Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sendo assim, se a alma do homem prevalece sobre seu próprio corpo, podemos
chegar à conclusão de que para Agostinho, assim como a mentira que parte da
alma, a busca pela verdade deve partir exclusivamente do interior de nós mesmos,
esse “interior” relaciona-se claramente com a definição de alma, proposta por
Sciacca no trecho anteriormente abordado.
Se considerarmos Deus como a base de todo conhecimento e toda
sabedoria, e levarmos em conta que a relação entre fé e razão é bastante presente
nas teses de Agostinho, podemos também associar claramente a aproximação com
Deus e a busca pela verdade. Tendo em vista que, para Santo Agostinho, a verdade
suprema incide de Deus, dessa forma a busca pela verdade, como já foi dito, deve
partir do interior e não do exterior. Como é defendido na obra de G. Reale e D.
Antiseri:
Para Agostinho a Verdade suprema coincide com Deus: para
alcançar Deus e encontrar, portanto, a Verdade, não devemos nos
dirigir para o exterior, mas devemos encontrar de novo em nós
mesmos, e procurar em nossa interioridade: aí habita a Verdade, em
nossa alma, que é um reflexo e uma imagem de Deus, a própria luz
da razão.
(ANTISERI; REALE, 2005, p.106)
Esse trecho nos mostra como o bispo de Hipona vai defender o seu humano
como um ser de desejo, que esta à procura de algo, de uma meta, sendo um ser
inquieto que vai passando por várias etapas em sua vida ate atingir o fim almejado.
Mas qual é esse fim? Segundo Agostinho, esse objetivo nada mais é do eu a vida
plenamente feliz, sendo que essa felicidade só seria possível através do contato
com Deus e a verdade.
Dessa forma, Agostinho entende, como vemos no diálogo De beata vita, que
todo ser humano tem um desejo natural de ser feliz. Por meio de uma metáfora, ele
ilustra que a vida é como se fosse um grande oceano, no qual existem vários tipos
de navegadores. A terra firme é a pátria da bem-aventurança, a vida feliz, e o porto,
a filosofia que dá acesso a ela. Alguns navegadores se afastam menos da terra
firme e, portanto, tem mais facilidade para retornar, pois não esqueceram o caminho.
Outros se distanciam muito e acabam se perdendo no meio das tempestades, visto
que não se lembram do caminho do retorno. Eles querem voltar, mas não
conseguem por si mesmos (GRACIOSO, 2002, p.14). Através dessa perspectiva,
podemos perceber a necessidade interna de Agostinho na elaboração de um manual
de conduta, em que, através de suas interpretações das escrituras, ele iria
demonstrar aos seus seguidores como não desvirtuar do caminho justo e, aos que
haviam desviados, iluminar os meios para qual eles pudessem alcançar a
transcendência divina e a vida eterna. Ao direcionar sua existência dessa maneira,
isto é, para a boa conduta moral, o homem adquire a virtude que é necessária para
assumir uma vida feliz e justa, a qual Agostinho identifica como a proximidade com
Deus. Daí a sua necessidade interna em definir os conceitos para mentira e na
busca da verdade como uma forma de guiar aqueles aos caminhos da salvação.
Em linhas gerais, os pensamentos de Santo Agostinho exposto em De
Mendacio contribuiu não apenas para a formulação das regras que regeria a Ordem
de Santo Agostinho, Ordo Sancti Augustin, até os dias atuais, mas também contribui
para toda a posteridade, vigorando desde os sermões em paróquias e igrejas
durante o período medieval até o desenvolvimento e formação de pesquisas
cientificas atuais, como Cunha escreve em seu artigo:
A influência do pensamento agostiniano sobre seu próprio tempo
expandiu-se para muito além dele.
(CUNHA, 2012, p.416)