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1. Aspectos gerais:
1.1. Conceito de direito Penal:
O conceito de direito penal pode ser visto sob dois aspectos distintos, o aspecto
formal ou material:
a. Aspecto Formal: é o conjunto de normas que qualifica comportamentos domo
infrações penais;
b. Aspecto Material: é um instrumento de controle social que visa assegurar a
disciplina na sociedade.
A manutenção da paz social demanda a existência de normas que estabelecem
diretrizes. Uma vez violadas essas diretrizes, cabe ao estado a imposição de sanções
para que se restaure a ordem.
Tais sanções, que podem ter vários aspectos, como civis, administrativas, tributárias,
mas, é certo que quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente
tutelados, a reação do Estado deve ser mais enérgica, valendo-se assim do Direito
Penal.
O que diferencia a norma penal das demais é a espécie de conseqüência
jurídica, pois o Direito Penal trabalha com penas privativas de liberdade, ou seja, a
conseqüência jurídica mais grave. Por tanto, o Direito Penal é considerado a ultima
ratio do sistema, a derradeira trincheira no combate dos comportamentos indesejáveis,
por isso é norteado entre outros, pelo princípio da Intervenção Mínima.
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c. Quanto ao Tempo: O direito de punir do estado não é eterno, por isso, verifica-
se em nossa legislação o fenômeno da prescrição penal, p. ex.
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1“Art. 5º, XLII a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena
de reclusão, nos termos da lei”
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Relacionados com a
Relacionados com Relacionados com Relacionados com
missão fundamental
o fato do agente o agente do fato a pena
do Direito Penal
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3 Assis Toledo entende que o CP adotou essa corrente, uma vez observado o Art. 59 do CP.
4 Existe uma certa flexibilização desse desdobramento nos caos de crimes societários,
onde,uma vez que é muito difícil saber a exata ação de cada um, vez que tomadas à “portas
fechadas” na empresa, admite-se que a denuncia se restrinja ao fato ocorrido como um todo, e
que durante a instrução criminal sejam provadas as condutas de cada réu.
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6 O STF confirmou o entendimento na ADC 19, onde afastou a tese de que o tratamento a
mulher pela Lei 11.340/06 não seria isonômico.
8 “(...)Toda pessoa tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove
legalmente as culpa(...)”
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4. Princípio da Legalidade:
Constitui uma limitação ao poder de o Estado influir nas liberdades pessoais do
cidadão. Encontra-se previsto na Constituição Federal no Art. 5º, II e XXXIV, no Art.
1º do CP, no Estatuto de Roma, na Convenção Interamericana de Direitos Humanos e
até mesmo na Bíblia Sagrada.
Assim afirma-se que a elaboração de normas penais é função exclusiva da lei
(reserva legal), que deve definir anteriormente e precisamente a conduta
proibida.
A doutrina aponta três fundamentos básicos para o princípio da legalidade:
i. Político: Impede o poder punitivo Estatal com base no livre arbítrio;
ii. Democrático: Respeita a divisão dos poderes estabelecida na Bíblia
Política, sendo função precípua do legislador a elaboração de leis.
iii. Jurídico: Uma lei prévia e clara tem importante efeito intimidativo,
garantindo a vigência da norma.
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se o fato já não contraria mais o interesse social, a lei não deveria ser aplicada pelo
magistrado; iii) Não existe costume abolicionista, pois, somente a lei pode revogar
outra lei, essa corrente prevalece nos tribunais e na doutrina.
4.1.5. Necessidade:
A lei penal deve ser o mecanismo necessário para coibir a ofensa ao bem jurídico
tutelado.
Aqui tem-se um claro desdobramento do princípio da intervenção mínima.
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9 Exemplo: o artigo 312 do Código Penal trata do crime de peculato, conduta praticada por
funcionário público. O conceito de funcionário público, para fins penais, está positivado em
outro artigo, mais precisamente o 327, também do Código Penal.
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ilícito. Ex. A Lei 2.889/56 prevê os crimes de genocídio, as condutas típicas que
caracterizam o genocídio (preceito primário), mas remete à análise do CP ao cominar as
penas (preceito secundário).
Obs.: Norma Penal em branco ao quadrado ou raiz quadrada da norma penal: é a
norma penal cujo complemento também precisa de complementação. Ex. Art. 38 da Lei
de Crimes Ambientais.
11 Art. 4º: "considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja
o momento do resultado”
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"A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. "
Depreende-se que caso a lei de qualquer modo favoreça o agente, ela deverá ser
aplicada, não havendo respeito se quer à coisa julgada.
Assim, antes da prolação da sentença, cabe ao juiz competente para o processo a
aplicação da lei nova mais benéfica, bem como que após a sentença condenatória
(recorrível), cabe à instância recursal esta função.
Questiona-se em relação ao juiz natural para a aplicação da Lex mitior, nos casos
em que haja coisa julgada, sobre o tema a Súmula nº 611 do STF estabelece que:
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sua vigência"
A lei Temporária é aquela que traz em seu texto o tempo de sua vigência,
também chamada de lei temporária em sentido estrito.
A lei Excepcional, é a que atende necessidades estatais transitórias, ou seja,
perdura até que a excepcionalidade se encerre. Também é chamada de lei temporária
em sentido amplo.
É possível afirmar que ambas as leis são ultrativas, pois de acordo com o CP
aplicam-se a fatos ocorridos em sua vigência, ainda que decorrido o prazo, ou
cessada a situação excepcional.
As leis temporária e excepcional têm duas características essenciais:
a. Autorrevogabilidade:
As leis temporária e excepcional são autorrevogáveis, daí porque chamadas
também de leis intermitentes . Esta característica significa dizer que as leis temporária
e excepcional se consideram revogadas assim que encerrado o prazo fixado (lei
temporária) ou cessada a situação de anormalidade (lei excepcional) .
b. Ultra-atividade:
Por serem ultra-ativas, alcançam os fatos praticados durante a sua vigência129,
ainda que as circunstâncias de prazo (lei temporária) e de emergência (lei excepcional)
tenham se esvaído, uma vez que essas condições são elementos temporais do próprio
fato típico. Observe-se que, por serem (em regra) de curta duração, se não tivessem a
característica da ultra-atividade, perderiam sua força intimidativa. Em outras palavras,
podemos afirmar que as leis temporárias e excepcionais não se sujeitam aos
efeitos da abolitio criminis (salvo se houver lei expressa com esse fim).
A doutrina discute acerca se o Art. 3º do CP foi recepcionado pela Ordem
Constitucional de 88, sendo duas as posições: i) Para Rogério Greco e Zaffaroni, a
norma não foi recepcionada, pois a CF não faz qualquer menção à retroatividade
maléfica; ii) Para LFG não se trata de retroatividade da norma penal, ou seja não há
conflito de leis penais no tempo, pois ambas tratam de fatos distintos, assim, não se
pode analisar ou não a recepção da norma.
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alterações, deve incidir (ou não) as regras da retroatividade. Sobre o assunto, temos
quatro correntes:
i. Sempre retroage se mais benéfico (Paulo José);
ii. Será irretroativo, não se admite revogação de normas penais pela
revogação de seus eventuais complementos (Frederico Marques);
iii. Na NPBco Homogênea, a alteração benéfica retroage, mas na
Heterogênea, só retroagirá se a alteração provocar uma real alteração na
figura abstrata e não quando importar uma mera alteração circunstancial
(Mirabete);
iv. A NPBco Heterogênea apenas retroage se a modificação do
complemento não se reveste de caráter excepcional ou
temporário, a Heterogênea sempre retroage (Alberto Silva Franco),
seguido pelo STF13
13 Cf. STF – Primeira Turma – HC 73.168, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 15/03/1995 e STF –
Segunda Turma HC 68.904, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 03/-4/1992.
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a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves
Art. 5º (...) § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de
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2.2. Territorialidade:
2.2.1. Teoria adotada pelo Brasil: Quando o crime se considera
praticado no território brasileiro?
São três as teorias sobre o tema:
i. Pela teoria da atividade, considera-se lugar do crime aquele onde o agente
desenvolveu a conduta.
ii. De acordo com a teoria do resultado, considera-se o lugar do crime
aquele onde ocorreu o evento (resultado).
iii. Pela teoria mista (ou da ubiquidade), considera-se lugar do crime
aquele onde ocorreu a conduta ou o resultado.
O Brasil adotou a teoria mista ou da ubiquidade (art. 6º, CP):
produzir-se o resultado.
Obs.:Se no território brasileiro ocorre unicamente o planejamento ou
preparação do crime, o fato não interessa ao direito brasileiro.Salvo quando
a preparação, por si só, caracterizar crime autônomo, ex. associação criminosa.
Dessa forma, observando o inter criminis (Cogitação Preparação
ExecuçãoResultado/Consumação), apenas interessa à lei brasileira os atos de
execução e o resultado/consumação, salvo se a lei brasileira punir
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§ 1º A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à
sejam impostos por motivos de força ou por dificuldade grave, ou tenham por fim
consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o
competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o
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§ 2º Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será
incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas
2.3. Extraterritorialidade
É o fenômeno pelo qual a lei brasileira será aplica a fatos ocorridos fora do
território nacional.
Assim, embora o fato tenha ocorrido fora do nosso território, quem
efetivamente aplicara nossa lei é um juiz ou tribunal pátrio, uma vez que a
aplicação do Direito Penal brasileiro por juiz ou tribunal estrangeiro viola nossa
soberania.
A extraterritorialidade da lei penal está prevista no art. 7º do CP. A divisão entre
os incisos se deve ao fato de serem hipóteses diferentes de extratarritorialidade:
incondicionada, condicionada e hipercondicionada.
I - os crimes:
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§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que
II - os crimes:
Art. 7º (...) § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar
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A idéia aqui não é extraditar, mas sim conferir uma uniformidade de tratamento
aos réus, dessa forma, os requisitos para a extradição deverão coincidir com os
autorizadores da aplicação da nossa lei no estrangeiro.
Assim, o estatuto do estrangeiro lista alguns requisitos para permitir a extradição
de alguém, assim o CP “empresta” para a extraterritorialidade condicionada os mesmos
requisitos.
Obs.: Para a incidência da condição prevista na alínea “c”, deve ser o crime
punido com pena de prisão superior a um ano (art. 77, IV, da Lei 6.815/1989: Estatuto
do Estrangeiro):
Art. 77. Não se concederá a extradição quando: (Renumerado pela Lei nº 6.964, de
09/12/81) (...)
IV - a lei brasileira impuser ao crime a pena de prisão igual ou inferior a 1 (um) ano;
iv) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena:
Perceba a diferença para os crimes de extraterritorialidade incondicionada, nos
quais pouco importa a condenação ou a absolvição no estrangeiro.
v) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou extinta a punibilidade, de
acordo com a lei mais favorável.
Caso prático: um brasileiro, nos EUA, mata um italiano. Logo depois do crime,
foge para o Brasil. Aplica-se a lei brasileira, desde que presentes todas as condições
acima estudadas.A competência para a aplicação da lei brasileiraserá, em regra, da
justiça estadual. Será da Justiça federal se presente alguma das condições do art. 109 da
CR. O território competente (comarca) será o da capital onde houver por último
residido o acusado. Seele nunca tiver residido no Brasil, será competente o juízo da
capital da República (art. 88 do CPP):
Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será
competente o juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado.
República.
Como visto, na extraterritorialidade incondicionada aplica-se a lei brasileira,
pouco importando se o agente tenha sido absolvido ou condenado no exterior. Isso
significa que pode haver um processo no estrangeiro e um processo no Brasil, bem
como que o agente pode ser condenado no estrangeiro e no Brasil. Assim, ele pode ter
de cumprir pena no estrangeiro e no Brasil.
Isso não configura um bis in idem? Como estudado, a vedação do bis in idem tem
significado processual, penal e execucional, buscando evitar duplicidade em todas essas
hipóteses. A doutrina enxerga, no caso, uma exceção à vedação do bis in idem,
justificada por razões de soberania nacional.
Francisco de Assis Toledo ensina que o art. 8º evita um bis in idem. Na verdade, o
dispositivo não evita a existência do bis in idem(dois processos e de duas
condenações), mas apenas atenua a duplicidade de penas:
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primeira corrente não adota o mesmo conceito de nacionalidade passiva (entende que o
princípio da nacionalidade passiva se preocupa com a defesa da vítima, enquanto que o
da defesa ou real se preocupa com o bem jurídico).
2ª corrente: princípio da defesa (ou real), aquele segundo o qual se aplicaa lei
penal da nacionalidade da vítima ou do bem jurídico. Esta é a posição defendida por
Rogério.
3.1. Introdução
A lei penal se aplica a todos, por igual, não existindo privilégios
pessoais (art. 5º da CR).
Há, no entanto, pessoas que, em virtude das suas funções, desfrutam de
imunidades.
Longe de uma garantia pessoal, trata-se de uma prerrogativa funcional, de
uma proteção ao cargo. Não se trata de um privilégio, mas de uma prerrogativa.
Privilégio Prerrogativa
Exceção à lei comum deduzida da situação Conjunto de precauções que rodeiam a
de superioridade das pessoas que a função e servem para o exercício desta.
desfrutam. Parte da noção de que umas
pessoas seriam superiores às outras.
É subjetivo e anterior à lei. É objetiva e deriva da lei.
Tem essência pessoal. É anexa à qualidade do órgão.
É poder frente à lei. É conduto para que a lei se cumpra.
Próprio das aristocracias sociais. Própria das aristocracias das
instituições governamentais.
Não se trata, portanto, de foro “privilegiado”, como se diz, mas de foro por
“prerrogativa” de função.
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14 A punibilidade do partícipe depende de que o fato praticado pelo autor seja típico E ilícito,
pela teoria da acessoriedade limitada.
15 Súmula 245 - a imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa prerrogativa.
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3.3.1.3. Limites:
O limite da imunidade parlamentar é o exercício da função.
É imprescindível o nexo funcional entre as palavras ou opiniões e a função
exercida pelo parlamentar.
Entende a doutrina, seguida pela jurisprudência que estando o parlamentar nas
dependências do Parlamento presume-se de modo absoluto o nexo.
Fora da Casa Legislativa, o nexo deve ser comprovado. Portanto, apesar de
chamada de absoluta, a imunidade tem limites.
Segundo o voto emblemático do Min. Marco Aurélio, no Inquérito nº 1316, o
instituto da imunidade parlamentar absoluta não permite ações estranhas ao
mandato, como ofensas pessoais, sem que haja consequências.
A não se entender assim, estarão eles acima do bem e do mal, blindados, como se
o mandato fosse um escudo polivalente.
Obs.: Tem se entendido que em hipótese de utilização de meios eletrônicos
(facebook, Twitter, e-mail, etc) para divulgar mensagens ofensivas à honra de alguém
deve haver vinculação com o exercício da atividade parlamentar, ainda que a
mensagem tenha sido gerada dentro do gabinete. Entendimento diverso daria margem
ao exercício abusivo dessa prerrogativa, que é da instituição e não do parlamentar.
16“2. Os atos praticados em local distinto escapam à proteção absoluta da imunidade, que
abarca apenas manifestações que guardem pertinência, por um nexo de causalidade, com o
desempenho das funções do mandato parlamentar” (STF – Tribunal Pleno – Inq. 2.813 – Rel.
Min. Marco Aurélio – DJe 24/05/2011)
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Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva
17Súmula 394 - cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial
por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a
cessação daquele exercício (cancelada).
18Obs.: AP 396, percebendo que estava na iminência do julgamento pelo STF e que se avizinhava
a prescrição, o parlamentar renunciou ao mandato, com o objetivo de obter a prescrição (por
conta do longo caminho que haveria do envio dos autos do STF ao juízo de 1º grau). No entanto,
restou decidido pelo STF que a renúncia na véspera do julgamento pelo Pleno configura fraude
processual inaceitável, pois objetiva, em primeiro lugar, fugir à punição, buscando a prescrição.
Diante desse quadro, o STF permaneceu competente para o processo e julgamento da demanda.
Observou o Min. Marco Aurélio, discordando da maioria, que a renúncia do parlamentar é um
direito potestativo e, como tal, deve ser analisado dentro do direito de ampla defesa do réu.
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20 É um absurdo manter o senador solto neste caso, quando o sentimento de justiça dita
exatamente o contrário, assim, ponderando entre a regra da imunidade à prisão e o princípio da
justiça, o STF entendeu prevalecer o princípio em relação à regra, daí a legitimidade da prisão.
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respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da
ação.
Diretora.
Diz o art. 53, §3º que, recebida a inicial contra o parlamentar, o STF dará
ciência do recebimento à Casa respectiva (apenas e tão somente isso).
Obs.: Antes da EC 35/2001, o STF sequer poderia processar o
parlamentar, pois precisava de autorização da Casa respectiva. Hoje, o STF apenas
dará ciência, não sendo necessária a autorização para processar o parlamentar.
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pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. (Redação dada pela
e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem
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estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos
22 A 1ª Turma concedeu habeas corpus para cassar decreto de prisão expedido por juiz de
direito contra deputado estadual. Entendeu-se que, ante a prerrogativa de foro, a vara
criminal seria incompetente para determinar a constrição do paciente, ainda que
afastado do exercício parlamentar”. (STF – Info nº 628 – HC 9548 – Rel. Min. Marco
Aurélio – DJe 24/05/2011)
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3.3.3.3.
Os deputados estaduais têm as mesmas imunidades dos deputados
federais:
Nos termos do art. 27, §1º, da CR, os deputados estaduais têm as mesmas
imunidades dos deputados federais:
Art. 27. (...) § 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais,
(SUPERADA)
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24 “A imunidade material concedida aos vereadores por suas opiniões, palavras e votos
não é absoluta. A barca as manifestações que tenham pertinência com o cargo e o interesse
municipal, ainda que ocorram fora do recinto da Câmara, desde que dentro da
circunscrição municipal” (STF – Primeira Turma, AI 698921 Agr – Rel. Min. Ricardo
Lewandowski - DJe 14/08/2009)
25Súmula 721- A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual. Súmula
Vinculante nº 45 “A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro
por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual”.
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Veja que, dos três analisados, a hipótese do vereador é a única em que o foro por
prerrogativa de função vem previsto exclusivamente na constituição estadual. Por
isso, apenas o vereador vai a julgamento perante o Júri popular.
No que se refere ao deputado estadual, de fato há previsão na constituição
estadual, mas não de forma exclusiva. Portanto, a norma da constituição federal que lhe
assegura o foro especial serve para excepcionar a regra constitucional da competência
do tribunal do júri para os crimes dolosos contra a vida.
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Muito embora não haja consenso sobre o assunto (salvo no tocante ao princípio
da especialidade), admitem-se comumente os princípios mencionados.
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distintos, como, por exemplo, o crime de roubo, que nada mais é do que o furto
praticado com violência ou grave ameaça à pessoa.
Alguns autores acrescentam a alternatividade como outro princípio do conflito de
normas, porém, afirma Cezar Roberto Bitencourt que nesse caso há ausência de
conflito aparente.
Haveria alternatividade quando dois tipos contêm elementos incompatíveis entre
si, excluindo-se mutuamente, como seriam exemplos o furto e a apropriação indébita.
Ora, o fundamento do concurso de leis é a coincidência parcial das normas penais,
sendo, pois, incompatíveis, afastam, por razões lógicas, o referido conflito.
Na realidade, ou não se trata de fato único, mas de fatos múltiplos, que se
excluem mutuamente, assim como as disposições legais que lhes correspondem, ou
então se trata de fatos que se enquadram nos critérios da especialidade ou
subsidiariedade.
Percebe-se, então, que toda ação que realiza o tipo do infanticídio realiza o do
homicídio, mas nem toda ação que se subsume ao homicídio tem enquadramento no
tipo do infanticídio.
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Haverá, portanto, uma norma mais ampla, porque descreverá um grau maior de
violação ao bem; será a norma primária ou principal. Existirá, ainda, outra menos
ampla, pois descreverá um grau inferior de violação a esse mesmo bem; será a norma
subsidiária ou famulativa.
Assim, por exemplo, o crime de roubo será agravado quando o agente utilizar,
como meio executório, arma de fogo (CP, art. 157, § 2º, I). Caso se apure que o ofendido
não portava absolutamente nenhum bem consigo, será aplicada a figura do art. 17 do
CP (crime impossível), afastando-se o delito patrimonial. O juiz, todavia, não deverá
simplesmente absolver o réu, mas, sim, condená-lo por porte ilegal de arma de fogo
(Lei n. 10.823/2006, art. 14), o qual atuará como “soldado de reserva”.
