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DIREITO
EMPRESARIAL

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Glossário

Art. – Artigo
C/A – Sociedade em Comandita por Ações
CC – Código Civil
CDC – Código de Defesa do Consumidor
CF – Constituição Federal
CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas
CP – Código Penal
CPC – Código de Processo Civil
C/S – Comandita Simples
CS – Contrato Social
CVM – Comissão de Valores Mobiliários
DREI – Departamento de Registro de Empresa e Integração
EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada
EPP – Empresa de Pequeno Porte
ICMS – Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços
Inc. – Inciso
LD – Lei de Duplicatas
LPI – Lei de Propriedade Industrial
LTDA – Sociedade Limitada
LUG – Lei Uniforme de Genebra
ME - Microempresa
MEI – Microempreendedor individual
MERCOSUL – Mercado Comum do Sul
NIRE – Número de Identificação do Registro de Empresa
ONU – Organização das Nações Unidas
OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte
N/C – Sociedade em Nome Coletivo
RPEM – Lei de Registro Público das Empresas Mercantis
S/A – Sociedade Anônima

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ORIGEM HISTÓRICA

Na antiguidade o homem produzia comida, roupas e bens para a própria


subsistência. Quando havia algum excedente, os itens produzidos eram direcionados
à troca ou escambo.
O interesse por produtos que não era do uso diário, provocou a intensificação
das trocas e, por este motivo, foi necessário o surgimento de moedas, das quais
destacamos azeite, ouro, prata, gado, sal, pedras preciosas.
Os fenícios, civilização antiga localizada Palestina, Síria, Israel, grandes
navegadores e comerciantes, contribuiu para o surgimento de importantes institutos
jurídicos, ainda rudimentares, como o contrato de câmbio, contrato de transporte
marítimo e as sociedades anônimas.
Na Idade média, as corporações de ofício, formado pela burguesia que vivia em
burgos, criam classes de profissionais, denominados aprendizes, oficiais e mestres,
organizados na produção e prestação de serviços específicos, como os artesãos,
sapateiros, padeiros, alfaiates, ferreiros.
Já no século XVII, na França, Napoleão Bonaparte separa o Direito Civil do
Direito Comercial, por meio da promulgação do Código Civil Napoleônico de 1804 e
o Código Comercial de 1808.
A codificação de normas comerciais trouxe segurança jurídica às relações
negociais. O Código Comercial de 1808 adotou a Teoria dos Atos do Comércio.
Apontada teoria é inspirada no Positivismo Jurídico, ramo da filosofia do Direito que
insere as ciências exatas ao ordenamento jurídico.
Inspirado nos Códigos Napoleônicos, o Brasil promulgou o Código Comercial
em 1850 e, sua principal virtude era a delimitação do conceito de comerciante,
constante do art. 19 do Regulamento 737 de 1850, nos seguintes termos:
A delimitação restrita do conceito de comerciante passou a ser problema
quando, com o avanço da sociedade e o surgimento da internet, criaram novas formas
de exercício da mercancia, ou seja, passaram a existir atividades mercantis que, por
não estarem previstas no art. 19 do Regulamento 737, não poderiam ser chamadas de
práticas comerciais.
Foi necessária a flexibilização dos limites conceituais da figura do comerciante,
a fim de abarcar todas as novas formas de comércio.
Neste contexto, em 1942, na Itália, surge a Teoria da empresa tendo como
principal virtude a ampliação do conceito de empresário.

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No Brasil, a Teoria da Empresa vinha sendo aplicada antes mesmo da
existência de norma específica neste sentido. Os tribunais passaram a admitir a
caracterização de determinadas atividades como empresárias, independentemente da
existência de lei ordinária.
A positivação da atividade empresária, nos moldes da Teoria da Empresa,
somente veio à tona com o Código Civil de 2002 e, deste modo, abrangeu as práticas
empresariais perpetradas por prestadores de serviços, compras e vendas imobiliárias
e atividades de produtores rurais.
Fica esclarecido que o Código Civil de 2002 derrogou o Código Comercial de
1850 e, portanto, este último, permanece vigente apenas e tão somente no capítulo
atinente aos Contratos Marítimos.

VISÃO CONSTITUCIONAL DO DIREITO COMERCIAL

O Direito Empresarial só existe em uma nação de viés capitalista, escoradas em


pilares democráticos de livre iniciativa, livre concorrência e garantidor da
propriedade privada.
O Brasil é um país essencialmente capitalista, nos termos seguintes:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
(...)
IV - livre concorrência;
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

Fica esclarecido, no entanto, que a livre iniciativa é voltada à pratica mercantil


por particular. O Estado não pode, como regra, atuar como empresário, contudo, em
caráter excepcional, pode haver exploração da atividade econômica nos casos de
segurança nacional ou relevante interesse coletivo.
A atuação do Estado como empresário se dá por motivos de segurança nacional
quando, por exemplo, realiza a extração e comercialização de petróleo pela
Petrobras, ou ainda, por relevante interesse coletivo quando mantém instituição
financeira, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal com o intuito de,
eventualmente, proporcionar crédito mais acessível à população.
Cabe acrescentar que o Estado tem a missão de intervir na economia para
combater e reprimir infrações contra a ordem econômica, por meio da denominada
Lei Antitruste (Lei 12.529/11), ou ainda, por meio da repressão criminosa constante

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dos tipos penais previstos na Lei de crimes contra a ordem econômica (Lei 8.137/90,
art. 4º, inc. I). A repressão contra a concorrência desleal vem prevista no art. 195 da
Lei 9.279/96, como nos casos de desvio de clientela.

