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Direito Civil III -

Obrigações
Prof.a Barbara Dias Largura de Oliveira
Prof.a Glauka Cristina Archangelo da Silva

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof. Barbara Dias Largura de Oliveira
a

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

O48d

Oliveira, Barbara Dias Largura de

Direito civil III - Obrigações. / Barbara Dias Largura de Oliveira;


Glauka Cristina Archangelo da Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.

202 p.; il.

ISBN 978-65-5663-504-0
ISBN Digital 978-65-5663-503-3

1. Obrigações (Direito). - Brasil. I. Silva, Glauka Cristina Archangelo


da. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 342.14

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Direito Civil III –
Obrigações. O presente livro didático tem por objetivo apresentar o Direito
das Obrigações de maneira abrangente, descomplicada e objetiva, a fim de
auxiliar o estudante de Direito a compreender os conceitos pertencentes a
esse importante e basilar ramo do Direito Civil.

Na Unidade 1, o conceito do Direito das Obrigações será abordado


detalhadamente, passando pelos elementos constitutivos, fontes e princípios
das obrigações. As classificações básica e especial das obrigações também
serão objeto de estudo. Encerrando o tópico, encontram-se as modalidades
de transmissão obrigacional.

Em seguida, a Unidade 2 cuidará das modalidades de pagamento e


extinção obrigacional, bem como as consequências aplicáveis em razão do
inadimplemento das obrigações.

Na Unidade 3, o tema central será a responsabilidade civil,


aprofundando questões atinentes à caracterização, pressupostos,
modalidades e excludentes. Por fim, serão analisados os efeitos cíveis da
sentença penal.

Como se pode perceber, todas as unidades foram elaboradas com o


intuito de permitir ao acadêmico um acompanhamento integral da disciplina,
favorecendo a interpretação da norma legal cível obrigacional.

Para possibilitar ao discente uma aprendizagem prática e completa do


conteúdo, cada tópico conta com questões objetivas ou estudos de caso, além
de indicações de leituras complementares, permitindo, assim, a assimilação
efetiva sobre os assuntos tratados.

Ademais, para simplificar a verificação do aprendizado, todas


as unidades apresentam um resumo final com as principais temáticas
aprendidas ao longo do capítulo, para que o aluno possa revisitar o assunto
sempre que for necessário.

Finalmente, a citação de outros doutrinadores não foi deixada de lado,


incluindo opiniões diversas de outros autores, de forma que o leitor possa
construir seu convencimento por meio do exame de posicionamentos distintos.

Uma ótima leitura e bons estudos!

Prof.a Barbara Dias Largura de Oliveira


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS,
TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO....... 1

TÓPICO 1 — CONCEITO E AMPLITUDE DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES....................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 EVOLUÇÃO DA TEORIA DAS OBRIGAÇÕES ........................................................................... 4
3 O DIREITO DAS OBRIGAÇÕES NO CÓDIGO CIVIL............................................................... 8
4 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA OBRIGAÇÃO.................................................................. 9
4.1 ELEMENTOS SUBJETIVOS ........................................................................................................ 11
4.2 ELEMENTO OBJETIVO................................................................................................................ 12
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 15
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 16

TÓPICO 2 — FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES............................ 17


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 17
2 FONTES DAS OBRIGAÇÕES......................................................................................................... 17
3 PRINCÍPIOS DO DIREITO OBRIGACIONAL........................................................................... 19
3.1 PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ OBJETIVA E DA FUNÇÃO SOCIAL DAS OBRIGAÇÕES....... 20
3.2 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL DO DEVEDOR........................... 23
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 24
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 25

TÓPICO 3 — CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES................................................................. 27


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 27
2 CLASSIFICAÇÃO BÁSICA: OBRIGAÇÃO DE DAR, FAZER E NÃO FAZER..................... 27
2.1 OBRIGAÇÃO DE DAR................................................................................................................. 28
2.1.1 Obrigação de dar coisa certa............................................................................................... 28
2.1.2 Obrigação de dar coisa incerta............................................................................................ 33
2.1.3 Obrigação de dar dinheiro (obrigação pecuniária).......................................................... 35
2.2 OBRIGAÇÃO DE FAZER ............................................................................................................ 35
2.2.1 Obrigação de fazer fungível................................................................................................ 36
2.2.2 Obrigação de fazer infungível............................................................................................ 36
2.3 OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER ................................................................................................. 37
3 CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL DAS OBRIGAÇÕES................................................................... 38
3.1 OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS, CUMULATIVAS E FACULTATIVAS............................... 39
3.2 OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA.......................................................................................................... 40
3.3 OBRIGAÇÕES DE MEIO E DE RESULTADO........................................................................... 44
3.4 OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS ........................................................................... 45
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 47
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 49
TÓPICO 4 — TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES.................................................................... 53
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 53
2 CESSÃO DE CRÉDITO..................................................................................................................... 53
3 ASSUNÇÃO DE DÍVIDA (CESSÃO DE DÉBITO)........................................................... 57
4 CESSÃO DE POSIÇÃO CONTRATUAL (CESSÃO DE CONTRATO)................................... 60
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 61
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 63
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 64

UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO..................................................................... 67

TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES:


PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS.............................. 69
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 69
2 DO CUMPRIMENTO E DESCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES ................................... 70
3 PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS.................................................... 79
4 CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS DO PAGAMENTO.............................................. 80
4.1 CONDIÇÕES SUBJETIVAS DO PAGAMENTO....................................................................... 80
4.2 CONDIÇÕES OBJETIVAS DO PAGAMENTO......................................................................... 87
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 102
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 103

TÓPICO 2 — ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA E PAGAMENTO INDEVIDO................. 105


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 105
2 PAGAMENTO INDEVIDO............................................................................................................ 105
3 ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA.............................................................................................. 107
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 112
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 113

TÓPICO 3 — FORMAS INDIRETAS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E A


INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E SUAS PENALIDADES....................... 115
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 115
2 PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO.......................................................................................... 115
3 PAGAMENTO POR SUB-ROGAÇÃO......................................................................................... 118
4 IMPUTAÇÃO DE PAGAMENTO................................................................................................. 121
5 DAÇÃO EM PAGAMENTO........................................................................................................... 122
6 NOVAÇÃO......................................................................................................................................... 123
7 COMPENSAÇÃO............................................................................................................................. 124
8 CONFUSÃO....................................................................................................................................... 126
9 REMISSÃO ....................................................................................................................................... 127
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 128
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 131
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 132

TÓPICO 4 — INEXECUÇÃO NO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES............................ 133


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 133
2 MORA................................................................................................................................................. 133
3 JUROS................................................................................................................................................. 135
3.1 JUROS LEGAIS............................................................................................................................. 136
3.1.1 Juros moratórios.................................................................................................................. 136
3.1.2 Juros compensatórios ........................................................................................................ 137
3.1.3 Possibilidade de cumulação de juros moratórios e compensatórios.......................... 137
3.2 JUROS CONVENCIONAIS........................................................................................................ 137
4 SINAL OU ARRAS........................................................................................................................... 138
4.1 CONFIRMATÓRIAS................................................................................................................... 138
4.2 PENITENCIAIS............................................................................................................................ 138
5 CLÁUSULA PENAL......................................................................................................................... 139
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 140
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 141

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 143

UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS


DA SENTENÇA PENAL........................................................................................ 145

TÓPICO 1 — CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E PRESSUPOSTOS DA


RESPONSABILIDADE CIVIL................................................................................. 147
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 147
2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL.............................................................. 149
2.1 AÇÃO E OMISSÃO..................................................................................................................... 150
2.2 CULPA........................................................................................................................................... 151
2.3 DANO............................................................................................................................................ 154
2.4 NEXO DE CAUSALIDADE....................................................................................................... 158
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 163
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 165

TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL...................................................... 169


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 169
2 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL...................................... 169
3 RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA................................................................................ 172
4 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA.................................................................................. 172
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 177
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 178

TÓPICO 3 — EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE E EFEITOS CÍVEIS


DA SENTENÇA PENAL........................................................................................... 181
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 181
2 EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE..................................................................... 182
2.1 CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA............................................................................................ 182
2.2 FATO DE TERCEIRO, COISA OU ANIMAL........................................................................... 183
2.3 CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR...................................................................................... 186
3 EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL ................................................................................ 188
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 191
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 196
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 198

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 201
UNIDADE 1 —

CONCEITO, MODALIDADES,
FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO,
ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES:
EXTINÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o conceito e a amplitude do Direito das Obrigações;

• identificar as fontes, os princípios e os elementos constitutivos da relação


obrigacional;

• conhecer as classificações básica e especial das obrigações;

• diferenciar as modalidades de transmissão obrigacional.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da
unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o
conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONCEITO E AMPLITUDE DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

TÓPICO 2 – FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

TÓPICO 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

TÓPICO 4 – TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

CONCEITO E AMPLITUDE DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Para iniciar o estudo acerca do direito das obrigações é necessário
estabelecer o seu conceito, que pode ser entendido como um conjunto de regras
que normatizam a relação jurídica pessoal transitória existente entre um credor
(sujeito ativo) e um devedor (sujeito passivo), relação em que o sujeito passivo
contrai o encargo de praticar uma obrigação em proveito de outrem.

NOTA

O termo obrigação é oriundo do latim Obligatio/Obligationis, que quer dizer:


ação de obrigar; estar obrigado a; encargo; regra; norma. Ligação jurídica em que um sujeito
está obrigado a dar, a fazer ou a não fazer algo, em vantagem de outro (LAROUSSE, 2004).

Como se pode perceber, conforme corrobora Tartuce (2019), o campo das


obrigações se destaca como uma relação jurídica transitória, que liga um sujeito
ativo, intitulado credor, a um sujeito passivo, chamado devedor, cuja finalidade
se situa em uma prestação, positiva ou negativa, realizada na esfera dos direitos
pessoais. Caso ocorra o inadimplemento ou o descumprimento da obrigação, o
patrimônio do devedor poderá ser atingido para a satisfação do credor, ou seja,
os bens do devedor podem ser utilizados para o pagamento da dívida.

Em linhas gerais, a obrigação pode ser entendida como “uma relação


jurídica pessoal por meio da qual uma parte (devedora) fica obrigada a cumprir,
espontânea ou coativamente, uma prestação patrimonial em proveito da outra
(credor)” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2019, p. 15).

3
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

NOTA

A relação obrigacional é uma relação jurídica pessoal pactuada de maneira


transitória. Exemplos: relação jurídica obrigacional com o provedor de serviço de internet,
com a operadora de cartão de crédito, com a empresa de marketing digital etc.

Assim, as obrigações são caracterizadas por se tratarem fundamentalmente


de um direito do credor, tendo em vista que permitem ao sujeito ativo reivindicar
a execução de determinada prestação pelo sujeito passivo, ou seja, o direito
obrigacional tem como escopo preservar as prerrogativas do credor, existentes
em razão do negócio jurídico firmado com o devedor.

Para conferir sustentação doutrinária ao tema, destaca-se ainda que, de


acordo com Rodrigues (2006, p. 3), obrigação “é o vínculo de direito pelo qual
alguém (sujeito passivo) se propõe a dar, fazer ou não fazer qualquer coisa
(objeto), em favor de outrem (sujeito ativo)”.

Cumpre ressaltar, também, que o direito das obrigações tem amplo


impacto prático na sociedade e no dia a dia dos cidadãos, pois confere estrutura
econômica, fazendo com que bens e riquezas circulem.

NOTA

O elemento obrigacional objetivo, que trata da prestação econômica, precisa


ser lícito, possível e economicamente mensurável, consistindo em dar, fazer ou não fazer.
A obrigação é materializada por meio de uma fonte (que será analisada adiante), que cria o
vínculo jurídico entre os sujeitos da obrigação.

2 EVOLUÇÃO DA TEORIA DAS OBRIGAÇÕES


O sistema econômico se fundamenta nas relações obrigacionais, dessa
forma, é também por meio do Direito das Obrigações que a autonomia da vontade
se constitui em âmbito patrimonial entre os particulares.

4
TÓPICO 1 — CONCEITO E AMPLITUDE DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

O motivo da importância do Direito das Obrigações na economia


está pautado na presença constante dos negócios jurídicos obrigacionais na
contemporaneidade, presentes nas diferentes espécies de relações de consumo,
assim como também na distribuição de capital e propriedades.

Desse modo, ratifica-se a possibilidade de conceituar o Direito das


Obrigações como um campo do Direito Civil que possui como objetivo
regulamentar e equilibrar as relações existentes entre credor e devedor. Logo,
compreende uma série de normas que orientam as citadas relações jurídicas de
cunho patrimonial que apresentam como objeto alguma prestação a ser executada
em prol de outrem, prestações estas que podem ser classificadas em dar, fazer ou
não fazer, como se verá posteriormente.

Considerando que o Direito é uma construção "social mutável, imposta


à sociedade; é afetado por mudanças fundamentais dentro da sociedade e é,
em ampla escala, um instrumento assim como um produto dos que detêm o
poder" (CAENEGEM, 2000, p. 277), é fundamental explorar os principais marcos
históricos das obrigações enquanto ramo pertencente ao Direito Civil.

Inicialmente, cumpre ressaltar que a estipulação de normas para a pacífica


convivência social remonta da origem do ser humano na Terra. Na era dos povos
ágrafos, a lei do mais forte prevalecia, onde conceitos de moral, religião e direito
eram confundidos (WOLKMER, 2001).

NOTA

O termo ágrafo (2019) possui origem grega e significa o que não está escrito,
que não tem ou não utiliza escrita. Ou seja, povos ágrafos são aqueles que não dispõem
de registros escritos.

A complexidade das comunidades foi se tornando cada vez mais acentuada


a partir da conexão do homem com as terras, o que fez com que a normatização
também se mostrasse de maneira mais expressiva.

Essa evolução é igualmente observada no Direito Obrigacional, tendo em


vista que o presente ramo se refere à fixação de relações entre seres humanos,
evidenciando o que existe de mais relevante no contexto social.

5
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

Verifica-se que as obrigações tiveram um predomínio da coletividade em


seus primórdios, apenas posteriormente singularizadas entre credor e devedor,
sujeitos da relação jurídica obrigacional. Nessa transição, se constata a criação de
sanções aplicáveis em razão do inadimplemento da obrigação, conforme Pereira
(2009, p. 9):

Na passagem, então, da obrigação coletiva para a individual


conservou-se ainda o sentido criminal ou mais tecnicamente delitual
da responsabilidade e pôde-se fixar que o homem, subordinado
a um compromisso, era adstrito a honrá-lo, não porque já estivesse
elaborada a convicção de que a palavra empenhada gerava uma
obrigação, porém em razão de se movimentar o aparelhamento coator
contra o que faltava prometido, de forma a sujeitá-lo à observância da
obrigação, ou puni-lo pessoalmente por causa do inadimplemento, já
que o devedor era em pessoa vinculado ao credor pela obrigação.

Não obstante, incumbe salientar que as concepções históricas apresentadas


na sequência não são capazes de esgotar as contribuições sobre o tema, tendo em
vista que são inúmeros os acontecimentos que influenciaram no desenvolvimento
das obrigações. Assim, os momentos históricos aqui tratados serão os que melhor
traduzem os ciclos evolutivos do Direito das Obrigações.

A primeira época que merece destaque é a Antiguidade. Importante


esclarecer que o Direito Romano não reconheceu a expressão obrigação, mas a
nomeava em quatro etapas: nexum, contractus, pactum e as Constituições Imperiais
(SOUSA, 2018).

A noção de relação entre dois sujeitos é representada pela primeira vez


pelo nexum, que pode ser traduzido como conexão. Por meio deste vínculo
jurídico, caso o devedor descumprisse o pactuado, seria transformado em escravo
ou então responderia com seu próprio corpo pela dívida.

Em contrapartida, os contractus apresentavam certo rigor em sua


conformação, pois estavam centrados somente nos contratos formais ou reais, e
na ocorrência de descumprimento, o credor poderia exercer sua prerrogativa de
preservação do direito, denominada actio (BEDAQUE, 2001).

NOTA

A actio romana é a ação de um sujeito "perante o pretor, recitando fórmulas


legais solenes e sacramentais, para obtenção de um jurado particular, incumbido de dirimir
a controvérsia" (Bedaque, 2001, p. 80).

6
TÓPICO 1 — CONCEITO E AMPLITUDE DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Já o pactum era destituído da actio, possuindo simples valor moral sem


obrigatoriedade, uma vez que em caso de inadimplemento do contratado o
devedor não poderia ser responsabilizado.

Finalmente, nas constituições imperiais, a formalidade dos contractus foi


amenizada com o surgimento de uma teoria acerca dos contratos inominados
para os acordos mais simplificados (SOUSA, 2018).

Destarte, os quatro marcos do Direito Romano explanados podem ser


resumidos da seguinte forma:

Quanto ao primeiro, Nexum foi a ideia de dois sujeitos, e caso


houvesse inadimplemento, o devedor respondia com o próprio corpo.
O segundo, denominado Contractus, onde se preocupavam somente
em contratos reais e formais. O terceiro, pactum era o acordo entre as
partes que não poderia responsabilizar o devedor caso não cumprisse
o acordado. Por fim, as constituições imperiais que diminuíram as
formalidades contratuais (SOUSA, 2018, p. 375).

Avançando para o Século XIX, a autonomia da vontade ganhou mais


espaço por meio do Código Napoleônico, quando foi criada a regra que confere
força obrigatória aos contratos. Por conseguinte, os dogmas e tradições, em
especial religiosas, foram refutados pela ideologia iluminista, conforme leciona
Caenegem (2000), o que elevou o ser humano ao patamar central enquanto
indivíduo, ou seja, a prioridade passa a ser o bem-estar do homem, bem como a
obtenção de bens e propriedades.

Percebe-se que o Código Civil brasileiro de 1916 foi fortemente


influenciado pela legislação francesa, pautado na valorização do indivíduo, da
propriedade e da liberdade.

O referido diploma legal foi regido pela igualdade formal, criando lei
entre as partes (pacta sunt servanda). De acordo com a regulamentação em questão,
o contrato firmado por liberalidade entre as partes não comportava alteração,
devendo ser cumprido integralmente em seus exatos termos.

Contudo, a aplicabilidade da cláusula pacta sunt servanda passou a


ser relativizada, com a observância da premissa rebus sic stantibus, em razão
da demanda social, que não mais aceitava o predomínio de relações jurídicas
contratuais com a presença de cláusulas abusivas e má-fé.

Desse modo, houve uma ruptura com o pensamento individualista a


partir do Código Civil de 2002. O atual diploma legal encontra-se ancorado em
princípios sociais, disciplinando que a força obrigatória dos contratos encontra
limitação na preservação da função social do contrato e do bem comum.

7
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

Por fim, conclui-se que o Código Civil de 2002 se mostra incompatível


com a característica existencialista do contrato. Outrossim, a regulamentação
acerca do Direito das Obrigações presente no citado preceito legal será analisada
adiante, no próximo tópico.

3 O DIREITO DAS OBRIGAÇÕES NO CÓDIGO CIVIL


O objetivo deste subtópico é situar o leitor acerca da normatização das
obrigações no Código Civil. Cumpre ressaltar que neste momento não se pretende
esgotar a classificação obrigacional, assunto que será tratado em item específico.
A finalidade, portanto, é tão somente orientar o acadêmico no sentido de melhor
utilização da lei como fonte de consulta.

O Código Civil de 2002 inaugura sua parte especial com o Livro do Direito
das Obrigações. Assim, o Título I desse Livro regulamenta as modalidades de
obrigações, ou seja, delimita de que formas as obrigações podem ser realizadas.

A primeira espécie é a obrigação de dar, presente no Capítulo I do referido


título, onde um ou mais sujeitos se responsabilizam pela entrega de uma coisa a
outrem. Nessa hipótese, a prestação se configura por meio de um objeto que será
concedido em consequência da estipulação de vontades entre as partes. O objeto
da prestação pode ser coisa certa ou incerta, conforme será analisado com mais
detalhes posteriormente.

Já a segunda e a terceira categorias dizem respeito às obrigações de fazer e


de não fazer, definidas respectivamente nos Capítulos II e III. Essas modalidades
têm como objeto a prestação de um fato positivo ou negativo.

Prosseguindo para o segundo Título do mesmo livro encontra-se o


regramento da transmissão das obrigações, que se divide basicamente em dois
capítulos principais, a cessão de crédito, que possuía o status de Título no Código
Civil de 1916, e a assunção de dívida, tema não abordado no Código anterior.

No Título III tem-se o adimplemento e a extinção das obrigações, que


pode ocorrer por meio do pagamento, novação, compensação, confusão, entre
outras espécies.

Finalmente, o Título IV, último do Livro I da parte especial, cuida do


inadimplemento das obrigações, ou seja, regulamenta as consequências aplicáveis às
obrigações que contêm algum defeito ou que não apresentam terminação adequada.

8
TÓPICO 1 — CONCEITO E AMPLITUDE DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

4 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA OBRIGAÇÃO


Conforme analisado anteriormente, a obrigação pode ser conceituada como
uma relação jurídica pessoal, tendo em vista que determina o adimplemento de
uma prestação de cunho patrimonial pelo devedor em prol do credor. Assim, alguns
elementos constitutivos obrigacionais precisam ser pormenorizados neste tópico.

A estrutura da referida obrigação contempla três elementos essenciais,


quais sejam: pessoas/sujeitos (credor e devedor), objeto da obrigação (prestação)
e, ainda, o vínculo jurídico que liga os sujeitos à prestação.

Para melhor visualização, os elementos imprescindíveis que constituem


a obrigação podem ser sistematizados da seguinte forma:

FIGURA 1 – MAPA CONCEITUAL

Relação Obrigacional

Elemento objetivo:
Elementos subjetivos: Vínculo jurídico:
Prestação (lícita,
Sujeitos (credor e O que une os sujeitos
possível, determinada ou
devedor) à prestação
determinável)

FONTE: A autora

Com relação aos elementos subjetivos da relação obrigacional, cumpre


esclarecer que o credor é considerado sujeito ativo, ou seja, a prestação deve ser
realizada em benefício deste. Já o devedor será o sujeito passivo, aquele que se
responsabiliza pelo cumprimento da prestação.

Na definição de Coelho (2007, p. 11), “os sujeitos da relação obrigacional


são identificados de acordo com a posição que nela ocupam. Os que titularizam
o direito (crédito) são os sujeitos ativos; os que devem a prestação (débito), os
sujeitos passivos”.

Outrossim, o elemento objetivo da relação jurídica obrigacional trata do


objeto da obrigação (prestação), que se configura em fato ou ato que o devedor
(sujeito passivo) deve executar. A prestação pode ser positiva, nas hipóteses
em que o devedor se obriga a dar ou fazer alguma coisa a outrem, ou negativa,
quando o sujeito passivo assume o dever de não fazer, ou seja, necessita abster-se
de algo.

9
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

O terceiro elemento da obrigação, o vínculo jurídico, também chamado


de elemento imaterial da relação obrigacional, apresenta duas teorias que
merecem destaque, são elas:

• Teoria Monista (Unitária):


Nesta corrente, da qual Savigny é precursor, o vínculo entre sujeito ativo e
passivo é apenas um, ou seja, um único elemento é considerado. Assim, o
vínculo surge por meio da relação de crédito e débito, aplicando-se a premissa
de que o direito de exigir está incorporado no dever de prestar.

• Teoria Dualista (Binária):


Esta teoria, desenvolvida na Alemanha por Brinz, sustenta que a obrigação
é constituída por um vínculo duplo. Assim, a obrigação seria composta pelo
dever jurídico (Schuld, debitum) que o devedor possui de cumprir de maneira
espontânea o objeto da obrigação (dar, fazer ou não fazer) e, em caso de
descumprimento, pela responsabilidade civil (Haftung, obrigatio), que nada mais
é do que parte integrante da obrigação enquanto consequência patrimonial e
jurídica do inadimplemento do dever jurídico.

O Direito pátrio aplica a corrente Dualista. A superação da teoria Monista


explica-se, de acordo com Martins-Costa (2003), em razão da própria distinção,
pelo Direito Alemão, dos dois elementos estruturantes da obrigação: Schuld/
Debitum, dever legal imputável ao devedor de cumprir/adimplir determinada
prestação (débito) e Haftung/Obrigatio, responsabilidade civil, ligada à
possibilidade de dispor de patrimônio com o intuito de satisfazer a prestação.

NOTA

A relação jurídica obrigacional creditícia possui como objetivo imediato uma


prestação (débito) e secundário a submissão do patrimônio do devedor (responsabilidade civil).

Pode-se dizer que o débito (Schuld) e a responsabilidade (Haftung) estão,


em regra, atrelados. Neste sentido corrobora Coelho (2007, p. 14):

A obrigação, portanto, importa a sujeição do devedor no sentido de que,


uma vez não cumprida espontaneamente a prestação correspondente
(execução voluntária), pode o credor exigir em juízo a entrega desta
tal como esperada (execução judicial específica), sua substituição por
uma prestação equivalente capaz de produzir os mesmos resultados
ou por uma indenização em dinheiro (execução judicial subsidiária).

10
TÓPICO 1 — CONCEITO E AMPLITUDE DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Todavia, excepcionalmente, é possível que se depare com o débito sem a


responsabilidade ou vice-versa. Na ocorrência de débito sem responsabilidade,
aquele existe de maneira independente e autônoma, permanecendo ainda que o
direito não admita a constrição do patrimônio do devedor. Como exemplo disto
se destacam as obrigações naturais, imperfeitas ou incompletas. Neste tipo de
obrigação há um débito com a ausência de responsabilidade.

Inegável modelo de obrigação incompleta é a dívida prescrita, em


que se tem o dever de cumprimento, porém, não se pode operar a constrição
do patrimônio do devedor. Em contrapartida, também é possível observar a
responsabilidade sem o débito. Tartuce (2019) exemplifica a situação com a fiança,
na qual o fiador se responsabiliza por dívida de um terceiro.

Assim, após a explanação acerca do vínculo jurídico, elemento imaterial


da obrigação, com o intuito de aprofundar a análise do conteúdo, será procedida
a verificação individualizada dos elementos subjetivos e objetivo da relação
obrigacional.

4.1 ELEMENTOS SUBJETIVOS


Os elementos subjetivos referem-se aos sujeitos da relação, ou seja,
o destaque vai para as pessoas compreendidas na ligação obrigacional, ora
enquanto sujeitos ativos (credores) ora como sujeitos passivos (devedores).

O sujeito ativo, credor da prestação, será pessoa capaz ou incapaz, natural


ou jurídica, bastando estar habilitada para ser detentora de direitos e deveres. O
sujeito ativo da obrigação é titular do direito de exigir o cumprimento da prestação.

O sujeito passivo, devedor da prestação, também será pessoa capaz ou


incapaz, natural ou jurídica, tendo em vista que, do mesmo modo, precisa apenas
ser possuidora de direitos e deveres. O sujeito passivo é quem tem o dever de
cumprir a prestação.

Destarte, os referidos sujeitos da relação obrigacional devem ser


determinados ou determináveis, desde que possam ser posteriormente
identificados, posto que a indeterminação absoluta não é admissível.

Em regra, credor e devedor são determinados, individualizados na relação


jurídica. Sujeitos determinados antecipadamente são naturalmente identificados.
A título de exemplo, em um contrato firmado entre Maria e Joana, no qual há a
previsão de que esta entregará cem doces àquela, Joana é a devedora e Maria a
credora da obrigação, ambas determinadas previamente.

Cumpre ressaltar, ainda, que em casos de indeterminabilidade subjetiva,


esta será sempre temporária ou relativa, parte-se do princípio de que a
indeterminabilidade não pode durar para sempre.

11
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

A referida indeterminabilidade pode ser derivada do sujeito ativo (credor)


ou do sujeito passivo (devedor). Para exemplificar e sistematizar as hipóteses,
será adotada a seguinte classificação:

• Indeterminabilidade subjetiva ativa:


Com relação ao sujeito ativo (credor) determinável, serão evidenciados dois
exemplos clássicos: título ao portador e promessa de recompensa. Nestes casos,
o devedor é certo, mas o credor é temporariamente indeterminado.

Na emissão de cheque ao portador, o credor será indefinido


provisoriamente, visto que não está individualizado, sendo especificado somente
no momento da apresentação do cheque.

Na promessa de recompensa o credor também é temporariamente incerto,


como na ocorrência da perda de um animal de estimação, quando o devedor se
compromete a pagar uma recompensa para quem localizar e entregar o animal,
isto é, o credor é indeterminado de forma temporária.

• Indeterminabilidade subjetiva passiva:


Considerando o sujeito passivo (devedor) determinável, pode-se exemplificar
a situação por meio da obrigação de pagar taxa condominial, pois esta é uma
obrigação propter rem, ou seja, não é relevante quem é o proprietário do imóvel,
quem for o dono irá pagar. Aqui não há certeza definitiva acerca do devedor.

Por fim, cumpre esclarecer que a indeterminabilidade pode ser originária


da vontade das partes. Como, por exemplo, no contrato ajustado com pessoa a
declarar e nos casos de estipulação em benefício de terceiros, em que o estipulante
se resguarda no direito de alterar o beneficiário constituído no contrato.

4.2 ELEMENTO OBJETIVO


O elemento objetivo da relação obrigacional está representado pela
prestação, ou seja, conforme Venosa (2007), é o item material sobre o qual recai
a obrigação. Portanto, a prestação consiste na prática de ação ou omissão pelo
devedor, observando a classificação básica de dar, fazer ou não fazer.

Tal prestação, elemento objetivo que ora se estuda, deverá ser lícita,
possível e determinada ou determinável.

12
TÓPICO 1 — CONCEITO E AMPLITUDE DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 104 in verbis: a validade do negócio


jurídico requer:

I- agente capaz;
II- objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III- forma prescrita ou não defesa em lei.

Deste modo, as condições para a validade do negócio jurídico, presentes


no artigo 104 do Código Civil, devem ser verificadas.

Com relação ao objeto, pode-se dizer que a obrigação abrange duas


espécies: objeto direto/imediato e objeto indireto/mediato. O objeto direto ou
imediato da obrigação é a prestação devida, que corresponde a uma atividade do
devedor (dar, fazer ou não fazer) para satisfazer o direito do credor.

FIGURA 2 – MAPA CONCEITUAL

Dar (coisa certa


ou incerta)
Objeto
Prestação
direto/imediato
Fazer ou
não fazer

FONTE: A autora

O objeto indireto ou mediato da obrigação é o bem da vida, ou seja, a coisa


em si, como por exemplo um carro, uma casa, um animal, uma fazenda, uma
quantia em dinheiro etc.

FIGURA 3 – MAPA CONCEITUAL

Objeto
Bem da vida
indireto/mediato

FONTE: A autora

13
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

NOTA

Pergunta-se: quem é o credor em um contrato de compra e venda? A resposta


irá depender do ponto de vista em que se analisa a relação jurídica, denominada de relação
complexa. O vendedor é credor do valor e devedor da coisa, já o comprador é credor da
coisa e devedor do valor.

É necessário avaliar ainda a questão da patrimonialidade enquanto


característica da obrigação. A doutrina brasileira usualmente defende que o
caráter patrimonial é, em regra, requisito essencial à prestação, tendo em vista
que esta deve ser economicamente mensurável, seja pelo seu valor inerente ou
pela possibilidade de conversão em valor econômico estimável.

Neste sentido, Gomes (2019, p. 27) afirma que “na definição do objeto da
obrigação é necessário, em suma, ressaltar que deve ser suscetível de avaliação
econômica, e corresponder a um interesse do credor, que, todavia, pode não ser
patrimonial”.

Cumpre salientar que, sob uma ótica constitucional, o Direito Civil não
é mais simbolizado com essência voltada para o patrimônio, mas sim para o
indivíduo. Assim, excepcionalmente, admite-se que as obrigações podem não
ter cunho econômico. Conclui-se, desta forma, que basta o resultado benéfico
da prestação, ainda que não patrimonial, o que ocorre, por exemplo, em uma
retratação pública.

DICAS

Para aprofundar o conceito do Direitos das Obrigações e seus fundamentos


históricos, incluindo uma perspectiva de Direito Comparado, recomenda-se a
leitura do artigo de Marcos Paulo Diniz, intitulado “Direitos das obrigações: uma
abordagem dos aspectos evolutivos desde o início da humanidade”, disponível em:
https://bd.tjmg.jus.br/jspui/bitstream/tjmg/8435/1/Direito%20das%20Obrigacoes%20%20
uma%20Abordagem%20dos%20Aspectosd.pdf.

14
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O direito das obrigações é um conjunto de regras que normatizam a relação


jurídica pessoal transitória existente entre um credor (sujeito ativo) e um
devedor (sujeito passivo), relação em que o sujeito passivo contrai o encargo
de praticar uma obrigação em proveito de outrem.

• O Direito das Obrigações é um campo do Direito Civil que possui como objetivo
regulamentar e equilibrar as relações existentes entre credor e devedor.

• A estrutura da obrigação contempla três elementos essenciais, quais sejam:


pessoas/sujeitos (credor e devedor), objeto da obrigação (prestação) e, ainda, o
vínculo jurídico que liga os sujeitos à prestação.

• Com relação aos elementos subjetivos da relação obrigacional, o credor é


considerado sujeito ativo, ou seja, a prestação deve ser realizada em benefício
deste, e o devedor é o sujeito passivo, aquele que se responsabiliza pelo
cumprimento da prestação.

• O elemento objetivo da relação jurídica obrigacional trata do objeto da


obrigação (prestação), que se configura em fato ou ato que o devedor (sujeito
passivo) deve executar.

• A prestação pode ser positiva, nas hipóteses em que o devedor se obriga a dar
ou fazer alguma coisa a outrem, ou negativa, quando o sujeito passivo assume
o dever de não fazer, ou seja, necessita abster-se de algo.

• Em relação ao vínculo jurídico, o Direito pátrio aplica a corrente Dualista, cuja


qual sustenta que a obrigação é constituída por um vínculo duplo, sendo a
obrigação composta pelo dever jurídico que o devedor possui de cumprir de
maneira espontânea o objeto da obrigação e, em caso de descumprimento,
pela responsabilidade civil, enquanto consequência patrimonial e jurídica do
inadimplemento do dever jurídico.

15
AUTOATIVIDADE

1 Com base no conteúdo apresentado até agora, explique: quais são os


elementos que constituem as obrigações?

2 É possível observar uma prestação negativa? Se sim, em quais situações ela


ocorre?

3 (FCC – Promotor de Justiça – MPE-PE/2002) Minha cachorrinha Cindy


fugiu e publiquei anúncio dizendo que daria quinhentos reais para quem
a encontrasse e me devolvesse. Osvaldo, pessoa muito rica, encontrou-a e
devolveu-me. Nesse caso:

a) ( ) Não se configura a obrigação unilateral, porque esta implica promessa


solene e formal.
b) ( ) Posso recompensar Osvaldo com o valor que quiser, porque a promessa
não gera obrigação.
c) ( ) Não estou obrigado ao pagamento, porque Osvaldo é pessoa rica e não
agiu movido pela recompensa.
d) ( ) Tenho a obrigação de pagar o valor prometido, porque me comprometi
àquele pagamento.
e) ( ) Não se trata de obrigação unilateral, porque está ausente o requisito da
aceitação expressa.

FONTE: Banca: Fundação Carlos Chagas (FCC) – Prova: Promotor de Justiça – Órgão:
Ministério Público do Estado de Pernambuco (MPE-PE) – Ano: 2002.

16
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico serão objeto de estudo as fontes e os princípios do Direito
das Obrigações, temas que, em conjunto com as premissas conceituais abordadas
no item anterior, formam o ponto de partida para se compreender o ramo do
Direito em questão.

As fontes, em sua concepção jurídica, indicam os meios pelos quais o


Direito se apresenta. Assim, "estudar as fontes das obrigações equivale a investigar
como nascem ou se criam, de onde surgem, e em virtude de que uma pessoa se
pode achar na necessidade de efetuar determinada prestação em favor de outra"
(MANESCHY, 1984, p. 31).

Cumpre ressaltar que um dos assuntos mais sensíveis da relação obrigacional


são as fontes, tendo em vista que existe um vasto número de fatos e atos humanos
que são apontados pela legislação como capazes de gerar obrigações.

Além disso, a citada dificuldade também decorre da complexidade para


categorizar os numerosos atos e fatos humanos em classes de conceitos que os
englobem, em virtude da diversidade entre eles.

Já os princípios são considerados como preceitos essenciais para o


ordenamento jurídico, atribuindo o real alcance e sentido às normas. Ademais, os
princípios inspiram o legislador na criação das regras e auxiliam o operador do
Direito a interpretar a lei conforme a sua verdadeira finalidade.

Dada a importância das temáticas, passa-se agora à análise pormenorizada


e individualizada de cada uma.

2 FONTES DAS OBRIGAÇÕES


Apesar de a lei ser considerada a fonte primária e imediata de todas
as obrigações, considerando que deve haver um fato que concretize o preceito
normativo entre a lei e a relação obrigacional, deve-se compreender por fonte das
obrigações o fato jurídico que materialize a lei e origine a relação obrigacional.
Assim, a relação obrigacional surge de um fato jurídico (fonte da obrigação), que
pode ser lícito ou ilícito.

17
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

NOTA

Exemplificando: o ato ilícito encontra-se no Código Civil (lei), porém, entre o


ato ilícito e o dever de indenizar deve ocorrer uma hipótese específica de ilicitude, fato este
enquadrado como fonte da obrigação.

Conforme Figueiredo e Figueiredo (2018), é possível elencar três


classificações para as fontes da obrigação, são elas:

• Classificação clássica:
Esta classificação não é predominante e foi desenvolvida pelo jurista romano
Gaio, que fragmentava as fontes das obrigações em:
a) Contrato: ajuste bilateral de vontades.
b) Quase contrato: atos negociais que não possuem natureza contratual, ou
seja, não se originam de um acordo bilateral de vontades. Como exemplo
tem-se a promessa de recompensa, que não é um contrato, mas cria
obrigação entre as partes.
c) Delito: ilícito doloso. É a hipótese, por exemplo, de um indivíduo que
bate seu carro contra outro veículo propositadamente, nascendo, assim, a
obrigação de indenizar.
d) Quase delito: ilícito culposo.

• Classificação moderna:
A doutrina moderna, influenciada por Orlando Gomes, costuma indicar as
seguintes fontes obrigacionais:
a) Atos negociais: é mais abrangente, pois enquadra os negócios jurídicos
bilaterais (ex.: contrato) e as declarações unilaterais de vontade (ex.:
promessa de recompensa).
b) Atos não negociais: determinados comportamentos humanos não negociais
criam obrigações. Exemplo disso é o fato de vizinhança (respeito ao sossego,
saúde, segurança etc.).
c) Atos ilícitos: abuso de direito, enriquecimento ilícito.

• Classificação de Tartuce:
O doutrinador Flávio Tartuce elenca um rol próprio para as fontes das
obrigações:
a) Lei: é fonte primária ou imediata de todas as obrigações e, segundo Tartuce,
certas obrigações decorrem somente da lei, como por exemplo a obrigação
de prestar alimentos.
b) Atos unilaterais: declarações unilaterais de vontade, tais como as previstas
no Código Civil: promessa de recompensa, gestão de negócios, pagamento
indevido e enriquecimento sem causa.

18
TÓPICO 2 — FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

c) Contratos: ajustes bilaterais de vontade que visam à criação, alteração ou


extinção de direitos e deveres de cunho patrimonial, estas declarações são
consideradas como fonte principal das obrigações.
d) Atos ilícitos e abuso de direito: fontes que geram o dever de indenizar em
razão dos artigos 186, 187 e 927 do Código Civil.
e) Atos lícitos: também podem gerar o dever de indenizar, mesmo não
constituindo ato ilícito, como por exemplo o uso abusivo do direito de
vizinhança.
f) Títulos de crédito: documentos que carregam em si uma relação
obrigacional de natureza privada.

3 PRINCÍPIOS DO DIREITO OBRIGACIONAL


O Direito das Obrigações se ocupa das relações jurídicas formadas por
meio de vínculos de cunho econômico entre um sujeito ativo (credor) e um sujeito
passivo (devedor). A regulamentação das citadas relações é indispensável para
a harmonia em sociedade, tendo em vista que as pessoas necessitam umas das
outras para atender as suas demandas sociais e patrimoniais.

Importante esclarecer que o Direito das Obrigações é o ramo do Direito


Civil que mais está vinculado à normatização das relações jurídicas patrimoniais,
deste modo, é o que está mais próximo de atingir o patamar econômico. Assim,
leciona Gonçalves (2012, p. 19):

É por meio das relações obrigacionais que se estrutura o regime


econômico. Pode-se afirmar que o direito a obrigações retrata a
estrutura econômica da sociedade e compreende as relações jurídicas
que constituem projeções da autonomia privada na esfera patrimonial.
Manifesta-se sua importância prática ainda pela crescente frequência,
no mundo moderno, da constituição de patrimônios compostos quase
exclusivamente de títulos de crédito correspondentes a obrigações.

Destarte, pode se observar que o Direito Obrigacional ocupa uma função


significativa no fortalecimento da economia social, pois realiza seu objetivo no
sentido de proporcionar subsídios para o credor pleitear o adimplemento das
prestações perante responsabilidade do devedor.

É evidente que o Direito das Obrigações ainda possui como propósito


principal a preservação do patrimônio do credor. Porém, esse ramo também
foi submetido a incontáveis transformações, especialmente depois do processo
de constitucionalização pelo qual passou o Direito Civil, o que trouxe um novo
paradigma a este segmento jurídico.

Por conseguinte, o direito obrigacional que antes era pautado no


desempenho da autonomia privada, pois os indivíduos detinham exacerbada
liberdade para exprimir sua vontade, agora deve guardar concordância com o
Estado Democrático de Direito, o qual determina como norteador o princípio da
dignidade da pessoa humana.

19
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

Neste sentido, ressalta Fiuza e Marques, (2006, p. 87):

O Código Civil, principalmente o Direito das Obrigações, tinha


como fundamento a livre iniciativa, amparada no dogma da vontade
e na propriedade privada. É evidente que, diante do art. 1°, II e III
da Constituição, o panorama mudou. O suporte do Direito Civil
das Obrigações deixa de ser a livre iniciativa, baseada no dogma
da vontade livre e a propriedade privada, para ser a dignidade da
pessoa humana.

Logo, em função dessa mudança gradual de pensamento, o ordenamento


jurídico deve assegurar que o avanço social esteja associado à ascensão do ser humano.

E
IMPORTANT

A Constituição Federal estabelece in verbis: “Art. 1° A República Federativa


do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] IV – os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...] XXIII – a propriedade atenderá a sua função social”.

Deste modo, a livre iniciativa presente no artigo primeiro da Constituição


Federal não deve ser analisada como simples aplicação da autonomia da vontade,
mas sim como um valor social, também a propriedade privada deverá ser
subordinada a sua função social, ou seja, ambas devem atender ao propósito de
realização do homem.

Portanto, tendo em vista o fenômeno da constitucionalização, o presente


tópico tem como importante finalidade elucidar os princípios da boa-fé objetiva, da
função social das obrigações e da responsabilidade patrimonial do devedor.

3.1 PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ OBJETIVA E DA FUNÇÃO


SOCIAL DAS OBRIGAÇÕES
fenômeno de constitucionalização no Direito das Obrigações, abordado
anteriormente, também foi crucial para ressignificar conceitos atinentes
aos contratos. Esse processo fica demonstrado de forma mais contundente
inicialmente no Código de Defesa do Consumir, tendo em vista que ele promove

20
TÓPICO 2 — FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

a humanização das relações contratuais, ao passo que é o primeiro a se adaptar


aos princípios da dignidade da pessoa humana, da boa-fé e da função social
aplicados às obrigações.

O atual ordenamento jurídico está pautado de maneira uniforme nos


princípios supracitados, assim, estes devem ser observados na composição dos
contratos, de modo que as relações obrigacionais estejam submetidas às condições
impostas pelo Direito Civil constitucionalizado.

Outrossim, nas normas civis em nível mundial implementadas no século


XIX, o contrato traduzia unicamente a manifestação da autonomia da vontade. O
Estado Liberal outorgava liberdade às partes contratantes no intuito de promover
a ampliação do regime capitalista. Porém, a liberdade de contratação era apenas
formal, visto que nas relações obrigacionais a parte detentora de maior poder
aquisitivo facilmente se sobrepunha à parte com capacidade econômica menor
(ROPPO, 2009).

Saindo do Estado Liberal, a partir da implementação do Estado Social, a


autonomia da vontade passa a ser atenuada. Neste período, o contrato perde a sua
acepção clássica de cunho individualista e começa a retratar o direito subjetivo,
dirigindo-se para os princípios constitucionais de dignidade e desenvolvimento
da pessoa humana. Consequentemente, o contrato passa a satisfazer sua função
social, transcendendo o conceito de mero instrumento da autonomia da vontade.

Todas essas alterações sofridas pelo Direito Civil em razão da promoção


dos princípios constitucionais, bem como dos princípios expressos no Código
Civil de 2002, especialmente o da função social do contrato, autorizam intervenção
judiciária nos contratos com o objetivo de restaurar o equilíbrio das relações
obrigacionais.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 421 in verbis: “a liberdade contratual será
exercida nos limites da função social do contrato”.

Passando para a análise acerca do princípio da boa-fé, cabe destacar que a


aplicação deste princípio no ordenamento jurídico brasileiro foi influenciada pela
legislação alemã, como esclarecem Fiuza e Marques (2006, p. 102):

21
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

O Código Civil Alemão entrou em vigor em 1900, sobretudo a partir


do § 242 com o estudo de H. Staub sobre a quebra positiva do contrato
é que começa a se modificar o conceito tradicional de obrigação. A
partir da obra de Staub inaugura-se uma nova leitura das relações
obrigacionais, com deveres secundários vinculados à aplicação do
princípio da boa-fé. O elemento boa-fé sempre foi exigido nas relações
jurídicas, mas foi no Direito Alemão que adquiriu a concepção
atualmente adotada.

O princípio da boa-fé objetiva, na concepção contemporânea, é


fundamento da relação obrigacional, pois faz com que os deveres advindos do
ajuste de vontade entre as partes se tornem mais claros, trazendo proteção para
o patrimônio de ambos os contratantes, servindo, também, de limitação para a
prática de direitos subjetivos.

Assim, é possível conceituar a boa-fé objetiva como um padrão de conduta


social ou um modelo ético de comportamento, que exige do cidadão uma atuação
com características de lealdade, probidade e honestidade em todas as relações
obrigacionais.