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27 Exemplo: art. 132 do CP, que define como crime o ato de expor a vida ou a saúde de
outrem a perigo direto e iminente, punindo-o com detenção, de três meses a um ano, se o fato
não constitui crime mais grave. Se o agente, v.g., efetua disparos de arma de fogo em direção à
vítima, para matá-la, embora ela não seja atingida, responde por tentativa de homicídio (norma
primária), deixando de aplicar-se o delito mencionado anteriormente (norma subsidiária).
28 Exemplo: a omissão de socorro, que é crime autônomo, é também prevista como causa
de aumento de pena do homicídio e da lesão corporal culposos. Isto ocorre tanto no Código
Penal (Arts. 121, § 4º, 129, § 7º, e 135) quanto no Código de Trânsito Brasileiro (Arts. 302,
parágrafo único, 303, parágrafo único, e 304). Dessa forma, se uma pessoa dirige
imprudentemente seu veículo e atropela outra, ferindo-a gravemente, e, em seguida, deixa de
lhe prestar socorro, não comete dois crimes: lesão culposa agravada pela omissão de socorro
(art. 303, parágrafo único, do CTB) e omissão de socorro no trânsito (art. 304 do CTB), mas
somente o primeiro, o qual constitui norma primária, dada a relação de subsidiariedade entre
eles
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É o que ocorre entre os atos preparatórios puníveis, seguidos dos atos executórios
e, por fim, da consumação (todos inseridos no mesmo iter criminis). Por exemplo: o
indivíduo que porta consigo uma faca (porte de arma branca — ato preparatório
punível), brande o instrumento (ato executório) e golpeia a vítima, ferindo-a
(consumação), responde somente pelo crime-fim, ou seja, pela lesão corporal.
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são considerados meios necessários e integrantes normais do iter criminis de uma ação
principal.
Casos como esses não se confundem com o conflito aparente de normas, embora,
tais fatos sejam absorvidos pelo principal, a exemplo do que ocorre com o princípio da
consunção. Com efeito, apesar da possibilidade de configurar uma pluralidade de ações,
em sendo naturalista, que ofendam o mesmo bem jurídico e, normalmente, sejam
orientadas pelo mesmo motivo que levou à prática do ato principal; apesar de, a
princípio, ser possível a punição autônoma, pois legalmente previstos como figuras
típicas, não passam, in concreto, de simples preliminares (fatos anteriores) ou meros
complementos (fatos posteriores) do fato principal. Nesses casos, a punição do fato
principal abrangê-los-á, tornando-os, isoladamente, impuníveis. Os fatos posteriores
que significam um “aproveitamento” do anterior, aqui considerado como principal, são
por este consumidos.
Para alguns autores, nas hipóteses de antefato impunível ocorre uma espécie de
subsidiariedade tácita. Não parece a definição mais adequada, considerando esse
entendimento em termos de consequências, isto é, sob o ponto de vista prático, pois
não decorre de uma alteração in concreto. Contudo, quando se trata de pós-fato
impunível, inegavelmente, está-se diante do princípio da consunção. Normalmente,
esse episódio ocorre com atos que não são adequados ao exaurimento do crime
consumado, que, no entanto, também estão previstos como crimes autônomos. Com
efeito, a punição daquele absorve a destes. Assim, no exemplo do ladrão que, de posse
da res furtiva, a deteriora pelo seu uso, a punição pela lesão resultante do furto absorve
a punição pela lesão decorrente do dano.
No entanto, se o agente vende a coisa a terceiro de boa-fé, comete estelionato em
concurso material com crime de furto, pois produziu nova lesão autônoma e
independente contra vítima diferente, com outra conduta que não era consequência
natural e necessária da anterior.
Em síntese, deve-se considerar absorvido pela figura principal tudo aquilo que,
enquanto ação – anterior ou posterior – , seja concebido como necessário, assim como
tudo o que dentro do sentido de uma figura constitua o que normalmente acontece
(quod plerumque accidit). No entanto, o ato posterior somente será impune quando
com segurança possa ser considerado como tal, isto é, seja um autentico ato posterior e
não uma ação praticada contra outra pessoa, mas pela natureza do fato praticado em
relação à capacidade de absorção do fato anterior.
Segundo André Estefam e Vitor Eduardo Rios Gonçalves, ocorre o ante factum
impunível quando o agente realiza uma conduta criminosa visando praticar outra, em
que a primeira esgotará toda a sua potencialidade lesiva. A ação ou omissão anterior
não possui razão de ser, senão para viabilizar a prática da seguinte, em que produzirá
todo seu malefício.
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prestará a nenhum outro golpe, a não ser aquele já consumado. É exatamente isso que
preconiza a Súmula n. 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais
potencialidade lesiva, é por este absorvido”.
Cite-se, como exemplo, o dano (CP, art. 163) da coisa recém-subtraída (CP, art.
155): o indivíduo furta o relógio da vítima e, já distante, quando consumada a infração
patrimonial, nota que o objeto não possui o valor que esperava e, raivoso, danifica-o. O
dano representa, nesse caso, um pós-fato impunível por não ter o condão de agravar o
malefício já produzido ao patrimônio do sujeito passivo.
Teoria do crime
1. Aspectos introdutórios
A teoria do crime preocupa-se com o estudo de elementos que possibilitam a
compreensão do necessários para a configuração do crime (Teoria geral do
delito), bem como com os pressupostos necessários à imposição da pena
(Teoria Geral da Pena).
Segundo Zaffaroni, a teoria do delito é uma construção dogmática, que nos
proporciona o caminho lógico para averiguar se há delito em cada caso concreto.
A par disso, pode-se afirmar ser o crime, o delito, a infração penal a pedra de
toque da teoria abaixo estudada.
Para tanto necessário discernir dos vocábulos usados para identificar o objeto de
estudo.
Pois bem, de inicio observa-se que o conceito de infração penal pode variar
conforme o enfoque.
Sob o enfoque formal, infração penal é aquilo que assim está rotulado em
uma norma penal incriminadora, sob ameaça de pena.
Num conceito material, infração penal é comportamento humano causador de
relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, passível de
sanção penal.
O conceito analítico leva em consideração os elementos estruturais que compõem
infração penal, prevalecendo fato típico, ilícito e culpável.
No Brasil, infração penal é gênero, podendo ser dividida em crime (ou delito)
e contravenção penal (ou crime anão, delito liliputiano ou crime vagabundo), adotou-
se o sistema dualista ou binário.
Entretanto essas espécies, no entanto, não guardam entre si distinções de
natureza ontológica (do ser), mas apenas axiológica (de valor), ou seja qualquer crime
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ou contravenção em sua essência são a mesma coisa, entretanto, pelo direito brasileiro,
por uma questão de política criminal, são valorados de forma distinta.
Assim, observa-se que os crimes serão punidos com penas mais severas (reclusão
ou detenção), enquanto as contravenções penais com penas menos severas
(destacando-se a prisão simples, art. 6° da LCP, que não segue os rigores penitenciários
daquelas).
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Art. 109: “Aos juízes federais compete processar e julgar: IV - os crimes políticos e as
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2. Conceito de crime
2.1. Conceito formal
Sob o enfoque formal, crime é aquilo que está estabelecido em uma norma penal
incriminadora, sob ameaça de sanção penal.
3. Sujeitos do crime
3.1. Sujeito ativo
3.1.1. quem pode figurar como sujeito ativo de uma ação penal?
Sujeito ativo é o autor da infração penal.
Pode figurar como sujeito ativo de uma infração penal a pessoa física, com idade
igual ou superior a dezoito anos e capaz.
Há três correntes acerca da possibilidade de a pessoa jurídica figurar como sujeito
ativo de crime:
1ª corrente: a pessoa jurídica não pratica crimes nem pode ser responsabilizada
criminalmente. A responsabilidade penal da pessoa jurídica ofende:i) o princípio da
responsabilidade subjetiva (trata-se de responsabilidade sem dolo e sem culpa); ii) o
princípio da culpabilidade;iii) o princípio da responsabilidade pessoal (configurando
responsabilidade coletiva); e iv) o princípio da personalidade da pena (a pena passa da
pessoa do delinquente).
2ª corrente: a pessoa jurídica pode ser autora de crimes ambientais, sendo por
eles responsabilizada penalmente (Lei 9.605/1998). Isso porque:i) trata-se de
responsabilidade objetiva (sem dolo e sem culpa) autorizada pela própria CR;ii) a
pessoa jurídica deve responder por seus atos, adaptando-se o juízo da culpabilidade às
suas características; e iii) a responsabilização penal não viola o princípio da
personalidade da pena, transmitindo-se, eventualmente, os efeitos da condenação.
3ª corrente:apesar de a pessoa jurídica ser um ente autônomo e distinto de seus
membros, dotado de vontade própria, não pratica crimes, mas pode ser
responsabilizada penalmente (art. 3º da Lei 9.605/1998). Trata-se de responsabilidade
penal social:
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas
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46
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Pessoa jurídica pode ser vítima de extorsão mediante sequestro, desde que
atingida no seu patrimônio. Sequestra-se a pessoa física, mas quem paga o resgate é a
pessoa jurídica. Nesse caso, ela também será vítima do crime.
Pessoa jurídica pode ser vítima de crime contra a honra?
4. Objeto material
Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa.
Ele não pode ser confundido com o sujeito passivo. Ex.: se “A” furta a carteira de
“B”, o sujeito ativo é “A”, o sujeito passivo é “B” e o objeto material é a carteira. Há
crimes, como o homicídio, em que os dois institutos se confundem.
Em regra, não existe crime sem objeto material. Há, todavia, exceções
doutrinárias: ato obsceno e falso testemunho.
5. Objeto jurídico
Objeto jurídico é o bem ou interesse tutelado pela norma.
Delitos pluriofensivos são os que lesam ou expõem a perigo mais de um bem
jurídico. Ex.: o latrocínio tem como bens jurídicos a vida e o patrimônio.
Não se admite delito sem objeto jurídico. Para que haja crime, é imprescindível
um direito ou bem tutelado pela norma. Crime sem proteger nenhum interesse é um
uso ilegítimo do direito penal.
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29 Bettiol é o autor que chama fato típico, antijurídico e culpável de “substratos” do crime.
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corporal do agente, e de um aspecto interno, vontade de fazer ou não fazer (conteúdo final da
ação). A ação seria, portanto, composta de vontade, movimento corporal e resultado, porém a
vontade não está relacionada à finalidade do agente, elemento analisado somente na
culpabilidade.
31 A finalidade especial do agente é o que característica a teoria finalista.
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33 Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou
nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena
- reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos,
e multa, se o documento é particular.
34 Que acreditava que todas as ciências deveriam ser analisadas através de uma mesma forma
de observação (a forma causal).
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Reconhece que o direito não é uma ciência exata, do ser, mas sim, uma ciência do
“dever ser”
Por isso, abandona a idéia de que a conduta seria o que é apenas perceptível pelos
sentidos, e admite a existência de elementos normativos ou valorativos e
subjetivos, contrariando os causalistas que apenas admitem critérios objetivos.
Dessa forma conduta é um comportamento humano voluntário causador de um
resultado.
Observa-se que para o causalista, conduta é ação humana. O neokantista fala em
comportamento humano, que abrange ação e omissão.
O objetivo desta teoria foi corrigir a lacuna do sistema clássico, no tocante à
culpabilidade. Entendeu-se que a culpabilidade não se restringia ao dolo ou a culpa,
abarcando também a reprovabilidade.
A culpabilidade passa a significar reprovabilidade (que é um juízo de valor). A
análise unicamente do dolo ou da culpa não possui a essência da culpabilidade – só é
culpável o comportamento digno de censura e reprovação.
Mas como se determinar a reprovabilidade de um comportamento?
Para que houvesse uniformização e, consequentemente, segurança jurídica, era
necessário trazer um conceito para a reprovabilidade.
O critério escolhido foi a possibilidade de o indivíduo agir ou não de forma diversa
(exigibilidade de conduta diversa), assim era necessário analisar se a pessoa podia ou
não agir de maneira diversa, evitando o delito.
Ora, as pessoas são livres para escolher seu caminho, devendo ser recompensadas
pelas boas escolhas, e sofrer as conseqüências pelas más escolhas. Para que alguém
possa, de fato, sofrer a conseqüência negativa da má escolha, é necessário que na
situação concreta tenha havido real condição de optar.
Se o agente não podia agir de outro modo, se os fatores externos à conduta não
davam ao agente condição de escolher, não poderá haver punição (não houve má
escolha, mas sim falta de escolha).
Este pensamento resulta no fato de a culpabilidade depender do exame da
possibilidade de exigir outra conduta do agente – é a exigibilidade de conduta
diversa.
A culpabilidade passa a conter elementos (e não as espécies dolo e culpa, como no
Sistema Clássico). São eles:
i) Imputabilidade
ii) Dolo ou culpa
iii) Exigibilidade de conduta diversa
Assim, a culpabilidade deixa de ter aspectos apenas subjetivos, passando a ter juízo
de valor (= elemento normativo). Passa a ter natureza normativa.
36 Como elementos subjetivos retratam uma finalidade especial do agente, como se pode
analisar um fim especial do agente, se nem ao menos se analisa no tipo o fim especial, ou seja, o
dolo e a culpa, que ainda estão na culpabilidade.
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38 Isso porque, para Roxin, a missão do direito penal é proteger bens jurídicos
indispensáveis ao homem.
39 Foi o que ocorreu em SP, com os ataques do PCC, em que a sociedade apenas temeu os
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incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por
inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações
políticas clandestinas ou subversivas. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.
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ao bem jurídico
tutelado46.
Funcionalismo Fato típico, Éo comportamento É imputabilidade, Dolo e culpa na
Sistêmico antijurídico e humano exigibilidade de conduta (fato
(Jakobs) culpável. voluntário, conduta diversa e típico).
violador do potencial
sistema, frustrando consciência da
as expectativas ilicitude.
normativas47.
1. Aspectos gerais
1.1. Conceito
É um fato humano, indesejado que, norteado pelo princípio da intervenção
mínima, consiste numa conduta causadora de um resultado, com ajuste formal,
material a um tipo penal (tipicidade) 48.
Assim, pelo conceito é possível extrair os requisitos do fato típico: 1. Conduta;
2. Resultado; 3. Nexo Causal e 4. Tipicidade penal.
Obs.: A tipicidade penal não se confunde com o tipo penal, este é apenas o
modelo de conduta proibido pela norma49. Aquela, é o modelo de conduta
proibida pela norma, é requisito do fato típico.
46 Para Roxin, a missão do direito penal é proteger bens jurídicos indispensáveis ao homem.
47 Para Jakobs, a missão do direito penal é resguardar o sistema (aquele que não respeita o
sistema é seu inimigo: direito penal do inimigo).
48 Fato típico, portanto, pode ser conceituado como ação ou omissão humana,
antissocial que, norteada pelo princípio da intervenção mínima, consiste numa conduta
produtora de um resultado que se subsume ao modelo de conduta proibida pelo Direito Penal,
seja crime ou contravenção penal
49 Ex. é a conduta “matar alguém” descrita no Art. 121 do Código Penal,
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2. Conduta
A conduta, como acabamos de apresentar, é um dos elementos do fato típico, e,
uma vez ausente, não se pode falar em crime (nullum crimen sine conducta), assim não
há crime sem conduta.
Entretanto, há doutrina que nega a responsabilidade da pessoa jurídica pois, o
ente coletivo não tem conduta, mas é conduzido, mas prevalece ser possível
responsabilizar penalmente pessoa jurídica autora de crimes ambientais, pois a própria
Constituição Federal (Art. 225, § 3º50) admite essa possibilidade, cabendo a doutrina
conformar suas lições à esse mandamento.
Segundo Rogério Greco, “a ação, ou conduta, compreende qualquer
comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo), podendo ser
ainda dolosa (quando o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado) ou
culposa (quando o agente infringe o seu dever de cuidado, atuando com negligência,
imprudência ou imperícia) .
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Culpabilidade
ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o
resultado que podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria
51 Alguns entendem que o finalismo adotado é o alemão, entretanto, outros entendem que
(ImPoEx).
53 Copiar a nota de rodapé 31 do livro do Rogério Sanches.
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ii. Involuntariedade:
Há uma ausência na direção da conduta de acordo com a sua finalidade.
a. atos reflexos imprevisíveis:
traduz-se num sintoma de reação automática do organismo a um estimula
externo, é um movimento desprovido de vontade.
Entretanto, para excluir a conduta, o ato reflexo deve ser imprevisível, pois se era
previsível e acaba acontecendo, aquele que o pratica pode responder pelo crime doloso
ou culposo, se o caso. Ex.: o sujeito que limpa uma arma na frente de uma criança
responde pelo crime se ela dispara por conta de um susto sofrido por ele.
Obs.: Segundo Flávio Monteiro de Barros, há uma diferença entre os movimentos
reflexos e as “ações em curto-circuito54”, Nestas existe vontade de praticar o ato, vez
que oriunda de um movimento relâmpago provocado por excitação.
b. estado de inconsciência:
Exemplos de estado de inconsciência são o sonambulismo e a hipnose. Se o
sonâmbulo mata alguém, o fato é atípico pela ausência de conduta.
iii. Coação Física Irresistível:
O Coagido é impossibilitado de determinar seu movimentos de acordo com a sua
vontade55.
Crime doloso
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2.4.1.2. Conceito
Segundo a doutrina, “dolo é a vontade livre e consciente de realizar ou aceitar
realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador”.
Dolo é consciência e vontade.
O equívoco desse conceito, entretanto, está na palavra “livre”. A existência ou não
de liberdade na vontade é matéria a ser analisada na culpabilidade (mais precisamente
na exigibilidade de conduta diversa), e não no dolo56.
Há quem diga que o doente mental não tem dolo, mas não é o que prevalece. Ele
tem consciência e vontade, dentro de seu precário mundo valorativo. Caso contrário,
não haveria como aplicar a medida de segurança, que pressupõe fato típico e ilícito. O
mesmo com relação aos demais inimputáveis.
A noção de dolo não se esgota na realização do resultado, podendo abranger
também o resultado demais circunstâncias da infração penal.
2.4.1.3. Elementos
Do conceito acima, extraem-se os elementos do dolo:
i. Elemento intelectivo: consciência Consciência da conduta e do
resultado.
ii. Elemento volitivo: vontade Vontade de praticar a conduta típica.
A liberdade, como visto, não é elemento do dolo, mas uma circunstência a ser
analisada na culpabilidade.
56 Fosse o caso de ser um dos elementos do dolo, a coação moral irresistível excluiria de
mas no dolo ele aceita o resultado, e na culpa consciente ele acredita que o resultado não vai
acontecer
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Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
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propósito
16. D. de ímpeto É um dolo repentino. Defende-se que esse dolo repentino é uma circunstância
atenuante.
Crime culposo
negligência ou imperícia.
2.4.2.2. Conceito
O crime culposo consiste numa conduta voluntária que realiza um fato ilícito não
querido ou aceito pelo agente, mas que foi por ele previsto (culpa consciente) ou lhe
era excepcionalmente previsível (culpa inconsciente) e podia ser evitado se o agente
atuasse com a cautela necessária.
Culpa é a quebra do dever objetivo de cuidado.
No art. 33, II, do CPM, há um conceito legal de crime culposo:
Culpabilidade (...)
ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o
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58 Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica
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Código Penal, deve estar presente a relação de causalidade entre a ação ou omissão
voluntária e o resultado involuntário.
v. Previsibilidade do resultado involuntário:
Previsibilidade é a possibilidade de conhecer o perigo advindo da conduta.
Não se confunde com previsão, em que o agente conhece o perigo. No crime
culposo basta a previsibilidade, não sendo necessária a efetiva previsão.
Não se descarta a culpa desde que o agente acredite poder evitar o resultado, é o
claro caso da culpa consciente.
Obs.: A doutrina fala em: 1. Previsibilidade objetiva do resultado, traduzida
na possibilidade do portador de inteligência mediana ser capaz de concluir que sua
conduta pode resultar no ilícito; 2. Previsibilidade subjetiva, entendida como a
possibilidade de conhecimento do perigo analisada sob o prisma subjetivo do autor,
levando em consideração seus dotes intelectuais, sociais e culturais59.
vi. Tipicidade (art. 18, parágrafo único, do CP):
Art. 18 (...) Parágrafo único- Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode
ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica
dolosamente.
Art. 180 (...) § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela
presumir-se obtida por meio criminoso: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
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Art. 20 (...) § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas
circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não
há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime
culposo.
Trata-se daquela em que o agente, por erro evitável, fantasia certa situação de
fato, supondo estar agindo acobertado por uma excludente de ilicitude (descriminante
putativa) e, em razão disso, provoca intencionalmente um resultado ilícito.
Apesar de a ação ser dolosa, o agente responde por culpa por razões de
política criminal. A estrutura do crime é dolosa (conduta voluntária + resultado
voluntário) há consciência e vontade, porém ele é punido como se culposo fosse.
