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INTRODUÇÃO AO DIREITO

MATERIAL DE APOIO
10ª CLASSE

Dr Joaquim Jerónimo
Dr António Chivela
Colaboração
Dra Leopoldina Pinheiro

BENGUELA, 2021
INDICE
EPIGRAFE ................................................................................................................................. 1

INDICE ....................................................................................................................................... 2

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 5

I. TEMA: O HOMEM, A SOCIEDADE E O DIREITO ....................................................... 6

1.1. A Problemática da ordem social ...................................................................................... 6

1.2. Natureza social do homem .............................................................................................. 6

1.2.1. Teoria naturalista da sociedade .................................................................................... 6

1.2.2. Teoria contratualista da sociedade ............................................................................... 6

1.3. Carácter societário do Direito .......................................................................................... 6

1.4. A necessidade da existência do Direito ............................................................................... 7

1.5. As diversas ordens sociais normativas ................................................................................ 7

1.5.1. Relação da ordem jurídica com as outras ordens sociais normativas ............................... 8

1.6. Direito como realidade cultural ........................................................................................... 8

1.6.1. Direito e os fins sociais..................................................................................................... 9

1.6.2. Direito e os interesses sociais ........................................................................................... 9

1.7. Diversas acepções do termo Direito .................................................................................... 9

1.8. Os Valores Fundamentais do Direito................................................................................. 10

1.9. As Instituições Jurídicas .................................................................................................... 11

PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO ........................................................................................... 11

II. TEMA: O ESTADO, A SOCIEDADE POLITICAMENTE ORGANIZADA ................... 12

2.1. Noção de Estado ................................................................................................................ 12

2.1.1. Elementos do Estado ...................................................................................................... 12

2.2. Poderes e Funções do Estado............................................................................................. 12

2.2.1. Órgãos de Soberania ....................................................................................................... 12

2.3. Estado de Direito ao Estado Social de Direito .................................................................. 13

2.4. Direito Internacional .......................................................................................................... 13

2
2.4.1. Direito Internacional Público ......................................................................................... 13

2.4.2. Direito Internacional Privado ......................................................................................... 14

2.5. Conceito de norma jurídica ............................................................................................... 14

2.5.1. Estrutura da norma jurídica ............................................................................................ 14

2.5.2. Características da Norma Jurídica .................................................................................. 15

PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO ........................................................................................... 15

III. TEMA: FONTES DO DIREITO ................................................................................... 16

3.1. Conceito de Fontes do Direito ........................................................................................... 16

3.1.1. Classificação das fontes do Direito ................................................................................ 16

3.2. Noção de Lei ...................................................................................................................... 17

3.2.1. Diferentes Sentidos de Lei .............................................................................................. 17

3.2.2. Processo de Formação da Lei ......................................................................................... 18

3.2.3. Hierarquia da Lei ............................................................................................................ 19

3.2.4. Interpretação da Lei ........................................................................................................ 19

3.3. Integração de lacunas......................................................................................................... 20

3.4. Aplicação da Lei no tempo ................................................................................................ 20

3.5. Aplicação da Lei no Espaço .............................................................................................. 20

3.6. Cessação da vigência das Leis ........................................................................................... 20

3.7. Costume. Noção, elementos .............................................................................................. 21

3.7.1. Tipos de Costume ........................................................................................................... 21

3.8. Jurisprudência .................................................................................................................... 22

3.9. Doutrina ............................................................................................................................. 22

IV. TEMA: MEIOS DE CONTROLO DA LEGALIDADE .................................................... 22

4.1. Conceito de Constituição ................................................................................................... 22

4.2. Inconstitucionalidade ......................................................................................................... 22

4.3. Os Tribunais. Noção e Competência ............................................................................. 23

4.3.1. Acesso ao Direito e aos Tribunais ............................................................................. 23

3
4.4. Custas Jurídicas ou Judiciais ......................................................................................... 23

PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO ........................................................................................... 24

V. TEMA: A PESSOA, FUNDAMENTO E FIM DA ORDEM JURÍDICA ........................ 25

5.1. Personalidade jurídica.................................................................................................... 25

5.2. Conceito de Incapacidade .............................................................................................. 26

5.3. Direitos fundamentais dos cidadãos .................................................................................. 26

5.3.1. Direitos, Liberdades e Garantias .................................................................................... 27

5.4. Direito Positivo e Direito Natural ...................................................................................... 27

5.5. Direito Público e Direito Privado ...................................................................................... 27

5.6. Classificação dos diversos ramos do Direito ..................................................................... 27

VI. TEMA: A RELAÇÃO JURÍDICA ................................................................................ 28

6.1. Noção de relação jurídica .................................................................................................. 28

6.2. Estrutura da Relação Jurídica ............................................................................................ 29

6.3. Elementos da relação jurídica ............................................................................................ 29

6.3.1. Sujeitos ........................................................................................................................... 29

6.3.2. Objecto da relação jurídica ............................................................................................. 29

6.3.3. Facto Jurídico ................................................................................................................. 30

6.3.4. Garantia .......................................................................................................................... 30

VII. TEMA: CONDUTA ILÍCITA E CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE .......... 31

7.1. Conceito de ilícito.............................................................................................................. 31

7.2. Responsabilidade Civil ...................................................................................................... 31

7.3. Causas de exclusão da Ilicitude ......................................................................................... 32

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 33

4
INTRODUÇÃO

Este é a primeira versão do material que se propõe a ser apenas mais um instrumento
de auxílio aos estudantes da 10ª classe, já que é o primeiro contacto com a disciplina Introdução
ao Direito. O desejo dos autores é de que a introdução seja suave, esse é o seu contributo, para
que seja com menos traumas possíveis.
A elaboração deste material também responde a pedidos, reiterados, de vários
estudantes e já algum tempo.
Apesar de existirem vários materiais para classe, na tarefa espinhosa, no fronte com
os estudante resultava claro sobre a necessidade de preenchimento de uma vazio, a necessidade
de um material com linguagem técnica, mas simples, líquida e acessível. Um material com uma
sistemática próxima aos programas que são ministrados nas aulas.
O conteúdo resulta de uma revisão bibliografia de autores consagrados nacionais e
internacionais, de fácil consulta.
Como qualquer coisa que resulte do labor do homem, por ser falho, a sua obra
resultará deficitária nalgum aspecto.
É entendimento dos autores que este trabalho contém falhas, ainda assim entendem
trazer alguma contribuição no que se propõem.
O Autores
Professor Joaquim Jerónimo.

……………………………………
Professor Antonio Chivela

………………………………
Professora Leopoldina Pinheiro

…………………………………..

5
I. TEMA: O HOMEM, A SOCIEDADE E O DIREITO

1.1. A Problemática da ordem social


Qualquer comunidade necessita de uma ordem ou regra de convivência entre os
seus membros. Existem nas sociedades actuais diferentes ordens normativas que regulam a vida
social do homem. As diferentes ordens normativas constituem o fundamento, a essência da
existência e funcionamento da vida em sociedade.

1.2. Natureza social do homem


Desde os tempos mais remotos o homem sempre viveu em comunidade, como:
Tribo, Família, Clã e Cidade (Polis). Na Grécia antiga por exemplo, o homem tomou
consciência nítida de que a sua vida social lhe atribuía uma natureza privilegiada em relação a
vida errante. De facto, o homem desenvolve toda sua vida em sociedade. Por esta via é que
diversos autores tentaram explicar a razão de ser da vida em sociedade.

AS DUAS TEORIAS:

1.2.1. Teoria naturalista da sociedade


Autores como Aristóteles, Cícero, S. Tomas de Aquino, Sto. Agostinho,
argumentaram que a origem da sociedade encontra o seu fundamento na natural sociabilidade
entre os homens. Ou seja, o homem como um ser social, há nele uma tendência natural pra
conviver com os outros, para satisfação das suas necessidades1.

1.2.2. Teoria contratualista da sociedade


Esta teoria foi defendida por Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques
Rousseau. Ao contrário dos autores anteriormente referidos na primeira teoria, estes defendem
que a vida do homem em sociedade não é natural, pois resulta de um acordo de vontades, o
chamado contrato social entre os homens. Tendo assim transitado do estado de natureza (status
naturalis) para o estado de sociedade (status civilis).

Portanto, o homem através do contrato social alienou muitos das suas prerrogativas,
seus direitos e liberdades individuais a um ente regulador da sociedade (Estado) dotado de uma
vontade própria e geral.