Merece aqui um alerta para que não se confunda a boa-fé objetiva com
a boa-fé subjetiva, que se trata apenas do discernimento do indivíduo de estar
atuando de acordo com as regras do ordenamento jurídico. Neste particular,
Marques (2000, p. 87) coloca que:

Boa-fé significa uma atuação ‘refletida’, atuação refletindo, pensando


no outro, no parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus
interesses legítimos, seus direitos, respeitando os fins do contrato,
agindo com lealdade, sem abuso da posição contratual, sem causar
lesão ou vantagem excessiva, com cuidado para com a pessoa e o
patrimônio do parceiro contratual, cooperando para atingir o bom
fim das obrigações, isto é, o cumprimento do objetivo contratual e a
realização dos interesses legítimos de ambos os parceiros. Trata-se
de uma boa-fé objetiva, um paradigma de conduta leal e não apenas
da boa-fé subjetiva, conhecida regra de conduta subjetiva no Código
Civil. Boa-fé objetiva é um standard de comportamento leal, com base
na confiança despertada na outra parte cocontratante, respeitando
suas expectativas legítimas e contribuindo para a segurança das
relações negociais.

Tal como está fundada a boa-fé objetiva, esta pode ser definida como um
dever legal de ação conforme padrões recomendados socialmente, de modo que
a confiança da outra parte não seja prejudicada.

No ordenamento jurídico brasileiro, o princípio da boa-fé objetiva


ganhou força principalmente após a Constituição Federal de 1988. Hoje a boa-fé
estabelece que os contratos que não alcançam as finalidades fixadas pelas partes
na celebração da obrigação sejam julgados sem efeito.

Deste modo, a boa-fé objetiva, sendo expressamente prevista no Código


Civil, deve pautar todo negócio jurídico, enquanto meio de interpretação, para se
atingir a finalidade contratual em observância à probidade.
22
TÓPICO 2 — FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 422 in verbis: “os contratantes são
obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios
de probidade e boa-fé”.

3.2 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL DO


DEVEDOR
A responsabilidade patrimonial é indubitavelmente um instituto de
direito processual, entendida como a possibilidade de constranger patrimônio do
devedor com o escopo de satisfazer determinado direito do credor na ocorrência
de inadimplemento, ou seja, quando a dívida não é quitada de maneira voluntária
pelo devedor, permite-se sujeitar os bens do sujeito passivo a fim de garantir o
direito do sujeito ativo na execução.

Em contrapartida, a obrigação é instituto de direito material, apresentado


como uma situação jurídica desfavorável, posto que, a partir do momento em que se
contrai a obrigação, uma parte tem o dever de realizar o direito da outra, e quando
isso não acontece nasce o débito, pertencente, portanto, ao direito material.

Desta forma, entende-se que a obrigação é uma relação jurídica complexa


que tem como propósito a satisfação do direito do credor. Na hipótese de ausência
de cumprimento pelo devedor da prestação pactuada, serão aplicadas as devidas
consequências legais. Na seara obrigacional, essas consequências possuem
cunho patrimonial, isto é, o patrimônio do devedor responderá pelos prejuízos,
patrimoniais ou extrapatrimoniais, causados ao credor.

Isto posto, considerando a distinção ora explanada, pode-se dizer que a


obrigação é estática, concebendo uma simples expectativa de satisfação, ao passo
que a responsabilidade patrimonial é dinâmica, caracterizada pela alternativa
jurisdicional de concreta satisfação do direito.

DICAS

Para aprofundar a temática acerca das fontes das obrigações, recomenda-


se a leitura complementar do artigo de Moacir Adiers, intitulado “Fontes das Obrigações”,
disponível em: http://www.direitocontemporaneo.com/wp-content/uploads/2014/02/Adiers-
Fontes-das-obrigacoes.pdf.

23
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Deve-se compreender por fonte das obrigações o fato jurídico que materialize
a lei e origine a relação obrigacional.

• A lei é considerada a fonte primária e imediata de todas as obrigações.

• Com a implementação do Estado Social, a autonomia da vontade passa a ser


atenuada. Consequentemente, o contrato passa a satisfazer sua função social,
transcendendo o conceito de mero instrumento da autonomia da vontade.

• O princípio da boa-fé objetiva, fundamento da relação obrigacional, é


conceituado como um padrão de conduta social ou um modelo ético de
comportamento, que exige do cidadão uma atuação com características de
lealdade, probidade e honestidade.

• A obrigação é uma relação jurídica complexa que tem como propósito a


satisfação do direito do credor. Na hipótese de ausência de cumprimento pelo
devedor da prestação pactuada, serão aplicadas as devidas consequências
legais. Na seara obrigacional, essas consequências possuem cunho patrimonial,
isto é, o patrimônio do devedor responderá pelos prejuízos, patrimoniais ou
extrapatrimoniais, causados ao credor.

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AUTOATIVIDADE

1 Para propiciar a aplicação prática do conteúdo estudado até o presente


momento, deve-se responder à seguinte pergunta: Os princípios da boa-fé
objetiva e da responsabilidade patrimonial do devedor são aplicáveis ao Direito
das Obrigações? Justifique e explique cada um dos princípios citados.

2 O que pode se compreender por fonte das obrigações?

3 Quais são as classificações apontadas pela doutrina para as fontes da


obrigação? Explique.

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TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Como foi possível observar na unidade anterior, não há uma rotulação
única acerca das fontes do Direito Obrigacional. O mesmo ocorre com a
classificação das obrigações, tendo em vista que tal categorização ganha nuances
diferentes de doutrinador para doutrinador, pois cada um adota divisões lógicas
de acordo com suas metodologias particulares.

Desse modo, ao longo do presente tópico, serão analisadas as


classificações básica e especial das obrigações, tomando como base os critérios
aceitos de modo majoritário no ordenamento jurídico brasileiro.

2 CLASSIFICAÇÃO BÁSICA: OBRIGAÇÃO DE DAR, FAZER E


NÃO FAZER
A classificação básica das obrigações, que possui como parâmetro a
prestação, observa a seguinte organização:

• Obrigações positivas: de dar (coisa certa ou incerta) e de fazer.
• Obrigações negativas: de não fazer.

De forma sistematizada tem-se:

FIGURA 4 – MAPA CONCEITUAL

Coisa certa
Dar
Positivas Coisa incerta

Fazer
Obrigações

Negativas Não fazer

FONTE: A autora

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UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

2.1 OBRIGAÇÃO DE DAR


A obrigação de dar tem como objeto a prestação de coisas. A expressão
dar apresenta mais de um sentido juridicamente. Dar pode expressar a
transferência de posse ou de propriedade da coisa, assim, também subsiste a
obrigação de dar quando somente a posse é transferida. Em um contrato de
locação, por exemplo, o locador tem a obrigação de dar a posse.

De igual modo haverá a prestação de dar na hipótese de devolução ou


restituição da coisa, como por exemplo na utilização de um contrato de depósito
(parar o carro em estacionamento pago, emprestar livro na biblioteca etc.).

Assim, pode-se dizer que:

FIGURA 5 – MAPA CONCEITUAL

DAR ENTREGAR TRANSFERIR RESTITUIR

FONTE: A autora

A obrigação de dar é subdividida em duas espécies: obrigação de dar


coisa certa (específica) e obrigação de dar coisa incerta (genérica), as quais serão
delimitadas na sequência.

2.1.1 Obrigação de dar coisa certa


A obrigação de dar coisa certa, denominada também de obrigação
específica, regulamentada pelo artigo 233 e seguintes do Código Civil, é a
prestação que se refere a um bem específico ou individualizado, ou seja, o
objeto da prestação é determinado, qualificado. É o que ocorre, por exemplo, na
obrigação de dar certo apartamento ou um animal registrado.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 233 in verbis: “a obrigação de dar coisa
certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do
título ou das circunstâncias do caso”.

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TÓPICO 3 — CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

Destaca-se que nas obrigações de dar, em especial nas de dar coisa certa,
dois princípios do Direito das Obrigações possuem maior relevância. O primeiro
é o princípio da especialidade, previsto no artigo 313 do Código Civil, o qual
determina que “o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é
devida, ainda que mais valiosa”.

Também se enfatiza o princípio da indivisibilidade do pagamento, em


razão deste, em regra, as obrigações devem ser cumpridas integralmente. Tal
princípio é praticado em todas as obrigações e em maior medida nas de dar coisa
certa, conforme estabelece o artigo 314 do Código Civil: “ainda que a obrigação
tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber,
nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou”.

Tratando agora das regras especiais aplicáveis às obrigações de dar coisa


certa, ganha relevo o princípio da gravitação jurídica, traduzido pela premissa de
que o acessório segue o principal.

Como exemplo do princípio da gravitação jurídica tem-se a seguinte
situação: o sujeito “A” vende determinada vaca prenha para o sujeito “B”, deste
modo o terneiro (acessório) acompanhará o principal (vaca).

É necessário, ainda, analisar as consequências pelo inadimplemento da
obrigação de dar coisa certa. É possível elencar as circunstâncias subsequentes:

NOTA

A expressão “tradição” significa, para o Direito Civil, a entrega da coisa ao


credor, com o objetivo de transmitir a propriedade do objeto ao sujeito ativo. O Código
Civil estabelece em seu art. 1.267 in verbis: “a propriedade das coisas não se transfere pelos
negócios jurídicos antes da tradição”.

• A coisa perde-se sem culpa do devedor antes da tradição (entrega ao credor):


A obrigação se resolve, sem pagamento de perdas e danos, tendo em vista que
não há responsabilidade, pois a perda ocorre sem culpa do devedor. Exemplo:
a obrigação se resolve caso a vaca prometida morra afogada em razão de uma
enchente.

• A coisa perde-se com culpa do devedor antes da tradição (entrega ao credor):


O credor poderá exigir o equivalente à coisa, acrescido de perdas e danos, visto
que neste caso há responsabilidade do devedor. Exemplo: a obrigação será
convertida em perdas em danos caso o vendedor tenha alimentado a vaca com
ração deteriorada causando a morte do animal.

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UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 234 in verbis: “se, no caso do artigo
antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a
condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de
culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos”.

• A coisa deteriora-se sem culpa do devedor antes da tradição (entrega ao credor):


O credor poderá resolver a obrigação, não havendo direito a perdas e danos,
ou ficar com a coisa, abatendo do preço a desvalorização, não havendo direito,
igualmente, a perdas e danos. Exemplo: credor adquire uma casa e, antes da
entrega das chaves, ocorre uma tempestade com fortes ventos que causam o
destelhamento parcial da residência. Assim, o sujeito ativo pode resolver a
obrigação, sem perdas e danos, ou aceitar a casa no estado em que se encontra
com abatimento do valor.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 235 in verbis: “deteriorada a coisa, não
sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido
de seu preço o valor que perdeu”.

• A coisa deteriora-se com culpa do devedor antes da tradição (entrega ao credor):


O credor poderá exigir o equivalente à coisa ou ficar com a coisa deteriorada,
tendo em qualquer das hipóteses direito a perdas e danos, visto que há
responsabilidade do devedor. Exemplo: o credor compra um cavalo puro
sangue de corrida e, antes da entrega do animal, o devedor inadvertidamente
utiliza o cavalo para puxar uma charrete, o que causa uma torção na pata
esquerda que o impede permanentemente de competir, servindo somente para
reprodução. Assim, o credor poderá exigir o valor correspondente ao cavalo
sadio ou ficar com o animal, tendo direito a perdas e danos nas duas situações.

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TÓPICO 3 — CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 236 in verbis: “sendo culpado o devedor,
poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com
direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos”.

• A coisa perde-se sem culpa do devedor na obrigação de restituir coisa certa


antes da tradição:
O credor deverá arcar com o prejuízo, já que não há culpa do devedor, aplicando-
se, neste caso, a máxima res perit domino (a coisa perece para o dono). Exemplo:
em um contrato de locação, um dia antes da entrega da coisa, ocorre uma
tempestade causando destruição no imóvel, assim, a coisa perece para o dono.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 238 in verbis: “se a obrigação for de
restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o
credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda”.

• A coisa perde-se com culpa do devedor na obrigação de restituir coisa certa


antes da tradição:
O devedor responderá pela perda da coisa, correspondente ao equivalente
acrescido de perdas e danos, pois, neste caso, há responsabilidade subjetiva.
Exemplo: em um contrato de locação, um dia antes da entrega da coisa, ocorre
um incêndio no imóvel causado pelo esquecimento de uma panela no fogo
pelo devedor, assim, este responderá pela perda da coisa.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 239 in verbis: “se a coisa se perder por
culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos”.

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UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

• A coisa deteriora-se sem culpa do devedor na obrigação de restituir coisa


certa antes da tradição:
O credor poderá exigir a coisa no estado em que se encontra, sem qualquer
indenização, pois a coisa perece para o dono. Exemplo: o devedor empresta
uma bicicleta e, enquanto circulava pela ciclovia é fechado por um veículo, que
causa a queda do devedor e avarias na bicicleta. Deste modo, o credor poderá
exigir a bicicleta no estado em que se encontra, sem direito à indenização.

• A coisa deteriora-se com culpa do devedor na obrigação de restituir coisa


certa antes da tradição:
O credor poderá exigir o equivalente da coisa ou a coisa no estado em que se
encontra mais perdas e danos. Exemplo: em um contrato de locação de veículo,
um dia antes da restituição da coisa, o devedor, visivelmente embriagado, causa
um acidente de trânsito, deteriorando o carro alugado. Assim, o credor poderá
exigir o valor equivalente ao veículo ou este no estado em que se encontra, com
acréscimo de perdas e danos em ambas as hipóteses.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 240 in verbis: “Se a coisa restituível
se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a
indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239”.

Além das aludidas regras pelo inadimplemento das obrigações de dar


coisa certa, cumpre salientar também a previsão contida no artigo 237 do Código
Civil, que estabelece que até a tradição a coisa pertence ao devedor, incluindo
seus melhoramentos.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 237 in verbis: “Até a tradição pertence
ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir
aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação”.

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TÓPICO 3 — CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

Em função desses melhoramentos e acrescidos, o devedor pode exigir


o aumento do preço. Caso o credor não concorde com o aumento, o devedor
poderá resolver a obrigação, tendo em vista que lei proíbe o enriquecimento sem
causa do credor.

NOTA

Deterioração é a diminuição de funcionalidade ou valor agregado de um


bem, de maneira que a coisa ainda exista, porém com valor de mercado reduzido. Assim,
enquanto a perda possui alcance máximo, a deterioração se mostra como qualquer grau
de redução da serventia do bem.

2.1.2 Obrigação de dar coisa incerta


Na legislação brasileira, a obrigação de dar coisa incerta, ou obrigação
genérica, é caracterizada por uma prestação relativa ou provisoriamente
indeterminada. O Código Civil, portanto, traz indicação da obrigação de dar
coisa incerta apenas pelo gênero e quantidade, ou seja, não possui especificação
da qualidade. Exemplo: obrigação de dar 10 (quantidade) sacas de trigo (gênero).

Cumpre destacar que boa parte da doutrina pátria defende a substituição


do termo gênero pela expressão espécie, tendo em vista que a palavra gênero
se mostra muito abrangente. Exemplo: na obrigação de entregar dez sacas de
trigo (trata-se de uma espécie do gênero cereal), seria mais apropriado usar o
vocábulo espécie.

FIGURA 6 – MAPA CONCEITUAL

Obrigação indicada
de dar coisa Gênero Quantidade
incerta

FONTE: A autora

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 243 in verbis: “a coisa incerta será
indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade”.

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UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

A indeterminabilidade do objeto é provisória. Como regra geral a escolha


da coisa é feita pelo devedor, conforme determina o Código Civil.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 244 in verbis: “nas coisas determinadas
pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do
título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor”.

O ato de escolha ou eleição da qualidade da coisa incerta é chamado de


concentração da prestação devida, ou, também, de concentração do débito. A
determinação do objeto deve ser feita pela média, em razão do princípio da boa-
fé objetiva. A obrigação se torna de dar coisa certa assim que for feita a escolha.

Outra premissa que merece destaque é o fato de que gênero não perece,
nos termos da legislação civil. Assim, enquanto a escolha não for feita, o devedor
não poderá aduzir a perda da coisa para se desobrigar, mesmo que a perda tenha
acontecido por força maior ou caso fortuito. Exemplo: em uma obrigação de entregar
dez cabeças de gado ocorre uma enchente matando todo o rebanho do devedor antes
da escolha, como o gênero não perece, o devedor continua obrigado.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 246 in verbis: “antes da escolha, não poderá
o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito”.

Porém, a doutrina critica o dispositivo supramencionado, no sentido


de que se o gênero a que se refere o caso for limitado pela natureza (como um
mineral ou uma raça rara de espécimes únicos) e ficar comprovado que o devedor
não possui meios para adimplir a obrigação, este poderá alegar caso fortuito
ou força maior. Na mesma esteira se apresenta o projeto de reforma do Código
Civil, advertindo que se o gênero for limitado pela natureza, poderá o devedor
desonerar-se da sua obrigação.

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TÓPICO 3 — CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

2.1.3 Obrigação de dar dinheiro (obrigação


pecuniária)
A obrigação de dar dinheiro é uma das espécies das obrigações de dar, e
será verificada quando o objeto da obrigação se tratar de pecúnia, por exemplo,
no caso de um empréstimo ou na ocorrência de perda ou deterioração da coisa em
certa prestação, que motive a transmutação desta em dinheiro.

Frise-se que nos contratos de direito interno se ordena o curso forçado


da moeda nacional, ou seja, os referidos acordos apenas podem ser pactuados
na moeda pátria, sob pena de nulidade da cláusula que estipular o pagamento
em ouro ou moeda estrangeira, com a devida conversão da obrigação para a
moeda nacional.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 318 in verbis: “são nulas as convenções de
pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre
o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial”.

É possível, ainda, distinguir as obrigações de dar dinheiro ou valor. A


obrigação de dar dinheiro configura-se quando o objeto originário for montante
fixado em moeda corrente, como por exemplo a obrigação do inquilino ou do
comprador. Já a obrigação de dar valor se caracteriza pela entrega de valor
determinado no momento da execução, o que sobrevém das obrigações de
indenizar prejuízos, entre outras.

2.2 OBRIGAÇÃO DE FAZER


A obrigação de fazer, disciplinada pelo artigo 247 e seguintes do Código
Civil, tem como objeto a prestação de um fato positivo, ou seja, a ação/tarefa do
devedor importa a fim de adimplir o crédito.

Assim, pode-se dizer que na obrigação de fazer a prestação é a própria


atividade. É o que ocorre, por exemplo, na obrigação de ministrar uma aula,
de prestar um serviço etc. É necessário também atentar para a classificação das
obrigações de fazer em fungíveis e infungíveis, que será demonstrada adiante.

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UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

2.2.1 Obrigação de fazer fungível


É aquela em que a prestação pode ser cumprida por outra pessoa, não
apenas pelo natural devedor. Nesta hipótese, o inadimplemento por culpa do
devedor permite ao credor exigir que o devedor realize forçosamente a obrigação,
ou realizar a obrigação por terceiro a cargo do devedor originário, ou, por fim,
converter a obrigação em perdas e danos, caso não queira o cumprimento forçado
ou por terceiro.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 249 in verbis: “se o fato puder ser
executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo
recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.

Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de


autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido”.

Como se pode perceber, o parágrafo único do dispositivo citado


anteriormente trata da autotutela civil, que viabiliza ao credor, independentemente
de autorização judicial, em casos emergenciais, executar ou mandar executar
o fato, sendo ressarcido posteriormente pelo devedor originário. Exemplo: João
(credor) encomenda um cento de salgados para o aniversário do filho, porém, eles
não são entregues a tempo da festa, em função disso o credor adquire os salgados em
outro local, tendo o direito de ressarcimento posterior pelo devedor originário.

2.2.2 Obrigação de fazer infungível


É aquela que pode ser cumprida apenas pelo devedor, ou seja, tem caráter
personalíssimo, pela natureza da prestação ou por convenção das partes, o que
significa que só interessa ao credor a realização da atividade por um devedor em
especial. Exemplo: contratação de uma banda específica de renome nacional para
tocar em uma festa de formatura, em uma situação como esta apenas o devedor
poderá adimplir a obrigação.

Deste modo, em caso de inadimplemento por culpa do devedor, o


credor poderá exigir o cumprimento forçado da obrigação ou convertê-la em
perdas e danos.

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TÓPICO 3 — CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

Todavia, se o devedor estiver comprovadamente impossibilitado de


cumprir a obrigação, não haverá imputação de perdas e danos. Exemplo: o
ônibus em que se encontrava a banda contratada para a formatura foi parado em
um bloqueio realizado por motoristas de caminhão, que estavam em greve, o que
impossibilitou a chegada no local designado.

NOTA

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar


perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível.

Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor,
resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos”.

FIGURA 7 – MAPA CONCEITUAL

A obrigação não precisa ser


Fungível prestada exclusivamente
pelo devedor
Obrigação de fazer
A obrigação deverá ser
Infungível prestada exclusivamente
pelo devedor

FONTE: A autora

2.3 OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER


A obrigação de não fazer, normatizada pelo artigo 250 e seguinte do Código
Civil, tem como objeto uma prestação de fato negativo, em que o devedor se
compromete a praticar um comportamento omissivo que interessa ao credor. Esta
circunstância pode ser traduzida, por exemplo, pela obrigação de não construir
acima de determinada altura. Tal obrigação, em regra, tem natureza infungível,
personalíssima, podendo ser de origem legal ou convencional, temporária (não
explorar certa atividade por um período, por exemplo) ou permanente.

Caso o devedor, por imposição superior, precisar praticar o ato, a


obrigação será resolvida. Exemplo disso é a ocorrência de força maior ou fato do
príncipe (o Estado, por exemplo, ordena a construção de muro em contrariedade
à obrigação de não fazer por questão de ordem pública, assim, a obrigação será
extinta por ausência de culpa do devedor).

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UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 250 in verbis: “extingue-se a obrigação


de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato,
que se obrigou a não praticar”.

• Descumprimento culposo da obrigação de não fazer:


Caso o devedor pratique o ato de forma culposa, inadimplindo, portanto, a
obrigação de não fazer, o credor poderá exigir o desfazimento do ato, sob pena
de desfazer o ato à custa do devedor.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 251 in verbis: “praticado pelo devedor o
ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se
desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.

Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer,
independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido”.

Outrossim, o desfazimento do ato pelo credor poderá ser executado


mediante autorização judicial. Porém, em situação emergencial, permite-se
que o credor desfaça ou mande desfazer o que foi realizado pelo devedor,
independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento cabível.

3 CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL DAS OBRIGAÇÕES


Após o encerramento do estudo acerca da classificação básica das
obrigações, incumbe esclarecer sobre algumas espécies elencadas pela classificação
especial, dentre elas se destacam as obrigações alternativas, cumulativas,
facultativas, solidárias, de meio e me resultado, divisíveis e indivisíveis.

Destarte, pretende-se neste particular enumerar de forma sistematizada


a classificação especial das obrigações.

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TÓPICO 3 — CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

3.1 OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS, CUMULATIVAS E


FACULTATIVAS
• Conceito
A obrigação alternativa, ou disjuntiva, regulamentada pelo artigo 252 e
seguintes do Código Civil, é aquela que possui objeto múltiplo, ou seja, o
devedor se desonera com o adimplemento de um deles. É o que acontece, por
exemplo, quando se fixa uma obrigação de entregar um carro ou uma moto,
assim, o devedor estará desonerado realizando uma ou outra prestação.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 252 in verbis: “nas obrigações alternativas,
a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.
§ 1° Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
§ 2° Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida
em cada período”.

Ressalte-se que caso não haja unanimidade no acordo quanto à


concentração da obrigação alternativa, ou seja, quanto à escolha de qual prestação
cumprir pelos múltiplos devedores ou terceiros, a escolha caberá ao juiz, conforme
determina a legislação civil.

NOTA

Obrigação alternativa X obrigação de dar coisa incerta

Ambas as obrigações são determináveis, ou seja, dependem da escolha que cabe


em regra ao devedor. Porém, nas obrigações alternativas, a prestação decorre de objetos
múltiplos, enquanto na obrigação de dar coisa incerta há apenas um objeto/prestação,
tratando-se de uma obrigação simples.

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UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

Observem-se, ainda, as consequências legais aplicáveis em caso de


impossibilidade de cumprimento da obrigação alternativa. Se a impossibilidade
do cumprimento for de apenas uma das prestações (inadimplemento parcial),
sem culpa do devedor, ocorrerá a concentração do débito na prestação
remanescente. Porém, se a impossibilidade de o cumprimento atingir todas as
prestações (inadimplemento total), também sem culpa do devedor, a obrigação
será resolvida/extinta.

Entretanto, ocorrendo o inadimplemento total ou parcial da obrigação


alternativa com culpa do devedor, o resultado estará vinculado a quem incumbe
à escolha. Em caso de escolha pelo devedor, este deverá arcar com a prestação
subsistente ou com o valor da que se impossibilitou por último, mais perdas e
danos. Já se a escolha for feita pelo credor, este poderá exigir qualquer uma das
prestações, a remanescente ou o valor da que se perdeu, mais perdas e danos.

Em contrapartida, a obrigação cumulativa, ou conjuntiva, é aquela na qual


o devedor se obriga a cumprir uma prestação com outra, ou seja, se estabelece
mais de uma prestação e o adimplemento só será observado com o cumprimento
de todas. Situação que pode ser exemplificada por uma obrigação de entregar um
carro e uma moto, ou depositar roupas em uma lavanderia para lavar e passar etc.

• Diferença entre obrigação alternativa X facultativa


A obrigação alternativa, conforme exposto anteriormente, possui objeto
múltiplo, deste modo, o devedor deverá prestar uma ou outra coisa para fins
de adimplemento.

Diferentemente, na obrigação facultativa, reconhecida doutrinariamente,


o objeto é único, porém, ao devedor assiste a possibilidade de, querendo, no ato
do pagamento, substituir a prestação originária por outra. É necessário evidenciar
que não existem duas prestações, o que acontece é que quando do pagamento, caso
queira o devedor, este tem a faculdade de realizar outro objeto, outra prestação.
Coloca-se como exemplo a hipótese do devedor se obrigar a entrega de um carro,
possuindo a faculdade de, no dia do pagamento, substituir o carro pela entrega
de dinheiro.

Logo, se a obrigação principal for extinta em razão de caso fortuito ou


força maior, não haverá conversão em perdas e danos, impossibilitando, também,
a exigência do credor de outro objeto.

3.2 OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA


Pode-se definir que a solidariedade ocorre quando existe uma pluralidade
de credores ou devedores, na mesma obrigação, cada um com direito, ou obrigado,
à dívida toda, conforme previsão legislativa.

40
TÓPICO 3 — CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 264 in verbis: “há solidariedade, quando
na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com
direito, ou obrigado, à dívida toda”.

A solidariedade prevista no Código Civil pode ser ativa ou passiva. A


solidariedade passiva decorre da pluralidade de devedores, permitindo ao credor
cobrar a totalidade da dívida de cada um deles. Caso isso aconteça, o devedor
pagante tem direito de regresso perante os demais.

Já a solidariedade ativa decorre da pluralidade de credores, em que
qualquer um destes poderá cobrar a prestação integral do devedor, transferindo
o contingente dos demais sujeitos ativos.

Importante ressaltar, também, que a solidariedade não pode ser presumida,
sendo oriunda da lei ou da vontade das partes, de acordo com a previsão do
artigo 265 do Código Civil.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 265 in verbis: “a solidariedade não se


presume; resulta da lei ou da vontade das partes”.

Outro conceito que merece destaque é o da obrigação in solidum, que não


deve ser confundida com a solidária. Na referida obrigação têm-se dois ou mais
devedores unidos em razão do mesmo fato, porém, com ausência de solidariedade
entre ambos. É possível exemplificar a obrigação in solidum com a ocorrência de
um incêndio criminoso em um veículo que estava protegido por um contrato
de seguro, neste caso os prejuízos provocados poderão ser cobrados de dois
devedores não solidários ligados pelo mesmo fato, a seguradora e o incendiário.

• Solidariedade passiva
A solidariedade passiva (pluralidade de devedores) é regulamentada pelo
artigo 275 e seguintes do Código Civil.

41
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 275 in verbis: “o credor tem direito a
exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum;
se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados
solidariamente pelo resto.

Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação


pelo credor contra um ou alguns dos devedores”.

Percebe-se que a obrigação solidária (passiva) faculta ao credor demandar


contra um dos devedores sem renunciar o direito perante os demais. Esta
solidariedade pode ser determinada pela vontade das partes, usualmente por meio
de fixação contratual. Exemplo: contrato de aluguel com fiança.

De igual forma, existem situações de solidariedade passiva por imposição


legal, conforme estipulação dos artigos 932 e 933 do Código Civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


I- os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e
em sua companhia;
II- o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem
nas mesmas condições;
III- o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em
razão dele;
IV- os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde
se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus
hóspedes, moradores e educandos;
V- os que gratuitamente houverem participado nos produtos do
crime, até a concorrente quantia.
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente,
ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos
praticados pelos terceiros ali referidos.

Nas obrigações solidárias passivas (definidas pela vontade das partes ou


em virtude de lei), caso a prestação se torne impossível por culpa de um dos
devedores, todos estes responderão solidariamente pelo equivalente, restituindo
o valor recebido a fim de afastar o enriquecimento sem causa. Porém, pelas perdas
e danos responderá somente o culpado.

A título exemplificativo apresenta-se a seguinte situação hipotética: em


uma obrigação de dar coisa certa define-se como objeto a entrega de um cavalo
puro sangue inglês por três devedores solidários. Entretanto, um dos devedores
embriagou-se e acabou por envenenar, culposamente, o cavalo objeto da obrigação,
vindo este a óbito. Desta maneira a prestação se torna impossível, fazendo com
que os três devedores sejam responsáveis pelo equivalente e o apenas o culpado
pelas perdas e danos.
42
TÓPICO 3 — CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 279 in verbis: “impossibilitando-se a


prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de
pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado”.

Outrossim, nos termos do artigo 281 do Código Civil, quando o devedor


for demandado na solidariedade passiva, somente poderá alegar em defesa
argumentação pessoal (exemplo: devedor foi vítima de coação) ou comum a
todos (exemplos: dívida prescrita ou já quitada), não sendo possível arguir defesa
pessoal de outrem.

• Solidariedade ativa
A solidariedade ativa (pluralidade de credores) é regulamentada pelo artigo
267 e seguintes do Código Civil.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 267 in verbis: “cada um dos credores
solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro”.

A solidariedade ativa também pode ser fixada por lei ou por acordo de
vontade entre as partes.

Exemplos de solidariedade ativa em virtude de determinação legal:

• Art. 12 da Lei n° 209/48: solidariedade ativa entre credores nos contratos


pecuaristas;
• Art. 2° da Lei n° 8245/91 (Lei do Inquilinato): “havendo mais de um locador
ou mais de um locatário, entende-se que são solidários se o contrário não se
estipulou”.

Exemplo de solidariedade ativa derivada da vontade das partes:

• Contrato de conta corrente conjunta: qualquer um dos correntistas pode


movimentar a totalidade dos fundos disponíveis de forma isolada, ou seja, há
solidariedade dos correntistas em relação ao banco.

43
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

Existindo obrigação solidária ativa, o devedor poderá pagar todo o


crédito a qualquer um dos credores, recebendo quitação integral.

Há que se falar, ainda, da regra da refração do crédito, prevista no artigo


279 do Código Civil, cabível na hipótese de falecimento de um dos credores
solidários, quando a obrigação será transmitida a seus herdeiros, de modo a
encerrar a solidariedade para os sucessores, visto que cada um destes poderá
exigir tão somente a parcela do crédito pertinente ao seu quinhão da herança.

Por fim, na ocorrência de conversão da obrigação em perdas e danos,


nos termos do artigo 271 do Código Civil, subsiste a solidariedade para todos os
efeitos legais.

FIGURA 8 – MAPA CONCEITUAL

Passiva Obrigação à dívida toda


Obrigação
Solidária
Ativa Direito à dívida toda

FONTE: A autora

3.3 OBRIGAÇÕES DE MEIO E DE RESULTADO


A obrigação de meio é aquela em que o devedor se obriga a realizar uma
atividade, sem garantir o resultado final, porém, empenhando todos os esforços
necessários a fim de alcançá-lo. Caso o devedor não obtenha o resultado, mas
tenha agido com diligência no cumprimento da obrigação, não será considerado
inadimplente. São exemplos comuns de obrigações de meio as firmadas com
advogados ou médicos, exceto em cirurgias estéticas, como se verá adiante.

Já a obrigação de resultado é aquela em que o devedor se responsabiliza


pelo dever de atingir um resultado almejado. Caso este não seja conquistado,
o devedor será considerado inadimplente. Como exemplos de obrigações de
resultado têm-se os contratos de engenharia e empreitada.

Conforme salientado anteriormente, como regra geral, na relação entre


médico e paciente a obrigação será de meio. Porém, consoante entendimento
do STJ, em casos de cirurgias plásticas de natureza exclusivamente estética, a
obrigação será de resultado, visto que o médico se compromete com a obtenção
da solução embelezadora pretendida.

44
TÓPICO 3 — CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

Finalmente, em relação às cirurgias tanto reparadoras quanto estéticas, a


responsabilidade do médico deverá ser verificada de maneira fragmentada, de
acordo com cada finalidade da intervenção. Assim, nas cirurgias de caráter misto
(estéticas e reparadoras), por exemplo, na de redução de mama, a responsabilidade
do médico será de resultado no tocante à parte estética da intervenção e de meio
relativamente a sua parcela reparadora. Neste sentido, também, caminha o
entendimento do STJ.

FIGURA 9 – MAPA CONCEITUAL

Obrigação de meio Não garante resultado final

Obrigação de resultado Garante resultado final

FONTE: A autora

3.4 OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS


As obrigações divisíveis são aquelas que permitem o cumprimento
fracionado da prestação, já as indivisíveis precisam ser cumpridas integralmente,
conforme regulamentação presente no artigo 257 e seguintes do Código Civil.

NOTA

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 257. Havendo mais de um devedor ou


mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações,
iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa
ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica,
ou dada a razão determinante do negócio jurídico”.

A indivisibilidade refere-se ao objeto, não se confundindo com a


solidariedade, que diz respeito aos sujeitos. Tal indivisibilidade pode ser
determinada, em termos legais, pela natureza do objeto (um touro reprodutor,
por exemplo), por motivo de ordem econômica (uma unidade de medida agrária)
ou em razão determinante do negócio jurídico (por convenção/estipulação entre
as partes).

45
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

Se houver pluralidade de credores, não tendo sido ajustada a solidariedade


ativa, o devedor se exonera adimplindo a prestação a todos os credores
conjuntamente ou a um deles, dando esta caução de ratificação dos demais,
documento que demonstra o pagamento eficaz a apenas um dos credores.

Em contrapartida, se houver pluralidade de devedores, cada um deles


responderá pela dívida toda, pois, qualquer que seja a natureza da indivisibilidade,
não se autoriza o fracionamento do objeto da obrigação.

Frise-se que o dever imposto a cada devedor de pagar a totalidade da


dívida não implica a solidariedade entre eles, visto que é o objeto (um cão da raça
poodle, por exemplo) da própria obrigação que determina o cumprimento integral
do débito, em razão da impossibilidade de divisão (não é possível fragmentar o
cão para satisfazer a obrigação).

FIGURA 10 – MAPA CONCEITUAL

Obrigação divisível É possível o cumprimento parcial

Obrigação indivisível Só é possível o cumprimento integral

FONTE: A autora

DICAS

Para aprofundar a temática acerca da classificação das obrigações e


compreender sua utilidade no ciberespaço, assunto este de extrema relevância na
atualidade, recomenda-se a leitura complementar do artigo de Cristiano Colombo,
intitulado “A classificação tripartite das obrigações e sua aplicação no ciberespaço”,
disponível em: http://direitoeti.com.br/artigos/a-classificacao-tripartite-das-obrigacoes-
e-sua-aplicacao-no-ciberespaco/.

46
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A obrigação de dar tem como objeto a prestação de coisas e é subdividida em


duas espécies: obrigação de dar coisa certa (específica) e obrigação de dar coisa
incerta (genérica).

• A obrigação de dar coisa certa, denominada também de obrigação específica,


é a prestação que se refere a um bem específico ou individualizado, ou seja, o
objeto da prestação é determinado, qualificado.

• A obrigação de dar coisa incerta, ou obrigação genérica, é caracterizada por


uma prestação relativa ou provisoriamente indeterminada, portanto, indicada
apenas pelo gênero e quantidade, ou seja, não possui especificação da qualidade.

• A obrigação de dar dinheiro é uma das espécies das obrigações de dar, e será
verificada quando o objeto da obrigação se tratar de pecúnia.

• A obrigação de fazer tem como objeto a prestação de um fato positivo, ou seja,


a ação/tarefa do devedor importa a fim de adimplir o crédito, assim, pode-se
dizer que na obrigação de fazer a prestação é a própria atividade.

• Obrigação de fazer fungível é aquela em que a prestação pode ser cumprida


por outra pessoa, não apenas pelo natural devedor.

• Obrigação de fazer infungível é aquela que pode ser cumprida apenas pelo
devedor, ou seja, tem caráter personalíssimo, pela natureza da prestação ou
por convenção das partes.

• A obrigação de não fazer tem como objeto uma prestação de fato negativo,
em que o devedor se compromete a praticar um comportamento omissivo que
interessa ao credor.

• A obrigação alternativa, ou disjuntiva, é aquela que possui objeto múltiplo, ou


seja, o devedor se desonera com o adimplemento de um deles.

• A obrigação cumulativa, ou conjuntiva, é aquela na qual o devedor se obriga a


cumprir uma prestação com outra, ou seja, se estabelece mais de uma prestação
e o adimplemento só será observado com o cumprimento de todas.

• Na obrigação facultativa o objeto é único, porém, ao devedor assiste a


possibilidade de, querendo, no ato do pagamento, substituir a prestação
originária por outra.

47
• A solidariedade passiva decorre da pluralidade de devedores, permitindo ao
credor cobrar a totalidade da dívida de cada um deles.

• A solidariedade ativa decorre da pluralidade de credores, em que qualquer


um destes poderá cobrar a prestação integral do devedor, transferindo o
contingente dos demais sujeitos ativos.

• A obrigação de meio é aquela em que o devedor se obriga a realizar uma


atividade, sem garantir o resultado, porém, empenhando todos os esforços
necessários a fim de alcançá-lo.

• A obrigação de resultado é aquela em que o devedor se responsabiliza pelo


dever de atingir um resultado almejado.

• As obrigações divisíveis são aquelas que permitem o cumprimento fracionado


da prestação, já as indivisíveis precisam ser cumpridas integralmente.

48
AUTOATIVIDADE

1 (FCC – Analista Judiciário – TJ-AP/2014) Donizete acordou com Rafael, por


escrito, que se absteria de impedir o curso de um pequeno riacho, a fim de
evitar o desabastecimento de água em sua fazenda. Não obstante, Donizete
construiu uma barragem no referido riacho, represando a água em sua
propriedade e causando desabastecimento na de Rafael. Sob urgência,
Rafael poderá:

a) ( ) Desfazer ou mandar desfazer a barragem, independentemente de


autorização judicial, porém às suas expensas, não podendo requerer
ressarcimento pelos gastos com o desfazimento do ato.
b) ( ) Requerer, necessariamente em juízo, o desfazimento da barragem,
cabendo a Donizete os custos com o desfazimento do ato.
c) ( ) Requerer, necessariamente em juízo, o desfazimento da barragem,
cabendo a Rafael os custos com o desfazimento do ato.
d) ( ) Postular indenização por perdas e danos, mas não o desfazimento do
ato.
e) ( ) Desfazer ou mandar desfazer a barragem, independentemente de
autorização judicial, além de requerer ressarcimento pelos gastos com
o desfazimento do ato.

FONTE: Banca: Fundação Carlos Chagas (FCC) – Prova: Analista Judiciário – Órgão: Tribunal
de Justiça do Estado do Amapá (TJ-AP) – Ano: 2014.

2 (FCC – Promotor de Justiça – MPE-AL/2012) Analise as seguintes situações


hipotéticas, que versam sobre as modalidades das obrigações, de acordo
com o Código Civil brasileiro:

I- Paulo adquiriu um determinado veículo de propriedade de Pedro


pagando pelo mesmo a quantia de R$ 30.000,00. Antes de entregar o bem
a Paulo, Pedro é vítima de roubo e o veículo objeto da transação acaba
sendo subtraído pelos meliantes. Neste caso, o negócio está resolvido para
ambas as partes, cabendo a Pedro apenas devolver a Paulo o dinheiro
desembolsado, mais perdas e danos.
II- Mikely deverá entregar para Janaína um lote de roupas femininas diversas.
Antes da entrega, o veículo de propriedade de Mikely, utilizado para o
transporte das roupas, é incendiado por vândalos e 70% da mercadoria
é deteriorada. Neste caso, Janaína poderá resolver a obrigação ou, então,
aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.
III- Uma indústria de alimentos adquire parte da próxima safra de arroz de
Antônio, um determinado produtor do interior do Estado de São Paulo. Na
data pactuada o produto não é entregue em razão da frustração da safra em
decorrência de alterações climáticas da região. Neste caso, Antônio, por se
tratar de obrigação de entrega de coisa incerta, não poderá alegar perda ou
deterioração da coisa, devendo restituir o valor recebido à empresa adquirente.

49
IV- Paula contratou o empreiteiro Romeu para executar serviços de hidráulica,
elétrica e colocação de forro de gesso em seu novo apartamento,
pagando a quantia de R$10.000,00. Após quinze dias do início da obra,
Romeu a abandona imotivadamente, causando um grande atraso em
sua finalização. Paula poderá, então, mandar executar o serviço por
outro empreiteiro, às custas de Romeu, e exigir o pagamento deste de
indenização das perdas e danos que provocou.

Está CORRETO o que se afirma em:


a) ( ) II e III.
b) ( ) I e IV.
c) ( ) I, III e IV.
d) ( ) II, III e IV.
e) ( ) II e IV.

FONTE: Banca: Fundação Carlos Chagas (FCC) – Prova: Promotor de Justiça – Órgão:
Ministério Público do Estado de Alagoas (MPE-AL) – Ano: 2012.

3 (FCC – Analista Judiciário – TRT 11ª Região/2017) Paulo e Pedro firmaram


contrato pelo qual Pedro comprometeu-se a comprar o automóvel de
placas XX-22 ou o caminhão de placas YY-33, ambos de propriedade de
Paulo, no prazo de 30 dias, pelo preço médio de mercado. O contrato
nada mais estabeleceu a respeito. Nesse caso, preenchidas as condições
de prazo e de preço:

a) ( ) Se o automóvel for destruído por incêndio fortuito, não subsistirá a


obrigação de comprar o caminhão.
b) ( ) Pedro poderá obrigar Paulo a vender-lhe os dois veículos.
c) ( ) A escolha do veículo a ser comprado cabe a Pedro.
d) ( ) Se o automóvel e o caminhão forem destruídos por incêndio fortuito,
subsistirá a obrigação, devendo Paulo fornecer outros veículos para venda.
e) ( ) Se o automóvel e o caminhão forem destruídos por culpa de Pedro,
Paulo poderá exigir apenas a quantia correspondente ao veículo de
maior valor.

FONTE: Banca: Fundação Carlos Chagas (FCC) – Prova: Analista Judiciário – Órgão: Tribunal
Regional do Trabalho (TRT) da 11ª Região – Ano: 2017.

4 (FCC – Juiz – TJ-PE/2013) Na atividade médica, a responsabilidade civil do


profissional liberal:

a) ( ) É, em regra, apurada com base na responsabilidade objetiva e examinada


em todos os casos como obrigação de meio e não de resultado.
b) ( ) É apurada com base na culpa e é aquela sempre considerada obrigação
de resultado.
c) ( ) É, em regra, apurada com base na responsabilidade subjetiva e examinada
em todos os casos como obrigação de meio e não de resultado.

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d) ( ) É, em regra, apurada com base na responsabilidade subjetiva e
examinada como obrigação de meio, excepcionalmente examinando-se
como obrigação de resultado.
e) ( ) É, em regra, apurada com base na responsabilidade objetiva e examinada
como obrigação de meio e, circunstancialmente, como obrigação de
resultado.

FONTE: Banca: Fundação Carlos Chagas (FCC) – Prova: Juiz – Órgão: Tribunal de Justiça de
Pernambuco (TJ-PE) – Ano: 2013.

5 (VUNESP – Assistente Jurídico e Procurador Jurídico – Prefeitura de


Andradina-SP/2017) Tadeu vendeu duzentas cabeças de gado ao seu
vizinho, Celso. Como forma de pagamento, restou definido que Celso
poderia pagar o valor de forma parcelada, em dez meses, em sacas de café
ou sacas de milho. Sobre os fatos narrados, responda CORRETAMENTE:

a) ( ) Por se tratar de obrigação alternativa, a escolha da forma de pagamento


será feita por Tadeu, se outra coisa não se estipulou.
b) ( ) Celso poderá pagar metade da parcela em sacas de café e a outra metade
em sacas de milho, apesar de Tadeu não concordar com essa forma de
pagamento.
c) ( ) Caso Celso tenha escolhido pagar com sacas de café e, no segundo mês,
por motivos de força maior, o pagamento com sacas de café se tornar
inexequível, subsistirá o débito quanto às sacas de milho.
d) ( ) Se Celso tivesse mais dois sócios, e entre eles não houvesse acordo
unânime sobre qual forma de pagamento deveria ser escolhida, essa
escolha recairia obrigatoriamente sobre Tadeu.
e) ( ) Caso ambas as prestações se tornem impossíveis sem culpa de Celso,
deverá ser definida uma nova modalidade de prestação.

FONTE: Banca: Fundação VUNESP – Prova: Assistente Jurídico e Procurador Jurídico –


Órgão: Prefeitura de Andradina-SP – Ano: 2017.

51
52
TÓPICO 4 —
UNIDADE 1

TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Inicialmente cumpre esclarecer que transmitir significa passar adiante.
Assim, na ocorrência de uma transmissão há uma cessão, que nada mais é do que
a transferência de uma colocação na relação jurídica, a título gratuito ou oneroso.

São elencadas pelo ordenamento pátrio três modalidades de transmissão


obrigacional que serão tratadas neste item: cessão de crédito, cessão de débito
(assunção de dívida) e cessão de contrato (cessão de posição contratual).

Desse modo, o presente item é dedicado à análise detalhada das referidas


hipóteses de transmissão das obrigações, o que se passa a fazer na sequência.

2 CESSÃO DE CRÉDITO
A cessão de crédito representa a transmissão, total ou parcial, de um
crédito a um terceiro, de maneira gratuita ou onerosa, mantendo a relação
obrigacional com o mesmo devedor. Portanto, a cessão de crédito é considerada
como um negócio jurídico bilateral, por meio do qual o credor transfere a outrem,
a sua posição de credor na relação obrigacional.