São sinônimos de culpa imprópria: culpa por extensão, por assimilação ou por
equiparação.
Consciência Vontade
Dolo direto O agente prevê o resultado. O agente quer o resultado.
Dolo eventual O agente prevê o resultado. O agente assume o risco de
produzir o resultado, aceitando-o.
Culpa consciente O agente prevê o resultado. O agente acredita que o resultado
não vai ocorrer.
Culpa inconsciente O agente não prevê o O agente não tem vontade de
resultado, que era realizá-lo (obviamente).
previsível.
A dificuldade em diferenciar dolo eventual e culpa consciente não é teórica, mas
prática. O “racha“, para os Tribunais Superiores, é dolo eventual. Todavia, em prova da
Defensoria, deve-se alegar que se trata de culpa consciente. A embriaguez, sem racha, é
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Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,
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Consequências: Essa espécie de erro de tipo não exclui dolo, não exclui
culpa e não isenta o agente de pena. O agente responderá pelo delito,
considerando objeto material efetivamente atingido e não o desejado.62
Segundo o exemplo, o agente responderá por furto, considerando a coisa
efetivamente atingida (o objeto real) e não a coisa a que ele visava atingir (o objeto
projetado, virtual). Ou seja, o agente responderá por furto considerando o relógio de
latão (se poderia cogitar até de aplicação do princípio da insignificância, o que não seria
possível em relação ao objeto pretendido, relógio de ouro).
Atenção! Obs.: Zaffaroni tem um posicionamento no sentido de que, nesse
caso, se deve aplicar o princípio do in dubio pro reo, ou seja, deverá ser
considerado o objeto material mais favorável ao agente. Assim, não se vai
considerar efetivamente a coisa pretendida ou a coisa efetivamente atingida, mas a que
mais beneficie o réu. No exemplo, o objeto material mais favorável ao agente seria o
relógio de latão, porque ele permitiria a aplicação do princípio da insignificância.
3.1.1.1. Erro de tipo acidental sobre a pessoa: Art. 20, §3º, do CP.
Art. 20 (...) § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não
isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima,
senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
No erro de tipo sobre a pessoa, o agente, por erro, representa mal a pessoa visada,
atingindo outra, diversa da pretendida, não havendo erro na execução, mas na
representação, o agente confunde as vítimas do crime.
Apresentam-se então “duas vítimas” a virtual ou visada e a efetivamente atingida,
ou real.
Ex.: agente quer matar seu pai (vitima virtual), porém representando
equivocadamente quem entrava em casa no começo da noite, atira e percebe que quem
entrava, na verdade, era seu tio (vítima real)63.
Observe que, no erro sobre o objeto há “coisa X coisa”, ao passo que, no erro
sobre a pessoa, há “pessoa X pessoa”.
Consequências: O erro sobre a pessoa não exclui o dolo ou a culpa e, portanto,
não isenta o agente de pena. Assim, o agente responderá pelo crime
considerando-se as qualidades e as condições da vítima virtual.64
No exemplo, o agente vai responder por parricídio (homicídio do pai), mesmo seu
pai estando vivo. Veja que não há discussão sobre qual seria a consequência do erro de
tipo sobre a pessoa porque há expressa previsão legal a respeito. Quando o
legislador prevê a hipótese de erro de tipo, a solução do caso fica muito mais fácil.
Obs.: Zaffaroni entende que a segunda parte do dispositivo deve ser interpretada
com extremo cuidado. Primeiro, porque a lei fala em crime pressupondo ter sido
praticado um crime. Diante disso, quando uma ação é dirigida contra uma pessoa que
não possui as qualidades típicas necessárias para que a conduta possa ser considerada
crime, muito embora o agente, por erro, acredite possuir ela essas qualidades, não
existe crime consumado ou tentativa de crime. Aquele que, pretendendo oferecer
vantagem indevida a funcionário público, a oferece a vizinho deste, por erro quanto à
pessoa, pratica uma conduta atípica quanto ao art. 333, caput, do CP. E isso também
não constitui tentativa, porque não deu início à execução do crime de corrupção ativa,
porquanto nada ofereceu a um funcionário público. Consequentemente, quando, por
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erro quanto à pessoa, a ação é praticada contra um extraneus, não há crime por tratar-
se de uma conduta atípica.
3.1.1.2. Erro de tipo acidental sobre a execução (ou aberratio ictus): Art.
73, CP
O erro de tipo acidental na execução é também chamado de aberratio ictus,
envolve a relação “pessoaXpessoa”
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o
agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa
diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela,
atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também
atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste
Código.
No erro na execução, o agente, por acidente ou erro no uso dos meios de
execução, atinge pessoa diversa da pretendida, apesar de corretamente
representada, não há qualquer confusão mental65. Ex.: buscando matar seu pai, o
agente atira contra sua pessoa, mas, por erro na execução, acaba por atingir seu tio, que
estava ao lado do pai no momento do disparo.
Veja que, tanto no erro sobre a pessoa quanto no erro na execução, há “pessoa X
pessoa”, mas as figuras não se confundem. No erro sobre a pessoa, o agente representa
mal e executa bem, ao passo que, no erro na execução, o agente representa bem,
mas executa mal.
Consequências: O erro na execução não exclui o dolo e a culpa e,
portanto, não isenta o agente de pena. E o agente responderá pelo crime
considerando-se as qualidades e condições da vítima pretendida.
Mas o Art. 73 ainda trás uma diferenciação:
a. Aberratio Ictus com resultado único: Somente a pessoa diversa da
pretendida, o agente será punido considerando-se a qualidade da
vítima pretendida.66
b. Aberratio Ictus com resultado duplo ou Unidade Complexa: O agente atinge
também a pessoa pretendida, aqui, o agente responde pelos crimes
aplicando-se a regra do concurso formal (Art. 70, CP).
Há quatro situações possíveis quando se atinge mais de uma pessoa no erro na
execução:
1) o agente atira para matar A, mas acaba por atingir B, que morre. O agente
responde por homicídio de A (é a regra do art. 73 do CP).
2) o agente atira para matar A. A é atingido, mas não morre. Por erro na
execução, culposamente, o agente acaba por ferir B. O agente responde por tentativa de
homicídio de A e lesões culposas em B, em concurso formal de crimes (art. 70 do CP).
3) o agente atira para matar A. A morre, mas por erro na execução, acaba por
atingir culposamente B, que não morre. O agente responde por homicídio de A e lesões
culposas em B, em concurso formal de crimes (art. 70 do CP).
4) o agente atira para matar A. A fica ferido e, por erro na execução, acaba por
atingir B, que morre. Prevalece na doutrina que o agente responde por tentativa de
homicídio de A e homicídio consumado de A, em concurso formal de crimes. As
65 O que diferencia essa figura do erro sobre a pessoa, onde também há relação
“pessoaXpessoa”, mas a confusão é meramente mental.
66 Teoria da equivalência
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78
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68 Art. 121. (...) § 2° Se o homicídio é cometido: III - com emprego de veneno, fogo, explosivo,
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; Pena -
reclusão, de doze a trinta anos.
69Rogério observa que esse tema não é tratado dessa forma detalhada pelos manuais. Cezar
Roberto Bitencourt tem um manual específico sobre erro de tipo.
79
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Ex.: sujeito ignora que jurado é funcionário público para fins penais ouq ue
cheque é documento particular. Veja que, nesses dois exemplos, está-se diante de
interpretação jurídica equivocada.
O erro de subsunção não exclui o dolo ou a culpa, de modo que não
isenta o agente de pena. Assim, o agente responde pelo crime. Nesse caso, o erro
pode gerar, no máximo, uma atenuante de pena (art. 66 do CP, que prevê a
atenuante genérica/inominada):
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Inevitável
Essencial
Evitável
Sobre o Objeto
Erro de Tipo
Erro de Sobre a pessoa
Proibição
Acidental Na Execução (aberratio ictus)*
Resultado Diverso do Pretendido (aberratio
criminis)*
Sobre o Nexo Causal (aberratio Causae)*
81
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Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
pública:
Ex. não há um tipo penal que incrimina a conduta de “deixar de amamentar o filho
73
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Art. 13 (...)
abandonando a teoria das funções que defendia a tese de que seria garantidor o agente que
tivesse uma relação estreita com a vítima, mesmo que não existisse qualquer obrigação legal
entre eles.
83
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Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso
3. Resultado
Da conduta (ação ou omissão sem a qual não há crime) podem advir dois
resultados: naturalístico (presente em determinadas infrações) e normativo
(indispensável em qualquer delito)
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da vantagem indevida.
Nesse caso, a vantagem indevida é o resultado naturalístico dispensável para a
consumação de delito de extorsão.
iii) crime de mera conduta ou de mera atividade:
Nos crimes de mera conduta ou de mera atividade, o tipo penal descreve
somente conduta, sem resultado naturalístico (por isso, crime de mera conduta).
Ex.: violação de domicílio, omissão de socorro.
Assim, partindo da classificação acima, conclui-se que: i) o crime material tem
resultado naturalístico, e tal resultado é indispensável; ii) o crime formal tem resultado
naturalístico, mas tal resultado é dispensável; e iii) o crime de mera conduta não tem
resultado naturalístico descrito no tipo.
Entretanto, todo crime tem resultado normativo, requisito indispensável
em qualquer crime.
Qual dos dois resultados integra o fato típico: o normativo ou o naturalístico? Há
duas correntes:
1ª corrente: o resultado naturalístico.Quem concorda com essa corrente tem de
observar que crime material é composto de conduta, resultado, nexo e tipicidade e
crime formal e de mera conduta é composto de conduta e tipicidade.
2ª corrente: o resultado normativo. Para quem concorda com essa corrente,
pouco importa se o crime é material, formal ou de mera conduta. O crime será
constituído de conduta, resultado, nexo e tipicidade.
Hoje, vem prevalecendo na doutrina a segunda corrente.
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Ainda que não haja exigência de demonstração do perigo concreto. Para quem
adotam esse princípio, deve-se comprovar o perigo concreto. Fazem uma interpretação
conforme.
Importa frisar que os Tribunais Superiores75 entendem que são válidos
os crimes de perigo abstrato, pois constituem estratégia válida do legislador para
proteger bens jurídicos relevantes, coibindo eventuais agressões (a esses bens) em seus
estágios iniciais.
c) Crime de perigo abstrato de perigosidade real: o perigo advindo da conduta,
deve ser comprovado, mas dispensa a prova do risco à pessoas certa
e determinada, admitindo o perigo à pessoas difusas.
4. Nexo Causal
4.1. Conceito
Entre conduta e resultado, deve haver um vínculo, um liame, algo que os una.
Nexo de causalidade é o vínculo entre conduta e resultado.
O estudo da causalidade busca concluir se o resultado, como um fato, ocorreu da
conduta e se pode ser atribuído, objetivamente, ao sujeito ativo, inserindo-se na sua
esfera de autoria por ter sido ele o agente do comportamento.
Em ultima analise o nexo causal busca aferir se o resultado pode ser atribuído
objetivamente ao sujeito ativo como obra do seu comportamento típico.
Para atribuir o resultado é preciso estabelecer haver o nexo (critério de imputação).
O código penal adotou a Teoria da equivalência dos antecedentes
(conditio sine qua non).
Quando o legislador escolhe o modo de imputação confere ao sistema segurança
jurídica, de forma, a manter uniforme a aplicação do direito.
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quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
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Conforme salientado acima, adoção dessa teoria traz dois problemas notáveis:
A. Regresso ao infinito (ad infinitum)
O exemplo clássico é o do homicídio praticado com arma de fogo. É possível dizer
que, entre o ato de disparar os tiros e a morte, existe relação de causalidade.
Porém, se feito regresso nos antecedentes de forma infinita, se chegará na
conclusão de que a venda da arma ao criminoso deu causa do homicídio (o influenciou,
ainda que de forma pequena), bem como poderia se concluir que a fabricação desta
arma influenciou no homicídio, para a teoria da eliminação hipotética.
Embora correto no ponto de vista lógico, este raciocínio não é correto sob o ponto
de vista jurídico.
Apesar de reconhecer o problema dos regressos ao infinito, o legislador entendeu
ser dispensável resolver este problema de forma expressa no CP. Isso porque a Teoria
da ausência do dolo ou da culpa seria apta a resolver o problema.
No exemplo citado, o produtor e vendedor da arma não sabiam a finalidade que
seria dada a ela pelo sujeito, de forma que a ausência de dolo o isenta de
responsabilidade.
Entretanto, esta teoria não resolve todas as situações. Pode ser que o vendedor
soubesse que a arma seria utilizada para matar determinada pessoa X. Deveria o
vendedor ser responsabilizado pelo homicídio? Ora, existe nexo de causalidade entre
essa venda e o crime, e ele tinha conhecimento da intenção do comprador (havia dolo
no vendedor, não se aplicando a Teoria da ausência de dolo).
Assim, de forma exagerada e absurda, deveria se incluir na responsabilização
criminal o vendedor, que nada mais fez do que cumprir as normas de seu trabalho.
Nesta hipótese, o legislador previu uma solução no CP: art. 13, §1º:
89
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4.3. Concausas
O resultado, não raras vezes é feito de pluralidade de comportamentos, uma
associação de fatores, entre os quais a conduta do agente aparece com seu principal
(mas não único) elemento desencadeante.
Assim dessa pluralidade de comportamentos, derivam as efetivas causas do
resultado, que podem ser especificadas inicialmente em:
a) Causas Dependentes: são aquelas inseridas dentro da linha de
desdobramento causal natural da conduta. São aquelas consequências naturais
da conduta, eventos corriqueiros. Estes fatores se inserem dentro do quod
plenum que accidit, ou seja, dentro da linha de desdobramento causal esperada
(aquilo que normalmente acontece).
Ex. duas pessoas discutem. Uma pessoa pega o facão e o crava na pessoa
com quem discutia. Nesse caso, o choque hemorrágico é o resultado esperado
dentro da conduta.
4.3.1. Conceito
As concausas consistem na pluralidade de causas concorrendo para o mesmo
resultado. Ex.: “A” dá veneno à vítima, que morre em razão da queda de um lustre na
cabeça. No exemplo, há “causa efetiva”, que é a queda do lustre, e a “causa
concorrente”, que é o envenenamento. Quem envenenou, mas viu a vítima morrer da
queda do lustre, responde por crime?
4.3.2. Espécies
As concausas podem ser divididas em dois grupos, absoluta ou relativamente
independentes.
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Quando presentes tais causas, não haverá nexo entre conduta e resultado. Basta
utilizar o método da eliminação hipotética. Ao eliminar hipoteticamente a conduta,
percebe-se que o resultado se mantém.
Se as concausas forem absolutamente independentes, qualquer que seja o
momento, preexistente, concomitante, ou superveniente, haverá rompimento do
nexo causal e o agente não vai responder pelo resultado.
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4.3.2.2.1.
Concausas relativamente independentes
preexistentes
As concausas relativamente independentes são preexistentes quando a causa
efetiva antecede a concorrente.
Ex.: às 20 horas, “A” deu um golpe de faca para matar a vítima, mas a lesão foi
leve. A vítima, no entanto, era hemofílica e, apesar de a lesão ter sido leve, não foi
possível estancar o sangue. A vítima morre em decorrência dos desdobramentos da
doença. A hemofilia foi a causa efetiva da morte. O golpe de faca é uma causa
concorrente. Existe entre as causas uma relação de independência relativa (causalidade
simples: sem a facada, a hemofilia não se manifestaria). A hemofilia é causa
preexistente. A causa concorrente será punida por crime consumado (homicídio), pois é
possível imputar o resultado à causa concorrente.
Obs.: A jurisprudência e a doutrina modernas, no exemplo do hemofílico, só
atribuem o resultado à causa concorrente se o agente tinha conhecimento da doença
preexistente, para evitar responsabilidade penal objetiva.
4.3.2.2.2.
Concausas relativamente independentes
concomitantes
As concausas relativamente independentes são concomitantes quando a causa
efetiva ocorre ao mesmo tempo em que a concorrente.
Ex.: às 19 horas, “A” dispara contra a vítima que, em razão dos disparos, tem
parada cardíaca e morre. A causa efetiva é a parada. A concorrente é o disparo. A
relação entre ambas é de independência relativa (causalidade simples). As causas
efetiva e concorrente são concomitantes. A causa concorrente será punida por crime
consumado (art. 13, caput, do CP), pois sem ela o resultado não teria ocorrido.
O agente responde se a causas relativamente independentes eram conhecidas ou
previsíveis, para que se evite a responsabilização penal objetiva.
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exemplo, quem deu o tiro não responde por homicídio consumado, mas tentado, na
medida em que o evento que causou o resultado era imprevisível. Aqui, não se trabalha
com a causalidade simples (eliminando-se a conduta, o resultado não aconteceria).
Caso contrário, não seria possível excluir a responsabilidade do atirador por
consumação. Aqui, trabalha-se com causalidade adequada.
O art. 13, caput, como visto, trabalha com causalidade simples, atribuindo-se
o resultado a quem lhe deu causa (conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido).
Já o art. 13, § 1º prevê a causalidade adequada, isto é, somente haverá imputação do
resultado se, no conjunto das causas, fosse a conduta do agente, consoante as regras de
experiência comum, a mais adequada à produção do evento.
ii) Aquela que não produz o resultado por si só:
Nesta hipótese, a causa efetiva está na linha de desdobramento causal
normal da causa concorrente (trata-se de evento previsível, que não se confunde
com evento previsto). A causa concorrente e a causa efetiva estão na mesma linha de
desdobramento causal normal (a causa efetiva não toma um rumo inesperado). Como
consequência, o resultado deve ser atribuído à causa concorrente.
Ex. 1: “A” dá um tiro na vítima, que vai ao hospital, onde ocorre um erro médico
durante a tentativa de salvá-la. Ela morre em decorrência do erro médico. Trata-se de
concausa relativamente independente superveniente que não por si só produziu o
resultado. O erro médico é algo previsível, de modo que o resultado morte pode ser
atribuído ao autor do disparo.
Ex. 2: imagine a vítima do tiro indo ao mesmo hospital que, em vez da queda ou
do erro médico, morre de infecção hospitalar. Há doutrina e jurisprudência para ambos
lados. Todavia, em prova do CESPE, a infecção hospitalar é tratada da mesma forma do
erro médico (ou seja, é uma causa que está na linha de desdobramento causal normal).
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ou incremento do risco, de modo que não haverá nexo normativo. Para a teoria da
imputação objetiva, ela sequer é causa do resultado.
Exemplo 2: dirigir em alta velocidade aumenta o risco não permitido, realiza o
risco no resultado e o risco está abrangido pelo tipo penal. O agente que mata alguém
será responsabilizado criminalmente.
Analisada segundo o enfoque da doutrina tradicional (causalidade simples),a
causalidade objetiva regressa ao infinito. A teoria da imputação objetiva surgiu para
colocar um freio nesse regresso.
Em resumo: insurgindo-se contra o regresso ao infinito da causalidade simples, a
teoria da imputação objetiva enriquece a relação de causalidade, acrescentando um
nexo normativo, composto de: i) criação ou incremento de um risco não permitido; ii)
realização do risco no resultado (resultado na mesma linha de desdobramento causal
normal da conduta); e iii) risco abrangido pelo tipo penal.
Importante observar que a teoria da imputação objetiva não substitui a teoria do
nexo causal, apenas a complementa. Busca resolver o problema da distinção entre ação
e acaso, para dizer se um acontecimento é ou não obra de um sujeito.
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4.4.5.1.
Princípios da Teoria da imputação objetiva, segundo
Jakobs:
i) Princípio do risco permitido
Se o risco for permitido, a imputação estará afastada.
ii) Princípio da confiança
Não há imputação quando o agente pratica uma conduta lícita na confiança de
que os outros também o farão, cumprindo cada um o seu papel social, ainda que estes
não o façam.
Ex: pessoa conduz seu automóvel em via pública. Em via secundária, percebe que
outro motorista vem na mesma velocidade. Por estar na via principal, o motorista
mantém a velocidade, acreditando que o outro motorista cumprirá seu papel e o dará
preferência.
Caso o outro motorista não o faça, e um terceiro morra, quem será responsável?
Ora, há nexo causal entre a conduta do motorista e a morte. Porém, a imputação
em relação ao motorista da via principal se afasta, pois abarcado pelo princípio da
confiança.
iii) Princípio da proibição do regresso
Uma conduta inicial lícita não conduz à responsabilidade por atos ilícitos
subseqüentes praticados por terceiro.
Ex: cidadão que compra uma arma em determinada loja, sendo que o lojista,
ouvindo sua conversa no celular, descobre que o cidadão vai matar pessoa pública.
Ainda assim, o vendedor realiza a venda e a morte ocorre.
Pela Teoria da Equivalência, há nexo de causalidade entre a venda da arma e a
morte (vendedor seria responsabilizado).