DA AUTONOMIA DO DIREITO COMERCIAL

Historicamente, existe um embate doutrinário acerca da autonomia do Direito


Comercial ou, se o Direito Civil e o Direito Comercial deveriam formar um único
ramo, denominado Direito Privado.
Conforme foi lecionado acima, o Direito Comercial se manteve isolado e
formou normas próprias, notadamente como foi estruturado no Código Comercial
Napoleônico e, posteriormente, ratificado esse raciocínio, aqui no Brasil, com o
surgimento do Código Comercial de 1850.
Nova discussão acerca da autonomia do Direito Comercial sobreveio por
ocasião da elaboração do projeto de lei do atual Código Civil e, ao final, ficou
assentado que as principais normas acerca do Código Comercial deveriam migrar
para o projeto de lei de Miguel Reale.
Assim, em 2002, foi promulgado o Código Civil, com a inserção do Livro II,
denominado Direito de Empresa o que, para muitos doutrinadores, foi a
concretização a perda da autonomia do Direito Empresarial e o surgimento de um
Código de Direito Privado, conforme mencionado acima.
Ocorre que, asseverar que o Direito Comercial perdeu sua autonomia, pelo
motivo elencado no parágrafo acima, configura erro, na medida em que tanto o
Direito Comercial, quanto o Direito Civil possuem características principiológicas e
bases estruturais diversas.
O Direito Comercial é escorado no dinamismo e, em certa medida, na ausência
de formalismo, com que os negócios jurídicos são celebrados, como por exemplo, o
endosso de títulos de crédito, entretanto, de outra banda, tem-se o Direito Civil que é
estático e dedicado a formalidades que são essenciais na concretização dos negócios
jurídicos como, por exemplo, a celebração do casamento e a lavratura de testamento.
Neste sentido, é importante relembrar que os costumes e práticas comerciais
assumem enorme importância histórica, regrando determinados negócios jurídicos,
mesmo que não estejam expressamente escritos.
Não é sem razão que a Lei 8.934/94, que trata do Registro Público das
Empresas Mercantis contempla artigo que autoriza a invocação de costumes e

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práticas comerciais devidamente registradas perante a Junta Comercial como fonte
do Direito Comercial.
Ademais, foi intenção do constituinte brasileiro que o Direito Comercial fosse
considerado autônomo e independente dos demais ramos do Direito quando, no art.
22, inc. I da CF/88, redigiu que é competência privativa da União legislar sobre
Direito Civil e Direito Comercial.
Vejamos:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e
do trabalho; (g.n.)
Ora, pelo que se denota da redação do artigo acima, o legislador pátrio quis
tratar o Direito Comercial como ramo autônomo em nosso ordenamento jurídico e
não como um ramo do Direito Civil.
Por derradeiro, conclui-se que o direito comercial é o ramo autônomo do
direito que contempla um conjunto de normas que procura sistematizar os direitos e
obrigações dos sujeitos que realizam atividade de mercantil.

TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO E TEORIA DA EMPRESA

Neste ponto da obra, cabe deitar luzes sobre as principais fases que nortearam
o Direito Comercial, até os dias atuais.
Num primeiro momento, tem-se a Fase Subjetivista Clássica, surgida na
Idade Média, por meio do surgimento dos burgos e no contexto das Corporações de
Ofício. Pela fase subjetiva clássica importa quem você é: mestre, oficial ou aprendiz.
Não importa se Tácito e Tício desenvolvem a mesma atividade, mas, se Tácito faz
parte de uma Corporação de Ofício e Tício não, Tácito seria comerciante e Tício não.
Ademais, Tácito tinha acesso a rotas e privilégios que Tício não tinha.
Num segundo momento, surge a Fase Objetivista Clássica onde importa o
que você faz, ou seja, se Tácito e Tício desenvolvem a mesma atividade comercial,
Tácito e Tício serão considerados comerciantes. É neste contexto que surge o
Código Comercial Francês de 1808 e o Código Comercial Brasileiro de 1850,
instituindo a positivação dos atos de comércio.
No Brasil, ficou estabelecido que seria considerado comerciante aquele que
desenvolvesse atividade mercantil da relação constante do art. 19 do Regulamento

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737 de 1850, diploma legal que trata da competência dos Tribunais do Comercio e
define os atos de mercancia.

