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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

DEPARTAMENTE DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA

 
 
 
 

 
 
O DESENVOLVIMENTO DA ÉTICA DO AMOR DE SANTO AGOSTINHO NA
ÉTICA DAS VIRTUDES DE SÃO TÓMAS DE AQUINO: A VIRTUDE COMO
AMOR DE CARIDADE.

 
 
 
 
 
 

 
                Marcos Vinícios Chiaretti Guedes 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
 
2021 
Marcos Vinícios Chiaretti Guedes
 

O DESENVOLVIMENTO DA ÉTICA DO AMOR DE SANTO AGOSTINHO NA


ÉTICA DAS VIRTUDES DE SÃO TÓMAS DE AQUINO: A VIRTUDE COMO
AMOR DE CARIDADE.

 
Trabalho de Conclusão de curso apresentado
como requisito para aprovação no curso de
pós-graduação Lato Sensu / Especialização em
Filosofia. Política da Estácio de Sá, sob
orientação do Professor Emerson Ferreira da
Rocha.

 
 
 
 
 
 

Rio de Janeiro 
 
2021 
Marcos Vinícios Chiaretti Guedes

O DESENVOLVIMENTO DA ÉTICA DO AMOR DE SANTO AGOSTINHO NA


ÉTICA DAS VIRTUDES DE SÃO TÓMAS DE AQUINO: A VIRTUDE COMO
AMOR DE CARIDADE.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estácio de Sá, como


requisito para a obtenção do grau de Especialista em Filosofia.

Aprovado em, _____ de ______________ de 2020.

________________________________________________
Examinador
Prof. Mestre

NOTA FINAL ____________


RESUMO 
 
O presente trabalho tem por objetivo pesquisar alguns dos pontos centrais da ética cristã, sobretudo a
forma como ela se dá na obra de Agostinho e Tomás de Aquino. Ao pesquisar os tópicos relacionados aos
dois autores pretende-se desenvolver a relação que existe entre o pensamento ético de Agostinho, com sua
“Ética do Amor”, e o pensamento ético de Tomás, com sua “Ética das Virtudes”. O intuito é buscar
entender melhor o papel da virtude e do amor nos dois sistemas e as possíveis relações entre esses
sistemas. Portanto esse texto buscará distinguir as ideias de virtude e de amor para cada autor e
desenvolver as relações que entre eles existam nesse contexto.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

PALAVRAS-CHAVE: Virtude. Amor. Ética. 
RIEPILOGO

Questo testo mira a ricercare alcuni dei punti centrali dell'etica cristiana, in particolare il modo in cui si
svolge nell'opera di Agostino e Tommaso d'Aquino. Ricercando gli argomenti relativi ai due autori,
intendiamo sviluppare il rapporto che esiste tra il pensiero etico di Agostino, con la sua "Etica
dell'Amore", e il pensiero etico di Tommaso, con la sua "Etica delle Virtù". L'obiettivo è comprendere
meglio il ruolo della virtù e dell'amore in entrambi i sistemi e le possibili relazioni tra questi sistemi.
Pertanto, questo testo cercherà di distinguere le idee di virtù e amore per ogni autore e sviluppare le
relazioni che esistono tra loro in questo contesto.

PAROLE CHIAVE: Virtù. Amore. Etica.


SUMÁRIO
 
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................3

2 JUSTIFICATIVA.................................................................................................6

3 REVISÃO DE LITERATURA............................................................................7

4 OBJETIVOS.........................................................................................................8
4.1 GERAIS...................................................................................................8
4.2 ESPECÍFICOS.........................................................................................8  

5 MÉTODO...............................................................................................................9

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................10

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................21

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................24
8.1 FONTES PRIMÁRIAS............................................................................24
8.2 FONTES SECUNDÁRIAS......................................................................25
3

INTRODUÇÃO

Santo Agostinho de Hipona e São Tomás de Aquino desenvolveram durante sua


vida uma vasta obra que tem como ponto de apoio o cristianismo de suas épocas. Diante
disso, suas filosofias são permeadas pelo ideal cristão do amor ao próximo, um
elemento essencial da moral cristã. Dada a grande importância do tema para os autores e
para compreensão de sua ética, será realizada uma análise do amor e sua relação com a
ética na obra desses autores.

Santo Agostinho (354-430) foi um filósofo, escritor, bispo e importante teólogo


cristão do norte da África, durante a dominação romana. É considerado o mais ilustre
Padre da Igreja do Ocidente, pois influenciou toda a vida da Igreja, em matéria de
filosofia e de teologia, nos séculos subsequentes até os dias atuais. Suas concepções
sobre as relações entre a fé e a razão, entre a Igreja e o Estado, dominaram toda a Idade
Média. Conhecido também como Agostinho de Hipona, nasceu em Tagaste, na cidade
da Numídia (hoje Argélia), no norte da África, região dominada pelo Império Romano,
no dia 13 de novembro de 354. Sua infância e adolescência transcorreram
principalmente em sua cidade natal, em um ambiente limitado por um povoado perdido
entre montanhas. Seu pai Patrício, era pagão e sua mãe Mônica, uma cristã devota que
exerceu grande influência sobre a conversão do filho.

Agostinho delega ao amor a realização do movimento em direção a felicidade “o


amor é o motor da vontade” (LIMA, 2011, p. 59) o qual é sempre uma vontade do bem
dado que o amor é uma inclinação da vontade ao bem “o que é o amor ou a caridade, tão
louvada e exaltada pela Escritura, senão o amor do Bem?” (AGOSTINHO, 2018, p.
172), portanto uma inclinação em direção a felicidade. E quanto à vontade (voluntas)1,
Strefling (2015), ela é vista como um poder ou faculdade da alma (potentiaanimi) que
move um ser em certa direção se destacando dela três definições: a primeira apresenta a
vontade como o livre movimento de uma alma racional (motus animi); a segunda
considera a vontade como consentimento (consensus); e a terceira entende a vontade
como amor (amor/ cupiditas/caritas). Dessas três definições de vontade a terceira
parece ser a mais importante, pois “Agostinho apresenta uma terceira definição de
vontade como expressão daquilo que parece ser o mais importante para o homem, a
saber, a sua capacidade de amar” (STREFLING, 2015, p. 71). Ou seja, “aqui, a vontade

1
Conceito formulado por Agostinho em seus estudos sobre a liberdade.
4

se confunde com o amor” (STREFLING, 2015, p. 71) e é daí que vem a expressão de
que “o amor é o motor da vontade” (LIMA, 2011, p. 59).

Como afirma Gilson: “é evidente que, se o amor é o motor íntimo da vontade, e


se a vontade caracteriza o homem, pode-se dizer que o homem é essencialmente movido
por seu amor. Não há nele qualquer coisa acidental ou sobreposta, mas sim, uma força
interior à sua essência, como o peso na pedra que cai” (GILSON, 1943, p.257, tradução
nossa).

Nesse sentido se inicia a reflexão ética do autor, pois o amor sendo “motor da
vontade” é o que move o homem na direção do bem, esse bem é a verdade (que para
Agostinho é o próprio Deus), mas para alcançar tal verdade Agostinho define como
caminho necessário o caminho da virtude porque, “a virtude é nada senão amor perfeito
a Deus” (De moribus ecclesiae catholicae et de moribus Manichaeorum, I 15, 25,
tradução nossa). Portanto em Agostinho se ama a Deus através da virtude que é a forma
mais perfeita de ama-Lo.

Após essa introdução das ideias de Santo Agostinho se faz necessária também
uma explanação inicial das ideais tomistas, desse modo antes de partir para as próximas
partes desse trabalho é importante se deter na introdução a obra de São Tomás.