A Teoria tradicional não responsabiliza o vendedor por ausência de dolo, mas não
explica a situação na qual o vendedor vende a arma desejando a morte da vítima.
A Teoria da imputação objetiva, pelo princípio da proibição do regresso, exclui a
imputação nesta hipótese de forma satisfatória.
iv) Princípio da capacidade ou competência da vítima
O consentimento do ofendido exclui a imputação.
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Para Jakobs, tanto faz se o bem jurídico é disponível ou não. Porém, para aplicar
este princípio ao direito brasileiro, o bem jurídico deverá ser disponível.
5. Tipicidade Penal
É a relação de subsunção entre o fato concreto e a norma penal/modelo legal,
somada à lesão ou ameaça de lesão ao bem penalmente protegido.
Portanto, a tipicidade é dotada por 2 aspectos:
a) Formal – subsunção do fato à norma
b) Material – relevância da lesão ou ameaça de lesão ao bem protegido
Tipicidade é um juízo de adequação, de subsunção, do fato concreto ao
tipo legal, é o enquadramento do fato no tipo legal.
Entretanto, a simples tipicidade formal não permite concluir pela tipicidade
penal, sendo imprescindível analisar a tipicidade sobre a ótica material.
Se o agente matar a vítima, vai haver tipicidade, isso porque esse fato se enquadra
no tipo “matar alguém” do art. 121, do Código Penal.
A natureza jurídica da tipicidade é a constatação de que ela é um elemento do fato
típico, logo, sem tipicidade, o fato será atípico.
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Por isso o princípio da insignificância exclui o fato típico: ele exclui a tipicidade
material, que exclui a tipicidade penal (componente do fato típico). Desaparecido o fato
típico, não há crime.
Zaffaroni, não se conformando com a teoria da tipicidade material, criou a teoria
da tipicidade conglobante.
Para o autor, a tipicidade é composta de tipicidade formal acrescida da tipicidade
conglobante (a qual, por sua vez, é composta de tipicidade material acrescida de atos
antinormativos, que são aqueles não determinados ou não incentivados por
lei). Ou seja, somadas a tipicidade material e a antinormatividade do ato, há tipicidade
conglobante.
Exemplos:
i) na subtração de um veículo automotor, há tipicidade formal e conglobante: o
ato não estava determinado e não era incentivado em lei;
ii) na subtração de uma caneta BIC, há tipicidade formal, mas não a conglobante:
o ato, apesar de ser normativo, não possui tipicidade material;
iii) na realização de penhora de bens por oficial de justiça, mediante o auxilio de
força policial, para a doutrina clássica, haveria tipicidade formal, acobertada pela
excludente de ilicitude do estrito cumprimento de dever legal (o devedor resistiu e viu o
auxilio da força policial gerar a penhora de seus bens, conduta essa que, analisada com
cautela, enquadra-se no tipo de roubo, pois o oficial assenhora-se de bens de outra
pessoa com emprego de violência). A teoria de Zaffaroni não quer sequer que o fato seja
típico. Trata-se de um ato normativo, pois a lei exige do oficial que haja daquela
maneira.
Perceba que, com a tipicidade conglobante, o estrito cumprimento de um dever
legal e o exercício regular de um direito incentivado deixam de excluir a ilicitude
e passam a excluir o próprio fato típico79. Isso porque são atos determinados ou
incentivados por lei.
Assim, pode-se afirmar que a tipicidade conglobante é um corretivo da
tipicidade penal, tendo como requisitos a tipicidade material (relevância da lesão ou
perigo de lesão ao bem jurídico) e a antinormatividade do ato (ato não determinado ou
não incentivado por lei). Como consequência, o estrito cumprimento de um dever legal
e o exercício regular de direito incentivado deixam de excluir a ilicitude para excluírem
a tipicidade80.
Vale observar que o estado de necessidade e a legítima defesa continuam
excluindo a ilicitude, pois são ações meramente toleradas por lei. Não são não
incentivados nem determinados. São, portanto, antinormativos.
Zaffaroni pensou no ordenamento jurídico de forma geral, conglobada. Para
ele, as pessoas vivem num ordenamento jurídico, que, portanto, pressupõe ordem. A
partir do momento em que o fato é considerado, ao mesmo tempo, uma penhora
forçada, determinada pelo Direito Processual Civil, e fato típico, do ponto de vista
penal, isso passa a ser uma desordem.
A maioria entende que o Delegado é o senhor da tipicidade formal provisória. A
tipicidade material e a conglobante são matérias de análise exclusiva do titular da ação
penal.
79 Assim, adotar a teoria de Zaffaroni é dizer que são discriminantes apenas a Legitima
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Ilicitude (Antijuridicidade)
A ilicitude ou antijuridicidade é o segundo substrato81 do crime para todas as
correntes, desde o causalismo até o funcionalismo. Não há divergência a esse respeito.
1. Aspectos iniciais
1.1. Conceito
Ilicitude é “a relação de contrariedade entre o fato típico e o ordenamento
jurídico como um todo, desde que não haja qualquer exceção determinando,
fomentando ou permitindo a conduta típica”.
É uma conduta típica não justificada, espelhando a relação de contrariedade entre
o fato típico e o ordenamento jurídico como um todo, assim, sendo um fato típico não
justificado, diz-se que também é ilícito.
81 Lembrando que crime para a teoria tripartite é Fato típico, antijurídico e culpável.
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de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo
evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
exigir-se.
enfrentar o perigo.
2.1.1. Conceito
Considera-se em estado de necessidade quem pratica um fato típico, para salvar,
de perigo atual, direito próprio ou de terceiro, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não
era razoável exigir-se.
Assim, se há dois bens em perigo de lesão, o Estado permite que seja sacrificado
um deles, pois, diante do caso concreto, a tutela penal não pode salvaguardar ambos.
Assim pode-se afirmar que o fundamento jurídico do estado de necessidade
reside no conflito de interesse diante da situação adversa, remetendo a ideia de
sopesamento de bens diante dessa situação, atuando o agente no espírito de
conservação, proteção, preservação do bem jurídico em risco.
84 Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio de salvar a vida
da gestante; II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal [cuidado com a expressão “não se
pune”, pois ela não exclui a punibilidade, mas a ilicitude].
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ATUAL
Direito próprio
ou alheio PERIGO INEVITÁVEL
Conhecimento
de situação
justificante
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quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado
§ 2.° A omissão é penalmente relevante quando o omitente podia e devia agir para
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ii. Uma segunda corrente, por sua vez, afirma que a expressão há de ser
interpretada extensivamente, compreendendo, além do dever legal,
qualquer espécie de dever jurídico, tal como o dever contratual,
especialmente em relação aos os garantidores do art. 13, § 2º, a, b e c, do
CP. É o entendimento da maioria, entre todos o de Bento de Faria, Costa e
Silva e Galdino Siqueira86, que, aliás, coincide com a exposição de motivos
do CP87.
Obs.: A discussão passa a interessar quando se analisa a hipótese do segurança
particular. Ele tem ou não o dever legal de enfrentar o perigo? Para a primeira corrente,
como ele se enquadra na alínea “b”, não tem o dever legal de enfrentar o perigo. Para a
segunda corrente, o dever existe. Em prova para Polícia do DF, o gabarito considerou
correta a segunda corrente.
86 “Esse dever jurídico pode também resultar de uma relação contratual como a do
enfermeiro que se obriga a cuidar de um demente. e que não pode, para escapar do perigo de
seus acessos, praticar fato em prejuízo de terceiro.”
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Art. 39. Não é igualmente culpado quem, para proteger direito próprio ou de pessoa a
quem está ligado por estreitas relações de parentesco ou afeição, contra perigo certo e
atual, que não provocou, nem podia de outro modo evitar, sacrifica direito alheio,
ainda quando superior ao direito protegido, desde que não lhe era razoàvelmente
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outrem.
2.2.1. Conceito
O conceito de legítima defesa está muito bem reproduzido no art. 25 do CP. O
dispositivo esgota o assunto, diferentemente do estado de necessidade.
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88 Para Roxin, não se concede a ninguém um direito ilimitado de legítima defesa face à
agressão de um inimputável, de modo que a excludente não se aplica a todas as situações. Ex.
criança de 3 anos agride um adulto – não se pode matar a criança alegando legítima defesa.
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Ex.: furto de uso (é uma agressão injusta contra o patrimônio, que comporta legítima
defesa, não obstante seja fato atípico), princípio da insignificância etc.
Repelir ataque de um animal é legítima defesa? Depende de ser o ataque
espontâneo ou provocado por terceiro. No primeiro caso, ele configura um perigo atual,
gerando estado de necessidade. No segundo, configura uma agressão injusta. O animal
passa a ser instrumento na mão do provocador. Em sendo agressão injusta, gerará
legítima defesa. Em se tratando de ataque instantâneo, em vez de abater o animal, o
sujeito deve preferir a fuga; no segundo caso, ele pode abatê-lo.
Há discussão na doutrina a respeito da possibilidade da agressão injusta ser
culposa, havendo posição no sentido de que a agressão culposa não é causa de
legítima defesa, pois não tem destinatário certo, configurando perigo atual,
autorizando estado de necessidade.
Obs.: André Estefam entende que até mesmo a agressão praticada sem culpa
permite a reação defensiva. Exemplo: aquele que está sentado no banco de um ônibus e
nota uma pessoa que acabara de escorregar caindo em sua direção, pode, se necessário,
empurrá-la contra o chão para não ser atingido.
89 Ex. Fernandinho Beira-mar, preso, ameaça promotor de justiça de morte. Uma semana
depois, ele é solto e compra munição com as iniciais do promotor. O promotor não tem dúvidas
de que irá morrer e se antecipa à repulsa.
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Assim, para que se conheça a legítima defesa, a atitude seve ser subjetivamente
orientada à defesa de direito próprio ou alheio, é o chamado animus defendendi aqui
trata-se de um requisito implícito (no estado de necessidade é expresso).
Deste modo, aquele que com animus necandi, mata seu inimigo, à distância, e
somente depois constata que antes da morte este estava prestes a matar terceira pessoa,
não poderá alegar legítima defesa de terceiro. Ora, não havia animus defendendi (a
intenção era de matar seu inimigo).
90Reflexão: para Nucci, se há excesso não há legítima defesa, de modo que a primeira legítima
defesa sequer teria ocorrido. Talvez Rogério tenha se equivocado nesse exemplo.
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Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
liberdade, a integridade física e até mesmo a própria vida. Dentro de limites aceitáveis,
tal intervenção é justificada pelo estrito cumprimento de dever legal.
Note que a descriminante está ligada ao conceito de agente públicos, cuja função
está voltada a assegurar a aplicação e o cumprimento da lei. Exemplo de estrito
cumprimento de um dever legal é o flagrante compulsório previsto no art. 301, caput,
segunda parte, do CPP:
Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão
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2.5.2. Requisitos
Para que o consentimento do ofendido exclua a ilicitude, devem estar previstos os
seguintes requisitos:
i) o não consentimento da vítima não pode integrar o tipo penal: para que exclua
o crime, o dissentimento da vítima não pode ser elementar do tipo. Sendo o
dissentimento elementar do tipo, o consentimento a vítima exclui o próprio fato típico
(e não a ilicitude do fato). É o caso, por exemplo, do estupro, em que a ausência de
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consentimento integra o fato típico. Não fosse assim, para o direito penal todas as
pessoas teriam nascido de estupro com excludente de ilicitude;
ii) o ofendido tem de ser capaz, ou seja, saber o que faz;
iii) o consentimento deve ser válido (livre e consciente);
iv) o bem deve ser disponível;
v) o bem deve ser próprio: não existe a descriminante no consentimento de lesão
a bens alheios. O bem deve ser do próprio ofendido;
vi) o consentimento deve ser dado antes ou durante a execução da lesão:
consentimento posterior não exclui a ilicitude. Poderá, entretanto, extinguir a
punibilidade, em crimes de ação privada, na medida em que poderá configurara
hipótese de renúncia ou perdão do ofendido;
vii) o consentimento deve ser expresso, ainda que haja doutrina reconhecendo
possível o consentimento tácito;
viii) deve haver o conhecimento da situação de fato justificante (requisito
subjetivo).
2.6. Ofendículos
2.6.1. Conceito
Ofendículo é o aparato preordenado para a defesa do patrimônio. Ex.: cerca
elétrica, lança na murada, cacos de vidro no muro, animal de guarda etc.
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Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo
4. Descriminantes putativas
4.1. Conceito
Descriminantes putativas são excludentes de ilicitude que aparentam estarem
presentes em uma determinada situação, quando, na realidade, não estão. É uma causa
de excludente de ilicitude imaginária, proveniente de um “erro”.
Apesar de as descriminantes significarem excludentes de ilicitude, quando
associadas à situação de putatividade, excluirão ora a tipicidade, ora a culpabilidade,
como será analisado a seguir.
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Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
Art. 20 (...) § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas
circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não
há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime
culposo.
Prevalece na doutrina, entretanto, que o Código Penal adotou a teoria limitada da
culpabilidade. Esta teoria está expressa na Exposição de Motivos94. A expressão “é
O erro é indireto pois, recai sobre descriminantes e não sobre o tipo penal em si.
93
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isento de pena” não pode ser ligada somente ao erro de proibição, mas também ao erro
de tipo.
O art. 20 do CP fala de erro de tipo e o art. 21 do erro de proibição. O fato de o
legislador pátrio ter colocado esse erro quanto aos pressupostos fáticos do
evento dentro do art. 20 prova que a sua intenção foi exatamente
equiparara figura ao erro de tipo. Se quisesse equipar ao erro de proibição, teria
inserido a norma como um dos parágrafos do art. 21. É o que prevalece na doutrina95.
Culpabilidade
1. Noções Gerais
1.1. Princípio Da Culpabilidade
O princípio da culpabilidade é um dos princípios basilares, fundamentais, do
direito penal. Segundo a doutrina, tal princípio possui previsão constitucional no art.
5º, LVII.
Neste dispositivo é possível identificar de maneira imediata o princípio
processual da presunção de não culpabilidade. Porém, também é possível extrair o fato
de que uma sentença penal condenatória somente será proferida quando o réu for
considerado culpado.
Para que haja responsabilidade penal, é necessário demonstrar a culpa do réu.
Segundo a doutrina “não há pena sem culpabilidade” (nulla poena sine culpa).
Os princípios se diferenciam das regras devido a sua elevada abstração. O
princípio da culpabilidade reflete na esfera penal, trazendo consequências. São elas:
a) Vedação da responsabilidade penal objetiva
Segundo a doutrina, duas situações são capazes de gerar responsabilidade penal
objetiva, sendo vedadas. São elas:
i) Crime sem dolo ou culpa
O CP determina que é necessário haver dolo ou culpa para haver a
responsabilização do agente (artigos 18 e 19).
extremada da culpabilidade.
117
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118
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119
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elemento normativo (o elemento “iii”), razão pela qual ele échamado dedolo
normativo.
120
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121
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3. Coculpabilidade
A teoria da coculpabilidade aponta a parcela de responsabilidade social do Estado
pela não inserção social e, portanto, o dever de também suportar o ônus do
comportamento desviantes do padrão normativo por parte dos atores sociais sem
cidadania plena, que possuem uma menor autodeterminação diante das concausas
socioeconômicas da criminalidade urbana e rural.
Nesse sentido, não há exclusão da culpabilidade, mas essas circunstâncias
externas devem ser consideradas na dosimetria da pena. O nosso Código Penal
possibilita a adoção dessa teoria ao prever, em seu Art. 6697, uma atenuante inominada.
Obs.: Coculpabilidade as avessas: trata-se de teoria elaborada com propósito
crítico à seletividade do sistema penal, merecendo dois ângulos de análise:
a) Crítica em relação à seletividade do sistema penal, que volta seu arsenal mais
pesado aos indivíduos mais frágeis, normalmente escanteados da vida em
sociedade e das atividades básicas do Estado, tratando-se de uma espécie de
criminalização da vulnerabilidade em si mesma.
b) Discute-se também uma responsabilização criminal mais severa em relação
àqueles que praticam crimes valendo-se de uma posição elevada seja
economicamente, seja socialmente, ex. crimes do colarinho branco.
97 Art. 66: “A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante,
anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei.”
122
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4.1. Imputabilidade
4.1.1. Conceito
Imputabilidade é a capacidade de imputação, ou seja, a possibilidade de se
atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de uma infração penal.
123
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124
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Art. 26 (...) Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
99 É uma doença mental, embora mais suave. Não elimina totalmente, mas reduz em parte
de penas E medidas de segurança, entretanto após 1984 o Código Penal passa a adotar o sistema
vicariante, que possibilita a aplicação de pena OU medidas de segurança.
101 Assim, o menor não comete crime, mas ato infracional, e por isso, à ele não se aplica
125
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O Tribunal não terá jurisdição sobre pessoas que, à data da alegada prática do crime,
103 Nesse sentido, não cabe, eventualmente, ao MP fazer prova de que o menor conseguia
compreender o caráter ilícito, o popular “sabia o que estava fazendo”, de que já estaria
emancipado na esfera cível, etc.
104 Súmula nº 74: Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer
106 Em 1993 o STF decidiu que o rol de direitos e garantias individuais extrapola aqueles
previstos no Art. 5º da Constituição Federal, podendo ser encontrados em vários outros artigos
do texto constitucional, inclusive no Art. 151, que prevê limitações ao poder de tributar do
estado, nesse sentido, por óbvio uma clara limitação ao poder punitivo estatal (caso da
ininputabilidade do menor de idade) deve necessariamente ser considerada como uma garantia
individual.
126
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condenado pela justiça comum, assim em tese essa alteração só poderia advir do poder
constituinte originário, inaugurando uma nova ordem constitucional107.
2º corrente: Uma vez tratada como garantia contra o Estado, a menoridade
penal não poderia ser abolida, por ser clausula pétrea, mas a alteração na idade seria
perfeitamente possível através de emenda constitucional, desde que não se atingisse
seu “núcleo essencial”.
constituinte originário.
127
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Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou
108 Ex. sujeito que furta objetos apenas para conseguir a droga.
109 Atribuir-se-ia responsabilidade penal a quem não tem liberdade de ação.
128
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Ex: aquele que, embriagado, decide dirigir até sua residência e provoca a morte
de um pedestre, responderá pelo delito de homicídio culposo na direção de veículo
automotor (o resultado é previsível).
Assim, a embriaguez não acidental completa e a preordenada serão punidas
graças à teoria da actio libera in causa. Ex.: motorista, completamente bêbado,
atropela e mata motociclista:
110 Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de
dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor.
129
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Emoção e paixão
I - a emoção ou a paixão;
Emoção Paixão
É um estado súbito e passageiro É um sentimento crônico e duradouro
Apesar de a emoção não excluir a Já a paixão, dependendo do grau, pode ser
imputabilidade, ela pode interferir na pena, considerada doença e, aí, ser tratada como
sendo uma atenuante ou privilégio. doença, nos termos do art. 26, caput, do
CP.
4.2.1. Conceito
Para que surja a culpabilidade, não é suficiente que o sujeito seja imputável e
tenha cometido o fato com possibilidade de lhe conhecer o caráter ilícito. Além desses
dois primeiros elementos, exige-se que, nas circunstâncias, exista a possibilidade
de realização de outra conduta, de acordo com o ordenamento jurídico.
Ou seja, para que o fato seja culpável, é imprescindível que, naquela situação,
pudesse se exigisse do agente que se comportasse de outra forma.
130
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coação ou da ordem.
A coação moral (vis comuplsiva) consiste na ameaça de inflição de um mal grave
e injusto. Consiste na coação psicológica, psíquica, produzindo medo e temor na vítima.
Na coação moral irresistível o coagido é imbuído de vontade de cometer o ilícito,
por isso não se excluí a conduta (como na coação física irresistível), entretanto, sua
vontade não é livre e desembaraçada.
Assim, a coação moral deve ser irresistível, ou seja, tão intensa que não gere ao
agente a possibilidade de vencê-la, ou seja, até haveria outra opção de conduta111 para o
coagido, mas dele, o direito penal não a exige em virtude da coação.
Ex. gerente abordado por assaltantes que ameaça sob pena de matar sua família.
Requisitos são: promessa séria e ser o mal verossímil.
Para aferir a irresistibilidade devem ser analisados alguns fatores:
i. Seriedade da promessa (ainda que a ameaça não seja séria, deverá soar
como tal à vítima);
ii. Gravidade e iminência do mal prometido
A Imediatidade do mal prometido – trata-se de fator temporal, se não houver
imediatidade será possível exigir do réu conduta diversa.
iii. O mal prometido deve ser verossímil
iv. Ponderação entre o mal prometido e o ato exigido - situação em que o
mal prometido era mais grave do que o ato exigido, caso contrário, a
coação se configuraria resistível.