Art. 19. Considera-se mercancia:


§ 1º A compra e venda ou troca de effeitos moveis ou semoventes para os vender por
grosso ou a retalho, na mesma especie ou manufacturados, ou para alugar o seu uso.
§ 2º As operações de cambio, banco e corretagem.
§ 3° As emprezas de fabricas; de com missões; de depositos; de expedição, consignação e
transporte de mercadorias; de espectaculos publicos.
§ 4° Os seguros, fretamentos, risco, e quaesquer contratos relativos ao commercio
maritimo.
§ 5° A armação e expedição de navios

Acrescente-se que a postura do legislador comercialista lembra, guardadas as


devidas proporções, a conduta das Corporações de Ofício, de somente proteger
aqueles que se enquadrem em uma lista de comerciantes ditos habilitados à prática
comercial e, deste modo passíveis de proteção do Estado ou da estrutura de comando.
Vejamos:

Art. 15. Os commerciantes ou são matriculados ou não (art. 909 Codigo), mas só aos
matriculados competem as prerogativas e proteccão que o Codigo liberalisa a favor do
commercio (arts. 4º, 21 e seguintes, 310 e 908 Codigo).

Por fim, na Fase Subjetiva Moderna tem-se a ampliação da figura do


comerciante, para abranger não somente as atividades relacionadas na lei, mas
também todas aquelas que organizam suas atividades como todo e qualquer
comerciante para prestação de serviço, negociação de imóveis e atividade rural.
Importa para que você está fazendo.
É importante creditar ao Direito Comercial Italiano a configuração da fase
subjetiva moderna, por meio da criação da Teoria da Empresa.
O Brasil aderiu aos preceitos dogmáticos da Teoria da Empresa antes mesmo
da positivação de seus preceitos.
Assim, com a superveniência do art. 966 do CC/02, o conceito de empresário
fica genérico e livre das amarras do positivismo exagerado, razão pela qual o Código
Comercial foi derrogado, contudo, permanecem os vigentes as normas dos contratos
marítimos.

DO EMPRESÁRIO

A Teoria da Empresa não mudou apenas a nomenclatura dos principais


institutos jurídicos do ramo do Direito ora estudado, isto é, antes dizia-se

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comerciante, agora empresário; antes dizia-se comércio, agora empresa; antes dizia-
se Direito Comercial, agora Direito Empresarial, mas o fez de maneira estrutural,
como foi possível entrever nas linhas acima.
A palavra EMPRESA está ligada à palavra ATIVIDADE que, por seu turno
está escorada no princípio da preservação da empresa.
O EMPRESÁRIO pode ser sintetizado como INDIVÍDUO ou SUJEITO cujo
Código Civil previu expressamente o conceito no art. 966, nos seguintes termos:
empresário é aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada
para a produção ou circulação de bens e serviços.
Vejamos a definição precisa do conceito de empresário.
O empresário atua profissionalmente quando pratica atividade mercantil
habitual e com pessoalidade. A prática habitual é aquela reiterada, constante,
rotineira e, portanto, diversa do “bico”. Ademais a pessoalidade diz respeito à atuação
do empresário de maneira direta na produção ou circulação de bens e serviços, por si
ou por seus empregados.
Conforme expresso acima, atividade é o mesmo que empresa, ou seja, sinônimo
de empreendimento. Neste contexto, é importante acrescentar que o Princípio da
Preservação da Empresa quer dizer, em última análise, que o legislador
empresarialista deseja que em situações limites, o juiz deve propugnar pela
preservação da atividade mercantil como, por exemplo, na dissolução da sociedade
empresária em que, um dos sócios deseja a permanência da atividade empresária e
outro sócio deseja o encerramento das mesmas atividades.
Ademais o empresário deve sempre realizar atividade econômica, isto é, deve
sempre buscar o lucro. Note, contudo, basta a busca pelo lucro, pois, caso haja
prejuízo, nem por isso, o empresário deixará de ser empresário.
Considera-se empresário aquele que organiza os FATORES DE PRODUÇÃO:
capital, mão de obra, insumo e tecnologia. O capital pode ser próprio ou de terceiro.
A mão de obra pode ser própria ou de terceiro. Insumo é o mesmo que matéria-
prima. Por fim, tecnologia ou conhecimento específico de uma atividade empresária
na busca do lucro, também conhecida no meio empresarial como know-how.
Cabe esclarecer que a organização ora estudada esta ligada ao processo de
concretização da entrega do produto ou da prestação de serviço. Trata-se do
encadeamento lógico percorrido pelo empresário do início até o final do processo
produtivo, abrangendo o pedido do cliente, compra da matéria-prima do fornecedor,
logística, agendamento, execução, pagamento, etc.