Nesta transferência, o credor original que cede o crédito é chamado de


cedente e o sujeito que passa a ser o novo credor é denominado de cessionário. Já
o devedor, que se mantém o mesmo, é o cedido.

Na ocorrência da cessão, a totalidade de elementos da obrigação é transferida,


incluindo os acessórios, como as garantias, tendo em vista que a obrigação permanece
inalterada, havendo mudança apenas nos sujeitos que a compõem.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 287 in verbis: “salvo disposição em


contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios”.

53
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

Contudo, caso haja determinação em contrário, os acessórios da obrigação


poderão não ser atingidos pela cessão de crédito.

NOTA

Observe-se que na cessão de crédito hipotecário, o cessionário possui direito


de realizar a averbação da cessão no registro do imóvel.

Destaca-se, também, que a cessão de crédito não depende do consentimento


do devedor, basta que este tenha conhecimento da cessão.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 286 in verbis: “o credor pode ceder o
seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o
devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se
não constar do instrumento da obrigação”.

Por conseguinte, é possível perceber que toda cessão é permitida,


podendo o credor ceder seu crédito, salvo nas hipóteses de:

• Proibição em razão da natureza da obrigação.


• Proibição por lei.
• Proibição por convenção com o devedor.

Logo, um exemplo de proibição de cessão em virtude da natureza da


obrigação é o crédito alimentar, tendo em vista que o direito a alimentos não é
passível de cessão. Já com relação à proibição da lei, um exemplo é a previsão
insculpida no artigo 1.749, III, do Código Civil (proíbe que o tutor se torne
cessionário do tutelado).

54
TÓPICO 4 — TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 1.749 in verbis: “ainda com a autorização
judicial, não pode o tutor, sob pena de nulidade:

III- constituir-se cessionário de crédito ou de direito, contra o menor”.

O Código Civil, nos termos da parte final do artigo 286 supramencionado,


proíbe, ainda, a cessão de crédito por estipulação convencional entre credor e
devedor. De modo geral, a relação obrigacional é originada por um contrato
ajustado entre o credor primitivo e o devedor, contrato este que pode trazer uma
cláusula impedindo a cessão de crédito, denominada de pacto de non cedendo.

Porém, para que o pacto de non cedendo gere efeitos relativamente a


terceiros, deve estar incluído expressamente no contrato, não podendo ser
estipulado oralmente, tendo em vista o princípio da boa-fé objetiva.

Importante a previsão explícita no contrato da referida cláusula proibitiva


da cessão, pois, caso não esteja escrita no instrumento da obrigação, não será
oponível ao cessionário de boa-fé. Para além das hipóteses proibitivas da cessão
de crédito, é necessário esclarecer que esta deve ser elaborada por escrito para
possuir eficácia também em face de terceiros, posto que se trata de um negócio
jurídico bilateral. Assim, a transmissão de crédito, eficaz em relação a terceiros,
é aquela firmada por instrumento público ou particular, observando as regras
previstas em lei.

Outrossim, para a validade da cessão, é desnecessária a concordância do


devedor, conforme já verificado previamente. Todavia, a transmissão do crédito
não tem eficácia em relação ao devedor caso este não seja notificado.

O aludido dever de informação provém da boa-fé objetiva. Ou seja, com


fundamento em tal princípio, pode-se dizer que embora o devedor não possua
capacidade para autorizar ou não a cessão, necessita ser notificado acerca do ato,
como condição de eficácia.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 290 in verbis: “a cessão do crédito não
tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado
se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita”.

55
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

É imprescindível, também, a comunicação ao devedor para que este


saiba em face de quem se defender. De igual modo, na ausência de notificação
da cessão ao devedor, este não saberá a quem pagar, não podendo ser
responsabilizado caso realize o pagamento ao credor originário.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 292 in verbis: “fica desobrigado o devedor
que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de
mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de
cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá
a prioridade da notificação”.

Não obstante, o cessionário poderá praticar os atos conservatórios do


direito cedido, independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor,
conforme preceitua a legislação civil.

Ademais, a partir do momento em que o devedor toma conhecimento


da cessão, poderá opor as suas defesas ao cessionário (novo credor), tal como
as exceções que possuía contra o cedente no instante em que foi comunicado da
transmissão. Se esta prerrogativa não fosse assegurada, a cessão estaria sujeita a
fraudes, por exemplo, a hipótese de coação realizada pelo credor original para
assinatura do contrato pelo devedor, com posterior cessão de crédito a novo credor.

É necessário que se faça, ainda, uma análise acerca do alcance da


responsabilidade do cedente na transmissão do crédito. Para tanto, atenta-se para
a previsão contida nos artigos do Código Civil, a seguir identificados:

Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se
responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do
crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe
cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé.
Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela
solvência do devedor.
Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do
devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os
respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as
que o cessionário houver feito com a cobrança.

Como se pode concluir, a partir da interpretação sistemática dos citados


dispositivos do Código Civil, a cessão de crédito é, em regra, pro soluto, uma
vez que o cedente é responsável somente pela existência do crédito. Contudo,
excepcionalmente, é possível estipular previsão contratual no sentido de que a
cessão é pro solvendo, respondendo o cedente também pela solvência do devedor,
ou seja, pelo pagamento do crédito.

56
TÓPICO 4 — TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

Consequentemente, verifica-se que o cedente, na cessão pro soluto, se


desonera com a cessão da obrigação. Porém, na cessão pro solvendo, o cedente
apenas se isenta com o cumprimento da obrigação, podendo inclusive ser
demandado por esta, já que responde pela solvência.

É importante ressaltar que, em regra, as cessões são pro soluto, garantindo-


se apenas a existência do crédito, muito embora, na prática, se observe mais
cessões pro solvendo.

Por fim, outra informação que merece destaque é o fato de que o


crédito, uma vez penhorado, não poderá mais ser transferido pelo credor que
tiver conhecimento da penhora. Entretanto, o devedor que o quitar, não tendo
notificação da penhora, ficará exonerado, permanecendo apenas os direitos de
terceiro contra o credor, de acordo com a imposição legal indicada no artigo 298
do Código Civil.

3 ASSUNÇÃO DE DÍVIDA (CESSÃO DE DÉBITO)


A assunção de dívida, ou cessão de débito, representa um negócio
jurídico bilateral por meio do qual o devedor, mediante anuência expressa do
credor, transfere o seu débito a um terceiro, permanecendo a mesma relação
obrigacional, alterando-se apenas a figura do sujeito passivo.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 299 in verbis: “é facultado a terceiro


assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando
exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o
credor o ignorava”.

Isto posto, incumbe salientar que na ocorrência da cessão de débito, o


devedor originário fica exonerado, exceto se o devedor derivado fosse insolvente
à época da assunção e o credor desconhecia esta condição.

Para efetivação desta transmissão é fundamental que o credor consinta


expressamente, haja vista que o silêncio deste é interpretado como recusa.

57
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 299, parágrafo único, in verbis: “qualquer
das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida,
interpretando-se o seu silêncio como recusa”.

As partes encontradas na assunção de dívida são o cedente (devedor


primitivo), o cessionário (novo devedor) e o cedido (credor).

A cessão de débito pode ser enquadrada em duas modalidades:

• Assunção por expromissão:


Nesta, uma terceira pessoa se responsabiliza espontaneamente pelo débito de
outra, sem que o devedor originário tome conhecimento ou consinta a situação.
Esta assunção pode, ainda, ser subdividida em:
◦ Liberatória: com o ingresso de um novo devedor, o originário estará
exonerado/liberado do débito.
◦ Cumulativa: ingressa um novo devedor para figurar com o originário, que
não estará exonerado/liberado do débito.

• Assunção por delegação:


Esta é a mais frequente, ocorrendo quando o devedor primitivo participa da
relação, transmitindo o débito para terceiro mediante concordância do credor.

Além disso, na assunção de dívida apresenta-se como regra geral a


premissa de que o devedor originário apenas permanece garantindo a obrigação
caso manifeste desejo.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 300 in verbis: “salvo assentimento


expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as
garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor”.

58
TÓPICO 4 — TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

Considerando, outrossim, que a assunção de dívida é um negócio


jurídico, este pode até ser anulado. Caso aconteça a anulação, irá gerar efeitos
retroativos, razão pela qual o devedor originário, que antes se encontrava
exonerado, não mais está, havendo o retorno nos exatos termos à circunstância
anterior, revertendo inclusive as garantias especiais.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 301 in verbis: “se a substituição do


devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as
garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação”.

Na cessão de débito não se permite que o novo devedor oponha exceções


pessoais relacionadas ao devedor originário, diferentemente do que ocorre na
cessão de crédito, onde o devedor pode opor exceções existentes em razão do
credor primitivo.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 302 in verbis: “o novo devedor não pode
opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo”.

Em complemento, perceba-se que na hipótese de imóvel hipotecado,


caso o devedor assuma a dívida que é garantida pelo imóvel que adquiriu, a
concordância do credor poderá ser tácita.

NOTA

O Código Civil estabelece em seu art. 303 in verbis: “o adquirente de imóvel


hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado,
não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento”.

59
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

4 CESSÃO DE POSIÇÃO CONTRATUAL (CESSÃO DE


CONTRATO)
A cessão de contrato não é regulamentada por lei, mas é considerada válida
e utilizada pela jurisprudência. Trata-se, portanto, de um negócio jurídico atípico.

Deste modo, a cessão de contrato implementa a maneira mais completa


e complexa de transmissão a título particular na relação obrigacional. Nesta
situação, o cedente não está transferindo simplesmente um crédito ou um débito,
está cedendo a posição global dele no contrato.

Pode-se afirmar, então, que a cessão de contrato é a forma de transmissão


obrigacional mais abrangente, tendo em vista que se concretiza com a transferência
pelo cedente da própria posição contratual, incluindo direitos e deveres, a um terceiro.

Exemplo disso sucede quando um indivíduo deseja transferir o


financiamento do seu veículo para outrem, o que se pretende, na realidade, é
uma cessão da posição contratual.

Para que isso ocorra é necessário que alguns requisitos estejam presentes,
quais sejam: celebração de negócio jurídico entre cedente e cessionário, totalidade/
integralidade da cessão e, por último, o consentimento da outra parte. Caso a
anuência esteja ausente, opera-se a invalidade da cessão.

FIGURA 11 – MAPA CONCEITUAL

Cessão de crédito

Por expromissão
Obrigação
Cessão de débito
Solidária
Por delegação

Cessão de contrato

FONTE: A autora

DICAS

Para aprofundar a temática acerca da transmissão obrigacional, recomenda-se a


leitura complementar do artigo de Rafael Medeiros Antunes Ferreira, intitulado Transmissão
das Obrigações, disponível em: https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_
-_transmissao_das_obrigacoes.pdf.

60
TÓPICO 4 — TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

LEITURA COMPLEMENTAR

A CESSÃO DE CRÉDITOS NO DIREITO BRASILEIRO

Rordigo Xavier Leonardo

Lacerda de Almeida, tomando por base o direito civil brasileiro anterior


a nossa primeira codificação, escreveu: “o pensamento moderno no intuito
da mobilização das riquezas, tende a materializar, a corporificar os direitos e
obrigações equiparando-os no modo de transferência às cousas mobiliarias”.

Com efeito, no direito brasileiro, desde o Código Civil de 1916, a cessão de


crédito é expressamente prevista e, mesmo antes dele, reconhecida pela doutrina
e pela jurisprudência.

A doutrina brasileira, com raras, porém honrosas exceções, pouco


problematizou a cessão de crédito, chegando, quando muito, a afirmar que se
trataria, simplesmente, de mais um tipo contratual.

J.M. Carvalho de Mendonça intuiu a impossibilidade de limitar a cessão


de crédito a um contrato típico, ao escrever que: “A cessão pode ter por causa
qualquer dos meios de transmitir a propriedade; na frase de um jurisconsulto, ela
simpatiza com todos os meios de transmissão da propriedade”.

Carvalho Santos, do mesmo modo, notou bem que “A cessão dos créditos
é, pela sua índole, um instituto que serve para fins diversos”.

Antes destes autores, Lacerda de Almeida expressara o entendimento de


que no fenômeno da cessão de crédito seria possível identificar dois atos distintos:
(a) a transferência do crédito (cessão propriamente dita) e (b) o contrato que lhe
dá causa:

Cessão é a transferência que o credor faz a terceiro de seu direito contra


o devedor. Nada mais é além disso. Mas esta transferência, como a
tradição, nada significa, é um acto vasio: nunquam nuda traditio trasnfert
dominium sed ita si aliqua causa precedat per quam dominium transferatur.
(...) como a tradição a cessão de créditos supõe um contrato que a
explique e esse contrato é, em regra, o de compra e venda.

A explicação rigorosa dessa duplicação de negócios (negócio jurídico de


base e negócio jurídico de transmissão) foi apresentada, em direito brasileiro,
originalmente por Pontes de Miranda:

A cessão de crédito é negócio jurídico bilateral de transmissão de


crédito entre o credor e outrem. À base dele pode haver negócio
jurídico, porém a cessão de crédito independe dele, ou da sua
existência. A manifestação de vontade é elemento de acordo de
transmissão, e esse acordo semelhante ao acordo de transmissão

61
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

da propriedade imobiliária ou mobiliária, opera a transmissão


sem precisar de qualquer outro elemento (e.g., na transferência da
propriedade imobiliária, o registro; na transferência da propriedade
mobiliária, a tradição, ou outro ato, inclusive registro.).

A percepção da dualidade entre o negócio jurídico que dá base à cessão


(que pode ser um negócio jurídico ou outro ato jurídico) e o efeito de transmissão
(o negócio jurídico de cessão de crédito propriamente dito) como adimplemento
do negócio jurídico basal é absolutamente indispensável para que este instituto
possa servir aos fins diversos, outrora simplesmente percebidos por Carvalho
Santos, sem mais reflexões.

Daí o equívoco grave e crasso de limitar a cessão de crédito a um mero


tipo contratual, sobretudo em um tipo contratual fechado.

A cessão de crédito pode ter por base um contrato oneroso, sendo que, neste
caso, efetivamente existe uma proximidade com o contrato de compra e venda.

A base, todavia, pode ser diversa da compra e venda. É possível ceder um


crédito por intermédio de um contrato de doação (cujo adimplemento importe na
transferência gratuita de crédito, art. 295, in fine, CC 2002). Do mesmo modo, a
cessão de crédito pode ter por base um negócio jurídico de adimplemento, como
a dação em pagamento (art.358, CC 2002), ou um negócio jurídico unilateral como
a promessa de recompensa (art. 854, CC 2002); um contrato de cessão fiduciária de
créditos em garantia (como, v.g., na Lei do SFI, Lei n.° 9.514/97), ou um contrato
de cessão de um conjunto de créditos futuros, internacionalmente conhecido
como contrato de factoring.

Para que a cessão de crédito possa ser realizada enquanto adimplemento


de tão diferentes negócios de base é que o legislador enunciou um tipo geral, sem,
todavia, fixar uma causa típica correspectiva. Lê-se no art. 286 do CC 2002, pura
e simplesmente, que “O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser
a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor”, sem qualquer
remissão ao negócio de base que tem de dar causa à transmissão.

No âmbito do direito positivo português, Antunes Varela expõe um


esclarecimento que se aplica integralmente ao direito brasileiro: “A cessão
tem, por conseguinte, a sua causa, variável de caso para caso, que o artigo 577
intencionalmente omite ao definir a figura, por querer introduzir na noção
legal apenas as notas comuns a todas as espécies geradoras do fenómeno da
transmissão de crédito”.

Cabe investigar a relação que se estabelece entre o negócio jurídico de


base e o negócio jurídico de cessão de créditos, em sentido próprio e estrito,
perquirindo a abstratividade ou causalidade dessa relação.

FONTE: LEONARDO, Rodrigo Xavier. A CESSÃO DE CRÉDITOS: REFLEXÕES SOBRE A


CAUSALIDADE NA TRANSMISSÃO DE BENS NO DIREITO BRASILEIRO. Disponível em: <https://
revistas.ufpr.br/direito/article/view/5176>. Acesso em: 9 ago. 2020.

62
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Transmitir significa passar adiante. Assim, na ocorrência de uma transmissão


há uma cessão, que nada mais é do que a transferência de uma colocação na
relação jurídica, a título gratuito ou oneroso.

• A cessão de crédito representa a transmissão, total ou parcial, de um crédito a


um terceiro, de maneira gratuita ou onerosa, mantendo a relação obrigacional
com o mesmo devedor.

• Toda cessão é permitida, podendo o credor ceder seu crédito, salvo nas
hipóteses de proibição em razão da natureza da obrigação, proibição por lei e
proibição por convenção com o devedor.

• A assunção de dívida, ou cessão de débito, representa um negócio jurídico


bilateral por meio do qual o devedor, mediante anuência expressa do
credor, transfere o seu débito a um terceiro, permanecendo a mesma relação
obrigacional, alterando-se apenas a figura do sujeito passivo.

• A assunção pode ocorrer por expromissão, quando uma terceira pessoa se


responsabiliza espontaneamente pelo débito de outra, sem que o devedor
originário tome conhecimento ou consinta para essa situação, ou também por
delegação, mais frequente, quando o devedor primitivo participa da relação,
transmitindo o débito para terceiro mediante concordância do credor.

• A cessão de contrato não é regulamentada por lei, portanto, trata-se de


um negócio jurídico atípico. A cessão de contrato é a forma de transmissão
obrigacional mais abrangente, tendo em vista que se concretiza com a
transferência pelo cedente da própria posição contratual, incluindo direitos e
deveres, a um terceiro.

CHAMADA

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AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

63
AUTOATIVIDADE

1 (FCC – Juiz Substituto – TJ-AL/2019) Por conta de mútuo oneroso, João


devia a Teresa a importância de cem mil reais. No intuito de ajudar o amigo
em dificuldade, Leopoldo assumiu para si a obrigação de João, para o que
houve expressa anuência de Teresa. Nesse caso:

a) ( ) João ficará exonerado da dívida, salvo se Leopoldo, ao tempo da


assunção, fosse insolvente e Teresa ignorasse essa sua condição.
b) ( ) Leopoldo poderá opor a Teresa as exceções pessoais que competiam a João.
c) ( ) Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito de João,
sem nenhuma garantia, independentemente de quem a tenha prestado.
d) ( ) Preservam-se as garantias especiais originariamente dadas a Teresa por
João, independentemente do assentimento dele.
e) ( ) João responderá apenas pela metade da dívida, ainda que Leopoldo
não cumpra a obrigação assumida perante Teresa.

FONTE: Banca: Fundação Carlos Chagas (FCC) – Prova: Juiz Substituto – Órgão: Tribunal de
Justiça de Alagoas (TJ-AL) – Ano: 2019.

2 (IADES – Procurador – AL-GO/2019) A respeito da cessão de crédito no


direito civil brasileiro, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O direito brasileiro não tolera a cessão de crédito para terceiros.


b) ( ) Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito não são
abrangidos os respectivos acessórios.
c) ( ) De regra, o cedente responde perante o cessionário pela solvência do
devedor.
d) ( ) O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, porém
não poderá opor aquelas que, no momento em que veio a ter conhecimento
da cessão, tinha contra o cedente (eficácia inter partes da cessão).
e) ( ) O devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor
primitivo fica desobrigado.

FONTE: Banca: Instituto Americano de Desenvolvimento (IADES) – Prova: Procurador –


Órgão: Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (AL-GO) – Ano: 2019.

3 (FCC – Juiz Substituto – TJ-SC/2017) Na transmissão das obrigações


aplicam-se as seguintes regras:

I- Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize,


fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em
que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título
gratuito, se tiver procedido de má-fé.
II- Na assunção de dívida, o novo devedor não pode opor ao credor as
exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo.

64
III- Salvo estipulação em contrário, o cedente responde pela solvência do devedor.
IV- O cessionário de crédito hipotecário só poderá averbar a cessão no registro
de imóveis com o consentimento do cedente e do proprietário do imóvel.
V- Na assunção de dívida, se a substituição do devedor vier a ser anulada,
restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias
prestadas por terceiro, exceto se este conhecia o vício que inquinava a
obrigação.

Está CORRETO o que se afirma em:


a) ( ) III, IV e V.
b) ( ) II, III e IV.
c) ( ) I, II e IV.
d) ( ) I, III e V.
e) ( ) I, II e V.

FONTE: Banca: Fundação Carlos Chagas (FCC) – Prova: Juiz Substituto – Órgão: Tribunal de
Justiça de Santa Catarina (TJ-SC) – Ano: 2017.

4 (CESPE – Juiz de Direito Substituto – TJ-DFT/2015) Assinale a opção correta


acerca da transmissão das obrigações nos termos do Código Civil:

a) ( ) Salvo disposição em contrário, a cessão de um crédito não abrange seus


acessórios.
b) ( ) Na assunção de dívida, o novo devedor pode opor ao credor as exceções,
de qualquer natureza, que competiam ao devedor primitivo.
c) ( ) A cessão de crédito tem plena e imediata eficácia em relação ao devedor,
independentemente de este ter sido notificado da cessão feita ou ter
dado ciência dessa cessão.
d) ( ) Na falta de previsão contrária, vige a regra pela qual o cedente do
crédito responde pela solvência do devedor.
e) ( ) O silêncio do credor notificado da assunção de dívida deve ser
interpretado como recusa, mas, na hipótese de assunção de débito
garantido por hipoteca, o silêncio, decorrido o prazo de trinta dias,
deve ser interpretado como anuência.

FONTE: Banca: Centro de Seleção e de Promoção de Eventos Universidade de Brasília


(CESPE) – Prova: Juiz de Direito Substituto – Órgão: Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios (TJ-DFT) – Ano: 2015.

5 (FGV – Analista Judiciário – TJ-AM/2013) Maria emprestou R$ 5.000,00 para


Cláudia. Uma semana antes do vencimento da obrigação, Cláudia procura
Maria propondo que o pagamento seja feito por meio de uma cessão do
crédito a alimentos que ela possui com José (pai de Cláudia), avaliado em R$
20.000,00. A partir da situação hipotética, assinale a afirmativa CORRETA:

65
UNIDADE 1 — CONCEITO, MODALIDADES, FIGURAS HÍBRIDAS, TRANSMISSÃO, ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: EXTINÇÃO

a) ( ) Não é possível a cessão de créditos, pois o direito a alimentos é incessível


por expressa vedação legal.
b) ( ) Não é possível a cessão de créditos, pois o valor devido por Maria é
menor do que o crédito que ela tem com José.
c) ( ) Somente será possível a cessão de créditos, caso José concorde com a
substituição da credora.
d) ( ) Somente será possível a cessão de créditos após o vencimento da dívida,
por expressa determinação legal.
e) ( ) Somente será possível a cessão de créditos, caso Maria tenha alguma
relação de parentesco com José.

FONTE: Banca: Fundação Getúlio Vargas (FGV) – Prova: Analista Judiciário – Órgão: Tribunal
de Justiça do Estado do Amazonas (TJ-AM) – Ano: 2013.

66
UNIDADE 2 —

MODALIDADE DE PAGAMENTO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar as modalidades de pagamentos e suas generalidades;

• compreender o lugar, tempo, formas do pagamento;

• conhecer o inadimplemento das obrigações;

• identificar uma cláusula penal e para que serve;

• compreender o que são atos unilaterais.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da
unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o
conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES:


PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

TÓPICO 2 – ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA E PAGAMENTO


INDEVIDO

TÓPICO 3 – FORMAS INDIRETAS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES


E A INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E SUAS
PENALIDADES

TÓPICO 4 – INEXECUÇÃO NO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

CHAMADA

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em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
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67
68
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES:


PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

1 INTRODUÇÃO
Primeiramente, para iniciarmos o estudo acerca do adimplemento e
inexecução das obrigações, se faz necessário entender as figuras que fazem parte
dessa relação, nesse caso, possuímos a figura do DEVEDOR e a figura do CREDOR.

Dito isso, o Credor será sempre será aquele sujeito que se encontra na posição
de recebedor de alguma coisa, que possui um crédito a ser recebido, seja ele de
dinheiro, cheque, nota promissória, ou até mesmo objeto como forma de pagamento.

Já o sujeito denominado de Devedor será sempre aquele que tem um


débito a ser pago, devendo adimplir a obrigação seja pagando para o credor em
pecúnia, em coisas ou até mesmo outro meio de pagamento diverso do combinado
anteriormente, mas agora aceito pelo credor.

Assim, é necessário aprofundarmos ainda mais o estudo para que seja


melhor compreendido o tema tratado neste tópico dos nossos estudos. Apenas
para iniciar de forma ilustrativa os sujeitos da obrigação, segue o fluxograma.

E
IMPORTANT

FIGURA 1 – MAPA CONCEITUAL

SUJEITOS

DEVEDOR CREDOR
É aquele do qual É aquele do qual recebe por
cumpre a obrigação. determinada obrigação.

FONTE: A autora

69
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

Estabelecidos os sujeitos, precisamos entender conceito de obrigação, de


forma breve, é o que se extraí do Direito Civil, do qual se tem fácil compreensão,
a saber: uma relação jurídica transitória de cunho pecuniário, unindo pessoas,
devendo uma (devedor) efetuar o pagamento de uma prestação à outra (credor)
(VENOSA, 2005).

2 DO CUMPRIMENTO E DESCUMPRIMENTO DAS


OBRIGAÇÕES
Ainda, dentro da parte introdutória, já entendido os sujeitos e o conceito
de obrigação, necessário se faz ainda, entendermos a parte conceitual do nosso
estudo, especificamente passaremos então a análise dos conceitos de obrigação
cumprida (adimplemento) e inexecução da obrigação (inadimplemento).

A obrigação cumprida (adimplida) é aquela obrigação da qual foi


devidamente cumprida pela parte devedora, paga no dia estipulado, na forma
estipulada, e para a parte estipulada. Assim, por meio do ato de pagar a obrigação
se extingue. Já quando falamos de inexecução da obrigação ou inadimplemento,
é aquela obrigação da qual não houve o pagamento do acordado, levando a não
satisfação do credor devido a não realização da prestação pelo devedor ou por
terceiro quando ainda não fora extinta a obrigação.

Nesse diapasão, nós podemos concluir que o adimplemento é nada mais


que a forma como se cumpre a obrigação, ou seja, deve a obrigação ser cumprida
na forma e termos anteriormente estipulados.

Uma vez que tal obrigação seja satisfeita de forma integral, esta obrigação
se torna inexigível, haja vista que se satisfez em sua integralidade. Quanto à
inexecução, sempre se espera que tal obrigação seja cumprida, que todo contrato
seja cumprido, mas podem acontecer atrasos por parte de algumas das partes, seja
por culpa do credor, seja por culpa do devedor ou por algum caso não previsto.

Um exemplo clássico do já explanado é caso fortuito ou força maior,


quando comprovadamente aquele que deveria cumprir a obrigação, não consegue
fazê-la por algum evento que foge ao alcance do devedor.

70
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

FIGURA 2 – DIFERENÇA ENTRE CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR

FONTE: <http://twixar.me/BCjm>. Acesso em: 2 fev. 2021.

Assim, se uma obrigação não vem a ser cumprida, temos a inexecução


dessa obrigação, pois, como já explanado, quando se assume a obrigação se
espera que ela seja cumprida, pois o combinado gera lei entre as partes (Pacta
Sunt Servanda).

NOTA

“Pacta Sunt Servanda destina-se a preservar a autonomia da vontade declarada,


incluindo a liberdade de firmar o contrato em causa, bem como a segurança da relação
jurídica subjacente” (SUBTIL, 2012, p. 32).

Portanto, agora que já entendemos quem são os sujeitos presentes no nosso


estudo, e ainda a definição de obrigação cumprida e inexecução da obrigação,
vamos aprofundar nosso estudo nas condições de pagamento existentes no
ordenamento jurídico brasileiro.

O artigo a seguir está relacionado à matéria sobre caso fortuito e força


maior estudada anteriormente:

71
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

FORÇA MAIOR E CASO FORTUITO: O EFEITO DE FATOS


INCONTROLÁVEIS PELAS PARTES NOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
PATRIMONIAIS

Thamis Dalsenter

A força maior e o caso fortuito são institutos que se inserem no


universo dos contratos, estes instrumentos de criação e circulação de riquezas
patrimoniais mais frequentes e com maior variedade de tipos em qualquer
economia orientada pelo princípio da livre iniciativa, como a brasileira. Eles
se inserem tecnicamente na disciplina de direito das obrigações, e indicam
um caminho possível para lidar com certas situações de descumprimento
contratual, aquelas relacionadas a eventos necessários e que geram efeitos
inevitáveis, que as partes contratantes não possam impedir.

Como qualquer instituto jurídico, a força maior e o caso fortuito -


atualmente bastante lembrados em razão da pandemia de coronavírus - não
podem ser tratados como panaceia, solução para todos os conflitos relacionados
ao inadimplemento contratual. Assim como na Medicina o remédio adequado
para cada enfermidade varia conforme a doença específica e o paciente real,
e não apenas hipotético, também no Direito as soluções possíveis para os
problemas variam em função das peculiaridades de cada caso concreto, da
situação de dúvida ou conflito que possa existir na prática, portanto do perfil
das pessoas envolvidas, suas circunstâncias pessoais e interesses, que devem
ser levados em consideração na interpretação e aplicação do Direito.

Com relação aos contratos civis e comerciais, a disciplina da força maior


e do caso fortuito está hoje prevista na legislação brasileira nos artigos 393 e 399
do Código Civil (CC), o primeiro deles que estabelece, em seu parágrafo único,
que ambos1 se verificam no fato necessário cujos efeitos não era possível evitar
ou impedir2. Quando, portanto, as partes se vêem diante de circunstâncias
necessárias e inevitáveis, a lei brasileira diz que se tais circunstâncias levarem
ao descumprimento pelo devedor em uma dada relação contratual, este não
responderá, em regra, por eventuais prejuízos sofridos pelo credor.

Em concreto, a força maior ou o caso fortuito será então o fato com


esta característica de força para além daquelas controláveis pelas partes e que
impede a devedora, isto é, que tem algo a pagar ou cumprir, uma prestação a
entregar, de desempenhar adequadamente aquilo a que se comprometeu, no
todo ou em parte, de forma temporária ou definitiva.

Dependendo da extensão e da importância deste descumprimento


para a relação jurídica, para o programa contratual que foi estabelecido pelas
partes, ele pode se caracterizar como um inadimplemento relativo, também
conhecido como mora (palavra cuja raiz é a mesma da expressão demora,

72
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

que remete ao atraso, mas que juridicamente se conecta não apenas com a
imperfeição do cumprimento quanto ao tempo, mas também ao modo ou ao
lugar de execução) ou como um inadimplemento absoluto.

A diferença entre os dois tipos de inadimplemento é importante


porque somente no segundo caso, isto é, no inadimplemento absoluto, no qual
fica caracterizado que o credor perdeu o interesse útil na prestação que tinha
a receber, ele pode se recusar a receber a entrega ou pagamento em atraso, ou
de outro modo, ou em outro lugar, isto é, ele pode se desfazer da relação com
o devedor, por meio da resolução contratual, nos termos do parágrafo único
do artigo 395 do Código Civil.

Por sua vez, o devedor só terá a prerrogativa de se desfazer da relação,


desobrigando-se dos compromissos assumidos, em circunstâncias muito
específicas, amparadas por outro instituto do direito de obrigações, a saber,
a onerosidade excessiva, esta prevista nos artigos 478 e seguintes do Código
Civil. Com efeito, para o devedor se desobrigar diante de eventual situação
de impossibilidade de cumprimento do que lhe compete, há pressupostos
que devem ser preenchidos: o contrato deve ser de execução continuada ou
diferida, e, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, a
prestação deve ter se tornado excessivamente onerosa, com a parte credora
ficando em posição de extrema vantagem.

Em um contexto de fatos extraordinários como os que a sociedade


tem recentemente enfrentado diante da pandemia de coronavírus (ou de
quaisquer fatos que concretamente se caracterizassem como evento de caso
fortuito ou força maior em uma dada relação jurídica), as partes sempre
podem buscar a renegociação diante de qualquer dificuldade, repactuando
a combinação original. E assim se recomenda fortemente. No mínimo o
estado de prontidão para lidar com problemas e evitar litígios em qualquer
relação jurídica em curso é dever legal que se impõe às partes sempre, em
decorrência da cláusula geral de boa-fé consagrada em nosso ordenamento
jurídico. Todavia, se a renegociação não for bem sucedida, em princípio vale
o que foi combinado originalmente pelas partes.

Na prática, são os seguintes os conjuntos de hipóteses de liberação de


um devedor por obrigações assumidas contratualmente: 1. pelo pagamento,
isto é, o pleno cumprimento da obrigação, situação ordinária nas relações
contratuais, a mais comum forma de liberação do devedor, incluídas neste
conjunto de hipóteses também as formas especiais de cumprimento (as
modalidades indiretas, como por exemplo, a dação em pagamento); 2. por
quaisquer modos de extinção da obrigação diversos do adimplemento (como
a compensação, a confusão, e a remissão da dívida); 3. pela cessão pro soluto
da dívida, ou pela cessão da posição contratual, em que a obrigação continua
existindo, mas assumida por terceiro, mediante aprovação do credor); 4.
por comum acordo, que pode acarretar no distrato, isto é, o desfazimento

73
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

do contrato por mútuo consenso das partes; 5. pela renegociação, em que a


liberação da obrigação original decorre da sua substituição por uma nova,
fruto da repactuação realizada (ocorrendo, portanto, novação); 6. pelo
rompimento da relação por força da resolução, seja por iniciativa do credor
(quando configurado o inadimplemento absoluto, suporte fático que o autoriza
a cancelar o contrato), seja por iniciativa do devedor (quando caracterizada a
onerosidade excessiva, nos termos do já mencionado artigo 478 do CC), ou
ainda; 7. pela revisão contratual, quando, diante das mesmas circunstâncias
que autorizam a resolução pelo devedor, há modificação equitativa dos termos
e condições do contrato, em sede de juízo estatal ou arbitral (conforme previsto
no artigo 479 do CC).

Em condições normais no curso da execução de obrigações, se o


devedor descumpre aquilo que se comprometeu a fazer, ele responde, tanto
no inadimplemento relativo quanto no absoluto, pelas perdas e danos que o
descumprimento produzir na esfera do credor. Assim prevêem expressamente
os artigos 389, e 395, parágrafo único do Código Civil. Entretanto, diante de
uma situação de força maior ou caso fortuito, isto é, fato necessário e com
efeitos inevitáveis, o legislador brasileiro optou, em regra, por uma distribuição
específica de riscos, estabelecendo que nestes casos o devedor está isentado de
arcar com os prejuízos.

É importante destacar que o que o legislador prevê é que o devedor


não responde por perdas e danos relacionados à causa de força maior ou caso
fortuito. Ou seja, o legislador não isenta o devedor de cumprir o pactuado, não o
libera de suas obrigações. O devedor deve empreender seus melhores esforços
para cumprir com aquilo que se comprometeu da maneira mais próxima
possível ao originalmente previsto. Não há, no Código Civil ou em nenhuma
outra passagem da legislação brasileira, autorização para que o devedor, por
sua escolha, simplesmente descumpra em definitivo uma obrigação a que se
comprometeu, mesmo quando existe situação de força maior ou caso fortuito.
A regra é a expressa no brocardo latino pacta sunt servanda, que determina
que os pactos celebrados devem ser cumpridos.

Em outras palavras, a força maior e o caso fortuito não têm o condão


de retirar a obrigatoriedade dos contratos, de liberar o devedor de cumprir a
prestação a que se comprometeu. Sem dúvida, um ou outro modificam o estado
das coisas. Isto fica muito evidente diante de uma pandemia como a que a
sociedade brasileira (e todo o mundo) agora enfrenta. Há milhares de contratos
que estão com as suas execuções suspensas, pelas mais variadas razões, por
exemplo (mas não só), porque os entes da Federação nas suas esferas de
competência de fato restringiram circulação de bens e pessoas, impactando a
capacidade de cumprimento de muitas obrigações. No mundo todo, o cenário
é de insegurança. A título ilustrativo, parte das compras internacionais que
foram realizadas para aquisição de insumos ou bens de consumo ou produção
não estão sendo entregues, ou sequer chegando no território brasileiro, ora por

74
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

complicações logísticas, ora por aumento de demanda e quebra de contrato pelos


fornecedores internacionais, comprometendo a capacidade dos importadores
de cumprir seus contratos internamente. Diante deste cenário, os devedores, em
regra, não respondem pelos prejuízos sofridos por seus credores, em razão do
rompimento do nexo causal entre o dano sofrido pelo credor e a conduta direta
do devedor. Mas há exceções. Quando isto não acontece?

Há situações em que mesmo diante de evento de força maior ou


caso fortuito o devedor responde pelos prejuízos e deve indenizar o credor
por eventuais perdas e danos comprovados. A primeira ocorre quando há
mora anterior ao evento de força maior ou caso fortuito. Naturalmente, se
o descumprimento pelo devedor já existia, independentemente do evento
impeditivo, isto é, se o devedor já estava em mora, ele responderá pelos
prejuízos que causar ao credor, mas não apenas aqueles anteriores ao evento
de força maior ou do caso fortuito, como também todos os prejuízos que se
somarem no curso dos acontecimentos após a ocorrência do fato inevitável. É o
que diz a primeira parte do artigo 399 do CC, e que a doutrina costuma referir
como hipótese de perpetuação da obrigação, em que o devedor responde
pela impossibilidade da prestação, ainda que decorrente de caso fortuito ou
força maior3.

Uma segunda situação em que, ainda que confirmada concretamente


a força maior ou o fortuito incidente sobre a capacidade do devedor de
cumprir suas obrigações, os prejuízos devem ser por ele pessoalmente
assumidos decorre de acordo entre as partes. Conforme previsto na parte
final do artigo 393 do Código Civil, e em respeito à autonomia privada, o
legislador estabelece que a força maior ou o caso fortuito não poderão ser
invocadas pelo devedor para se eximir de sua responsabilidade contratual
por eventuais prejuízos sofridos pelo credor se as partes tiverem definido
expressamente hipóteses em que o devedor assume tais riscos e deve por eles
responder. Daí a importância de as partes estabelecerem adequadamente a
alocação de riscos, que deverá ser respeitada por qualquer julgador, em sede
judicial ou arbitral, em caso de eventual conflito de interesses.

Uma terceira hipótese de exceção à regra geral de não responsabilização


do devedor pelos prejuízos decorrentes do descumprimento diante de cenário
de força maior ou caso fortuito, em concreto, pode ocorrer nas situações em
que há prestações diversas previstas no contrato, algumas descumpridas em
decorrência de razão do fato necessário e com efeitos inevitáveis, outras não (seja
porque o fato não era concretamente necessário, ou seus efeitos eram evitáveis).
Nestes casos, se os prejuízos não decorrerem apenas do evento de força maior
ou do caso fortuito, a responsabilidade incidirá regularmente com relação à
parcela de descumprimento não atribuível ao evento. Ou seja, o argumento
de que fatos necessários e com efeitos prejudiciais inevitáveis pelas partes
impediram o adequado cumprimento poderá ser usado para poupar o devedor
da responsabilidade por prejuízos diretamente relacionados à força maior ou

75
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

ao caso fortuito, mas não por prejuízos decorrentes de inadimplemento que


seja imputável ao devedor. Naturalmente, há um desafio procedimental
nestas hipóteses, pois as prestações devem ser destacáveis, para saber quais
descumprimentos geram responsabilidade civil, e quais não.

E por fim, em quaisquer hipóteses em que não caracterizável a força


maior ou o caso fortuito, inclusive, por exemplo, em todas em que há alocação
específica de riscos por imposição legal ou pela própria natureza do negócio
jurídico (portanto independente de previsão contratual expressa, ou, em alguns
casos, até mesmo contra previsão contratual expressa), a responsabilidade por
eventuais perdas e danos será sempre assumida pelo devedor. Incluem-se
aí aquelas hipóteses construídas pela jurisprudência brasileira e designadas
como ocorrências de "fortuito interno", aplicáveis em certas circunstâncias nas
relações consumeristas, em que o risco de ocorrência de fatos incontroláveis
que tragam prejuízo foi entendido como devendo ser absorvido pelo devedor
(no caso o fornecedor) em função da própria natureza do negócio jurídico e de
circunstâncias específicas do fornecimento de produtos e/ou serviços.

Em resumo, a força maior e o caso fortuito são, portanto, institutos de


direito já posto e em vigor, previstos para utilização justamente em situações
de crise, e que podem ser invocados pelo devedor em sua defesa desde que
concretamente verificáveis como fator externo ao devedor e impeditivo
ao regular cumprimento de obrigações contratualmente assumidas, com
disciplina legal estabelecida há tempos no direito brasileiro, inclusive sobre as
exceções cabíveis.

Sem prejuízo, em virtude da crise instaurada pelo coronavírus, estão em


curso várias iniciativas de mudanças legais, todas relacionadas aos impactos da
pandemia, entre elas algumas com relação à disciplina da força maior e do caso
fortuito, tanto oriundas do Executivo, quanto das duas casas do Legislativo. O
curioso é que a previsão legal em vigor foi formulada justamente para dar conta
de situações de excepcionalidade como a que vivemos. Embora pouquíssimas
pessoas vivas já tenham tido experiência parecida com a desta pandemia (há
idosos que sobreviveram à gripe espanhola, no início do século XX, e agora
enfrentam a covid-19, mas raríssima é a memória viva da pandemia anterior),
as regras sobre força maior e de caso fortuito remontam a tradições muito
anteriores, do Direito Romano, o que recomenda prudência com relação a
eventuais modificações legais.

A primeira mudança que merece algum destaque é aquela prevista


no Projeto de Lei 1.179/2020, de autoria do Senador Antonio Anastasia, e
que dispõe sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das relações
jurídicas de Direito Privado no período da pandemia do Coronavírus. Ele já foi
aprovado no Senado e aguarda votação na Câmara de Deputados.

76
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

Em seu artigo 6°, o projeto prevê que as consequências decorrentes da


pandemia do Coronavírus (Covid-19) nas execuções dos contratos, incluídas
as previstas no art. 393 do Código Civil, não terão efeitos jurídicos retroativos.
Parece que se procura criar um marco temporal definitivo para que os efeitos
da pandemia possam ser invocados pelas partes contratantes. Na justificativa
ao PL, consigna-se que "Os efeitos da pandemia equivalem ao caso fortuito
ou de força maior, mas não se aproveitam a obrigações vencidas antes do
reconhecimento da pandemia".

Naturalmente, a pandemia não pode ser usada para motivar qualquer


descumprimento que tenha havido antes de sua própria ocorrência, mas a este
resultado interpretativo já seria possível chegar com as regras vigentes do
Código Civil, independente do PL 1.179/2020. Não obstante, o proposto artigo
6° parece não atentar para algumas hipóteses até bastante comuns, como as
relações de trato sucessivo, ou mesmo negociações que já se encontravam em
fase avançada e apenas seriam formalizadas por agora. Em outras palavras,
como a aplicação dos efeitos de caso fortuito ou força maior, justamente
porque não pode ser abstrata, só pode ser feita em cada caso concreto, não
é possível de antemão definir, a partir de uma data específica, que nenhum
contrato sofrerá ou deixará de sofrer impactos em decorrência da pandemia.

Mesmo com relação a eventuais contratos firmados depois do


reconhecimento da pandemia pela Organização Mundial de Saúde, ou depois
da aprovação de qualquer lei subsequente a tal reconhecimento, é possível
pensar, ainda que cada vez mais de maneira excepcional conforme mais dados
e informações passam a ser paulatinamente conhecidos por toda a sociedade,
que há consequências que as partes não podem evitar ou impedir. Especialmente
no Brasil, em que, para além da crise sanitária, tem-se visto, sobrepostas, outras
crises, de natureza econômica e política, em que cada semana parecem aparecer
fatos novos que causam enorme insegurança jurídica.

Neste contexto, quaisquer alterações legislativas com parâmetros


abstratos definitivos podem ter consequência desastrosa, contribuindo
eventualmente inclusive para gerar, e não prevenir novos conflitos. Não
se recomenda, portanto, que se estabeleça previsão legal genérica que
impede a aplicação dos institutos a partir de certa data, sem atenção para as
particularidades de cada relação jurídica em concreto.

Outra proposta de mudança legislativa que recomenda cuidado é


aquela contida na Medida Provisória 948, de 08/04/2020, ora submetida à
apreciação do Congresso Nacional, e editada especificamente para tratar sobre
o cancelamento de serviços, reservas e eventos relacionados aos setores de
turismo e cultura, em razão do estado de calamidade pública e da emergência de
saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. Entre
outras disposições, a MP 948 prevê no seu artigo 5° que as relações de consumo

77
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

por ela regidas se caracterizam como hipóteses de caso fortuito ou força maior
e não ensejam danos morais, aplicação de multa ou outras penalidades, nos
termos do disposto no art. 56 do Código de Defesa do Consumidor.

Ou seja, de plano, mesmo sem atenção a consequências específicas nos


casos concretos em relações de consumo, a MP prevê que todas as relações por
ela contempladas devem ser entendidas como sujeitas a caso fortuito ou força
maior. A ponderação que aqui se faz é no mesmo sentido daquele referente ao
PL 1.179/2020, isto é, de um lado, a norma genericamente estende a aplicação
dos institutos a situações que talvez não se enquadrassem como hipóteses de
caso fortuito ou força maior, porque, ainda que impactadas pela pandemia, não
teriam efeitos impossíveis de evitar ou impedir. E de outro a norma estabelece
que em nenhuma hipótese é possível o pagamento de danos morais.

Naturalmente que muitas situações decorrentes da pandemia não


devem estar de fato sujeitas a qualquer tipo de responsabilização dos devedores
(na MP 948/2020, os fornecedores) por danos, sejam de natureza patrimonial
ou extrapatrimonial, mas a exclusão de forma sumária pela lei da possibilidade
de reparação de um certo tipo de dano em toda e qualquer situação parece em
desacordo com o princípio da reparação integral de danos (artigo 944 do CC),
que inclui os de natureza extrapatrimonial, com reconhecimento inclusive em
sede constitucional, conforme previsto no inciso X do artigo 5° da Constituição.

