretamente cumprida.
25
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019.
Além desse elemento objetivo, para o devedor entrar em mora se faz necessária a
presença de um elemento subjetivo que é a culpa. Assim, o devedor só entra em mora se
provado que ele foi culpado pelo atraso no adimplemento da obrigação. Essa é a inteligência
do art. 396 do Código Civil ao dispor que “não havendo fato ou omissão imputável ao
devedor, não incorre este em mora”. Se um determinado devedor não paga sua dívida na
data ajustada em razão de naquele dia estar ocorrendo greve bancária, esse devedor não
está em mora. O atraso do pagamento não se deu por sua culpa, mas sim por caso fortuito,
ou seja, fato que a ele não pode ser imputado, razão pela qual não ocorre mora pela
ausência de elemento subjetivo para a sua configuração.
Por outro lado, o devedor incorre em mora se não paga a sua dívida injustificadamente.
Havendo negligência por parte do credor em cumprir a prestação, a sua mora está
configurada. Observa-se que a culpa descrita no art. 396 do Código Civil é presumida, isto
é, o devedor é quem deve provar o fato alheio a sua vontade que lhe impede adimplir a
obrigação.26
Há uma inversão no ônus da prova, pois o credor não precisa provar que o
devedor está em mora. Caso o devedor não constitua prova em seu favor, presume-se
a sua culpa e ele estará em mora.
DO INADIMPLEMENTO ABSOLUTO
26
Série Aperfeiçoamento de Magistrados 13t10 Anos do Código Civil - Aplicação, Acertos, Desacertos e
Novos Rumos | Volume 2
obrigação não é definitivo, mas é sanável, porque a obrigação ainda pode ser cumprida com
utilidade para o credor.
A mora é passível de purga, conforme se depreende do art. 401, inciso I, do Código Civil.
Com o inadimplemento absoluto a situação é oposta, pois o descumprimento gera a “morte”
da relação obrigacional. No inadimplemento absoluto ou a obrigação não pode mais ser
cumprida, ou ainda que possa ser cumprida, a prestação não é mais útil ao credor. O
inadimplemento absoluto ocorre, então, quando a prestação, em razão do atraso, se torna
inútil para o credor O interesse do credor caracterizará o inadimplemento como absoluto
ou relativo. Desse modo, o credor poderá exigir o cumprimento da obrigação ajuizando uma
tutela específica, ou poderá ter interesse na resolução contratual, pois a prestação se tornou
inútil em razão da mora (art. 395, § único, do CC).
Em caso de mora, o credor tem direito de ajuizar uma ação de resolução do negócio
jurídico porque o inadimplemento gera para ele o direito potestativo de resolver o negócio
jurídico. O credor ainda poderá cumular o pedido de desfazimento do negócio jurídico com
o pedido de perdas e danos. Esse entendimento é ainda sufragado pelo conteúdo do art.
389 do Código Civil, pois quando há inadimplemento, existe a culpa do devedor, sendo
A cláusula penal
A cláusula penal pode ser conceituada como sendo a penalidade, de natureza civil, imposta
pela inexecução parcial ou total de um dever patrimonial assumido. Pela sua previsão no Código
Civil, sua concepção está relacionada e é estudada como tema condizente ao inadimplemento
obrigacional, entre os arts. 408 a 416. A cláusula penal é pactuada pelas partes no caso de violação
da obrigação, mantendo relação direta com o princípio da autonomia privada, motivo pelo qual
27
Série Aperfeiçoamento de Magistrados 13t10 Anos do Código Civil - Aplicação, Acertos, Desacertos e
Novos Rumos | Volume 2
é também denominada multa contratual ou pena convencional. Trata-se de uma obrigação
acessória que visa a garantir o cumprimento da obrigação principal, bem como fixar,
antecipadamente, o valor das perdas e danos em caso de descumprimento. Por ser acessória,
aplica-se o princípio pelo qual a obrigação acessória deve seguir a principal (princípio da
gravitação jurídica), fazendo com que no caso de nulidade do contrato principal a multa também
seja declarada nula. De acordo com a melhor doutrina, a cláusula penal tem basicamente duas
funções. Primeiramente, a multa funciona como uma coerção, para intimidar o devedor a cumprir
a obrigação principal, sob pena de ter que arcar com essa obrigação acessória (meio de coerção,
com caráter punitivo). Além disso, tem função de ressarcimento, prefixando as perdas e danos no
caso de inadimplemento absoluto da obrigação (caráter de estimação). De qualquer forma, apesar
de ser essa a visão clássica, Gustavo Tepedino, entre outros, aponta a tendência europeia de
afastar o caráter punitivo da cláusula penal compensatória.28
Cumpre consignar que, aplicando a ideia constante desse dispositivo, entende o Superior
Tribunal de Justiça pelo caráter duplo da penalidade – para ambas as partes –, nos contratos
bilaterais e onerosos, aqueles com direitos e deveres recíprocos. Isso mesmo se a multa estiver
expressamente prevista para apenas um dos negociantes. Conforme julgado publicado no
Informativo n. 484 do Tribunal: “cinge-se a questão em definir se a cláusula penal dirigida apenas
ao promitente comprador pode ser imposta ao promitente-vendedor ante o seu inadimplemento
contratual. Na hipótese, verificou-se cuidar de um contrato bilateral, em que cada um dos
contratantes é simultânea e reciprocamente credor e devedor do outro, oneroso, pois traz
vantagens para os contratantes, comutativo, ante a equivalência de prestações. Com esses e
outros fundamentos, a Turma deu provimento ao recurso para declarar que a cláusula penal
contida nos contratos bilaterais, onerosos e comutativos deve aplicar-se para ambos os
contratantes indistintamente, ainda que redigida apenas em favor de uma das partes” (STJ, REsp
1.119.740/RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, j. 27.09.2011).
28
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019.
Os juros legais
Quanto à origem:
Juros convencionais – decorrem de acordo entre as partes.