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Cabe esclarecer, ainda, que as sociedades simples não possuem a organização
dos fatores de produção das sociedades empresárias. Numa sociedade de advogados,
por exemplo, o encadeamento lógico do processo produtivo não existe pois, cada um
dos advogados atua isoladamente na obtenção do sucesso do trabalho contratado
pelo cliente.
Por este motivo, em essência, vê-se que as sociedades empresárias diferenciam-
se das sociedades simples pela ORGANIZAÇÃO dos fatores de produção, presente
naquele primeiro e ausente neste último.
A palavra PRODUÇÃO está ligada à fabricação de bens ou a prestação de
serviços, por exemplo, a confecção de roupas ou a prestação de serviços bancários ou
hospitalares.
Já a palavra CIRCULAÇÃO está ligada à intermediação ou aproximação de
bens ou de serviços como, por exemplo, supermercados que é um intermediário entre
o fabricante e o consumidor final, ou ainda, a intermediação de serviços de agência de
turismo.
Os BENS mencionados no texto legal abrangem bens corpóreos, tangíveis ou
táteis e bens incorpóreos, intangíveis ou não táteis, sendo que neste último caso,
pode-se exemplificar os bens virtuais, tais como os jornais virtuais e softwares.
Os SERVIÇOS, como já foi lecionado acima, é a novidade vinda com a Teoria
da Empresa, com o propósito de ampliar o conceito de comerciante, ou seja,
considera-se empresário aquele que preste serviços de forma organizada na busca do
lucro.

DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL E SOCIEDADES EMPRESÁRIAS/EIRELI

Uma vez delimitada a figura do empresário, passa-se a analisar as espécies de


empresário, isto é, o empresário individual, as sociedades empresárias e a EIRELI –
Empresa Individual de Responsabilidade Limitada.

Do Empresário Individual

O empresário pessoa física é conhecido como empresário individual. O


empresário individual possui uma única massa patrimonial e, deste modo, responde
de forma ilimitada com todo seu patrimônio pessoal haja vista a ausência de
separação entre patrimônio da sociedade e patrimônio pessoal dos sócios.

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Acrescente-se que, embora o empresário individual possua CNPJ, a regra de que o
patrimônio pessoal e patrimônio da empresa constituem uma única massa
patrimonial permanecem vigorantes. Assim, é imperioso afirmar que não se aplica o
princípio da autonomia patrimonial ao empresário individual.
Interessante notar que, diante da existência de uma única massa patrimonial
para o empresário individual, não há sentido em se aplicar o incidente de
desconsideração da personalidade jurídica às eventuais ações de execuções em que
aquele primeiro seja réu.
As atividades prestadas por empresários individuais normalmente são de pouca
expressão econômica como, feirantes, sacoleiros, ambulantes, etc.

Das sociedades empresárias

O empresário pessoa jurídica só pode ser sociedade empresaria ou EIRELI.


Note que a sociedade empresária ou EIRELI é quem possui responsabilidade
patrimonial pelas obrigações assumidas. Assim, o sócio das sociedades empresárias
ou da EIRELI não podem ser consideradas empresários.
É importante que o arcabouço jurídico das sociedades empresárias está no art.
44 do Código Civil que traz os tipos de pessoas jurídicas de direito privado e, no inc.
II, contempla as sociedades.
Senão vejamos:

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


I - as associações; - união de pessoas
II - as sociedades; - art. 981 e seg. CC/02
III - as fundações. – união de bens
IV - as organizações religiosas;
V - os partidos políticos.
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído pela Lei nº 12.441, de
2011)

As sociedades podem ser sociedades empresárias ou sociedades simples. O


ponto de semelhança entre ambas é a busca pelo lucro. Já o aspecto distinto marcante
está que as sociedades empresárias organizam os fatores de produção, enquanto que
as sociedades simples não as organiza.
As sociedades empresárias podem ser personificadas ou não personificadas. As
sociedades personificadas são as sociedades em nome coletivo, comandita simples,

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comandita por ações, limitada e anônima. Já as não personificadas são as sociedades
em comum e sociedade em conta de participação.
Ressalte-se que as sociedades empresárias serão melhor estudadas no livro
dedicado ao Livro II, Do Direito Societário.

Da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI

Antes da superveniência da Lei 12.441/11, que trouxe a figura da Empresa


Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI para nosso ordenamento
jurídico, havia no Brasil a prática de constituição de sociedades limitadas com dois
sócios, sendo um deles o notoriamente conhecido “laranja”, com o propósito de
alcançar a proteção patrimonial deferida às pessoas jurídicas.
Isso porque, aquele que desejasse exercer empresa, isoladamente, somente
poderia optar pelo registro como empresário individual, contudo, como já foi dito
acima, indigitado empresário fica exposto a enormes riscos, já que responde com seu
patrimônio pessoal pelas dívidas constituídas no exercício da mercancia.
A EIRELI, desta feita, é uma novidade legislativa trazida por mencionada lei,
com o propósito de criar uma alternativa ao empresário individual que queira exercer
empresa, isoladamente, mas com autonomia patrimonial entre patrimônio social e
patrimônio particular do sócio.
Assim, é lícito afirmar que a EIRELI é uma sociedade unipessoal (Fábio
Ulhoa), das quais são aplicadas todas as normas compatíveis das sociedades
limitadas.
Oportuno registar que existem doutrinadores que entendem que a EIRELI não
pode ser chamada de sociedade unipessoal (André Santa Cruz) uma vez que a
etimologicamente a palavra “sociedade” pressupõe atuação de 2 ou mais pessoas, no
exercício da empresa.
Registre-se que tanto nas sociedades empresárias, quanto nas EIRELIs os
sócios não podem ser considerados empresários. Repita-se: empresário é a pessoa
jurídica da sociedade empresária ou da EIRELI. Os sócios, desta feita, compõem o
quadro societário das pessoas jurídicas e, com isso, tem patrimônio distinto da figura
do empresário pessoa jurídica.