Em outras palavras, se configurada concretamente hipótese de caso


fortuito ou força maior, a quebra do nexo causal impede a responsabilização
do devedor em qualquer relação jurídica e também nestas relações específicas
regidas pela MP 948 entre o consumidor e o fornecedor de produtos e/ou
serviços. Entretanto, o perigo está na predefinição geral de que em todas
as hipóteses os danos morais não poderão ser ressarcidos. Se existentes os
danos, e se decorrentes de fato imputável ao fornecedor, ele deve responder.
Assim, por exemplo, o cancelamento de um evento, um show, em virtude
da pandemia, inclusive em observância a normas de restrição de circulação
de pessoas, não pode gerar danos morais para o consumidor que comprou
o ingresso, porque caracterizado o fortuito ou força maior. O consumidor
deve, não obstante, ter o direito à restituição do valor pago, sob pena de
enriquecimento sem causa da casa de espetáculo ou da produtora. Todavia,
não deve, em princípio, fazer jus ao ressarcimento de danos, sejam morais
ou mesmo materiais, justamente por conta do rompimento do nexo causal
provocado pela situação de caso fortuito ou força maior.

Entretanto, se a casa de espetáculo não devolver o valor pago


tampouco providenciar (i) a remarcação dos serviços, das reservas e dos
eventos cancelados; (ii) a disponibilização de crédito para uso ou abatimento
na compra de outros serviços, reservas e eventos, disponíveis nas respectivas
empresas; ou (iii) oferecer outro acordo a ser formalizado com o consumidor,
ou seja, se não apresentar nenhuma solução para o problema por nenhuma

78
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

das formas previstas no artigo 2° da MP, a conduta (omissiva) do fornecedor


pode gerar situações que, ainda que originalmente decorrentes da pandemia,
podem não ser mais caracterizadas como fatos necessários e de efeitos
inevitáveis (conforme verificação em cada caso concreto), e, neste caso, caberá
sim indenização na medida do dano sofrido, seja ele de natureza patrimonial
ou extrapatrimonial, porque o dano será imputável ao fornecedor, não pela
necessidade do cancelamento, mas pelos desdobramentos posteriores.

Em suma, sabe-se que a pandemia traz inúmeros desafios, de toda


ordem, todavia, no que tange aos problemas jurídicos, é necessária bastante
prudência para que os institutos já existentes sejam corretamente aplicados, e
novos problemas, que poderiam ser evitados, não ocorram.

FONTE: Adaptado de <https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-patrimoniais/326181/


forca-maior-e-caso-fortuito--o-efeito-de-fatos-incontrolaveis-pelas-partes-nos-negocios-
juridicos-patrimoniais>. Acesso em: 2 fev. 2021.

3 PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS


Para iniciar o estudo acerca do pagamento e suas condições é necessário
estabelecer seu conceito, que pode ser entendido como o fim da obrigação pelo
devedor, sendo ele um meio comum de encerrar uma relação jurídica.

Assim, um sujeito, nesse caso, o sujeito passivo, (devedor) contrai o


encargo de praticar uma obrigação em proveito de outrem, do qual é o sujeito
ativo (credor). Após este atendimento precisamos entender que é necessário que
se tenha claro o entendimento das suas condições, para que na sequência possa
entender de forma contextualizada seus desmembramentos.

Para tanto, ressalta-se que existem duas grandes condições de pagamento,


a condição objetiva e subjetiva, que serão estudadas de forma aprofundada.
Nesse nicho de pensamento temos o pagamento como gênero e as condições
como espécie, sendo elas: condições objetivas e condições subjetivas. Dentre
as condições objetivas e subjetivas, é necessário entender o que engloba essas
condições, tais como:

1. A quem se pode pagar.


2. Quem é legitimado a substituir o devedor e pagar em seu lugar.
3. Quem se deve pagar.

Tais condições serão amplamente explanadas ao longo deste tópico de


forma pormenorizada, para melhor fixação do conteúdo.

79
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

4 CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS DO PAGAMENTO


Condições do pagamento são requisitos para que o pagamento realizado
atinja seu efeito básico de liberar o devedor da obrigação. Desta forma, as
condições subjetivas e objetivas do pagamento: quem paga, quem recebe, o quê,
quando e onde pagar, ganham novos rumos, em especial quando se observa que
o Código Civil traz dentre seus princípios fundamentais a boa-fé, norteadora das
condutas, que importará numa necessária atividade do credor e devedor visando
o cumprimento da obrigação.

Assim, o pagamento não se resume apenas ao simples cumprimento da


obrigação principal, pois deverá sê-lo no tempo, modo e lugar convencionados,
mas há que também se observar a boa-fé e os deveres instrumentais dela
decorrentes.

4.1 CONDIÇÕES SUBJETIVAS DO PAGAMENTO


a) Quem pode pagar?

Se analisarmos, a obrigação já nasce com o intuito de ser extinta, ele


nasce para que possamos ter uma circulação de riqueza e após o cumprimento
se extingue, mas então se essa obrigação nasce e logo em seguida morre, alguém
precisa provocar essa ‘’morte’’. Nesse caso, devemos nos perguntar então quem
é que nesse meio de caminho vem a adimplir essa obrigação para que ela deixe
de existir.

Assim, devemos ter em mente que, via de regra, quem irá estar na
posição de pagador obrigatório de tal obrigação é sempre o devedor ou quem
efetivamente paga, mas também é preciso estar muito claro que, no entanto, pode
ser que terceiros o façam.

Se a dívida se tratar de uma obrigação com característica de intuitu personae


debitoris, ou seja, aquela que leva em consideração a pessoa em si, nesse caso em
específico é válido lembrar que somente a pessoa pode satisfazer tal dívida.

Assim, excetuado o caso anteriormente exposto, a extinção da obrigação


se dá por meio do pagamento anteriormente acordado entre as partes, qualquer
pessoa que se interesse na extinção da dívida pode realizar tal pagamento, até
mesmo um terceiro estranho a relação.

São considerados terceiros interessados, todo sujeito que reste vinculado


a relação ou ainda em que esta obrigação venha a repercutir. Inclusive, não há
hipótese de recusa por parte do credor em receber pela dívida, pode o terceiro se
valer dos meios conducentes para exonerar aquele devedor do dever de pagar.

80
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

Assim, quando há recusa do credor em receber por tal obrigação, terá


o terceiro interessado a prerrogativa de se valer dos meios conducentes, já dito
anteriormente, quando se refere a se utilizar de meios conducentes, o legislador
quis prever na lei uma garantia de recebimento, e para tal é possível realizar uma
consignação em pagamento, colocação da coisa a disposição do credor ou até
mesmo a simples abstenção, por exemplo.

Diferentemente do que prevê o artigo 304 do CC/02, o terceiro não


interessado que pagou a dívida pelo devedor não se sub-roga na posição do
credor originário (BRASIL, 2002).

Nesse caso, o terceiro não interessado teria apenas o direito ao reembolso


dos valores despendidos no pagamento da dívida do devedor.

NOTA

Vejamos o que diz o Códex: Art. 304. Qualquer interessado na extinção da


dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração
do devedor.
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta
do devedor, salvo oposição deste.

Ainda, se o terceiro não interessado na satisfação da obrigação quiser


realizar o pagamento ao credor, ele está plenamente autorizado, desde que faça
em nome do devedor ou a sua conta.

NOTA

Terceiro não interessado é aquele que está desobrigado a pagar, mas faz para
satisfazer a dívida.

A classificação básica de quem cumpre a obrigação, ou seja, qualquer


pessoa e inclusive terceiros, observam a seguinte sistemática:

• Terceiro: é aquele que está obrigado a fazer, que a lei determina.


• Terceiro não interessado: é aquele que não está obrigado a fazer, que a lei não
o obriga a realizar o cumprimento de tal obrigação.

81
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

De forma a ilustrar tal sistemática, segue fluxograma:

FIGURA 3 – TERCEIRO: INTERESSADO E NÃO INTERESSADO.

Lei obriga
Interessado Ex: Fiador
pagar
TERCEIRO

Ex: Pai que


Não Lei não
paga dívida
Interessado obriga pagar
de filho capaz

FONTE: O autor (2021)

Seguindo a ideia de que o terceiro pode pagar a dívida em nome de


outrem, sendo reembolsado pelo que gastou, a exceção à regra está na definição
da lei civil, em seu artigo 305 parágrafo único, que prevê que se o terceiro pagar
a dívida antes mesmo de seu vencimento, ele só terá direito de ser reembolsado
no vencimento dessa dívida.

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece em seu art. 305, ipsis litteris: O terceiro não
interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que
pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no
vencimento (BRASIL, 2002).

Já nos casos em que o pagamento for feito por um terceiro, sem que haja
conhecimento ou ainda se houver oposição do devedor, o detentor da dívida não
está obrigado a reembolsar quem pagou em seu lugar se o devedor possui formas
de contestar a ação.

Para que possamos entender melhor, o exemplo clássico para situação é


quando existe uma dívida prescrita e o terceiro realiza seu pagamento.

Com base no caput do artigo 307 do CC (Código Civil), apenas terá sua


eficácia o pagamento que gerar transmissão da propriedade, quando feito por
quem possa alienar o objeto em que ele consistiu.

82
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

Assim, tendo uma dívida cujo pagamento resulte na transmissão do domínio


de uma coisa, seja imóvel ou móvel, apenas e somente o seu legítimo proprietário (ou
também aquele que o represente) é quem pode realizar esta transferência.

É sabido que é ineficaz o pagamento se o bem dado em cumprimento da


obrigação não pertencer ao devedor ou ao terceiro que transmitiu a propriedade,
não surtindo efeito liberatório para o devedor.

Ao passo que, o parágrafo único do artigo 307 prevê que  aquele que
fornece em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor
que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o devedor não tivesse o direito
de aliená-la.

ATENCAO

Coisa fungível: é aquela que pode ser substituída por outra sem alteração de
seu valor, desde que se possa contar, medir ou pesar.

Se o pagamento foi adimplido pelo devedor ou por terceiro, mediante a


realização de entrega de um bem fungível, ainda que não seja o dono daquele bem,
o credor que o recebeu e sucumbiu desconhecendo este fato não estará obrigado
a restituir o equivalente em dinheiro da coisa, em consideração ao princípio da
boa-fé e exceção ao previsto no caput do artigo 307.

No caso aqui tratado, caberá ao legítimo proprietário o direito de exigir


indenização pela coisa consumida daquele que não tinha o direito de aliená-la,
ou seja, o devedor.

De acordo com Pereira (2011), a diferença de tratamento entre a hipótese


de já ter havido ou não o consumo do bem não decorre exatamente do direito
do dono, mas sim da apuração de sua existência e, logo, da impossibilidade ou
possibilidade de ser reavido.

83
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

b) Da multiplicidade de devedores e da obrigação solidária

NOTA

Iremos avançar alguns artigos da lei para estudar a multiplicidade de devedores


e a obrigação solidária, temas esses correlatos ao estudo até aqui feito de quem deve pagar.
Tais temas estão previstos nos artigos 257, 265, 275 a 285, todos do Código Civil de 2002.

Para melhor compreensão, é necessário entender como funciona a


sistemática que colaciona a lei. Quando se tem vários devedores, cada devedor irá
responder por sua quota parte, ou seja, cada fração será paga por seu respectivo
devedor, via de regra.

De forma sistêmica e exemplificativa, imagine que temos um credor


com uma dívida a ser cobrada de um devedor no valor de R$ 1000,00 (mil
reais), cada devedor responderá pelo montante de R$ 500,00 (quinhentos reais).
Segue exemplo:

FIGURA 4 – MULTIPLICIDADE DE DEVEDORES

Devedor A
R$ 500,00
Credor
R$ 1000,00
Devedor B
R$ 500,00

FONTE: O autor (2021)

Já a exceção é exatamente o contrário, quando cada um dos devedores


responderá perante o credor pelo TODO.

E
IMPORTANT

Prevê o Código Civil: Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um


credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e
distintas, quantos os credores ou devedores (BRAISL, 2002).

84
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

Ainda, mister se faz, entendermos o instituto da obrigação solidária


(vários devedores). Há solidariedade quando cada um dos devedores tem a
obrigação de solver (quitar) a dívida por inteiro e cada qual dos credores de
receber a dívida por inteiro.

Só se fala em solidariedade quando há mais de um devedor ou credor, é


básico e necessário para tal caracterização. Quando se tem apenas um devedor
ou credor nos deparamos com uma obrigação pura e simples. A solidariedade
cabe em qualquer tipo de obrigação, pouco importando sua natureza ou objeto,
especialmente quando falamos de pagamentos.

Na solidariedade, pode o credor realizar a cobrança da dívida na sua


integralidade, de apenas um devedor a sua escolha ou pela sua capacidade
econômica para saldar a obrigação e assim que satisfeita a obrigação, aquele do
qual a satisfez pode cobrar dos demais devedores suas respectivas quotas, para
isso pode-se utilizar os mecanismos previstos em lei, por exemplo, uma ação de
regresso em face dos demais devedores solidários.

NOTA

Não se esqueçam de revisar os conteúdos referentes à solidariedade que


estão presentes nos artigos 275 a 285 do Código Civil de 2002.

c) A quem se deve pagar

Quando pensamos em quem deve receber, é necessário saber que


o pagamento deve ser feito, via de regra, diretamente ao credor ou a quem o
represente. Nesses casos não estamos falando da figura de terceiro, mas sim
aquele que constituído, ou vale dizer aquele na qualidade de alterego do credor.
A título de exemplo podemos utilizar a figura do advogado, que com procuração
com poderes específicos pode receber e quitar em nome do credor, ou ainda
por decorrência de lei ou determinação judicial, qual seja representação legal e
depositário legal designado pelo juiz, respectivamente.

Se observado ainda o artigo 308 do Código Civil, in fine, ele prevê que, se o
credor posteriormente ratificar o pagamento feito por outrem a quem não estava
autorizado a receber, ele convalesce, ou seja, se torna válido. O mesmo acontece
se restar comprovado que o montante pago foi entregue ao credor, mesmo que o
pagamento tenha sido realizado à pessoa não autorizada (BRASIL, 2002).

85
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

A seguir temos a figura do credor putativo, quando o pagamento se realiza


na figura do credor putativo, se demonstrado que feito de boa-fé pelo devedor, ele
tem sua validade de forma plena, exonerando o devedor daquela obrigação, mesmo
que na posterioridade se demonstre que aquele não era de fato o credor.

ATENCAO

Conceito de Credor Putativo: ‘’Pessoa que se encontra na posse ostensiva e


incontestada de título, com aparência de legítimo, que lhe confere direito e ação sobre a
dívida dele constante e da qual presume ser o legítimo credor. Anote-se o código civil, art.
309: "O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que
não era credor".

Aquele que se encontra na posse ostensiva e incontestada de título semelhante


ao verdadeiro, legal e certo, sem o ser, dando-lhe todo o direito de ação sobre a dívida,
pensando ser o verdadeiro credor’’ (ENCICLOPÉDIA JURÍDICA, 2020).

Se o pagamento for realizado, de forma ciente, à pessoa credora que


seja incapaz de quitar ou dar quitação, não terá qualquer validade e não estará
o devedor desincumbido de adimplir com a obrigação. No entanto, se caso o
devedor faça provas de que tal pagamento foi efetivamente revertido em favor
da figura do credor, tal pagamento terá plena validade e está quitada a obrigação,
exonerando assim a obrigação entre credor e devedor.

Outrossim, o portador que possui instrumento de quitação, resta


presumido que está autorizado pelo credor a receber prestação em seu nome.
Claro que, deve-se levar em conta que tal presunção é relativa, pois se comprovada
que as circunstâncias contrariem essa presunção, pode-se fugir à regra trazida
pela lei. Exemplo disso é, em caso de furto ou perda do instrumento de quitação.

Se o devedor houver sido intimado de penhora ou impugnação oposta por


terceiro por dívida pertencente a ele, se ele vier a realizar qualquer pagamento ao
credor, ele será considerado ineficaz., uma vez que, em ambos os casos, o credor
tem o seu poder de recebimento transferido ao juiz.

Deste modo, havendo um processo para recebimento dos débitos, quando


intimado de tal situação, deve o devedor resolver a sua situação por meio dos
instrumentos processuais, seja pela consignação em pagamento, ou seja, pelo
depósito em juízo.

Ademais, se o devedor por qualquer motivo que seja, venha a efetuar


o pagamento ao credor, ele continuará onerado com o terceiro embargante
ou exequente, vez que terá efetuado pagamento ao credor errado, ainda que
momentaneamente.

86
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

Em sendo o devedor obrigado a pagar ao terceiro embargante ou


exequente, quando ele já pagou diretamente ao credor, poderá o devedor entrar
com ação de regresso contra o credor para reaver os valores pagos, evitando assim
um enriquecimento sem causa.

Ressalta-se que, a impugnação para que se possa obstaculizar o pagamento


de dívida ao credor, deverá a ela ser realizada pela via judicial ou ainda com
intermédio de cartório de títulos e documentos.

Recaindo assim na hipótese citada, dos meios judiciais cabíveis para


resolução de tal cobrança.

DICAS

Você pode aprofundar seus estudos assistindo à videoaula do link a seguir:


https://www.youtube.com/watch?v=oXjILGRpCpA.

4. 2 CONDIÇÕES OBJETIVAS DO PAGAMENTO


a) Tempo do pagamento

Para o correto andamento das obrigações assumidas uns com os outros


e a vida em sociedade possa ser harmoniosa, dia a dia convivemos com regras e
estamos sujeitos a cumpri-las. Com os pagamentos, não poderia ser diferente. A
lei deixou em aberto, deixando facultado às partes o melhor momento para que
a obrigação pudesse ser cumprida, ainda, de suma importância que se tenha o
momento correto para pagamento, pois em não havendo tem-se o estabelecimento
do inadimplemento total e a mora.

Em não havendo essa convenção a respeito de quando se deve realizar


o pagamento, pode o credor exigir o cumprimento de tal obrigação de forma
imediata. Não pode, porém, a cobrança chegar ao devedor de forma inesperada,
haja vista que cabia a ele próprio negociar prazo para cumprimento se ele desejava.

Ademais, é necessário esclarecer que tal regra deve ser compatibilizada


com a natureza da obrigação. Afinal, um trabalho complexo não pode ser exigido
de imediato. Exemplo disso é um aluguel de veículo automotor, não pode o
locatário exigir a sua devolução antes do locador utilizá-lo.

Em havendo a falta de estipulação de prazo convencional ou ficado a


cargo do credor, pode o devedor requerer ao juiz que intime o credo para que
fixe um prazo para cumprindo de tal obrigação havida entre eles.
87
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

O legislador poderia ter sido ainda mais específico com relação ao


pagamento, porém não chegou ao ponto de fixar horário convencionado entre as
partes para que cumpram a obrigação, mas de praxe se aplica horários comerciais
para que se possa cumprir.

Quando estabelecida alguma condição para que se tenha o cumprimento


da obrigação, cabe ao credor aguardar seu implemento, devendo ainda produzir
prova de que o devedor tomou ciência de tal condição no sentido de que de fato
teve conhecimento do implemento de tal condição para que na data convencionada
ele possa a vir adimplir com a sua obrigação.

Se o devedor vir a realizar o pagamento em momento anterior a


implementação de tal condição poderá ele pedir a restituição do que pagou
antecipadamente, pois pode ser que até a implementação de tal condição não se
saiba se tais valores seriam de fato devidos ao credor.

Nas hipóteses em que prevê o artigo 333 do Código Civil, o devedor


não mais goza do benefício de cumprir com a sua obrigação no termo que
anteriormente foi estipulado entre as partes, além dessas hipóteses (colacionadas
a seguir), podem as partes estabelecerem outras situações que ficaria o devedor
descoberto da garantia de cumprir a obrigação na situação pactuada.

NOTA

Veja o que diz o Código Civil: Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a
dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:
I- no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;
II- se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;
III- se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais,
e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se
reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.

Ainda, nas obrigações a termo não pode o credor efetuar a cobrança,


enquanto não houver certa verificação, pois o credor, nesses casos, pode inclusive
sofrer responsabilização frente ao devedor pela cobrança errônea.

Agora quando se tem uma obrigação em que se tem um termo essencial,


ela não poderá ser cumprida após seu vencimento. Já em caso de termos um
termo não essencial estipulado, ele ainda pode cumprir com a sua obrigação
devendo para tanto arcar com a mora.

88
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

ATENCAO

Termo essencial: é aquele do qual o prazo estipulado foi estabelecido porque


a prestação era desejada para determinado momento.

Se nos depararmos, no entanto, com bens que estejam na condição de


hipotecados ou empenhados, e eles sofrerem uma penhora, por outro credor, o
credor perde a segurança de que irá receber, razão que leva e autoriza o credor, a
desde logo, exigir o cumprimento da prestação devida pelo devedor.

b) Lugar do pagamento

As partes estão livres para convencionarem entre si onde se dará o


pagamento, ou seja, local onde a obrigação será cumprida. Havendo silêncio
na avença, presumir-se-á que será feito no domicílio do devedor, salvo se a lei
dispuser algo em contrário ou se o devedor renunciou a esse benefício.

Uma vez estabelecido o lugar do pagamento, seja do domicílio do devedor


ou daquele convencionado entre as partes, não pode o devedor ser obrigado a
realizar pagamento em local diverso do anteriormente estabelecido. Ressalta-
se, porém, que quando o devedor realiza pagamento em local diverso daquele
estabelecido, não significa que esse fato possa vir a invalidar o negócio realizado,
sendo mera renúncia ao benefício conferido ao devedor de pagar no seu domicílio.

Assim, de forma geral, concluímos que sempre prevaleça o acordo


realizado entre as partes que de forma livre convencionaram o melhor para si no
momento do negócio realizado.

Em havendo sido designado dois ou mais lugares, cabe ao credor a sua


escolha em qual deles irá receber, porém deve o credor manifestar a sua escolha
ao devedor com tempo hábil para que ele possa efetuar o pagamento.

No artigo 328 do Código Civil, quando temos na obrigação envolvido


bem imóvel, e se o pagamento ainda consistir na tradição de um imóvel ou
prestações relativas a ele, o dispositivo da lei excepciona a regra do artigo 327 do
CC, dispondo que todas as obrigações relativas a imóveis devem ser prestadas no
local da situação do bem (BRASIL, 2002).

Outra exceção a ser tratada, é quando há um motivo grave para que o


devedor não cumpra a obrigação no local determinado pelo devedor e credor
anteriormente, e se permitir que, em caso de motivo grave, o devedor efetue tal
pagamento em local diverso do determinado, só evidencia que temos aqui uma
obrigação de caráter relativo, pois é passível de flexibilização.

89
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

Claro que tal flexibilização deve ser analisada caso a caso e entendida
para que seja descumprido o local do pagamento, para que se possa entender
melhor. Vejamos o exemplo a seguir: imagine um local que está inacessível
temporariamente ou ainda que o credor ou devedor se encontra impossibilitado
de se locomover para que se realize o cumprimento da obrigação.

Em situações como as explicitadas, são hipóteses que configuram justo


motivo, com a devida comprovação, a obrigação poderá ser realizada em local
diferente daquele acordado, porém deve-se observar que não podem ocorrer
prejuízos ao credor ou não agrave a situação do devedor.

Possíveis indenizações ao credor por ter tido incômodos por receber em


local diverso devem ser analisadas caso a caso, pois é necessário que restem
comprovados tais incômodos/prejuízos, via de regra, o caso fortuito e força maior
não são suficientes para que gera uma indenização ao credor.

No mesmo contexto abordado anteriormente, o artigo 330 do Código


Civil, também evidência que a regra do local do pagamento não é absoluta, tendo
em vista que pode relativizar para moldar as circunstâncias do momento.

Assim, conclui-se, se o credor ou devedor, nessa ordem, receba ou efetue


tal pagamento da obrigação convencionada em local diverso de forma sucessiva,
presume-se a renúncia a eventual benefício conferido em relação ao local do
pagamento ou cumprimento da obrigação.

c) Objeto do pagamento e sua prova

O pagamento terá o condão de extinguir a obrigação, para tanto, deve


o pagamento estar em consonância com o anteriormente estipulado, assim, o
pagamento deve coincidir com a coisa devida, o devedor deve sempre prestar o
devido de forma inteira e integral.

Devendo o pagamento ser exatamente nos termos estipulados, nem mais


e nem menos, afinal, como colaciona a lei, o credor não está sujeito ou obrigado
a receber outra coisa no lugar do que foi estipulado, ainda que tal coisa tenha
valor econômico a maior que o combinado, vez que a entrega de algo diverso do
combinado não extingue a obrigação.

Em casos em que se tenha quitação da obrigação de fora diversa da


combinada, para quitação do débito, deverá haver a expressa concordância do
credor, e havendo tal concordância se dará a quitação da obrigação por dação
em pagamento.

Quando temos na obrigação um objeto de prestação divisível, o credor


não está obrigado a receber e nem o seu devedor a pagar a obrigação por partes
se assim não houve ajuste realizado antes. Nesse caso, há falta do requisito da

90
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

integralidade e assim o cumprimento da obrigação em partes não pode ser aceito


como forma de pagamento e de adimplemento da obrigação, somente poderia ser
aceito se houvesse uma convenção anterior.

Quando tivermos frente a uma situação em que há diversos credores e
um objeto divisível, teremos uma exceção à regra, hipótese que o devedor pagará
de forma pro rata aos titulares do crédito (credores).

E
IMPORTANT

De acordo com o Dicio (2021), pro rata significa: de acordo com uma proporção
estabelecida, fixa, determinada: dividir a herança pro rata.

O artigo 315 do Código Civil estabelece que as obrigações deverão ser


pagas em seu vencimento (acordado entre as partes) e em moeda corrente e no seu
valor nominal, salvo se houver alguma previsão expressa dispondo o contrário
(BRASIL, 2002).

Todas as obrigações em certo momento de seu curso podem se transformar


em obrigações pecuniárias, mesmo que originalmente a obrigação não fosse em
pecúnia. Ainda há aquelas obrigações que desde o surgimento já têm a entrega de
dinheiro como objeto, mas há também aquelas das quais sejam de dar, fazer ou
não fazer, que podem vir a se transformar em obrigação de dar dinheiro.

Ainda, além de todo já dito, têm aquelas obrigações em que decorre de


um ato ilícito, em que o dever aqui acaba se liquidando e se transformando em
dever de indenizar em dinheiro.

Explicado isso, necessário entender que a lei deixa de forma livre o


aumento progressivo de prestações sucessivas (Ex.: financiamento). Levando em
conta que muitas vezes a obrigação deve ser paga pelo valor nominal, mas nessa
linha de pensamento se as parcelas fossem fixas, em tempos de inflação elevada
para o credor isso seria visto como uma ‘’perda’’, permitindo então o legislador
que pudesse se estabelecer cláusulas monetárias ou cláusulas de escala móvel.

Nesse contexto, o legislador se viu obrigado a regulamentar a questão,


surgindo o Decreto n° 86.649/1981, que posteriormente se torna a Lei n° 6899/1981,
que foi inserida no ordenamento jurídico para regulamentar toda a questão de
atualização monetária do referido tema.

91
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

DICAS

Podemos aprofundar nossos estudos, acesse a lei citada no link que segue:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6899.htm.

Admite ainda a lei mais recente a intervenção judicial com correção do


valor no pagamento do preço, conforme se extraí do artigo 307 do Código Civil:
Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção
manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua
execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que
assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

Em tal situação, poderá (e não deverá!) o juiz corrigir o preço a pedido de


uma das partes, geralmente a parte interessada em que isso ocorra, quando for
possível manter o valor real da prestação.

O artigo 318 do diploma legal civil, estipula que será nulo qualquer tipo de
combinado para pagamento de obrigação em ouro ou moeda estrangeira, devendo
o pagamento ser em dinheiro, realizado na moeda do local do cumprimento da
obrigação (no caso do Brasil em Real).

A título de esclarecimentos, até a revogação do Código Civil de 1916,


era lícito entre as partes estabelecerem pagamentos em moedas nacionais e
estrangeiras, porém com o advento do Código Civil de 2002 tal previsão deixou
de ter validade e então adotou-se somente a moeda nacional.

NOTA

Vejamos o artigo 947 do extinto Código Civil de 1916, ipsis litteris: Art. 947. O
pagamento em dinheiro, sem determinação da espécie, far-se-á em moeda corrente no
lugar do cumprimento da obrigação. §1° É, porém, lícito as partes estipular que se efetue em
certa e determinada espécie de moeda, nacional ou estrangeira (BRASIL, 1916).

Apesar de atrelados os temas do ‘’objeto do pagamento e sua prova’’, esse


material foi dividido em duas partes para que didaticamente fique mais fácil a
visualização, adentrando agora ao tema da prova do pagamento. Para entender o

92
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

presente tema, é extremamente importante entender o que é prova de pagamento.


Prova de pagamento é a demonstração material, que se possa ter em mãos, é
o acontecimento, é a evidência que se realizou o cumprimento da obrigação, é
mostrar que se desincumbiu da responsabilidade anteriormente assumida frente
ao credor, é se munir de prova desse pagamento ou dessa quitação.

Aquele devedor, que enquanto não realiza o pagamento, está em mora,


ficando sujeito inclusive as consequências relativas ao inadimplemento. Por isso
é tão importante que se tenha sempre a retenção do comprovante de pagamento
ou também chamada prova de quitação do pagamento, quando este for realizado
pelo devedor.

Assim, se o credor se recusa a entregar prova de quitação do pagamento,


razão esta que a lei confere ao devedor a possibilidade de reter o pagamento até
que o seu credor disponibilize o comprovante de quitação. Caso ainda o credor se
recuse veementemente em entregar a prova do pagamento, pode o devedor exigi-
la judicialmente, servindo a sentença como forma de solução.

Quando o artigo 319 do Código Civil se refere à ‘’quitação regular ‘’,


tem-se que englobar inclusive a quitação realizada pelos meios eletrônicos ou
qualquer outra forma com que possa se comunicar a distância, relações essas que
podem ajustar negócios jurídicos e a prática de atos jurídicos sem a necessidade
de estar presente (BRASIL, 2002).

A lei não clara forma ou maneira como a quitação deve ser dada, apenas
estabelece que a quitação sempre poderá ocorrer por instrumento particular, mas
também pode ocorrer por instrumento público, devendo conter os requisitos do
artigo 320 do CC/2002, quais sejam (BRASIL, 2002):

a) O valor e a espécie da dívida quitada.


b) O nome do devedor, ou quem por este pagou.
c) O tempo e o lugar do pagamento.
d) A assinatura do credor, ou do seu representante.

O pagamento da obrigação sem tais requisitos poderá ser considerado


valido para fins de quitação, porém deve de seus termos ou das circunstâncias
resultar provado de forma inequívoca que a dívida foi de fato paga.

Quando o credor está em posse do título, que caracterize a dívida,


presume-se que ela não foi saldada, como já dito anteriormente, o devedor pode
reter o pagamento até que se tenha a prova da quitação.

Em verdade, o devedor pode reter o pagamento até que se localize o


título da dívida, ou se o devedor tem pressa em se desincumbir da obrigação,
ele pode se valer dos meios judiciais para realizar tal ato, por exemplo, consignar
em pagamento.

93
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

Ao tratarmos, agora, das prestações de pagamento de forma em quotas


periódicas, a quitação da última faz com que se presuma que as anteriores se
encontram pagas/quitadas, mas deve-se ter cuidado ao afirmar que de fato se
encontra paga, pois essa presunção, de novo, é uma presunção relativa, cabendo
ao credor então fazer prova que as anteriores não se encontram pagas, em caso de
o devedor alegar o contrário.

Por uma perspectiva lógica seria de maior facilidade entender que o


credor não receberia a prestação atual sem antes receber a do mês anterior àquela;
exemplificando, é de costume as contas de fornecimento elétrico de energia e
outros serviços essenciais, que as pessoas acabem pagando a do mês erroneamente
ao invés do mês que passou.

Daí o cuidado que os credores têm em se utilizar dos avisos tais como ‘’este
pagamento não quita débitos anteriores’’, podendo inclusive se recusar a receber
a dívida ainda não vencida em detrimento da que já venceu no mês anterior.

O artigo 323 do Código Civil presume que na quitação dada ao capital,


sem reserva de juros, presume-se pagos os juros também. Assim, quando houver
o pagamento do principal, presumindo o pagamento dos juros, só há exceção se
o recibo de quitação fizer a reserva quanto a estes (BRASIL, 2002).

Quanto às obrigações em que a quitação se operar por meio da entrega do


título, a sua entrega ao devedor fará a presunção da resolução do problema. Essa
presunção apresentada, tem base no fato de que o título não estaria na posse do
devedor, caso este não houvesse solvido o débito.

Como já explanado sobre a presunção relativa, aqui a regra segue a


mesma, podendo em sessenta dias o credor provar que o pagamento não se
realizou, prazo que é decadencial, razão pela qual caberá ao credor demandar em
juízo para fazer prova do não pagamento.

Se o credor no seu direito de recebimento da coisa na sua integralidade,


não está sujeito ao pagamento de qualquer encargo para recebê-la. Assim, ficará
sob responsabilidade do devedor as despesas para que se coloque à disposição do
credor a coisa, seja qual for a natureza dessas despesas.

Já se ocorrerem aumentos em decorrência de culpa do credor, ele deverá


arcar com as despesas acrescidas, assim se o credor estiver em mora ou tiver uma
alteração de seu domicílio sem comunicar, nada mais justo que ele arque com
tais despesas.

O artigo 326 do Código Civil, traz uma definição de pagamentos quando


eles envolvam medida ou peso, havendo silêncio das partes, presume-se que as
partes aceitaram os pesos e medidas do lugar da execução. Tal previsão fazia mais
sentido quando da vigência do Código Civil de 1916, onde se tinha na prática
uma variação de pesos e medidas em diferentes regiões, com a instituição do
sistema métrico decimal no país, a regra acabou por perder a sua relevância.

94
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E O ESTUDO DA TEORIA DO


PAGAMENTO – PARTE 1

Rafael M. Minto

Neste artigo, faremos uma abordagem sobre o estudo da teoria do


pagamento dentro do Direito das Obrigações. Bons estudos!

O que é teoria geral do fato jurídico?

Dentre os acontecimentos naturais e humanos, voluntários ou


não, lícitos ou ilícitos, a teoria do fato jurídico os ordena dentro do Direito,
classificando-o de acordo com suas peculiaridades. Por meio da ocorrência de
determinado fato jurídico, um direito pode nascer, subsistir, sofrer modificação
ou ser extinto.

Os  fatos jurídicos  podem ser divididos em  fatos naturais  e  fatos
humanos. Os fatos naturais são aqueles que advêm de acontecimentos naturais,
sem que haja intervenção humana. Podem ser:

• Ordinários: são os fatos naturais previsíveis, que acontecem conforme se


espera, como o nascimento, a morte etc.
• Extraordinários: são os fatos naturais imprevisíveis, também conhecidos
como caso fortuito e força maior. Podemos citar, por exemplo, a ocorrência
de uma enchente que destrói várias casas de uma cidade como fato natural
extraordinário.

Os  fatos humanos  acontecem em decorrência de uma intervenção


humana e abrange os atos lícitos e os ilícitos:

Os atos ilícitos decorrem de um comportamento humano que viola o


ordenamento jurídico, podendo gerar um ato ilícito civil, administrativo ou
penal. O ato ilícito civil, em regra, é aquele que se caracteriza pela presença
de dano a outrem, gerando responsabilização subjetiva, conforme previsão do
artigo 186 do Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

Os  atos lícitos, também chamados de  atos jurídicos em sentido


amplo (ou lato sensu), são os que acarretam a produção de efeitos jurídicos,
sejam eles da vontade dos agentes que os praticam ou da lei. Dividem-se em
ato jurídico em sentido estrito (stricto sensu) e negócio jurídico:

95
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

Ato jurídico  stricto sensu: são os atos humanos que geram os efeitos
previstos em lei, ou seja, que são impostos pelo ordenamento. Por exemplo,
quando um pai reconhece voluntariamente outro ser humano como seu filho,
ele não poderá negociar quais são as consequências desse reconhecimento;
conforme a lei, surgem para essa pessoa diversos efeitos, como a obrigação de
prestar alimentos.

Negócio jurídico: é o ato humano que decorre da autonomia da vontade


dos agentes. Ainda que a lei regule os requisitos dos negócios jurídicos, os
efeitos que prevalecem são os regulados pelos particulares.

Feitos esses apontamentos iniciais, partimos às classificações das


obrigações dentro do Direito Civil.

Quais são as classificações das obrigações?

As obrigações se classificam em obrigações de dar, fazer e não fazer.


Como se nota, as duas primeiras se tratam de prestações positivas, enquanto
a última, negativa.

A obrigação de dar pode consistir em dar coisa certa (artigo 233) ou


incerta (artigo 243):

Obrigação de dar coisa certa: tem como objeto uma coisa certa,
determinada, como a obrigação de dar um cavalo que foi campeão absoluto
de um evento esportivo.

Obrigação de dar coisa incerta: trata-se de obrigação que tem por


objeto algo genérico, não individualizado, indicado apenas pelo gênero e
pela qualidade. Podemos citar, por exemplo, a obrigação de dar três cavalos
pertencentes a um aras que tem inúmeros animais da espécie.

Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não
mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.
[...]
Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.

As  obrigações de fazer  constam a partir do artigo 247 do Código


Civil. Podem ser personalíssimas (ou infungíveis) e não personalíssimas
(ou fungíveis):

Obrigações de fazer personalíssimas  (infungíveis  – artigo 247):


são aquelas que só podem ser prestadas pelo devedor da obrigação e mais
ninguém. Por exemplo, se uma casa de espetáculos contrata um cantor famoso

96
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

para realizar um evento, fazendo publicidade e venda de ingressos para que


o público o assista, a obrigação de fazer será infungível, pois o público irá ao
local para ver a performance daquele artista, e de nenhum outro.

Obrigações de fazer não personalíssimas (fungíveis – artigo 249): são


as que podem ser prestadas por terceiros. Por exemplo, se um pedreiro é
contratado para levantar uma parede e ele não aparece para realizar o trabalho,
o interessado pode chamar um terceiro para realizar a atividade.

Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que


recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível. [...]

Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-
lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo
da indenização cabível.
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente
de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois
ressarcido.

As obrigações de não fazer estão dispostas nos artigos 250 e 251 do


diploma civilista:

Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do
devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.
Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor
pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer a sua custa, ressarcindo
o culpado perdas e danos.
Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar
desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do
ressarcimento devido.

As obrigações de não fazer se tratam de prestações negativas, ou seja,


deveres de não cumprir, ou de abstenção, da prática de determinado ato. Por
exemplo, se um imóvel, segundo averbado na escritura pública, não pode
ter mais de três andares, para não cobrir a vista do prédio localizado nos
seus fundos, tem-se uma obrigação de não construir acima deste limite para
o primeiro.

Estudo da teoria do pagamento no Direito das Obrigações

Dentro do estudo dos fatos jurídicos, o pagamento se trata de


modalidade de negócio jurídico. Ainda, importante atentar para o fato de que
o pagamento não representa apenas a obrigação de dar, mas de cumprir uma
obrigação estabelecida de maneira geral, como a de fazer ou a de não fazer.

97
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

Antes de continuarmos, a título de conhecimento, ressaltamos que


alguns autores sustentam que o pagamento pode não se tratar de negócio
jurídico. Contudo, como os efeitos práticos da consideração pouco alteram
no estudo da temática e como o pagamento continua sendo fato jurídico, não
aprofundaremos no debate.

O pagamento possui condições subjetivas e objetivas para sua realização.

Condições subjetivas do pagamento

Quanto às  condições subjetivas do pagamento, além dos


famosos  credor  e  devedor, podemos ter outras figuras, a depender do caso
concreto. Afinal, além do devedor como sujeito ativo do pagamento, conforme
autoriza nosso ordenamento, um terceiro, interessado ou não, pode pagar a
dívida, em sua totalidade ou de forma parcial.

Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se


o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em
nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.

Um exemplo de terceiro interessado no pagamento da obrigação é o


fiador do devedor. Caso ele cumpra a obrigação inadimplida, se sub-rogará
em todos os direitos do credor originário.

Em situações outras, todavia, o pagamento pode ser feito a outra


pessoa que não o credor. Temos como exemplo em nosso ordenamento
o credor putativo, que é aquele que tem aparência de ser o sujeito passivo do
pagamento, mas não é o verdadeiro credor da obrigação.

Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o


represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto
reverter em seu proveito.
Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda
provado depois que não era credor.

Também podemos citar no polo passivo do pagamento o portador da


quitação, previsto no artigo 311 do Diploma Civilista. Este é aquele que tem
autorização para receber o pagamento, tendo a obrigação de dar a devida
quitação dele.

Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da


quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante.

98
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

Condições objetivas do pagamento

Conforme previsto no artigo 315 do Código Civil, o devedor, em regra,


estará liberado da obrigação que lhe compete pagando o valor nominal devido
ao credor.

Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda


corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subsequentes. Ou
seja, se o contrato diz que o devedor deve R$ 10.000,00 ao credor, haverá o
adimplemento da obrigação com a entrega da quantia.

Tal regramento, contudo, válido para as dívidas em dinheiro, pode ser


mitigado, dentro de certos limites, nos termos do artigo 316 do Código Civil:

Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas.

Com isso, é possível que os pagamentos fiquem sujeitos a índices de


correção monetária, aptos a atualizar o valor da moeda. Contudo, tal índice
não pode valer como fator de acréscimo patrimonial, que possa caracterizar
enriquecimento ilícito, nem gerar a obrigação de cumprir obrigação
desproporcional.

Quanto às demais obrigações, que não se caracterizem pela entrega de


dinheiro, devem-se atentar à identidade da prestação:

Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é
devida, ainda que mais valiosa.
Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode
o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim
não se ajustou.

Quitação

A quitação é ato jurídico que serve para provar o pagamento. Um


exemplo de quitação que podemos citar é a nota fiscal dada por um mercado
após o consumidor entregar ao caixa dinheiro em troca das compras feitas.

Importante observar que a quitação sempre pode ser dada por


instrumento particular e se presume relativamente a favor do devedor:

Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular,
designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem
por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor,
ou do seu representante.

99
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a


quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida.

Nos termos do Enunciado n° 18 do Conselho da Justiça Federal, a


quitação pode se dar até mesmo por meios eletrônicos, dentre outros modos:

A "quitação regular" referida no art. 319 do novo Código Civil engloba a


quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de "comunicação
a distância", assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e
praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de
seus representantes.

Ainda, caso o credor não preste a quitação regular do pagamento, pode


o devedor reter o mesmo, até que aquele cumpra com a regular prova dele:

Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o
pagamento, enquanto não lhe seja dada.

Lugar e tempo do pagamento

Em regra, quanto ao lugar, o pagamento deve ocorrer no domicílio do


devedor, salvo se houver convenção em sentido contrário.

Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes


convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da
obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher
entre eles.

Com relação ao tempo do pagamento, em regra, se não houver sido


ajustado um momento para a realização do mesmo, o credor pode exigi-lo
imediatamente:

Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época
para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente.

Se houver, contudo, uma condição para configuração do pagamento,


apenas com o implemento daquela é que o mesmo poderá ocorrer:

Art. 332. As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da


condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor.

Em determinadas hipóteses legais, no entanto, independente de tempo


determinado ou de condição, o pagamento pode ser exigido antes de vencida
a obrigação:

100
TÓPICO 1 — ADIMPLEMENTO E INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: PAGAMENTO - CONDIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o


prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:
I- no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;
II- se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução
por outro credor;
III- se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito,
fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade
passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.

FONTE: Adaptado de <https://masterjuris.com.br/direito-das-obrigacoes-e-o-estudo-da-


teoria-do-pagamento-parte-1/>. Acesso em: 3 fev. 2021.

101
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os sujeitos de uma obrigação são tratados como Credor e Devedor, um dos


sujeitos é aquele quem paga, o Devedor e outro aquele quem recebe, o Credor.

• Quando se tem o pagamento na forma pactuada, aquele que pagou se libera da


obrigação, não incorrendo assim na possibilidade de ser executado por aquela
obrigação.

• As obrigações devem ser cumpridas por quem as assumiu, entretanto, quando


comprovadamente aquele que deveria cumprir a obrigação não consegue
fazê-la por algum evento que foge ao seu alcance, como nas situações de Caso
Fortuito e Força Maior, o mesmo se desvencilha da obrigação.

• As condições do pagamento podem se dividir em condições objetivas e


subjetivas do pagamento. Dentro das condições objetivas e subjetivas, vimos
ainda que elas possuem alguns critérios, como nas subjetivas quem pode e a
quem pagar.

• Dentre os sujeitos que podem pagar temos a figura do próprio devedor e ainda
a figura do terceiro, sendo ele interessado ou não no cumprimento daquela
obrigação.

• Nas condições objetivas do pagamento, estudamos sobre o tempo de pagar, o


lugar de pagar e por fim o objeto do pagamento e sua prova.

• Quanto ao tempo do pagamento, para que não sofra as penalidades por atraso,
o devedor deve cumprir com a obrigação no tempo estipulado e ainda ser
cumprida no lugar correto.

• O objeto do pagamento e sua prova, que consiste no condão de extinguir a


obrigação, o pagamento deve estar em consonância com o anteriormente
estipulado, assim, o pagamento deve coincidir com a coisa devida, o devedor
deve sempre prestar o devido de forma inteira e integral.

• A prova da extinção da obrigação é também conhecida como recibo, é o que


exime o devedor de ser novamente compelido a cumprir com a obrigação
novamente, uma vez que ele já o fez, assim se o credor for cobrar o cumprimento
daquela obrigação, basta que apresente a prova do pagamento (recibo) para
que ele esteja eximido de tal cumprimento.

102
AUTOATIVIDADE

1 Sobre o pagamento, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Feito de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se provado depois


que ele não era credor.
b) ( ) Deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de
só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu
proveito.
c) ( ) Não vale quando cientemente feito ao credor incapaz de quitar, em
nenhuma hipótese.
d) ( ) Autoriza-se a recebê-lo o portador da quitação, fato que origina
presunção absoluta.
e) ( ) Feito pelo devedor ao credor, apesar de intimado da penhora feita
sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, não valerá
contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo,
prejudicado o direito de regresso contra o credor.

Fonte: Banca: FCC - Prova: FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto - 2020

2 Acerca do pagamento das obrigações, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O terceiro não interessado pode pagar a dívida se o fizer em nome e


à conta do devedor, salvo oposição deste, e se pagar a dívida em seu
próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar, mas não se
sub-roga nos direitos do credor.
b) ( ) O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se
provado depois que não era credor; se o devedor pagar ao credor,
apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação
a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que
poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado
o regresso contra o credor.
c) ( ) É ilícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas
e são nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda
estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta
e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação
especial.
d) ( ) Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes
convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da
natureza da obrigação ou das circunstâncias, e, se designados dois ou
mais lugares, cabe ao devedor escolher entre eles.
e) ( ) Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo
estipulado no contrato, no caso de falência do devedor, recuperação
judicial ou estado notório de insolvência.
FONTE: Banca: VUNESP - Prova: Prefeitura de São Roque - SP – Advogado – 2020.