A respeito dos juros legais moratórios, enuncia o art. 406 do CC que, mesmo não estando
previstos pelas partes, serão devidos de acordo com a taxa que “estiver em vigor para a mora do
pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional”. Na opinião deste autor, o correto
posicionamento a respeito desse dispositivo é ser a taxa mencionada aquela prevista no art. 161,
§ 1.º, do Código Tributário Nacional, ou seja, 1% ao mês (12% ao ano). Nesse sentido, o Enunciado
doutrinário 20 da I Jornada de Direito Civil, com conteúdo a que se filia:
“A taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, § 1.º, do
Código Tributário Nacional, ou seja, 1% (um por cento) ao mês. A utilização da
taxa Selic como índice de apuração dos juros legais não é juridicamente segura,
porque impede o prévio conhecimento dos juros; não é operacional, porque o
seu uso será inviável sempre que se calcularem somente juros ou somente
correção monetária; é incompatível com a regra do art. 591 do novo Código Civil,
que permite apenas a capitalização anual dos juros, e pode ser incompatível com
o art. 192, § 3.º, da Constituição Federal, se resultarem juros reais superiores a
12% (doze por cento) ao ano”.
5. Direito de Família
CASAMENTO
O casamento se realiza no momento em que duas pessoas (não mais apenas homem e
mulher), manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz
os declara casados, sendo civil e gratuita sua celebração.
O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil,
equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da
data de sua celebração.
Atenção!
Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não
atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código.
Relativamente incapazes
Os relativamente incapazes podem casar desde que obtenham autorização dos pais ou
tutores, ou ainda o suprimento. A respeito deste assunto, duas questões são dignas de nota:
IMPEDIMENTOS
São situações taxativamente previstas na norma que, acaso presentes, vedam o casamento.
Diz o art. 1.521 do Código Civil: “Não podem casar...”. Como se vê, trata-se de uma proibição
jurídica cujo desrespeito acarreta a nulidade do casamento, a teor do art. 1.548 do Código Civil:
VI - As pessoas casadas;
CAUSAS SUSPENSIVAS
CASAMENTO CIVIL
A teor do art. 1.534 e seguintes do Código Civil, o casamento se realiza, regra geral, na sede
do cartório.
O casamento por Moléstia Grave está disciplinado no art. 1.539 do Código Civil:
Seria mais um caso específico em que a celebração não será realizada em cartório. Neste caso,
o presidente do ato irá até o local em que se encontra o nubente que possui a moléstia grave e
lá celebrará o casamento na presença de 2 (duas) testemunhas que saibam ler e escrever.
Ad hoc é uma expressão latina cuja tradução literal é "para isto" ou "para
esta finalidade". É geralmente empregada em contexto jurídico, também no
sentido de "para um fim específico". Exemplo: um advogado "ad hoc"
(nomeado apenas para um determinado ato jurídico).
Uma das questões mais inovadoras do Código Civil está na possibilidade de alteração do
regime de bens entre os cônjuges. Isto é possível desde que: o pedido seja conjunto, sem litígio
algum e, apuradas as razões do requerimento, haja decisão judicial, com a máxima publicidade e
sem causar um só prejuízo a terceiros, art. 1.639 CC, § 2º.
A mudança de regime é ex nunc, ou seja, não retroage, não altera o passado, nem as relações
jurídicas perfeitas e acabadas. O procedimento judicial de mudança de regime de bens, diga-se,
passou a ser expressamente contemplado no art. 734 do Novo Código de Processo Civil,
caminhando com os mesmos requisitos do Código Civil e exigindo publicação de edital por trinta
dias, ou meio alternativo, e parecer do Ministério Público.
ESPÉCIES DE REGIME DE BENS
Cinco são as espécies de regime de bens, quais sejam: o regime supletivo, também denominado
de comunhão parcial de bens, o regime da separação obrigatória, o regime da separação
convencional, o regime da comunhão universal e, finalmente, o regime da participação final nos
aquestos.
O regime supletivo da comunhão parcial de bens aplica-se nos casos em que não há pacto
antenupcial, ou este é nulo ou ineficaz, a teor do art. 1.640 do Código Civil.
No regime supletivo, com as exceções previstas no art. 1.659 do CC, todos os demais bens
“entram na comunhão”, nos termos do art. 1.660, dentre os quais os “adquiridos na constância
do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges, como ainda os
“adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior”, os
adquiridos por doação, ou herança, feita a ambos os cônjuges, as “benfeitorias em bens
particulares de cada cônjuge” e os “frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge,
percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão”.
Separação obrigatória, legal ou cogente - o art. 1.641 do Código civil impõe o regime de
separação obrigatória de bens para três hipóteses específicas: casamento celebrado com maior
de 70 (setenta) anos de idade; casamento decorrente de Suprimento de autorização para casar
em favor de relativamente incapaz e, finalmente, casamento que não observa as causas
suspensivas previstas no art. 1.523 do Código Civil, segundo o qual “Não devem casar” as pessoas
submetidas àquele regime. Nestes casos não há escolha do regime de bens, mas sim imposição.
A Separação convencional, absoluta ou voluntária é possível a um casal que não esteja obrigado
ao regime da separação obrigatória, mas queira optar, mediante convenção matrimonial, pelo
regime da separação convencional de bens. Neste caso, o regime jurídico é idêntico ao da
separação obrigatória, a única diferença reside no fato de o mesmo não surgir de imposição
normativa, mas sim da autonomia privada, através de um pacto antenupcial.
Ademais, aqui não haverá incidência da Súmula 377 do Supremo Tribunal Federal, falando-
se, genuinamente, em um regime de separação.
Segundo dispõe o art. 1.672 do CC, neste tipo específico de regime cada cônjuge possui
patrimônio próprio, lhe cabendo à época da dissolução da sociedade conjugal metade dos bens
adquiridos pelo casal (aquestos), a título oneroso, na constância do casamento.
De acordo com o Código Civil Brasileiro, a dissolução da sociedade conjugal termina com a
morte de um dos cônjuges, com a nulidade ou anulação do casamento, pela separação judicial ou,
finalmente, pelo divórcio.
O Código de Processo Civil dedica-se ao tema no art. 733. Neste caso, a escritura pública do
divórcio deverá versar sobre os temas alimentos, sobrenome e meação.