DA CAPACIDADE PARA SER EMPRESÁRIO

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O art. 972 do CC/02 é taxativo em apontar que o sujeito capaz para exercer
empresa é aquele que detém capacidade civil e que não seja impedido de exercer
empresa. Assim, como regra, o sujeito CAPAZ é aquele que detém capacidade civil
para o exercício da empresa, contudo, o menor púbere, portanto, com mais de 16
anos, emancipado, pode ser empresário, já que se qualifica como menor capaz, na
forma do que reza o art. 5º, § único do Código Civil.
Regramento diferente deve ser observado com o incapaz, haja vista que o art.
974 do Código Civil exige a presença dos seguintes requisitos:

1) concessão de autorização judicial, ou seja, alvará judicial.


2) não poderá iniciar a empresa, mas apenas continuar empresa.
3) incapaz deve ser representado ou assistido do incapaz.
4) os bens anteriores ficam preservados, devendo constar a lista dos mesmos no
alvará judicial, uma vez que não respondem pelas obrigações do período da
autorização.
5) capital social totalmente integralizado.
6) incapaz não pode exercer atos de administração.

Além de agente capaz, o indivíduo não pode ser proibido por lei de exercer
empresa, como no caso do falido não reabilitado e condenados por crime falimentar
(Lei 11.101/05), leiloeiro e intérprete (Lei 8.934/94), agentes políticos (art. 54, inc.
II da CF/88), servidores públicos (Lei 8.112/90) e militares (Lei 6.880/80).
Vale destacar que deputados e senadores não podem ser proprietários,
controladores ou diretores de sociedades empresárias que contrataram com pessoa
jurídica de direito público ou nela exercer função remunerada, entretanto, podem ser
sócias, desde que não seja administrador, de sociedade empresária.
Imperioso destacar que a proibição de exercer empresa se dirige aos sujeitos
que querem praticar empresa como empresário individual ou como sócios que
exercem função de gerência ou administração e, deste modo, é lícito afirmar que a
proibição ora estudada não se aplica aos sujeitos impedidos que são acionistas ou
cotistas de sociedades empresárias, sem exercer atividade gerencial ou
administrativa.
Importante notar, por derradeiro, que das proibições de exercício de empresa,
acima relacionados, somente aquelas relacionados à Lei de Falência tem relevância

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para o Direito Empresarial uma vez que as demais proibições estão relacionados a
diplomas legais afetos ao Direito Público.

PREPOSTOS DO EMPRESÁRIO

Os prepostos são representantes, empregados ou não, profissionais liberais,


colaboradores permanentes ou temporários do empresário individual, sociedade
empresária ou EIRELI e preponente são estes mesmos empresários, ora
denominados representados (arts. 1.169 e segs. CC/02).
Os preponentes são responsáveis pelos atos de seus prepostos dentro de seu
estabelecimento empresarial, ainda que tenham praticado atos não autorizados por
escrito. Caso os prepostos tenham praticado ato fora do estabelecimento empresarial,
o preponente ficará obrigado caso haja deferimento de poderes por escrito. Fica
esclarecido, ainda, que caso o preponente seja demandado por terceiro, por ato
praticado de forma inadequada pelo preposto, será lícita a propositura de ação de
regresso contra este último (art. 1.178 do CC).
Diante da enorme responsabilidade conferida ao preposto, é lícito afirmar que
sua função é uma função de confiança do preponente e, portanto, uma função
personalíssima e que não deve ser desempenhada por terceiro, sem autorização
escrita do preponente.
Ademais, preposto não pode concorrer com o preponente sob pena de praticar
crime de concorrência desleal (art. 195 e 196 da Lei 9.279/96) e responder por
perdas e danos (art. 1170 do CC).
O Código Civil prevê duas espécies de prepostos: gerente e contabilista. O
gerente é o preposto que pratica atos de administração na empresa. O art. 1.173,
CC/02 atesta que o gerente, como regra, detém poderes ilimitados e, desta feita, caso
o empresário queira estabelecer limites aos seus poderes, apontadas limitações
deverão estar averbadas no ato constitutivo para valer contra terceiros. Já o
contabilista é aquele responsável pela escrituração dos livros comerciais, podendo ser
empregado ou profissional liberal, devidamente inscrito no órgão profissional.

ATIVIDADES ECONOMICAS CIVIS

As atividades econômicas civis são aquelas atividades que buscam o lucro mas
que não são desempenhadas por empresários e, portanto, estão disciplinadas pelas

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normas de Direito Civil. Assim, diante do fato de que apontadas atividades estão
afastadas das normas de Direito Empresarial, é lícito afirmar que, por exemplo, não
se aplica a Lei de Falência e Recuperação de Empresas aos mesmos.
Os primeiros que praticam atividades econômicas civis são os
PROFISSIONAIS INTELECTUAIS cuja prática se consubstancia numa atividade
científica, literária e artística, nos exatos termos do que reza o art. 966, § único do
CC/02. Esta-se falando de profissionais que refletem acerca de idéias capazes de
influenciar a sociedade, tais como advogados, engenheiros, arquitetos, atores, poetas,
músicos, dentre outros. Os profissionais intelectuais poderão vir a serem
considerados empresários quando sua atividade intelectual ficar reduzida e de pouca
expressão, a ponto de se tornar um dos vários elementos de empresa.
Nestes termos, é o que reza a norma acima apontada:

Art. 966. (…)


Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa.