1.3. Carácter societário do Direito


A sociedade é indispensável a vida do Homem, pois ele é incapaz de sobreviver
sem estar em colaboração com os outros homens, dai que necessita de viver em sociedade para
satisfação das suas necessidades. Por isso desde antiguidade se afirma que onde estiver o
Homem existirá sociedade (Ubi homo, ibi societas).2

1
Fisiológica, de segurança, etc. ver…pg

2
Cf. Manual de Introdução ao Direito 10 classe, porto editora, pág. 32.

6
Porém, para que a convivência humana seja possível em sociedade, é necessário
que se defina uma ordem, ou seja, um conjunto de regras e padrões que orientam o
comportamento do homem, estabelecendo assim, regras de organização dessa sociedade. Desta
feita, essa ordem jurídica chama-se Direito, por isso o brocardo latino transcrito anteriormente
conduz uma segunda parte, que é onde houver sociedade há Direito (Ubi societas, ibi ius)

1.4. A necessidade da existência do Direito


A subsistência da vida humana em sociedade depende da existência de regras que
garantam a ordem e a convivência pacífica entre os Homens. São essas regras ou normas, que
por um lado conferem direitos e por outro garantem ou asseguram que os valores fundamentais
serão respeitados.

Assim, a necessidade da existência de normas sociais, que regulem o


comportamento do homem em sociedade, baseia-se na liberdade e na sociabilidade. Dai que a
conduta social do homem deve respeitar as regras constituídas na sociedade.

1.5. As diversas ordens sociais normativas


Como vimos, a convivência em sociedade só é possível se existir um conjunto de
princípios ou regras que pautem as condutas humanas, que visam conservar, manter a ordem, a
paz, a segurança e a justiça. Desta forma diminui os conflitos de interesses que surgem nas
relações sociais.

Todavia, ao contrário da ordem natural, a ordem social é constituída por uma tela
complexa de regras proveniente de ordens normativas. Várias são as ordens normativas que
regulam a vida do homem em sociedade, das quais se destacam pela sua importância as
seguintes: Ordem Moral, Ordem Religiosa, Ordem de Trato Social e Ordem Jurídica.

a) Ordem Moral: são impostas ao Homem pela sua própria compreensão, de tal modo que
o seu incumprimento é sancionado pela reprovação emanada da sua própria consciência.
Por exemplo: o remorso, o arrependimento, etc.

b) Ordem Religiosa: Esta ordem tem a função de regular as condutas humanas em relação a
Deus. O não cumprimento das normas religiosas leva a punições extraterrenas. Exemplo:
Deus não te proteger no seu dia-a-dia, ou castigos depois da morte. Não poder estar no
seu.

c) Ordem de Trato Social: Destinam-se a permitir a convivência mais agradável entre as


pessoas. O seu incumprimento não põe em causa a subsistência da sociedade, apenas fica
sujeito a reprovação social. São exemplos deste tipo de norma as regras de etiquetas e de
boas maneiras.

d) Ordem Jurídica: É constituída pelo conjunto de normas jurídicas que regulam a vida do
homem em sociedade tornando-a possível. Provem de uma autoridade com competência
legislativa, com objectivo de atingir os valores da justiça e segurança

7
Contudo, ao contrário das outras ordens normativas, a ordem jurídica serve-se de
coação como meio de impor e garantir o cumprimento das normas jurídicas. É a única que se
serve de um órgão para aplica-la.

1.5.1. Relação da ordem jurídica com as outras ordens sociais normativas


As regras de ordem moral distinguem-se das regras de Direito, através do critério
da coercibilidade.

Relação das normas jurídicas e morais é de coincidência, conflito e de indiferença.


Coincidência porque a norma jurídica diz muitas coisas que a norma moral afirma a mesma. É
conflito porque em muitos aspectos a norma moral e a jurídica podem dizem coisas diferentes.
Um exemplo das normas morais que são coincidentes com as normas jurídicas, é não matar,
não furtar, etc. Mas também de indiferença porque há muitos aspectos da norma moral que é
indiferente para norma jurídica ou seja há muitos assuntos que a norma moral trata mas a normal
jurídica não considera importa, não dá importância alguma, exemplo saudação entre amigos, é
irrelevante para o Direito.

Assim acontece com a normal religiosa e de trato social na sua relação com a norma
jurídica.

Quanto a diferença? A norma jurídica difere das demais, quer seja, normas moral,
religiosa de trato social pelo facto de, não só ser coerciva, mas também possui um órgão que se
encarrega de aplicar a sanção.

No que diz respeito a relação entre a ordem religiosa com a ordem jurídica, apraz-
nos dizer que aqui, o Direito apenas se limita a garantir o livre exercício da actividade religiosa,
sem assumir o conteúdo das normas religiosas. Como o caso da laicidade do Direito do Estado,
constitucionalmente no artigo 10.º da CRA, ou seja, há separação entre o Estado e as Igrejas.

Quanto a ordem de trato social, como se sabe, estas regras se não forem cumpridas
não põem em causa a subsistência da própria sociedade, dai que para o Direito estas normas são
indiferentes.

Portanto, apesar do homem pautar a sua conduta em conformidade com várias


ordens sociais normativas, podemos afirmar que apenas a ordem jurídica torna possível a vida
em sociedade.

1.6. Direito como realidade cultural


É importante afirmar que o Direito não pertence ao mundo da física ou biologia,
cujas regras são definidas pela Natureza, sucedendo sempre de acordo com o princípio causa-
efeito. Nem tão pouco ao mundo da matemática ou da lógica pura, cujas regras são abstractas e
pertencem ao mundo das ideias.

O Direito como realidade cultural é uma criação de espírito humano que se


objectiva em normas jurídicas reguladoras da vida em sociedade. Ou seja, dirige-se a actividade
prática do homem e não a sua actividade teórica, visto que refere-se a acção e a conduta do

8
homem. O Homem ao existir encara o mundo de certa forma e na sua acção, naquilo faz fica
refletido tudo que pensa.

A cultura é isso mesmo, produto de tudo que o homem faz. Ora o Direito também
é produto do que o homem faz, logo o Direito também é cultura. Portanto o Direito será
consoante a cultura de cada povo.

1.6.1. Direito e os fins sociais


O Direito é um instrumento utilizado pelo Estado para realização dos fins sociais,
e por sua vez, a ordem jurídica é um processo através do qual se busca encontrar soluções para
satisfazer as necessidades da sociedade. Neste sentido, o Direito é encarado como um
instrumento dos fins sociais para garantir a realização das necessidades humanas, face a
escassez dos bens disponíveis.

1.6.2. Direito e os interesses sociais


Nesta perspectiva, o Direito é visto como forma mais adequada de resolução dos
conflitos de interesses sociais. Ou seja, ao Direito é reservado o papel de regular, da melhor
forma possível, os interesses em causa e de por fim aos conflitos através da aplicação da lei. Ou
seja um instrumento para realização dos interesses dos cidadãos.

1.7. Diversas acepções do termo Direito


Definir um objecto significa indicar o seu verdadeiro sentido, ou seja, a sua
significação precisa. Ao se procurar apresentar uma definição do Direito, primeiramente, deve-
se ter em mente que o vocábulo “direito” compreende enfoques e significados diversos.
Exemplificando, o termo em questão pode ser utilizado para significar o justo, ou o conjunto
de normas jurídicas, ou a possibilidade que uma pessoa tem de fazer valer determinada posição
jurídica, ou beneficio, etc.3

O Direito, assim, pode ser visto sob diversas perspectivas, como as que seguem:
Direito como justiça, Direito como ordenamento jurídico, Direito como direito subjectivo.
Porem, existe os mais diversos conceitos de Direito, variando conforme as diferentes Escolas e
Teorias seguidas pelos autores.

Contudo, Apresentamos aqui, o conceito de Direito em seu aspecto/sentido


objectivo, entendido como a realidade, presente na vida social, que regula as relações entre as
pessoas. Ou ainda, o Direito pode ser compreendido como conjunto ou sistemas de normas e
princípios jurídicos, com finalidade de regular a vida em sociedade tornando-a possível, bem
como o seu modo de funcionar. No aspecto/ou sentido subjectivo como sendo a faculdade que
a lei atribui alguém de ir a tribunal, pedir que o que é seu, lhe seja entregue ou impor a outrem
certo comportamento.

3
Cf. DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.
264-265.

9
1.8. Os Valores Fundamentais do Direito
O Direito como ordem normativa e reguladora da conduta social do homem
fundamenta-se num conjunto de valores. Esses valores promovem a adesão prática da
comunidade. Assim são valores fundamentais do Direito a Justiça, Equidade, Segurança e a
Certeza Jurídica.4 Analisemos cada um deles.

Justiça: designa-se como o fim último do Direito, ou seja, é o valor, a qualidade que as condutas
humanas devem assumir no âmbito das relações sociais.