UNIÃO ESTÁVEL
Prevista nos artigos 1.723 a 1.726 do Código Civil, trata-se da união pública, contínua e
duradoura, entre homem e mulher, desimpedidos de casar ou separados, com o objetivo de
constituir família.
LEMBRE-SE!
Em que pese não esteja previsto em lei, existem
entendimentos no sentido de que a união estável
poderá ser caracterizada não apenas entre homem e
Os impedimentos do casamento se aplicam à união estável, à exceção do impedimento
relacionado à pessoa casada. Explica-se: o casado, porém separado, apenas se não puder contrair
novo casamento até o divórcio ou viuvez, poderá viver em união estável com outra pessoa.
A união estável, regra geral, submete-se ao regime da comunhão parcial de bens, salvo
contrato por escrito em sentido contrário.
Os cartórios de todo o Brasil não poderão recusar a celebração de casamentos civis de casais
do mesmo sexo ou deixar de converter em casamento a união estável homoafetiva, como
estabelece a Resolução n. 175, de 14 de maio de 2013, aprovada durante a 169ª Sessão Plenária
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
“A Resolução veio em uma hora importante. Não havia ainda no âmbito das corregedorias
dos tribunais de Justiça uniformidade de interpretação e de entendimento sobre a possibilidade
do casamento entre pessoas do mesmo sexo e da conversão da união estável entre casais
homoafetivos em casamento”, disse o conselheiro Guilherme Calmon. “Alguns estados
reconheciam, outros não. Como explicar essa disparidade de tratamento? A Resolução consolida e
unifica essa interpretação de forma nacional e sem possibilidade de recursos”, ressaltou.
Caso algum cartório não cumpra a Resolução do CNJ, o casal interessado poderá levar o caso
ao conhecimento do juiz corregedor competente para que ele determine o cumprimento da
medida. Além disso, poderá ser aberto processo administrativo contra a autoridade que se negar
a celebrar ou converter a união estável homoafetiva em casamento.29
O Estatuto da Criança e do Adolescente não faz qualquer menção à orientação sexual como
um fator a ser considerado no processo de adoção e nem cita que a futura família da criança deva
ser composta por pais de gêneros diferentes.
Como vimos, desde que os homoafetivos atendam aos requisitos estabelecidos pelo Estatuto
e demonstrem condições psicológicas e sociais de serem bons pais ou boas mães, não há qualquer
impedimento.
Desde maio de 2011 é reconhecida a união estável entre pessoas do mesmo sexo no Brasil a
partir de uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que entendeu que a definição de família como
união de um homem e de uma mulher em nossa Constituição não exclui as outras formas de afeto
existentes.
A partir de 2013, também se tornou possível que pessoas do mesmo gênero se casem, após
o Conselho Nacional de Justiça editar a Resolução nº 175/2013, que impede que cartórios se
recusem a celebrar casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo território nacional.
Antes disso, quando a união homossexual não era juridicamente reconhecida como entidade
familiar, muitas vezes se negava a adoção por estes casais sob a alegação de que a dupla não vivia
em união estável, nem era casada, requisito essencial estabelecido pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Atualmente, entretanto, após a equiparação de direitos das uniões homoafetivas com as
heteroafetivas, a controvérsia sobre a constituição ou não de casamento ou união estável
29 Resolução sobre casamento civil entre pessoas do mesmo sexo é aprovada pelo Conselho Nacional de Justiça. Disponível em:
<https://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/destaquesNewsletter.php?sigla=newsletterPortalInternacionalDestaques&idConte
udo=238515. Acesso em: 10 de Dezembro de 2019.
desaparece, tornando-se possível que os homossexuais atendam todos os requisitos objetivos
estabelecidos pelo Estatuto.
Em relação aos requisitos subjetivos, como já dito anteriormente, o ECA limita-se a estabelecer
que a criança ou o adolescente deverá ser colocado em ambiente familiar adequado e que os
futuros pais apresentem uma paternidade/maternidade responsável, sem mencionar que a
composição do casal por pessoas de mesmo gênero seja, de alguma forma, uma característica
desabonadora para a medida ou prejudicial para a criança.30
Com base nos ensinamentos de Orlando Gomes e Maria Helena Diniz, os alimentos podem ser
conceituados como as prestações devidas para a satisfação das necessidades pessoais daquele que
não pode provê-las pelo trabalho próprio. Aquele que pleiteia os alimentos é o alimentando ou
credor; o que os deve pagar é o alimentante ou devedor. O pagamento desses alimentos visa à
pacificação social, estando amparado nos princípios da Dignidade da Pessoa Humana e da
Solidariedade Familiar, ambos de índole constitucional. No plano conceitual e em sentido amplo,
os alimentos devem compreender as necessidades vitais da pessoa, cujo objetivo é a manutenção
da sua dignidade: a alimentação, a saúde, a moradia, o vestuário, o lazer, a educação, entre outros.
Em suma, os alimentos devem ser concebidos dentro da ideia de patrimônio mínimo.
Pois bem, nos termos dos arts. 1.694 e 1.695 do CC, os pressupostos para o dever de prestar
alimentos são os seguintes:
30
Casais homossexuais podem adotar no brasil? Disponível em: < https://www.politize.com.br/casais-homossexuais-podem-adotar-
no-brasil/> Acesso em: 10 de Dezembro de 2019.
Possibilidade do alimentante ou devedor. Para a verificação dessa possibilidade, poderão
ser analisados os sinais exteriores de riqueza do devedor, conforme reconhece o
Enunciado n. 573 do CJF/STJ, da VI Jornada de Direito Civil (2013).
b) Reciprocidade:
A obrigação de alimentos é recíproca entre cônjuges e companheiros (art. 1.694 do CC). A
reciprocidade do mesmo modo existe entre pais e filhos, sendo extensivo a todos os
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns na falta de outros (art.