Já São Tomás de Aquino nasceu no castelo de Roccasecca, em Aquino, no reino


da Sicília, no sul da Itália, no ano de 1225. Sua família, de origem nobre se destacou a
serviço do imperador da Alemanha, Frederico. Com 15 anos, Tomás de Aquino decidiu
entrar para um convento. Bateu às portas da Ordem dos Dominicanos, ordem que
criticava a vida monástica tradicional em favor de uma prática de pregação e ensino.
Considerado muito novo e imaturo, o jovem implorou, suplicou, argumentou e com
tamanha convicção acabou sendo acolhido pela ordem. Ao saber da decisão de Tomás
de Quino de ingressar para a Ordem dos Dominicanos, seu pai mandou seus fiéis
servidores trazê-lo de volta a Roccasecca. Sabendo do plano, o superior do convento
enviou Tomás de Aquino para Paris, mas o jovem foi alcançado pelos emissários do pai,
que o manteve prisioneiro na torre do castelo. No ano seguinte, Tomás de Aquino fugiu
e voltou ao convento de Nápoles. Aos 17 anos, pronuncia os votos religiosos e se
torna frei Tomás. Tomás de Aquino tinha escolhido a Ordem dos Dominicanos, pois
não desejava ficar trancado em uma cela e afastar-se do mundo, e sim difundir a fé
cristã. Em 1245, resolveu ingressar na Universidade de Paris, um dos grandes centros de
5

estudos teológicos da Idade Média. Depois de quatro anos, virou professor.


Inicialmente, Tomás de Aquino reviu a atitude da Igreja face à filosofia de Aristóteles,
que era rejeitada como pensador pagão assim como as demais dos pensadores gregos do
período antes de Cristo, as conclusões de Tomás de Aquino sobre esse estudo foram
reunidas na sua principal obra, a Suma Teológica, escrita com o objetivo de provar que
a razão humana não se opõe à fé. Essa é também a principal obra de ética do autor.

Na ética de São Tomás todo ato visa algum bem e no caso da ética esse bem é a
felicidade, segundo ele para atingir tal bem é necessária a virtude que é um meio termo,
uma justa medida dos atos humanos.

Como em Tomás a moral é uma ciência dos atos humanos e a finalidade desses
atos é a felicidade eterna, ele propõe um estudo dos princípios gerais da moral que
poderiam levar a essa felicidade. A partir disso, Tomás identifica a liberdade como fator
necessário a moral, podendo o homem errar nas suas escolhas e torna-se ou não apto a
essa vida feliz, por isso a concepção de liberdade de Santo Tomás repousa sobre uma
espécie de “colaboração harmônica” entre o Intelecto que apreende o verdadeiro e a
vontade que tende para o bem, compondo, portanto, a ação humana. Ou seja, o homem é
livre quando sua ação apreende o bem e tende para esse bem.

Essa “colaboração harmônica” em Tomás remete a ideia de virtude que é um


habito humano harmônico, que tem sua harmonização na razão a qual tende para o bem:

O filósofo define o hábito como uma disposição segundo a qual alguém se


dispõe bem ou mal, e no livro II da Ética, diz que é segundo os hábitos que
nos comportamos em relação com as paixões, bem ou mal. Quando, pois, é
um modo em harmonia com a natureza da coisa, então tem a razão de bem; e
quando em desarmonia, tem a razão de mal (AQUINO, Tomás de. Suma
Teológica, Iª seção, IIª parte, q. 49 a.2).

Como em Tomás a moral é a ciência dos atos humanos buscando um fim que é a
felicidade e ao estudar os princípios gerais dessa ciência se compreende que para atingir
essa felicidade é preciso exercitar a liberdade presente no agir sempre em direção ao
bem de maneira harmônica, ou seja, através da virtude, então a felicidade só é possível
mediante a vida virtuosa.

A vida virtuosa, em Tomás, só é possível com a combinação de dois fatores, a


repetição dos atos e a infusão da Graça divina, essas virtudes infundidas são chamadas
teologais e dentre essas uma toma destaque, a virtude da caridade pois “a caridade é
mais excelente que a fé e a esperança e, por conseguinte, que todas as outras virtudes”
6

(AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. IIª seção IIª parte, q. 23, a.6.), isso porque
existe uma posição tomista de que todas as virtudes dependam da caridade. Sua tese
provem do posicionamento fundamental da Tradição Bíblica a qual defende que entre as
virtudes teologais a caridade é a mais importante. A partir disso percebe-se que em
Tomás só se alcança a virtude através do amor, pois a virtude nada mais é do que uma
forma de amor.

Isto posto, nota-se que os dois autores possuem em sua ética tanto um conceito
de virtude quanto uma consideração do amor enquanto agente necessário a essa
constituição ética. Portanto, esse trabalho buscará se orientar no sentido de esclarecer
esses conceitos chaves dos autores e procurar entre eles pontos de convergência que
demonstrem as possíveis concordâncias que podem existir entre as duas obras.

Assim sendo, deve-se buscar então compreender a seguinte questão: Como se


dão os elementos chaves do pensamento ético de Santo Agostinho e de São Tomás e
quais pontos de convergência eles possuem entre si? E por fim, se a ética de São Tomás
desenvolve bem os conceitos da ética do amor de Santo Agostinho.

2 JUSTIFICATIVA

Santo Agostinho e São Tomás são relevantes por si mesmos, suas obras
influenciaram e influenciam profundamente a história de filosofia até os tempos atuais,
se aprofundar na sua obra já seria justificável a partir disso, mas para além disso, nota-
se que há certos temas de grande relevância que pouco foram pesquisados até o
momento, assim é com o tema desse trabalho, apesar das diversas pesquisas
desenvolvidas no âmbito da ética sobre os dois autores, poucas, ou até mesmo nenhuma,
buscaram relacionar seus conceitos e tentar entende-los em conjunto. A partir disso,
pode-se justificar o tema, dada a relevância dos autores e do tema e a pouca explanação
desenvolvida sobre o mesmo. É importante declinar-se sobre o assunto na tentativa de
melhor desenvolver e entender os autores e a sua obra que são até hoje profundamente
relevantes para a filosofia como um todo.
Ademais, nota-se, em qualquer estudo sobre o autor, que Santo Agostinho
influenciou e influencia diversos dos autores que vieram depois dele e entre esses está o
próprio São Tomás, Segundo Le Goff “Depois de São Paulo, Santo Agostinho é o
personagem mais importante da instalação e o desenvolvimento do Cristianismo. É o
7

grande Professor da Idade Média” (LE GOFF, 2007, p.31), portanto buscar entender o
pensamento de Agostinho é crucial para desenvolver de maneira adequada uma reflexão
sobre as ideias de São Tomás.
Por fim, no âmbito da ética cristã pode-se afirmar sem medo algum que esses
dois autores são os mais importantes expoentes, suas obras são as mais relevantes nesse
sentido, por isso buscar entende-las em conjunto pode trazer diversos pontos positivos
ao pensamento cristão contemporâneo. Entender a ideia de amor ao longo do
desenvolvimento da história cristã é fundamental para retomar esse conceito na
atualidade, diante de um mundo repleto de caos, ódio e miséria, um olhar para o outro é
fundamental na elaboração de uma ética que ajude o ser humano a melhorar, portanto
entender a relação do amor e da ética pode dar passos longos em direção a esse ideal.
Além disso, pesquisar esse tema pode trazer novos conceitos e ideias relevantes para os
pensadores atuais e para o cristianismo como um todo.

3 REVISÃO DE LITERATURA

O primeiro passo para uma revisão de literatura concisa é a delimitação do tema


de pesquisa, como já explanado nesse texto, o tema a ser tratado fundamenta-se nas
reflexões éticas de Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino buscando relacionar os
conceitos éticos mais importantes dentro de cada autor, esses conceitos foram
identificados como sendo a “virtude” e o “amor”, portanto é a partir daí que surgiram as
palavras chaves utilizadas na pesquisa do tema, essa delimitação pode ser vista tanto na
introdução desse trabalho como também em seu resumo.