103
3 Quanto ao pagamento, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Não é lícito convencionar o aumento progressivo de prestações


sucessivas, pela insegurança patrimonial causada ao devedor.
b) ( ) O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida,
salvo se mais valiosa, pois nesse caso faltará interesse econômico à rejeição.
c) ( ) Quando feito de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se provado
depois que não era credor.
d) ( ) Em qualquer hipótese considera-se autorizado a receber o pagamento
o portador da quitação, pela presunção legal absoluta daí decorrente.
e) ( ) O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome,
tem direito a reembolsar-se do que pagar, mas não se sub-roga nos
direitos do credor; se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao
reembolso no vencimento.

FONTE: Banca: FCC – Prova: MPE-MT – Promotor de Justiça Substituto – 2019.

4 Considere que terceiro interessado queira pagar dívida do devedor, o


credor pode manifestar sua recusa em receber o pagamento?

5 A lei estabelece que o pagamento exige prova de pagamento para quitação


da dívida, prova esta que também damos o nome de recibo. A quitação
sempre poderá ocorrer por instrumento particular, mas também pode
ocorrer por instrumento público. Descreva quais são os requisitos do
documento de quitação:

104
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA E PAGAMENTO INDEVIDO

1 INTRODUÇÃO
A partir de agora iremos estudar, no Tópico 3, as matérias relacionadas
ao enriquecimento sem causa e do pagamento indevido. Para embasar os
estudos, analisaremos os artigos 876 a 883 e 884 a 886 do Código Civil, e seus
desdobramentos.

Se faz necessário, numa primeira análise, compreender que, apesar de


correlatos, o enriquecimento sem causa e o pagamento indevido são dois institutos
autônomos. O pagamento indevido é aquele do qual um sujeito que não é legitimo
para receber acaba por fazer, mesmo sabendo da condição de ilegítimo. Frisa-se
ainda que o pagamento indevido é apenas uma espécie do enriquecimento sem
causa e é a principal espécie.

Ainda, é importante diferenciar quando se trata de um pagamento de


produto lícito e ilícito, pois isso determina se esse pagamento indevido terá como
ser restituído ou não. Já para o enriquecimento sem causa, temos uma definição
distinta do pagamento indevido, pois no enriquecimento sem causa é ter um
crescimento do patrimônio às custas de um terceiro.

Ou seja, o enriquecimento sem causa, como o nome já diz, vem do desvio


de conduta de um sujeito, que indevidamente enriquece em detrimento de um
patrimônio não auferido por ele próprio. O enriquecimento sem causa pode ser
subdividido em algumas espécies que estudaremos a frente com profundidade.

2 PAGAMENTO INDEVIDO
O pagamento indevido é todo aquele pagamento do qual o agente não
possuía a legitimidade para tal, mas mesmo assim recebe em seu nome. O
pagamento indevido é a principal espécie de enriquecimento sem causa (do
qual trataremos mais à frente neste livro). Pagamento indevido é aquele do qual
é realizado por erro daquele que pressupõe a existência de uma obrigação em
seu desfavor.

105
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

Podemos considerar como pagamento indevido os seguintes casos:

a) Desacordo sobre a causa.


b) Ilicitude.
c) Pagamento anterior à realização da condição suspensiva.

Para a caracterização do pagamento indevido, é necessário que se tenha


o enriquecimento de uma pessoa, prejuízo de outra pessoa, e que exista um
nexo causal entre o enriquecimento de uma e o prejuízo de outra. Sendo ainda
necessário a ausência de íntima justificação para o fenômeno. Se o enriquecedor
for plenamente capaz e o enriquecimento decorrer de ato seu, terá ele que
demonstrar que de fato em sua conduta agiu com erro.

O código civil trata ainda dos frutos, acessões, benfeitorias e deteriorações,


em seu artigo 878, sendo o possuidor de boa-fé ou má-fé conforme ele se porta
frente ao vicio ou obstáculo que impede a aquisição da coisa. Tal previsão diz que
a coisa entregue indevidamente ao enriquecido para cumprimento da obrigação,
referente aos seus frutos, acessões, benfeitorias e deteriorações (BRASIL, 2002).

Se o enriquecido recebe a coisa tendo plena consciência de que aquela
coisa está sendo entregue por erro, estará como possuidor de má-fé, assim ele
respondera pelos frutos, perdas e deteriorações ocorridas, e se realizar bem
feitorias apenas será indenizado pelas benfeitorias necessárias. Já se ele estiver na
boa-fé não responderá por nenhum ônus que venha ocorrer no caminho entre a
entrega da coisa e os fatos ocorridos.

Se a obrigação consistir em transferência de bem imóvel e em seu


cumprimento existe algum tipo de erro, do qual possa configurar pagamento
indevido, o enriquecedor pode solicitar que seja realizada a repetição do indébito.
O dispositivo da lei ainda toma o cuidado de prever casos em que o enriquecido
já tenha alienado o bem quando o enriquecedor for cobrá-lo, e havendo situação
como essa fica o enriquecido obrigado a pagar ao enriquecedor o que recebeu por
essa alienação.

Já em se tratando de dívida de valor, agindo o enriquecido de boa-fé a
quantia original apenas será acrescido de correção monetária, já se ele agiu de
má-fé ele fica responsável pelas perdas e danos que se apurarem. Se tratando do
pagamento indevido, é necessário frisar que fica isento de restituir pagamento
indevido aquele que, recebendo-o como parte de dívida verdadeira, inutilizou o
título, deixou prescrever a pretensão ou abriu mão das garantias que asseguravam
seu direito, mas aquele que pagou dispõe de ação regressiva contra o verdadeiro
devedor e seu fiador.

Ou seja, exemplificando, se Roberval deve à Joana, e Florisval vai
e paga Joana, e nesse imbróglio Joana recebe de Florisval achando que se
trata do pagamento da dívida de Roberval, e assim sendo Joana inutiliza esse

106
TÓPICO 2 — ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA E PAGAMENTO INDEVIDO

título de cobrança, deixa prescrever ou até mesmo abre mão de garantias que
lhe asseguravam o direito contra Roberval, nesse caso, se o pagamento que
Florisval fez a Joana for indevido está Joana dispensada de realizar restituição
do que Florisval a pagou indevidamente. Assim, ocorreu ali uma sub-rogação de
Florisval nos direitos de Joana contra Roberval, e ainda poderá Florisval cobrar
agora de Roberval o que pagou indevidamente a Joana, salvo se nesse período
tiver ocorrido a prescrição, não tendo mais o que reclamar.

Quanto à repetição do indébito só é possível nas obrigações de dar, pois


nas obrigações de fazer e de não fazer o agente enriquecedor somente pode
pleitear indenização, levando em consideração sempre o proveito obtido pelo
enriquecido. Não pode ser considerado pagamento indevido o que se faz para
solver obrigação natural, a exemplo disso é dívidas de jogos e de aposta, por que
juridicamente é inexigível.

O pagamento da obrigação resultante de negócio inidôneo, não permite a


repetição. Isso quer dizer que se a obrigação envolve qualquer tipo de ilicitude, ele
não comporta a repetição. Assim, se alguém adquire um produto, por exemplo,
que é sabido que se trata de produto de receptação, ou ainda aquele que adquire
droga junto ao traficante, são situações não cobertas pela repetição do indébito.

FIGURA 5 – FLUXOGRAMA

Produto Lícito Comporta repetição do indébito

Produto Ilícito Não comporta repetição do indébito

FONTE: O autor

O mais importante a se analisar aqui é que a irrepetibilidade depende


não de o negócio ser ilícito, mas sim nos termos em que o dispositivo prevê, de
o enriquecedor ter como objetivo lucrar com um fim ilícito, dessa forma, se o
adquirente não tem conhecimento daquele ilícito é a ele garantida a restituição
por sua condição, de ter sido enganado.

3 ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA


Para entendermos o enriquecimento sem causa, é necessário que se
tenha uma definição, logo enriquecimento sem causa é quando outrem integra
patrimônio sem justo motivo, é enriquecer às custas de outrem.

107
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

Colaciona o Código Civil: ‘’Art. 884: Aquele que, sem justa causa,
se  enriquecer  à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente
auferido, feita a atualização dos valores monetários. A restituição é devida, não só
quando não tenha havido causa que justifique o enriquecimento, mas também se
esta deixou de existir’’ (BRASIL, 2002).

E
IMPORTANT

Para França (1987, p. 87) "Enriquecimento sem causa, enriquecimento ilícito ou


locupletamento ilícito é o acréscimo de bens que se verifica no patrimônio de um sujeito,
em detrimento de outrem, sem que para isso tenha um fundamento jurídico".

Na contemporaneidade, o Código Civil, logo após tratar do pagamento


indevido (como referido anteriormente artigos 876 a 883), disciplina o
enriquecimento sem causa (colacionado nos artigos. 884 a 886). Evidencia-se
que o atual artigo 876, que trata do pagamento indevido, é de redação quase
idêntica àquela do artigo 964 do diploma revogado (1916), que era aplicada
para o enriquecimento sem causa, que hoje é regrado expressamente, valendo a
transcrição dos artigos 884 a 886 (BRASIL, 2002).

Dentro do enriquecimento sem causa ou enriquecimento ilícito, podem-se


citar quatro grandes espécies:

a) Enriquecimento por prestação: pagamento indevido.


b) Enriquecimento por intervenção de terceiro ou do próprio enriquecido:
devedor que paga a credor putativo.
c) Enriquecimento decorrente de fenômeno natural: animal que se alimenta de
coisa alheia.
d) Por desconsideração de um patrimônio interposto: fraude contra credores.

Nesse contexto, há de se observar que o enriquecimento sem causa


comporta ainda exceções à regra, não havendo enriquecimento sem causa nos
casos de obrigação natural, usucapião e prescrição.

Ainda, alguém que venha a adquirir um bem, na posterioridade pode


perdê-lo (pela evicção), nesse caso, no momento em que se realizou tal negócio
jurídico, ele possuía uma causa aparente fato é que inclusive a propriedade lhe
foi transmitida.

108
TÓPICO 2 — ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA E PAGAMENTO INDEVIDO

No entanto, pode o verdadeiro dono vir a reivindicar por meio de uma


ação esse bem e acabar obtendo sucesso no pleito na justiça, e o adquirente venha
a perder tal bem-vindo a não mais ter uma causa. Assim todo aquele ganho por
parte do alienante passa a caracterizar um enriquecimento sem causa, tendo em
vista que a transferência dessa propriedade não foi garantida a este comprador.

Assim, aquele negócio que antes havia causa agora não mais tem, e
consequentemente dando um ‘’start’’ à repetição do pagamento. O artigo 886,
do qual põe fim as previsões do enriquecimento sem causa no Código Civil,
estabeleceu um mecanismo do qual foi criado com a finalidade de estabelecer
certo limite no uso da ação de enriquecimento sem causa, sendo essa de natureza
subsidiária, ou seja, somente deve ser usada quando não mais tiver nenhuma
alternativa para que se possa recuperar o prejuízo sofrido (BRASIL, 2002).

Portanto, sempre que alguém julgue que sofreu um prejuízo este sujeito
deve esgotar todas as possibilidades possíveis em lei, e em caso negativo, não
encontrando nenhuma solução ou norma que entre em conflito com o instituto,
para só então possa se valer de uma ação de enriquecimento sem causa, por isso
do seu caráter subsidiário.

Dessa forma, pelo Código Civil de 2002 o enriquecimento sem causa


passou a ter um caráter subsidiário, pois só poderá ser alegado para fundamentar
o pedido de restituição se não houver outros meios.

CHAMADA

Lembre-se de revisar o conteúdo da Lei, principalmente o artigo 886 do Código


Civil para entender a subsidiariedade da ação do enriquecimento sem causa.

DIREITO CIVIL

Josiane Aparecida de Jesus Matias Haetinger

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo explanar sobre o Instituto do


Enriquecimento Sem Causa, com previsão legal no Código Civil Brasileiro, no
Livro I, da Parte Especial onde estão disciplinados os “atos unilaterais”. 

109
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

2 ATOS UNILATERAIS DE VONTADE

O Código Civil brasileiro, no Livro I, Título VII, da Parte Especial,


disciplina os  “ATOS UNILATERAIS”, nos artigos 854 a 886. Os contratos
unilaterais não são considerados contratos, mas ensejam obrigações
denominando-se negócios jurídicos, cuja formação independe da
consensualidade, sendo suficiente para a caracterização a emissão de vontade
de um único declarante.

Os atos unilaterais de vontade previstos no Código Civil de 2002


são: a PROMESSA DE COMPRA E VENDA, A GESTÃO DE NEGÓCIOS, O
PAGAMENTO INDEVIDO E O  ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA, sendo
esse último o objeto de análise pormenorizada nesse artigo acadêmico.

2.1 ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA

O instituto do Enriquecimento sem Causa recebeu no Código Civil de


2002 normatividade própria, tendo, portanto, recebido do legislador maior
atenção e especificidades. Na visão de Gonçalves (2008), o código civil de 1916
não ignorava a previsão sobre quem se locupletasse à custa de outrem, mas
não o fez de maneira específica e sim de forma mais genérica e esparsa.

Com o finco de dar continuidade a explanação, importante conceituar


esse instituto, que teve no estudioso Lisboa (2008, p. 420) uma sucinta e
eficiente definição “Enriquecimento sem causa é o acréscimo do patrimônio
de uma pessoa decorrente da redução do patrimônio de outra, sem um título
jurídico correspondente”. Ainda na visão desse autor aquele que comete o ato
ilícito de se locupletar em prejuízo de outrem deve ser obrigado a restituir.

No código civil de 2002, o principal artigo que traduz a já aduzida


assim está expressa no art. 884: Aquele que sem justa causa, se enriquecer à
custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a
atualização dos valores monetários”.

Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada,


quem a recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a
restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido (BRASIL,
2010, p. 209).

Então assim é possível se verificar que o novo código civil de 2002 não
manteve se inerte, trazendo taxativamente normatividade para a questão.

A previsão do novo Código é que há enriquecimento sem causa com


obrigação de restituir nas seguintes hipóteses: “a) inexistência de causa jurídica
para o enriquecimento de um e o empobrecimento de outro; ou b) a causa para
enriquecimento deixou de existir” (LISBOA, 2008, p. 421).

110
TÓPICO 2 — ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA E PAGAMENTO INDEVIDO

No que concerne a restituição da injustiça pelo enriquecimento sem


causa Gonçalves (2008) aduz que deve ser o prejuízo reavido com atualização
monetária, pois a jurisprudência é pacífica quanto à recomposição da moeda,
a fim de que não ocorra o enriquecimento do devedor em virtude de injustiça
cometida por ele próprio.

2.2 REQUISITOS DA AÇÃO DE “IN REM VERSO”

Quanto aos pressupostos ensejadores para a propositura da ação de im


rem verso, na visão de Rodrigues (2002) há concordância entre os doutrinadores
quanto aos requisitos, na qual o entendimento dos estudiosos é de que:

I- um enriquecimento por parte do réu;


II- um empobrecimento por parte do autor;
III- a existência de uma relação de causalidade entre os dois fatos;
IV- a ausência de causa que justifique;
V- a inexistência de qualquer outra ação para socorrer a vítima. (RODRIGUES,
2002, p. 421-422)

Segundo o estudioso Gonçalves (2008), dentre os pressupostos para


que possa ser proposta a ação cabível o maior importante deles é a ausência
de causa jurídica que justifique o enriquecimento, ou seja, para que venha
realmente a configurar o enriquecimento não pode haver motivo que o
configure, ex. um contrato. Ainda nessa linha o art. 885 assim disciplina: “A
restituição é devida, não só quando não tenha havido causa que justifique o
enriquecimento, mas também se esta deixou de existir” (Brasil, 2010, p. 209).

Cabe salientar que a propositura de ação de in rem verso tem caráter


residual, ou seja, para que possa ser proposta este tipo de ação não poderá
haver outro meio processual pertinente, assim dispondo o art. 886 do CC:
“Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros
meios para se ressarcir do prejuízo sofrido” (Brasil, 2010, p. 209). Portanto, é
possível se extrair que a lei conferiu caráter subsidiário para a propositura
desta demanda no ordenamento jurídico brasileiro, restando se socorrer a ela
somente na inexistência de outra ação cabível.

3 CONCLUSÃO

Assim, diante de todo o exposto no presente trabalho, é possível extrair


que o Código Civil de 2002 conferiu atenção especial a essa fonte de obrigação,
disciplinando de forma específica os requisitos que pressupõe o rompimento
do princípio que veda o enriquecimento sem causa.

FONTE: Adaptado de <https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/25784/do-


enriquecimento-sem-causa>. Acesso em: 3 fev. 2021.

111
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O pagamento indevido é todo aquele do qual o agente não possuía a legitimidade


para tal, mas mesmo assim recebe em seu nome.

• Pagamento indevido é aquele do qual é realizado por erro daquele que


pressupõe a existência de uma obrigação em seu desfavor.

• Para ser considerado pagamento indevido, se faz necessário que se tenha o


enriquecimento de um sujeito, prejuízo de outra pessoa, e que exista um nexo
causal entre o enriquecimento de uma e o prejuízo de outra.

• Se o enriquecedor for plenamente capaz e o enriquecimento decorrer de ato


seu, terá ele que demonstrar que de fato em sua conduta agiu com erro.

• Para o enriquecimento sem causa, é necessário que se tenha uma definição,


logo enriquecimento sem causa é quando outrem integra patrimônio sem justo
motivo, é enriquecer às custas de outrem.

• Dentro do enriquecimento sem causa ou enriquecimento ilícito, podem existir


quatro grandes espécies: enriquecimento por prestação, enriquecimento por
intervenção de terceiro ou do próprio enriquecido, enriquecimento decorrente
de fenômeno natural, por desconsideração de um patrimônio interposto.

• Há que se lembrar, na usucapião e prescrição, não há enriquecimento sem


causa, por se tratar de casos de obrigação natural.

• O enriquecimento sem causa, com o advento do CC/2002, passou a ter um


caráter subsidiário, pois só poderá ser alegado para fundamentar o pedido de
restituição se não houver outros meios.

112
AUTOATIVIDADE

1 Penélope foi cientificada, por sociedade especializada em cobrança, que


existiria uma dívida por ela contraída quando estudante da Faculdade de
Medicina. Não atentando para a antiguidade da dívida ao receber o boleto,
realiza o seu pagamento. Posteriormente, ao consultar advogado, recebe a
informação de que incidiria sobre a dívida cobrada prescrição. Nos termos
das regras aplicáveis, quando a dívida prescrita vem a ser paga?

a) ( ) Ocorre direito à restituição.


b) ( ) Houve enriquecimento sem causa.
c) ( ) Considera-se perfeito o pagamento.
d) ( ) Verifica-se ato ilícito.

FONTE: Banca: SELECON - Prova: Empresa Cuiabana de Saúde Pública - MT – Advogado, 2019.

2 No que tange às regras previstas na legislação civilista atual, assinale a


alternativa CORRETA quanto aos atos unilaterais de pagamento indevido
ou enriquecimento sem causa:

a) ( ) Àquele que voluntariamente recebeu pagamento indevido incumbe a


prova de tê-lo feito por erro.
b) ( ) A restituição será devida somente quando não tiver havido causa que
justifique o enriquecimento.
c) ( ) É permitido repetir o que se pagou para solver dívida prescrita.
d) ( ) Caberá a restituição por enriquecimento mesmo quando a lei conferir
ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido.
e) ( ) Fica isento de restituir pagamento indevido aquele que, recebendo-o
como parte de dívida verdadeira, inutilizou o título.

FONTE: Banca: VUNESP - Prova: Câmara de São Roque - SP - Procurador Jurídico, 2019.

3 É CORRETO afirmar de acordo com o Código Civil Brasileiro.

a) ( ) Prescreve em cinco anos a pretensão para o ressarcimento de


enriquecimento sem causa.
b) ( ) A restituição àquele que se, sem justa causa, foi lesado por terceiro
deverá o valor original da obrigação acrescido do montante
indevidamente auferido.
c) ( ) Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a recebeu
é obrigado a restitui-la, e, se a coisa não mais subsistir, extinguir-se-á a
obrigação de restituição.

113
d) ( ) Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado
outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido.
e) ( ) A restituição será integral quando não tenha havido causa que
justifique o enriquecimento, e reduzida pela metade, quando a causa
do enriquecimento houver deixado de existir.

FONTE: Banca: FEPESE - Prova: Prefeitura de Itajaí - SC - Assistente Jurídico, 2020.

4 Na hipótese de enriquecimento sem causa, a restituição do valor incluirá


atualização monetária, independentemente do ajuizamento de ação judicial?

5 Está correto afirmar que aquele que pagar a quem não seja o verdadeiro
credor terá direito à restituição do indébito, independentemente da
comprovação do erro? Indique o dispositivo legal que fundamente a questão.

114
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

FORMAS INDIRETAS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E A


INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E SUAS PENALIDADES

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior pudemos observar que o pagamento é a forma natural
de como se dá a extinção da obrigação. Entretanto, existem outras formas de
extinção da obrigação que estão contempladas em outros modos de sua realização,
são os chamados de pagamentos indiretos ou meios indiretos do cumprimento
das obrigações, são eles:

a) Pagamento em consignação – artigos 334 a 345 do CC.


b) Pagamento com sub-rogação – artigos 346 a 351 do CC.
c) Imputação de pagamento – artigos 352 a 355 do CC.
d) Dação em pagamento – artigos 356 a 359 do CC.
e) Novação – artigos 360 a 367 do CC.
f) Compensação – artigos 368 a 380 do CC.
g) Confusão – artigos 381 a 384 do CC.
h) Remissão das Dívidas – artigos 385 a 388 do CC.

Ainda, acerca dos efeitos jurídicos gerados pelo inadimplemento,


abordaremos, neste tópico, a mora, a cláusula penal, as perdas e danos, os juros
e as arras. Além disso, breves comentários serão delineados quanto aos temas
indenização pedagógica e indenização pela perda de uma chance.

2 PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO
O pagamento em consignação de acordo com o artigo 335 do Código
Civil, consiste no depósito judicial da coisa devida, realizada pelo devedor, nas
condições propostas nos incisos de I a IV, aos quais serão estudados na sequência
neste item.

Marcato (1996, p. 16) conceitua a consignação em pagamento como:

[...] instituto jurídico colocado à disposição do devedor para que, ante


o obstáculo ao recebimento criado pelo credor ou quaisquer outras
circunstâncias impeditivas do pagamento, exerça, por depósito da
coisa devida, o direito de adimplir a prestação, liberando-se do liame
obrigacional.

115
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

Através da consignação o devedor pode exercer o seu direito de pagar,


pagar não é um dever como também é um direito, vamos imaginar um exemplo
em que o inquilino, recebe a notícia da morte de seu locador e desconhece o
paradeiro do herdeiro a quem se deve pagar a dívida, assim, poderá consignar o
aluguel para evitar a mora e o despejo.

O artigo que 355 que trata das hipóteses do pagamento em consignação


é taxativo e não exemplificativo, de modo que não há outras possibilidades de
consignação, dispõe o artigo que:

Art. 335. A consignação tem lugar:


I- se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o
pagamento, ou dar quitação na devida forma;
II- se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e
condição devidos;
III- se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado
ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV- se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto
do pagamento;
V- se pender litígio sobre o objeto do pagamento (BRASIL, 2002).

Percebe-se que na hipótese do inciso I da consignação o credor pode optar


por não receber, pois o devedor pode querer pagar menos do que deve, respeitando
a regra do artigo 313, que estipula que o credor não é obrigado a receber prestação
diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa (BRASIL, 2002).

A consignação em pagamento para que atinja os efeitos do pagamento,


há que se observar todos os requisitos do artigo 336, quais sejam (BRAISL, 2002):

1) Com relação às pessoas, atendendo-se aos objetivos subjetivos,


deve ser realizada por devedor capaz, ao seu legítimo credor ou
seu representante legal.
2) Com relação ao objeto e ao modo: o depósito deve ser feito na
íntegra, assim como o objeto depositado, deve ser fidedigno ao
contratado, sendo permitido ao credor se negar em receber o
diverso do contratado.
3) Com relação ao tempo: deve ser realizado no momento do
vencimento do contrato, observando as condições de prazo
estipuladas em favor do devedor, como nas hipóteses do artigo 133:
nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos
contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor
do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a
benefício do credor, ou de ambos os contratantes (BRASIL, 2002).

Para que se concretize a consignação é necessário que o credor declare que


aceita ou não o impugna, o devedor poderá requerer o levantamento, pagando as
respectivas despesas.

116
TÓPICO 3 — FORMAS INDIRETAS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E A INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
E SUAS PENALIDADES

ATENCAO

Efeitos do pagamento por consignação:

1) liberatório: liberalexonera o devedor da obrigação;


2) extintivo: a consignação extingue a obrigação.

Se a obrigação consistir em um polo passivo composto por mais de


um devedor, o levantamento somente poderá ser realizado se todos os outros
devedores e fiadores consentirem. Quando se tratar a obrigação de coisa imóvel
ou coisa determinada, que deverá ser entregue no mesmo lugar, nos moldes do
artigo 341, “poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob
pena de ser depositada”.

Da mesma forma quando a escolha de coisa indeterminada couber ao


credor, será este citado para determiná-la, sob pena de não a fazendo, ser feita
pelo devedor. Nas situações que se penderem o depósito imóveis ou coisas, as
despesas por conta do depósito se procedente a ação correrá por conta do credor
e se improcedente, correrão por conta do devedor.

NOTA

Há uma consignação extrajudicial, para dívidas em dinheiro, que podem ser


feitas diretamente no banco, sem precisar de advogado ou juiz, matéria que será abordada
em procedimentos especiais, na matéria de Direito Processo Civil.

A imagem a seguir representa a atuação dos envolvidos no pagamento


por consignação.

117
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

FIGURA 6 – ORGANOGRAMA

FONTE: <https://www.cadorim.com.br/2012/06/direito-das-obrigacoes-pagamento-em.html>.
Acesso em: 3 fev. 2021.

3 PAGAMENTO POR SUB-ROGAÇÃO


Sub-rogar é substituir o credor, de modo que o pagamento por sub-
rogação se assemelha à cessão de crédito por se tratar da substituição da pessoa
do credor. Assim, ocorre a sub-rogação quando a dívida de alguém é paga por
um terceiro que adquire o crédito e satisfaz o credor, mas não extingue a dívida
e nem libera o devedor, que passa a dever a esse terceiro. A hipóteses de sub-
rogação estão previstas no artigo 346 do Código Civil:

I- do credor que paga a dívida do devedor comum;


II- do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor
hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para
não ser privado de direito sobre imóvel;
III- do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia
ser obrigado, no todo ou em parte (BRASIL, 2002).

Na hipótese do inciso I, que se refere ao “credor que paga a dívida


do devedor comum”, existe mais de um credor para o mesmo devedor, nesta
hipótese, um dos credores tem o interesse de afastar o outro da relação que tenha
prioridade no crédito, preferindo, assim, ficar isolado na posição de credor,
podendo aguardar um momento mais oportuno para então cobrar a dívida.

118
TÓPICO 3 — FORMAS INDIRETAS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E A INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
E SUAS PENALIDADES

Podemos citar, por exemplo, a condição do credor quirógrafo juntamente ao credor


trabalhista. Este último tem preferência no recebimento do crédito, desta forma,
com o afastando do débito trabalhista, o credor quirografário pode aguardar com
maior tranquilidade o momento oportuno de levar o bem penhorado à leilão se
ressarcir de toda a dívida (BRASIL, 2002).

Na segunda hipótese – do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a


credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser
privado de direito sobre imóvel – cabe esclarecer que o imóvel mesmo hipotecado
poderá ser alienado, a hipoteca é um direito real de garantia que incide sobre
imóveis, fato comum é em um empréstimo que o credor, antes de fornecer o
numerário, exija garantias e, em especial, uma garantia real, neste caso, assim, o
adquirente desse bem tem o maior interesse em extinguir a hipoteca.

Na terceira hipótese – do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual


era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte –, esta é a situação mais comum
e utilizada na prática forense, caso em que o fiador paga a dívida do afiançado e
sub-roga-se nos direitos do credor, sendo o mesmo aplicado quando os devedores
solidários pagam toda a dívida, seja por solidariedade parcial ou total da dívida.

Há duas modalidades de sub-rogação: a objetiva ou real e a subjetiva ou


pessoal. Gagliano e Pamplona Filho (2002) explicam que a objetiva ocorre entre
coisas, pela substituição do objeto, da coisa devida, onde a segunda fica no lugar
da primeira, com os mesmos direitos e ações cabíveis, a subjetiva ou pessoal,
existe quando temos a substituição de sujeitos na relação jurídica.

Importante observar as regras da sub-rogação quando tratamos do terceiro na


relação que assume a obrigação, este pode ser interessado ou não na relação jurídica,
dependendo da posição que ocupa, sub-roga-se ou não nas garantias dela.

Se o terceiro quem pagar a obrigação tiver interesse jurídico na relação,


este sub-roga-se no lugar do credor e a ele transfere-se o crédito, bem como seus
acessórios, ou seja, havendo sub-rogação os acessórios não se extinguem, são
exemplos desta: o fiador e o avalista.

Não sendo o terceiro interessado a sub-rogação não estende as garantias,
o terceiro não interessado que paga a dívida em seu próprio nome não se sub-
roga nos direitos do credor (art. 305). Só terá reembolso, por uma questão de
equidade, para evitar-se o enriquecimento sem causa.

A sub-rogação divide-se em duas espécies:

1) Legal: decorrente da lei, ocorre nas hipóteses do art. 346, a lei determina
independente da vontade das partes.

119
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

2) Convencional: depende de acordo escrito entre as partes, ocorre quando o


terceiro faz um acordo com o credor primitivo e fica com o direito de sub-
rogação mesmo sem interesse jurídico e mesmo sem a anuência do devedor.
Através de acordo escrito se transferem todas as vantagens do credor primitivo,
tal como cessão de crédito, a previsão se faz presente no artigo 347 do
Código Civil.

Art. 347. A sub-rogação é convencional:


I- quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente
lhe transfere todos os seus direitos;
II- quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para
solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-
rogado nos direitos do credor satisfeito (BRASIL, 2002).

Por fim, apresentamos os efeitos da sub-rogação.

FIGURA 7 – FLUXOGRAMA DA SUB-ROGAÇÃO

Efeitos da sub-rogação:

a) Satisfativo b) Translativo

FONTE: O autor

a) Satisfativo: se organiza com relação ao credor primitivo, o credor primitivo vai


se satisfazer com o pagamento feito pelo terceiro, mas a obrigação permanece
para o devedor; a sub-rogação não extingue a dívida;
b) Translativo: nesta o novo credor vai receber todas as vantagens e direitos do
credor primitivo, desde que o pagamento tenha sido feito por sub-rogação,
nos termos do artigo 349 do Código Civil.

Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos,


ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra
o devedor principal e os fiadores (BRASIL, 2002).

NOTA

Não esqueçam de revisar os conteúdos referentes a cessão de crédito que estão


presentes nos artigos 286 a 298, e o tema transmissão das obrigações tratado anteriormente.

120
TÓPICO 3 — FORMAS INDIRETAS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E A INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
E SUAS PENALIDADES

4 IMPUTAÇÃO DE PAGAMENTO
A imputação de pagamento está prevista entre os artigos 352 a 355 do
Código Civil, imputar o pagamento é ato em que o devedor de mais de uma
dívida vencida da mesma natureza, determina em qual dívida o pagamento será
realizado, disposição estampada no artigo 352 do Código Civil.

Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma


natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece
pagamento, se todos forem líquidos e vencidos (BRASIL, 2002).

Para que a Imputação seja efetiva é necessário que se reúnam as seguintes


condições:

a) Pluralidade de débitos, mais de uma dívida, o requisito integra o conceito.


b) Identidade de partes: as diversas relações obrigacionais devem vincular um
mesmo devedor a um mesmo credor.
c) Igual natureza das dívidas: os débitos devem ser de mesma natureza, ou seja,
devem ter por objeto coisas fungíveis de idêntica espécie e qualidade.
d) Possibilidade de o pagamento resgatar mais de um débito: a importância
entregue deve ser necessária para resgatar mais de um débito, mas não todos,
a dívida imputada não pode ser capaz de quitar as obrigações no total.

Ao devedor cabe a imputação ao pagamento, nos termos do artigo 353


do Código Civil, completando o artigo 355: esta se fará nas dívidas líquidas e
vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao
mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa (BRASIL, 2002).

Seguindo as regras da imputação, ainda, em havendo capital e juros, em


primeiro momento quitam-se os juros e depois o capital, salvo se estipularem em
contrário.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial


n° 1.095.852 - PR (2008/0211803-7), com voto da Relatora: Ministra Maria Isabel
Gallotti, nos traz a exemplificação dos temas anteriores.

EMENTA
RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. SFH.
CAPITALIZAÇÃO ANUAL DE JUROS. POSSIBILIDADE. ENCARGOS
MENSAIS.
IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO. ART. 354 CC 2002. ART. 993 CC 1916.
1. Interpretação do decidido pela 2ª Seção, no Recurso Especial
Repetitivo 1.070.297, a propósito de capitalização de juros, no Sistema
Financeiro da Habitação.
2. Segundo o acórdão (...)
3. No Sistema Financeiro da Habitação, os pagamentos mensais
devem ser imputados primeiramente aos juros e depois ao principal,
nos termos do disposto no art. 354 Código Civil em vigor (art. 993
Código de 1916). Entendimento consagrado no julgamento, pela Corte
Especial, do Recurso Especial n° 1.194.402-RS (Relator Min. Teori
Albino Zavascki), submetido ao rito do art. 543-C (grifo pela autora).

121
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

5 DAÇÃO EM PAGAMENTO
Na Dação em Pagamento, nós temos a extinção da obrigação na qual o
credor recebe em pagamento algo diverso do que o combinado, uma casa, um
carro etc. Os romanos a nomeavam de datio in solutum. Tartuce (2020, p. 321)
conceitua a dação em pagamento como:

[...] uma forma de pagamento indireto em que há um acordo privado


de vontades entre os sujeitos da relação obrigacional, pactuando-se a
substituição do objeto obrigacional por outro. Para tanto é necessário o
consentimento expresso do credor, o que caracteriza o instituto como
um negócio jurídico bilateral.

FIGURA 8 – DAÇÃO EM PAGAMENTOS - REQUISITOS

Requisitos da dação em pagamento:

1) consentimento, concordância, anuência do credor;

2) prestação diversa da ajustada.

FONTE: O autor

É importante termos atenção no segundo requisito – prestação diversa


da ajustada –, pois nesta a obrigação nasce com duas opções de pagamento; na
dação a obrigação nasce com uma espécie de pagamento é só depois que as partes
trocam o objeto do pagamento.

O aperfeiçoamento da Dação em Pagamento gera os seguintes efeitos:

a) satisfatório em relação ao credor, mesmo recebendo outra coisa, pois o credor


pode preferir receber coisa diversa a receber com atraso ou nada receber;
b) liberatório em relação ao devedor, pois a dívida se extingue e o devedor se
exonera da obrigação. Estes dois efeitos são os mesmos do pagamento natural.

Importante observar que determina as condições da realização da dação


em pagamento, determinado o preço, nas regras do artigo 357 do Código Civil,
“as relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e
venda” (BRASIL, 2002).

Com relação à dação em pagamento, devemos ainda entender os efeitos


do artigo 359 do Código Civil, que dispõe: “Se o credor for evicto da coisa recebida
em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a
quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros” (BRASIL, 2002).

122
TÓPICO 3 — FORMAS INDIRETAS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E A INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
E SUAS PENALIDADES

Para compreender melhor o artigo, imaginem o seguinte exemplo: A deve


R$ 10.000,00 e paga com um objeto furtado, que não era dele, então o verdadeiro
dono exige a devolução da coisa e a obrigação vai renascer (art. 359 do Código
Civil). Ser “evicto” é ser afastado da coisa recebida em pagamento. Ocorre a
evicção quando alguém perde a propriedade da coisa em virtude de decisão
judicial que reconhece a outrem direito anterior sobre essa coisa.

NOTA

A evicção é uma tema que será estudado com maior profundidade no


Título V - Dos Contratos em Geral - artigos 447 a 457 do Código Civil.

6 NOVAÇÃO
Prevista entre os artigos 360 a 367 do Código Civil, a novação ocorre
quando as partes criam uma obrigação, substituindo e extinguindo a anterior. A
novação é criada pelas partes e não imposta pela lei (BRASIL, 2002). Para Tartuce
(2020, p. 323), a novação pode ser conceituada como “forma de pagamento indireto
em que ocorre a substituição de uma obrigação anterior, por uma obrigação nova,
diversa da primeira criada pelas partes”.

O principal efeito da novação é a extinção da dívida inicial, acompanhada


de todos os seus acessórios e garantias, em todos os momentos em que não houver
estipulação em contrário, nos termos do artigo 364 do Código Civil. Para que a
novação tenha validada a sua existência, é necessário elemento subjetivo conhecido
como animus novandi, ou seja, a intenção de novar, conforme disposição expressa do
artigo 361 do Código Civil: “não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito, mas
inequívoco, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira” (BRASIL, 2002).

A novação se classifica quanto à modificação do seu objeto e do seu sujeito


e se encontra prevista no artigo 361 e incisos do Código Civil.

a) Novação objetiva ou real – sendo esta a modalidade mais comum, ocorre


quando o devedor contrai com o devedor uma nova dívida para extinguir a
primitiva, prevista no artigo 361, inciso I do Código Civil.
b) Novação subjetiva ou pessoal – nesta temos a substituição dos sujeitos da
relação jurídica obrigacional, surge um novo vínculo entre as partes, a novação
subjetiva ou pessoal, pode ainda ser classificada em:
I- Novação subjetiva passiva por expromissão – neste momento, um terceiro
assume a dívida do devedor originário, sem que haja consentimento deste,
no entanto, é necessário a concordância do credor. Disposição expressa no
artigo 362 do Código Civil: “a novação por substituição do devedor pode
ser efetuada independentemente de consentimento deste”.
123
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

II- Novação subjetiva passiva por delegação – nesta hipótese a substituição do


devedor é feita com o consentimento do devedor, sendo este o responsável
por indicar uma terceira pessoa para assumir o débito, mediante a anuência
do credor.

Além destas, temos na doutrina de Tartuce (2020) a classificação em


novação mista ou complexa, onde se substituem quase todos os elementos da
obrigação original. Importante salientar que esta não se encontra prevista de
forma expressa na legislação vigente.

Para finalizar temos que entender que a novação não pode ser confundida
com as demais formas de extinção da obrigação como:

a) a sub-rogação ser confundida com novação subjetiva ativa, sem que na


sub-rogação há o surgimento de um novo credor somente, não o surgimento
de uma nova obrigação, o qual inclusive se desfazem as garantias e acessórios
vindos com a obrigação, na sub-rogação em que há interesse jurídico na relação
às garantias e acessórios acompanham a obrigação;
b) a cessão de crédito não pode ser confundida com a novação, uma vez que,
a cessão é uma forma de transmissão da obrigação e a novação uma forma
de extinção.

A novação, de regra, não permite discussão sobre as condições da dívida


antiga, mas a jurisprudência admite conforme Súmula 286 do STJ. Uma alteração
pequena na obrigação também não implica novação (ex.: desconto no preço,
dispensa de hipoteca, prorrogação do vencimento), permitindo nova discussão.

Atualmente, a novação tem pouca importância atual, pois o mercado


prefere utilizar a cessão de crédito e a dação em pagamento, afinal, na novação,
o credor não recebe nada, ao contrário, para o devedor a novação pode ser boa,
uma vez que, os juros e a execução judicial da dívida antiga podem ser extintos
com a nova avença.

7 COMPENSAÇÃO
A compensação extingue as obrigações do mesmo gênero das pessoas
que são, reciprocamente, credoras e devedoras entre si, até onde as dívidas se
compensem. Para Pereira (2011) compensação consiste em meio de extinção das
obrigações, que se opera quando duas pessoas são, simultaneamente, titulares
de créditos e débitos recíprocos. Exemplo: A deve R$ 5.000,00 (cinco mil reais)
a B, decorrente de um empréstimo e B deve R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a A
porque bateu no carro de A, então um não vai cobrar do outro, a compensação
vai extinguir as duas obrigações mediante um pagamento fictício, nos termos do
artigo 368 do Código Civil.

124
TÓPICO 3 — FORMAS INDIRETAS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E A INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
E SUAS PENALIDADES

A compensação exige pluralidade de obrigações, não existindo


compensação numa obrigação única, como uma compra e venda, quando o
comprador deve o preço e o vendedor deve a coisa. A compensação pode ser
parcial caso a outra dívida seja inferior, o que vai representar uma exceção ao art.
314 da legislação em vigor.

Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível,
não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por
partes, se assim não se ajustou (BRASIL, 2002).

A compensação se desenvolve em três espécies:

a) Compensação legal: esta ocorre por força da lei, mesmo que uma das partes
se oponha, sempre que as dívidas forem líquidas, vencidas, homogêneas, da
mesma espécie e qualidade, nos termos do artigo 369.
b) Compensação judicial: neste caso, a compensação é determinada pelo juiz
no caso concreto, ao decidir que deve haver compensação por uma questão
de economia processual, por uma questão de praticidade, justificando o
magistrado na sentença;
c) Compensação convencional: decorre do acordo de vontades, da transação entre
as partes, e no direito civil, a liberdade das partes é grande, as partes podem
dispor de seus bens com ampla liberdade, é o conhecemos como autonomia
privada. Dívidas de qualquer tipo podem ser compensadas, sejam ilíquidas,
heterogenias ou não vencidas.

O instituto na organização de Tempendino, Barborza e Moraes (2007)


apresenta dupla função:

a) a economia de atos de cobrança, que, sendo recíprocos, acabariam se revelando


desnecessários;
b) a garantia de equidade, uma vez que a compensação evita que o credor que
já tenha efetuado o pagamento de sua dívida, deixe de receber o crédito que
detém por força de eventual insolvência do seu recíproco devedor.

Algumas obrigações, pela sua natureza, não podem ser compensadas,


pois elas fogem ao direito patrimonial privado. São aquelas obrigações de caráter
alimentar e tributário. Por exemplo se meu carro cai num buraco na rua, eu
não posso deixar de pagar imposto de renda para compensar com o governo o
prejuízo pela não conservação das ruas, afinal o interesse público do governo em
receber tributos é maior do que o interesse particular do cidadão que teve seu
carro avariado.

125
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

8 CONFUSÃO
O instituto da confusão advém da necessidade de que nas obrigações são
necessários sempre dois polos: o lado ativo representado pelo credor e o lado
passivo representado pelo devedor, quando estes dois polos se encontram em
uma só pessoa, ocorre o fenômeno da confusão. Diniz (2007, p. 357) conceitua a
confusão como:

[...] a aglutinação, em uma única pessoa e relativamente à mesma


relação jurídica, das qualidades de credor e devedor, por ato inter
vivos ou causa mortis, operando a extinção do crédito. Em razão do
impedimentum prestandi, ou seja, da impossibilidade do exercício
simultâneo da prestação e da ação creditória, ter-se-á a extinção
da obrigação.

O conceito está disposto no artigo 381 do Código Civil, para caracterizar


o instituto da confusão, se faz necessário:

a) A existência do mesmo crédito ou da mesma obrigação.


b) A união da mesma pessoa das qualidades de credor e devedor.
c) A ausência de separarão de patrimônios.

É frequente a ocorrência da confusão nos casos em que quando marido


e mulher antes das núpcias eram credores e devedores e passo seguinte casam-
se sob o regime da comunhão universal de bens. Ainda no caso em que o filho
e devedor do pai e sucessor deste, com a morte do pai o credor, o crédito se
transfere para o filho, o devedor.

Casos comuns também são a ocorrência de confusão quando o Estado é


condenado a pagar honorários judiciais no processo.

Incabível a condenação do Distrito Federal ao pagamento de


honorários advocatícios quando sucumbente em demanda
patrocinada pela Defensoria Pública do DF. [...] Consolidada
na Súmula 421, no sentido de não serem devidos honorários
advocatícios à Defensoria Pública quando ela atua contra pessoa
jurídica de direito público que integra a mesma Fazenda Pública.
Para os Desembargadores, sendo a Defensoria Pública vinculada
à Administração Pública do DF, incabível a condenação do DF ao
pagamento de honorários àquele órgão, sob pena de confusão entre
credor e devedor, nos termos do artigo 381 do Código Civil. Desse
modo, o Colegiado manteve a sentença recorrida.

O artigo 382 do Código Civil estabelece duas formas de confusão: a total


ou a parcial. Informa o artigo que “a confusão pode verificar-se a respeito de toda
a dívida ou só de parte dela” (BRASIL, 2002).

Um exemplo de confusão parcial é quando o credor não recebe a


totalidade da dívida, por não ser o único herdeiro do devedor. A confusão tem
como principal efeito a extinção da obrigação, extinguindo-se não só a obrigação
principal como suas relações acessórias.
126
TÓPICO 3 — FORMAS INDIRETAS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E A INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
E SUAS PENALIDADES

9 REMISSÃO
Remissão é a liberação do devedor pela autoridade do credor que,
voluntariamente, dispensa o crédito, perdoa o débito e extingue a obrigação,
prevista no artigo 385 do Código Civil que dispõem que: “a remissão da dívida,
aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro”.

A remissão pode se apresentar em duas espécies:

a) total ou parcial, aqui pode-se remir parte da dívida ou dispensar o pagamento


dos juros, multas, encargos etc.;
b) pode ser expressa ou tácita, como exemplo de tácita temos o exemplo da
devolução do título de crédito, conforme disposto no artigo 386 do Código
Civil.

Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por


escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados,
se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir
(BRASIL, 2002).

c) pode ser gratuita (mais comum) ou onerosa, nesta remissão o credor perdoa a
dívida, mas pede algo em troca, o que se assemelha a uma transação.

Há que se observar que quando se tratar da devolução de objeto que


garante a dívida não temos a extinção da dívida, mas somente a renúncia do
credor à garantia real, conforme artigo 387 do Código Civil.

No que tange às dívidas que comportam solidariedade quando se


concede a remissão concedida a um ou mais codevedores, a dívida se extingue
somente na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor
a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução
da parte remitida.

Importante de se observar que a remissão só pode ser realizada por
pessoas solventes, ou seja, quem está em dificuldades financeiras (insolvente) não
pode perdoar seus devedores, pois, prejudicará seus próprios credores, conforme
artigo a parte final do artigo 385.