1.696 do CC).
c) Irrenunciabilidade:
O CC/2002 é expresso ao vedar a renúncia aos alimentos. Prevê o seu art. 1.707 que “Pode o
credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo
crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora”. Segue-se, em parte, o entendimento
31
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019. Pg. 1376 -1387
que constava da Súmula 379 do STF (“No acordo de desquite, não se admite renúncia aos
alimentos, que poderão ser pleiteados ulteriormente, verificados os pressupostos legais”). Mais
uma vez repise-se que a separação judicial não mais existe no sistema jurídico nacional, diante
da Emenda do Divórcio (EC 66/2010).
e) Obrigação imprescritível:
A pretensão aos alimentos é imprescritível, por envolver estado de pessoas e a dignidade
humana. Porém, deve-se atentar ao fato de que a pretensão para a cobrança de alimentos
fixados em sentença ou ato voluntário prescreve em dois anos, contados a partir da data em
que se vencerem (art. 206, § 2.º, do CC). Além disso, se o alimentando for absolutamente
incapaz (menor de 16 anos), contra ele não corre a prescrição (art. 198, I, do CC). Desse modo,
todos os alimentos fixados em sentença e vencidos só terão a prescrição iniciada quando o
menor completar 16 anos. Mais uma regra referente à prescrição da pretensão deve ser
lembrada. Se o pai ou a mãe forem os devedores dos alimentos, a prescrição não começa a
correr quando o filho se torna relativamente capaz (aos 16 anos), porque, por expressa
disposição de lei, a prescrição não corre entre ascendentes e descendentes durante o poder
familiar (art. 197, II, do CC). Em suma, em casos tais, a prescrição de dois anos só se inicia, em
regra, quando o menor se tornar capaz aos 18 anos, salvo as hipóteses de emancipação.
g) Obrigação incompensável:
O mesmo art. 1.707 do Código Civil veda que a obrigação alimentar seja objeto de
compensação. A mesma proibição consta do art. 373, II, do CC. Mais uma vez, apesar da
literalidade da lei, parte da doutrina e da jurisprudência entende pela possibilidade de
compensação dos alimentos. Da jurisprudência há decisões que compensam os alimentos
pagos a mais pelo devedor, aplicando a vedação do enriquecimento sem causa constante dos
arts. 884 a 886 do CC (TJSP, Agravo de Instrumento 394.691-4/7-00/SP, 5.ª Câmara de Direito
Privado, Rel. Silvério Ribeiro, 06.07.2005, v.u. e TJSP, Agravo de Instrumento 257.458-4/4/SP,
4.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Armindo Freire Mármora, 06.02.2003, v.u.).
h) Obrigação impenhorável:
Por ser personalíssima, incessível, inalienável, a obrigação de prestar alimentos é impenhorável
(arts. 1.707 do CC/2002, 833, IV, do CPC/2015 e 649, IV, do CPC/1973).
i) Obrigação irrepetível:
A irrepetibilidade dos alimentos é construção antiga, relacionada ao fato de existir uma
obrigação moral. Em reforço, vale o argumento da existência de uma obrigação essencialmente
satisfativa. Assim, não cabe ação de repetição de indébito para reaver o que foi pago (actio in
rem verso). Ilustrando, imagine-se que um homem foi enganado quanto à prole por uma
mulher, que lhe disse que o filho era seu. Constatada a inexistência de vínculo biológico, via
DNA, esse homem não poderá reaver os alimentos pagos, pois esses são irrepetíveis. Porém,
poderá ele pleitear indenização por danos morais, diante do engano, como já entendeu o STJ:
“Responsabilidade civil. Dano moral. Marido enganado. Alimentos. Restituição. A
mulher não está obrigada a restituir ao marido os alimentos por ele pagos em
favor da criança que, depois se soube, era filha de outro homem. A intervenção
do Tribunal para rever o valor da indenização pelo dano moral somente ocorre
quando evidente o equívoco, o que não acontece no caso dos autos. Recurso
não conhecido” (STJ, REsp 412.684/SP, 4.ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar,
j. 20.08.2002, publicado em 25.11.2002).
j) Obrigação intransacionável e não sujeita à arbitragem:
Por todas as características demonstradas incansavelmente, a obrigação alimentar não pode
ser objeto de transação, ou seja, de um contrato pelo qual a dívida é extinta por concessões
mútuas ou recíprocas (arts. 840 a 850 do CC). Como é notório, apenas quanto a direitos
patrimoniais de caráter privado se permite a transação (art. 841 do CC). Como outrora exposto,
a natureza da obrigação de alimentos é especial, fundada na dignidade humana em direitos
da personalidade. Além de ser intransacionável, a obrigação alimentar não pode ser objeto de
compromisso ou arbitragem. Enuncia o art. 852 do CC que está vedado o compromisso para
solução de questões de estado e de direito pessoal de família, caso dos alimentos.
k) Obrigação transmissível:
É a expressão do art. 1.700 do CC/2002: “A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos
herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694”. Como se nota, há transmissibilidade da
obrigação de alimentos em relação aos herdeiros do devedor.
Lei nº 8.560/92, não II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
constitui condição para a III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;
propositura de ação
IV - por manifestação expressa e direta perante o juiz, ainda que o
judicial de investigação reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.
de paternidade. Em
Art. 2° Em registro de nascimento de menor apenas com a maternidade
outras palavras, a ação
estabelecida, o oficial remeterá ao juiz certidão integral do registro e o nome e
poderá ser proposta prenome, profissão, identidade e residência do suposto pai, a fim de ser
independentemente de o averiguada oficiosamente a procedência da alegação.
defesa técnica, não haverá comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternidade a ele
atribuída, a criança for encaminhada para adoção.
qualquer nulidade. Vale
ressaltar, no entanto, que, § 6o A iniciativa conferida ao Ministério Público não impede a quem tenha legítimo
interesse de intentar investigação, visando a obter o pretendido reconhecimento
se ele quiser constituir
da paternidade.
advogado, isso não lhe
poderá ser negado. Art. 2o-A. Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, bem
como os moralmente legítimos, serão hábeis para provar a verdade dos fatos.
§ 1° Não deverá constar, em qualquer caso, o estado civil dos pais e a natureza
da filiação, bem como o lugar e cartório do casamento, proibida referência à
presente lei.
Apesar de a adoção ser uma relação inter vivos, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê
uma hipótese, em seu art. 42, 6º, em que pode ocorrer a adoção após a morte:
§6º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação
de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a
sentença
O Superior Tribunal de Justiça decidiu com base na afetividade, que comprovando que o
adotante tinha a intenção de adotar enquanto estava em vida, sua vontade deve ser mantida
após sua morte. Vejamos:
Trata-se de aplicação do princípio da solidariedade social ou familiar, previsto no art. 3º, inc. I,
da Constituição Federal, de forma imediata a uma relação privada, ou seja, em eficácia horizontal.