Delimitado o tema e retiradas as palavras chaves o próximo passo é buscar os


estudos primários em relação ao tema, os estudos primários são aqueles artigos
encontrados a partir da pesquisa feita com as palavras chaves determinadas e são essas
palavras chaves que também determinam quais informações serão tiradas dos artigos.
Para a busca desses artigos há três técnicas a serem empregadas: Busca Manual, quando
visitamos os sites, anais de conferências e periódicos em busca dos artigos sobre os
tópicos pesquisados; Busca Automática, quando visitamos bibliotecas digitais para
buscar artigos de acordo com uma determinada palavra-chave ou conjunto delas, as
quais chamamos de strings de busca. Exemplo de bibliotecas digitais: Google Scholar,
Citeseer Library, Scopus, Scielo, Portal de Periódicos CAPES, etc.; Snow-Balling,
quando analisamos a lista de referências dos artigos em busca de novos estudos.
8

Feita a busca dos estudos primários, outro ponto muito importante a ser
observado é a seleção dos estudos a serem utilizados. Essa avaliação pode se dar através
de uma breve leitura do título e do abstract (ou resumo), ou ainda, para uma revisão
mais detalhada, a leitura da introdução e da conclusão do estudo. A partir disso serão
selecionados os textos que melhor atenderem aos critérios estabelecidos pela
delimitação do tema e esses deveram ser levados em conta na revisão na construção do
texto a ser produzido, os artigos retirados nessa etapa serão, portanto, os artigos
presentes na bibliografia final desse trabalho.

Em síntese, para concluir de maneira satisfatória a revisão de literatura são


necessários mais dois passos, extrair as informações dos estudos primários e realizar a
síntese dessas, para realizar tal extração é preciso identificar e capturar todos os pontos
relevantes de cada estudo primário buscando responder cada uma das questões de
pesquisa com os dados obtidos, para esse tópico é necessário que antes seja feita a
delimitação de uma metodologia a ser utilizada no trabalho, essa poderá ser vista no
tópico intitulado “método”. Já para realizar a síntese das informações é preciso partir
das ideias extraídas na pesquisa, e combinar de uma maneira harmônica que responda as
questões de cada tema chave, essa síntese será encontrada no tópico “resultados e
discussões” desse texto enquanto a extração dos dados é um elemento pré-textual,
dizendo respeito apenas a elaboração do texto e não necessariamente estando presente
nele.

Doravante esses passos é que se constrói o trabalho a seguir, buscando


pesquisar, analisar e relacionar a obra dos dois autores escolhidos e sua importante
contribuição para a história da filosofia, sobretudo no campo da ética.

4 OBJETIVOS

1.1 GERAIS
Pesquisar os diversos conceitos dos dois autores sobre ética em geral e buscar
relacionar um ao outro na tentativa de entender e associar melhor as ideias de cada um e
as influências de Agostinho sobre Tomás, bem como os pontos em que concordam.

  
1.2 ESPECÍFICOS
9

Buscar entender as ideias de cada autor e perceber a relação de um com o outro


no intuito de saber se de fato o pensamento de Tomás na sua ética das virtudes foi
influenciado pela ética do amor em Agostinho e, tendo sido influenciado, de que
maneira e até que nível isso se deu.

5 MÉTODO

O estudo de momentos históricos e de autores e pensamentos é um ambiente de


muitas vozes. Sendo assim, dificilmente se pode esgotar os temas tratados ou as
interpretações apresentadas nos debate, que se iniciaram e tem se fecundado há séculos,
portanto, a perspectiva abordada deve ser a de se dedicar a analisar um recorte entre
outras possibilidades. 
Por se tratar desse tema portanto, antes de mais nada, é preciso esclarecer o
método de trabalho empregado. Na apresentação das diversas teorias, deve-se buscar
manter na mesma linha argumentativa que seus proponentes, utilizando exemplos do
mesmo segmento, transcrevendo partes de seus trabalhos etc. Isso não deve conduzir a
crença que o apresentado nesse trabalho seja um o método para selecionar o que
compõe a categoria de ciência, um critério único para avaliar as realizações humanas na
esfera do conhecimento nas mais distintas áreas de investigação. O principal propósito
desse texto é oferecer uma visão especifica do tema pesquisado, e demostrar algumas
das ferramentas básicas para quem dele queira participar. 
Esclarecidos esses pontos, agora é preciso se debruçar sobre os procedimentos
metodológicos a serem empregados na construção do trabalho aqui abordado. Lima
e Mioto (2007) afirmam que:
Ao apresentar a metodologia que compõe determinada pesquisa, busca-se
apresentar o "caminho do pensamento" e a "prática exercida" na apreensão da
realidade, e que se encontram intrinsecamente constituídos pela visão social
de mundo veiculada pela teoria da qual o pesquisador se vale. O processo de
apreensão e compreensão da realidade inclui as concepções teóricas e o
conjunto de técnicas definidos pelo pesquisador para alcançar respostas ao
objeto de estudo proposto (LIMA; MIOTO, 2007 p.39). 

Nesse caso, se buscará compreender o caminho escolhido na construção das


concepções teóricas a serem abordadas no texto. Esse caminho é o da pesquisa
bibliográfica e consistirá de ao menos quatro momentos distintos, a seleção do material
a ser estudado, a leitura para obtenção de informações ou dos dados necessários a
pesquisa, a investigação das soluções da pesquisa e por fim a análise explicativa das
soluções da pesquisa. 
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A seleção do material deverá obedecer a três parâmetros: o parâmetro temático –


as obras relacionadas ao objeto de estudo; o parâmetro das fontes – as principais fontes
que se pretende consultar, livros, periódicos, teses, dissertações, coletâneas de textos,
etc.; o parâmetro cronológico de publicação – para seleção das obras que comporão o
universo a ser pesquisado, definindo o período a ser pesquisado. 
A leitura do material obedecerá aos seguintes critérios: Leitura de
reconhecimento do material bibliográfico – consiste em uma leitura rápida que pretende
localizar e selecionar o material que pode apresentar informações e dados sobre o tema;
Leitura exploratória – também se constitui em uma leitura rápida cujo objetivo é
verificar se as informações e/ou dados selecionados interessam de fato para o estudo;
Leitura seletiva – procura determinar o material que de fato interessa, relacionando-o
diretamente aos objetivos da pesquisa; Leitura reflexiva ou crítica – estudo crítico do
material orientado por critérios determinados a partir do ponto de vista do autor da obra,
buscando responder aos objetivos da pesquisa; Leitura interpretativa – tem por objetivo
relacionar as ideias expressas na obra com o problema para o qual se busca resposta.
Implica na interpretação das ideias do autor, acompanhadas de uma relação destas com
o propósito do pesquisador. 
Já a investigação das soluções da pesquisa consistirá na criação de uma
instrumentação que permita tirar das obras escolhidas os temas referentes a pesquisa
para a compreensão do objeto de estudos, ela resulta da análise e interpretação dos
dados da pesquisa integrando-os a crítica do objeto de estudo. 
A análise explicativa das soluções da pesquisa será construída a partir dos dados
obtidos pela pesquisa, sempre obedecendo os critérios metodológicos e se baseando no
referencial teórico da pesquisa. Os dados obtidos serão apresentados em categorias
conceituais, devendo sempre vir exemplificados com as afirmações dos autores,
selecionadas como pertinentes ao tema, nessa fase o pesquisador irá procurar
demonstrar a validade das suas afirmações com base nos autores pesquisados e refletir a
partir deles para a proposição de soluções.