Na coação moral irresistível, há sempre dois importantes personagens: coator e
coagido.
Obs.: Se houver coação física irresistível (vis absoluta), o fato será
considerado atípico, por ausência de conduta (a qual requer voluntariedade).
injusto da vítima;
Dependendo da espécie de coação, há diferenças na responsabilidade do coagido,
mas não do coator (que sempre será condenado, com agravante de pena). Vejamos:
Coação moral irresistível Coação moral resistível
111 Ex. o gerente pode escolher perder a família e salvar o dinheiro do banco e não entregá-
lo aos criminosos, mas o direito penal não exige essa conduta do mesmo.
131
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injusto da vítima;
b) Ordem legal: superior e subordinado podem alegar estrito cumprimento de um
dever legal;
c) Ordem não manifestamente ilegal: o superior será punido (na condição de
autor mediato) e o subordinado isento de pena.
112 Ex. A interrupção da gravidez do feto anencefálico não constitui o crime de aborto sob
o fundamento da lei de transplante – conclui a vida com a atividade encefálica. Assim, vida é
relacionada com atividade encefálica. O feto anencefálico não produz atividade encefálica,
portanto, não se configura aborto. Antes da lei, a interrupção da gravidez do feto anencefálico
constituiria uma causa supralegal visto que não se podia exigir da gestante que se leve até o
final.
133
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Na grande maioria dos casos, o juiz analisa este elemento em poucos segundos,
concluindo pela existência da potencial consciência da ilicitude conforme um raciocínio
exemplificado abaixo:
a) O réu tinha conhecimento do caráter ilícito do fato? O réu sabia que o
comportamento era ilícito?
Geralmente a resposta é positiva, o que constata a presença da potencial
consciência da ilicitude (quanto a este aspecto, há culpabilidade). Neste caso, fica
reconhecida a potencial consciência da ilicitude, e o juiz passa a análise do terceiro
elemento da culpabilidade (a exigibilidade de conduta diversa).
Não se analisa aqui se há ou não o conhecimento da lei, desconhecimento da lei é
inescusável, e ninguém pode alegá-lo para não sofrer as suas conseqüências. Esse
elemento, o potencial consciência da ilicitude, não tem relação com isso. Temos um
aprendizado cultural do que é errado e do que é certo.
A resposta também pode ser negativa (o ato foi praticado de boa fé, sem a menor
noção da ilicitude), embora seja mais raro.
Neste caso, o juiz concluirá que o agente incidiu em erro de proibição, quando
há desconhecimento do caráter ilícito da conduta (não é erro de tipo, no qual a pessoa
entende de maneira imperfeita a realidade ao ser redor).
Suponhamos que o réu não tivesse conhecimento do caráter ilícito do fato, como,
p.ex., o cidadão que acha um relógio, procura o dono e não o encontra, fica com ele,
praticando então apropriação de coisa achada (art. 169, parágrafo único, CP). Ele
poderia muito bem não saber da existência desse crime, acreditando que “achado não é
roubado”.
Tem-se, então, a seguinte conclusão: o agente incorreu em erro. O DP trabalha
com duas modalidades de erro: o erro de tipo e o erro de proibição. No erro de tipo a
pessoa enxerga a realidade de modo errado. Ex: pegar o Código por engano do colega.
Já no erro de proibição a pessoa vê corretamente a realidade, mas acredita
que faz algo que a lei não proíbe. O exemplo seria o já dado do que se apropria de
coisa achada.
Assim, a ausência de potencial consciência de ilicitude dá-se com o erro de
proibição.
Para excluir a culpabilidade pela ausência de potencial consciência da ilicitude
não basta a conclusão de que houve erro de proibição (réu não tinha conhecimento da
ilicitude). Será necessária outra indagação:
b) O réu tinha possibilidade de conhecer o caráter ilícito do fato? Do ponto de
vista cultural, era possível que o réu soubesse que aquele comportamento era
ilícito?
Como se trata de fator cultural, deverá se analisar se a cultura na qual o réu se
formou, se a maneira pela qual ele foi criado, daria a ele condições de perceber que o
fato poderia ser ilícito.
Se o juiz entender que havia condições de saber o caráter ilícito do fato, o erro de
proibição cometido era evitável / vencível / inescusável. Neste caso, o segundo
elemento da culpabilidade estará presente (há potencial consciência da ilicitude), e o
juiz passa à análise do terceiro.
O art. 21 determina que, neste caso, a condenação terá a pena diminuída de 1/6 a
1/3.
Somente se a conclusão for de que não havia nenhuma condição de conhecer a
ilicitude da conduta (erro de proibição inevitável) é que se levará a ausência de
134
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consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou
II - o desconhecimento da lei;
Ex.: a pessoa não sabe que urinar na rua é ato obsceno, mas sabe que urinar na
rua contraria o direito, contraria o senso do que é certo; o sujeito não sabia que
anunciar métodos abortivos é contravenção penal, mas sabia que é algo errado.
ii) o agente conhece a lei, mas desconhece a ilicitude do fato:
Nesta hipótese, o agente, apesar de conhecer a lei, imagina que seu
comportamento não está proibido, ou seja, que seu comportamento não é abrangido
pela norma legal. Aqui, há erro de proibição. Em se tratando de erro inevitável, ele
estará isento de pena. Se o erro for evitável, haverá diminuição da pena (art. 21, caput,
do CP).
Ex.: o marido chega a casa e a esposa se recusa à conjunção carnal. Ele acha que
pode empregar violência para consegui-la. Ele sabe que estupro é crime, mas acredita
que aquele seu comportamento não está proibido.
iii) o agente não conhece a lei e ignora a ilicitude do seu comportamento:
135
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Nesta hipótese, agente age sem saber que o fato é típico, bem como não percebe
que contraria o senso de direito. Também se trata de erro de proibição (art. 21, caput,
do CP).
Ex.: quem fabrica açúcar em casa pratica infração penal. Há um decreto nesse
sentido. O agente que o faz desconhece a lei e não percebe que essa conduta caracteriza
crime.
Assim, no que diz respeito ao erro de proibição, é importante ressaltar que
embora o dispositivo fale que “o desconhecimento da lei é inescusável”, a verdade é que
ele aceita a sua errônea compreensão.
Qual foi a importância da passagem da teoria psicológicanormativa da
culpabilidade para a teoria normativa pura da culpabilidade, no assunto erro de
proibição?113
136
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Concurso de Pessoas
1. Noções gerais
A matéria foi dada antes da decisão do STF que tratou do tema. Recomenda-se a leitura
114
daquele acórdão.
137
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1.1. Conceito
Compreende-se concurso de pessoas a reunião de vários agentes concorrendo, de
forma relevante para a realização do mesmo evento, agindo todos com identidade de
propósitos.
Em ultima análise, é um número plural de pessoas concorrendo para o mesmo
evento.
O concurso de pessoas demanda adesão de vontade do concorrente até a
consumação do delito. Assim, depois da consumação pode ocorrer uma nova adesão
que eventualmente configurará crime autônomo.
Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de
cometer crimes:
138
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Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada,
anos.
§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que
139
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Em relação aos crimes plurissubjetivos, qualquer que seja sua espécie, basta
que um dos agentes seja culpável.
140
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
115Autoria colateral ocorre quando dois agentes, embora convergindo suas condutas para a
prática de determinado fato criminoso, não atuam unidos pelo liame subjetivo. Ex.: “A” e “B”
querem matar “C”, sem liame subjetivo (um não sabe da vontade do outro). Ambos atiram
contra “C”, que morre em razão do tiro de “B”. Se “A” e “B” estivessem agindo em concurso,
ambos responderiam por homicídio consumado. Todavia, como não estavam, “B” responde por
homicídio consumado e “A” por homicídio tentado.
Autoria incerta, por sua vez, é uma espécie de autoria colateral, em que não se consegue
determinar qual dos comportamentos causou o resultado. Ex.: “A” e “B” querem matar “C”, sem
liame subjetivo (um não sabe do outro). Ambos atiram contra “C”, que morre sem que seja
possível definir quem foi o responsável pela morte. Se estivessem agindo com liame subjetivo,
ambos responderiam por homicídio consumado. Todavia, como não estavam, ambos respondem
por homicídio tentado, por conta da aplicação do in dubio pro reo.
141
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142
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3. Autoria
143
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3.2.1.1. Conceito
Autor mediato é aquele que, sem realizar diretamente a conduta prevista no tipo,
comete o fato punível por meio de outra pessoa, usada como seu instrumento.
Ex.: “A” convence “B”, menor de idade (inimputável), a subtrair um veículo. “A”
não é autor, pois não realiza o verbo nuclear, não é coautor, pois não realiza, ainda que
em parte, o verbo nuclear, e não é partícipe do furto, pois seu comportamento não é
meramente acessório do crime. Ele se vale da incapacidade de alguém, razão pela qual é
considerado autor mediato.
Na autoria mediata, há necessariamente ao menos duas pessoas envolvidas: autor
mediato (“autor de trás”) e autor imediato.
Na autoria mediata não existe concurso de pessoas entre autor mediato e
autor imediato.
Ora, o primeiro requisito do concurso de pessoas é a pluralidade de agentes
culpáveis, o que não se verifica em relação ao autor imediato.
Ademais, o concurso de pessoas também reclama o vínculo subjetivo entre os
agentes, o que não existe em relação ao inculpável. O autor imediato não passa de um
instrumento do crime.
Portanto, o CP brasileiro adora a Teoria Restritiva objetivo-formal,
complementada pela autoria mediata.
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas
coação ou da ordem.
iii) Obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte, do CP): Se o fato é cometido em
estrita ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico, só é
punível o autor da ordem;
iv) Erro de proibição escusável provocado por terceiro (Art. 21 Código Penal)
v) Instrumento impunível (ex.: inimputável usado como instrumento). O art.
62, III, do CP é uma agravante de pena:
144
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III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-
145
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Se houvesse liame subjetivo, e por isso, concurso de pessoas, ambos responderiam por
117
homicídio consumado.
146
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4. Coautoria
4.1. Conceito
O conceito de coautoria acompanha o conceito de autor e por isso, depende da
teoria adotada na autoria.
i. Teoria restritiva:
Para a teoria restritiva, coautoria é o número plural de pessoas realizando o verbo
nuclear.
ii. Teoria extensiva:
Para a teoria extensiva, coautoria é o número plural de pessoas concorrendo, de
qualquer forma, para a realização do crime.
iii. Teoria do domínio do fato:
Para a teoria do domínio penal do fato, coautoria é a pluralidade de pessoas com
o domínio sobre o fato unitário. É a decisão “colegiada”.
A co-autoria pode ser de duas espécies:
a) Parcial ou funcional
147
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
5. Participação
5.1. Conceito de partícipe
Entende-se por partícipe o coadjuvante do crime, fato determinado ou praticado
por autor conhecido e individualizado.
O partícipe realiza o fato de per si atípico, mas que passa a ser típico
considerando o fato por ele assessorado. Ex.: o sujeito que fica na esquina postado,
118 Lembre-se que para Zaffaroni, o advogado nesse caso não seria autor mediato mas
148
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checando se a polícia aparece, não comete, por si só, fato típico, o qual passa a ser típico
se ele o faz para auxiliar o autor do crime de furto. A sua conduta isolada, sem o
conhecimento da prática do crime, não é ilícita.
Zaffaroni ensina que participação é a contribuição dolosa que se faz ao
injusto doloso de outro.
A participação deve ser sempre acessória de um injusto alheio. Não pode haver
participação na conduta de outro, se a conduta do outro não é típica e antijurídica.
A participação pode ter lugar enquanto não se tenha exaurido a execução do
injusto, mesmo quando já se encontre consumado.
A participação é acessória e para ter relevância, depende da conduta principal,
pois por si a conduta do partícipe é atípica.
149
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Atenção: se cotejada a atuação do partícipe com o tipo legal violado, para efeito
de verificação da tipicidade, será manifesta a falta de adequação, pois o partícipe não
realiza o ato nuclear. A adequação será possível graças à norma de extensão pessoal do
art. 29.
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
150
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Ex: Pessoa contrata alguém para matar a sogra. O matador efetivamente a mata, e
se mata em seguida. Praticou fato típico, ilícito, e é culpável, mas não será punido no
caso concreto. Nesta hipótese, pela Teoria da acessoriedade limitada, o partícipe não
poderá ser punido
119 Art. 29 (...) § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos
grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese
de ter sido previsível o resultado mais grave.
151
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152
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principal for típica e ilícita. tentativa (a conduta principal não é típica, no que
diz respeito à tentativa). Conclusão: os efeitos
alcançam o partícipe.
2ª corrente:extingue a punibilidade (a
conduta principal é típica, ilícita e culpável).
Conclusão: os efeitos não alcançam o partícipe.
Como visto, prevalece a segunda corrente.
Se quem desiste não é o autor, mas o partícipe, o que ocorre? No caso de
arrependimento do partícipe (ex.: aquele que induziu “B” a matar “C”), ele somente não
será responsabilizado penalmente se conseguir fazer com que o autor não pratique a
conduta criminosa (o arrependimento deve ser eficaz).
crime.
Circunstâncias são dados que, agregados ao tipo, interferem na pena.
Elementares são dados que, agregados ao tipo, interferem na tipicidade.
As circunstâncias e as elementares podem ser objetivas (quando relacionadas ao
meio ou modo de execução) ou subjetivas (quando relacionadas ao motivo ou ao estado
anímico do agente).Ex.: no furto praticado contra ascendente, o fato de o crime ser
praticado contra ascendente é circunstância; a violência é elementar do roubo.
120Art. 13 (...) § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir
para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c)
com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
153
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154
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1. Iter criminis
Para o estudo da consumação, tentativa e seus desdobramentos é imprescindível
a análise do conceito de iter criminis. Trata-se do conjunto das fases que se sucedem
cronologicamente no desenvolvimento do delito (doloso).
Assim, O iter criminis, ou "caminho do crime", corresponde às etapas percorridas
pelo agente para a prática de um fato previsto em lei como infração penal.
Esse conjunto de fases pode ser dividido em duas macrofases: uma interna e
outra externa.
1.1.1. Cogitação
Cogitação é a simples ideia do crime, o agente passa a idealizar o delito.
A mera cogitação é sempre impunível, por força do princípio da materialização do
fato, trata-se de um irrelevante penal.
Querer punir a cogitação é permitir a aplicação do direito penal do autor.
155
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1.2.1.1. Conceito
Os atos executórios traduzem a maneira pela qual o agente atua exteriormente
para a realização do núcleo do tipo.
Esse é o marco inicial do interesse de punir, como regra (há as exceções
dos atos preparatórios puníveis, como visto).
Há, no entanto, uma região nebulosa entre os atos preparatórios e a execução, na
qual não é possível definir se se trata de ato preparatório impunível ou de execução
156
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impunível. Ex.: o sujeito permanece na esquina da casa da vítima, aguardando que ela
saia.
Nesse sentido, faz-se necessário uma análise mais aprofundada do momento de
transição entre um ato preparatório (em regra não punível) para um efetivo ato de
execução (punível), assim nasceram as teorias abaixo:
1.2.1.2. Teorias
As teorias a seguir buscam diferenciar atos preparatórios do início da execução.
1.2.2. Consumação
A consumação assinala o instante da composição plena do fato criminoso.
Cuidado, pois nem todo comportamento delituoso passa, necessariamente, pelas
quatro etapas. Há crimes para os quais não há nenhuma cogitação. Já outros não têm
resultado naturalístico.
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2. Crime consumado
2.1. Previsão legal
O crime consumado está previsto no art. 14, I, do CP:
legal;
Dá-se a consumação, também chamada de crime consumado ou summatum
opus, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal
E, por isso, um crime completo ou perfeito, pois a conduta criminosa se realiza·
integralmente.
Verifica-se quando o autor concretiza todas as elementares descritas pelo preceito
primário de uma lei penal incriminadora. Ex. no homicídio, em que a conduta e "matar
alguém", a consumação ocorre com a morte de um ser humano, provocada por outra
pessoa.
2.2. Conceito
Mesmo diante de um dispositivo tão claro como o art. 14, I, do CP, é importante
destacar um conceito de crime consumado emprestado da doutrina: considera-se
crime consumado a realização do tipo penal por inteiro, nele encerrando oiter
criminis. Em ultima análise, é o crime perfeito.
158
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Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito
de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se
3. Crime tentado
3.1. Previsão legal
O crime tentado está previsto no art. 14, II, do CP, que traz a chamada tentativa
simples:
3.2. Conceito
No caso do crime tentado, o conceito legal é suficiente.
Obs.: Dizer “crime de tentativa” é elevá-la ao status de crime autônomo. Por isso,
o ideal é falar em “tentativa de crime”, pois a tentativa é a forma incompleta de um
crime.
159
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Com efeito, a tentativa não constitui crime sui generis, com pena autônoma, mas
é violação incompleta da mesma norma de que o crime consumado representa violação
plena.
Assim, pode-se afirmar que na tentativa a adequação típica é mediata. Ou seja, o
fato praticado pelo agente não se encaixa diretamente na lei penal, no tipo penal.
Novamente, configura norma de extensão temporal, ampliando a proibição
contida nas normas penais incriminadoras a fatos humanos realizados de forma
incompleta. Ex. homicídio tentado, o Art. 121 prevê “matar alguém” como crime não
sua tentativa, assim, sem a norma do Art. 14, II a conduta do agente que tenta matar
outrem estaria incompleta, não podendo imputar-lhe a pratica de um homicídio.
Obs.: Zaffaroni entende que a tentativa, em nosso sistema positivo, tem dupla
fundamentação:
a. justifica-se pelo fato de que nela há dolo (vontade final concreta que se
dirige a um resultado que afeta bem jurídico);
b. A exteriorização deste dolo sempre implica a afetação de um bem
jurídico.
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ordenamento jurídico; e também quando a conduta transmita àqueles que dela tomem
conhecimento a mensagem de perturbação da segurança jurídica.
O nosso Código, como regra, adotou a teoria objetiva, punindo-se a
tentativa com a mesma pena do crime consumado, reduzida de 1 /3 a 2/3.
terços.
A diminuição será proporcional ao caminho percorrido no iter criminis: quanto
mais próxima a consumação, menor a redução; quanto mais distante a consumação,
maior a redução.
O critério adotado pela consequência regra é o objetivo ou o subjetivo?
Art. 309 - Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem
121Crimes em que o legislador, adotando a teoria subjetiva pune a tentativa com a mesma
pena da infração consumada.
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independente.
Parágrafo único.- Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até a
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122 "Em suma: via de regra, não admitem os crimes culposos a tentativa. Ressalva-se a
hipótese, porém, de o episódio ser informado pela culpa imprópria, igualmente chamada de
culpa por equiparação, extensão ou assimilação. Em tal caso, porque – excepcionalmente - há
vontade endereçada ao malogrado resultado, a tentativa é compossível"
163
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Súmula 610 - Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o
faça:
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3.7.2. Espécies
Tentativa simples (art. 14, II, do CP) Desistência voluntária (art. 15, primeira parte, do
CP)
123 "Se o agente aquiesce no advento do resultado específico do crime, previsto como
possível, é claro que este entra na órbita de sua volição: logo, se, por circunstâncias fortuitas, tal
resultado não ocorre, é inegável que o agente deve responder por tentativa. É verdade que, na
prática, será difícil identificar-se a tentativa no caso de dolo eventual, notadamente quando
resulta totalmente improfícua (tentativa branca). Mas, repita-se: a dificuldade de prova não
pode influir na conceituação de tentativa.
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Arrependimento eficaz (art. 15, 2ª parte, do CP) Desistência voluntária (art. 15, 1ª parte, do CP)
i) não consumação por circunstâncias inerentes à ii) não consumação por circunstâncias inerentes à
vontade do agente (ele desiste de prosseguir); vontade do agente (ele desiste de prosseguir);
124 O Art. 10 da Lei 13.260 traz uma hipótese interessante de desistência voluntária nos
atos preparatórios, pois manda aplicar ao Art. 5º da Lei, as regras previstas no Art. 15 do Código
Penal.
125 Onde a consumação esta na dependência da ocorrência do resultado naturalístico, o
166
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iii) o agente pode prosseguir, mas não quer iii) o agente pode prosseguir, mas não quer
iv) esgotamento dos atos executórios e retrocessão iv) abandono do intento criminoso quando ainda
v) o agente só responde pelos atos já praticados. v) o agente só responde pelos atos já praticados.
Veja que a diferença entre as figuras está no momento do abandono do propósito
criminoso. Na desistência voluntária, o agente abandona o intento quando ainda
restavam atos executórios a serem praticados (no meio da execução). No
arrependimento eficaz, ele esgota os atos executórios e retrocede na conduta (depois do
fim da execução, evitando o resultado).