Exemplo esclarecedor trazido pelo eminente empresarialista Fabio Ulhoa


Coelho é o caso do médico que, conforme explanado acima, é uma espécie de
profissional intelectual. O PRODUTOR RURAL é uma figura especial no cenário
ora estudado, isto porque em essência, indigitado sujeito está enquadrado como
praticante de atividade econômica civil, contudo, basta optar por se registrar perante
a Junta Comercial competente que o mesmo tornar-se-á empresário regular. As
COOPERATIVAS não podem ser consideradas sociedades empresárias por expressa
determinação do art. 982 do Código Civil.
Vejamos:

Art. 982. (...).


Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por
ações; e, simples, a cooperativa.

Por fim, cabe acrescentar que todos aqueles que não se enquadram no conceito
de empresário e que busquem o lucro, são praticantes de atividades econômicas civis.

MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL, MICROEMPRESA E EMPRESA


DE PEQUENO PORTE

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A Constituição Federal prevê tratamento privilegiado às Microempresas e
Empresas de Pequeno Porte com vistas a SIMPLIFICAR obrigações
administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou
redução das mesmas. A definição precisa de quem sejam Microempreendedor
Individual, Microempresas e Empresas de Pequeno Porte se deu na Lei
Complementar nº123/06 e baseou-se no critério do receita bruto anual. Assim,
considera-se Microempreendedor Individual o empresário com receita bruta anual de
até R$ 81.000,00. A Microempresa, o empresário que tenha receita bruta anual de até
R$ 360.000,00. Por fim, a Empresa de Pequeno Porte aquela que tenha receita bruta
anual entre R$360.000,00 a R$4.800.000,00.

Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de


pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de
responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis
ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que:
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a
R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior
a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro
milhões e oitocentos mil reais).

Uma das principais vantagens do empresário que se enquadra como ME ou


EPP é a adesão ao Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e
Contribuições, denominado Simples Nacional, que permite o recolhimento mensal,
em uma única guia de arrecadação, de 8 tributos. Em outros termos, o empresário
que se enquadre como ME ou EPP, acaba por pagar, em uma única guia, tributos
federais, estadual e municipal tais como o IRPJ, IPI, CSLL, COFINS, PIS/Pasep,
CPP, ICMS e ISS, conforme reza o art. 13 da Lei Complementar 123/06.

REGISTRO DA EMPRESA

O empresário tem 3 obrigações a serem cumpridas a fim de que haja o bom


exercício de sua atividade, quais sejam, registrar-se perante a Junta Comercial,
escriturar os livros obrigatórios e realizar o balanço patrimonial e de resultado
econômico. Importante destacar que o registro do empresário, perante a Junta
Comercial da sede da empresa, deve ser realizado antes do início de suas atividades,
sem a qual, a ausência do registro torna o empresário irregular e, portanto, submete
os sócios à responsabilidade ilimitada (art.967, CC/02).

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Em âmbito nacional, o Departamento de Registro de Empresa e Integração
(DREI), órgão subordinado ao Ministério da Economia, realiza, dentre outras
medidas, a fixação de regras bases para a prática de registro de empresas pelas Juntas
Comerciais, realiza medidas correicionais do registro de comércio. Fica esclarecido
que o DREI embora não realize ato de registro.
As Juntas Comerciais devem ser criadas, sob a forma de órgão estadual ou de
autarquia estadual, em cada uma das unidades da federação, portanto, são instituições
com competência para atuação em âmbito estadual. Fica esclarecido que as Juntas
Comerciais se subordinam administrativamente ao governo estadual do local em que
se encontram, porém, sob o ponto de vista técnico, apontadas juntas se subordinam
ao Departamento de Registro de Empresa e Integração (DREI).
As Juntas Comerciais fazem o arquivamento de atos constitutivos de empresa,
compilação dos usos e práticas comerciais, processar a habilitação e nomeação de
tradutores públicos e interpretes comerciais, expedição da carteira profissional do
empresário, autenticação dos instrumentos de escrituração dos empresários
registrados, todos os atos analisados sob o ponto de vista formal.
São atos praticados pelas Juntas comerciais a matrícula, o arquivamento e a
autenticação. A matrícula é o ato pelo qual se inscrevem tradutores, interpretes,
leiloeiros, trapicheiros e administradores de armazéns gerais (art. 32, inc. I da
RPEM). Já o arquivamento é realizado para atos de constituição, alteração,
dissolução e extinção de sociedades empresárias; consórcio ou grupo de sociedade de
que trata a Lei de S/A; atos concernentes a empresas estrangeiras autorizadas a
funcionar no Brasil e declarações de microempresa (art. 32, inc. II da RPEM). E por
fim, a autenticação devidamente perpetrada para dar regularidade a livros e fichas
comerciais (art. 32, inc. III da RPEM).
Fica esclarecido que a Junta Comercial fornece o Número de Identificação de
Registro de Empresas (NIRE), a Receita Federal fornece o Cadastro Nacional de
Pessoas Jurídicas (CNPJ) e a Secretaria da Fazenda dos Estado-membros fornece a
Inscrição Estadual desde que o empresário tenha obrigatoriedade de recolher o
Imposto de Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS).