Como explica Rodrigo da Cunha Pereira, precursor da tese que admite tal indenização, "o exercício
da paternidade e da maternidade – e, por conseguinte, do estado de filiação – é um bem
indisponível para o Direito de Família, cuja ausência propositada tem repercussões e consequências
psíquicas sérias, diante das quais a ordem legal/constitucional deve amparo, inclusive, com
imposição de sanções, sob pena de termos um Direito acéfalo e inexigível" (Responsabilidade civil
por abandono afetivo. In: Responsabilidade civil no direito de família. Coord. Rolf Madaleno e
Eduardo Barbosa. São Paulo: Atlas, 2015, p. 401).
32
Da indenização por abandono afetivo na mais recente jurisprudência brasileira. Disponível em
www.migalhas.com.br/FamiliaeSucessoes. Acesso em: 10 de Dezembro de 2019.
se não houver conjugalidade entre os pais, se ele foi planejado ou não. (...) Em outras palavras,
afronta o princípio da dignidade humana o pai ou a mãe que abandona seu filho, isto é, deixa
voluntariamente de conviver com ele" (PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Responsabilidade Civil por
abandono afetivo. In: Responsabilidade Civil no Direito de Família, ob. cit., p. 406). Para ele, em seu
texto mais recente, além da presença de danos morais, pode-se cogitar uma indenização
suplementar, pela presença da perda da chance de convivência com o pai.
Entretanto, como se sabe, o Superior Tribunal de Justiça reformou a primeira decisão do Tribunal
de Minas Gerais, afastando o dever de indenizar no caso em questão, diante da ausência de ato
ilícito, pois o pai não seria obrigado a amar o filho. Em suma, o abandono afetivo seria situação
incapaz de gerar reparação pecuniária (STJ, Recurso Especial 757.411/MG, Relator Ministro
Fernando Gonçalves; votou vencido o ministro Barros Monteiro, que não conhecia do recurso. Os
Ministros Aldir Passarinho Junior, Jorge Scartezzini e Cesar Asfor Rocha votaram com o Ministro
relator. Data do julgamento: 29 de novembro de 2005).
De qualquer modo, tal decisão do Tribunal da Cidadania não encerrou o debate quanto à
indenização por abandono afetivo, que permanece intenso na doutrina. Cumpre destacar parte da
doutrina se posiciona no sentido de existir o dever de indenizar em tais casos, especialmente se
houver um dano psíquico ensejador de dano moral, a ser demonstrado por prova psicanalítica. O
desrespeito ao dever de convivência é muito claro, eis que o art. 1.634 do Código Civil impõe
como atributos do poder familiar a direção da criação dos filhos e o dever de ter os filhos em sua
companhia. Além disso, o art. 229 da Constituição Federal é cristalino ao estabelecer que os pais
têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores. Violado esse dever e sendo causado o
dano ao filho, estará configurado o ato ilícito, nos exatos termos do que estabelece o art. 186 do
Código Civil em vigor.
A propósito, demonstrando evolução quanto ao tema, surgiu, no ano de 2012, outra decisão
do Superior Tribunal de Justiça em revisão à ementa anterior, ou seja, admitindo a reparação civil
pelo abandono afetivo. A ementa foi assim publicada por esse Tribunal Superior:
"Civil e Processual Civil. Família. Abandono afetivo. Compensação por dano moral. Possibilidade.
1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade civil e o
consequente dever de indenizar/compensar no Direito de Família. 2. O cuidado como valor jurídico
objetivo está incorporado no ordenamento jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com
locuções e termos que manifestam suas diversas desinências, como se observa do art. 227 da
CF/1988. 3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida implica em se
reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non facere, que
atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e
companhia – de cuidado –, importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a
possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por abandono psicológico. 4. Apesar
das inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de pleno cuidado de um dos genitores em
relação à sua prole, existe um núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além do mero
cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para uma
adequada formação psicológica e inserção social. 5. A caracterização do abandono afetivo, a
existência de excludentes ou, ainda, fatores atenuantes – por demandarem revolvimento de matéria
fática – não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso especial. 6. A alteração do
valor fixado a título de compensação por danos morais é possível, em recurso especial, nas
hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada. 7.
Recurso especial parcialmente provido" (STJ, REsp 1.159.242/SP, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy
Andrighi, j. 24/04/2012, DJe 10/05/2012).
Em sua relatoria, a julgadora ressalta, de início, ser admissível aplicar o conceito de dano moral
nas relações familiares, sendo despiciendo qualquer tipo de discussão a esse respeito, pelos
naturais diálogos entre livros diferentes do Código Civil de 2002. Desse modo, supera-se totalmente
a posição firmada no primeiro julgado superior sobre o tema, especialmente o que foi desenvolvido
pelo então Ministro Asfor Rocha, da impossibilidade de interação entre o Direito de Família e a
Responsabilidade Civil.
Para a Ministra Nancy Andrighi, ainda, o dano extrapatrimonial estaria presente diante de uma
obrigação inescapável dos pais em dar auxílio psicológico aos filhos. Aplicando a ideia do cuidado
como valor jurídico, com fundamento no princípio da afetividade, a julgadora deduz pela presença
do ilícito e da culpa do pai pelo abandono afetivo, expondo frase que passou a ser repetida nos
meios sociais e jurídicos: "amar é faculdade, cuidar é dever". Concluindo pelo nexo causal entre a
conduta do pai que não reconheceu voluntariamente a paternidade de filha havida fora do
casamento e o dano a ela causado pelo abandono, a magistrada entendeu por reduzir o quantum
reparatório que foi fixado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, de R$ 415.000,00 (quatrocentos e
quinze mil reais) para R$ 200.000,00 (duzentos mil reais).
Esse último acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça representa correta concretização
jurídica do princípio da solidariedade; sem perder de vista a função pedagógica ou de desestímulo
que deve ter a responsabilidade civil, no sentido de evitar que outros pais abandonem os seus
filhos.