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A ética de Agostinho leva sempre em conta o amor como o que move o homem
a felicidade. Segundo Agostinho: “Essa felicidade, essa vida que é a única feliz, todos a
11

querem, todos querem a alegria que provém da verdade” (AGOSTINHO, 1997, p. 177).
O Santo se questiona a partir daí:

Onde conheceram essa felicidade, senão onde conheceram a verdade? Se de


fato não querem ser enganados, é porque amam também a verdade. E já que
amam a felicidade que nada mais é que a alegria oriunda da verdade, amam
certamente também a verdade (AGOSTINHO, 1997, p. 177)

A felicidade então está nessa verdade que em Agostinho é o próprio Deus:

E um só é o verbo de Deus que tudo criou e que é a verdade imutável. Por


isso, nele, principalmente e de modo imutável, estão todas as coisas, não
somente as que agora existem no universo, mas as que existiram e as que
existirão. Melhor dizendo, nele não existiram, nem existirão, mas apenas
existem; e tudo é vida, e tudo é unidade, e quanto mais unidade, mais perfeita
é a vida (AGOSTINHO, 2018, p. 148).

Desse modo, compreende-se que em Deus estão todas as coisas inclusive a


verdade necessária ao alcance da felicidade e é importante, a partir disso, entender a
dinâmica do amor na relação com Deus, conhecer a Deus de fato é estar inserido no
amor “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor” (1 João 4:8). O
amor, nesse sentido, une o que ama e o que é amado, portanto leva a Deus e a felicidade
“ele será feliz quando, sem obstáculos nem perturbações, puder gozar daquela única
verdade, fonte de tudo que é verdadeiro” (AGOSTINHO, 1997, p. 177). Ou seja, no
encontro dessa verdade, que é Deus e que só pode ser alcançado pelo amor é que se
encontra a verdadeira felicidade.

Nessa dinâmica de pensamento o amor e todas as suas expressões são peças


fundamentais na busca pela felicidade, portanto, entender o amor e essas expressões é
fundamental para a boa compreensão de uma ética no autor, a partir disso pode voltar-se
ao estudo das virtudes, que são expressões do amor em Agostinho, sobretudo a própria
virtude do amor/caridade, que é a mais perfeita das virtudes em Agostinho.

Assim, dentro do sistema ético de Agostinho as virtudes tem papel fundamental


e são entendidas como expressões do amor, do seguinte modo:

Sustento que a virtude é nada senão amor perfeito a Deus... A temperança é


amor doado inteiramente àquilo que é amado; a fortaleza é o amor disponível
a todas as coisas com vistas ao objeto amado; a justiça é amor servindo
somente o objeto amado e, portanto, governando corretamente; a prudência é
o amor sábio escolhendo aquilo que favorece e rejeitando o contrário. O
objeto desse amor é nada, senão Deus, o bem supremo, a mais alta sabedoria,
a perfeita harmonia (De moribus ecclesiae catholicae et de moribus
Manichaeorum, I 15, 25, tradução nossa).

As virtudes gregas são assim reinterpretadas a partir da fé cristã. Por esse


motivo, as virtudes cardeais só possuirão valor moral enquanto baseadas na fé cristã e
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no amor. O amor é, então, a base de todas as virtudes em Agostinho e posteriormente


será entendido como caridade (caritas). Na verdade, o amor é para Agostinho, pode-se
dizer, a única virtude cardial.

É importante ressaltar, como deixa claro Lima, “que essa divisão do ser virtuoso
em quatro virtudes (temperança, força, justiça e prudência) não corresponde a quatro
tipos de amor, mas expressões de um mesmo amor” (LIMA, 2011, p. 37). Nota-se que
de “tão elevado que é o amor ele se confunde com a própria noção de virtude” (LIMA,
2011, p. 66). Pois somente o amor ordenado manifesta virtude, ou melhor, o amor
ordenado é a própria definição de virtude. Lima, vai afirmar ainda que, para Agostinho,
“o amor é o motor da vontade” (LIMA, 2011, p. 59). Portanto, como já elencado, a
noção de amor em Santo Agostinho é fundamental para seu conceito de virtude.

Na relação de amor em Agostinho, são necessários dois amores na dinâmica


ética, o amor ao próximo e o amo a Deus, mas para Agostinho, amar o próximo
significa amar a Deus:

Como devemos praticar o amor fraterno? Tu podes me replicar: - Não vejo a


Deus! Acaso poderás me dizer: - Não vejo aos homens? - Ama, pois, teu
irmão! Se amas o irmão que vês, pelo fato mesmo, verás a Deus, pois verás a
própria caridade e nela habita Deus (AGOSTINHO, 1986, p. 114).

Para Agostinho “[...] todas as pessoas com as quais um homem se encontra,


todas as pessoas com as quais um homem pode se unir são seus próximos”
(AGOSTINHO, 2013, p. 99) portanto a caridade fraterna se estende a todos, sem
distinções. Se o amor deve-se estender “a quem o homem encontra” então, ele é
universal. A partir daí é que Agostinho elabora, então, uma ética do amor universal.

O amor, desta maneira, é visto como essa ética universal, promotor da virtude e
capaz de orientar o homem em todos os aspectos necessários, conforme Lima deixa
claro:

Seria necessário harmonizar as quatro virtudes morais (justiça, fortaleza,


temperança e prudência) ao amor para que enfim surgisse a caridade. A
caridade se junta ao grupo das virtudes teologais, mais elevadas, capazes de
orientar o homem em todos os aspectos de sua vida (LIMA, 2011, p. 60).

Dito isso é importante compreender a ordenação do amor na obra do autor.


Pode-se definir o amor como um movimento, uma inclinação ou uma tendência para
certo bem: “O que é o amor ou a caridade, tão louvada e exaltada pela Escritura, senão o
amor do Bem?” (AGOSTINHO, 2018, p. 172)2. Nesse sentido, como há muitos bens,
2
A Trindade. Col. Patrística, 7, 1º Ed. São Paulo: Paulus, 2018.
13

podem haver muitos amores, mas é só o amor ordenado que manifesta a virtude “A
virtude é a ordem do amor” (AGOSTINHO, 1996, p. 1399). A partir daí, Agostinho
cunha os termos “utilizar” e “fluir”, que denotam a disposição adequada do amor:

Entre as coisas, há algumas para serem fruídas, outras para serem utilizadas e
outras ainda para os homens fruí-las e utilizá-las. As que são objetos de
fruição fazem-nos felizes. As de utilização ajudam-nos a tender à felicidade e
servem de apoio para chegarmos às que nos tornam felizes e nos permitem
aderir melhor a elas (AGOSTINHO, 2002, p. 34).

Um bom exemplo da aplicação desses termos está na analogia do peregrino


presenta na Doutrina Cristã:

Suponhamos que somos peregrinos, que não podemos viver felizes a não ser
em nossa pátria. Sentindo-nos miseráveis na peregrinação, suspiramos para
que o infortúnio termine e possamos enfim voltar à pátria. Para isso, seriam
necessários meios de condução, terrestre ou marítimo. Usando deles
poderíamos chegar a casa, lá onde haveríamos de gozar. Contudo, se a
amenidade do caminho, o passeio e a condução nos deleitam, a ponto de nos
entregarmos à fruição dessas coisas que deveríamos apenas utilizar,
acontecerá que não quereríamos terminar logo a viagem. Envolvidos em
enganosa suavidade, estaríamos alienados da pátria, cuja doçura unicamente
nos faria felizes de verdade (AGOSTINHO, 2002, p. 34-35).