Ora, a justiça também pode ser vista como uma expressão ética do princípio da
igualdade. Há, no entanto, diversas modalidades de justiça, correspondendo a diferentes tipos
de igualdade, sendo as principais a seguir, a justiça Comutativa e a justiça Distributiva5

A justiça comutativa obedece à igualdade simples e absoluta, consistindo na


equivalência entre dois objectos, sem levar em conta a condição das pessoas. Por exemplo, no
contrato de compra e venda, no qual o comprador deve pagar ao vendedor o preço do bem
adquirido.A justiça distributiva é aquela em que a sociedade confere a cada um o bem que é
devido segundo uma igualdade proporcional ou relativa. Desse modo, o Estado ou o grupo
social reparte entre os seus membros aquilo que pertence a todos, de modo a assegurar uma
equitativa participação no bem comum, conforme o mérito, a importância, a condição e a
necessidade de cada indivíduo. Por exemplo, a fixação de percentuais diferenciados de imposto
devido, levando em conta o valor da renda a ser tributada.

Segundo Ulpiano, justiça é dar a cada um o que é seu.

Equidade: segundo Aristóteles, a equidade é sinónimo de Justiça do caso concreto. Ou


seja, na aplicação da Lei, devem atender-se as condições concretas de cada caso. A equidade
ainda visa suavizar os rigores da aplicação cega da lei, atendendo a humanização do Direito. O
Código Civil Angolano no seu artigo 4.º, define as regras de utilização da Equidade como
critério decisório, tendo em conta o seu valor.

Segurança Jurídica: confere aos cidadãos a confiança que lhes permite planificar a
defesa dos seus interesses, conforme as normas jurídicas em vigor. Todavia, a segurança
jurídica visa garantir a estabilidade das relações sociais. Por isso é que, em regra as leis novas
só podem ser aplicadas aos casos futuros e nãos aos factos já passados, sob pena de verificar-
se injustiças muito grave (art.12.º do Cod. Civil, Principio da não-retroactividade da lei).

Certeza Jurídica: reflecte-se no conhecimento que os cidadãos devem ter do sistema


de normas jurídicas, de modo a salvaguardarem os seus interesses diante do poder do Estado.
Devendo o Direito ser certo e claro, no sentido de permitir aos cidadãos a previsão dos efeitos
jurídicos resultante das suas condutas na vida social. Dai que as normas jurídicas devem
fornecer aos cidadãos as informações necessárias, isto é; data da publicação, entrada em vigor,
da cessação, critério da sua aplicação e sistematização da referida norma jurídica.

4
Cf. Manual de Introdução ao Direito 10 classe, porto editora, pág. 44.
5
Cf. DINIZ, Maria Helena. Op. cit., p. 409-411.

10
1.9. As Instituições Jurídicas
Na origem do conceito de instituição, há um fundamento de que os homens e as
ideias são os fenómenos sociais mais importantes, na medida em que cada homem é finito único
e irrepetível na história, dai lhe é atribuído o seu valor e a sua dignidade enquanto pessoa
humana. Na verdade, as instituições têm uma estabilidade e uma vontade que ultrapassa as
decisões individuais e concretas.

Portanto, instituições são ideias ou uma obra que se realiza e perdura no meio social,
através de um conjunto de recursos materiais e humanos posto ao seu dispor, garantindo-lhes
assim uma existência temporal prolongada com tendência para a personalidade jurídica (na
maioria dos casos).

Quanto a tipologia das instituições, podemos dizer que os aspectos mais relevantes
da vida social encontram-se institucionalizados, como é o caso da Instituição Familiar,
Educativa, Cultural, Económica, Política e Religiosa.

PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO

1. O que entendes por ordem normativa?

2. Tendo em conta as Teorias estudadas, qual delas te parece mais correcta e por que?

3. Em que consiste o carácter societário do Direito?

4. Quais são as razões para necessidade da existência de regras na sociedade?

5. Porque se diz que as regras se baseiam na liberdade e na sociabilidade?

6. Distingue as diversas ordens sociais normativas?

7. A ordem normativa é um instrumento. Qual é a finalidade da sua aplicação?

8. Fale do Direito como realidade cultural, tendo em conta o seu fim e interesse social?
E dê exemplo.

9. Apresente os valores fundamentais do Direito?

10. A Equidade é a justiça no caso concreto. Comente esta afirmação?

11. Fale de uma Instituição que conheces?

12. Explique aos seus vizinhos o que é uma instituição.

11
II. TEMA: O ESTADO, A SOCIEDADE POLITICAMENTE
ORGANIZADA

2.1. Noção de Estado


Como já vimos, o homem é um ser eminentemente social, ele necessita de viver em
comunidade para poder desenvolver a sua personalidade. Assim, tornou-se necessário que
existisse uma estrutura organizada de modo a proporcionar as melhores condições possíveis,
dai o surgimento do Estado.

Assim, entende-se por Estado aquela realidade composta por três elementos: Povo
território e poder político, ou seja, uma sociedade politicamente organizada, constituído por
Povo, Território e Poder Político. Sendo estes últimos elementos fundamentais do Estado, que
analisaremos de seguida.

2.1.1. Elementos do Estado


Constituem elementos do Estado os seguintes:

Povo: Conjunto de pessoas ligadas ao Estado pelo vínculo de nacionalidade. Englobando


aqueles que se encontram no território e no estrangeiro;

Território: Como segundo elemento essencial diz respeito ao espaço geográfico onde o Estado
exerce o seu poder, compreendendo o Solo, Subsolo, o espaço Aéreo e o Mar (mar territorial,
plataforma continental e a zona económica exclusiva);

Poder político ou Soberania: é o poder que se manifesta através das competências atribuídas
aos seus diversos órgãos pelo Estado. Este poder desdobra-se em duas vertentes, isto é, no plano
interno pelo poder supremo do Estado sobre o povo e o território (só estes órgão podem criar e
aplicar regras), e no plano externo, pelo poder independente e autónomo face aos restantes
Estados da comunidade internacional (não esta obrigado a receber regras).

2.2. Poderes e Funções do Estado


De acordo com a teoria da separação de poder desenvolvida por autores clássicos
como J. Locke e Montesquieu, argumentam aqueles autores, que os poderes do Estado deve
estar distribuídas por diferentes órgãos, de maneira que aquele órgão governa ou crie lei, não
seja o mesmo a aplicar, de modo a evitar o abuso de poder.

Neste sentido, quanto as funções do Estado, repartem-se em princípio em quatro,


que são: Função Política (decidir o que é prioridade e o que não) Legislativa (elaboração de
Leis), função Executiva (administrar/executar ou aplicar as leis para o normal funcionamento
das instituições) e a função Judicial (aplicação da lei na resolução de conflitos que cheguem a
tribunal).

2.2.1. Órgãos de Soberania


Para que o Estado possa cumprir os fins que se propõe é necessário que haja
diferentes órgãos. Um órgão é um ente que manifesta a vontade de uma pessoa colectiva. Um

12
órgão de soberania representa o Estado, já que é através deles que este exerce as suas funções
legislativas, executivas e judicial.

Contundo, de acordo ao que esta exposto no artigo 105.º, n.º 1 da C.R.A, que existe
apenas três órgãos de soberania que são. O Presidente da República, a Assembleia Nacional
e os Tribunais.

O Presidente da República exerce função política, função executiva e legislativa


(emana decretos) a Assembleia Nacional exerce função legislativa e ao Tribunal exerce
função jurisdicional.

2.3. Estado de Direito ao Estado Social de Direito


O Estado de Direito surgiu por oposição ao Estado Absoluto ou Estado polícia, onde
a denominada razão de Estado prevalecia sobre os direitos e liberdades do cidadão. Porém, o
absolutismo existiu durante séculos, marcando um período de poderes centrado numa só pessoa,
isto é, no monarca, tendo sendo substituído pelo Estado de Direito com a revolução francesa.

No Estado liberal de Direito vigora o princípio da separação de poderes, tal como


já abordamos anteriormente. Na verdade, um dos objectivos principais do Estado de Direito é
o reconhecimento e a preservação dos direitos e liberdade fundamentais do homem.

A superação do Estado de Direito (liberal) e sua substituição pelo Estado Social de


Direito verificou-se a partir da segunda Guerra Mundial. Pois a partir dai, entendeu-se que o
Estado deve intervir trazer o equilíbrio social. Dai que, surge o Estado Social de Direito que se
regista uma crescente intervenção do Estado no domínio social, sem negligenciar o
reconhecimento e a garantia efectiva dos direitos civis dos cidadãos, e um alargamento dos
direitos e liberdades fundamentais.

2.4. Direito Internacional


Muitos são os factores que levam os Estados a se relacionarem, principalmente do
ponto de vista Economico, Político e Social. Por outra lado, devido ao próprio desenvolvimento
da sociedade, visto que cada Estado visa manter o bem-estar da sua população numa perspectiva
ambiental e não só. As relações internacionais tendem a existir, de modo que cada Estado ao se
relacionar com outro qualquer Estado ou Organização internacional possa salvaguardar os
interesses da sua comunidade.