De todo modo, fazendo uma pesquisa mais atual, posterior ao último aresto superior, nota-se
que há ainda grande vacilação jurisprudencial na admissão da reparação civil por abandono afetivo,
com ampla prevalência de julgados que concluem pela inexistência de ato ilícito em casos tais,
notadamente pela ausência de prova do dano.
Na mesma linha, sem prejuízo de muitas outras ementas de negação do ilícito: "a pretensão de
indenização pelos danos sofridos em razão da ausência do pai não procede, haja vista que para a
configuração do dano moral faz-se necessário prática de ato ilícito. Beligerância entre os genitores"
(TJRS, Apelação Cível n. 0048476-69.2017.8.21.7000, Teutônia, Sétima Câmara Cível, Rel. Des. Jorge
Luís Dall’Agnol, julgado em 26/04/2017, DJERS 04/05/2017). De todo modo, pode ser notada certa
confusão técnica no último decisum, pois não é o ilícito que é elemento do dano moral, mas vice-
versa.
Por outra via, concluindo pela ausência de prova do dano, entendeu o Tribunal de Justiça de
São Paulo que "a jurisprudência pátria vem admitindo a possibilidade de dano afetivo suscetível
de ser indenizado, desde que bem caracterizada violação aos deveres extrapatrimoniais integrantes
do poder familiar, configurando traumas expressivos ou sofrimento intenso ao ofendido.
Inocorrência na espécie. Depoimentos pessoais e testemunhais altamente controvertidos.
Necessidade de prova da efetiva conduta omissiva do pai em relação à filha, do abalo psicológico
e do nexo de causalidade. Alegação genérica não amparada em elementos de prova. Non liquet,
nos termos do artigo 373, I, do Código de Processo Civil, a impor a improcedência do pedido"
(TJSP, Apelação n. 0006195-03.2014.8.26.0360, Acórdão n. 9689092, Mococa, Décima Câmara de
Direito Privado, Rel. Des. J. B. Paula Lima, julgado em 09/08/2016, DJESP 02/09/2016).
Em complemento, e mais recentemente, o Tribunal gaúcho aduziu que "o dano moral exige
extrema cautela no âmbito do direito de família, pois deve decorrer da prática de um ato ilícito,
que é considerado como aquela conduta que viola o direito de alguém e causa a este um dano,
que pode ser material ou exclusivamente moral. Para haver obrigação de indenizar, exige-se a
violação de um direito da parte, com a comprovação dos danos sofridos e do nexo de causalidade
entre a conduta desenvolvida e o dano sofrido, e o mero distanciamento afetivo entre pais e filhos
não constitui, por si só, situação capaz de gerar dano moral" (TJRS, Apelação Cível n. 0087881-
15.2017.8.21.7000, Porto Alegre, Sétima Câmara Cível, Relª Desª Liselena Schifino Robles Ribeiro,
julgado em 31/05/2017, DJERS 06/06/2017). Consta-se que muitos julgamentos seguem a última
frase da ementa, segundo a qual o mero distanciamento físico entre pai e filho não configura, por
si só, o ilícito indenizante.
Diante desse panorama recente, recomenda-se que os pedidos de indenização por abandono
afetivo sejam bem formulados, inclusive com a instrução ou realização de prova psicossocial do
dano suportado pelo filho. Nota-se que os julgados estão orientados pela afirmação de que não
basta a prova da simples ausência de convivência para que caiba a indenização.
Acrescente-se que no próprio Superior Tribunal de Justiça existem acórdãos recentes que não
admitem a reparação de danos por abandono afetivo antes do reconhecimento da paternidade.
Desse modo, julgando "alegada ocorrência de abandono afetivo antes do reconhecimento da
paternidade. Não caracterização de ilícito. Precedentes" (STJ, AREsp 1.071.160/SP, Terceira Turma,
Rel. Min. Moura Ribeiro, DJE 19/06/2017). Ou, ainda, "a Terceira Turma já proclamou que antes do
reconhecimento da paternidade, não há se falar em responsabilidade por abandono afetivo" (STJ,
Agravo Regimental no AREsp n. 766.159/MS, Terceira Turma, Rel. Min. Moura Ribeiro, DJE
09/06/2016).
Em suma, parece que a doutrina contemporânea foi bem festiva em relação à admissão da
reparação imaterial por abandono afetivo, em especial após o julgamento do REsp 1.159.242/SP,
em 2012. Porém, no âmbito da jurisprudência, há certo ceticismo, com numerosos julgados que
afastam a indenização. Muitos deles o fazem também com base na existência de prescrição da
pretensão.
Da paternidade socioafetiva
Os filhos que são adotados possuem os mesmos direitos que os demais. De igual forma,
aqueles que foram reconhecidos como parentes em virtude do longo convívio, apto a gerar
afeto indiscutível, também possuem a mesma proteção legal.
O certo é que, elevando os princípios constitucionais, o Código Civil, em boa hora, colocou
em evidência a circunstância de que a paternidade e a maternidade podem ter origem fora da
mera vinculação biológica.
Da alienação parental
Assim dispõe a Lei da Alienação Parental:
Nos termos do art. 2.º da Lei 12.318, de 26 de agosto de 2010, “considera-se alienação
parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob
a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”. O dispositivo exemplifica algumas
situações concretas de alienação parental:
Conforme o art. 3º da Lei 12.318/2010 “a prática de ato de alienação parental fere direito
fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a
realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral
contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental
ou decorrentes de tutela ou guarda”. Desse modo, não há dúvida que, além das consequências
para o poder familiar, a alienação parental pode gerar a responsabilidade civil do alienador,
por abuso de direito art. 187 do CC).
O art. 4º da mesma lei, vem para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a
efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso. Conforme decisão do Superior Tribunal de
Justiça do ano de 2014, essa última norma gera a conclusão de incidência do Código de Processo
Civil para os casos de alienação parental, o que deve ser mantido no que diz respeito ao Novo
CPC.
O §4º da lei dispõe que a decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre
terceiros, sem restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado.
Conforme § 5º, o terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode
solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua
função em relação ao apoiado.