Assim, se o credor é insolvente, não pode perdoar seus devedores para


não caracterizar uma fraude contra seus credores, como prevê o artigo 158 do
Código Civil, a remissão de dívidas pelo insolvente é inclusive, considerada uma
presunção absoluta de fraude.

127
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

LEITURA COMPLEMENTAR

QUAIS SÃO AS 8 FORMAS DE PAGAMENTO INDIRETO?


CONHEÇA AS HIPÓTESES DE PAGAMENTO INDIRETO

Publicado por Escola Brasileira de Direito

O pagamento, juridicamente falando, é o adimplemento. Ou seja: o


cumprimento de uma obrigação, tendo como consequência a extinção da obrigação.
No entanto, a extinção da obrigação não exime as partes da responsabilidade pós-
contratual que decorra do contrato adimplido.

O pagamento pode ser direto ou indireto. Considera-se pagamento direito


aquele em que o cumprimento se dá nos exatos termos em que foi acordado. Já
o pagamento indireto, consiste no cumprimento da obrigação é feita de forma
diversa a acordada.

Vejamos as formas de pagamento indireto:

1. Consignação em Pagamento: consiste no ato de depósito da res debita.

Sob o aspecto do direito material implica na exata extinção da obrigação.


Enquanto sob o aspecto do direito processual é uma ação para consagrar o
pagamento. Vale dizer que a consignação em pagamento tem como elemento
imprescindível a recusa do credor em receber a res debita, denomina-se, aqui, mora
créditoris (atraso do credor).

Ora, daqui se extrai que, também, existe o inadimplemento da obrigação


por parte do credor, mas o mais importante em se saber é que tal mora créditoris traz
prejuízo ao devedor (multa, juros etc.), sendo assim, o pagamento em consignação é
faculdade do devedor a fim de evitar maiores problemas.

2. Sub-rogação: esta consiste em uma troca real ou pessoal.

A sub-rogação real reside na troca de um vínculo que recai sobre uma


coisa, por exemplo, a venda de um bem incomunicável para a compra de outro,
que, em regra, seria comunicável em razão do casamento em comunhão parcial
de bens, terá seu vínculo trocado, sendo considerado incomunicável em razão da
origem do dinheiro.

Já a sub-rogação pessoal consiste na troca da pessoa da relação obrigacional,


de modo que um terceiro interessado passa a ter as mesmas condições do antigo credor.
Dada a troca de sujeitos, a obrigação perante o primeiro credor está adimplida.

A sub-rogação é, entretanto, diferente do direito de reembolso, pois na


primeira (sub-rogação) o novo credor tem todos os direitos e características do
antigo, inclusive, títulos executivos; enquanto no segundo (reembolso), tem-se
128
TÓPICO 3 — FORMAS INDIRETAS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E A INEXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
E SUAS PENALIDADES

apenas o direito de receber. Ou seja, na sub-rogação, o indivíduo torna-se credor


dentro dos moldes do contrato originário, enquanto no direito de reembolso, o
indivíduo não se ampara às cláusulas do contrato extinto.

3. Imputação do Pagamento: consiste na indicação daquilo que será possível de


ser quitado. Uma vez que se tem recursos limitados frente a várias prestações
na pendência de serem adimplidas.

Para falarmos em imputação do pagamento, devemos nos atentar aos


seguintes pressupostos:

a) Várias dívidas vencidas;


b) De mesma natureza, fungíveis ou de mesma forma de pagamento;
c) Todas dívidas com relação ao mesmo credor.

Cumpre mencionar que, salvo pacto contrário, a indicação cabe ao


devedor e que em tal modalidade não se quita dívida em parte, o pagamento
deve ser integral.

4. Dação em pagamento: consiste na entrega de prestação diversa da contratada.

A dação em pagamento é uma exceção à res debita, dentro de um contexto


em que o pagamento já em está em atraso.

Se a dação em pagamento recair sobre título de crédito, será entendida


como cessão de crédito. Ademais, se o credor for evicto, restaura-se a obrigação
primitiva, uma vez que perdida a coisa, por força de sentença, a coisa alheia usada
para a quitação perde efeito sobre a obrigação.

5. Novação: consiste em um novo negócio jurídico celebrado a fim de extinguir


a obrigação anterior.

Para tal, é imprescindível a existência do animus novandi, ou seja: a vontade


de novar – permitir que o novo negócio extinga a obrigação anterior. Além disso,
o novo negócio jurídico deverá se atentar aos requisitos gerais de sua constituição,
bem como a legitimidade para o negócio jurídico, já que só o credor e o devedor
podem o fazer, salvo na hipótese de procuração com poderes específicos.

A novação pode ser:

a) Novação Objetiva:  o novo negócio jurídico recairá sobre o objeto do


pagamento, como na hipótese de uma troca da prestação de aluguel para uma
de empréstimo.
b) Novação Subjetiva: o novo negócio jurídico recairá sobre o sujeito. Esta pode ser:
i. Novação subjetiva por expromissão: o credor faz novo negócio jurídico com
um novo devedor, com concordância do devedor.
ii. Novação subjetiva por delegação: o devedor primigênio faz novo negócio
com um novo devedor com a aquiescência do credor.

129
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

Vale mencionar que a novação é diferente da renegociação, pois na última


não há a extinção da obrigação anterior. Logo, altera-se só os termos do negócio.
Bem como a novação é diferente dos negócios de transmissão, pois a primeira
tem caráter extintivo, enquanto os segundos têm caráter modificativos.

6. Compensação:  consiste em um pagamento ficto, uma vez que este se dá


pelo "encontro de contas", já que as partes são ao mesmo tempo credores
e devedores uma das outras. Ou seja, tem-se a reciprocidade de dívidas
decorrentes de relações jurídicas diferentes entre as mesmas partes.

Destarte, é um pagamento ficto exatamente por quitar a dívida sem que


fosse feita nenhuma transferência em dinheiro ou coisa.

Diante disso, a compensação pode ser:

a) Compensação legal: opera por força de lei, tendo como requisitos:


i. Fungibilidade da prestação;
ii. Dívidas vencidas; e
iii. Dívidas líquidas, ou seja: certa quando a existência e o valor. 
b) Compensação convencional: decorre da vontade das partes, tendo como requisitos:
i. Fungibilidade da prestação;
ii. Dívidas vincendas;
iii. Dívidas ilíquidas;
iv. Forma expressa.
c) Compensação judicial:  decorre de sentença judicial, quando alegada a
reciprocidade de dívidas na reconvenção.

7. Confusão:  consiste na hipótese de o credor e o devedor passarem a ser a


mesma pessoa em uma mesma relação jurídica.

Desse modo, quando a confusão for temporária, assim que cessada tal,
reestabelecer-se-á a dívida. Caso seja permanente: dar-se-á a extinção da dívida.

8. Remissão de dívida: consiste em um ato de perdoar – abdicar ao direito de


receber o crédito.

A remissão de dívida pode ser: total ou parcial, tendo como requisito


apenas a forma expressa – com interpretação restrita. Por fim, vale mencionar a
existência da possibilidade da ocorrência de transação, consiste em um acordo,
em transigir (negociar). Para se falar em tal, deve-se haver: concessões recíprocas,
ou seja: ambas partes abrirem mão de algo que lhes era de direito, extinguindo
a obrigação.

FONTE: Adaptado de <https://ebradi.jusbrasil.com.br/artigos/446132117/quais-sao-as-8-formas-


de-pagamento-indireto>. Acesso em: 3 fev. 2021.

130
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As formas de extinção da obrigação estão contempladas em outros modos de


sua realização, denominados de pagamentos indiretos ou meios indiretos do
cumprimento das obrigações.

• Dentre as formas de pagamento, pudemos ver os principais meios, sendo eles,


o pagamento em consignação, pagamento com sub-rogação, imputação de
pagamento, dação em pagamento, novação, compensação, confusão e remissão
das dívidas.

• O pagamento em consignação é aquele realizado de forma a cumprir a


obrigação quando não se sabe onde o credor se encontra ou ainda quando há
divergência de um valor a ser pago.

• O pagamento com sub-rogação é realizado por meio de uma substituição, é


quando alguém se coloca no lugar do devedor e realiza o pagamento por ele.

• Quando se tem a figura da imputação do pagamento, o pagamento é ato que


determinado devedor de mais de uma dívida vencida da mesma natureza,
determina em qual dívida o pagamento será realizado, disposição estampada
no artigo 352 do Código Civil.

• Por sua vez, a dação em pagamento é aquele pagamento que se realiza por meio
de pagamento diverso do anteriormente combinado, quando se deveria pagar
com uma coisa e no momento do pagamento o credor aceita outra diversa.

• As partes por livre e espontânea vontade criam uma obrigação, substituindo


e extinguindo a anterior, lembrando que a novação é criação das partes e não
imposta pela lei.

• A compensação é adotada na relação quando as partes são ao mesmo tempo


credoras e devedoras uma da outra, podendo assim abater, compensar seus
valores até o limite de cada obrigação.

• Confusão se dá quando o credor e devedor se encontram na mesma pessoa,


ao mesmo tempo que ela tem um crédito a ser recebido ela é devedora do
cumprimento de alguma obrigação, ocorrendo assim o fenômeno da confusão.

• A remissão é quando o credor libera aquele devedor de cumprir com a obrigação


que a ele cabia, dando-lhe quitação.

131
AUTOATIVIDADE

1 Sobre a novação, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e


substituir a anterior.
b) ( ) Quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor.
c) ( ) Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da
outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.
d) ( ) Quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao
antigo, ficando o devedor quite com este.
e) ( ) Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o
devedor principal.

FONTE: Banca: FAU - Prova: Câmara de Mato Rico - PR – Advogado – 2017.

2 A forma de extinção das obrigações na qual uma pessoa obrigada, por


dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de
indicar a qual deles oferece pagamento é denominada pelo Código Civil:

a) ( ) Novação subjetiva.
b) ( ) Confusão.
c) ( ) Consignação em pagamento.
d) ( ) Imputação do pagamento.

FONTE: Banca: Itame - Prova: Câmara de Edéia - GO - Procurador Jurídico – 2015.

3 No que se refere às obrigações do Direito Civil, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A novação ocorre quando o credor contrai com o devedor dívida para


extinguir e substituir a anterior.
b) ( ) Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da
outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.
c) ( ) Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e,
concomitantemente, o credor que não quiser recebê-lo no lugar e forma
que a lei estabelecer.
d) ( ) Pelo descumprimento de obrigação, responde o devedor por perdas
e danos, acrescidos da atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos e honorários advocatícios, apenas.

FONTE: Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Prova: Prefeitura de Lagoa Santa - MG -


Procurador da Fazenda – 2019.

4 A compensação extingue as obrigações do mesmo gênero das pessoas que


são, reciprocamente, credoras e devedoras entre si, até onde as dívidas se
compensem. A compensação se desenvolve em três espécies, quais são elas?

5 Qual o conceito de Remissão?


132
TÓPICO 4 —
UNIDADE 2

INEXECUÇÃO NO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Conforme estudamos nas unidades anteriores, a obrigação se extingue
pelos seus meios diretos e indiretos de pagamento, ou ainda, por decadência
da obrigação ou por fatos supervenientes. O não cumprimento da obrigação
de forma injustificada importa em lesão ao direito, afinal, tem-se que quando
convencionada uma obrigação, espera-se que seja cumprida dentro dos
ditames estabelecidos.

Quando esse não cumprimento da obrigação ocorre, aquele que esperava


pelo seu cumprimento, ou seja, o credor, acaba tendo seu direito ferido, e por
consequência ele deve ser ressarcido pelo dano causado pelo devedor. Quando
ocorre o descumprimento da obrigação em sua forma, modo e tempo estabelecidos
em lei ou pela vontade das partes em contrato, podemos aplicar penalidades.

Nesse tópico estudaremos as penalidades, seus conceitos e quando


ocorrem, e como cessa a penalidade que foi imposta pelo descumprimento. As
penalidades podem ser classificadas em: mora que nada mais é quando o devedor
atrasa o pagamento, juros são impostos pelo tempo de atraso, cláusula penal se
utiliza para possível compensação de perdas e danos e o sinal ou arras (sendo este
último sinônimo), é para garantir e dar segurança a uma negociação.

Veremos ainda que algumas penalidades se desdobram em diferentes


tipos, um exemplo disso são os juros, que podem ter diferentes naturezas e
inclusive podendo vir a se cumular. Para isso, passaremos agora à análise de cada
tipo de penalidade e seus embasamentos legais.

2 MORA
A mora é conceituada como a impontualidade culposa do devedor
no pagamento ou do credor no recebimento da obrigação. A mora do credor
independe de culpa, pois o devedor pode consignar o pagamento. O conceito se
encontra estampado no artigo 394 do Código Civil, in verbis, “considera-se em
mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo
no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer” (BRASIL, 2002).

133
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

A mora do credor, também denominada de mora accipiendi, se dá quando


este, sem justa causa, se recusa a receber o pagamento do devedor. O credor só tem
direito a recusar a prestação oferecida se houver justa causa para tanto. Assim,
conclui-se que está em mora o credor se a recusa em receber é injustificada, são
efeitos da mora do credor:

a) A liberação do devedor da responsabilidade pela conservação da coisa – artigo


492 § 2°.
b) O ressarcimento do devedor com as despesas pela conservação da coisa.
c) O credor não pode cobrar juros do devedor desse período.
d) O credor fica obrigado a pagar um preço mais alto pela coisa, caso a cotação suba,
como exemplo, temos a cotação na bolsa de valores: ações, açúcar, café, soja.

A mora do devedor, quando se trata de obrigação com prazo, é automática.


A doutrina fala ordinariamente em mora ex re, ou seja, não há ação necessária do
credor, uma vez que vencida a obrigação o devedor automaticamente está em mora,
no entanto nas obrigações estabelecidas sem prazo a mora depende da interpelação
judicial ou extrajudicial.

Para o devedor a mora compreende os seguintes efeitos:

a) o devedor responde pelos prejuízos causados, outras multas, juros etc.


b) o devedor em mora responde pelo caso fortuito ou de força maior ocorridos
durante o atraso.

Para se eximir de seus efeitos a mora pode ser purgada. Purgar a mora é
o ato pelo qual a parte, com o fim de evitar cominação de pena, alega e prova, em
alguns casos, justa causa ou força maior, requerendo que seja admitida a praticar
certo ato ou cumprir determinadas obrigações fora do prazo em que o deveria fazer;
ato do devedor em atraso que satisfaz a prestação já vencida e mais o valor dos
acessórios e prejuízos resultantes do retardamento, ou seja, a obrigação integral.
Vejamos a jurisprudência atual sobre o assunto:

Purgação da mora – necessidade do pagamento integral da dívida –


contratos de alienação fiduciária
“1. O afastamento da mora só é possível com o pagamento da
integralidade da dívida pelo devedor, nos termos do Art. 3°, § 2°, do
Decreto-Lei 911/69. 1.1. Compreende-se como integralidade do débito
as parcelas vencidas e vincendas, nos termos do julgamento do REsp
n.° 1.418.593/MS representativo da controvérsia. 1.2. A purga da mora
não contempla a incidência de honorários advocatícios, despesas com
notificação e custas processuais”.

134
TÓPICO 4 — INEXECUÇÃO NO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

3 JUROS
Quando se firma uma obrigação entre as partes, tem-se ali uma lei
formada entre eles, e quando há o descumprimento dessas regras estabelecidas
entre eles, existem algumas penalidades impostas à parte inadimplente, os
juros são um desses institutos, vejamos o conceito estabelecido por alguns
doutrinadores brasileiros:

Os juros são coisas denominadas fungíveis que aquele intitulado devedor


paga a parte contrária (chamada de credora), pela utilização de coisas da
mesma espécie. Podendo consistir em qualquer coisa que sua natureza se dê de
forma fungível.

Ainda, há elementos do instituto dos juros que o definem, pode-se citar


o valor da prestação e o tempo que essa dívida se encontra em atraso, com isso
tem-se base para que se possa realizar o cálculo mais adequado com base no valor
da dívida para se ter o valor dos juros a serem pagos.

Os juros nunca nascem sendo uma obrigação principal, tendo característica
exclusiva de acessória, ou seja, para que se tenha incidência de juros ele depende
de uma obrigação principal para que possa ter existência.

Por outro lado, não significa dizer que os juros nunca serão uma obrigação
principal e tenha uma vida própria, mas sua origem necessita de uma obrigação
principal. Fato é que se presume pagos quando se quita o capital se eles não
tiverem ressalva claro a respeito.

É costumeiro que os juros sejam aplicados em porcentagem, mas essa não


é uma regra absoluta, podem os juros serem aplicados de formas distintas da
porcentagem, não tendo que obedecer a essa regra da porcentagem.

DICAS

Tendo em vista as diversas modalidades aplicáveis de juros, sugerimos estudar


as súmulas 54, 188, 204, 426 do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Disponível em: http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Jurisprudencia/Sumulas.

135
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

O juro é gênero que se divide em duas espécies, os juros convencionais e


os juros legais, isso vai depender de como se originou, conforme a obrigação que
originou a pagar, decorrendo da convenção das partes ou da lei.

Nos juros convencionais, as partes pactuam a obrigação que se referirá aos


juros, que acompanha a outra até que se extinga, enquanto a imposição decorre de lei.

Há ainda que se pontuar que tais juros podem ser de caráter moratórios ou
compensatórios, os moratórios serão devidos como uma pena imposta ao devedor
por atrasar o cumprimento da obrigação, enquanto com os compensatórios, como
o nome já diz, tem o condão de compensar alguém por algo, nesse caso seria o
‘’dono’’ (credor) que está privado de se utilizar o seu capital.

3.1 JUROS LEGAIS


Os juros chamados de juros legais são aqueles cuja lei impõe a obrigação
não cumprida no tempo adequado. O juro é acessório, ou seja, depende de uma
obrigação principal para que possa existir. Os juros legais podem ser divididos
em juros moratórios ou compensatórios, conforme veremos suas características
a seguir.

3.1.1 Juros moratórios


Os juros moratórios incidem quando há uma demora (mora) do devedor
em adimplir com aquela obrigação anteriormente assumida, possuindo
uma finalidade de caráter punitivo e compensatória pelo retardamento do
cumprimento da prestação, sendo estes devidos mesmo que não haja a prova do
prejuízo sofrido pelo credor.

O termo inicial do cômputo da incidência de juros vai variar de acordo com


a natureza e se aquela dívida possui liquidez. Em se tratando de uma obrigação
que necessite qualquer tipo de intervenção (notificação, interpelação, protesto,
citação ou intimação do devedor) por parte do credor por não haver um termo de
vencimento anteriormente estabelecido deverá ser praticado um dos atos citados
para que se tenha um ponto de partida.

A contagem de juros quando se tem uma obrigação tida como ilíquida, e


que a liquidação se dá por uma sentença judicial ou quando se tratar de ato ilícito
praticado em obrigação contratual, se dará desde a citação inicial.

136
TÓPICO 4 — INEXECUÇÃO NO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

3.1.2 Juros compensatórios


Os juros compensatórios têm por finalidade a compensação daquele que
tem a privação de utilização de seu capital, comumente tem-se por convenção
das partes, mas também podem decorrer de previsão legal em alguns casos,
independentemente de ajuste prévio.

A diferença entre juros compensatórios e moratórios é que o juro


compensatório tem afastado a ideia de culpa, o que diferentemente ocorre nos
juros moratórios que serve para aquele que retarda o cumprimento da obrigação.

3.1.3 Possibilidade de cumulação de juros moratórios e


compensatórios
A prática de cumulação de juros moratórios e compensatórios existe e é
plenamente possível, mas nos casos de ações que envolve situações expropriatórias.

DICAS

Neste sentido, sugerimos estudar as súmulas 12 e 102 do Superior Tribunal de


Justiça, as quais tratam do tema.

3.2 JUROS CONVENCIONAIS


São aqueles que se se estipulam livremente em diversos tipos de contratos,
para que o devedor tenha que pagá-los enquanto estiver vigente aquela obrigação.

Nesse nicho, significa que toda a espécie que se denomina juros instituídos
ou estabelecidos em um determinado contrato, não somente no período que se
encontra vigente a obrigação, como também quando do não cumprimento dela, ou
seja, quando a obrigação não é cumprida no prazo. Isso significa dizer que os juros
moratórios podem ser convencionados entre as partes.

137
UNIDADE 2 — MODALIDADE DE PAGAMENTO

4 SINAL OU ARRAS
A arras é uma quantia paga ou dada como forma de um sinal e princípio
de pagamento na celebração do contrato ou obrigação a ser contraída, a fim de
garantir e dar maior segurança a execução do contrato ou regular o direito de
arrependimento das partes contratantes.

4.1 CONFIRMATÓRIAS
Estipuladas para garantir a execução do contrato, ou seja, ela confirma de
forma inequívoca, a existência do contrato e deixa ainda mais firmado entre as
partes a cumprir o acordado entre eles. Este sinal pode ser convencionado entre
as partes como se dará, podendo ser em dinheiro ou então em algum bem que
possua valor econômico.

Uma situação muito comum é quando se quer garantir a compra de um


automóvel, para segurar a venda é possível ofertar sinal/arras, mas vale consignar
que se a parte que deu o sinal, sem justa desistir ele perde esse sinal, mas se a
desistência partir daquele que recebeu o sinal caberá devolução em dobro.

Se o negócio se concretiza, será o sinal integrado ao valor do pagamento


sendo feito o proporcional abatimento do valor total, devido o valor da diferença.

4.2 PENITENCIAIS
Podem as partes estabelecerem entre si o direito de arrependimento,
o sinal terá função indenizatória. Nas arras penitenciais, exercido o direito de
arrependimento, não haverá direito a indenização suplementar.

As arras penitenciais estão dispostas no artigo 420 do Código Civil


Brasileiro:

Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento


para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente
indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da
outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente.
Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar
(BRASIL, 2002).

138
TÓPICO 4 — INEXECUÇÃO NO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

5 CLÁUSULA PENAL
A cláusula penal (ou também pena convencional) é um instituto invocado
pelas partes que estão em contratação em que estabelecem os ditames das perdas e
danos a serem aplicadas contra aquela parte que deixar de cumprir a obrigação ou
ainda der causa a um retardamento no cumprimento.

Quando se tratar de uma cláusula penal em que envolva mora, tem-se a


denominada ‘’Cláusula Penal Moratória’’, tem o credor livre arbítrio de exigir
a satisfação daquela pena anteriormente cominada junto do pagamento da
obrigação principal.

Para melhor entendimento, segue o exemplo prático, quando o inquilino


deixa de pagar o aluguel devido no mês pode o locador cobrar junto do aluguel
(obrigação principal) cláusula penal de 20% de multa pelo atraso.

Já quando se tem obrigação divisível e indivisível, na obrigação indivisível,


os devedores em sua integralidade, se apenas um deles incorrer em atraso todos
incorrerão também, mas só se poderá demandar contra o culpado, respondendo cada
qual pela sua quota. Aos que não são culpados fica reservado o direito de regredir
por meio de ação contra o que deu causa.

Já nas obrigações de natureza divisível, só incorrerá na pena o devedor
que a infringir, e somente com base a sua parte na obrigação.

DICAS

Para melhor entendimento e fixação do conteúdo estudado, sugerimos ler e


estudar os artigos da lei compreendidos entre os artigos 406 a 420 do Código Civil de 2002.

139
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• O não cumprimento da obrigação de forma injustificada importa em lesão


ao direito, afinal, tem-se que quando convencionada uma obrigação, espera-
se que seja cumprida dentro dos ditames estabelecidos, se desta forma não
acontece, serão aplicadas penalidades.

• As penalidades podem ser classificadas em: mora, juros, cláusula penal e o


sinal ou arras.

• A mora é conceituada como a impontualidade culposa do devedor no


pagamento ou do credor no recebimento da obrigação.

• Os juros são coisas denominadas fungíveis que aquele intitulado devedor paga
a parte contrária (chamada de credora), pela utilização de coisas da mesma
espécie. O juro é gênero que se divide em duas espécies, os juros convencionais
e os juros legais, dependendo de como se originou, conforme a obrigação que
originou a pagar, decorrendo da convenção das partes ou da lei.

• A arras é uma quantia paga ou dada como forma de um sinal e princípio de


pagamento na celebração do contrato ou obrigação a ser contraída, a fim de
garantir e dar maior segurança a execução do contrato ou regular o direito
de arrependimento das partes contratantes. As arras podem se dividir em 2
espécies: confirmatórias e penitenciais.

• A cláusula penal (ou também pena convencional) é um instituto invocado pelas


partes que estão em contratação em que estabelecem os ditames das perdas e
danos a serem aplicadas contra aquela parte que deixar de cumprir a obrigação ou
ainda der causa a um retardamento no cumprimento.

CHAMADA

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140
AUTOATIVIDADE

1 Sobre a Cláusula Penal, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A simples constituição em mora não permite a execução da cláusula penal.


b) ( ) Violada a cláusula penal, todos os devedores incorreram nas suas penas.
c) ( ) Para exigir a pena convencional deverá o credor comprovar o prejuízo
sofrido.
d) ( ) A cláusula penal poderá ser reduzida equitativamente pelo juiz se a
obrigação principal tiver sido cumprida em parte.
e) ( ) Desde que previamente estipulada, a cláusula penal poderá exceder o
valor da obrigação principal.

Fonte: Banca: FEPESE - Prova: Prefeitura de Florianópolis - SC - Assistente Jurídico – 2019.

2 Assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem


sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei,
serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do
pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.
b) ( ) Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que,
culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora.
c) ( ) Para exigir a pena convencional é necessário que o credor alegue prejuízo.
d) ( ) Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-
lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for è Tjuem recebeu as arras,
poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução
mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado.

FONTE: Banca: Método Soluções Educacionais - Prova: Prefeitura de Nortelândia - MT –


Advogado, 2019.

3 Assinale a alternativa CORRETA que contemple consequências advindas


do inadimplemento das obrigações:

a) ( ) Nas obrigações provenientes de ato ilícito, os juros de mora se contam


desde a citação.
b) ( ) Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá
enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos.
c) ( ) Se não houver estipulação de termo certo para a execução da relação
obrigacional, a mora se constitui exclusivamente pela interpelação judicial.

141
d) ( ) O valor determinado pela cláusula penal poderá superar o da obrigação
principal.
e) ( ) Todas as alternativas estão corretas.

FONTE: Banca - Prova: TJ-RN - Juiz Leigo – 2014.

4 A inexecução culposa da obrigação ou a injusta recusa de recebê-la


no tempo, no lugar e no modo convencionado caracterizam a mora. A
afirmação está correta ou incorreta? Justifique a sua reposta indicando o
dispositivo legal.

5 Cassia firmou com Reginaldo contrato em que se comprometia a dar-


lhe coisa certa em data aprazada. Em função da mora no recebimento,
ocasionada por Reginaldo, a coisa estragou-se, sem que Cassia tenha
concorrido para que isto acontecesse. Nesse caso, Reginaldo poderá exigir
indenização equivalente à metade do dano suportado.

142
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.
htm. Acesso em: 3 fev. 2021.

BRASIL. Lei n° 6.899, de 8 de abril de 1981. Determina a aplicação da correção


monetária nos débitos oriundos de decisão judicial e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6899.htm. Acesso em:
3 fev. 2021.

BRASIL. Lei n° 3.071, de 1° de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos
do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm.
Acesso em: 3 fev. 2021.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 1095852/PR.2012.


Disponível em https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21428658/recurso-
especial-resp-1095852-pr-2008-0211803-7-stj. Acesso em: 4 abr. 2021.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Sucumbência


do Distrito Federal em causa patrocinada pela defensoria pública – confusão
entre credor e devedor. 2016. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/consultas/
jurisprudencia/informativos/2016/informativo-de-jurisprudencia-n-323-1/
sucumbencia-do-distrito-federal-em-causa-patrocinada-pela-defensoria-publica-
2013-confusao-entre-credor-e-devedor#:~:text=br%2. Acesso em: 4 abr. 2021.

DINIZ, M. H. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigações. 22.
ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

ENCICLOPÉDIA JURÍDICA. Credor putativo. 2020. Disponível em: <http://


www.enciclopedia-juridica.com/pt/d/credor-putativo/credor-putativo.htm>.
Aceso em: 3 fev. 2021.

FRANÇA, R. L. Enriquecimento sem Causa. São Paulo: Saraiva, 1987

GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de direito civil – parte


geral. São Paulo: Saraiva, 2002.

TEPEDINO, G.; BRABOZA, H. H.; MORAES, M. C. B. de. Código Civil


interpretado conforme a Constituição da República. 2. ed. vol. 1. Rio de
Janeiro: Renovar, 2007.

LOPES, M. M. de S. Curso de direito civil: obrigações em geral. vol. II. Rio de


Janeiro: Freitas Bastos, 1995.

143
MARCATO, A. C. Ação de Consignação em Pagamento, 5. ed., São Paulo:
Malheiros, 1996, p.16 In: GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Manual de
direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

PEREIRA, C. M. da S. Instituições de direito civil: teoria geral das obrigações.


24 ed. vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2011.

PEREIRA, C. M. da S. Teoria geral das obrigações, Rio de Janeiro: Forense.


PRO RATA. In: Dicio. 2021. Disponível em <https://www.dicio.com.br/pro-
rata/>. Acesso em: 3 fev. 2021.

SUBTIL, A. R. O contrato e a intervenção do juiz. Porto: Ed. Vida Econômica, 2012.

TARTUCE, F. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. Rio


de Janeiro: Forense, 2020.

TEMPENDINO, G.; BARBOZA, H. H.; MORAES, M. C. B. de. Código Civil


interpretado conforme a Constituição da República. 2. ed. vol. 1. Rio de Janeiro:
Renovar, 2007.

VENOSA, S. de S. Direito civil, teoria geral das obrigações e teoria geral dos
contratos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

144
UNIDADE 3 —

A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS
EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o conceito e a natureza jurídica da responsabilidade civil;

• conhecer os pressupostos da responsabilidade civil;

• identificar as diferentes espécies de responsabilidade civil;

• diferenciar as excludentes do nexo de causalidade;

• reconhecer os efeitos cíveis da sentença penal.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E PRESSUPOSTOS DA


RESPONSABILIDADE CIVIL

TÓPICO 2 – ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

TÓPICO 3 – EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE E EFEITOS


CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

CHAMADA

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145
146
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E PRESSUPOSTOS DA


RESPONSABILIDADE CIVIL

1 INTRODUÇÃO
A responsabilidade civil é originada do descumprimento de uma norma
jurídica preexistente, surgindo, assim, o dever de indenizar por parte do causador
do dano. Stoco (2007, p. 114) destaca que:

A noção da responsabilidade pode ser haurida da própria origem da


palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa, ou
seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém pelos seus
atos danosos. Essa imposição estabelecida pelo meio social regrado,
através dos integrantes da sociedade humana, de impor a todos o
dever de responder por seus atos, traduz a própria noção de justiça
existente no grupo social estratificado. Revela-se, pois, como algo
inarredável da natureza humana.

Desse modo, o conceito de responsabilidade civil deriva da atuação danosa


de um sujeito que desrespeita norma jurídica, legal ou contratual, previamente
constituída, agindo, em princípio, de maneira ilícita, sujeitando-se, portanto, às
consequências da sua conduta, que correspondem à obrigação de reparar.

Em outras palavras, é possível dizer que “a responsabilidade civil é


a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a
outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam”
(RODRIGUES, 2003, p. 6).

Importante esclarecer que a figura da responsabilidade civil é um preceito
jurídico que se encontra presente em toda e qualquer obrigação. Conforme leciona
Silva (2010, p. 642), responsabilidade é o:

Dever jurídico, em que se coloca a pessoa, seja em virtude de contrato,


seja em face de fato ou omissão, que lhe seja imputado, para satisfazer
a prestação convencionada ou para suportar as sanções legais, que lhe
são impostas. Onde quer, portanto, que haja obrigação de fazer, dar ou
não fazer alguma coisa, de ressarcir danos, de suportar sanções legais
ou penalidades, há a responsabilidade, em virtude da qual se exige a
satisfação ou o cumprimento da obrigação ou da sanção.

Como se pode perceber, a responsabilidade civil é proveniente da ofensa


a um interesse de cunho essencialmente particular, submetendo o transgressor
ao pagamento de uma reparação pecuniária à vítima, nos casos em que não é
possível retornar ao status quo ante.
147
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

NOTA

O termo status quo ante (STATUS QUO ANTE, 2020) significa “no estado em
que as coisas estavam antes/antes de; no estado anterior”.

Outrossim, segundo destacado anteriormente, a responsabilidade civil


pode ser contratual ou extracontratual (aquiliana), de acordo com a natureza
jurídica da norma preexistente violada. Para facilitar a compreensão das
modalidades de responsabilidade citadas, observe os exemplos a seguir.

Primeiro exemplo: se deixar de pagar a mensalidade da academia,


inadimplindo a obrigação (de dar dinheiro), violará norma contratual preexistente,
ocasionando danos à contratada, ou seja, a responsabilidade civil presente na
hipótese é a contratual.

Segundo exemplo: caso, no estacionamento da academia, ao realizar


uma manobra negligente, bata o carro em outro veículo, danificando este, há
violação de norma jurídica legal preexistente, isto é, a responsabilidade civil será
a extracontratual ou aquiliana.

Cumpre esclarecer, que a distinção apresentada prevalece na lógica


jurídica do Código Civil pátrio.

O fundamento da responsabilidade contratual encontra-se no artigo 389


do Código Civil, enquanto a responsabilidade extracontratual ou aquiliana,
possui como dispositivos basilares os artigos 186 e 927 do referido diploma legal.

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece em seu art. 389 in verbis: “não cumprida a obrigação,
responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”.

148
TÓPICO 1 — CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo”.

Contudo, o tema é controverso na doutrina, tendo em vista que tal


diferenciação entre responsabilidade contratual e extracontratual “não resiste à
constatação de que, na moderna sociedade de massas, ambas têm, a rigor, uma
mesma fonte, o ‘contrato social’, e obedecem aos mesmos princípios, nascendo de
um mesmo fato, qual seja, a violação de dever jurídico preexistente” (MARTINS-
COSTA, 2003, p. 97).

Apesar das divergências doutrinárias, o ordenamento civilista brasileiro


ainda se mostra distante de uma unificação conceitual, prevalecendo o entendimento
pela distinção entre responsabilidade civil contratual e extracontratual (aquiliana).

2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL


Os pressupostos da responsabilidade civil, assinalados por Diniz (2019),
são os seguintes: conduta (comissiva ou omissiva); dano (patrimonial ou moral) e
nexo de causalidade entre a conduta e o dano.

Ainda acerca dos requisitos supracitados, leciona Noronha (2007,


p. 467-468) que:

Podemos ordenar os pressupostos da responsabilidade civil de forma


mais didática dizendo ser necessário, para que surja a obrigação de
indenizar: a) que haja um fato (uma ação ou omissão humana ou
um fato humano, mas independente da vontade, ou ainda um fato
da natureza) que seja antijurídico (isto é, que não seja permitido pelo
direito, em si mesmo ou nas suas consequências; b) que esse fato possa
ser imputado a alguém, seja por se dever à atuação culposa da pessoa,
seja por simplesmente ter acontecido no decurso de uma atividade
realizada no interesse dela; c) que tenham sido produzidos danos; d)
que tais danos possam ser juridicamente considerados como causados
pelo ato ou fato praticado, embora em casos excepcionais seja suficiente
que o dano constitua risco próprio da atividade do responsável, sem
propriamente ter sido causado por esta.

A partir do levantamento dos preceitos da responsabilidade civil, passa-se


à análise pormenorizada e individualizada de cada um deles.

149
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

2.1 AÇÃO E OMISSÃO


A ação e a omissão são provenientes de conduta humana, que, por sua
vez, pode ser enquadrada como lícita ou ilícita. Conforme destaca Diniz (2019, p.
56), a “responsabilidade decorrente de ato ilícito baseia-se na ideia de culpa, e a
responsabilidade sem culpa funda-se no risco”.

Importante salientar que, como regra geral, a responsabilidade civil


presume a ilicitude da conduta, porém, a antijuridicidade não é condição
obrigatória, tendo em vista que é possível constatar responsabilidade civil
resultante de ato lícito.

Consoante os ensinamentos de Diniz (2019, p. 43):

A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o


ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e
objetivamente imputável do próprio agente ou de terceiro, ou o fato
de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o
dever de satisfazer os direitos do lesado.

Como se pode constatar, a conduta humana, um dos requisitos


caracterizadores da responsabilidade civil, pode ser comissiva ou omissiva. Em
regra, a conduta causadora da responsabilidade civil trata-se da prática de um
ato pelo indivíduo, ou seja, é comissiva.

Todavia, uma conduta negativa, pautada em uma omissão, também


pode levar ao pagamento de indenização, neste caso, é necessário estar diante de
uma situação em que o sujeito detinha o dever jurídico de agir, isto é, possuía a
obrigação de realizar determinado ato, e não o fez, provocando, assim, prejuízos.

Ademais, a conduta necessita atender ao critério da voluntariedade. Em


consonância com Gagliano e Pamplona Filho (2019, p. 74):

A voluntariedade, que é a pedra de toque da noção de conduta


humana ou ação voluntária, primeiro elemento da responsabilidade
civil, não traduz necessariamente a intenção de causar o dano,
mas sim, e tão somente, a consciência daquilo que se está fazendo.
E tal ocorre não apenas quando estamos diante de uma situação
de responsabilidade subjetiva (calcada na noção de culpa), mas
também de responsabilidade objetiva (calcada na ideia de risco),
porque em ambas as hipóteses o agente causador do dano deve agir
voluntariamente, ou seja, de acordo com a sua livre capacidade de
autodeterminação. Nessa consciência, entenda-se o conhecimento
dos atos materiais que se está praticando, não se exigindo,
necessariamente, a consciência subjetiva da ilicitude do ato.

Cumpre esclarecer, por fim, que o ordenamento jurídico brasileiro, a


respeito da conduta enquanto pressuposto da responsabilidade civil, reconhece
a citada responsabilidade não apenas por conduta do próprio indivíduo, como
também por ato de terceiro, fato de animal ou coisa, de maneira indireta, conforme
estabelece o artigo 932 do Código Civil:

150
TÓPICO 1 — CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

São também responsáveis pela reparação civil:


I- os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e
em sua companhia;
II- o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem
nas mesmas condições;
III- o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em
razão dele;
IV- os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde
se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus
hóspedes, moradores e educandos;
V- os que gratuitamente houverem participado nos produtos do
crime, até a concorrente quantia (BRASIL, 2002).

Depreende-se da leitura do artigo indicado, que não somente o ato próprio


acarreta responsabilidade para o sujeito, como, da mesma forma, atos de terceiros
podem gerar responsabilização, dependendo da situação concreta.

2.2 CULPA
O conceito de culpa é bastante impreciso, e trata-se de um dos aspectos
mais sensíveis no que diz respeito à responsabilidade civil, visto que o termo não
encontra definição em lei e apresenta divergências no campo doutrinário, dada a
sua complexidade.

De acordo com Gonçalves (2012, p. 315):

Agir com culpa significa atuar o agente em termos de, pessoalmente,


merecer a censura ou reprovação do direito. E o agente só pode ser
pessoalmente censurado ou reprovado na sua conduta, quando, em
face das circunstâncias concretas da situação, caiba afirmar que ele
podia e devia ter agido de outro modo.

Outrossim, verifica-se que a culpa está situada no comportamento reprovável,


agindo o sujeito de modo contrário ao esperado para determinada situação.

Ademais, “[...] pode-se conceituar culpa como conduta voluntária contrária


ao dever de cuidado imposto pelo Direito, com a produção de um evento danoso
involuntário, porém previsto ou previsível” (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 34).

Além disso, como já destacado anteriormente, o Código Civil estabelece,


como regra geral, para configuração de ato ilícito, a necessidade de conduta
culposa. Sendo certo que esta representa a culpa em sentido amplo, pois engloba
a culpa em sentido estrito e também o dolo, conforme se verá adiante.

151
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Pode-se dizer que o dolo é pautado em um comportamento intencional, ou


seja, na conduta dolosa o sujeito age de maneira consciente, almejando a obtenção
de um resultado antijurídico ou simplesmente assumindo o risco de causá-lo.

Na culpa em sentido estrito, em contrapartida, não há o intuito de causar


dano. Assim, somente a atuação é proposital, mas não o resultado conquistado.
Percebe-se que o indivíduo não pretende a consequência alcançada, porém, a
obtém em razão da não observância do dever de cuidado em sua conduta. Tal
inobservância é evidenciada por meio da imprudência, negligência ou imperícia.

Nesse sentido, conceitua Stoco (2007, p. 133):

Quando existe a intenção deliberada de ofender o direito, ou de


ocasionar prejuízo a outrem, há o dolo, isto é, o pleno conhecimento
do mal e o direto propósito de o praticar. Se não houvesse esse intento
deliberado, proposital, mas o prejuízo veio a surgir, por imprudência
ou negligência, existe a culpa (stricto sensu).

Cumpre esclarecer, que para o Direito Civil pátrio, especialmente na seara


da responsabilidade civil, não há razão para distinguir o dolo e a culpa em sentido
estrito, pois nesse particular a finalidade concentra-se na indenização à vítima, e
não na punição ao culpado. Deste modo, a indenização é fixada pela dimensão do
dano, e não pelo grau de culpa do causador do dano.

De igual modo, no estudo contemporâneo acerca da responsabilidade


civil no ordenamento jurídico brasileiro, não há mais aplicabilidade para a
diferenciação entre culpa grave, leve e levíssima.

Verifica-se previsão legislativa relevante com relação a este tópico no


parágrafo único do artigo 944 do Código Civil.

152
TÓPICO 1 — CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 944. A indenização mede-se pela


extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,
poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização”.

Assim, ao magistrado é facultado adequar o valor da indenização caso


haja acentuada disparidade entre o prejuízo e a intensidade da culpa. No entanto,
esta possibilidade não se trata da norma geral. Isto posto, tal disparidade deve ser
verificada restritivamente, tendo em vista que a desproporção deve ser analisada
restritivamente, pois a regra é o ressarcimento total.

Desse modo, para que se configure hipótese de responsabilidade civil, é


suficiente que por ocasião da conduta o indivíduo tenha causado um dano de
forma proposital a outrem (dolo) ou de maneira inadvertida não observou o
dever de cuidado ocasionando um prejuízo (culpa em sentido estrito).

Contudo, a doutrina pátria apresenta divergências no que diz respeito à


classificação da culpa enquanto requisito essencial da responsabilidade civil. Para
Gagliano e Pamplona Filho (2019) a culpa em sentido amplo não se enquadra
como preceito para a responsabilidade civil, tendo em vista que o Código Civil
prevê outro gênero de responsabilidade (objetiva), na qual não se exige o elemento
culpa para caracterização. Na concepção dos referidos autores, os pressupostos
da responsabilidade civil são: conduta humana (ação ou omissão), dano e nexo
de causalidade.

Por outro lado, uma parcela significativa da doutrina interpreta no sentido


de o já colacionado artigo 186 do Código Civil não abre margem para dúvidas, ou
seja, o referido dispositivo determina que o ato ilícito restará identificado apenas
na ocorrência de comportamento culposo, considerando a existência de culpa em
sentido amplo, logo, a culpa seria premissa fundamental da responsabilidade
civil em virtude de ato ilícito.

Nesse sentido cumpre destacar o posicionamento de Leonardi (2005, p.


71): “Não se pode olvidar que a responsabilidade objetiva, fundamentada na
teoria do risco criado, foi concebida como exceção, e não como regra. Ampliar
demasiadamente seu campo de aplicação criará enorme insegurança jurídica”.

Por todo o exposto, conclui-se que, na acepção atual, a culpa engloba


qualquer tipo de conduta, intencional ou não, incompatível com o direito, de
forma a imputar a responsabilidade ao agente causador do prejuízo.

153
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

2.3 DANO
Enquanto requisito da responsabilidade civil, o dano ou prejuízo simboliza
a ofensa a um bem jurídico protegido, seja de ordem material ou moral.

A existência de dano é imprescindível para a responsabilidade civil,


tendo em vista que o prejuízo faz parte da sua própria essência, constituindo
elemento obrigatório da indenização. Assim, não é possível verificar
responsabilidade civil sem dano.

Por conseguinte, dada a importância do item como fundamento da


responsabilidade civil, cumpre conceituar o termo. Conforme Diniz (2019, p. 43),
“o dano pode ser definido como a lesão (diminuição ou destruição) que, devido
a um certo evento, sofre uma pessoa, contra a sua vontade, em qualquer bem ou
interesse jurídico, patrimonial ou moral”.

Outrossim, para conferir base doutrinária ao tema, destaca-se ainda, nas


palavras de Cavalieri Filho (2007, p. 71), que:

O ato ilícito nunca será aquilo que os penalistas chamam de crime


de mera conduta; será sempre um delito material, com resultado
de dano. Sem dano pode haver responsabilidade penal, mas
não há responsabilidade civil. Indenização sem dano importaria
enriquecimento ilícito; enriquecimento sem causa para quem a
recebesse e pena para quem a pagasse, porquanto o objetivo da
indenização, sabemos todos, é reparar o prejuízo sofrido pela vítima,
reintegrá-la ao estado em que se encontrava antes da prática do ato
ilícito. E, se a vítima não sofreu nenhum prejuízo, a toda evidência,
não haverá o que ressarcir. Daí a afirmação, comum a praticamente
todos os autores, de que o dano é não somente o fato constitutivo, mas,
também, determinante do dever de indenizar.

Como se pode observar, o dano é a pilastra de sustentação da


responsabilidade civil, tendo em vista que não há indenização sem a ocorrência
de prejuízo.

No mesmo sentido se encontra a definição de Stoco (2007, p. 128): “o


dano é, pois, elemento essencial e indispensável à responsabilização do agente,
seja essa obrigação originada de ato ilícito ou de inadimplemento contratual,
independente, ainda, de se tratar de responsabilidade objetiva ou subjetiva”.

Ademais, para que a citada responsabilização do agente realmente ocorra,


isto é, para que o dano seja efetivamente ressarcido, é necessária a constatação
de alguns requisitos, quais sejam, ofensa a um interesse jurídico moral ou
patrimonial; permanência do dano, ou seja, se já houve reparação não se cogita a
indenização; e dano certo, deve existir certeza do dano, visto que não se indeniza
dano intangível, hipotético ou indefinido.

154
TÓPICO 1 — CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Deve-se destacar, ainda, a teoria da perda de uma chance, segundo a qual


se indeniza a frustração de uma expectativa ou oportunidade vantajosa à vítima.

De acordo com Cavalieri Filho (2007, p. 81):

A chance perdida reparável deverá caracterizar um prejuízo material


ou imaterial resultante de fato consumado, não hipotético. Em outras
palavras, é preciso verificar em cada caso se o resultado favorável
seria razoável ou se não passaria de mera possibilidade aleatória.
A vantagem esperada pelo lesado não pode consistir numa mera
eventualidade, suposição ou desejo, do contrário estar-se-ia premiando
os oportunismos, e não reparando as oportunidades perdidas.