Nesta senda, entende-se por Direito Internacional ao conjunto de normas adequadas


a dirimir eventuais conflitos existente nas relações estabelecidas entre os Estados, entre estes e
as organizações internacionais e entre os indivíduos pertencentes a diferentes Estados.

2.4.1. Direito Internacional Público


O Direito internacional público regula as relações estabelecidas entre os Estados e
com as organizações internacionais. Este Direito decorre das convenções e tratados
internacionais, acordado entre os Estados, abarcando ainda o costume internacional e os
princípios gerais do direito comummente reconhecidos pelos Estados. Como exemplo, temos

13
os acordos estabelecidos entre Angola e a Turquia, e entre Angola e o FMI (Fundo Monetário
Internacional), etc..

Portanto, importa referir que o Direito Internacional Publico pode ser parte
integrante do Direito Interno de muitos Estados, tal como sucede em Angola quando
devidamente ratificado e passar pelo processo de adopção pelo direito interno (art. 13.º da
CRA).

Relativamente aos sujeitos das relações internacionais, importante dizer que são
considerados sujeitos internacionais os Estados, as Organizações Internacionais e os os
movimentos de libertação sobretudo. Todavia, são várias as organizações internacionais que
existem, no entanto, importa apenas referir algumas delas, SADC ( )como é o caso da ONU
(Organizações das Nações Unidas), UE (União Europeia), UA (União Africana), OTAN
(Organização dos países do Atlântico Norte), etc.

2.4.2. Direito Internacional Privado


O Direito Internacional Privado, visa regular as relações estabelecidas entre os
indivíduos de diferentes Estado. Ou seja, consiste na resolução dos conflitos emergentes das
relações privadas de carácter internacional, relações essas que entram em contacto com mais de
um ordenamento jurídico (exemplo António Angolano quer casar com Ana Espanhola no
México).

É crucial salientar que cada Estado deve possuir normas que visam designar qual a
lei a ser aplicável, em caso de conflitos de lei, ou seja, determinar que lei deverá ser aplicada
numa determinada situação concreta, envolvendo indivíduos de Estados diferentes. No nosso
caso, esta relação vem regulamentada no nosso Código Civil do artigo 14.º ao artigo 65.º,
designado como Conflitos de Leis.

2.5. Conceito de norma jurídica


Contudo, a norma jurídica é um comando imperativo, geral e abstracto, produzido
por um órgão com competência imposta de forma coerciva pelo Estado.

2.5.1. Estrutura da norma jurídica


Há entendimento de acordo com o qual a norma jurídica apresenta uma estrutura
lógica de juízo ou proposição hipotética, na qual se prevê um fato (F) ao qual se liga uma
consequência ou efeito

Assim a norma jurídica está estruturada com os seguintes elementos: Previsão, e


Sanção ou Estatuição.

Previsão: consiste na descrição da situação de facto, que se verificar definitivamente, produzirá


determinada consequência jurídica;

Sanção ou Estatuição: estabelece as consequências jurídicas produzidas pela verificação da


situação descrita na previsão.

14
A norma jurídica, em regra, prevê um facto típico de forma genérica. Ocorrendo
um facto particular concreto que corresponda ao facto-tipo (descrito), previsto na norma, o
responsável pelo facto particular deve suportar ou gozar as consequências obrigatórias ou
efeitos determinados no dispositivo ou preceito da norma jurídica.6

Desta feita, a Previsão prevê a situação, enquanto a sanção ou estatuição


determina a consequência jurídica da verificação dessa situação. Como exemplos temos, aquele
que matar outrem (Previsão), será punido com uma pena de prisão de 16 a 20 anos (Sanção).

2.5.2. Características da Norma Jurídica


Depois de nos debruçarmos sobre a estrutura da norma jurídica, importa agora
analisar as suas características mais relevantes, que são: Imperatividade, Generalidade,
Abstracção e Coercibilidade.

Imperatividade: Impõe obrigatoriamente um certo comportamento através de um comando;

Generalidade: Diz-se geral pelo facto de os seus preceitos se dirigirem a toda sociedade. Ou
seja, do geral para se contrapor ao individual;

Abstracção: diz-se que uma norma jurídica é uma regra de conduta abstracta, pelo facto de
dirigir-se a um número indeterminado de casos e situações. Portanto uma norma jurídica não
pode ser individual e concreta;

Coercibilidade: consiste na susceptibilidade de aplicação coactiva de sanções, se a norma for


violada.

PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO
1. Defina Estado e cita os elementos que o compõem.

2. Distingue povo de população?

3. Apresente as funções do Estado?

4. Diferencie função política de função executiva, e função executiva de função


jurisdicional?

5. Indica os órgãos de soberania de Angola?

6. Distingue Estado de Direito e Estado Social de Direito?

7. Defina comunidade internacional

6
Cf. REALE, Miguel. Op. cit., p. 100-101.

15
8. Explica a necessidade dos países em manterem relações internacionais?

9. Das organizações internacionais que estudaste, apresente as mais conhecidas,


mencionando os seus objectivos?

10. Diga qual a diferença entre Direito internacional Público e Internacional Privado?

11. Sobre a norma jurídica diga:

a) Produza uma norma onde se pode identificar a Previsão e a Sanção.

b) Enumere as suas características?

III. TEMA: FONTES DO DIREITO

3.1. Conceito de Fontes do Direito


A expressão fontes do Direito apresenta sentidos diversos. Há entendimento de que
por fontes do Direito devem ser entendidos os processos de produção de normas jurídicas,
destacando-se que tais processos pressupõem sempre uma estrutura de poder.7

Na teoria defendida por Kelsen, fonte do Direito significa o fundamento de validade


da norma jurídica. Nesse sentido, o fundamento de validade de uma norma jurídica decorre de
uma norma superior, válida. Nessa concepção, a “norma hipotética fundamental” é o
fundamento último de validade da ordem jurídica.8 Existem ainda o sentido sociológico ou
matéria.

Portanto, em sentido técnico-jurídico, fonte de Direito, consiste no modo de


formação e revelação das normas jurídicas num determinado ordenamento jurídico.

3.1.1. Classificação das fontes do Direito


São várias as classificações sobre as fontes do Direito. Pois é corrente fazer-se
menção às fontes materiais do Direito, diferenciando-as das fontes formais do Direito. As fontes
materiais do Direito são os motivos éticos, morais, históricos, sociológicos, económicos,
religiosos e políticos que deram origem à norma jurídica. Ao passo que as fontes formais do
Direito podem ser entendidas como os modos de manifestação das normas jurídicas.9

7
Cf. DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.
264-265.
8
REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 1.
9
Cf. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 10. ed. São Paulo: Método, 2006. p. 187-188.
16
As fontes do Direito podem ser:

Fontes Imediatas ou Directas: aquelas que criam normas jurídicas. Como é o caso das Leis e
das Normas Corporativas. São aquelas que uma vez verificadas devem ser aplicadas (art. 1.º
do Cod. Civil);

Fontes Mediatas ou Indirectas: são aquelas que não criam normas jurídicas, mas contribuem
para sua formação. São aquelas que só deverão ser aplicadas se forem aceites pela lei. Estamos
a falar do Costume, Jurisprudência e da Doutrina.

Sendo assim, no nosso ordenamento jurídico, constituem fontes do Direito a Lei,


Costume, Jurisprudência e a Doutrina.

3.2. Noção de Lei


A lei resulta do processo legislativo, o qual é composto de fases por meio das quais
a lei é produzida. Para ser válida, a lei deve emanar do “poder competente”.10

Ora, várias são as definições de lei, mas para nós compreende-se por lei, como
norma jurídica imposta na sociedade, emanado por órgão estadual competente.

As normas corporativas são normas impostas por organismos representativos de


corporações, no domínio das suas atribuições. Estamos a nos referir das associações, entidades
patronais, associações sindicais e outras (por exemplo, a Ordem dos Advogados, a Ordem dos
Médicos, a Ordem dos Engenheiros, estatutos das associações, etc.).

3.2.1. Diferentes Sentidos de Lei


São vários os sentidos de lei, porém neste capítulo vamos apenas falar da lei em
sentido Amplo e da lei em sentido Restrito.

Lei em sentido amplo: Refere-se a todo qualquer diploma que contenha normas jurídicas de
carácter geral e imperativo, elaborado pelos órgãos estadual competente. Compreende as
normas de diversos órgãos (Assembleia Nacional, o PR,11 os Ministério, as Administrações
Municipais e comunais, os estatutos das pessoas colectivas;

Lei em sentido Restrito: É designada como lei (propriamente dita) É conjunto de normas,
gerais, imperativas e abstractas emanadas pela Assembleia Nacional12.