Da inatividade da empresa

O art. 60 da Lei de Registro Público de Empresas Mercantis prevê que o


empresário que não realizar nenhum arquivamento pelo período de 10 anos

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consecutivos, deverá comunicar à Junta Comercial que deseja permanecer
funcionando. A omissão na comunicação à Junta Comercial implica cancelamento do
registro, com a perda automática do nome empresarial. A Junta Comercial deve
notificar o empresário por meio de comunicação direta ou por edital, antes de realizar
o cancelamento do registro. Caso haja cancelamento do registro, a Junta Comercial
deve comunicar o Fisco nacional, estadual e municipal acerca do ato realizado.

Do empresário irregular

O art. 966 do Código Civil traz o conceito de empresário. Ocorre que


analisando o conteúdo de mencionado artigo, verifica-se que o legislador não elencou
como requisito para a caracterização do empresário, ter ele sido registrado perante o
órgão competente. Sob este ponto de vista, é possível que se considere empresário,
aquele que não tem registro perante a Junta Comercial, a consequência será, apenas,
que apontado empresário, seja irregular porque não há personalidade jurídica.
O empresário irregular não poderá obter benefícios do Direito Comercial, tais
como não pode requerer falência (art. 97, § 1º, LF), não pode requerer recuperação
judicial (art. 51, inc. V, LF), não pode autenticar seus livros comerciais (art.1.181,
CC/02), impossibilidade de participar de licitações, proibição de contratar com o
poder público e impossibilidade cadastros fiscais (CNPJ).

LIVROS EMPRESARIAIS

O empresário tem o direito de manter sigilo sobre as estratégias comerciais


que realiza ou pretende realizar, contudo, determinadas informações devem ser
conduzidas com transparência a fim de permitir a fiscalização do Estado, quanto ao
recolhimento de tributos, ou com vistas a promover a tutela do consumidor, dos
sócios, dos investidores de mercado de ações, bem como para combater a lavagem de
dinheiro. Neste sentido é o Código Civil:

Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de


contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em
correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial
e o de resultado econômico. (g.n.)

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A importância da escrituração dos livros mercantis, para o Direito Brasileiro,
fica evidente quando apontados livros, mesmo que escriturados por particulares,
ganham status de documentos públicos (art.297, § 2º, CP).
Oportuno colacionar que o eminente empresarialista Fábio Ulhoa leciona que
existem livros empresariais e livros do empresário. Aqueles primeiros são mais
amplos livros tributários, trabalhistas, previdenciários, enquanto que estes últimos,
são espécie dos livros do empresário.
Os livros empresariais pode ser obrigatórios ou facultativos.
Os livros OBRIGATÓRIAS são aqueles cuja não escrituração implicam sanção
ao empresário, como por exemplo a possibilidade de configuração de crime
falimentar (art. 178 da LF), perda da eficácia probatória dos livros ou decretação da
desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do CC). Os livros obrigatórios
podem ser comuns, quando a escrituração é imposta a todos dos empresários ou
especiais, quando a escrituração é importa a alguns empresários.
O único livro obrigatório comum é o Livro Diário (art.1.180, CC/02), contudo,
ficam dispensas da escrituração do deste livro o empresário Microempresa e a
Empresa de Pequeno Porte optante do Simples (art.1.179, § 2º, CC/02). Fica
esclarecido que o empresário ME e EPP não optante do Simples devem escriturar os
livros comerciais (art.26, § 2º, LC123/06).
Os livros obrigatórios especiais tem a escrituração imposta a determinada
categoria de empresários como, por exemplo, aqueles que emitem duplicata mercantil
e, por esse motivo devem manter o Livro de Registro de Duplicatas (art. 19, Lei
5.474/68), bem como nas sociedades anônimas quanto aos livros de Registro de
Ações Nominativas, livro de Transferência de Ações Nominativas, livro de Atas das
Assembleias Gerais, dentre outros (art. 100 da Lei S/A).
Já os livros FACULTATIVOS são aqueles cuja não escrituração, não importa
sanção para o empresário, contudo, propicia melhor controle de suas relações
negociais, como por exemplo, o Livro Caixa e o Livro Conta Corrente.
Os livros empresariais devem ser conservados até a prescrição das obrigações
escrituradas (art.1.194, CC/02).