Exemplo de arrependimento eficaz: o sujeito dá três tiros na vítima, se arrepende,
leva a vítima ao hospital e ela é salva. Não responderá por homicídio tentado, mas pela
lesão corporal, leve, grave ou gravíssima, conforme ao caso.
Basta que o arrependimento seja voluntário. Não precisa ser espontâneo, mas
tem de ser eficaz. O Arrependimento ineficaz, ou seja aquele que não consegue evitar
o resultado, é mera atenuante de pena.
terços.
O legislador inseriu o instituto do arrependimento posterior dentro da Teoria do
Crime. Porém, aqui o crime já está consumado, já tendo sido oferecida a queixa ou
denúncia.
Não possuindo qualquer relação com a Teoria do Crime, mas sim com a Teoria da
Pena (mais especificamente com sua fixação) trata-se de um equívoco do legislador.
É maneira de privilegiar a reparação dos danos ou restituição das coisas.
A expressão posterior significa depois da consumação. A atitude premiada é o ato
que se dá depois da consumação do crime.
O arrependimento posterior é um instituto que existe para proteger a vítima
(vitimologia), pois visa a reparação do dano sofrido.
167
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3.8.4. Requisitos
126Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
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Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por
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Punibilidade
1. Conceito e limites
Punibilidade é a consequência jurídica do crime. Significa o direito do Estado de
punir o autor de um injusto penal culpável. Esse direito de punir, entretanto, não é
absoluto. Está condicionado (limitado):
i) limite temporal: prescrição;
ii) limite espacial: princípio da territorialidade;
iii) limite modal: princípio da dignidade da pessoa humana.
2. Extinção da punibilidade
2.1. Noções gerais
A punibilidade pode ser extinta. O art. 107 do CP traz um rol de causas extintivas
da punibilidade, o qual é meramente exemplificativo:
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação
privada;
127Art. 312 (...) Peculato Culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de
outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a
reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é
posterior, reduz de metade a pena imposta.
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Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito, e
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2.3.1. Anistia
Conceito: é ato do Legislativo federal, ou seja, lei penal, devidamente sancionada
pelo Executivo, através do qual o Estado, em razão de clemência ou de política social
esquece um fato criminoso, apagando seus efeitos penais.
Trata-se de lei penal. Assim, não é concedida anistia por decreto legislativo.
Atenção, pois a graça e o indulto podem ser concedidos por decreto. É uma evidente
hipótese da chamada lei penal anômala, que visa esquecer um fato criminoso através de
uma lei.
Zaffaroni ensina que a etimologia da palavra anistia alude a “esquecimento”.
Usualmente, diz-se que a anistia “apaga” o delito. O autor entende que uma lei de
anistia é uma lei que descriminaliza o delito, isto é, uma lei descriminalizadora. Não
obstante, não é uma lei descriminalizadora comum, e sim anômala, posto que se trata
de uma descriminalização temporária.
Deve ser uma lei em sentido material e formal, ou seja, lei editada pelo
Congresso, já que somente pode descriminalizar uma conduta quem tem a faculdade de
incriminá-la. Daí estabelecer a CR que compete à União conceder anistia (art. 21,
XVII).
A lei deve ser devidamente sancionada, podendo ser vetada. Atenção, pois a
Assembleia Legislativa do estado não tem competência para editar lei versando sobre a
anistia, pois é matéria de direito penal, de competência reservada à União. Exemplo: no
caso dos bombeiros do RJ que fizeram greve, já há uma lei de anistia sendo votada.
Anistia e abolitio criminis:
A grande diferença entre a anistia e a abolitio criminis é que, em nenhum
momento a anistia vai abolir o crime, só há o esquecimento do fato criminoso por parte
do Estado. O crime não é abolido do ordenamento jurídico.
Portanto, a anistia incide no fato criminoso, preservando a lei penal. Já a abolitio
criminis atinge a própria lei: há supressão da figura criminosa.
A anistia só apaga os efeitos penais principais ou secundários, permanecendo os
efeitos extrapenais. Se já há sentença condenatória transitada em julgado, ela
permanece funcionando como título executivo (questão AGU/DPU).
173
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Veja que a anistia deve ligar-se a fatos, o que significa possuir caráter impessoal,
não podendo ser destinada a pessoas individualizadas. Assim, uma lei pode anistiar,
por exemplo, todos os delitos patrimoniais praticados durante determinado período de
tempo, mas não pode anistiar os delitos cometidos pelos cidadãos A, B, C e D. No
entanto, a anistia pode exigir certas condições subjetivas, mas sempre orientadas pelo
sentido geral, e não com referencia a uma pessoa determinada.
Efeitos da anistia:
i) extingue a ação penal, posto que não pode prosseguir a pretensão punitiva
acerca de um fato que perdeu a tipicidade;
ii) quando existir decisão condenatória, a anistia eliminará a condenação e todos
os seus efeitos;
iii) persiste o direito dos particulares à indenização, porque a descriminalização
em nada afeta a responsabilidade civil;
iv) a anistia não pode ser repudiada pelo beneficiário, porque seus efeitos
operam-se de pleno direito (somente pode ser recusada quando condicionada);
v) a condenação por crime anistiado não pode ser considerada para os efeitos de
reincidência;
vi) a condenação por delito anistiado não impede a concessão de sursis;
vii) a anistia do delito cometido pelo autor elimina também a tipicidade da
conduta dos coautores e partícipes;
viii) a parte da pena cumprida até a descriminalização é considerada ao abrigo do
direito vigente à época de sua execução, de modo que não se pode pedir a restituição da
multa paga;
ix) o autor pode beneficiar-se da anistia sempre que persista algum efeito da
condenação, direito que se estende a seus herdeiros, desde que nele comprovem
legítimo interesse;
x) a anistia não pode ser revogada;
Espécies de anistia:
i) anistia própria ou propriamente dita: é aquela concedida antes da condenação.
ii) anistia imprópria: é aquela concedida depois da condenação. Lembrando que
os efeitos extrapenais não desaparecem.
iii) anistia restrita: é aquela que exige certas condições pessoais do agente para a
obtenção do benefício. Ex.: ser o réu primário.
iv) anistia irrestrita: não exige condições pessoais do agente para a sua concessão.
v) anistia condicionada: a lei exige que o agente cumpra algumas condições ou
requisitos não pessoais, ou seja, o agente deve respeitar requisitos objetivos. Ex.:
reparação do dano.
vi) anistia incondicionada: a lei não impõe qualquer requisito para a obtenção do
benefício.
vii) anistia comum: como o próprio nome já enuncia, incide sobre delitos
comuns.
viii) anistia especial: incide sobre delitos políticos.
O Congresso Nacional resolve conceder anistia para determinado crime e o
Presidente sanciona. Contudo, percebe-se a péssima repercussão da anistia concedida.
Assim, o Congresso Nacional decide, imediatamente, fazer uma nova lei impedindo a
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175
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contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do
art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da
denúncia.
seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso
Art. 529. Nos crimes de ação privativa do ofendido, não será admitida queixa com
homologação do laudo.
Parágrafo único. Será dada vista ao Ministério Público dos autos de busca e
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apreensão requeridas pelo ofendido, se o crime for de ação pública e não tiver sido
Art. 530. Se ocorrer prisão em flagrante e o réu não for posto em liberdade, o prazo a
Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz
mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil
competente.
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atrelada a qualquer condição.Caso isso ocorra, o juiz irá ignorar a condição e conceder
o perdão, com a consequente extinção da punibilidade.
Em relação ao momento até o qual é cabível o perdão, cumpre ressaltar que o
perdão é cabível até o transito em julgado (art. 106, parágrafo 2º, do CP).
Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: (Redação dada pela
I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita; (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros; (Redação
III - se o querelado o recusa, não produz efeito [ato bilateral]. (Redação dada pela
3. Prescrição
3.1. Conceito
Prescrição é a perda, em face do decurso do tempo, do direito do Estado de punir
ou de executar punição já imposta. Observe que a perda do direito de punir é somente
uma espécie de prescrição. A perda do direito de executar a pena imposta é outra,
comumente esquecida.
Trata-se de limite temporal ao poder punitivo ou executório do Estado.
Em ultima análise, é uma garantia do cidadão contra a hipertrofia da punição, a
eternização do poder de punir.
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Em regra todos os crimes, por mais graves que sejam, prescreve, entretanto, há
duas exceções, previstas no Texto Constitucional:
i. Racismo – Lei 7.719/89 Art. 5º, XLII;
ii. Ação de grupos armados , civis ou militares, contra a ordem constitucional
e o Estado Democrático Art. 5º, XLIV.
Obs.: Tortura prescreve, as hipóteses de imprescritibilidade são taxativas e estão
na CF.
Prescrição da
Pretensão Punitiva:
Ocorre antes do trânsito a.2) PPP retroativa (art. 110, 1º, CP);
em julgado e faz
desaparecer todos os
efeitos de eventual
condenação – penais e a.3) PPP superveniente ou
extrapenais. Esta espécie intercorrente (art. 110, 1º, CP);
Espécies de de prescrição se divide
Prescrição em 4 subespécies:
a.4) PPP virtual ou antecipada ou por
prognose ou em perspectiva -
jurisprudência;
180
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto
2010). (...)
Tendo o Estado a tarefa de buscar a punição do criminoso, deve anunciar quando
essa punição já não mais o interessa (essa é a finalidade do art. 109).
Sendo incerta a quantidade da pena que será fixada pelo juiz na sentença, o prazo
prescricional é resultado da combinação da pena máxima prevista abstratamente para o
crime e a escala do art. 109 do CP:
doze;
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito;
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não
excede a dois;
128 ATENÇÃO: até o dia 05/05/2010 o prazo mínimo era de 2 (dois) anos (e não três
anos). A alteração foi prejudicial ao réu (novatio legis in pejus). A partir de 06/05/2010, com a
redação dada pela nova lei, o prazo mínimo passou a ser de 3 (três) anos, Essa lei, por prejudicar
o réu, é irretroativa, de modo que os fatos anteriores a ela continuam regulados pelo prazo
prescricional mínimo de dois anos.
181
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era,
ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de
70 (setenta) anos.
Obs.: As circunstâncias judiciais do Art. 59 Código Penal também não podem
ser consideradas para o cálculo da prescrição, uma vez que não tem previsão legal,
cabendo ao magistrado avaliá-las na aplicação da pena.
correr:
182
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anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. (Redação dada pela
Art. 227, §4º, CF - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual
da criança e do adolescente.
Obs.: Crime habitual, termo inicial: Ex.: casa de exploração sexual inaugurada
em 2000 e fechada em 2007. De acordo com o STF131, nos crimes habituais o prazo
prescricional inicia-se da data da última das ações que constituem o fato
típico, aplicando-se o mesmo raciocínio dos crimes permantentes.
129 Cuidado: No caso acima, uma vez tratar-se de lei que piora a situação dos acusados,
ela não poderá ser aplicada em relação a fatos pretéritos, pois trata-se de novatio legis in pejus
– não tem alcance retroativo, vale a partir de 18/05/12.
130 “salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal” 1ªC: “proposta a ação
penal” significa ação penal oferecida (interpretação literal); 2ªC: “proposta a ação penal”
significa ação penal recebida (interpretação teleológica e sistemática com o Art. 117, I Código
Penal).
131 Deve ser aplicado o “espírito” do Art. 109, III, O Min. Marco Aurélio foi contra esse
entendimento. Ele enxergou, nesse raciocínio, uma analogia in mallan partem, entendendo que
se estaria dando ao crime habitual o mesmo raciocínio dos permanentes sem previsão legal.
183
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3.3.1.1.5.
Causas interruptivas da PPP propriamente dita (art. 117, I a IV,
do CP)132
Identificados o prazo e o seu termo inicial aplicável ao caso concreto, não se pode
ignorar a existência de causas de suspensão ou interrupção da prescrição, que
encontram-se previstas nos Arts. 116 e 117, do Código Penal.
As causas interruptivas da prescrição, que ZERAM a contagem do seu prazo. Os
quatro primeiros incisos do art. 117, do CP são causas interruptivas da Prescrição da
Pretensão Punitiva e os dois últimos da Prescrição da Pretensão Executória.
II - pela pronúncia;
b) Pela pronúncia133:
“Súmula 191 STJ: A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda
que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime.”
c) Decisão confirmatória da pronuncia;
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134 Art. 397, CPP - Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste
Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: (Redação dada pela
Lei nº 11.719, de 2008).
IV - extinta a punibilidade do agente. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
185
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186
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pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data
Art. 110 § 2º - A prescrição, de que trata o parágrafo anterior, pode ter por termo
187
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
3.3.1.2.2. Características
A PPP retroativa possui as seguintes características:
i) Pressupõe sentença ou acórdão condenatório;
ii) Pressupõe sentença transitada em julgado para a acusação;
iii) Conta-se a prescrição da publicação da sentença condenatória até a data
do despacho de recebimento da inicial (contagem retroativa);
iv) Os prazos prescricionais são os mesmos do art. 109 do CP, regulados pela
pena aplicada na sentença;
v) Tem as mesmas consequências da PPP em abstrato:
a) Impede a análise do mérito;
b) A sentença condenatória é rescindida, não operando efeitos penais ou
extrapenais;
c) Não haverá custas processuais;
d) Eventual fiança paga será restituída.
188
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena
aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da
3.3.1.3.2. Características
São características da PPP superveniente
i) pressupõe sentença ou acórdão condenatório;
ii) pressupõe trânsito em julgado para a acusação;
iii) os prazos prescricionais são os mesmos do art. 109 do CP, regulados pela pena
em concreto;
iv) conta-se da publicação da sentença condenatória até a data do trânsito em
julgado definitivo;
v) tem as mesmas consequências da PPP em abstrato e da PPP retroativa.
Obs.: Exercícios
Entre a data do fato e o recebimento da inicial, há PPP em abstrato, regulada pela
pena máxima em abstrato. Do recebimento da inicial até a publicação da sentença
penal condenatória, continua-se falando em PPP em abstrato. Imaginando-se que a
condenação tenha sido de um ano de reclusão:
i) o MP recorre, buscando aumentar a pena: não se pode falar em nenhuma
prescrição que não a PPP em abstrato;
189
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ii) o MP não recorre: pode-se falar tanto da PPP retroativa quanto da PPP
superveniente;
iii) MP recorre, buscando regime mais rigoroso para o cumprimento da pena:
pode-se falar tanto da PPP retroativa quanto da PPP superveniente, pois a pena
cominada será a máxima possível.
Vale observar que, seguindo o mesmo espírito da PPP retroativa, também é
possível reconhecer a PPP superveniente se o recurso do MP não busca aumento de
pena. Também nesta espécie de prescrição, discute-se se o juiz de primeiro grau pode
reconhecê-la.
reincidente.
Ela pressupõe trânsito em julgado da condenação e somente impede o Estado de
executar a punição. Os demais efeitos penais e extrapenais permanecem.
Regula-se pela pena aplicada, cotejada com os prazos estabelecidos pelo art. 109
do CP.
Observação importante: os prazos são aumentados de 1/3 se o condenado for
considerado reincidente na sentença. Essa regra é exclusiva da PPE. Não existe na PPP.
190
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Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr:
136 A 5ª Turma do STJ, em recente julgado, decidiu que o início do prazo prescricional
seria a data do trânsito em julgado para as duas partes (HC 137.924). Esse julgado foi objeto de
severas críticas da doutrina, pois contraria a lei, legislae age em verdadeira analogia in mallan
partem.
191
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137Art.
63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em
julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.
138Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado.
192
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A questão não está consolidada nos Tribunais Superiores, mas a tendência é pela
segunda corrente.
Art. 116 - Antes de passar em julgado[PPP] a sentença final, a prescrição não corre:
prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro
motivo.
Elas não zeram o prazo, apenas impedem o curso dele. Depois que as causas
suspensivas se extinguem, o prazo continua de quando parou.
Os incisos I e II prevêem as causas suspensivas aplicáveis à PPP. O inciso I trata
das chamadas “questões prejudiciais”, previstas nos arts. 92 a 94 do CPP.Ex.: réu
processado por bigamia questiona no juízo cível a validade do primeiro casamento. A
validade do primeiro casamento é uma questão prejudicial. Enquanto não resolvida,
suspende-se o processo criminal e a prescrição. Invalidado o primeiro casamento,
desaparece o crime.
controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o
curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida
140 Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção
antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos
termos do disposto no art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)
Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta
rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento. (Redação
dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)
193
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aplicada.
Extraímos do artigo cinco hipóteses de prescrição no caso de multa, sendo três da
pretensão punitiva e duas da pretensão executória:
i. Hipóteses da pretensão punitiva:
194
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1. Conceito de pena
A pena é uma espécie de sanção penal, ao lado das medidas de segurança.
É uma resposta estatal ao infrator da norma incriminadora (crime ou
contravenção penal), consistente na privação ou restrição de determinados bens
jurídicos do agente (liberdade e patrimônio).
É a resposta estatal consistente na privação ou restrição de bens jurídicos ao
autor de um fato punível (leia-se:“um fato não atingido por causa extintiva da
punibilidade”).
3. Finalidade da pena
3.1. Teorias
3.1.1. Teoria absoluta ou retribucionista
Para a teoria absoluta (ou retribucionista), pune-se alguém pelo simples fato de
essa pessoa haver delinquido.
A pena acaba sendo sem fim, majestade dissociada de fins. Apesar de muito
criticada, essa teoria tem um ponto positivo. Na medida em que trabalha com o espírito
195
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196
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197
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198
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da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido;
O princípio é absoluto ou relativo? Duas correntes discutem o tema:
1ª corrente: o princípio da personalidade da pena é relativo, havendo uma
exceção prevista na própria Constituição da República, “a pena de confisco” (Flávio
Monteiro de Barros), quando fala “e a decretação do perdimento de bens”.
2ª corrente: o princípio da personalidade da pena é absoluto. O confisco
previsto na CR não é pena, mas efeito da condenação. Esta é a corrente majoritária.
Obs.: A pena de multa, executada como dívida ativa, não poderá passar da pessoa
do condenado. Entretanto, como será visto adiante, a multa não perde seu caráter
penal.
Art. 5º (...) XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as
seguintes:
b) perda de bens;
c) multa;
199
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200
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material. punir.
Ex. bagatela própria: furto de uma caneta bic. Ex. de bagatela imprópria: perdão
judicial dado ao pai que mata culposamente o filho (a própria morte do filho já causa
sofrimento suficiente ao pai, a pena é desnecessária).
Art. 5º (...) XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
Foi um dos princípios em que se baseou o STF para a declaração de
inconstitucionalidade do regime integralmente fechado. O novo “alvo” deste princípio é
o Regime Disciplinar Diferenciado.
Defensoria Pública: se, por um lado, o crime jamais deixará de existir no estágio
atual da humanidade, por outro, há formas humanizadas de garantir a eficiência do
Estado para punir o infrator, corrigindo-o sem humilhação (vivemos hoje num estado
constitucional e humanista). Rogério Greco pondera que hoje olhamos para a Idade
Média e ficamos estupefatos com as penas que eram aplicadas, mas, no futuro, as
próximas gerações enxergarão a forma desumana como tratamos os que se encontram
atualmente presos.
Obs.: Lembrar do Art. 57 do Estatuto do Índio, como visto acima, tolera a
aplicação de penas pela tribo, desde que não seja cruel degradante ou de morte.
5. Tipos de pena
5.1. Penas proibidas no Brasil (art. 5º, XLVII, da CR)
Art. 5º (...) XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
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será classificada como hostil, ficando sujeita à medida de destruição, nos casos dos
permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua
liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal
condenada por um dos crimes previstos no artigo 5.º do presente Estatuto uma das
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Dessa forma, as penas cruéis são proibidas no Brasil, sendo que a pena privativa
de liberdade, permitida no Brasil, não poderia ser executada em celas escuras e
insalubres, forma cruel e desumana de execução.
“Art. 5º, XLVI, a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras (rol
exemplificativo), as seguintes:
b) perda de bens145;
c) multa;
146
203
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
6. Aplicação da pena
Não há pena sem prévia cominação legal, dessa forma, uma vez praticada a
infração penal, nasce para o Estado o poder-dever de aplicar a pena.
A aplicação da pena exige-se o devido processo legal, que se encerra com a
prolação da sentença pelo magistrado, ato judicial que impõe ao condenado a pena
individualizada.
204
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“pena-base”]
O ponto de partida para o juiz aplicar a pena base é a pena simples ou
qualificada prevista no preceito secundário. Ex.: homicídio simples (art. 121,
caput, do CP): pena de 6 a 20 anos; homicídio qualificado (art. 121, § 2º, do CP): pena
de 12 a 30 anos.
A qualificadora, portanto, não entra no critério trifásico (não faz
parte de nenhuma das três fases). Na verdade, ela é norte desse critério
(ponto de partida).