10
Cf. DINIZ, Maria Helena. Op. Cit., p. 257.
11
ARTIGO 125.° (Forma dos actos)
I. No exercício das suas competências o Presidente da República emite decretos legislativos presidenciais,
decretos legislativos presidenciais provisórios, decretos presidenciais e despachos presidenciais, que são
publicados no Diário da República.
12
ARTIGO 166.º (Forma dos actos)
I. A Assembleia Nacional emite, no exercício das suas competências, leis de revisão constitucional, leis
orgânicas. leis de bases, leis, leis de autorização legislativa e resoluções.

17
3.2.2. Processo de Formação da Lei
A lei resulta do processo legislativo, o qual é composto de fases por meio das quais
a lei é produzida. Assim, o processo legislativo de elaboração das leis compreende as seguintes
fases: Elaboração, Discussão e Aprovação, Promulgação, Publicação e Entrada em Vigor.

Iniciativa legislativa: É a primeira fase, nela se apresenta um projecto de lei, ou seja, nesta
fase se pede que certo assunto/questão particular seja legislado ou se já estiver legislado alterado
e que se faça em determinado sentido;

Tem iniciativa legislativa o PR, o grupo dos deputados, grupos parlamentares, as associações,
e o povo organizado artigo 167º CRA

Discussão e Aprovação:

a) Discussão: É o momento em que são apresentados os argumentos a favor e contra a


ideia em discussão.

b) Aprovação: É o momento em que os deputados são chamados a apresentar a aceitação


ou rejeição, ou ainda a abstenção.

i)Aceitação: manifestar intenção de ver a lei aprovada.


ii) Rejeição ou discordância: Manifestar intenção de não ver aprovada a lei.
iii)Abstenção: Não apresentar a sua intenção sobre o assunto, nem contra nem a favor.
Todos os votos são públicos e devem ser expressos com as mãos levantadas13.
Promulgação: Acto pelo qual o representante do Poder Executivo atesta a existência da norma
e intimida a sua observância (assinatura do PR);

Publicação: É a fase através da qual, se leva ao conhecimento de forma pública da existência


de uma lei. No nosso caso faz-se no Diário da República;

Entrada em Vigor: É o momento pelo qual uma determinada Lei publicada começa a produzir
os efeitos, ou seja começa a valer ou ser aplicada.

Portanto, cabe salientar que entre a publicação e a vigência da lei, decorrerá um tempo que a
própria lei fixar. Ou seja, o tempo que decorre entre a publicação e a entrada em vigor da lei
chama-se Vacatio legis.

Forma da Lei: Lei orgânica e leis de base.

Leis ordinárias (lei orgânica e leis de base) são aprovadas com maiorias absolutas.
Significa 50% dos deputados em exercício mais 1, deve ser aprovada com maioria de dois
terços14.

13
Pelo menos em Angola, no ordenamento angolano.
14
ARTIGO 159. (Deliberações)
As deliberações da Assembleia Nacional são tomadas por maioria absoluta dos Deputados presentes, desde que
superior a mais de metade dos Deputados em efectividade de funções, salvo quando a Constituição e a lei
estabelecerem outras regras de deliberações.

18
Lei de revisão e aprovação da Constituição exige maioria de dois terços de
deputados 2.
O número de deputados na A.N é de 220.

3.2.3. Hierarquia da Lei


Neste capítulo vamos conhecer a consequência da hierarquia da lei, ou seja, face a
um conflito de duas leis, é necessário saber qual delas prevalece. Hierarquia se entende por
colocação de objectos em ordem do mais importante ao menos. Adiantamos desde já, que a lei
de grau inferior não poderá prevalecer sobre a lei de grau superior.

Assim, em primeiro lugar no topo da hierarquia temos a Constituição da


República de Angola, Normas do Direito internacional (Convenções e Tratados
internacionais), Leis (Actos Normativos ordinários) e os Regulamentos (Decretos, Portarias,
Despachos.).

3.2.4. Interpretação da Lei


Interpretar a norma jurídica significa revelar o seu verdadeiro sentido e o alcance
real, descobrindo os vários elementos que entram em sua compreensão, e alcance,
reconhecendo os casos a que se estende sua aplicação.15

Quanto às fontes, a interpretação pode ser assim classificada:

Interpretação autêntica: É a realizada pelo próprio legislador ou poder que elaborou a lei,
mediante uma lei igual ou de valor superior;

Interpretação doutrinária: É a realizada pelos aplicadores da norma jurídica, isto é, os


juristas, Tribunais, Administrações e pela doutrina.

Quanto aos elementos a ter em atenção no momento da interpretação são:

Elemento gramatical ou literal: A interpretação deve sempre ter em consideração elementos


gramaticais e linguístico (a letra da lei);

Elemento lógico: A Interpretação deve ser realizada usando as regras da lógica, da razão e do
bom senso. Ou seja, saber qual foi o objectivo que motivou o legislador a elaborar a lei;

Elemento sistemático: A Interpretação da norma jurídica deve estar sempre em harmonia com
o conjunto de outras normas presentes no ordenamento jurídico;

Elemento histórico: Ao interpretar a norma jurídica deve ser levado em conta os


factos/acontecimentos que antecederam ou que tenham dado causa ao seu surgimento, dito
doutro modo as necessidades jurídicas e circunstâncias que provocaram a sua elaboração.

15
Cf. MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: parte geral. 40. ed. rev. E actual. por Ana
Cristina de Barros Monteiro França Pinto. São Paulo: Saraiva, 2005. v. 1, p. 35-36.

19
3.3. Integração de lacunas
Depois de esgotarmos todos elementos interpretativos de que o interprete se
socorrer, pode se verificar que determinado caso não cabe no conteúdo de nenhuma norma no
ordenamento jurídico.

Podem existir situações não previstas de forma específica nalguma lei no


ordenamento do território, mas que necessitem de regulamentação pelo Direito. Neste caso,
estamos perante a um caso omisso ou lacuna da lei.

Havendo lacuna impõe-se a integração de lacuna.

Como resolver essa situação? Existe duas formas para isso.

Primeira solução para integrar uma lei é por via da analogia: Aplicar uma lei a um
caso omisso ou uma lacuna da lei, como exposto no artigo 10.º do Cod. Civil16.

Porém, se não forem encontrados casos análogos com regulamentação própria,


então o intérprete deve criar uma norma geral e abstracta, tendo em conta os princípios gerais
Direito no sistema jurídico, como se fosse legislador e aplica-lo a este caso omisso concreto.

3.4. Aplicação da Lei no tempo


A aplicação das leis no tempo consiste em determinar qual é a lei aplicável a uma
determinada situação; se é a lei antiga ou a lei nova. Pelo que expõe no artigo 12.º do Cod.
Civil, a lei só dispõe para o futuro, consagrando assim o princípio da não retroactividade da lei.
Ou seja, as leis existem para serem aplicadas para o futuro e não ao passado, salvo nas situações
em que ela mostrar-se benéfica ao infractor.

3.5. Aplicação da Lei no Espaço


Aplicação da lei no espaço consiste em determinar qual a lei será aplicável num
determinado território. Ora, desde já, é crucial destacar que a lei angolana é aplicável em todo
território nacional, consagrando desta maneira o princípio da territorialidade.

Todavia, é de salientar que algumas vezes os Estados não aplicam exclusivamente


as suas leis internas no seu território, pelo facto de que alguns factos entrarem em contacto com
vários ordenamentos jurídicos, dai nasce o problema de conflitos de leis no espaço ou lugar.
Neste caso, o nosso ordenamento jurídico vem regular estes conflitos de leis no espaço a partir
do artigo 14.º até 65.º todos do Cod. Civil.

3.6. Cessação da vigência das Leis


Quanto a cessação/fim da vigência/validade da lei, deve-se dizer que a lei mantém-
se em vigor até que algo a faça cessar a sua vigência. Se impõe dizer que a lei deixa de vigorar,

16
Quer dizer que se encontrarmos uma situação que não tem lei própria a ser aplicada, procura-se no
ordenamento jurídico uma lei que se aplica a uma situação parecida a essa situação sem lei. Quando por
encontrada essa lei, se aplica com alguma adaptação a situação sem lei.

20
é o mesmo que dizer quando é que ela deixará de produzir os seus efeitos jurídicos, ou quando
é que não será mais aplicada a sociedade.

A lei pode deixar de vigorar por: Caducidade e Revogação.

Caducidade: Consiste no termo da vigência da lei em consequência de um facto, que pode ser
a própria lei prever uma data de cessação de vigência, ou seja, um prazo de duração (caso de
leis temporárias), ou ainda quando o facto que deu causa a sua criação tenha deixado de existir;

Revogação: Consiste no termo da vigência da lei em consequência da entrada em vigor de uma


lei nova de valor hierárquico igual ou superior.