Por sua vez, caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo
divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o
Ministério Público, decidir sobre a questão.
§ 5º Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode
solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando,
por escrito, sua função em relação ao apoiado. (Incluído pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
O § 7º acrescenta que "se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não
adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa
apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao juiz.
Prevê o §8º que se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida
a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio.
Por sua vez, o §9º dispõe que "a pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término
de acordo firmado em processo de tomada de decisão apoiada".
O §10 acrescenta que "o apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do
processo de tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado à
manifestação do juiz sobre a matéria".
§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo
de tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado à
manifestação do juiz sobre a matéria. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência)
Guarda
Guarda Compartilhada
Na guarda compartilhada os pais dividem a responsabilidade na condução da
vida do filho, de forma conjunta, sem haver a prevalência de um sobre o
outro. A Lei 11.698/08 instituiu a guarda compartilhada, que passa a ser
prioridade para o juiz quando não existe acordo entre os pais, podendo ser
fixada também por consenso entre os genitores. Essa guarda compartilhada
de filhos aplica-se para casais divorciados, de uniões estáveis ou de relações
individuais.
Guarda Alternada
Na guarda alternada, há a possibilidade de cada um dos pais deter a guarda
do filho alternadamente. Nesse período, que pode ser de um ano, um mês,
uma semana ou qualquer outro período acordado, o responsável detém de
forma exclusiva os direitos e deveres em relação ao menor.
Tutela
A tutela é um encargo a que se submete determinada pessoa, a quem se atribui a
incumbência de administrar os bens e reger a vida de indivíduo menor de idade
que não se encontra sob o poder familiar do pai e nem da mãe. É o dever de
solidariedade que se atribui ao Estado, à sociedade e aos parentes. Ao Estado, para
que regule as respectivas garantias e assegure a prestação jurisdicional. À sociedade,
pois qualquer pessoa que preencha os requisitos legais poderá ser investida pelo
Judiciário desse múnus. Aos parentes, porque são os primeiros a serem convocados,
salvo se legalmente dispensados. Trata-se, então, de um serviço público prestado por
particular em caráter compulsório.
Documental
A tutela deve ser instituída através de documento autêntico, firmado por um
ou ambos os pais, em conjunto ou separadamente. Vale qualquer escrito
(carta, escritura pública, escrito particular, desde que deixe claro a nomeação
e a identidade do signatário).
Testamentária
O pai ou a mãe, através de testamento ou documento autêntico indicam a
pessoa que será o tutor para os filhos menores, que deixam ao morrer. Por
ser vedado testamento em conjunto, cada um deve indicar o tutor em
instrumento distinto. Mesmo que um testamento seja considerado nulo ou
anulável, a nomeação do tutor, se não tiver maculada a vontade do nomeador,
terá validade. Caberá ao tutor, no prazo de 30 dias após a abertura da
sucessão, ingressar com pedido de controle judicial do ato (ECA 37), sendo
concedida se comprovado que a medida é vantajosa para o tutelado e que
não existe outra pessoa em condições melhores para assumi-la.
Legítima
Na falta de tutela testamentária, serão convocados os parentes consanguíneos
(ascendentes e os colaterais, conforme ordem disposta no Art. 1731 do CC).
Porém, em benefício do tutelado, o juiz poderá escolher quem entender mais
apto a exercer esta função. É imperioso atender ao melhor interesse do
infante, devendo o encargo ser atribuído a quem já tiver com ele alguma
afinidade, ainda que se afaste o juiz do rol legal.
Dativa
Na falta ou exclusão do tutor legítimo ou testamentário, bem como ausência
de parentes em condições de exercer a tutela, o juiz nomeará, através de
sentença judicial, pessoa estranha, mas idônea e que resida no domicílio do
menor para que assuma este encargo da tutela. Trata-se de uma tutela
subsidiária, e tem como regra, em caso de irmãos menores, apenas um tutor
para todos. Em se tratando de pais desconhecidos, falecidos, ou suspensos ou
destituídos do poder familiar, serão incluídos no programa de colocação
familiar (Art. 1.734 do CC).
Curatela
A curatela é um instituto protetivo dos maiores de idade, mas incapazes, ou seja, sem
condições de zelar por seus próprios interesses, reger sua vida e administrar seu
patrimônio. O processo de interdição é o meio próprio para incapacitar aqueles
desprovidos de discernimento, sujeitando-se também à curatela os nascituros,
ausentes, enfermos e os deficientes físicos. Também trata-se de múnus público. A
curatela está diposta no CC/02, em seu Título IV do Livro IV, Capítulo II, art. 1767 a
1783, bem como no ECA (Lei 8069/90) como também na Lei de Registros Publicos (Lei
6.015/73.
Inicialmente, cumpre ressaltar que é imprescindível a leitura dos artigos 185 ao 188 e 927 ao
954 do Código Civil, dada sua importância e incidência nos certames.
Conduta humana
Para alguns autores, como exposto, a conduta humana e a culpa podem ser
fundidas como um só elemento subjetivo da responsabilidade civil. Para fins didáticos,
preferimos dividi-las. Assim sendo, a conduta humana pode ser causada por uma ação
(conduta positiva) ou omissão (conduta negativa) voluntária ou por negligência,
imprudência ou imperícia, modelos jurídicos que caracterizam o dolo e a culpa,
respectivamente. A regra é a ação ou conduta positiva; já para a configuração da
omissão é necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado ato (omissão
genérica), bem como a prova de que a conduta não foi praticada (omissão específica).
Nexo de causalidade
O nexo de causalidade ou nexo causal constitui o elemento imaterial ou virtual da
responsabilidade civil, constituindo a relação de causa e efeito entre a conduta culposa
– ou o risco criado – e o dano suportado por alguém.
Dano ou prejuízo
Como é notório, para que haja pagamento de indenização, além da prova de culpa
ou dolo na conduta é necessário comprovar o dano patrimonial ou extrapatrimonial
suportado por alguém. Em regra, não há responsabilidade civil sem dano, cabendo o
ônus de sua prova ao autor da demanda, aplicação do art. 373, I, do CPC/2015,
correspondente ao art. 333, I, do CPC/1973.