A verdadeira vida feliz só é possível quando usamos dos bens temporais para
alcançar as realidades eternas, até mesmo no que se refere aos homens, o amor
recíproco também deve obedecer a esse critério. Assim, a ordenação do amor em
Agostinho está expressa pela regra de ouro, não amar o que não deve ser amado e não
deixar de amar o que deve ser amado:

Vive santa e justamente quem é perfeito avaliador das coisas. E quem as


estima exatamente mantém o amor ordenado. Dessa maneira, não ama o que
não é digno de amor, nem deixa de amar o que merece ser amado. Nem dá
primazia no amor àquilo que deve ser menos amado, nem ama com igual
intensidade o que se deve amar menos ou mais, nem ama menos ou mais o
que convém amar de forma idêntica (AGOSTINHO, 2002, p. 46).

Entretanto, o pecado acabou por torna-se um empecilho para a boa utilização


desses bens “de acordo com Agostinho a partir do pecado original o homem perde a sua
liberdade de viver bem e na justiça” (GUEDES, 2019, p. 35), a partir dessa perca da
liberdade o homem perde a capacidade de “utilizar” e “fluir” e na luta para vencer a
concupiscência do pecado “Agostinho diz que devemos estar debaixo da graça que
concedo o amor ao que a lei prescreve e não da lei que somente prescreve o bem, mas
não o concede” (GUEDES, 2019, p. 36), portanto:

O amor é instrumento recorrente na filosofia de Santo Agostinho, aparecendo


sempre e de diversas maneiras, e sendo sempre regido pela regra de ouro,
nessa dinâmica o amor é o que possibilita ao homem vencer o mal do pecado
original através do amor a Lei, a Lei prescreve o bem que deve ser feito:
14

“Portanto, tudo aquilo que quereis que os homens vos façam de bem, fazei-o
vós a eles, porque, isto é, a Lei e os Profetas (Mt. 7,2)”. Essa Lei torna-se
máxima moral regida pela ordenação do amor que une o homem a Deus e tal
amor só pode ser atingido após o pecado original, pela graça concedida pelo
próprio Deus.
Pode-se dizer que apesar de concupiscência ainda permanecer depois do
recebimento da graça, tal graça concede que pouco a pouco a natureza seja
regenerada até a regeneração final que é a ressurreição (GUEDES, 2019, p.
36).

O amor é o que de mais perfeito podemos tirar do ser humano “A ciência e o


conhecimento podem ser de grande importância, mas como tais não podem tornar uma
pessoa boa. Somente o amor é capaz de fazê-lo” (STREFLING, 2015 p.76).

Ainda sobre a questão da virtude na ética de Agostinho deve-se relembrar o que


Lima diz:

Seria necessário harmonizar as quatro virtudes morais (justiça, fortaleza,


temperança e prudência) ao amor para que enfim surgisse a caridade. A
caridade se junta ao grupo das virtudes teologais, mais elevadas, capazes de
orientar o homem em todos os aspectos de sua vida. Fé, esperança e amor
constituem o apoio que encerra a vida humana no maior grau de perfeição
que pode ser conquistado nessa vida mortal (LIMA, 2011, p. 60).

Isso porque é importante que esteja claro no texto que é a partir do amor que as
virtudes se elevam e seguem de encontro as virtudes teologais, que conduziram o
homem ao mais alto grau de perfeição possível na vida terrestre.

De acordo com alguns comentadores de Agostinho:

A partir do momento que o homem passa a amar verdadeiramente a Deus e


como Ele ama, com gratuidade e fazendo o bem aos outros, sua vida será
guiada corretamente aos verdadeiros caminhos, por isso, o ser e agir
iluminados pela vontade do amor divino garante que a liberdade de ação seja
justa, logo, ética. É o amor que conduz o homem a agir de forma coerente
segundo a vontade de Deus e o desvia de agir somente por prazeres
inconstantes (ROCHA; CARVALHO, 2016, p. 29).

Destarte, se entende que, o amor na reflexão ética de Agostinho possui primazia,


por isso ele diz: “ama e faz o que querer”, pois no amor tem-se o alcance da virtude de
tal modo que o homem se torna bom nos seus atos, portanto, se amas faz o que queres
porque todas as suas ações, no amor, serão boas. A primazia do amor é entendida ainda,
além desse seu papel central na ética, pelo fato de que à medida que fé e esperança
desaparecerão, com a beatitude, o amor permanecerá “Ora, à fé sucederá a clara visão
que teremos na vida futura. À esperança sucederá a posse da própria beatitude à qual
haveremos de chegar. Quanto à caridade, crescerá sempre, ainda depois que
desapareçam as duas primeiras virtudes[...]” (AGOSTINHO, 2002, p. 53).
15

O amor na obra de Santo Agostinho não só caracteriza as pessoas em particular,


mas também toda a história da humanidade, duas classes opostas de amor, um amor
voltado para Deus e um amor voltado para si mesmo, um amor submetido a Deus e
voltado para o próximo, e outro amor que busca seu interesse privado e que trata de
domina arrogantemente, são os amores que constituem as duas cidades, a dos homens e
a de Deus, “dois amores fizeram as duas cidades: o amor de si até ao desprezo de Deus
—a terrestre; o amor de Deus até ao desprezo de si —a celeste” (AGOSTINHO, 1996,
p. 1319) pode-se entender essas cidades como duas dimensões do comportamento
humano voltadas cada uma a uma forma de amor em Agostinho.

É importante ressaltar, no entanto, que esse dualismo na constituição das duas


cidades em Agostinho é apenas conceitual, pois o ideal é a união entre essas duas
cidades:

Dessa forma, a cidade celeste, como todos os outros povos, vive no temporal,
na cidade terrestre, pois existem bens temporais necessários à vida.
Entretanto, mesmo estando no tempo, vivem pelo amor a Deus e pela busca
da beatitude. Assim sendo, não havia uma razão para um desacordo entre
ambas as cidades, visto a possibilidade da compatibilidade entre a virtude
civil e a virtude cristã (PIRATELI, 2002, p.92).

Portanto o amor na obra de Agostinho é o responsável por harmonizar toda a


história da humanidade, tudo diz respeito ao amor, os bens dizem respeito ao amor
ordenado e os males ao amor desordenado, sendo assim a ética é esse movimento
incessante de buscar ordenar o amor do homem ao amor de Deus para que surjam as
virtudes que serão responsáveis pelo bem agir e pelo bem viver de cada pessoa.

Ao falar de São Tomás, é importante comentar que sua obra é a tentativa mais
bem sucedida de união entre a razão grega e a fé cristã, nesse sentido seu programa
ético redige e atualiza aquilo que está presente no famoso tratado de ética aristotélico
“Ética a Nicômaco”.

Considerando que para Aristóteles todos os atos visam algum bem, e bem é
também aquilo a que todas as coisas visam a ética aristotélica é uma ética da finalidade
e essa finalidade é o bem, mas não qualquer bem e sim a felicidade. Sendo assim a ética
de Aristóteles é uma ética da felicidade, Tomás bebeu desta fonte ao elaborar sua ética,
bem como concorda com o conceito aristotélico de virtude, hábito voluntário que
conduz o ser humano ao bem3. Ainda nesse sentido, virtude tanto para Aristóteles como
3
Lembrando que para Tomás há dois tipos de virtude, a perfeita e a imperfeita: sendo a imperfeita quando
aparece como uma simples inclinação, algo que faça o indivíduo agir bem, virtuosamente, fruto de uma
16

para Tomás corresponde ao meio termo determinado pela razão, a ‘justa medida’ que
nada mais é que o ponto de equilíbrio que determinado individuo atinge ao agir, não
pecando pela falta, nem pelo excesso.

Por isso, o Filósofo define o hábito como uma disposição que nos torna bem
ou mal dispostos; e diz mais que pelos hábitos é que nos havemos bem ou
mal, relativamente às paixões. Assim, pois, o modo conveniente à natureza
de uma coisa é por essência bom; e mau por essência o que não lhe convém.
E como a natureza é primeiramente considerada, nas coisas, o hábito é tido
como a primeira espécie de qualidade (AQUINO, Tomás de. Suma
Teológica. Iª seção IIª parte q. 49, a.2.).