Desse modo, para aplicação da teoria da perda de uma chance, o juiz


deve presumir o percurso natural dos acontecimentos, tomando como alicerce
a razoabilidade dos prejuízos futuros. Pode-se exemplificar tal teoria com o
maratonista brasileiro que foi agarrado por um padre irlandês enquanto liderava
a prova na Olimpíada de Atenas, perdendo, assim, a medalha de ouro.

Nesse sentido,

[...] a doutrina aconselha efetuar um balanço das perspectivas contra


e a favor da situação do ofendido. Da conclusão resultará a proporção
do ressarcimento. Trata-se então do prognóstico que se colocará na
decisão. Na mesma senda do que temos afirmado, não se deve admitir
a concessão de indenizações por prejuízos hipotéticos, vagos ou muito
gerais (VENOSA, 2016, p. 307).

Em outras palavras, deve-se constatar que a oportunidade analisada no


caso concreto de fato existiria se a interferência do responsável não acontecesse.
Assim, em uma probabilidade, a chance perdida realmente alcançaria êxito,
caso o fato motivador da responsabilidade não interrompesse o fluxo natural
dos acontecimentos. Nesse diapasão, a indenização se dá em razão da perda da
oportunidade de adquirir uma vantagem, e não pela perda da própria utilidade.

Ademais, cumpre esclarecer que os danos podem ser classificados em


materiais ou morais.

O dano material alcança bens integrantes do patrimônio da vítima.


De acordo com Diniz (2019, p. 84), o patrimônio é conceituado como “uma
universalidade jurídica constituída pelo conjunto de bens de uma pessoa”.

O dano material, por sua vez, é subdividido em dano emergente e lucro


cessante. O dano emergente resulta a imediata redução do patrimônio da vítima
em decorrência do ato ilícito, ou seja, é o desfalque suportado pelo patrimônio.

155
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

Nesse sentido, corrobora Cavalieri (2007, p. 103):

O dano emergente, também chamado positivo, este, sim, importa


efetiva e imediata diminuição no patrimônio da vítima em razão do ato
ilícito. [...] A mensuração do dano emergente, como se vê, não enseja
maiores dificuldades. Via de regra, importará no desfalque sofrido
pelo patrimônio da vítima; será a diferença do valor do bem jurídico
entre aquele que ele tinha antes e depois do ato ilícito. Assim, valendo-
se de um exemplo singelo, num acidente de veículo com perda total,
o dano emergente será o integral valor do veículo. Mas, tratando-se
de perda parcial, o dano emergente será o valor do conserto, e assim
por diante. Dano emergente é tudo aquilo que se perdeu, sendo certo
que a indenização haverá de ser suficiente para a restitutio in integrum.

Em contrapartida, lucro cessante caracteriza o efeito futuro ou mediato,


subtraindo vantagens e impossibilitando a aferição de lucros. Lucro cessante,
portanto, é a frustração da expectativa de rendimento, privação de ganho esperado.

O ato ilícito pode produzir não apenas efeitos diretos e imediatos no


patrimônio da vítima (dano emergente), mas também mediatos ou
futuros, reduzindo ganhos, impedindo lucros, e assim por diante.
Aí teremos o lucro cessante. É a consequência futura de um fato já
ocorrido. O médico ou advogado que, em razão de um acidente, fica
impossibilitado para o trabalho por vários meses, deve ser indenizado
pelo que deixou de ganhar durante esse período. Na trilha de Antônio
Lindbergh Montenegro, que, por sua vez, se funda em Adriano De
Cupis, pode-se dizer que, se o objeto do dano é um bem ou interesse já
existente, estaremos em face do dano emergente; tratando-se de bem
ou interesse futuro, ainda não pertencente ao lesado, estaremos diante
do lucro cessante. Consiste, portanto, o lucro cessante na perda do
ganho esperável, na frustração da expectativa de lucro, na diminuição
potencial do patrimônio da vítima (CAVALIERI, 2007, p. 104).

Cumpre ressaltar, que o Código Civil, em seu artigo 402, regulamenta


ambas as espécies de dano material.

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 402. Salvo as exceções expressamente


previstas em lei, as perdas e danos devidos ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”.

156
TÓPICO 1 — CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Já o dano moral está atrelado à violação da dignidade humana, à noção de


sentimento e moralidade, como bem assevera Gonçalves (2017, p. 446):

Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu
patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos da personalidade,
como a honra, a dignidade, a intimidade, a imagem, o bom nome etc.,
como se infere dos arts. 1°, III, e 5°, V e X, da Constituição Federal, e
que acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação.
[...] Desse modo, os contornos e a extensão do dano moral devem ser
buscados na própria Constituição, ou seja, no art. 5°, n. V (que assegura
o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem) e n. X (que declara invioláveis
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas) e,
especialmente, no art. 1°, n. III, que erigiu à categoria de fundamento
do Estado Democrático “a dignidade da pessoa humana”.

No mesmo sentido, Bittar (2015, p. 242) destaca:

Dizem-se, então, morais os danos experimentados por algum titular de


direitos, seja em sua esfera de consideração pessoal (intimidade, honra,
afeição, segredo), seja na social (reputação, conceito, consideração,
identificação), por força de ações ou omissões injustas de outrem,
tais como agressões infamantes ou humilhantes; discriminações
atentatórias; divulgação indevida de fato íntimo; cobrança vexatórias
de dívida; e outras tantas manifestações desairosas que podem surgir
no relacionamento social.

Contudo, para não vulgarizar o dano moral e gerar demandas judiciais


por chateações corriqueiras, no entendimento de Cavalieri (2007, p. 118), apenas
deve ser considerado como dano moral:

[...] a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à


normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do
indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-
estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade
exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de
fazerem parte da normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no
trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não
são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico
do indivíduo.

Há, ainda, a classificação doutrinária em dano moral direto e indireto,


considerando o nexo de causalidade existente entre o dano e o fato. O dano moral
direto acontece quando a violação se concentra especificamente em um dano
imaterial, como preceitua Diniz (2019, p. 93):

O dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa a


satisfação ou o gozo de um bem jurídico extrapatrimonial contido
nos direitos da personalidade (como a vida, a integridade corporal e
psíquica, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos
afetivos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome,
a capacidade, o estado de família). Abrange, ainda, a lesão à dignidade
da pessoa humana (CF/88, art. 1°, III).

157
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

Assim, o dano moral direto pode ser exemplificado com o indivíduo que
sofre injúria em público ou possui o nome inscrito indevidamente no cadastro
de inadimplentes. Verifica-se, nesses casos, lesão à imagem e à honra da pessoa,
configurando-se, desta maneira, um dano moral direto.

Por outro lado, o dano moral indireto decorre de ofensa a um bem de


natureza patrimonial, causando, contudo, por reflexo, violação a um bem
extrapatrimonial (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2019).

Importante esclarecer a diferença entre dano moral indireto e dano moral


reflexo ou em ricochete. Como já destacado, no indireto ocorre lesão a um interesse
extrapatrimonial do indivíduo em razão de um dano material. No entanto, no
reflexo, o dano moral causado ao sujeito se dá por um dano, de natureza moral
ou material, sofrido por outra vítima relacionada a ele.

Como exemplo, é possível imaginar um pai de família que é baleado


em virtude de um assalto, ficando em como no hospital. Este é a vítima direta,
entretanto, os filhos são enquadrados como vítimas indiretas, pelo fato de sofrerem
as consequências da lesão, caracterizando um dano reflexo ou em ricochete.

Desse modo, percebe-se que no dano indireto o próprio lesado sofre dois
ou mais danos, enquanto no dano reflexo, existem duas ou mais vítimas.

2.4 NEXO DE CAUSALIDADE


O nexo de causalidade, enquanto pressuposto da responsabilidade
civil, exprime o liame imprescindível que conecta a conduta do agente ao dano
ocasionado.

Como se pode perceber, não existe responsabilidade civil caso não haja
relação causal entre o comportamento e o prejuízo, visto que este surge como
consequência.

Para explicar o nexo de causalidade destacam-se, essencialmente, três


teorias. São elas:

• Teoria da equivalência das condições:


Nesta teoria, concebida por Von Buri, não há distinção entre os precedentes
fáticos e o produto danoso, ou seja, tudo que contribui para o resultado é
reputado como causa. Não obstante, “por considerar causa todo o antecedente
que contribua para o desfecho danoso, a cadeia causal, seguindo esta linha
de intelecção, poderia levar a sua investigação ao infinito” (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2019, p. 147). Por este motivo, tal teoria não encontra
apoio dos civilistas em geral, justamente por ser muito ampla e imprecisa.

158
TÓPICO 1 — CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

• Teoria da causalidade adequada:


A segunda corrente, idealizada por Von Kries, distintamente da primeira,
defende que nem todo antecedente é causa, ou seja, somente será classificado
como causa o precedente apto a realizar o resultado. Gagliano e Pamplona
Filho (2019, p. 148) exemplificam a teoria da seguinte maneira: “[...] a compra
da arma e a sua fabricação não seriam ‘causas adequadas’ para a efetivação
do evento morte”, contudo, os fatos narrados seriam relevantes na teoria da
equivalência das condições.
• Teoria da causalidade direta ou imediata:
Já a terceira teoria, desenvolvida por Agostinho Alvim, mostra-se como a
mais adequada, por trazer maior objetividade à análise. Assim foi a eleita pelo
ordenamento jurídico pátrio. Nesta corrente, antecedente é apenas o que define
o resultado de modo direto e imediato.

O fato de se considerar “reflexo” ou “indireto” o dano não significa


dizer que não haverá responsabilidade civil. Apenas quer-se, com
isso, caracterizar aquela espécie de dano que, tendo existência certa e
determinada, atinge pessoas próximas à vítima direta. Este dano, pois,
para a pessoa que o sofreu reflexamente (o alimentando que teve o pai
morto, por ex.), é efeito direto e imediato do ato ilícito” (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2019, p. 151).

A aplicação da teoria da causalidade direita ou imediata pode ser


exemplificada com a seguinte situação hipotética:

Caio é ferido por Tício (lesão corporal), em uma discussão após a final
do campeonato de futebol. Caio, então, é socorrido por seu amigo
Pedro, que dirige, velozmente, para o hospital da cidade. No trajeto,
o veículo capota e Caio falece. Ora, pela morte da vítima, apenas
poderá responder Pedro, se não for reconhecida alguma excludente
em seu favor. Tício, por sua vez, não responderia pelo evento fatídico,
uma vez que o seu comportamento determinou, como efeito direto e
imediato, apenas a lesão corporal. Note-se, portanto, que a interrupção
do nexo causal por uma causa superveniente, ainda que relativamente
independente da cadeia dos acontecimentos (capotagem do veículo)
impede que se estabeleça o elo entre o resultado morte e o primeiro
agente, Tício, que não poderá ser responsabilizado (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2019, p. 150).

Além disso, conforme já destacado anteriormente, esta última teoria foi


adotada pelo Código Civil Brasileiro, em seu artigo 403.

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de
dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes
por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual”.

159
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

DICAS

Para aprofundar o conceito de responsabilidade civil e seus pressupostos,


incluindo uma perspectiva acerca do dano moral, recomenda-se a leitura do artigo de
Thaiane Martins Moltocaro e Fabiana Junqueira Tamaoki, intitulado “Responsabilidade Civil:
da evolução histórica ao estudo do dano moral”. Disponível em: https://periodicosonline.
uems.br/index.php/RJDSJ/article/download/678/644.

E
IMPORTANT

UM BREVE RESUMO SOBRE OS NOVOS DANOS


NA RESPONSABILIDADE CIVIL

O vocábulo responsabilidade em sentido amplo pode ser entendido como


a situação de quem violou uma norma, que pode ser uma norma moral ou jurídica,
decorrendo desta ação ou omissão, o dever de reparar o dano causado a outrem. Em
sentido estrito a responsabilidade civil é uma forma de obrigação ressarcitória visando
recompor a harmonia quebrada pela violação de uma norma jurídica originária.

Por conseguinte, a responsabilidade civil tem sua natureza jurídica definida por
Sérgio Cavalieri Filho como “um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano
decorrente da violação de um dever jurídico originário”. Logo, podemos conceituar a
responsabilidade civil como uma obrigação sucessiva imposta a uma pessoa a ressarcir
danos causados a outrem, seja por fato próprio, de terceiros, e coisas que dela dependam.

Nas comunidades primitivas não havia responsabilidade jurídica patrimonial,


portanto, a responsabilidade recaia sobre o corpo do agente, visando desde as penas
deambulatórias até a morte, além da pena de escravidão. Assim, a evolução da
responsabilidade passou da vingança privada para a vedação da autotutela pelo Estado,
passando para responsabilidade patrimonial.

A reparação dos danos deve ocorrer de forma integral (art. 944 do Código Civil,
e art. 6°, VI da Lei n° 8.078/90) e ser calculada de acordo com a extensão do dano, para
recompor o equilíbrio quebrado com a prática do ilícito, colocando-se a vítima no status
quo ante a lesão. Portanto, o valor da indenização deve abranger todos os danos suportados
pela vítima.

A evolução jurídica do conceito de dano moral negativo para um conceito


positivo de dano moral foi resultado dos estudos da doutrina e jurisprudência denominada
de Direito Civil Constitucional, movimento influenciado pelos estudos da doutrina italiana,
consequência de uma releitura do Código Civil e das normas jurídicas em geral, à luz dos
princípios constitucionais da solidariedade social, da isonomia substancial e da dignidade
da pessoa humana.

Nesse cenário a doutrina e jurisprudência passaram a compreender o dano moral


como aquele decorrente da violação dos direitos da personalidade, admitindo-se, portanto,
o dano moral sem a ocorrência de dor ou sofrimento causado ao lesado.

160
TÓPICO 1 — CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Como visto os pressupostos da responsabilidade civil sofreram intensas


modificações decorrentes das inúmeras evoluções sociais ocorridas nas últimas décadas,
sendo reformulados, mitigados vários requisitos da responsabilidade civil e surgem novos
conceitos de danos extrapatrimoniais.

Dentre esses novos danos surge o dano biológico desenvolvido pela jurisprudência
italiana na década de setenta, que evoluiu na década de noventa de outra espécie de dano
extrapatrimonial denominado de dano existencial.

Isso se deu porque a reparação dos danos na Itália tinha como fundamento legal
o art. 2043 do Código Civil italiano (danos patrimoniais), e o art. 2059 do Código Civil
italiano (danos não patrimoniais). O art. 2059 do Código Civil italiano de 1942 adotou um
regime de tipicidade para o rol dos danos extrapatrimoniais, isto limitava e dificultava a
apuração da responsabilidade civil por danos decorrentes de ato ilícito civil, em razão da
dificuldade de se atribuir a reparação por danos morais aos agentes que não cometeram
ilícitos penais (artigo 185 do Código Penal italiano), ou seja, a reparação dos danos não
patrimoniais era possível apenas nos casos previstos na lei como ilícitos penais.

Dentro desse contexto, na década de setenta, visando corrigir essa falha do sistema
jurídico italiano, por iniciativa de dois magistrados genoveses (Monetti e Pellegrino), o
dano biológico é reconhecido pela primeira vez com a sentença do Tribunal de Génova,
de 25 de maio de 1974, totalmente desvinculado da patrimonialidade. Os magistrados
fizeram uma inovadora construção jurídica, utilizando a cláusula geral do artigo 2043 do
Código Civil italiano (regra base da responsabilidade civil delitual), associada até então ao
ressarcimento de danos patrimoniais, que prevê como única condição de ressarcibilidade
a “injustiça”, para concluir o que nessa norma se prevê é que todos os danos injustos
são ressarcíveis, sejam eles de carácter patrimonial ou não patrimonial. Para tanto era
necessário que se encontrasse uma norma no ordenamento jurídico que protegesse
o direito à saúde, a lesão dessa norma teria sempre a característica indispensável à
ressarcibilidade prevista na cláusula geral do artigo 2043, isto é, a “injustiça” do dano.

Em decorrência dessa evolução doutrinária e jurisprudencial, que ocorreu


também no Brasil, foi possível reconhecer a existência de dano moral por parte da pessoa
jurídica, quando atingida em sua honra objetiva, e de novos danos extrapatrimoniais como
o dano biológico, o dano existencial, o dano pela perda de uma chance, dano pelo desvio
produtivo do consumidor, o dano social ou difuso e o dano moral coletivo.

Vejamos as definições desses novos danos.

O dano biológico ou à saúde decorre da violação ao direito fundamental à saúde


(art.32 da Constituição italiana). Foi uma criação doutrinária e jurisprudencial da década
de setenta tão importante que acabou sendo positivada pelo legislador italiano com a
elaboração do Código de Seguros Privados de 2005.

O dano existencial é o prejuízo que o ato ilícito causa sobre atividades não
patrimoniais do indivíduo, alterando seus hábitos de vida e sua maneira de viver
socialmente. Ele atinge o projeto de vida, portanto há uma certa similaridade com a teoria
da perda de uma chance no aspecto da lesão atingir uma expectativa que o lesado tinha
acerca do futuro. No entanto, se diferencia da perda de uma chance por não atingir uma
oportunidade real e séria, mas apenas um projeto futuro da vítima, que não exige o mesmo
grau de probabilidade da perda de uma chance.

A perda de uma chance seria a perda de uma oportunidade real e séria. No direito
italiano a teoria da perda de uma chance é aplicada quando a probabilidade de obtenção da
vantagem esperada for superior a 50% (cinquenta por cento). No Brasil, para a configuração
da perda de uma chance a jurisprudência entende necessária a análise do caso concreto.

161
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

Segundo Antonio Junqueira de Azevedo o dano social ou difuso é uma nova


modalidade de dano na responsabilidade civil, distinta do dano patrimonial e extrapatrimonial.
Para ele os danos sociais podem ser definidos como lesões causadas à sociedade, no seu
nível de qualidade de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral, notadamente
em relação à segurança, e diminuição na qualidade de vida.

A título de exemplo de aplicação dos danos sociais pela jurisprudência temos


o julgado da fraude em sistema de loteria, chamado de “Caso Totobola”. O Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, ao analisar o Recurso Cível n° 71001281054, DJ 18/07/2007,
determinou, de ofício, indenização a título de dano social para o Fundo de Proteção aos
Consumidores.

Entendo que uma das maiores inovações decorrentes da evolução da


responsabilidade civil é a figura do dano social ou difuso, cujo objeto é a restauração do
nível social de tranquilidade diminuída pelo ato ilícito, bem como o entendimento de que o
valor da condenação pelo dano social não deve ser destinado à vítima, e sim para um fundo
criado especificamente para tal finalidade, ou direcionado a uma instituição filantrópica,
como prevê o art. 883 do Código Civil para os valores objeto de pagamento indevido.

Alguns julgados em casos de ações individuais decorrentes de lesões reiteradas


têm considerado que o valor da indenização deve levar em consideração a função social da
responsabilidade civil, qual seja: desestimular e educar o ofensor. Desta forma, seria legitima
a fixação da indenização em um valor suplementar pelo Juiz.

O dano pelo desvio produtivo do consumidor é uma teoria criada pelo advogado
Marcos Dessaune, que identifica o dano decorrente do desperdiçado pelo consumidor para
a solução de problemas gerados pela má prestação de serviços privados. No meu entender
a teoria também deve ser aplicada aos serviços públicos.

O dano moral coletivo é o resultado de uma lesão à esfera extrapatrimonial de


determinada comunidade, ou seja, tem como causa uma conduta violadora de valores
éticos fundamentais da sociedade em si considerada, a provocar repulsa e indignação
na consciência coletiva. (REsp 1473846/SP, Rel. ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, DJe 24.2.2017).

Desta forma, os pressupostos da responsabilidade civil sofreram intensas e


necessárias modificações decorrentes das inúmeras evoluções sociais ocorridas nas
últimas décadas, sendo mitigados vários de seus elementos e elaborados novos conceitos
de danos extrapatrimoniais para garantia de uma justa reparação integral dos danos.

FONTE: Frias, M. Lúcia do Nascimento. Um breve resumo sobre os novos danos na


responsabilidade civil. 2019. Disponível em: https://www.editorajc.com.br/um-breve-
resumo-sobre-os-novos-danos-na-responsabilidade-civil/. Acesso em: 12 jan. 2021.

162
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A responsabilidade civil é originada do descumprimento de uma norma


jurídica preexistente, surgindo, assim, o dever de indenizar por parte do
causador do dano.

• A responsabilidade civil pode ser contratual ou extracontratual (aquiliana), de


acordo com a natureza jurídica da norma preexistente violada.

• Os pressupostos da responsabilidade civil são os seguintes: conduta (comissiva


ou omissiva); dano (patrimonial ou moral) e nexo de causalidade entre a
conduta e o dano.

• A ação e a omissão são provenientes de conduta humana, que, por sua vez,
pode ser enquadrada como lícita ou ilícita.

• Em regra, a conduta causadora da responsabilidade civil trata-se da prática de


um ato pelo indivíduo, ou seja, é comissiva.

• Uma conduta negativa, pautada em uma omissão, também pode levar ao


pagamento de indenização, neste caso, é necessário estar diante de uma situação
em que o sujeito detinha o dever jurídico de agir, isto é, possuía a obrigação de
realizar determinado ato, e não o fez, provocando, assim, prejuízos.

• A culpa está situada no comportamento reprovável, agindo o sujeito de modo


contrário ao esperado para determinada situação.

• O Código Civil estabelece, como regra geral, para configuração de ato ilícito,
a necessidade de conduta culposa. Sendo certo que esta representa a culpa em
sentido amplo, pois engloba a culpa em sentido estrito e também o dolo.

• O dolo é pautado em um comportamento intencional, ou seja, na conduta


dolosa o sujeito age de maneira consciente, almejando a obtenção de um
resultado antijurídico ou simplesmente assumindo o risco de causá-lo.

• O dano ou prejuízo simboliza a ofensa a um bem jurídico protegido, seja de


ordem material ou moral.

• O dano material alcança bens integrantes do patrimônio da vítima, e é


subdividido em dano emergente e lucro cessante.

163
• O dano emergente resulta a imediata redução do patrimônio da vítima em
decorrência do ato ilícito, ou seja, é o desfalque suportado pelo patrimônio.

• O lucro cessante caracteriza o efeito futuro ou mediato, subtraindo vantagens


e impossibilitando a aferição de lucros. Lucro cessante, portanto, é a frustração
da expectativa de rendimento, privação de ganho esperado.

• O dano moral está atrelado à violação da dignidade humana, à noção de


sentimento e moralidade.

• O nexo de causalidade exprime o liame imprescindível que conecta a conduta


do agente ao dano ocasionado.

164
AUTOATIVIDADE

1 Com base no conteúdo apresentado até o momento, conceitue dano


material e diferencie suas modalidades.

2 (ADAPTADA) O famoso atleta José da Silva, campeão pan-americano da


prova de 200 metros no atletismo, inscreveu-se para a Copa Rio de Atletismo –
RJ, 2015. O torneio previa, como premiação aos campeões de cada modalidade,
a soma de R$ 20.000,00. Todos os especialistas no esporte estimavam a chance
de vitória de José superior a 80%. Na semana que antecedeu a competição, o
atleta, domiciliado no estado de Minas Gerais, viajou para a cidade do Rio de
Janeiro para treinamento e reconhecimento dos locais de prova. Na véspera do
evento esportivo, José sofreu um grave acidente, tendo sido atropelado por um
ônibus executivo da sociedade empresária D Ltda., com sede em São Paulo.
O serviço de transporte executivo é explorado pela sociedade empresária
D Ltda. de forma habitual, organizada profissionalmente e remunerada.
Restou evidente que o acidente ocorreu devido à distração do condutor do
ônibus. Em virtude do ocorrido, José não pôde competir no aludido torneio.
O atleta precisou de atendimento médico-hospitalar de emergência, tendo
realizado duas cirurgias e usado medicamentos. No processo de reabilitação,
fez fisioterapia para recuperar a amplitude de movimento das pernas e dos
quadris. Sobre a situação descrita, responda: quais os danos sofridos por José?

FONTE: Banca: Fundação Getúlio Vargas (FGV) – Prova: XVII Exame de Ordem Unificado –
Órgão: Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Ano: 2015.

3 A respeito da responsabilidade civil, segundo o Código Civil Brasileiro,


assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) havendo usurpação ou esbulho do alheio, a indenização será restrita


a restituição da coisa e ao valor das suas deteriorações, não sendo
devidos lucros cessantes por expressa determinação legal.
b) ( ) Ressalvados outros casos previstos em lei especial, as empresas não
respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos
produtos postos em circulação.
c) ( ) Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que
houver pago daquele por quem pagou, inclusive se o causador do dano
for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.
d) ( ) A responsabilidade civil é independente da criminal, podendo-se
questionar sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor,
mesmo quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
e) ( ) São responsáveis pela reparação cível, o empregador ou comitente, por
seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que
lhes competir, ou em razão dele, ainda que não haja culpa de sua parte
(empregador ou comitente).

FONTE: Banca: Fundação Carlos Chagas (FCC) – Órgão: TCE-MA – Prova: Procurador –
Ano: 2005.

165
4 A responsabilidade civil decorre da agressão a um interesse jurídico
quando há o descumprimento de uma norma jurídica pré-existente.
Assim, a lei procura reconstituir o bem jurídico violado. Nesse sentido,
sobre a responsabilidade civil prevista no Código Civil de 2002, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que
houver pago daquele por quem pagou, ainda que o causador do dano
seja descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.
b) ( ) O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la não se transmite
com a herança.
c) ( ) Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o
seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a
indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao
fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do
trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
d) ( ) São responsáveis pela reparação civil os donos de hotéis, hospedarias,
casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, salvo para
fins de educação, pelos seus hóspedes e moradores.
e) ( ) No caso de homicídio, a indenização consiste apenas no pagamento
das despesas com o tratamento da vítima e o luto da família.

FONTE: Banca: FAFIPA – Órgão: Prefeitura de Nova Esperança/PR – Prova: Advogado – Ano: 2019.

5 Seprônio, menor com 13 anos de idade, enquanto dirigia carro de Mévio, seu
pai com quem reside, e fazia vídeo para postar em rede social, atropelou,
por imprudência, Caio que ficou gravemente ferido, mas, após várias
intervenções cirúrgicas, sobreviveu. Caio ajuizou ação de indenização por
danos materiais e morais em face de Mévio. Após ser condenado a ressarcir
Caio, Mévio recorreu da decisão aduzindo que Seprônio havia saído com
o veículo sem o seu consentimento e que não estava em sua companhia no
momento do fato.
Com base na situação hipotética apresentada, e no entendimento do STJ
sobre a responsabilidade civil do incapaz, analise as sentenças a seguir:

I- A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiaria


porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para
ressarcir a vítima.
II- A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é condicional
e mitigada porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do
patrimônio mínimo do infante.
III- A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos deve ser
equitativa, tendo em vista que a indenização ação deverá ser equânime, sem
a privação do mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz.

166
IV- O Código Civil, ao se referir a autoridade e companhia dos pais em relação
aos filhos, no que diz respeito ao dever de indenizar, quis explicitar o poder
familiar, compreendendo um plexo de deveres, independentemente da
vigilância investigativa e diária, sendo irrelevante a proximidade física no
momento em que os menores venham a causar danos, salvo em caso de
residência permanente em local distinto daquele no qual mora o menor
com o outro genitor.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) Somente a sentença IV está correta.
d) ( ) Somente a sentença II está correta.
e) ( ) Somente a sentença III está correta.

FONTE: Banca: UERR – Órgão: CODESAIMA – Prova: Advogado – Ano: 2017.

6 Com relação à responsabilidade civil e ao dever de indenizar, assinale a


alternativa CORRETA:

a) ( ) Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem


ressalvar as quantias recebidas, ficará obrigado a pagar ao devedor
o dobro do que houver cobrado; não se aplicará tal pena se o autor
desistir da ação antes de contestada a lide, salvo ao réu o direito de
haver indenização por algum prejuízo que prove ter sofrido.
b) ( ) No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras
reparações, no pagamento das despesas com o tratamento da vítima,
seu funeral e o luto da família, bem como na prestação de alimentos às
pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta as possibilidades
do ofensor e as necessidades dos alimentados.
c) ( ) Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o
seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a
indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao
fim da convalescença, incluirá pensão correspondente a, no máximo,
um sexto dos rendimentos do ofensor.
d) ( ) Havendo usurpação ou esbulho do alheio, além da restituição da
coisa, a indenização consistirá em pagar o valor das suas deteriorações
e o devido a título de lucros cessantes; faltando a coisa, dever-se-á
reembolsar o seu equivalente ao prejudicado, e, caso não exista a
própria coisa, a estimar-se-á pelo seu preço ordinário e pelo de afeição,
mesmo que este se avantaje àquele.
e) ( ) Os pais, desde que exista culpa in vigilando, responderão pelos atos
praticados pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em
sua companhia, podendo reaver destes, se relativamente incapazes, o
valor efetivamente pago.

FONTE: Banca: VUNESP – Órgão: Câmara Municipal de Jaboticabal/SP – Ano: 2018.

167
7 Com relação à responsabilidade civil, analise as sentenças a seguir:

I- Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem


ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de
um autor, todos responderão subsidiariamente pela reparação.
II- O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos
casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que
faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora
estipulados, e a pagar as custas em dobro.
III- A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor,
quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
IV- Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que
houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for
descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.
V- Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou parcialmente, sem
ressalvar as quantias do que for devido, ficará no primeiro caso obrigado
a devolver o equivalente do que exigiu do devedor e, no segundo caso, a
pagar-lhe o dobro do que foi cobrado, em qualquer circunstância.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, III e V estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) As sentenças III e V estão corretas.
e) ( ) As sentenças II, IV e V estão corretas.

FONTE: Banca: Fundação Carlos Chagas (FCC) – Órgão: TRT 6ª Região (PE) – Prova:
Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal – Ano: 2018.

168
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

1 INTRODUÇÃO
Da análise acerca da responsabilidade civil realizada até o presente
momento, depreende-se que seu fato gerador fundamental é o objetivo de
restabelecer a estabilidade econômica ou moral abalada em decorrência do dano
suportado pela vítima, isto é, a responsabilidade civil procura posicionar a vítima
na condição em que se encontraria caso o evento danoso não tivesse acontecido.

Por conseguinte, este tópico tem a finalidade de indicar, examinar e


conceituar as diferentes modalidades de responsabilidade civil. Para tanto, será
procedida uma exposição das teorias empregadas pelos principais doutrinadores
e estudiosos da responsabilidade civil, sempre com base na regulamentação
apresentada no Código Civil.

Cumpre destacar que a responsabilidade civil pode ser classificada nas


seguintes espécies: contratual, extracontratual, subjetiva e objetiva.

Desse modo, as espécies de responsabilidade contratual e extracontratual,


verificam-se quando as partes compreendidas no ajuste de vontades optam por
formalizar o trato. Assim, questões indenizatórias podem surgir em todas as fases
da negociação.

Já a responsabilidade subjetiva advém da culpa, ou seja, de uma conduta


deliberada que provoca prejuízos a outrem. Em contrapartida, a responsabilidade
objetiva, que advém da teoria do risco, determina que a indenização à vítima deve
existir ainda que a culpa não tenha sido demonstrada, desse modo, a ocorrência
do dano combinado com o nexo de causalidade já se mostram aptos para gerar a
responsabilidade civil objetiva.

2 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL


O Código Civil diferencia a responsabilidade civil contratual da
extracontratual, tal distinção será tratada neste item. Incialmente, pode-se conceituar
a responsabilidade contratual como a que advém do descumprimento de um negócio
jurídico. Em outras palavras, o ilícito contratual é motivado pelo inadimplemento de
uma obrigação consolidada entre as partes, por meio de um contrato.

169
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

O contrato, por sua vez, como todo vínculo jurídico, estabelece a ligação
que emana da manifestação de vontade dos contratantes, gerando uma obrigação
recíproca para os pactuantes.

Cabe destacar o conceito de contrato, fundamental para a compreensão


dessa espécie de responsabilidade civil, que para Diniz (2005, p. 24) “é o acordo
de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a
estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com escopo de
adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial”.

Ademais, a responsabilidade civil contratual está disciplinada no art. 389


do Código Civil, consoante verifica-se a seguir.

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 389. Não cumprida a obrigação,


responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”.

Outrossim, de acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2020, p. 19):

[...] para caracterizar a responsabilidade civil contratual, faz-se


mister que a vítima e o autor do dano já tenham se aproximado
anteriormente e se vinculado para o cumprimento de uma ou mais
prestações, sendo a culpa contratual a violação de um dever de
adimplir, que constitui justamente o objeto do negócio jurídico, ao
passo que, na culpa aquiliana, viola-se um dever necessariamente
negativo, ou seja, a obrigação de não causar dano a ninguém.

Por este motivo, depreende-se que a responsabilidade contratual


representa a violação de uma obrigação específica ajustada por meio da vontade
dos contratantes, assim, é originada de uma relação obrigacional já existente,
presumindo a observância da capacidade para contratar, com a verificação dos
requisitos essenciais de validade, os quais conduzem todos os contratos, sendo
eles: agente capaz; objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma
prescrita ou não defesa em lei; ressalta-se que, sem o cumprimento dos citados
pressupostos, o contrato será reputado como nulo.

170
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I- agente capaz;
II- objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III- forma prescrita ou não defesa em lei”.

Destarte, nota-se que a responsabilidade contratual é a consequência da


ofensa a uma obrigação antecedente. Como exemplo dessa modalidade pode-
se citar o comodatário que provoca de maneira culposa o perecimento da coisa
emprestada, acabando por não realizar a sua devolução; ou ainda a seguradora
que deixa de pagar uma indenização devida ao segurado de forma dolosa.

Em contrapartida, a responsabilidade extracontratual, também chamada


de responsabilidade aquiliana, é aquela que provém de um ilícito extracontratual,
ou seja, deriva da execução de um ato ilícito sem a existência de ligação prévia
entre as partes, tendo em vista que estas não se vinculam previamente em uma
relação contratual ou obrigacional.

É importante esclarecer a diferença existente entre a responsabilidade


civil contratual e a extracontratual. Nas palavras de Cavalieri Filho (2007, p. 30):

Se preexiste um vínculo obrigacional, e o dever de indenizar é


consequência do inadimplemento, temos a responsabilidade
contratual, também chamada de ilícito contratual ou relativo; se esse
dever surge em virtude de lesão a direito subjetivo, sem que entre o
ofensor e a vítima preexista qualquer relação jurídica que o possibilite,
temos a responsabilidade extracontratual, também chamada de ilícito
aquiliano ou absoluto.

Como se pode perceber, a responsabilidade civil extracontratual possui


como causa a não observância da lei, representando a violação de direito, sem
a prévia existência de vínculo jurídico entre a vítima e o causador do dano. Um
exemplo dessa espécie de responsabilidade civil é a ocorrência do atropelamento
de um pedestre, provocando lesão corporal, de modo que o responsável pelo
dano deve repará-lo, nos termos do art. 949 do Código Civil.

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à
saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até
ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido”.

171
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

Isto posto, conclui-se que a distinção entre os tipos de responsabilidade


civil estudados neste tópico concentra-se no fato de que a contratual existe em
função de um contrato que liga previamente as partes, enquanto a extracontratual
nasce do descumprimento de um preceito legal.

3 RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA


O Código Civil brasileiro elegeu como princípio geral a responsabilidade
civil subjetiva, prevista no art. 186, assim, em conformidade com a teoria clássica,
o transgressor tem o dever de indenizar ou de remir o dano, ocasionado desde que
sejam constatados o nexo causal e a sua culpabilidade.

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Portanto, esclarece Rodrigues (2003) que essa modalidade é baseada na


culpa, ao passo que a responsabilidade do sujeito causador do dano apenas se
caracteriza se este atuou de maneira culposa ou dolosa, isto é, é imprescindível
que, perante o exercício integral das suas competências mentais, o sujeito tenha
de fato almejado prejudicar outrem.

Logo, a responsabilidade civil subjetiva se cumprirá no momento em que


o agente responsável obtiver resultado em razão da culpa ou do dolo de uma
determinada atitude ilícita, sendo obrigado a indenizar o dano causado caso se
confirme sua responsabilidade.

Como exemplo é possível citar o acidente de um ônibus de turismo, onde o


motorista do veículo será obrigado a indenizar os prejuízos se comprovada a intenção
de praticar aquele ato ou, ainda, se existir negligência, imprudência ou imperícia.

4 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA


A responsabilidade civil objetiva ou responsabilidade sem culpa é
evidenciada por três requisitos básicos: conduta, dano e nexo de causalidade, não
se exigindo a comprovação de culpa do agente.

172
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

No Código Civil, em seus artigos 186, 187 e 927 (caput), permaneceu a


regra geral da responsabilidade civil subjetiva, fundamentada na teoria da
culpa. No entanto, o parágrafo único do artigo 927 determina uma cláusula
aberta ou geral de responsabilidade objetiva.

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 927. Parágrafo único. Haverá obrigação
de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para
os direitos de outrem” (BRASIL, 2002).

Nesse sentido é o entendimento de Ripert (2002, p. 215), que ao ponderar


sobre a teoria do risco explica que: “não é por ter causado o risco que o autor é
obrigado à reparação, mas sim porque o causou injustamente, o que não quer
dizer contra o direito, mas contra a justiça”. Assim, o Código Civil recepciona a
teoria do risco, inovando no sentido da obrigação de reparar, ainda que a ação
não seja culposa.

Destarte, a fim de acompanhar a nova conjectura social, bem como


responder às expectativas comunitárias contemporâneas, foi desenvolvida a
teoria do risco integral, que torna dispensável, em certos contextos, a verificação
da culpa do agente causador do dano para a reparação civil. Seguindo a mesma
linha de raciocínio, assevera Cavalieri Filho (2007, p. 16) que:

Por essa concepção clássica, todavia, a vítima só obterá a reparação


do dano se provar a culpa do agente, o que nem sempre é possível
na sociedade moderna. O desenvolvimento industrial, proporcionado
pelo advento do maquinismo e outros inventos tecnológicos, bem
como o crescimento populacional geraram novas situações que não
podiam ser amparadas pelo conceito tradicional de culpa.

Desse modo, a execução de uma ilicitude ou violação de um direito de


outra pessoa, para ser debatida e provada em juízo, independe da verificação de
culpa ou implicação do agente responsável pelo dano, podendo ser aplicada tal
teoria somente se houver lei expressa que autorize.

Como exemplo, pode-se imaginar a situação na qual um veículo oficial


colide com o carro de um civil. Apesar de o motorista do Estado ter agido alheio
às orientações do órgão estadual no qual trabalha, ao Estado resta apenas reparar
o dano, a despeito de alegar que o servidor público utilizou o veículo de forma
imprudente. Constata-se, aqui, clara exemplificação da responsabilidade objetiva
do Estado.

173
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

DICAS

Para aprofundar os conceitos acerca das espécies de responsabilidade


civil objetiva e subjetiva, recomenda-se a leitura do artigo de Luciana Carone Nucci
Eugenio Mahuad e Cassio Mahuad, intitulado “Imputação da responsabilidade civil:
responsabilidade objetiva e subjetiva”. Acesse: http://www.tjsp.jus.br/download/EPM/
Publicacoes/ObrasJuridicas/rc2.pdf?d=636680468024086265.

E
IMPORTANT

EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA (FUNDAMENTADA


NA CULPA) PARA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA (FUNDAMENTADA NO RISCO)

A responsabilidade civil subjetiva, fundada na culpa, sempre foi o fundamento


basilar de todos os ordenamentos jurídicos. A culpa exprime um juízo de reprovabilidade
pessoal do agente e, por isso, a sociedade, que clama por segurança jurídica, tendencia a
entender que somente poderia uma pessoa ser compelida a reparar o dano que causou na
hipótese de ter agido de maneira reprovável, ao menos de modo culposo.

A ideia da responsabilidade fundada na culpa tem uma forte ligação com o


respeito pela liberdade da ação humana e econômica, fundamentos dos princípios basilares
da Revolução Francesa: igualdade, liberdade e fraternidade. Assim sendo, o Código Civil
Francês, conhecido por Código Napoleônico, editado em 1804 sob fortes influências da
Revolução, preconizou como fundamento basilar do dever de reparar os danos causados
a existência da culpa. É fato incontroverso que o Código Civil Francês influenciou outras
legislações que preconizaram o mesmo sistema.

A doutrina discutiu muito acerca da definição do exato momento do início


do desenvolvimento da teoria da responsabilidade civil objetiva. É fato incontroverso a
importância da doutrina francesa no desenvolvimento da teoria.

Aguiar Dias, profundo conhecedor do tema, admite a primazia reclamada


por Marton para a doutrina germânica, notadamente para Thomassius e Heinecius, ao
sustentarem a possibilidade de responsabilização dos incapazes, independentemente de
culpa; entretanto, aponta o trabalho de sistematização da doutrina francesa como propulsor
da responsabilidade civil objetiva nos ordenamentos jurídicos. Segundo o Aguiar Dias,
foram Salleiles e Josserand os precursores da teoria do risco. Diverge, ainda, dos irmãos
Mazeuad que sustentavam a existência de uma forte influência do positivismo penal em
alguns partidários da teoria do risco. O principal fundamento da existência dessa teoria não
é a influência do positivismo penal, mas sim o sentimento de solidariedade.

A revolução industrial, responsável pelo crescimento tecnológico e industrial,


surge em um momento similar com a concretização da culpa como ponto central da
existência do dever de reparar os danos. A revolução trouxe um novo tipo de acidente,
agora anômalo e impessoal. Ao mesmo tempo em que ela – a culpa – confere segurança
jurídica às pessoas, em outras situações, cria uma imensa dificuldade para alguns lesados

174
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

verem seus danos reparados. A prova da culpa do lesante, considerando a complexidade


das etapas da produção industrial e das evoluções tecnológicas, transformou o elemento
propulsor de uma segurança jurídica em obstáculo para a concretização da justiça.

Nos ensinamentos de Antunes Varela, “Torna-se necessário, quando assim seja,


temperar o pensamento clássico da culpa com certos ingredientes sociais de caráter
objetivo”. A responsabilidade objetiva pelo risco está ligada à ideia de justiça distributiva
segundo a qual quem tira o lucro ou de certa forma se beneficia da atividade perigosa
criada, causando prejuízos a terceiros, deve suportar os correspondentes encargos. Assim
sendo, o direito claramente modifica o seu enfoque; deixa de olhar para o lesante, passando
a dar mais atenção à figura do lesado e do próprio dano.

A visualização dessa dicotomia é de extrema importância para a evolução da


responsabilidade civil. Ao se verificar que a análise estática da culpa em todos os casos
geraria uma grande injustiça, passa-se a aferir conjuntamente o dano. Nessa análise
verifica-se a necessidade de aprimoramento do sistema, visto que em algumas situações
exigir do lesado a prova da culpa do lesante é conferir a este um ônus tão difícil, que geraria
uma grande injustiça no sistema. Segundo Larenz, a ilicitude é o pressuposto fundamental
da responsabilidade civil subjetiva, ao passo que a teoria do risco prescinde da ilicitude.

As injustiças geradas pela dificuldade da comprovação da culpa pelo suposto


lesante não ensejaram o surgimento automático da previsão da responsabilidade civil
objetiva. É possível visualizar que a doutrina e a jurisprudência percorreram um longo
caminho até o aumento das hipóteses legais da previsão do dever de reparar o dano,
independentemente da culpa.

Diante desses fatos, as legislações começaram a preconizar, inicialmente, a


possibilidade da inversão do ônus da prova em algumas situações. Cuida-se da chamada
responsabilidade civil subjetiva com culpa presumida. Nesse caso, não cabe mais ao lesado
comprovar a conduta inadequada do suposto autor do dano. O ônus da prova passa a recair
contra esse último, e, em face dessa inversão, transfere-se ao suposto causador do dano o
dever de comprovar a atuação em conformidade com os deveres objetivos de cuidado, ou
seja, sem culpa, sob pena de ser compelido a reparar o dano causado. No presente caso, a
culpa ainda pode ser discutida, diferente do que acontece na responsabilidade objetiva.

Outra forma de diminuir as injustiças geradas pelo rigor da prova da culpa encontra-
se em um alargamento da adequação de alguns fatos às hipóteses de responsabilidade
civil contratual. Alguns doutrinadores passaram a defender que em certas situações, como
por exemplo, no transporte de passageiros, a ocorrência de danos em razão de acidentes
gerava o descumprimento do contrato de transporte. Em tal negócio jurídico existia um
núcleo essencial – a obrigação de levar o passageiro incólume ao seu destino –, e seu
descumprimento, por si só, já fazia nascer o incumprimento contratual e o dever de reparar
o dano. O raciocínio ora exposto também era aplicado nos danos ocorridos durante o
trabalho, no qual também vigorava um contrato entre empregado e empregador.

A teoria da culpa presumida e a ampliação da incidência das regras da


responsabilidade civil contratual foram incontestáveis avanços à mitigação do rigor da
teoria subjetivista, que, como já dito, gerava várias injustiças na aplicação das regras de
reparação do dano.

Nesse ponto, é inegável a importância dos estudos da Responsabilidade Civil no


Direito Francês, no qual a grande batalha entre as teorias subjetiva e objetiva era travada.
Discutia-se, inicialmente, qual delas deveria preponderar e ser aplicada; depois, começou-
se a verificar a possibilidade da conjugação dos dois sistemas de forma conjunta. A

175
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

convivência harmônica entre os dois sistemas é atualmente adotada na grande maioria


dos ordenamentos jurídicos; no entanto, é de vital importância tecer alguns comentários
sobre os fundamentos doutrinários e históricos de tais divergências.

Raymond Saleilles foi o grande propulsor da teoria objetivista fundada no risco ao


interpretar, no ano de 1897, os artigos 1.382 e 1.384 do Código Civil Francês. Na verdade
foi reconhecido por toda a doutrina à época, e pelo próprio autor posteriormente, o
grande esforço realizado para tentar vislumbrar na legislação francesa uma regra objetiva.
A conclusão de Saleilles é totalmente oposta a toda a doutrina que enxergava na
expressão faute o elemento subjetivo anímico (culpa), fundamento basilar da teoria da
responsabilidade civil subjetiva. O enfrentamento do tema é de muita importância para o
desenvolvimento da teoria do risco, visto que o autor demonstrava de maneira indiscutível
as injustiças causadas pelo sistema legal.