A Revogação pode ser:


Expressa: Quando a lei nova declara quais os preceitos da lei anterior deixam de vigorar. (Por
exemplo, quando a lei nova diz claramente que são revogados os artigos de uma lei ou decreto-
lei, ou quando a lei nova diz que determinado diploma é revogado na sua totalidade);
Tácita: Quando a lei nova é incompatível com a lei anterior, neste caso prevalece a lei posterior.
(por exemplo, uma lei que estabelece um prazo de 5 anos para propor certa acção, período
depois é publicada outra lei fixando para o mesmo efeito, o prazo de 3 anos.

3.7. Costume. Noção, elementos


Entende-se por costume a prática reiterada e acompanhada da convicção da sua
obrigatoriedade pela comunidade.

O costume é constituído por dois elementos essenciais:

Material (corpus): Traduz-se na prática reiterada e habitual, com certa duração;

Psicológico (animus): Traduz-se na convicção de se estar a obedecer uma norma jurídica,


assumida e praticada pela comunidade.

3.7.1. Tipos de Costume


Do ponto de vista da lei, o costume pode ser de três espécies:

Costume Segundo a Lei ( secund lege): Aquele cuja sua prática vai de encontro com o que
esta expresso num determinado preceito legal;

Costume para além da Lei (praeter lege): Aquele que regula aspectos não regulados pela lei,
ou seja, a lei nada diz sobre aquela prática;

Costume contrário a Lei (contra lege): São aquelas práticas que contrariam aos preceitos
legais.

21
Portanto, o nosso ordenamento jurídico apenas admite o costume segundo a lei, não
havendo espaço para admissibilidade do costume contrário a lei e para além da lei(art. 3.º do
Cod. Civil)17.

3.8. Jurisprudência
Compreende-se por Jurisprudência, ao conjunto de decisões (sentenças e
acórdãos) proferidas pelos tribunais ao fazerem a interpretação e aplicação da lei aos casos
concretos que lhes são submetidos.

Sentenças: São as decisões proferidas por um único juiz, num determinado tribunal
singular;
Acórdãos: São as decisões proferidas pelos tribunais colectivos, constituídos
geralmente por três ou mais juízes.
A Jurisprudência é bastante importante já que procura mostrar a melhor
interpretação do Direito, o que pode ser útil ao legislador e aos operadores do Direito.

3.9. Doutrina
A doutrina é o conjunto de estudos, opiniões e ensinamentos de juristas, professores
e estudiosos do Direito, apresentando-se por meio de escritos em tratados, manuais,
monografias, teses e comentários. As obras da doutrina são dotadas de importância, ao procurar
mostrar a melhor interpretação do Direito, o que pode ser útil ao legislador e aos operadores do
Direito.

IV. TEMA: MEIOS DE CONTROLO DA LEGALIDADE

4.1. Conceito de Constituição


Existem vários conceitos do termo Constituição, mas para nós, nesta classe, vamos
conceituar como conjunto de normas jurídicas fundamentais que visam garantir os direitos dos
cidadãos limitando o poder do Estado.

4.2. Inconstitucionalidade
A inconstitucionalidade consiste nos actos e leis que violem os princípios e normas
consagrados na constituição (art. 226.º, n.º 2, da CRA). É de referir que a inconstitucionalidade
pode ser por Acção e por Omissão.

Inconstitucionalidade por acção: designada também como inconstitucionalidade


positiva, ou seja, acontece quando uma norma ordinária contrária ou viola uma norma da
Constituição.

17
Art 7º CRA.

22
Inconstitucionalidade por Omissão: Conhecida por inconstitucionalidade
negativa, ou seja, trata-se do silêncio de um órgão político que deixa de praticar certo actos,
que está previsto na constituição.

4.3. Os Tribunais. Noção e Competência


Os tribunais são os órgãos de Soberania com competência para administrar a justiça
aos casos concretos em nome do povo (art. 174.º da CRA).

Compete aos Tribunais dirimir conflitos de interesse público ou privado, assegurar


a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos e reprimir as violações da legalidade
democrática.

Portanto, no exercício da função jurisdicional, os tribunais são independentes e


imparciais, estando sujeitos a Constituição e a Lei (art. 175.º da CRA). Sendo que, os Tribunais
Superiores de Angola são: Tribunal Constitucional, Tribunal Supremo, Tribunal de Contas e
Supremo Tribunal Militar (art. 176.º da CRA)18 Depois os tribunais de relação. Por outra,
temos também os tribunais de jurisdição comum, aqueles que são designados por tribunal de
Comarca, que estão divididos e cada área territorial, sendo estes de primeira instância. Ou seja,
são tribunais onde são julgados todos os casos em primeiro lugar.

4.3.1. Acesso ao Direito e aos Tribunais


Segundo disposto no art. 29.º da CRA, a todos é assegurado o acesso ao Direito e
aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a
justiça ser denegada por insuficiência dos meios económicos.

O preceito acima referenciado consagra ainda no seu n.º 2 que, todos têm direito,
nos termos da lei, a informação e consulta jurídicas, ao patrocínio judiciário e a fazer-se
acompanhar por advogado perante a qualquer autoridade.

Desta feita, é imperioso dizer que, é assegurado a todos os cidadãos, sempre que
for violado os seus direitos ou interesses legalmente protegidos, a recorrerem ao Tribunal, para
que seja reposto a legalidade ou os seus interesses consagrados. Sem que, no entanto, esta
prerrogativa seja negada ou impedida pelo facto de não possuírem valores para tal fim. Por
outra, o Estado tem a obrigação de informar aos cidadãos sobre a existência de alguma lei, e
sobre determinado caso que o mesmo esta inserido, dando-lhe as informações necessárias e
alguma solução a cada caso concreto (consulta jurídica).

4.4. Custas Jurídicas ou Judiciais


Entende-se por custas judiciais, ao valor pelo qual o Tribunal pede para se instaurar
ou julgar um determinado caso, tendo em conta o valor de cada caso concreto, denominados
por valor da causa e custas processuais.

18
Não havendo hierarquia entre estes.

23
PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO

1. O que entendes por fontes do Direito no sentido técnico-jurídico?


2. Quis são as fontes do Direito que conheces?
3. No nosso ordenamento jurídico, apenas a lei é considerada como fonte imediata do
Direito, por que razão?

4. Diferencia os diferentes sentidos de lei?


5. Apresente as fases de feitura/processo legislativo?
6. O que significa o termos latino Vacatio Legis?
7. Do ponto de vista da hierarquia da Lei em que posição encontramos a nossa
Constituição e por que deve estar neste ponto?

8. Qual a diferença entre a interpretação autêntica e a Doutrinal?


9. Quais são os elementos de interpretação?
10. Como devem ser preenchidas as lacunas da lei, no nosso ordenamento?
11.Fale da aplicação da lei no tempo e no espaço?
12. Em que situação a lei deixa de vigorar?
13. Apresente o conceito de costume e cita os seus elementos.
14. Diferencie costume do uso?
15. Diga quando é que estamos diante de uma sentença ou de um acórdão?
16. O que entendes por Doutrina?
17. Apresente o conceito de Constituição que aprendeu.
18. Em que consiste a inconstitucionalidade por acção e por omissão?

24
V. TEMA: A PESSOA, FUNDAMENTO E FIM DA ORDEM
JURÍDICA

5.1. Personalidade jurídica


A palavra pessoa tem origem no latim “persona”, significando “máscara” na
linguagem teatral romana, fazendo ressoar a voz da pessoa. Na evolução do seu sentido, o
vocábulo passou a significar o papel que cada actor representava, posteriormente, a actuação
da pessoa na esfera jurídica. Por fim, o termo passou a significar a própria pessoa que
representava esses papéis.19

Pode-se concluir que existem duas modalidades de pessoas, reconhecidas pela


ordem jurídica: a pessoa natural ou pessoa física/pessoa singular, que é o ser humano; a pessoa
jurídica/pessoa colectiva. Tanto a pessoa natural, como a pessoa jurídica/coelctiva são dotadas,
ou seja, têm personalidade jurídica.

A Personalidade Jurídica é a possibilidade de qualquer pessoa ser titular de direitos


e obrigações, ou seja, poder ter direito e ter deveres. A personalidade jurídica adquire-se com o
nascimento completo e com vida e cessa com a morte (art. 66.º a 68.º do Cod. Civil) no caso
das pessoas singulares.

A personalidade jurídica se adquire no momento do nascimento completo e com


vida. Corresponde, ou seja, é igual a capacidade jurídica de gozo de direito. A capacidade
jurídica de gozo é atribuída a todos os sujeitos que tem a personalidade jurídica, enquanto a
capacidade de exercício de direito consiste na faculdade de dispor dos direitos de que se é titular,
directamente sem precisar de intervenção de outra pessoa.

Pessoas Singulares (físicas): São todas aquelas que possuem personalidade jurídica
e capacidade jurídica de gozo.