Nesse sentido, a virtude age de modo conveniente a natureza, buscando


aperfeiçoar os atos humanos em direção a essa natureza.

Conforme a perspectiva de Tomás de Aquino, as virtudes aperfeiçoam o ser


humano, a fim de que este siga devidamente suas inclinações naturais,
concluindo-se que todo homem tende naturalmente à felicidade; por criação,
está indelevelmente inscrito em seu coração o desejo de ser feliz, o que
implica em uma vida virtuosa (CRUZ, 2017).

Consequentemente, para Tomás a felicidade só é possível mediante a vida


virtuosa e essa vida virtuosa só é possível de dois modos, ou pela repetição dos atos
(hábito) ou pela infusão da Graça divina:

De fato, é evidente que aquelas virtudes que são próprias do homem,


enquanto é partícipe desta cidade, não podem ser adquiridas por ele,
mediante as suas capacidades naturais. Por isso não são causadas por nossos
atos, mas são infundidas em nós, por um dom divino. No entanto, as virtudes
que são próprias do homem enquanto é homem, ou enquanto é partícipe da
cidade terrena, não excedem à faculdade da natureza humana. Por isso, o
homem pode adquiri-las por suas capacidades naturais, a partir dos próprios
atos, o que é evidente desta maneira (AQUINO, Tomás de. 2012, p. 105).

Tomás classifica as virtudes como hábitos bons que tornam o homem bom,
dando condições de fazer o melhor uso possível da liberdade com o intuito de colocar
em ordem harmoniosa as paixões no caminho das bem-aventuranças. As virtudes que
ultrapassam o domínio humano e são infundidas pela Graça divina dá-se o nome de
Virtudes Teologais e as virtudes adquiridas pelo hábito são divididas em Morais, que
dizem respeito a parte apetitiva da alma, ou vontade, e Intelectuais que dizem respeito
ao intelecto, ou a razão. Sendo assim, enquanto as virtudes intelectuais aperfeiçoam o
intelecto especulativo e prático, as virtudes morais aperfeiçoam a potência apetitiva.

A divisão das virtudes de Tomás se dá pois, segundo ele:

inclinação ou costume. Já a virtude será perfeita a partir do momento em que for realizada segundo um
hábito, um hábito que faz com que a ação se dirija sempre no sentido de efetivar boas obra.
Essa distinção é importante, pois a adição do conceito de virtude imperfeita é adição da reflexão Tomista
sobre a ideia de virtude.
17

Para agir bem, é necessário que não só a razão esteja bem disposta pelo
hábito da virtude intelectual, mas que a potência apetitiva também o esteja
pelo hábito da virtude moral. Tal como o apetite se distingue da razão, assim
também a virtude moral se distingue da intelectual. E como o apetite é
princípio dos atos humanos enquanto participa, de algum modo, da razão,
assim o hábito moral tem a razão de virtude humana, na medida em que se
conforma com a razão (AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Iª seção IIª
parte, q. 58, a.2.).

Além disso, como dito anteriormente, há uma classe de virtudes que não pode
ser obtida pelo hábito, mas somente pela infusão da graça divina. Portanto a divisão das
virtudes se dá entre as que são infusas, as que estão em conformidade com o apetite e as
que estão em conformidade com a razão.

Das virtudes em Tomás as que mais importam para a atual pesquisa são as
virtudes teologais, pois é dentre elas que se encontra a virtude da Caridade, objeto de
estudo e de comparação com a obra de Agostinho, pois a caridade em Tomás é
entendida, basicamente, nos mesmo termos que o amor em Agostinho. A caridade é, a
partir disso, a virtude mais perfeita, pois resume o próprio ideal cristão do amor sendo a
primeira, como veremos a seguir, das virtudes teologais, dado isso vem o objeto de
comparação entre os dois autores que compreendem a importância do amor/caridade na
constituição da virtude e da ética.

Desse modo, é preciso entender que, segundo Tomás, não basta ao homem
somente os princípios naturais pelos quais o homem consegue agir bem de acordo com
suas possibilidades, para ordená-lo a bem aventurança, pois, estes excedem a natureza
humana.

É necessário, pois, que lhes sejam acrescentados por Deus certos princípios
pelos quais ele se ordene a bem-aventurança sobrenatural, tal como está
ordenado ao fim que lhe é conatural por princípios naturais que, porém, não
excluem o auxílio divino. Ora, esses princípios se chamam virtudes teologais,
primeiro por terem Deus como objeto, no sentido que nos orientam retamente
para ele; depois por serem infundidos só por Deus; e, finalmente, porque
essas virtudes são transmitidas unicamente pela revelação divina, na sagrada
escritura. (AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Iª seção IIª parte, q. 62,
a.1.)

Vale Ressaltar que, Segundo Mcintyre (1984, p.311), apesar das diferenças
vistas na lista de virtudes referentes a Aristóteles e a São Tomás podem se perceber dois
pontos de convergência essenciais. O primeiro é que nas duas tradições a virtude possui
a mesma estrutura conceitual:

Virtude é, assim como para Aristóteles, uma qualidade cujo exercício leva a
conquista do telos humano. O bem para o homem é, naturalmente, um bem
18

sobrenatural, e não só um bem natural, mas o sobrenatural redime e completa


a natureza (MCINTYRE, 1984, p.311).

Já o segundo se dá na relação das virtudes como sendo um meio para um fim,


que é a entrada do homem no Reino dos céus, num futuro vindouro:

Além disso, a relação das virtudes como meios para o fim, que é a entrada do
homem no reino dos céus num futuro vindouro, e interna, e não externa,
exatamente como em Aristóteles MCINTYRE, 1984, p.311).

Dito isso, também é necessário entender que a diferença nas virtudes teologais,
segundo o autor, está no objeto que nas virtudes teologais é o próprio Deus, fim último
das coisas, enquanto que nas virtudes morais e intelectuais, o objeto é algo que a razão
humana pode compreender. Daí, as virtudes teologais ordenam o homem a bem
aventurança sobrenatural:

Primeiramente, no que diz respeito ao intelecto, são acrescentados ao homem


e apreendidos por iluminação divina alguns princípios sobrenaturais, que são
o conjunto do que se deve crer, o objeto da fé; em segundo lugar, a vontade
se ordena para o fim sobrenatural, seja pelo movimento de intenção que tende
parta esse fim, como para algo possível de se obter e isso é a esperança; seja
por uma união espiritual, pela qual a vontade é de certa forma transformada
nesse fim, o que se concretiza na caridade. (AQUINO, Tomás de. Suma
Teológica. Iª seção IIª parte, q. 62, a.3.).

No âmbito das virtudes morais e intelectuais Tomás vai explanar que essas
podem ser adquiridas pelo homem por meio dos seus próprios atos mediante a razão e a
vontade:

Das ações realizadas pelo homem, são propriamente humanas as que


pertencem ao homem enquanto homem. O homem se diferencia das criaturas
irracionais porque tem o domínio de seus atos. Por isso, somente são ditas
propriamente humanas aquelas ações sobre as quais o homem tem domínio.
Ora, o homem tem domínio de suas ações pela razão e pela vontade. Donde
será chamada de livre-arbítrio a “faculdade da vontade e da razão”. Assim
sendo, são propriamente ditas humanas as ações que procede
da vontade deliberada. Se outras ações, são próprias do homem, poderão ser
chamadas de ações do homem, mas não são propriamente ações humanas,
pois não são do homem enquanto homem (AQUINO, Tomás de. Suma
Teológica. Iª seção IIª parte, q. 1, a.1.).