De toda sorte, cabe lembrar que, em alguns casos, se admite a inversão do ônus
da prova do dano ou prejuízo, como nas hipóteses envolvendo as relações de consumo,
presente a hipossuficiência do consumidor ou a verossimilhança de suas alegações (art.
6.º, VIII, da Lei 8.078/1990).
Ademais, o Novo CPC ampliou essa inversão para qualquer hipótese em que houver
dificuldade na construção probatória, tratando da carga dinâmica da prova. Nos termos
do § 1.º do seu art. 373, nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da
causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo
probatório ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz
atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada.
Em hipóteses tais, nos termos do mesmo preceito, o juiz deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. Parte da doutrina
considera que o entendimento pode ser aplicado a vulneráveis que não são
consumidores, caso dos aderentes contratuais para quem o conteúdo do negócio é
imposto.
O Código Civil em seu art. 927, parágrafo único, declara expressamente a existência da
Responsabilidade Objetiva. Vejamos:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, é obrigado a repará-lo.
34
“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.
Do estado de necessidade ou remoção de perigo iminente
De acordo com o art. 188, II, do CC:
(...)
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites
do indispensável para a remoção do perigo.
Ou seja, não constitui ato ilícito a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão
à pessoa, a fim de remover perigo iminente, prestes a acontecer, por se tratar de um estado
de necessidade. Em complemento, o parágrafo único do mesmo dispositivo disciplina que o
ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário,
não excedendo os limites do indispensável à remoção do perigo.
Em havendo excesso, mais uma vez, tanto poderá estar configurado o abuso de
direito (art. 187 do CC) quanto o ato ilícito propriamente dito (art. 186 do CC).
SAIBA MAIS!
35
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019.
Dano moral
Conceitua-se o dano moral como lesão a direitos da personalidade, sendo essa a visão que
prevalece na doutrina brasileira.36
Sua reparação não é a determinação de um preço para a dor ou o sofrimento, mas sim um
meio para conter, em parte, as consequências do prejuízo imaterial, o que traz o conceito de
lenitivo, derivativo ou sucedâneo.37
Por esta razão é que se utiliza a expressão reparação e não ressarcimento para os danos
morais.
Cumpre esclarecer que não há, no dano moral, uma finalidade de acréscimo patrimonial para
a vítima, mas sim de compensação pelos males suportados. Tal dedução justifica a não incidência
de imposto de renda sobre o valor recebido a título de indenização por dano moral, o que foi
consolidado pela Súmula 498 do Superior Tribunal de Justiça, do ano de 2012.38
A perda de uma chance está caracterizada quando a pessoa vê frustrada uma expectativa,
uma oportunidade futura, que, dentro da lógica do razoável, ocorreria se as coisas seguissem o
seu curso normal. A partir dessa ideia, como expõem os autores citados, essa chance deve ser
séria e real. Buscando critérios objetivos para a aplicação da teoria, Sérgio Savi leciona que a
36
sendo essa a visão que prevalece na doutrina brasileira.
37
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019
38
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019
perda da chance estará caracterizada quando a probabilidade da oportunidade for superior a 50%
(cinquenta por cento).39
”A teoria da perda de uma chance pode ser utilizada como critério para a
apuração de responsabilidade civil ocasionada por erro médico na hipótese em
que o erro tenha reduzido possibilidades concretas e reais de cura de paciente
que venha a falecer em razão da doença tratada de maneira inadequada pelo
médico. De início, pode-se argumentar ser impossível a aplicação da teoria da
perda de uma chance na seara médica, tendo em vista a suposta ausência de
nexo causal entre a conduta (o erro do médico) e o dano (lesão gerada pela
perda da vida), uma vez que o prejuízo causado pelo óbito da paciente teve
como causa direta e imediata a própria doença, e não o erro médico. Assim,
alega-se que a referida teoria estaria em confronto claro com a regra insculpida
no art. 403 do CC, que veda a indenização de danos indiretamente gerados pela
conduta do réu. Deve-se notar, contudo, que a responsabilidade civil pela perda
da chance não atua, nem mesmo na seara médica, no campo da mitigação do
nexo causal. A perda da chance, em verdade, consubstancia uma modalidade
autônoma de indenização, passível de ser invocada nas hipóteses em que não se
puder apurar a responsabilidade direta do agente pelo dano final. Nessas
situações, o agente não responde pelo resultado para o qual sua conduta pode
ter contribuído, mas apenas pela chance de que ele privou a paciente. A chance
em si – desde que seja concreta, real, com alto grau de probabilidade de obter
um benefício ou de evitar um prejuízo – é considerada um bem autônomo e
perfeitamente reparável. De tal modo, é direto o nexo causal entre a conduta (o
erro médico) e o dano (lesão gerada pela perda de bem jurídico autônomo: a
chance). Inexistindo, portanto, afronta à regra inserida no art. 403 do CC, mostra-
se aplicável a teoria da perda de uma chance aos casos em que o erro médico
tenha reduzido chances concretas e reais que poderiam ter sido postas à
disposição da paciente” (STJ, REsp 1.254.141/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j.
04.12.2012, publicado no seu Informativo n. 513).
39
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2019.
Em outro campo, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul responsabilizou um curso
preparatório para concursos públicos que assumiu o compromisso de transportar o aluno até o
local da prova. Porém, houve atraso no transporte, o que gerou a perda da chance de disputa em
concurso público, surgindo daí o dever de indenizar (TJRS, Processo 71000889238, Data: 07.06.2006,
2.ª Turma Recursal Cível, Juiz Rel. Clovis Moacyr Mattana Ramos, Origem: Comarca de Cruz Alta).
De toda sorte, em caso também envolvendo concurso público, o Superior Tribunal de Justiça
entendeu pela não incidência da teoria, pois a chance do candidato que teve a sua expectativa
frustrada não era séria e real. Vejamos a ementa publicada no Informativo n. 466 daquele Tribunal:
RODADASDE PL
ANOSDE
PROVAORAL
SI
MUL
ADOS ESTUDOS
RODADASDE COACHI
NG
ESTUDO DI
RIGI
DO
L
IVRO DI
GIT
ALi
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