Pessoas Colectivas: São todas aquelas que resultam da vontade de vários sujeitos,
da atribuição de bens com intuito de formarem apenas uma única pessoa, adquirindo desta
maneira personalidade e capacidade jurídica após o seu registo, tendo assim direitos e deveres
(ex: as Empresas, Associações, Fundações, etc.).

Capacidade Jurídica

Capacidade jurídica é a susceptibilidade/possibilidade de uma pessoa ser titular


de direitos e obrigações.

A capacidade jurídica de gozo de direitos diz respeito a personalidade jurídica,


possuindo os sujeitos direitos e obrigações20.

19
Cf. MONTEIRO, Washington de Barros. Op. cit., v. 1, p. 61.

20
Para quem só tenha, de gozo, não poderá agir sozinho.

25
A capacidade de jurídica de exercício de direitos ou a capacidade de agir,
pressupõe a possibilidade do sujeito actuar por si só, sem precisar de intervenção de um
representante legal, praticar actos jurídicos (ex: a maioridade).

5.2. Conceito de Incapacidade


A regra geral é, quem tem capacidade de exercício também tem capacidade de
gozo, mas quem tem capacidade de gozo, nem sempre tem capacidade de exercício. Ou seja
toda aquela pessoa que tenha nascido completo e com vida tem personalidade jurídica e
capacidade de gozo pelo facto de adquirir direitos e obrigações imediatamente ao nascer, mas
no entanto não adquiri de imediato a capacidade de exercício por carecer de certos elementos.
A incapacidade de exercício consiste na falta de idoneidade de alguém que seja titular de direito
de praticar actos jurídicos por si.
Ora, são situações de incapacidade de exercício: a Menoridade, Interdição,
Inabilitação e a Incapacidade Acidental (arts. 138 a 257, todos do Cod. Civil).
Porém, essas incapacidades podem ser preenchidas por via da Representação e
Assistência.
Representação: É admissibilidade de outra pessoa praticar actos em nome do
incapaz, naqueles actos jurídicos que o mesmo não pode praticar por si só. Dito de outro modo,
o representante devera agir em lugar do incapaz, como se fosse o incapaz a agir, portanto sempre
no interesse do incapaz. É o instrumento próprio que os interditos e os menores usam para
agirem.
Assistência: Consiste na faculdade do incapaz praticar actos por si próprio, mas
com autorização ou confirmação de outra pessoa ou entidade indicada. É o instrumento próprio
que os inabilitados usam para agirem.

Direito objectivo é conjunto das normas jurídicas que regulam os aspectos mais
relevantes da sociedade; Ao passo que o Direito subjectivo é o poder/faculdade conferido ao
sujeito de exigir que o que é seu lhe seja entregue ou impor a sua vontade a outrem igualmente
na base da norma.

5.3. Direitos fundamentais dos cidadãos


Os Direitos fundamentais e o Direitos do homem, são expressões geralmente que
se confundem bastante, mas que se diferenciam de alguma forma.

Assim, os Direitos do Homem são direitos válidos para toda a humanidade (para
todos os povos e em todos os tempos), considerados invioláveis, intemporal e universal
enunciados na DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HUMEM. Ao passo
que os Direitos Fundamentais são aqueles direitos do homem, que constam na declaração já
mencionada e introduzida ou melhor consagrados na Constituição dos países.

Os Direitos Fundamentais estão subdivididos em três gerações diferentes, a saber:


1.ª Geração: Direitos Civis e Políticos; 2.ª Geração: Direitos Económicos, Sociais e Culturais;
e 3.ª Geração: Direitos de Solidariedade.

26
5.3.1. Direitos, Liberdades e Garantias
Os Direitos, liberdades e garantias fundamentais são prerrogativas expressamente
consagrados na constituição, o qual o Estado não da, apenas reconhece ao cidadão, com vista a
protecção destes direitos e o reconhecimento dos meios processuais a essa finalidade.

A Constituição da República de Angola vem regular a matéria relactiva aos direitos,


liberdades e garantias fundamentais no seu Capítulo II, a partir do artigo 28.º ao artigo 88.º da
CRA.

5.4. Direito Positivo e Direito Natural


O conhecimento que nós temos até aqui do termo Direito, é de que é o conjunto de
normas jurídicas criada pelo homem, para regular as suas condutas na sociedade. Sendo assim
podemos dizer que este é o Direito positivo, ou seja, é aquele que verdadeiramente vigora na
ordem jurídica. Já o Direito Natural, é o direito justo por excelência, fundado na natureza
humana e que tem origem na vontade divina.

Ora, desde antiguidade que existe uma tradição, que considera que há uma lei
superior a vontade humana, fundamentando que o Direito positivo e o Estado devem
obediência. Estes ideais e princípios de direito seriam normas absolutas dotadas de validade
universal e eterna. Dai que é viável afirmar que o Direito natural deu origem ao Direito positivo,
podendo o primeiro prevalecer sobre o segundo.

5.5. Direito Público e Direito Privado


É tradicional a divisão do Direito em Direito Público e Direito Privado, distinção
esta que tem origem no Direito Romano. O Direito Público era aquele concernente às questões
que envolviam o governo romano, e o Privado o que disciplinava os interesses particulares.21

Direito Público é conjunto de normas jurídica que regula a relação que se


estabelece entre dois sujeitos, sempre que pelo menos um é Estado, aparecendo o Estado com
o seu poder de Estado, o chamado ius imperii.

Direito Privado é conjunto de normas jurídica que regula a relação que se


estabelece entre dois sujeitos privados, ou entre os privado e o Estado, este último despido das
suas prerrogativas de Estado.

5.6. Classificação dos diversos ramos do Direito


De acordo com o entendimento que vem prevalecendo na doutrina, o Direito pode
ser classificado em Direito Publico e Direito Privado, e dentro de cada um deles encontramos
suas subdivisões, como:

São Ramos do Direito Público: o Direito Constitucional, o Direito Administrativo,


o Direito Tributário, o Direito Fiscal, o Direito Financeiro, o Direito Económico, o Direito
Processual penal, o Direito Processual Civil, o Direito Penal, o Direito Civil, o Direito da

21
Cf. DINIZ, Maria Helena. Op. cit., p. 251.

27
Seguridade Social, o Direito Ambiental, o Direito Internacional Privado e o Direito
Internacional Público.

Por sua vez, são ramos do Direito Privado: o Direito Comercial, o Direito do
Consumidor, o Direito do Trabalho, o Direito da Família, o Direito das Sucessões, o Direito
Reais e o Direito das Obrigações.

PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO

1. Apresente o conceito de personalidade jurídica e diga quando ela começa


e termina?

2. Relacione o Direito objectivo do Direito subjectivo?

3. Distinga direitos fundamentais do Direito do Homem?

4. Apresente alguns direitos fundamentais que conheces?

5. Assemelhe Direito Natural ao Direito positivo?

6. Ilustre com exemplo quando estamos diante do Direito público e do


Direito Privado?

7. Como se classificam os diversos ramos do Direito?

---------------------------------------------------------------

VI. TEMA: A RELAÇÃO JURÍDICA 6.1.

Noção de relação jurídica


Tendo em vista a sua importância para a vida em sociedade, todas as situações
suscetíveis de gerar conflito devem ser reguladas pelo Direito.
A relação jurídica pode ser entendida em dois sentidos, que pode ser:
Em Sentido Amplo: É toda a relação jurídica da vida real (social), juridicamente relevante
(produtiva de consequências jurídicas), isto é, disciplinada pelo Direito”;
Em Sentido Restrito: É toda relação do dia-dia que o Direito regula, colocando uma pessoa na
posição de sujeito activo (sujeito activo: direito subjectivo, de exigir) e outra na posição de
sujeito passivo (sujeito passivo um dever jurídico ou uma sujeição).

28
6.2. Estrutura da Relação Jurídica
A relação jurídica em sentido estrito analisa-se num direito atribuído a um sujeito
e no correspondente dever imposto a outro. Assim a estrutura da relação jurídica corresponde
ao Direito Subjectivo a obrigação/Dever jurídico. Analisemos de seguida.

Direito Subjectivo: é o poder ou a faculdade atribuído a uma pessoa de exigir ou


pretender de outrem um determinado comportamento positivo (acção) ou negativo (omissão),
ou de um acto da sua livre vontade ou auxiliado por acções de uma autoridade pública, produzir
efeitos jurídicos inevitáveis na esfera jurídica alheia.
Direito subjectivo divide-se em Direito Subjectivo propriamente dito e Direito
Potestativo, sendo que o primeiro consiste no poder de exigir ou pretender de outra pessoa um
determinado comportamento positivo ou negativo – uma dada acção (facere) ou uma dada
abstenção (non facere), enquanto o segundo são direitos a uma modificação no campo das
relações jurídicas Podemos classificá-los em: Constitutivos (ex: servidão legal de passagem,
direito de preferência); Modificativos (ex: mudança de servidão de passagem); Extintivos (ex:
divórcio por mútuo acordo e litigioso).
Dever Jurídico: É o lado passivo da relação jurídica, ou seja, é o comportamento
que o titular passivo da relação jurídica (obrigado) deve adoptar. O sujeito do dever (o obrigado)
tem sempre a possibilidade de não cumprir. Apesar disso, temos a Sujeição, que consiste na
necessidade imposta pela ordem jurídica ao sujeitado de suportar as consequências do exercício
do direito potestativo. Trata-se aqui duma necessidade fatal, pois a produção de tais efeitos
verifica-se de modo inevitável.
Os direitos Subjectivos classificam-se em: Direitos Absolutos e Direitos Relativos,
Direitos Subjectivos Publico e Direitos Subjectivos Privados, Direitos Patrimoniais e Não
Patrimoniais, Direitos Transmissíveis e Intransmissíveis, Direitos Natos e Inatos.