Juvenal Savian Filho, deixa claro que na ética tomista não somente é necessária
a pratica contemplativa e o habito (virtude), mas esses só se concretizam na realidade
transcendente protagonizada pela virtude do amor:

Com efeito, a ética tomasiana não prevê que todo o dinamismo da felicidade
(eudaimonía) seja orientado para a atividade contemplativa do sábio, mas que
esse mesmo dinamismo, que se efetiva concretamente na prática das virtudes,
seja alimentado por uma relação não apenas de contemplação intelectual, mas
também de gozo afetivo, com a Realidade Transcendente da qual depende
tudo aquilo que existe [...] Nesse quadro, a virtude do amor (charitas) tem
papel central, e, para a realização do amor, cujo motor tem raízes profundas
19

na experiência concreta de cada indivíduo (éros), entrelaçam-se ou


intercausam-se a inteligência e a vontade, a capacidade intelectual e o
dinamismo afetivo (2008, p. 183).

Enquanto isso, ficou claro anteriormente, que as virtudes teologais “não são
causadas por nossos atos, mas são infundidas em nós, por um dom divino” (AQUINO,
Tomás de. 2012, p. 105). Depois disso também é preciso ter em mente que as virtudes
teologais possuem certa primazia sobre as morais e as intelectuais, pois seu objeto é o
próprio Deus que é o fim ultimo das coisas. E, entre essas, dá-se a caridade a primazia
enquanto virtude:

Daí resulta que a caridade é mais excelente que a fé e a esperança e, por


conseguinte, que todas as outras virtudes. Assim também a prudência, que
alcança a razão em si mesma, é também mais excelente que as outras virtudes
morais, as quais alcançam a razão na medida em que a prudência se constitui
como meio termo nas operações ou paixões humanas (AQUINO, Tomás de.
Suma Teológica. IIª seção IIª parte, q. 23, a.6.).

Segundo Benvinda (2017, p.110) “possui particular relevância a posição tomista


de que todas as virtudes dependam da caridade. Sua tese provem do posicionamento
fundamental da Tradição Bíblica que defende que entre as virtudes teologais a caridade
é a mais importante”, posto isso, Tomás ainda vai dizer que “as virtudes morais infusas
estão ligadas entre si, não só por causa da prudência. Mas também pela caridade e quem
perde a caridade pelo pecado mortal, perde todas as virtudes morais infusas”. (Aquino,
Tomás de. Suma Teológica. (Aquino, Tomás de. Suma Teológica. Iª seção IIª parte, q.
65, a.3.). Essa afirmação de Tomás leva a concluir que “a unidade e a conexão entre as
virtudes não é um feito exclusivo da racionalidade, mas é uma condição proporcionada
pelo ato de amor que é a caridade (BENVINDA, 2017, p.110). Isso porque:

Entre as virtudes teologais, será mais excelente aquela que mais alcançar a
Deus. Ora, a fé e a esperança alcançam Deus na medida em que recebemos
dele ou o conhecimento da verdade ou a posse do bem. Mas a caridade
alcança Deus para que nele permaneça e não para que dele recebamos algo
(AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. IIª seção IIª parte, q. 23, a.6.).

Em vista disso, Tomás conclui que as virtudes teologais, são mais excelentes que
as virtudes morais e intelectuais, e no tratado da caridade, Tomás ressalta a excelência
dessa virtude em relação às demais e considera também a virtude da Prudência como
excelência diante das virtudes morais:

Assim também a prudência, que alcança a razão em si mesma, é também


mais excelente que as outras virtudes morais, as quais alcançam a razão na
medida em que a prudência se constitui como meio termo nas operações ou
paixões humanas (AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. IIª seção IIª parte,
q. 23, a.6.).
20

Para que entendamos a influência da caridade sobre as demais virtudes e


entendamos em que consiste sua primazia é necessário que nos voltemos ao dom da
sabedoria, pois a sabedoria consiste na retidão de julgamento segundo as coisas divinas
que pode acontecer: ou segundo a reta razão ou segundo certa conaturalidade, julgar as
coisas segundo certa conaturalidade com as coisas divinas é próprio da sabedoria infusa,
dom do Espírito Santo, a raiz desta sabedoria é precisamente a caridade, pois por ela
unimo-nos a Deus pelo amor de tal forma que Ele passa a habitar em nós e nós nEle.
Deste amor sobrenatural que Deus suscita em nós e que nos une a Ele, surge este novo
modo de julgarmos todas as coisas:

Mas, julgar bem as coisas divinas por modo de conaturalidade pertence à


sabedoria enquanto é um dom do Espírito Santo. Dionísio, falando de
Hieroteo, diz que ele é perfeito no que se refere ao divino “não somente por
apreendê-lo, mas também por experimentá-lo”. Esta simpatia ou
conaturalidade com o divino nos é dada pela caridade que nos une a Deus,
segundo Paulo: “Aquele que se une a Deus é com ele um só espírito”. Assim,
portanto, a sabedoria que é um dom tem como causa a caridade que reside na
vontade; mas tem sua essência no intelecto, cujo ato consiste em julgar
retamente, como se viu anteriormente (AQUINO, Tomás de. Suma
Teológica. IIª seção IIª, q. 45, c.2).

Sendo a causa deste modo qualitativamente novo e superior de conhecer a Deus


é que a caridade consegue converter a nossa vontade, a fim de que está se fixe no nosso
fim último sobrenatural. Portanto, a caridade realiza a aspiração de toda a natureza, a
caridade faz o homem unir-se a Deus de maneira que ela não conseguiria por maios
naturais, a caridade une o amor natural do homem ao amor sobrenatural, que é ela
própria, e que ultrapassa os limites da natureza, porém ela não poderá se manter se não
ligada a vida da graça, como conclui Étienne Gilson:

Por conseguinte, o primeiro efeito da graça consiste na restauração deste


amor natural a Deus por sobre todas as coisas, que se encontrará doravante,
não certamente destruído, senão integrado no amor sobrenatural do homem a
Deus. A amizade sobrenatural fundada na participação da bem-aventurança
divina restitui ao homem em primeiro lugar a amizade natural que
primeiramente tinha com Deus. A partir deste momento toda a moral natural
ressuscita, com a ordem e a hierarquia das virtudes que a compõem. Porém,
não poderá durar fora das condições que a fizeram renascer; para o homem
em estado de natureza caída, somente a graça faz possível esta vontade
estável do bem que na natureza mesma só quer a vontade de Deus (GILSON.
1951. p. 490, tradução nossa).

A partir desse estudo sobre os dois autores, podem-se identificar alguns pontos
comuns entre a ética na obra de Santo Agostinho e na obra de São Tomás, como a ética
enquanto caminho que busca uma finalidade que nos dois se identifica como Deus, a
importância do conceito de vontade na constituição do sujeito ético, a divisão das
21

virtudes em intelectuais, morais e teologais, a necessidade da graça divina para a adição


das virtudes teologais e a primazia da caridade sobre as demais virtudes.

Por conseguinte, nota-se que apesar da distância temporal entre os dois e a


adição de novos autores, ideias e conceitos no pensamento de São Tomás ele bebeu
profundamente das ideias Agostinianas na formação de seu pensamento ético, sobretudo
no que tange a questão do amor e na divisão das virtudes teologais.

Depois, é importante ressaltar a distinção no que tange a palavra amor que é


visto como amor de caridade, tal mudança de palavras pode parecer supérflua, porém na
linguagem cristã faz total diferença, pois a caridade é entendida nas escrituras sagradas,
geralmente como o Amor, que está dirigido a bens superiores e não, a bens inferiores.
enquanto o amor a bens inferiores não é nada mais que cobiça nascida da
concupiscência. Como disse o Cardeal Sarah: "Amor não é o mesmo que caridade. O
termo 'amor' já existia antes de Cristo, mas Ele nos ensinou o ápice do amor, que é
precisamente a caridade, ou seja, entregar-se pelo outro"4, sobre isso vai dizer Reale:

Quando o amor do homem se volta para Deus (amando os homens e as coisas


em função de Deus), é charitas; quando, porém, volta-se para si mesmo, para
o mundo e para as coisas do mundo, é cupiditas. Amar a si mesmo e aos
homens não segundo o juízo dos homens, mas segundo o juízo de Deus,
significa amar do modo justo (2003, p. 100).