148Motivo: Essa é a menor fração dentre as previstas no CP, por isso a doutrina sugere
que se adote esse critério.
205
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149 Na Reforma de 1984, ela substituiu a expressão que designava “grau menor ou maior
de dolo na conduta”.
150 Podem servir no estudo da personalidade do agente, que também é uma circunstância
judicial – HC 146.684/RJ.
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Entretanto, Bitencourt discorda, e leciona ser possível aplicar o Art. 64, I151 por
analogia (in bonam parten), entendendo que o prazo depurador de cinco anos da
reincidência aplica-se em relação aos maus antecedentes, posição que conquista cada
vez mais adeptos, inclusive no STF152.
Tudo quanto dito acima é o que prevalece, mas não é unânime. A Súmula 444 do
STJ, por exemplo, veda a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para
agravar a pena base (leia-se: não servem como maus antecedentes):
151 “Art. 64: Para efeito de reincidência: I - não prevalece a condenação anterior, se entre
a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de
tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento
condicional, se não ocorrer revogação;”
152 Min Toffoli, no HC 119.200/PR, “A interpretação do disposto no inciso I do artigo 64
do Código Penal [que trata da reincidência] deve ser no sentido de se extinguirem, no prazo ali
preconizado, não só os efeitos decorrentes da reincidência, mas qualquer outra valoração
negativa por condutas pretéritas praticadas pelo agente”, afirmou o ministro. “Se essas
condenações não mais prestam para o efeito da reincidência, que é o mais, com muito maior
razão não devem valer para os antecedentes criminais, que é o menos”.
207
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dos danos causados. A análise das consequências do crime será o substrato para a
fixação deste montante.
viii. Comportamento da vítima:
Não existe, no direito penal, compensação de culpas. Todavia, a culpa
concorrente da vítima atenua a responsabilidade do agente.
Obs.: Provocação da vítima:
réu agindo sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima: o juiz não apreciará o comportamento da vítima como
circunstância judicial. Isso gera o “Privilégio” (que, na verdade, é causa de diminuição
de pena) previsto no homicídio doloso e lesão corporal dolosa.
réu agindo sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da
vítima: o juiz não apreciará o comportamento da vítima na 1ª fase. Isso configura uma
Atenuante Genérica (Art. 65, III, “c”).
réu reage à provocação da vítima: aqui será analisada na 1ª fase e favorecerá a
posição do autor.
Outro Exemplo: Condenação por crime culposo. Magistrado verifica que a vítima
também foi descuidada. Eventual culpa da vítima não elide a culpa do autor, todavia,
será valorada pelo juiz como circunstância judicial favorável ao réu.
reincidência.
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Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
reincidência.
A Rogério parece melhor a segunda corrente. É a que prevalece.
Pena-base fixada no mínimo sem fundamentação é tolerada (obviamente, não é
recomendável). Todavia, fixada acima do mínimo, sem fundamentação, torna a
sentença nula no ponto. Isto é, o juiz deve renovar o cálculo da pena (observe que a
condenação não é anulada).
O art. 59 do CP não é usado somente na fixação da pena base, mas para todas as
demais fases da aplicação da pena, como demonstram os incisos III e IV. Na verdade, o
dispositivo é polifuncional, pois serve para a fixação da pena-base,do regime inicial e
para a análise da possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade:
209
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Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem
Há, portanto, exceções (ou seja, agravantes presentes e provadas que não servirão
para agravar a pena):
i) quando constituem ou qualificam o crime:
A vedação da utilização da agravante quando ela constituir ou qualificar o crime
serve para evitar bis in idem. Ex.: a gravidez da vítima é uma agravante genérica e, ao
mesmo tempo, elementar do crime de aborto. Por essa razão, não servirá como
agravante, num crime de aborto, para evitar a dupla punição.
ii) quando a pena-base foi fixada no máximo:
Perceba que o juiz, na segunda fase, também está atrelado aos limites previstos
em lei153.
iii) quando a atenuante for preponderante, nos termos do art. 67 do CP.
O quantum de agravamento também fica a critério do juiz, que deve fundamentar
a opção por uma delas.
210
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mesma: 6 a 20 anos. “A”, terá a pena fixada no mínimo nas três fases; “B” também, mas
teve ignorada circunstância pessoal favorável.
Diante disso, indaga-se: a Súmula 231 é constitucional? Existe minoria na
doutrina afirmando que ela ofende os seguintes princípios: i) individualização da pena;
ii) isonomia; e iii) legalidade (não existe na lei dispositivo proibindo o juiz de extrapolar
os limites mínimo e máximo previstos no preceito secundário).
iii) quando a agravante for preponderante, nos termos do art. 67 do CP:
O quantum da atenuação fica a critério do juiz.
e da reincidência.
O art. 67 do CP é confuso, sendo necessária a elaboração de uma tabela de
preponderância, sugerida pela jurisprudência:
1ª Atenuantes da MENORIDADE / SENILIDADE (Art. 65, I) 154;
2ª Agravante da REINCIDÊNCIA (Art. 64)
3ª ATENUANTES / AGRAVANTES SUBJETIVAS
4ª ATENUANTES / AGRAVANTES OBJETIVAS
i) menoridade:
A atenuante que mais prepondera é a da menoridade. Assim, se houver uma
agravante da reincidência e uma atenuante da menoridade, não será aplicada aquela (a
atenuante preponderará).
Existe doutrina equiparando à hipótese da menoridade a atenuante do agente
maior de 70 anos na data da sentença, para fins de consideração da circunstância mais
preponderante.
ii) reincidência:
Depois da menoridade, a reincidência é a que prepondera. Se a reincidência
concorrer com a atenuante da coação moral irresistível, a agravante preponderará (o
juiz terá de agravar a pena).
iii) agravantes e atenuantes subjetivas:
Havendo uma agravante subjetiva concorrendo com uma atenuante objetiva, o
juiz terá de agravar a pena.
iv) agravantes e atenuantes objetivas:
Havendo uma agravante objetiva concorrendo com uma atenuante objetiva, uma
não preponderará sobre a outra: o juiz poderá compensá-las.
Em resumo:
154 Cuidado: A menoridade significa o agente ser menor de 21 anos na data dos
fatos e a senelidade significa ser o agente maior de 70 anos na data da sentença!
211
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Atenuantes Agravantes
Aplicam-se a: Aplicam-se a:
a) crimes dolosos a) crimes dolosos
b) crimes culposos b) excepcionalmente aos crimes culposos: a
única agravante aplicável a crime culposo é a
da reincidência.
Vale ressaltar que aprova da Magistratura do Ceará considerou que o “motivo
torpe” seria aplicável a crime culposo. Isso porque o STF, no HC 70.362, defendeu
justamente esse posicionamento. Não é o que prevalece. Hoje, o STF não admitiria
raciocínio como esse.
Obs.: A agravante não precisa estar articulada na denúncia, para ser considerada.
Ex.: nunca se fala na denúncia que o réu é reincidente, o que não impede o juiz de
considerá-la155.
6.2.2.5.1. Conceito
Num conceito vulgar, reincidir é repetir o fato punível. O conceito legal está
previsto no art. 63 do CP:
6.2.2.5.2. Requisitos
São requisitos da reincidência:
i) trânsito em julgado de sentença penal condenatória por crime anterior;
155Art. 385 do CPP – “Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença
condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como
reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.”
212
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contravenção.
Em resumo:
civis;
213
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Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada
214
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
Se o agente pratica novo Se o agente pratica Se o agente pratica novo crime, após os
crime, entre o trânsito em novo crime, antes de 5 anos do cumprimento da pena, o
julgado da condenação passados 5 anos do agente é portador de maus
anterior e o cumprimento cumprimento da pena antecedentes. É o chamado período
da pena dessa do crime anterior, ele depurador da reincidência.
condenação, ele é é reincidente. Essa é Obs: Tem doutrina que chama isso de
reincidente. Essa é a a chamada
“prescrição da reincidência”. Mas
chamada reincidência reincidência real. trata-se de um equívoco, pois prescrição
ficta. não tem nada a ver com isso.
Caso a pessoa pratique novo crime antes da condenação definitiva, não será
considerada reincidente; praticado novo crime após a condenação e antes do
cumprimento da pena, será considerada reincidente; praticado novo crime após o
cumprimento da pena e antes dos cinco anos, será considerada reincidente; praticado
novo crime após os cinco anos, contados do cumprimento da pena, a pessoa será
considerada portadora de maus antecedentes (mas não será considerada reincidente).
a) Reincidência ficta: é a ocorrida entre a condenação definitiva e o
cumprimento da pena.
b) Reincidência real é a ocorrida entre o cumprimento da pena e o termo final do
prazo de cinco anos.
No prazo de cinco anos, será computado o tempo de sursis de livramento
condicional. Assim, devidamente cumpridos dois anos do período de prova, três anos
depois haverá a depuração da reincidência.
215
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
judicial.
No entanto, se o sujeito tem no passado uma condenação definitiva por furto e
outra por estupro, e, no presente, comete um furto, pode o estupro ser usado como mau
antecedente e o furto como reincidência. Essa hipótese não está abrangida pela
proibição da Súmula. Isso porque não está sendo considerada a mesma condenação
para a aferição da reincidência.
Será que o próprio instituto da reincidência, por si só, não configuraria um bis in
idem? A reincidência foi recepcionada pela CR? No caso da utilização de um furto
ocorrido para fins de reincidência, o mesmo fato não está sendo considerado duas vezes
em prejuízo do mesmo agente? O professor Luíz Flávio Gomes é adepto a essa teoria,
mas, o STJ não admite essa tese.
De acordo com o tribunal, o fato de o reincidente ser punido mais gravemente do
que o primário não viola o princípio da proibição do bis in idem, pois visa, apenas,
reconhecer maior reprovabilidade na conduta daquele que é contumaz
violador da lei penal156 (REsp 984.578).
216
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
menoridade não foi alterada pelo CC/02, pois interessa ao direito penal não a
capacidade civil do agente, mas sua idade biológica. Assim, o menor de 21 anos
continua se valendo da atenuante do art. 65, I, do CP.
O agente tem de ser menor de 21 anos na data do fato. Analisa-se a menoridade
na data da conduta, pouco importando a idade do sujeito quando produzido o
resultado(art. 4º do CP: teoria da atividade).
217
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
parcerias;
Outro exemplo de aplicação do princípio da coculpabilidade é o art. 2º da Lei
12.288/2010 (Estatuto Racial), em que a sociedade é chamada à responsabilidade na
concessão de igual tratamento a todos:
218
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
157 Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. (...) § 2º - A
pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída
pelo poder público.
158Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. (...) § 2º - A pena aumenta-se de um
terço até metade: I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; II - se há o
concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o
agente conhece tal circunstância. IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro Estado ou para o exterior; V - se o agente mantém a vítima em seu
poder, restringindo sua liberdade.
219
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
O juiz está atrelado aos limites mínimo O juiz não está atrelado aos limites
e máximo do preceito sancionador mínimo e máximo do preceito
(Súmula 231 do STJ). sancionador. A pena definitiva pode ficar
aquém do mínimo ou além do máximo.
Súmula 231 - A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução
Nesta fase, o juiz determina a pena definitiva, como visto é a única fase em
que poderá haver pena fora dos limites abstratos fixados na fase
preliminar, ou seja, abaixo do mínimo ou acima do máximo.
Causas de aumento e diminuição não se compensam e todas devem ser utilizadas.
Como possuem valor legal – cada tipo penal possui um específico, sendo que primeiro
o juiz deve aumentar, depois deve diminuir.
Importante lembrar que todas as causas de aumento e diminuição da parte geral
são obrigatoriamente utilizadas;
Todas as causas de aumento e diminuição da parte geral confrontadas com as da
parte especial são obrigatoriamente utilizadas;
Porém, as causas de aumento e diminuição previstas exclusivamente na parte
especial, é possível aplicar ambas ou somente a mais grave, a mais intensa.
Ex.: sujeito ateia fogo em um casa (crime de incêndio art. 250), porém havia uma
pessoa dentro da casa ocasionando sua morte. Tipificação incêndio seguido de morte.
Causas de aumento no mesmo incêndio (i) fogo em residência urbana; e, (ii) morte da
pessoa. Nesse exemplo, o juiz pode aplicar as duas causas de aumento ou apenas uma
delas.
220
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
6.2.3.3.2.
Concurso homogêneo (duas causas de aumento ou duas de
diminuição)
a) 1ª situação: duas causas de aumento ou de diminuição previstas na parte
especial do Código Penal.
Concorrendo duas causas de aumento ou de diminuição previstas na parte
especial do Código Penal, aplica-se o art. 68, parágrafo único, do CP:
221
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
159 Não se trabalha nesse ponto com o princípio da incidência cumulativa, vez que
prejudicial ao réu, onde cada causa de aumento aplica-se à pena encontrada anteriormente, ex.
duas causas de aumento de ½ em uma pena de 6 anos (6 + ½ = 9 9 + ½ = 13 anos e 6
meses).
222
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
§ 1º - Considera-se:
média;
estabelecimento similar;
adequado.
regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não
223
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
224
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
judiciais.
Obs.: Pergunta de Concurso: Um condenado por roubo com emprego de arma
teve a pena fixada em 5 anos e 4 meses de reclusão. Esse condenado é primário. Qual o
regime inicial?
R: Segundo o art. 33, §2º, do CP, o regime inicial é o semiaberto. Contudo, tem
jurisprudência, com base na gravidade em abstrato do regime de roubo, inadmitindo o
regime semiaberto para o delito de roubo, fixando o regime inicial no fechado.
Contudo, segundo a súmula 718, do STF e a súmula 440, do STJ, isso não pode ser
feito.
não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o
concreto).
Então, a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação suficiente para
imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada (Súmulas
718, do STF e 440, do STJ). A gravidade em concreto permite regime mais severo,
constituindo motivação idônea (súmula 719, do STF).
Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em
225
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
160 "Art. 387, § 2º: O tempo de prisão provisória, prisão administrativa ou de internação,
no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena
privativa de liberdade .".
226
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
Art. 1º (...) § 5º A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em
161Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. (...) § 2º - A pena aumenta-se de um
terço até metade: I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
227
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com
6.4.1.1. Conceito
Pena restritiva de direitos é a sanção imposta em substituição à pena privativa de
liberdade consistente na supressão ou diminuição de um ou mais direitos do
condenado. É tendência do direito penal moderno de eliminação da pena privativa de
liberdade de curta duração.
As medidas alternativas à prisão podem ser:
i) penas alternativas (pressupõem pena): aqui entram as penas restritivas de
direito;
ii) sursis e livramento condicional (pressupõem pena);
iii) medidas alternativas à pena (medidas despenalizadoras que evitam a pena):
aqui sequer haverá a pena (ex.: transação penal).
As penas restritivas de direitos são, portanto, uma espécie de pena alternativa.
Não podem ser consideradas medidas alternativas à pena. São penas alternativas (pois
pressupõem pena), não uma alternativa à pena. São alternativas à prisão.
Segundo a maioria da doutrina, trata-se de um direito subjetivo do réu,
assim, presentes os requisitos legais, não se faculta ao magistrado a aplicação de penas
alternativas, mas lhe é imposta a substituição.
228
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
6.4.1.3.
Critérios de aplicação das penas restritivas de direito (art. 44 do
CP)
Duas características das penas restritivas de direito são a autonomia e a
substitutividade:
Art. 78. Além das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
162 Estatuto do torcedor (Lei nº 10.671/03 - art. 41-B § 2º): “Na sentença penal
condenatória, o juiz deverá converter a pena de reclusão em pena impeditiva de
comparecimento às proximidades do estádio, bem como a qualquer local em que se realize
evento esportivo, pelo prazo de 3 (três) meses a 3 (três) anos, de acordo com a gravidade da
conduta, na hipótese de o agente ser primário, ter bons antecedentes e não ter sido punido
anteriormente pela prática de condutas previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.299, de
2010).”
163 “Art. 292: A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor pode ser imposta isolada ou cumulativamente com outras
penalidades.”
229
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
Art. 55. As penas restritivas de direitos referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43
condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior
Art. 41-B (...) § 2º Na sentença penal condenatória, o juiz deverá converter a pena de
como a qualquer local em que se realize evento esportivo, pelo prazo de 3 (três) meses
primário, ter bons antecedentes e não ter sido punido anteriormente pela prática de
230
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa OU, qualquer
II - o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 9.714,
de 1998)
231
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena
privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e
reclusão.
Ex.1: na condenação a pena privativa de liberdade de um ano, a restritiva de
direitos também durará um ano. Se, depois, do décimo mês, ocorre o descumprimento
232
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar
Art. 181. A pena restritiva de direitos será convertida em privativa de liberdade nas
condenado:
a) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender a
serviço;
233
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
e) sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não
exercer a atividade determinada pelo Juiz ou se ocorrer qualquer das hipóteses das
importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360
234
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
6.4.2.1. Introdução
Multa é conceituada como espécie de pena alternativa, consistente no pagamento
ao fundo penitenciário de quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa.
Zaffaroni faz duras criticas a pena de multa, taxando-a de “pena burra” pois na
verdade, não há qualquer certeza de que é efetivamente o condenado quem a paga164.
Duas leis marcam a pena de multa: Lei 9.268/1996 e Lei 9.714/1997.
Antes da Lei 9.268/1996, a pena privativa de liberdade aplicada não superior a
seis meses admitia a substituição por pena de multa (art. 60, § 2º, do CP165). Cabia
conversão em privativa de liberdade em caso de descumprimento (antigo art. 51166).
Vide o caso dos mensaleiros que fizeram pedidos de doações para que simpatizantes
164
pagassem os valores.
165 Art. 60 (...) § 2º - A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis) meses, pode
ser substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste
Código.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
166 Art. 51. A multa converte-se em pena de detenção, quando o condenado solvente deixa de
pagá-la, ou frustra a sua execução (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). (...)
(Revogado)
235
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena
privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e
multa ou por duas restritivas de direitos. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
Há, todavia, uma minoria que entende que o art. 60, § 2º, não foi revogado pelo
art. 44, § 2º, do CP, mas que os dispositivos convivem no ordenamento jurídico.
Haveria, segundo esse entendimento, duas hipóteses de conversão da pena privativa de
liberdade por multa:
236
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
Art. 99. Trabalha com a idéia de índices percentuais e Lei 8245/91 (locações) - Art. 43.
valor do aluguel.
§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um
trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5
correção monetária.
Assim, segundo o Art. 49, o juiz, quando fixa pena de multa, deve atentar para
duas etapas:
i) 1ª etapa: Fixação da quantidade de “dias-multa”
Na primeira etapa, ele fixa a quantidade de dias-multa. Há três correntes acerca
do critério de variação dos dias-multa:
1ª corrente: o juiz varia a quantidade de dias-multa de 10 a 360 considerando
somente as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP.
2ª corrente: o juiz deve considerar o sistema trifásico (art. 68 do CP).
3ª corrente: o juiz deve observar a capacidade financeira do condenado.
Na prática, os juízes adotam a primeira corrente, a doutrina entretanto, tem-se
inclinado pela adoção da segunda corrente, ou seja, aplicação à pena de multa do
critério trifásico.
ii) segunda etapa: Decisão do valor do “dia-multa”
Na segunda etapa, o juiz determina o valor de um dia-multa, o qual será
multiplicado pela quantidade de dias-multa fixada.
Aqui não há discussão, o juiz deve considerar a capacidade financeira do
condenado167.
Sendo que o dia-multa varia de 1/30 a 5 vezes o salário mínimo, podendo o juiz
triplicar o valor, se considerar insuficiente168.
Assim, fixando o juiz a quantidade de 10dias-multa, sendo o dia-multa no
mínimo, a multa será equivalente a 1/3 do salário mínimo.
A Súmula 43 do STJ, que representa o entendimento do STF, determina o termo
inicial da atualização da multa: a data do fato.
Súmula 43 - Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do
167Art. 60: Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à situação
econômica do réu.
168 “Art. 60: § 1º - A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em
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“Art. 50 - A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em
prescrição.”
Como dívida a ser cobrada através de execução fiscal, discute-se quem tem
legitimidade para assim proceder, havendo três correntes acerca da legitimidade e da
competência para a execução da multa não paga:
1ª corrente: a legitimidade é do MP e a competência do juízo das execuções
criminais, com o rito da lei das execuções fiscais. Ou seja, somente o rito que mudou.
2ª corrente: a legitimidade é da Procuradoria da Fazenda respectiva (estadual
ou federal, a depender do tipo de condenação) e a competência é da Vara das Execuções
Fiscais (Vara da Fazenda Pública). A multa, para esta corrente, não perde o caráter
penal169.