6.3. Elementos da relação jurídica


A relação jurídica estabelece-se entre as pessoas, versa sobre um objecto, provém
de um facto gerador de efeitos jurídicos e está garantida pelo Direito. Assim constituem
elementos da relação jurídica os Sujeitos, o Facto Jurídico, Objecto, e a Garantia.

6.3.1. Sujeitos
São pessoas entre as quais a relação jurídica se estabelece, isto é, são os titulares do
Direito Subjectivo (sujeito activo), e da vinculação correspondente ao dever jurídico e sujeição
(sujeito passivo).
Porém, aqui entende-se por pessoa em sentido jurídico, como aquele que possui
personalidade jurídica. Há dois tipos de pessoas com personalidade jurídica, ou seja com
susceptibilidade de direitos e obrigações. Isto é, Pessoas Singulares e Pessoas Colectivas.

6.3.2. Objecto da relação jurídica


Trata-se daquilo sobre o que incidem os poderes do sujeito activo, e sobre o qual
podem recair os direitos subjectivos.
Neste sentido, importa distinguir o objecto imediato do objecto mediato da relação
jurídica.

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Objecto imediato: É aquilo sobre que directamente recai o direito, ou ainda é a
prestação devida pelo sujeito passivo, sabendo-se que o sujeito activo tem a prerrogativa de
exigir o cumprimento da obrigação de dar, fazer ou não fazer (através de um comportamento,
pelo qual realiza a prestação).
Objecto mediato: É aquilo sobre que indirectamente recai o direito subjectivo
(coisa a prestar, o bem móvel ou imóvel). Concluindo, nas obrigações de prestação de uma
coisa, o objecto imediato é o comportamento do devedor e o objecto mediato é a coisa a prestar.

6.3.3. Facto Jurídico


Entende-se por facto jurídico como todo acontecimento da vida social (dia-dia) que
produz efeitos jurídicos, isto é, factos que são juridicamente relevante para o direito.

São várias classificações do facto jurídico, sendo uma delas a que se refere a factos
jurídicos voluntários (actos jurídicos) e factos jurídicos involuntários.

Facto jurídico voluntário é a manifestação da vontade humana juridicamente


relevante, que pode ser simples (acto jurídico ou negócio jurídico/contratos).

Facto jurídico involuntário: é aquele que é estranho a qualquer processo volitivo,


isto é, exterior a vontade dos sujeitos (ex: nascimento, morte, etc.).

6.3.4. Garantia
É a passibilidade de tornar efectivo os poderes do sujeito activo da relação jurídica,
que poderá assim, reagir no caso de violação ou de ameaça de violação do seu direito subjectivo.
Para isso, o seu titular tem a disposição uma série de meios coercivos (ex: ir a Tribunal).

A classificação das garantias podem ser pessoais ou reais.


Pessoais quando alguém assume que se o devedor não pagar ele pagará.
Garantias Reais podem ser de duas realidades: Quando a garantia incidir sobre parte
de rendimentos ou sobre determinados rendimentos diz -se consignação de rendimentos.
Quando a garantia recair sobre um bem móvel, para cobrir o valor da dívida, diz-se penhor.
Quando a garantia recair sobre um bem imóvel, para cobrir o valor da dívida, diz-se hipoteca.

Nota: Penhora é um acto processual que consiste em retirar a posse do bem ao seu titular ou
quem o detenha para colocar a disposição do tribunal para efeitos de execução/pagamento da
divida que incide sobre o devedor.

PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO

1. Defina relação jurídica no seu duplo sentido.

2. Apresente a estrutura da relação jurídica.

3. Distinga direito subjectivo propriamente dito do direito potestativo.

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4. Cita cada elemento da relação jurídica.

5. Diferencia pessoas singulares das pessoas colectivas.

6. Diferencie a capacidade jurídica de gozo de direitos de capacidade


jurídica de exercício de direito.

7. Como podem agir as incapacidades?

8. Deia exemplo de um objecto mediato da relação jurídica?

9. Quando é que estamos diante do facto jurídico voluntário e involuntário?

10. Defina garantia e deia exemplo?

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VII. TEMA: CONDUTA ILÍCITA E CAUSAS DE EXCLUSÃO DA
ILICITUDE( sugestão)

7.1. Conceito de ilícito


Entende-se por ilícito como um acto exterior do homem, que pode consistir numa
acção ou omissão, resultante de uma formação de vontade do agente, originando assim uma
lesão a um interesse juridicamente relevante (bem jurídico).
Constituem elementos do acto ilícito: a Vontade, a Conduta e o Dano.
Vontade: Impulso que levou o agente a agir.
Conduta: Diz respeito a manifestação da vontade do agente, isto é, por acção ou omissão.
Dano: É o resultado lesivo causado por um infractor, a um interesse juridicamente protegido.
Ilícito Civil: consiste numa certa conduta que viola uma norma jurídica, cujos
efeitos se consubstanciam em danos capazes de reparação patrimonial.
Ilícito Penal: Consiste na violação de uma norma do Direito Penal, que visa a
protecção de bens jurídicos fundamentais.

7.2. Responsabilidade Civil


O termo responsabilidade civil abrange dois tipos de responsabilidade: A
Contratual e a extracontratual (art. 483.º e ss, do Cod. Civil).
Responsabilidade Civil: Consiste na possibilidade daquele que violar o direito de
outrem ser chamado a reparar.
Responsabilidade Contratual: trata-se da obrigação de reparação de danos
causados a outrem por falta de cumprimento de obrigações contratuais.

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Responsabilidade extracontratual: resulta da violação de direitos absolutos ou a
prática de certos actos que embora lícitos, causem prejuízo ao outrem.

7.3. Causas de exclusão da Ilicitude


Como já referimos anteriormente, a ilicitude de um facto baseia-se na violação de
um direito alheio, ou de uma norma jurídica destinada a proteger interesses de terceiros.
Porém, esta ilicitude poderá ser considerada aparente, se for verificado uma causa
justificativa do facto praticado, o que chamamos de causa de exclusão da ilicitude. Assim, são
causas de exclusão da ilicitude a Acção directa, a Legitima defesa, o Estado de necessidade
e o Consentimento do lesado.
Acção directa: consiste no recurso a força como forma indispensável de assegurar
ou realizar um direito de que o agente é titular, dada a impossibilidade de recorrer, em tempo
útil, aos meios coercivos normais (art. 336.º, do Cod. Civil).
Legitima defesa: reside na reacção destinada a afastar uma agressão actual e ilícita
da pessoa ou do património, seja do agente, seja de terceiro (art. 337.º, do Cod. Civil).
Estado de necessidade: consiste na prática de actos que destroem ou danificam
coisa alheia, com fim de remover o perigo actual de um dano manifestamente superior, quer do
agente, quer de terceiro (art. 339.º, do Cod. Civil).
Consentimento do lesado: baseia-se na concordância do titular do direito a prática
do acto lesivo que, sem ela, constituiria uma violação desse direito ou uma ofensa da norma
que o tutela (art. 340.º, do Cod. Civil).

PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO
1. O que entendes por acto ilícito?

2. Cita os seus elementos e define-os?

3. Diferencia ilícito civil do Ilícito Penal?

4. Defina responsabilidade civil?

5. Apresente as suas modalidades?

6. Quais são as causas de exclusão da ilicitude que estudaste?

7. Distinga, estado de necessidade da legítima defesa?

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BIBLIOGRAFIA
LEGISLAÇÃO:
Código Civil angolano
Código Penal
Constituição da República de Angola
MANUAIS:
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COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 3. ed. São Paulo:
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KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 4. ed. Tradução de João Baptista Machado. Coimbra:
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MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: parte geral. 40. ed. rev. e actual.
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REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1969. v. 2.


_______. Lições preliminares de direito. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 1991.
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REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 1995.

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VARELA, João de Matos Antunes, Das obrigações em geral. 10 Edição, Revista e
actualizada, Coimbra: Almedina, Volume I, 2000.

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