Portanto, a ética, nesses autores, nada mais é que uma ética do amor de caridade.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitos outros aspectos da ética dos dois autores poderiam ser abordados nessa
pesquisa científica, mas nela buscou-se abordar os conceitos chaves na ética de
Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, sabe-se que há uma imensidão de escritos,
conceitos e ideias dos dois autores em seus tratados de ética, portanto seria inviável para
este artigo apresenta-los de maneira adequada, por esse motivo escolheu-se delimitar a
pesquisa através de alguns conceitos chave retirados das obras dos dois. Delimitando
conceitos chaves dentro da obra dos dois filósofos foi possível se aprofundar nesses
conceitos e tentar compreende-los a luz de comentários posteriores e de profunda
reflexão filosófica. Os conceitos chaves identificados se deram pela pesquisa direta na
obra dos autores, onde as ideias de virtude e de amor receberam destaque, pois se

4
cardeal Robert Sarah, no dia 21 de janeiro de 2014, em uma conferência dada em Barcelona (Espanha).
22

mostraram presentes e essenciais na obra dos dois acerca da moralidade. Para uma
compreensão mais profunda das ideias de cada um o leitor pode buscar o estudo dos
diversos textos apresentados na bibliografia sobretudo os textos dos próprios autores.

Apesar de parecer ultrapassado buscar autores tão distantes temporalmente, na


realidade seu estudo ainda tem muito a acrescentar na atualidade tanto Agostinho
quanto Tomás tiveram contribuições impares no âmbito da ética, levando a moralidade
cristã a outro nível, eles foram de tão grande expressão que se encontram no seleto
grupo chamado de Doutores da Igreja5, tamanha a sua importância. Entender esses dois
autores e entender a história do cristianismo e da cristandade.

Doravante, podemos perceber pontos de convergência e de divergência entre os


dois autores, portanto se vê a importância de tal pesquisa em elucidar e esclarecer
questões chaves para a compressão delas e de suas obras. Sua contribuição é importante
não só para a filosofia, mas também para o cristianismo, ambos têm a ganhar com isso
podendo estudar e entender melhor os dois autores. Há também a contribuição dada a
todos aqueles que estudam esses autores e suas obras, seja ela profissional, acadêmica
ou pessoal, permitindo aprofundar-se e conhecer mais da história da filosofia, da ética e
do cristianismo no ocidente.

Tanto Agostinho quanto Tomás acreditam na ética enquanto busca de uma


finalidade, que é um bem e que é na verdade a vida feliz e que para os dois se identifica
com Deus, ou a beatitude6, os dois também concordam que a busca dessa felicidade se
dá por meio da virtude, ao viver uma vida virtuosa se encontra então uma vida feliz,
para Agostinho isso se dá porque a virtude é a forma mais perfeita de amor a Deus, já
para Tomás isso se dás pois para ele a vida virtuosa é a vida feliz, mas não
necessariamente pela virtude ser a forma mais perfeita de amor e sim porque a infusão
da graça divina, necessária ao alcance da virtude, aperfeiçoa o homem e o faz viver
nesse amor mais perfeito, portanto a vida virtuosa seria a maneira de alcançar o amor,

5
Os Doutores da Igreja são aqueles que deram uma grande contribuição para a Igreja deixando
profundos ensinamentos teológicos e de testemunho de vida, que o magistério da igreja absorveu e
tomou como ensinamento para todos os fiéis leigos e religiosos. Podemos dizer que estes homens e
mulheres são verdadeiros “gigantes”, pois foram personagens que viveram uma vida intensa de oração
(muitos deles com inúmeras experiências místicas), de penitência, de profundo estudo da sagrada
escritura e do saber teológico, e por seus escritos pelos quais eles confirmam a doutrina cristã e que
impactaram para sempre a história da igreja. Fonte: https://www.diocesesa.org.br/2020/10/doutores-
da-igreja-qual-e-processo-para-se-reconhecer-um-santo-doutor-da-igreja-catolica-apostolica-romana/
6
felicidade profunda de quem desfruta a presença de Deus, e que só poderá ser atingida em sua plenitude
na vida eterna.
23

portanto através da virtude se alcança a Deus e também se permanece nele, enquanto em


Agostinho virtude e amor parecem confundir-se, porém é interessante notar que apesar
dessa pequena diferença no papel do amor em relação as virtudes os dois concordam
que ele é necessário ao alcance das mesma e também que é fruto de um dom divino que
não pode ser alcançado por meio naturais, mas somente pela graça.

Em suma, no seu intuito de se aprofundar e elucidar os elementos chaves do


pensamento ético de São Tomás e Santo Agostinho e buscar os pontos de convergência
dos mesmos, pode-se dizer que essa pesquisa foi satisfatória, ela permitiu compreender
o que é a ética para os dois autores e qual o papel do amor na consolidação dessa ética,
além disso se deram alguns pontos de convergência entre os dois sistemas de
pensamento. Numa futura evolução dessa pesquisa poder-se-ia buscar entender as
possíveis diferenças no conceito de amor dos dois filósofos e sua ideia de vontade e
desejo e qual a atuação desses na ação do sujeito e no sustento da vida virtuosa, porém
não é esse o intuito do atual trabalho, podendo-se dar por concluída a pesquisa nesse
momento, encontrando como resultado dos pontos de convergência entre os dois autores
a visão da ética enquanto caminho que busca uma finalidade que nos dois se identifica
como Deus, a importância do conceito de vontade na constituição do sujeito ético, a
divisão das virtudes em intelectuais, morais e teologais, a necessidade da graça divina
para a adição das virtudes teologais e a primazia da caridade sobre as demais virtudes.
Além disso, notou-se através desse texto a ampla influência de Agostinho sobre Tomás,
seja na ideia de vontade, de amor/caridade, de virtudes teologais etc. A partir disso,
conclui-se que a ética tomista de fato atualiza a ética agostiniana, pois toma seus
elementos e acrescenta a eles novas ideias, sobretudo provenientes das obras
Aristotélicas, portanto Tomás acrescenta suas próprias ideias e distinções ele elabora,
também, suas próprias questões sempre respeitando os elementos tomados da ética do
amor de Agostinho. A partir daí, Tomás elabora mais do que uma ética das virtudes,
como a aristotélica, mas uma ética do amor de caridade.
24

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

8.1 FONTES PRIMÁRIAS

 CONGREGATIO PRO CLERICIS. Bíblia Sacra Nova Vulgata. Roma: Libreria


Editrice Vaticana, 2002. Versão eletrônica disponível em:
<http://www.clerus.org/bibliaclerus/index_por.html> Acessado em: 17 de abril de 2019.

S. Aurelii Augustini Opera Omnia: Patrologiae Latinae Elenchus. Disponível em:


<http://www.augustinus.it/latino/index.htm.> Acessado em: 17 de abril de 2019.

AGOSTINHO, Santo. A cidade de Deus (Vol. I). 2º Ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian,
1996.

_______. De moribus ecclesiae catholicae et de moribus Manichaeorum. Disponível


em: http://www.augustinus.it/latino/costumi/index2.htm.

_______. A Cidade de Deus (Vol. II). 4ª Edição. Lisboa: Fundação Calouste


Gulbenkian, 2011.

_______. A Cidade de Deus (Vol. III). 4ª Edição. Lisboa: Fundação Calouste


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