A maioria dos autores franceses da época sustentava de maneira ferrenha a


interpretação literal do Código Civil Francês de 1804 que possuía uma regra geral de
responsabilidade civil subjetiva e, em razão disso, rechaçava por completo a adoção
da teoria objetiva. A doutrina não extraía da expressão faute nenhuma conotação de
objetivação da responsabilidade civil, mas sim a existência de uma cláusula geral da
responsabilidade subjetiva.

Posteriormente, a própria jurisprudência francesa passou a interpretar as regras do


Código Civil de maneira extensiva, conferindo eficácia à teoria da responsabilidade objetiva
fundada no risco. A exegese francesa não excluía a responsabilidade subjetiva. Realizou-se
um processo interpretativo de disposições do Código Civil, mantendo o princípio da culpa
como regra basilar do sistema, e se admitiu a possibilidade de convivência no ordenamento
jurídico dos dois sistemas, quais sejam, uma regra geral fundamentada na culpa e a incidência,
excepcionalmente, de hipóteses de responsabilidade civil objetiva, em que o autor do dano
responde independentemente da culpa.

O alargamento feito pela jurisprudência francesa, que acolheu a interpretação


extensiva do preconizado no artigo 1.384, n° I, do Código Civil, não ensejou o abandono da
teoria subjetiva, mas sim o nascimento de um novo princípio objetivista que acompanhava
a evolução da sociedade, principalmente no campo tecnológico e industrial, por intermédio
da teoria do risco.

Os ordenamentos jurídicos contemporâneos conjugam as duas teorias, logrando


conferir a devida segurança jurídica no estabelecimento da regra geral da responsabilidade
civil subjetiva, bem como acompanha a evolução da sociedade ao preconizar hipóteses
legais de responsabilidade civil objetiva, a maioria, notadamente, com fundamento no risco.

A sedimentação da responsabilidade civil objetiva nos ordenamentos jurídicos,


com fundamento na teoria do risco, tem ensejado uma nova discussão acerca da forma
de previsão desse instituto. Por tratar-se de uma situação excepcional, visto que todos
os sistemas ainda preconizam a responsabilidade civil subjetiva como regra, as hipóteses
de responsabilidade sem culpa são aquelas previstas em lei. Essa conclusão sempre se
coadunou com a segurança jurídica exigida pelo sistema. A ideia da culpa como cláusula
geral reflete a necessidade do descumprimento de um dever objetivo de cuidado, que
tendencia uma segurança nas relações sociais. As pessoas sabem que somente terão o
dever de indenizar, em regra, caso atuem com culpa.

FONTE: Navega, L. Expansão da responsabilidade civil objetiva: análise da (in)adequação da


inserção no ordenamento jurídico de uma cláusula geral de responsabilidade objetiva. Revista
do Ministério Público do Rio de Janeiro. N° 66, out./dez. 2017. Disponível em: https://www.
mprj.mp.br/documents/20184/1246489/Leandro_Navega.pdf. Acesso em: 12 jan. 2021.

176
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A responsabilidade contratual é aquela que advém do descumprimento de


um negócio jurídico. Em outras palavras, o ilícito contratual é motivado pelo
inadimplemento de uma obrigação consolidada entre as partes, por meio de
um contrato.

• O contrato representa todo vínculo jurídico que estabelece a ligação que


emana da manifestação de vontade dos contratantes, gerando uma obrigação
recíproca para os pactuantes.

• A responsabilidade extracontratual, também chamada de responsabilidade


aquiliana, é aquela que provém de um ilícito extracontratual, ou seja, deriva
da execução de um ato ilícito sem a existência de ligação prévia entre as
partes, tendo em vista que estas não se vinculam previamente em uma relação
contratual ou obrigacional.

• A responsabilidade civil subjetiva se materializa quando o agente responsável


obtiver resultado em razão da culpa ou do dolo de uma determinada atitude
ilícita, sendo obrigado a indenizar o dano causado caso se confirme sua
responsabilidade.

• A responsabilidade civil objetiva ou responsabilidade sem culpa é evidenciada


por três requisitos básicos: conduta, dano e nexo de causalidade, não se
exigindo a comprovação de culpa do agente.

177
AUTOATIVIDADE

1 Com base nas informações obtidas neste segundo tópico, diferencie a


responsabilidade civil contratual da extracontratual.

2 (ADAPTADA) Jonas, médico dermatologista, atende a seus pacientes em


um consultório particular em sua cidade. Ana Maria, após se consultar
com Jonas, passou a utilizar uma pomada indicada para o tratamento de
micoses, prescrita pelo médico. Em decorrência de uma alergia imprevisível,
sequer descrita na literatura médica, a pele de Ana Maria desenvolveu
uma grave reação à pomada, o que acarretou uma mancha avermelhada
permanente e de grandes proporções em seu antebraço direito. Indignada
com a lesão estética permanente que sofreu, Ana Maria decidiu ajuizar ação
indenizatória em face de Jonas. Tomando conhecimento, contudo, de que
Jonas havia contratado previamente seguro de responsabilidade civil que
cobria danos materiais, morais e estéticos causados aos seus pacientes, Ana
Maria optou por ajuizar a ação apenas em face da seguradora. A respeito
do caso narrado, responda fundamentadamente: provada a ausência de
culpa de Jonas, poderia Ana Maria ser indenizada?

FONTE: Banca: Fundação Getulio Vargas (FGV) – Prova: XXVI Exame de Ordem Unificado –
Órgão: Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Ano: 2018.

3 Analise as afirmativas a seguir:

I- A responsabilização civil no Novo Código Civil é, como regra geral,


subjetiva, respondendo-se, todavia, independentemente de culpa, se a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.
II- A responsabilização objetiva é a regra geral nos casos em que a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem.
III- A responsabilidade dos tutores pelos atos praticados por seus pupilos é
exemplo de responsabilidade civil transubjetiva.
IV- O dono ou detentor do animal ressarcirá o dano por este causado, salvo se
provar culpa da vítima ou força maior.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença III está correta.
b) ( ) Somente a sentença IV está correta.
c) ( ) Somente a sentença II está correta.
d) ( ) Somente a sentença I está correta.
e) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.

FONTE: Banca: IPAD – Órgão: HEMOPE – Ano: 2006.

178
4 Com relação à responsabilidade civil do médico profissional liberal, é
CORRETO afirmar que:

a) ( ) É objetiva, com presunção de culpa.


b) ( ) É objetiva, fundada no risco da atividade.
c) ( ) É objetiva por determinação de lei.
d) ( ) É subjetiva.
e) ( ) Poderá ser objetiva ou subjetiva, dependendo da especialidade
desenvolvida pelo médico.

FONTE: Banca: FUNDATEC – Prova: Advogado – Órgão: CREMERS – Ano: 2017.

5 Pedro descobriu que seu nome havia sido inscrito em órgãos de restrição
ao crédito por determinada instituição financeira em decorrência do
inadimplemento de contrato fraudado por terceiro. Nesse caso hipotético,
o que acontecerá com a instituição financeira?

a) ( ) Não responderá civilmente, uma vez que se trata de fato de terceiro,


mas deverá proceder à retirada do registro negativo no nome de Pedro.
b) ( ) Não responderá civilmente, porque a fraude configura uma excludente
de caso fortuito externo.
c) ( ) Responderá civilmente na modalidade objetiva integral.
d) ( ) Responderá civilmente apenas se Pedro comprovar que sofreu prejuízos
devido à inscrição de seu nome nos órgãos de restrição ao crédito.
e) ( ) Responderá civilmente na modalidade objetiva, com base no risco do
empreendimento.

FONTE: Banca: CESPE /CEBRASPE – Prova: Juiz Substituto – Órgão: TJ-CE – Ano: 2018.

6 Com relação à responsabilidade civil prevista no Código Civil, assinale a


alternativa CORRETA:

a) ( ) Todas as situações de fato previstas podem implicar responsabilidade


subjetiva ou objetiva, dependendo das circunstâncias a serem examinadas; a
indenização mede-se sempre pela extensão do dano, somente.
b) ( ) Em regra, a responsabilidade é objetiva e a indenização mede-se pela
gravidade da culpa; as atividades de risco conduzem à responsabilidade
objetiva integral.
c) ( ) Em regra, a responsabilidade é subjetiva e a indenização mede-se pela
extensão do dano; no entanto, haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando
a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar,
por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
d) ( ) Todas as situações de fato previstas no Código Civil dependem da
caracterização de culpa ou dolo, presumindo-se a culpa quando a
responsabilidade se der pelo risco atividade; a indenização será material
ou moral e mede-se pelas consequências causadas à vítima.

179
e) ( ) A reparação do dano material dependerá sempre de apuração de culpa,
enquanto a reparação do dano moral dar-se-á pelo só fato da coisa; a
indenização mede-se pela extensão do dano material ou pela gravidade
da conduta do ofensor na apuração do dano moral.

FONTE: Banca: Fundação Carlos Chagas (FCC) – Prova: Defensor Público/Reaplicação –


Órgão: DPE-AM – Ano: 2018.

180
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE E EFEITOS


CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

1 INTRODUÇÃO
É frequente, na sociedade contemporânea, a ocorrência de prejuízos e
danos, acarretando, com isso, a responsabilidade civil, com o objetivo de restaurar
o equilíbrio, patrimonial ou moral, que foi prejudicado com a prática de um ato
ilícito por parte de um ou vários sujeitos.

Como já constatado nos tópicos anteriores, a responsabilidade civil


compreende o direito das obrigações, tendo em vista que ao causador de uma
lesão a direito é possível atribuir a obrigação de indenizar, permitindo até mesmo
que o patrimônio do lesionante responda.

Contudo, em determinadas situações, pode estar ausente o nexo de


causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o comportamento do agente,
excluindo, desse modo, a responsabilidade civil, em razão da inobservância de
um de seus pressupostos.

Logo, verifica-se que as "causas de exclusão do nexo causal são, pois, casos
de impossibilidade superveniente do cumprimento da obrigação não imputáveis
ao devedor ou agente" (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 89).

Assim, neste item, parte do estudo será dedicado às hipóteses de exclusão


do nexo causal, quais sejam: culpa exclusiva da vítima; fato de terceiro, coisa ou
animal; e caso fortuito e força maior.

Além disso, também terá lugar, neste momento, a análise dos efeitos cíveis
da sentença penal. Cabe ressaltar que, não obstante as responsabilidades civil e
criminal sejam independentes e aplicadas observando parâmetros específicos,
existem situações em que a sentença penal, seja ela absolutória ou condenatória,
gera impactos afora do crime, impossibilitando, parcialmente, o reexame da
matéria discutida na decisão. Por conseguinte, afirma-se que a sentença penal
produz coisa julgada no âmbito civil, fazendo com que a temática já decidida na
esfera criminal se torne incontestável.

Ademais, as infrações penais que provocam danos a uma vítima, ou a


vítimas específicas, ocasionam reparação civil.

181
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

2 EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE


As hipóteses excludentes de responsabilidade civil são determinadas
por circunstâncias em que um dos seus pressupostos são rompidos, afastando o
nexo causal, de forma a dispensar, em regra, o pagamento de uma indenização
pelo agente causador do dano.

A partir disso, passa-se à análise pormenorizada de cada uma das


situações excludentes do nexo de causalidade.

2.1 CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA


A culpa exclusiva da vítima é causa de exclusão do nexo causal, onde o
agente responsável pelo dano é um simples objeto do acidente.

Neste tipo de excludente do nexo de causalidade, apesar de observar o


dano e a conduta do autor, este não será culpado, caso seja demonstrada a culpa
exclusiva da vítima.

O causador do dano é apenas instrumento do incidente, dessa forma, não


se pode falar em falta de causalidade entre a conduta do agente e o infortúnio
ocasionado. A conduta do responsável é absorvida pelo comportamento da
vítima, o responsável atuará apenas como intermediário na produção do dano.

O comportamento da vítima na apresentação do resultado anula ou reduz


a culpabilidade do causador, a medida em que o feito do agente seja concomitante
ou exclusivo na produção do dano.

Para averiguar a responsabilidade, deve-se levar em consideração a ação


da vítima na apuração do dano, avaliar a atitude que cada um teve na ocasião do
dano, para que se possa reduzir o valor da indenização.

Rodrigues (2003, p. 166) oferece um exemplo para que se possa


compreender satisfatoriamente a culpa exclusiva da vítima:

Se esta foi atropelada ao atravessar, embriagada, uma estrada de


alta velocidade, é inescondível o fato de que o doloroso evento
derivou de sua exclusiva culpa, não se podendo atribuir senão a ela a
responsabilidade pelo ocorrido. Impossível falar em relação de causa e
efeito entre o ato do motorista e o falecimento da vítima.

A culpa exclusiva da vítima, nesse caso, não pode ser presumida,


deverá ser provada sua participação na produção do evento danoso para que se
determine o dever de indenizar.

182
TÓPICO 3 — EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE E EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

Outro exemplo dessa excludente se materializa quando uma pessoa, na


tentativa de cometer suicídio, se joga contra um veículo em movimento. Em tal
evento não é possível caracterizar a atuação culposa do motorista, e nem sequer o
nexo causal, para fins de responsabilidade civil.

2.2 FATO DE TERCEIRO, COISA OU ANIMAL


O excludente do fato de terceiro acontece nas situações em que há
intervenção de pessoa diferente da vítima e do agente. No entanto, é indispensável
que se realize uma investigação acerca da extensão da conduta do terceiro no
fenômeno danoso, tendo em vista que a sua natureza influencia na exclusão ou
não da responsabilidade do indivíduo causador.

Logo, a ação que originou o evento nocivo deve ter ocorrido


comprovadamente por ilícito praticado exclusivamente por terceiro.
Nesse sentido, destaca Lopes (2001, p. 215) que “a sua força excludente da
responsabilidade depende tão só de ficar demonstrado que o dano partiu
exclusivamente do fato de terceiro, caso em que o ofensor material fica isento
de toda e qualquer responsabilidade”.

Verifica-se, desse modo, que a atuação de um terceiro pode excluir a


responsabilidade do agente material do ato. Importante esclarecer, ainda, que:

Terceiro, é qualquer pessoa além da vítima e o responsável, alguém


que não tem nenhuma ligação com o causador aparente do dano e o
lesado. Pois, não raro, acontece que o ato de terceiro é a causa exclusiva
do evento, afastando qualquer relação de causalidade entre a conduta
do autor aparente e a vítima (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 64).

Contudo, para que o fato de terceiro realmente exclua a responsabilidade


do agente imediato, faz-se necessário que tal fato rompa o nexo de causalidade
entre o responsável e o prejuízo suportado pela vítima.

É possível citar como exemplo de fato de terceiro, situação excludente


da responsabilidade civil, o caso do pedestre atropelado por um motorista
de aplicativo em função de um ônibus desgovernado que arremessa o carro
conduzido por aquele sobre a vítima.

Cumpre ressaltar que, em determinadas circunstâncias, a lei e a


jurisprudência não permitem a exclusão da responsabilidade civil por fato de
terceiro, como é o caso do transportador na ocorrência de acidente com passageiros.

183
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 735. A responsabilidade contratual do


transportador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o
qual tem ação regressiva” (BRASIL, 2002).

E
IMPORTANT

A Súmula 187 do STF estabelece in verbis: “A responsabilidade contratual do


transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra
o qual tem ação regressiva”.

A título exemplificativo, uma das hipóteses em que a excludente de


responsabilidade em razão do fato de terceiro não é aplicada é a ocorrência de
acidente com um ônibus durante seu percurso, devendo a empresa de transporte
indenizar os passageiros lesionados, sendo facultada a ação de regresso em face
do verdadeiro responsável pelo sinistro.

Além disso, há que se analisar a responsabilidade civil pelo fato da coisa


ou animal. A partir do avanço tecnológico, não somente o homem pode causar
sérias ameaças à integridade física ou ao patrimônio de outrem, mas assim
também o fazem animais e coisas.

Aplica-se a responsabilidade aos sujeitos que possuem o poder diretivo


sobre animais e coisas motivadoras de prejuízos a terceiros, pois tais danos não
devem ser negligenciados sem que ocorra o seu devido ressarcimento.

NOTA

O emprego do termo “fato” no lugar de “ato” propicia a compreensão de que a


citada responsabilidade tem origem em uma intervenção não humana. No entanto, a este
humano recairá a obrigação de indenizar a ofensa por se tratar do responsável pelo animal
ou pelo objeto.

184
TÓPICO 3 — EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE E EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

Em regra, o proprietário se responsabiliza por tudo que lhe pertence. Desse


modo, percebe-se que o dono responde pelos seus bens quando ficar comprovada
a sua culpa. Entretanto, o Código Civil definiu alguns objetos específicos que
possuem mais probabilidade de gerar danos, conforme se verá a seguir.

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 936. O dono, ou detentor, do animal


ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem
de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.

Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente
das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido”.

Segundo os dispositivos supracitados, constata-se que a obrigação de


indenizar não está restrita ao comportamento do próprio indivíduo, visto que
engloba a responsabilidade civil pelo fato da coisa ou animal.

A aplicação do preceito contido no artigo 936 do Código Civil pode ser


exemplificada pela fuga de um cão feroz através do portão aberto da residência
do tutor, que ataca um transeunte, causando sérias lesões à vítima. Assim, o
responsável pelo animal tem obrigação de indenizar os danos.

Já a situação compreendida no artigo 937 do referido diploma legal é


demonstrada por meio do desprendimento de uma placa de concreto de um
prédio, em estado nitidamente precário e sem qualquer sinalização de perigo,
atingindo um pedestre que transita pela calçada, originando, dessa maneira, o
dever de reparar por parte do proprietário do edifício.

Por fim, como exemplo do artigo 938, ainda do Código Civil, é possível
imaginar a cena em que, em decorrência de uma briga entre os moradores, um
vaso é arremessado de um dos apartamentos do condomínio, acertando uma
pessoa que passa pelo local neste exato momento. Por conseguinte, aos habitantes
de onde foi lançado o objeto será atribuída a responsabilidade civil.

185
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

É necessário salientar que:

[...] se o dano é imputado a condomínio, não se podendo identificar a


unidade habitacional de onde partiu a coisa, a jurisprudência tem adotado
o critério de responsabilizar apenas o bloco de apartamento de onde
se poderia, segundo a lógica dos fatos, partir o objeto. Dessa maneira,
os moradores do bloco ou face do prédio oposto ao local do dano não
seriam admitidos como parte legítima para responderem na demanda
indenizatória (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2020, p. 180).

Conclui-se que as regras de responsabilidade civil pelo fato da coisa ou do


animal têm como finalidade primordial não somente o ressarcimento dos danos
à vítima, mas também possui o objetivo de coibir condutas que prejudiquem
terceiros, atribuindo o dever de indenizar aos proprietários e/ou construtores de
coisa ou animal.

2.3 CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR


O caso fortuito e a força maior, enquanto excludentes da responsabilidade
civil, observam-se nos incidentes necessários, dos quais os resultados não
poderiam ser impedidos ou afastados. São acontecimentos contingentes, ou de
difícil prognóstico, que não podem ser evitados. Tais excludentes encontram-se
disciplinadas no art. 393 do Código Civil.

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 393. O devedor não responde pelos
prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por
eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos
efeitos não eram possíveis evitar ou impedir”.

Rizzardo (2006, p. 91), no tocante às excludentes do caso fortuito e da


força maior, explica que:

O Código empresta o mesmo significado às expressões, como


ocorria com o Código de 1916. Considera a força maior ou o caso
fortuito o acontecimento, previsível ou não, que causa danos e cujas
consequências são inevitáveis. Ou, o que vem a dar no mesmo, ocorre
um fato sem que o homem, especialmente o devedor, tenha dado
causa. De ordinário, é de acontecimento natural que se trata.

186
TÓPICO 3 — EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE E EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

Por outro lado, Cavalieri Filho (2007, p. 65) ressalta diferenças nas
definições das excludentes investigadas:

Estaremos em face do caso fortuito quando se tratar de evento


imprevisível e, por isso, inevitável, se o evento for inevitável, ainda
que previsível, por se tratar de fato superior às forças do agente, como
normalmente são os fatos da natureza, como as tempestades, enchentes
etc., estaremos em face da força maior, como o próprio nome diz.

Logo, caso fortuito é uma situação causada por atos humanos que
interferem nas ações de outros indivíduos. De acordo com Venosa (2016, p. 300),
"é a situação que decorre de fato alheio à vontade da parte, mas proveniente de
fatos humanos”. Como uma greve, impedindo o cumprimento da obrigação.

Desse modo, afasta a culpa do contratante inadimplente, levando em


conta que o não cumprimento do compromisso não ocorreu nem por sua vontade
e tampouco por imprudência de sua parte, mas por um evento alheio a sua ação.

Em contrapartida, a força maior está relacionada a um acontecimento de


fatos externos, independente da intervenção do ser humano, que impossibilita o
cumprimento das obrigações.

Esses acontecimentos externos podem ser: fato do príncipe (ordem de


autoridades), fenômenos naturais (inundações, terremotos, pandemias etc.), ou,
ainda, de ordem política (revoluções, guerras etc.).

Na opinião de Diniz (2019, p. 193), força maior é o:

[...] motivo ou a causa que dá origem ao acontecimento, pois se


trata de um fato da natureza, p. ex. um raio que provoca incêndio;
inundação que danifica produtos ou intercepta as vias de comunicação,
impedindo a entrega da mercadoria prometida, ou um terremoto que
ocasiona grande prejuízos etc.

No geral, entende-se que força maior está nos acontecimentos naturais,


que podem ser previstos, mas não podem ser evitados, por exemplo, geadas,
inundações etc.

Venosa (2016, p. 299) reitera que “caso fortuito e força maior são situações
invencíveis, que refogem às forças humanas, ou às forças do devedor em geral,
impedindo e impossibilitando o cumprimento da obrigação”. Portanto, no caso
fortuito, bem como na força maior, não existe culpa do obrigado, ficando este
dispensado da responsabilidade, sem qualquer pagamento de indenização.

Cumpre esclarecer que caberá ação judicial, e o contratante será


responsabilizado e obrigado a remir os prejuízos, se constar cláusula expressa em
contrato ou se aquele já se achava em mora antes do ocorrido de caso fortuito ou
força maior.

187
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 399. O devedor em mora responde


pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou
de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou
que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada”.

De forma exemplificativa à aplicação do dispositivo supracitado, é possível


mencionar a situação na qual uma pessoa, que possuía um carro em empréstimo
(comodato), tem este inutilizado por uma chuva torrencial que o arrasta para
uma vala, após transcorrido o prazo para a devolução do veículo (mora).

Nesse exemplo, como se pode perceber, o comodatário deve indenizar


o comodante pelos danos causados ao veículo automotor, salvo se comprovar
que os mesmos aconteceriam ainda que o adimplemento da prestação tivesse
ocorrido no termo ajustado.

3 EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL


Via de regra, apenas um delito ataca inúmeros bens jurídicos, causando
violação concreta ou iminente às vítimas, titulares dos interesses tutelados. Em
virtude disso, surge a pretensão punitiva estatal para empregar a sanção penal,
além da intenção de cominar indenização aos prejuízos.

Observa-se que, no direito pátrio, a responsabilidade civil é usualmente


autônoma em relação à reponsabilidade criminal, predominando, assim, o
princípio da independência das ações.

E
IMPORTANT

O Código Civil estabelece in verbis: “Art. 935. A responsabilidade civil é independente


da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o
seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”.

Não obstante, a autoria e a materialidade do crime transpõem barreiras,


alcançando a ilicitude cível da conduta, conforme se depreende do Código de
Processo Penal.

188
TÓPICO 3 — EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE E EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

E
IMPORTANT

O Código de Processo Penal estabelece in verbis: “Art. 63. Transitada em


julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o
efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do
dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o
responsável civil.
Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta,
até o julgamento definitivo daquela”.

Destarte, o dever de indenizar os prejuízos causados pelo delito é


consequência da própria condenação penal.

E
IMPORTANT

O Código Penal estabelece in verbis: “Art. 91. São efeitos da condenação: I -


tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime” (BRASIL, 2002).

Ademais, a sentença criminal definitiva representa um título executivo


judicial, detentor de exigibilidade e certeza, porém, ausente de liquidez.

E
IMPORTANT

O Código de Processo Civil estabelece in verbis: Art. 515. São títulos executivos
judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: VI - a
sentença penal condenatória transitada em julgado”.

Por conseguinte, em razão da falta de liquidez, a sentença condenatória


penal poderá ser liquidada observando os procedimentos dispostos no Código de
Processo Civil, por arbitramento ou pelo procedimento comum, contabilizando, neste
momento, o importe da reparação, bem como quem é legitimado para recebê-la.

189
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

E
IMPORTANT

O Código de Processo Civil estabelece in verbis: Art. 509. Quando a sentença


condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento
do credor ou do devedor:
I- por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou
exigido pela natureza do objeto da liquidação;
II- pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo”
(BRASIL, 2002).

NOTA

Os requisitos necessários à execução civil mencionados anteriormente,


incluindo também as modalidades de liquidação, serão estudados com profundidade na
disciplina de Direito Processual Civil.

Outrossim, a fim de exemplificar a aplicabilidade dos efeitos cíveis da


sentença penal, pode-se imaginar um indivíduo que causou lesão corporal grave
a outrem por dirigir veículo automotor alcoolizado, sendo condenado por tal
fato criminalmente. Nesse caso, a sentença penal poderá ser remetida ao juízo
cível, que tomará ciência das circunstâncias e atribuirá valor aos danos, sejam eles
materiais, morais ou estéticos, indenização esta que será destinada à vítima ou a
sua família.

DICAS

Para elucidar mais claramente as situações nas quais são aplicadas as


excludentes de caso fortuito ou força maior, recomenda-se a leitura de uma notícia
vinculada no site do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que lista julgados exemplificativos
de tais hipóteses, disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias/Caso-fortuito--forca-maior-e-os-limites-da-responsabilizacao.aspx.

190
TÓPICO 3 — EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE E EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

LEITURA COMPLEMENTAR

CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR: O PAPEL DA CULPA PARA


A SUA CARACTERIZAÇÃO

Jorge Cesa Ferreira da Silva

Se, no plano social, a pandemia de Covid-19 ensejou consequências das


mais diversas ordens, no plano jurídico, especialmente no contratual, ela teve
como um dos seus mais perceptíveis efeitos a colocação do conceito – ou, se se
quiser, dos conceitos – de caso fortuito e força maior no centro das discussões.
O caso fortuito ou de força maior, a seguir tratados como sinônimos sob a sigla
CF/FM, tem utilização rotineira em nosso Direito, seja em contratos, seja pelos
tribunais. No entanto, acabou recebendo limitado foco doutrinário no Brasil, ao
menos desde a publicação, na década de 1930, do hoje clássico "Caso Fortuito
e Teoria da Imprevisão", de Arnaldo Medeiros da Fonseca. Com a pandemia, a
situação se alterou, pois o CF/FM, por corresponder a uma das possíveis respostas
jurídicas a fatos supervenientes ao nascimento do vínculo, passou a ser lembrado
como fonte dos mais diversos efeitos, desde a tradicional liberação do devedor,
até a errônea (porque infundada) revisão contratual.

Por isso, faz-se aconselhável retornar mais uma vez ao tema, de modo
a rememorar ou a mais bem compreender os contornos conceituais de CF/FM.
O foco deste artigo será a culpa que, por diversos ângulos, circunda o conceito.
Dois desses ângulos serão abordados. O primeiro é a confusão, muitas vezes
visualizada, entre, de um lado, CF/FM e, de outro, a ausência de culpa. Esse
ângulo pode ser tido por "externo", pois não aborda os elementos do conceito.
Ao lado dele, tem-se uma perspectiva "interna", na qual a culpa exerce papel
relevante na caracterização do suporte fático do CF/FM, conforme previsto no
art. 393 do Código Civil.

I. CF/FM como excludente de responsabilidade civil: a confusão entre CF/FM e


ausência de culpa

Com frequência, encontram-se certas confusões entre as noções de "culpa"


e de "causalidade". Sobretudo na linguagem comum, costuma-se dizer "culpado"
aquele que "causou" o evento, ainda que o agente não tenha, tecnicamente, agido
com culpa para o efeito danoso. Ou seja, pode ter dado causa ao evento por
motivos outros que não a sua conduta negligente ou imprudente, mas, mesmo
assim, é tido por "culpado".

191
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

Essa confusão, presente na linguagem comum, é auxiliada pela tradição


jurídica, que teve na culpa o principal fundamento da responsabilidade civil.
Nesse contexto, havendo reponsabilidade, haveria culpa e, portanto, também
causalidade, de sorte que delimitações finas entre esses dois conceitos não se
mostravam necessárias à solução de, pelo menos, a maioria dos casos concretos.
Consequentemente, culpa e causalidade foram tidas como tendo grande
proximidade e, em alguns casos, como se se confundissem.

No que respeita ao tema sob análise, o reflexo dessa confusão encontra-


se na visão do CF/FM – uma excludente do nexo de causalidade – como
uma excludente de culpa. Em síntese, o argumento seria assim formulado:
se a responsabilidade civil decorre da culpa e se, quando há CF/FM não há
responsabilidade civil, ergo, quando há CF/FM não há culpa.

Em certa medida, a conclusão faz sentido, pois, se o fato é caracterizável


como CF/FM, também é verdade que o fato não foi causado pelo devedor e,
portanto, não é fruto de sua culpa. No entanto, o argumento peca pela formulação
tanto da premissa maior quanto da premissa menor. Quanto àquela, há outros
fundamentos da responsabilidade civil distintos da culpa. Quanto a esta, há
outras hipóteses de afastamento do nexo causal para além da ausência de culpa.

Autores relevantes vincularam a existência de CF/FM à ausência de


culpa, como se ambas as circunstâncias tivessem correspondências perfeitas.
Na expressiva afirmação de Eduardo Espínola, "onde cessa a culpa, começa o
caso fortuito" (ESPÍNOLA, Eduardo. Systema do Direito Civil brasileiro. v. II, t.
I. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1912, p. 361). Assim também Agostinho Alvim,
segundo o qual:

"Estudemos, agora, a questão da distinção entre ausência de culpa e caso


fortuito.

Para alguns, as duas noções se confundem, de sorte que a prova da


ausência de culpa resulta na existência de um caso fortuito, e vice-versa. A esta
corrente nos filiamos" (ALVIM, Agostinho. Da inexecução das obrigações e suas
consequências. São Paulo: Saraiva, 1949, p. 292).

Muito embora essa sinonímia possa ser aplicável a certos contextos


particulares e, apesar de, como se verá a seguir, haja relação negativa entre culpa
e CF/FM, é fundamental perceber que essa similitude, em uma visão conceitual
abrangente, deixa ao desabrigo uma série de nuances relevantes. Em casos de
responsabilidade civil objetiva, por exemplo, a responsabilização pode ser afastada
por razão distinta da ausência de culpa e, nem por isso, haverá necessariamente
CF/FM. Além disso, nas situações em que a causalidade se vincula a fato de
terceiro ou a fato do credor, a sinonímia entre ausência de culpa e CF/FM acaba
por esfumaçar a distinção entre os regimes aplicáveis. No fato de terceiro, vale

192
TÓPICO 3 — EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE E EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

lembrar a possível responsabilidade deste, para além da liberação do devedor


(VINEY, Geneviève; JOURDAIN, Patrice. Traité de droit civil: les conditions de la
responsabilité. 2. ed. Paris: L.G.D.J., 1998, p. 232). No fato do credor, vale lembrar
a possível aplicação do regime dos riscos da coisa e o possível afastamento da
mora debitoris.

Disso se conclui que, para a caracterização do CF/FM, a mera visão da


ausência de culpa é reducionista e tende a gerar mais dúvidas conceituais do que
soluções efetivas. Todavia, disso não se segue que não haja conexões internas
entre inexistência de culpa e a caracterização do CF/FM.

II. Culpa e os elementos do suporte fático do CF/FM: a inter-relação

O suporte fático de CF/FM envolve dois elementos que devem se


apresentar conjuntamente, conforme o parágrafo único do art. 393 do Código
Civil: a ocorrência de um fato caracterizado como necessário e a existência de
efeitos deste fato, que não possam ser evitados ou impedidos pelo devedor.

Como se constata, trata-se de uma delimitação conceitual dotada, ela


própria, de certa dificuldade. Isso porque se encontra incluída no suporte fático
uma consequência, distinta da consequência jurídica que decorre do suporte
fático. Ou seja, para a caracterização do CF/FM, é fundamental a verificação
conjunta de um certo fato e a análise valorativa dos seus efeitos, sem o que a
consequência jurídica não deverá ser aplicada.

II.A. Culpa e fato necessário

Com alguma frequência, constata-se na prática uma certa confusão entre


CF/FM e "fato necessário", como se qualquer fato necessário, alheio à vontade
das partes e, sobretudo, do devedor, gerasse a liberação deste. Essa confusão é
identificada em questões postas tais como: seria a pandemia de Covid-19 "um
evento" de CF/FM? A resposta inafastável só pode ser uma: depende. De um lado,
depende da análise dos efeitos do fato, como se verá a seguir. De outro, depende
da causação do evento. Neste âmbito, há conexão com a culpa.

Fato necessário não é fato imprevisível. O fato pode ser previsível e ser,
ainda assim, necessário. Fato necessário é aquele que pressupõe a ocorrência de
um obstáculo de tal monta que conduza à impossibilidade de o devedor realizar a
prestação no momento e na forma estabelecida (TEPEDINO, Gustavo; SCHREIBER,
Anderson. Fundamentos do Direito Civil: obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 2020,
p. 379). Assim, é apenas relevante que ele seja inevitável (NORONHA, Fernando.
Direito das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 623 ss.).

193
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

Corolário dessas características do fato necessário é que ele não tenha


sido causado pelo devedor, sendo a ausência de culpa deste, assim, um elemento
relevante para verificação da causação. O acidente que bloqueou a estrada não pode
ter decorrido da culpa do devedor, assim como a greve não pode ter decorrido da
sua desídia. Aquele que alega o fato necessário, em síntese, não pode ser a fonte do
fato e, portanto, é fundamental que inexista culpa do devedor para a formação do
suporte fático. Aqui, há relação entre culpa e CF/FM, pois, havendo ato culposo e
sendo este ato causador do fato necessário, não haverá CF/FM.

II.B. Culpa e efeitos que se possa evitar ou impedir

Mais nítida ainda é a relação entre culpa e os efeitos do fato necessário. É


essa circunstância que impede que se identifique a ocorrência de CF/FM apenas
olhando-se para o evento em si. É também essa circunstância que enseja certa
relação com a previsibilidade do evento. Ocorre que, se o evento é previsível
e, por isso, podem-se adotar medidas para que os respectivos efeitos sejam
evitados, então o CF/FM não se configura. Como bem indicou Arnaldo Medeiros
da Fonseca, "se o devedor se houver exposto culposamente aos efeitos do evento
irresistível, nesse caso, pela concorrência de culpa de sua parte, o fortuito não é
levado em conta, do ponto de vista jurídico" (op. cit., 143).

Um certo fato pode ser um evento de CF/FM hoje, deixar de sê-lo amanhã
e, depois ainda, voltar a sê-lo, a depender do modo como se manejam os efeitos
(MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de direito privado. t. XXIII,
3. ed. São Paulo: RT, 1984, p. 84; MARTINS-COSTA, Judith. Comentários ao novo
Código Civil. v. V, t. II. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 300).

Exemplo tradicional no Brasil é a compreensão jurisprudencial de assaltos


ou atos de violência para a caracterização da responsabilidade do transportador.
Em um primeiro momento, o fato pode ser tido como inevitável, notadamente
pela força empregada. Todavia, se o fato se repete e se essa repetição demonstra
que há mecanismos capazes de barrar a ação dos assaltantes, então o efeito
também passa a ser uma decorrência da inação do transportador em tomar as
medidas adequadas para evitar o roubo. Nesses casos, a inação do devedor passa
a ser tida como elemento do iter causal. Além disso, é importante notar que
elemento causal também corresponderá a um ato culposo, na medida em que o
devedor, podendo, não tomou as medidas adequadas que estavam a seu alcance
(SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no Código do
Consumidor e a defesa do fornecedor. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 296).

A pandemia de Covid-19 também serve de exemplo. Certos efeitos dela


decorrentes são inevitáveis, mesmo depois de ela ter-se tornado realidade concreta.
Outros, são afastáveis e, sobre estes, cabe discutir sobre a culpa do devedor. Se o
devedor, podendo, não evitou os efeitos relacionados ao fato necessário, não há
excludente, exatamente pela culpa do devedor.

194
TÓPICO 3 — EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE E EFEITOS CÍVEIS DA SENTENÇA PENAL

Conclusão

Como se pode constatar, a relação entre culpa e CF/FM é multifacetada.


No entanto, para bem compreender a excludente, é necessário inicialmente
afastarem-se os dois conceitos. Só assim se verificam as virtualidades próprias.

No entanto, na caracterização dos elementos do suporte fático do CF/


FM, a culpa pode exercer - e, não raro, exerce - papel relevante. Neste âmbito, a
ocorrência de culpa do devedor como o elemento causal do evento em si, ou dos
efeitos deste evento, afastará a caracterização da excludente. O CF/FM, portanto,
envolve, uma questão de prova que, em diversas situações, corresponderá à
demonstração da ausência de culpa.

FONTE: SILVA, Jorge Cesa Ferreira da. Caso fortuito e força maior: o papel da culpa para a sua
caracterização. 2020. Disponível em: https://migalhas.uol.com.br/coluna/migalhas-de-respon-
sabilidade-civil/331569/caso-fortuito-e-forca-maior-o-papel-da-culpa-para-a-sua-caracterizacao.
Acesso em: 12 jan. 2021.

195
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As hipóteses excludentes de responsabilidade civil são determinadas por


circunstâncias em que um dos seus pressupostos são rompidos, afastando o
nexo causal, de forma a dispensar, em regra, o pagamento de uma indenização
pelo agente causador do dano.

• A culpa exclusiva da vítima é causa de exclusão do nexo causal, onde o agente


responsável pelo dano é um simples objeto do acidente. Neste tipo de excludente
do nexo de causalidade, apesar de observar o dano e a conduta do autor, este não
será culpado, caso seja demonstrada a culpa exclusiva da vítima.

• O excludente do fato de terceiro acontece nas situações em que há intervenção


de pessoa diferente da vítima e do agente. No entanto, a ação que originou
o evento nocivo deve ter ocorrido comprovadamente por ilícito praticado
exclusivamente por terceiro.

• Aplica-se a responsabilidade aos sujeitos que possuem o poder diretivo sobre


animais e coisas motivadoras de prejuízos a terceiros, pois tais danos não
devem ser negligenciados sem que ocorra o seu devido ressarcimento.

• Em regra, o proprietário se responsabiliza por tudo que lhe pertence.


Desse modo, percebe-se que o dono responde pelos seus bens quando ficar
comprovada a sua culpa.

• O caso fortuito e a força maior, enquanto excludentes da responsabilidade


civil, observam-se nos incidentes necessários, dos quais os resultados não
poderiam ser impedidos ou afastados.

• Caso fortuito é uma situação causada por atos humanos que interferem nas
ações de outros indivíduos.

• A força maior está relacionada a um acontecimento de fatos externos,


independente da intervenção do ser humano, que impossibilita o cumprimento
das obrigações.

196
• Um delito ataca inúmeros bens jurídicos, causando violação concreta ou
iminente às vítimas, titulares dos interesses tutelados. Em virtude disso, surge
a pretensão punitiva estatal para empregar a sanção penal, além da intenção de
cominar indenização aos prejuízos.

• O dever de indenizar os prejuízos causados pelo delito é consequência da


própria condenação penal.

• A sentença criminal definitiva representa um título executivo judicial, detentor


de exigibilidade e certeza, a ser liquidada observando os procedimentos
dispostos no Código de Processo Civil.

CHAMADA

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197
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com os conhecimentos adquiridos até então, disserte sobre as


diferenças existentes entre as excludentes do caso fortuito e da força maior.

2 (ADAPTADA) Augusto dirigia seu automóvel muito acima do limite de


velocidade, quando foi surpreendido por Lúcia, que, naquele momento,
atravessava a rua. Não conseguindo frear a tempo, Augusto atropelou
Lúcia, causando-lhe graves fraturas. Após meses em recuperação, Lúcia,
que não permaneceu com nenhuma sequela física, ingressou com ação
indenizatória por danos materiais e morais em face de Augusto. Este,
porém, pretende alegar, em sua defesa, que Lúcia também foi responsável
pelo acidente, pois atravessou a via pública falando distraidamente ao
celular e desrespeitando uma placa que expressamente proibia a travessia
de pedestres no local. A partir do caso narrado, responda: Augusto poderá
eximir-se do dever de indenizar, invocando a conduta negligente de Lúcia?

FONTE: Banca: Fundação Getúlio Vargas (FGV) – Prova: XXIX Exame de Ordem Unificado –
Órgão: Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Ano: 2019.

3 Um veículo colidiu com um cavalo na pista de rolamento municipal,


tendo o condutor se ferido gravemente, recebendo atendimento no hospital
da municipalidade, onde veio a falecer. Diante disso, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) A responsabilidade pela morte do condutor é do hospital, a quem


caberá reparar o dano, pois o hospital é público e a responsabilidade
por conduta médica é de natureza objetiva.
b) ( ) O dono do animal responde civilmente pela morte, devendo reparar o
dano, caso não provada a culpa da vítima ou força maior.
c) ( ) A responsabilidade pela morte do condutor é da Municipalidade, que
deverá reparar o dano, eis que sendo municipal a via em que houve o
acidente, considera-se que há responsabilidade objetiva, ainda que se
saiba quem era o dono no animal.
d) ( ) Considera-se existente a responsabilidade solidária entre o hospital, o
dono do cavalo e o Município pela morte do motorista, de forma que
todos devem reparar o dano.
e) ( ) Ninguém responderá pela morte do motorista se restar provado que o
animal fugiu apesar de todos os cuidados pelo dono que não conseguiu
evitar a sua fuga, se o município provar que havia placas alertando
da possibilidade de animais na pista e o hospital demonstrar que não
houve culpa no atendimento prestado.

FONTE: Banca: VUNESP – Prova: Procurador Municipal – Órgão: Prefeitura de Presidente


Prudente/SP – Ano: 2016.

198
4 Girvane, completamente embriagado, ao atravessar a Avenida Roberto
Silveira, em Niterói, correu na frente de um caminhão pertencente a uma
entidade empresária do setor de construção civil, a qual estava prestando
serviço para a Municipalidade. Consequentemente, Girvane foi atropelado
e morreu. Considerando que o motorista não tinha como desviar de
Girvane e que os sinais estavam abertos para os veículos e fechados para os
pedestres, no momento do acidente, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Não há dever de indenizar na hipótese, já que a responsabilidade civil é


objetiva.
b) ( ) Há dever de indenizar na hipótese, já que a responsabilidade civil é
objetiva.
c) ( ) Não há responsabilidade civil, já que houve um caso de fato exclusivo
da vítima que excluiu o nexo causal.
d) ( ) Não há responsabilidade civil, já que houve um caso de fato exclusivo
da vítima que excluiu a culpa.
e) ( ) Há dever de indenizar na hipótese, já que a responsabilidade civil é
subjetiva.

FONTE: Banca: Fundação Getulio Vargas (FGV) – Prova: Fiscal de Tributos – Órgão:
Prefeitura de Niterói/RJ – Ano: 2015.

5 Mário dirigia seu veículo em velocidade compatível com a via em que


trafegava e foi surpreendido pela travessia de Pedro, que caminhava fora
da faixa destinada aos pedestres. Naquele momento, Pedro utilizava o
telefone móvel para o envio de uma mensagem de texto e não observou a
aproximação do veículo conduzido por Mário. Para evitar o atropelamento,
Mário teve de efetuar uma manobra brusca, o que culminou na colisão com
o veículo de Ana, que estava regularmente estacionado.

A respeito dessa situação hipotética, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) A conduta de Mário foi ilícita, razão pela qual surge a obrigação de
indenizar Ana.
b) ( ) A responsabilidade civil pelo acidente deve ser imputada diretamente
a Pedro.
c) ( ) A excludente de responsabilidade do fortuito incide em favor de Pedro.
d) ( ) A conduta de Mário foi lícita; contudo, nessa situação, há obrigação de
indenizar Ana.
e) ( ) Mário agiu no exercício regular do direito, razão pela qual não será
obrigado a indenizar Ana.

FONTE: Banca: CESPE/CEBRASPE – Prova: Titular de Serviços de Notas e de Registros/


Provimento – Órgão: TJ-DFT – Ano: 2019.

199
6 Sobre o caso fortuito ou de força maior, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou


força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
b) ( ) O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação,
embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior,
se estes ocorrerem durante o atraso, exceto se provar isenção de culpa
ou que o dano sobreviria ainda que a obrigação tivesse sido cumprida
oportunamente.
c) ( ) Se, não obstante proibição do mandante, o mandatário se fizer substituir
na execução do mandato, responderá ao seu constituinte pelos prejuízos
ocorridos sob a gerência do substituto, ainda que provenientes de caso
fortuito ou de força maior.
d) ( ) Os casos fortuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou assinalar
coisas, que comumente se recebem, contando, pesando, medindo ou
assinalando, e que já tiverem sido postas à disposição do comprador,
correrão por conta deste.
e) ( ) Nas obrigações de dar coisa incerta, não poderá o devedor, antes da
escolha, alegar a perda ou deterioração da coisa, ainda que por força
maior ou caso fortuito.

FONTE: Banca: MP/SP – Prova: Promotor de Justiça – Órgão: MPE/SP – Ano: 2015.

7 A sociedade contemporânea é marcada pelos muitos riscos oferecidos, o


que enseja situações de reparação. No entanto, nem todos os fatos danosos
geram a obrigação de indenizar. A lei brasileira prevê excludentes do dever
de reparar o dano, entre as quais o caso fortuito e a força maior, quando o
fato gerador do dano for necessário e:

a) ( ) Desvinculado da atividade desenvolvida e seus efeitos, inevitáveis.


b) ( ) Conexo à atividade desenvolvida e seus efeitos não se podiam impedir.
c) ( ) Conexo à atividade desenvolvida e seus efeitos, imprevisíveis e inevitáveis.
d) ( ) Vinculado à atividade desenvolvida e seus efeitos, imprevisíveis e
inevitáveis.
e) ( ) Diretamente ligado à atividade desenvolvida e seus efeitos, imprevisíveis.

FONTE: Banca: PGE-GO – Prova: Procurador do Estado – Órgão: PGE-GO – Ano: 2013.

200
REFERÊNCIAS

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BRAISL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 187. A responsabilidade


contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por
culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva. 1963. Disponível em: http://
www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=3505.
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MARTINS-COSTA, J. Comentários ao Novo Código Civil. Rio de Janeiro:


Forense, 2003. Volume V, Tomo I.

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