3ª corrente: a legitimidade é da Procuradoria da Fazenda e a competência é da
Vara das Execuções Fiscais, com um detalhe: a multa perde o caráter penal. Esta
terceira corrente entende que a multa, por perder o caráter penal, pode ser executada
em face dos sucessores, passando da pessoa do delinquente.
No STF e no STJ, o entendimento encontra-se pacificado, inclusive por edição de
Súmula:
Fazenda Pública.
Obs.: Há um entendimento no STJ170, ainda que não possa executar propriamente
a pena de multa (agora em virtude da Súmula 521), o MP poderia manejar medidas
assecuratórias que visem resguardar o patrimônio do acusado, evitando sua
dilapidação, com a finalidade de que seja garantida a execução da pena de multa.
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Obs.: A única multa que nunca será executada perante o juízo das
execuções fiscais é aquela aplicada no Juizado Especial Criminal, por força do art.
98, I, da CR:
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a
239
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240
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anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: ”
7.2. Sistemas
Há no mundo basicamente três sistemas de sursis: i) franco-belga; ii) anglo-
americano; e iii) probation of first offenders act.
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá
propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não
esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os
Código Penal).
Obs.: Embora o Brasil não utilize o sistema Anglo-americano, a doutrina aponta o
mesmo como grande inspiração para a Lei 13.850/13, notadamente em relação à
delação premiada, mas o assunto ainda merece ser melhor analisado pela doutrina.
Franco Belga Anglo Americano “Probation of first
offenders act”
- O réu é processado, - O réu é processado, - O réu é processado,
reconhecido culpado, reconhecido culpado, suspendendo-se o processo
condenado, suspendendo-se a suspendendo-se o processo sem reconhecimento de culpa.
171 É por isso que se pronuncia “Sursi” pronuncia-se sem o “s”, pois a origem da palavra é
francesa.
241
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III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.
7.3.1.2. Pressupostos
São pressupostos do sursis simples:
i) pena imposta não superior a dois anos. Considera-se, nesse tempo, o concurso
de crimes;
ii) período de prova (período de suspensão) variando de dois a quatro anos. Dica:
sempre o período mínimo de prova coincidirá com o máximo da pena a
ser suspensa.
7.3.1.3. Condições
No sursis simples, primeiro ano de prazo, o condenado se sujeita ao disposto no
art. 78, § 1º, do CP (tem de prestar serviços à comunidade ou terá limitados seus finais
de semana).
7.3.1.4. Requisitos
Para a aplicação do sursis simples, devem estar presentes os seguintes requisitos:
i. condenado não reincidente em crime doloso;
ii. circunstâncias judiciais favoráveis;
iii. não indicada ou cabível pena restritiva de direitos.
Isso significa que o sursis é subsidiário.
242
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III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.
7.3.2.2. Pressupostos
São pressupostos do sursis especial:
i) pena imposta não superior a dois anos. Considera-se, nesse tempo, o concurso
de crimes;
ii) período de prova (período de suspensão) variando de dois a quatro anos. Mais
uma vez, fica a dica: sempre o período mínimo de prova coincidirá com o máximo da
pena a ser suspensa;
O legislador repete os pressupostos nos sursis especial e simples, pois está
preocupado com o “princípio da suficiência da pena alternativa172”.
iii) reparação do dano (ou comprovada impossibilidade de fazê-lo);
iv) condições judiciais inteiramente favoráveis.
7.3.2.3. Condições
No sursis especial, primeiro ano, o condenado se sujeita às condições previstas no
art. 78, § 2º, do CP: comparecimento mensal, proibição de ausentar-se sem autorização
do juiz e proibição de frequentar determinados lugares.
Veja que são condições menos rigorosas que as do sursis simples, pois o
agente reparou o dano. Por isso sursis especial.
7.3.2.4. Requisitos
Para a aplicação do sursis especial, devem estar presentes os seguintes requisitos:
i) condenado não reincidente em crime doloso;
172 Segundo o principio da suficiência da pena alternativa, se uma pena menos aflitiva é
suficiente para punir determinada conduta, não deve o juiz impor uma pena mais grave. Ou seja,
preenchidos os requisitos legais, o juiz poderá substituir a pena de prisão por uma pena
restritiva de direitos.
243
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anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado
1998)
7.3.3.2. Pressupostos
São pressupostos do sursis etário:
i) pena imposta não superior a quatro anos. Considera-se, nesse tempo, o
concurso de crimes;
ii) período de prova variando de quatro a seis anos. Sempre o mínimo período de
prova corresponde ao máximo da pena a ser suspensa.
iii)maior de setenta anos. Este é um requisito especial. Deve-se atentar para o
fato de que o dispositivo não foi alterado pelo Estatuto do Idoso, de modo que nem
todo idoso será beneficiado com o sursis etário.
7.3.3.3. Condições
As condições do sursis etário variam de acordo com o fato de haver ou não o
condenado reparado o dano. Podem ser, portanto, as condições do art. 78, § 1º(caso
tenha havido reparação) ou 2º (caso não tenha havido reparação).
7.3.3.4. Requisitos
Para a aplicação do sursis etário, devem estar presentes os seguintes requisitos:
i) condenado não reincidente em crime doloso;
ii) circunstâncias judiciais favoráveis;
iii) não indicada ou cabível pena restritiva de direitos (como dito, o sursisé
subsidiário).
7.3.4.2. Pressupostos
São pressupostos do sursis humanitário:
i) pena imposta não superior a quatro anos. Considera-se, nesse tempo, o
concurso de crimes;
ii) período de prova variando de quatro a seis anos. Sempre o mínimo período de
prova corresponde ao máximo da pena a ser suspensa.
244
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7.3.4.3. Condições
Assim como no sursis etário, as condições variam de acordo com o fato de haver o
condenado reparado ou não o dano. Podem ser, portanto, do art. 78, § 1º ou 2º, do
Código Penal.
7.3.4.4. Requisitos
Para a aplicação do sursis humanitário, devem estar presentes os seguintes
requisitos:
i) condenado não reincidente em crime doloso;
ii) circunstâncias judiciais favoráveis;
iii) não indicada ou cabível pena restritiva de direitos (o sursis é subsidiário).
245
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- Requisitos: - Requisitos:
I) Não reincidente em crime doloso; I) Não reincidente em crime doloso;
II) Circunstâncias Judiciais Favoráveis; II) Circunstâncias Judiciais Favoráveis;
III) Não cabível PRD III) Não cabível PRD
Sursis Simples Sursis Especial
Previsão Legal Art. 77 c/c art. 78, §1º, do CP Art. 77 c/c art. 78, §2º, do CP
Pena imposta não superior a 2 anos
Pressupostos (considera-se o concurso de crimes para avaliar esse pressuposto).
246
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benefício.
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Art. 44.Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são
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II - frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo
173O sursis especial tem lugar quando o agente, antes de ser condenado e eventualmente
recebido o benefício, se antecipa à reparação do dano, requisito essencial para a concessão de
qualquer espécie do benefício.
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1º.4.1996)
250
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definitivo.
A prorrogação pressupõe recebimento de denúncia ou queixa pelo outro crime ou
pela contravenção. Simples inquérito policial não prorroga o prazo de
suspensão.
Não importa se o crime é doloso ou culposo, ou se se trata de contravenção.
Havendo o recebimento da denúncia ou queixa, prorroga-se automaticamente o
prazo do sursis.
Durante a prorrogação, não subsistem as condições impostas originariamente. O
beneficiário não ficará, por exemplo, durante todo o prazo de prorrogação, tendo de
prestar serviços à comunidade ou comparecer em juízo.
7.8. Casuística
7.8.1. Sursis simultâneos
É possível haver sursis simultâneos, desde que, depois de aplicado o primeiro
sursis, o segundo o seja antes da realização da audiência admonitória do primeiro.
Assim, Sua existência é possível quando o réu, durante o período de prova, é
condenado irrecorrivelmente por crime culposo ou contravenção a pena privativa de
liberdade não superior a dois anos. Nesse caso ele pode obter novo sursis porque não é
reincidente em crime doloso. E nada obsta a manutenção do primeiro, pois a revogação
é facultativa” (Flavio Monteiro de Barros).
251
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tempo não inferior a um ano nem superior a três, a execução da pena de prisão
II – em tempo de paz:
b) pelos crimes previstos nos arts. 160, 161, 162, 235, 291 e seu parágrafo único, ns. I
a IV.
aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a três
anos.
Embora o instituto se encontre um tanto esvaziado em virtude da ampliação da
possibilidade de substituição por PRD, que é mais favorável, vale o registro de que,
tratando-se de crimes ambientais (LCA, art. 16), pode ser concedida suspensão em
condenação a PPL até três anos, e não dois, como se dá em relação ao sursis comum e
ao especial (CP, art. 77).
8. Concurso de crimes
8.1. Conceito
Ocorre o concurso de crimes quando o agente, com uma ou várias condutas,
realiza mais de um crime.
8.2. Espécies
Há três espécies de concursos de crimes: i) concurso material – Art. 69; ii)
concurso formal – Art. 70; e iii) continuidade delitiva – Art. 71.
252
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8.4.2. Requisitos
São requisitos do concurso material:
i) pluralidade de condutas;
ii) pluralidade de crimes.
253
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Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
Art. 69 (...) § 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena
privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será
demais.
O cumprimento será, portanto, simultâneo, se as penas forem compatíveis, ou
sucessivo, se não compatíveis.
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dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas
cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um
quem diga que se trata de concurso material (um crime para cada passageiro) e há quem diga
que se trata de continuidade delitiva. Para o STF, todavia, o concurso é formal impróprio: há
uma só conduta fracionada em vários atos (ou seja, cada passageiro é uma fração de uma só
conduta).
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Art. 70 (...) Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível
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Art. 71, do CP - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
CONTRA A VIDA.
Cuidado, todavia, pois a Súmula é anterior ao processo de reforma do CP/1984,
quando foi acrescentado ao art. 71 seu parágrafo único, autorizando a continuidade nos
delitos praticados com violência contra a pessoa (o qual é um gênero, que tem como
espécie o homicídio).
Veja que a Súmula 605 não foi cancelada. Contudo, ela está
evidentementesuperada. O MP, em prova, até hoje costuma aplicá-la(também em prova
do CESPE). A Defensoria Pública não admite a aplicação da Súmula.
257
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Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
8.6.4.1.2 – requisitos
São requisitos do crime continuado genérico:
i) pluralidade de condutas;
ii) pluralidade de crimes da mesma espécie:
Prevalece que crimes da mesma espécie são os previstos no mesmo tipo penal
protegendo igual bem jurídico. Ex.: furto e roubo não admitem continuidade delitiva,
pois não estão no mesmo tipo penal. Roubo e extorsão também não, pelo mesmo
motivo.
Furto simples e furto qualificado, todavia, admitem a continuidade delitiva,
mesmo que as formas do furto não sejam as mesmas (apesar de haver jurisprudência
não admitindo). Isso porque o dispositivo faz a seguinte alusão: “aplica-se-lhe a pena
de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas”. Somente haverá penas
diversas se os crimes não forem da mesma forma. Para Rogério, ainda que o tipo
mencione a mesma maneira de execução, não se deve prender a minúcias, caso
contrário não haverá nunca a caracterização do crime continuado.
Entre roubo simples e latrocínio, todavia, não se admite continuidade
delitiva, pois os bens jurídicos protegidos não são os mesmos (o latrocínio protege
também a vida). Segundo o STF, para haver a continuidade delitiva, os “crimes da
mesma espécie” devem ser previstos no mesmo tipo penal, protegendo o mesmo
bem jurídico.
Obs.: O STJ admitiu a continuidade delitiva entre o Art. 168-A e 337-A, trata-se
de uma decisão isolada175.
iii) existência de um elo de continuidade:
Para haver continuidade delitiva (e isso é o que diferenciará o crime continuado
da habitualidade delituosa), exige-se um elo de continuidade. Isso significa que a
pluralidade de condutas deve seguir as mesmas condições de tempo, de
lugar e a mesma maneira de execução.
Infrações que têm as mesmas condições de tempo, segundo a jurisprudência, são
aquelas que se distanciam uma da outra até 30 dias176.
Obs.: Trata-se de hipótese de jurisprudência como fonte formal imediata
(conforme estudado anteriormente), ou seja, relevando direito penal.
175Resp: 1.212.911
176 Vale destacar que, nos crimes contra a ordem tributária, os tribunais admitem
continuidade delitiva com intervalo temporal de até três exercícios financeiros e se o fato
gerador for eventualmente anual, o STJ já admitiu até cinco anos.
258
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
Para que haja as mesmas condições de lugar, os delitos têm de ser cometidos na
mesma comarca ou em comarcas vizinhas. Isso também é resultado da
jurisprudência.
Por fim, a “mesma maneira de execução” não deve, como visto, ser interpretada
estritamente assim, não se pode exigir que o modus operandi do agente seja
exatamente idêntico. Caso contrário, será muito difícil a configuração da continuidade
delitiva. Evidente que há jurisprudência em sentido contrário. Ex.: caso haja um furto
simples e outro com rompimento de obstáculo, um estupro e um ato diverso da
conjunção carnal ou um roubo com arma de fogo e outro sem, haverá sim continuidade
delitiva.
iv)unidade de desígnios ou homogeneidade subjetiva (há polêmica sobre a
presença deste requisito):
discute-se se para haver continuidade, exige-se unidade de desígnios, ou seja, se
os vários crimes devem ser parte de um plano previamente elaborado pelo agente,
sobre o tema, duas posições:
1ª corrente: além dos requisitos legais, é imprescindível a presença de um “dolo
unitário ou global” que tornem coesas todas as infrações cometidas, executando-se um
plano pré concebido, trata-se da teoria objetivo-subjetiva. Segundo essa corrente, é
a unidade de desígnios que permite distinguir o criminoso habitual daquele em
“continuidade”. Adotam essa teoria Zaffaroni, o STF (HC 890.907) e o STJ (HC
151.012).
2ª corrente: a unidade de desígnio não faz parte dos requisitos do crime
continuado, inclusive por não haver essa previsão no Art. 71, bastando a presença dos
requisitos “i” (pluralidade de condutas), “ii” (pluralidade de crimes da mesma espécie)
e “iii” (elo de continuidade) acima (teoria objetiva pura). Não é a que prevalece, como
se pode perceber pelos julgados citados. É a corrente defendida por Luiz Flávio Gomes
e pela Defensoria Pública.
Obs.: A doutrina trata cada um dos crimes cometidos pelo nome de “delito
parcelar” que ao final, se tornarão um único crime, através da ficção jurídica da
continuidade delitiva.
Art. 71 (...) Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes,
259
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
8.6.4.2.2. Requisitos
Os requisitos do crime continuado específico são os mesmos do art. 71, caput,
com alguns requisitos especializantes:
i) os crimes têm de ser dolosos;
ii) as vítimas devem ser diferentes;
iii) os crimes devem ter sido cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa.
Presentes essas três especializantes, incidirá o art. 71, parágrafo único.
Súmula 711, do STF - A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
260
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
permanência.
integralmente.
9. Medidas de segurança
9.1. Conceito
A medida de segurança é a medida com que o Estado reage contra a violação da
norma proibitiva por agente não imputável.
261
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
9.2. Finalidades
Como visto anteriormente, a pena é polifuncional (busca retribuição, prevenção e
ressocialização), está preocupada, principalmente, com o passado, com a culpabilidade
do agente. Já a medida de segurança está preocupada com o futuro, com a
periculosidade do agente. A pena liga-se principalmente à infração penal praticada,
enquanto a medida de segurança está primordialmente preocupada em curar o agente e
no que ele pode vir a fazer.
Pena Medida de Segurança
A pena é polifuncional, porque tem as É essencialmente preventiva (curativa).
seguintes finalidades:
a) Prevenção; Obs: Como toda medida restritiva de
b) Retribuição; liberdade, não se pode negar o seu caráter
c) Ressocialização. penoso. Por isto, fala-se em
(Finalidades preventiva, retributiva e essencialmente preventiva.
ressocializadora).
Volta ao passado Volta ao futuro177
Trabalha com a culpabilidade Trabalha com a periculosidade
9.3. Princípios
Os princípios aplicáveis à medida de segurança são os mesmos das penas, porém
com duas observações:
i) princípio da legalidade:
O art. 1º do CP determina o seguinte:
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.
Nesse sentido, discute-se se o dispositivo abrange medida de segurança, a
doutrina se divide:
1ª corrente: sabendo que a medida de segurança tem caráter puramente
assistencial ou curativo, não é necessário que ela se submeta ao princípio da legalidade.
A corrente já foi considerada correta em prova do MP/PI. É o posicionamento adotado
por Assis Toledo (Princípios Básicos de Direito Penal).
2ª corrente: não desconsiderando o caráter penoso da medida de segurança, ela
deve, a exemplo da pena, sujeitar-se ao princípio da legalidade. É a corrente que
prevalece.
ii) princípio da proporcionalidade:
Como visto, a pena se ajusta à gravidade do fato delituoso. Já a medida de
segurança se ajusta ao grau de periculosidade do agente.
Assim, na aplicação da medida como sanção penal, o juiz não poderá
fundamentar na relação de gravidade entre a conduta do agente e a gravidade do fato,
mas, sim no grau de periculosidade daquele que se a ela se sujeita.
262
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
Art. 319.São medidas cautelares diversas da prisão:(Redação dada pela Lei nº 12.403,
de 2011).(…)
263
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
12.403, de 2011).
Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se,
todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-
lo a tratamento ambulatorial.
Assim, de acordo com o art. 97 do CP, crime punido com reclusão sujeita o
não imputável à internação; se punido com detenção, a medida de segurança
pode ser o tratamento ambulatorial.
Podendo-se afirmar que em relação à lei, a regra é internação, a exceção é que é o
tratamento ambulatorial.
Entretanto, faz-se uma crítica, uma vez que pela dicção do Art. o Código Penal
leva em conta apenas a gravidade da infração, e não a periculosidade do agente,
ignorando o princípio da proporcionalidade.
Nesse sentido, tem prevalecido o caráter excepcional da internação, não
importando o regime de cumprimento da pena (se detenção ou reclusão).
Atente-se ainda para o art. 17178 da Resolução 113 do CNJ, segundo o qual o juiz
competente para a execução da medida de segurança, sempre que possível, buscará
implantar políticas antimanicomiais, mesmo para os crimes punidos com reclusão.
3 (três) anos.
O prazo mínimo será diretamente proporcional à gravidade da anomalia mental
do sentenciado.
178 “Art. 17 O juiz competente para a execução da medida de segurança, sempre que
possível buscará implementar políticas antimanicomiais, conforme sistemática da Lei nº 10.216,
de 06 de abril de 2001.”
264
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
II - se não existir ou não promover a interdição alguma das pessoas designadas nos
179 “Art. 319 CPP: São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011). VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados
com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-
imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403,
de 2011).”
180 Não havendo prazo máximo, pode-se configurar como sanção de caráter perpétuo,
265
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
funcionários.
juiz da execução.
Ex.: medida de segurança com tempo mínimo de dois anos. Depois dos dois anos
de cumprimento da medida, é realizada perícia médica. Permanecendo a anomalia, são
realizadas novas perícias, de ano em ano.
Veja que as novas perícias, a serem realizadas anualmente, podem ser
antecipadas pelo Juiz da execução penal, por expressa previsão do dispositivo,
mas as perícias jamais poderão ser adiadas para depois de um ano.
O art. 43 da LEP admite que médico particular acompanhe a execução da medida:
266
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curativos.
Dessa forma, estando o agente em tratamento ambulatorial e sobrevindo fato
indicativo da necessidade de internação, o juiz poderá determiná-la, caso a
providência seja necessária para fins curativos.
Não se trata de regressão-sanção, nesse sentido, o agente não está sendo punido e
migrando para o regime fechado. A finalidade é curativa.
No caso, o tratamento mostra-se insuficiente para a anomalia mental, que para
fins curativos exige a internação.
Art. 41 - O condenado a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital
183 Súmula 527: “O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o
limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado.”
267
Direito Penal Parte Geral: Professor: Rogério Sanches Cunha
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação,
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano,
nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a
Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro)
268
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(cuidado, pois este efeito, que é extrapenal, não tem nada a ver com a suspensão do
poder familiar do direito civil, que é preventiva).
Art. 92 (...) Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos,
11. Reabilitação
Os efeitos da condenação, estudados no tópico anterior, não são eternos. É
possível que o condenado se reabilite.
Art. 202. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou
notícia ou referência à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova
269
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11.3. Requisitos
Os requisitos da reabilitação estão previstos no art. 94 do CP. São requisitos
cumulativos:
Art. 94 - A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que
desde que o pedido seja instruído com novos elementos comprobatórios dos
requisitos necessários.
Pleiteada e negada a reabilitação, ela poderá ser requerida a qualquer tempo,
desde que o pedido seja instruído com novos elementos comprobatórios.
270
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271