Da regularidade na escrituração
Não basta que o empresário faça a escrituração dos livro empresarial, sendo
necessário que tais livros seja considerados regulares. Fica esclarecido que é
admissível escrituração em livro digital. A regularidade dos livros empresariais

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ocorre quando estão preenchidos os requisitos intrínsecos e extrínsecos. Os
requisitos intrínsecos estão cumpridos quando a escrituração tem linguagem contábil
(art.1.183, CC/02). Já os requisitos extrínsecos são aqueles relativos à segurança dos
livros, tais como termo de abertura e encerramento (art.1.181, CC/02).

Da exibição dos livros empresariais


Os livros empresariais gozam da proteção do sigilo (art.1.190, CC), na medida
em que procura evitar a curiosidade injustificada das pessoas, salvo casos
excepcionais de obrigatoriedade de exibição formal em demanda judicial.
A exibição dos livros empresariais pode ser total ou parcial. A regra da
exibição parcial é aplicada a qualquer tipo de ação judicial, sempre que útil ao
desfecho da mesma, momento em que só exibe a parte do livro que interessa para a
causa e, logo em seguida, o mesmo é restituído ao empresário.
Neste sentido é a súmula 260/STF: “o exame de livros comerciais, em ação
judicial, fica limitado à transação entre os litigantes”.
A exibição total do livro ocorre em casos mais graves, quando demandam a
retenção do livro em juízo, durante todo o trâmite processual, em casos de ações
judiciais que questionam a forma de administração da empresa.
O princípio do sigilo não se aplica às autoridades tributárias (art.1.193, CC/02.
Art.195, CTN. Art.33, § 1º, Lei 8.212/91) com vistas a fiscalizar a regularidade do
recolhimento fiscal dos empresários.

BALANÇOS ANUAIS

O empresário deve proceder anualmente a 2 tipos de balanços (art.1.179, CC), o


BALANÇO PATRIMONIAL (BP) onde se relacionam o ativo e passivo da empresa
(bens, créditos e débitos) e o BALANÇO DE RESULTADO ECONÔMICO (BRE)
onde se relacionam os lucros e perdas.
A não realização dos balanços obrigatórios acarretam crime falimentar
(art.178, LF), na S.A. acarreta responsabilidade dos administradores, proibição de
participar de licitação (art.31, inc. I, Lei 8.666/93), veda acesso a crédito bancário.

ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

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O estabelecimento empresarial ou fundo de comércio é o complexo de bens
CORPÓREOS e INCORPÓREOS, organizados pelo empresário para o
desenvolvimento da empresa. A grande nota característica do instituto jurídico ora
estudado é a organização dos fatores de produção de maneira que o empreendimento
se estruture com vistas à obtenção do lucro. Não se pode confundir o estabelecimento
empresarial com o título de estabelecimento, marca, ponto comercial e aviamento.
Fica esclarecido que o aviamento é a capacidade que a empresa tem de gerar
lucros, ou seja, trata-se da diferença entre o patrimônio real da empresa e o valor que
o comprador pagaria pela mesma em caso de trespasse.
Importante colacionar o posicionamento majoritário da doutrina no sentido de
afirmar que o estabelecimento empresarial é uma UNIVERSALIDADE DE FATO,
ou seja, trata-se de um conjunto de bens singulares que são agrupados por vontade
de uma pessoa (art. 90 do CC) como, por exemplo, biblioteca.
A clientela não faz parte do conceito de estabelecimento comercial porque não
se pode atribuir valor aos mesmos e, deste modo, não poderá ser alienada. Neste
sentido, é oportuno diferencia freguesia de clientela. Aquela primeira caracteriza-se
quando os indivíduos frequentam um estabelecimento em razão da conveniência
advinda da proximidade com o estabelecimento empresarial. Já este último
caracteriza-se quando os indivíduos frequentam um estabelecimento
independentemente do local. Assim, enquanto o freguês não tem fidelidade ao
empresário, o cliente age guiado pelo sentimento de fidelidade. A clientela goza da
proteção indireta do art. 1.147, CC e da Lei Antitruste.
Oportuno ressaltar que Fábio Ulhoa entende que os sites de vendas de
produtos pela internet são considerados estabelecimentos empresariais.

Alienação do Estabelecimento Empresarial – Trespasse

O trespasse é o contrato de compra e venda do estabelecimento empresarial. A


eficácia do trespasse está ligado à condição econômica do alienante. Caso o alienante
seja SOLVENTE, a eficácia do trespasse está condicionada à celebração do negócio
jurídico por meio contrato escrito, para averbação da alienação à margem da inscrição
na Junta Comercial e publicação na imprensa oficial. Contudo, caso o alienante seja
INSOLVENTE, além do contrato escrito e publicação na impresnsa oficial, será
necessária a concordância dos credores, de forma expressa ou tácita.

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A concordância expressa deve ser realizada de forma escrita. A concordância
tácita ocorre quanto o credor é notificado a se manifestar, no prazo de 30 dias, e
queda-se inerte. Fica esclarecido que a não concordância ou não notificação dos
credores pode gerar a FALÊNCIA da empresa (art.94, inc. III, alínea c da LF) e
INEFICÁCIA do trespasse (art. 129, VI da LF).
O adquirente responde pelas dívidas contabilizadas (art.1.146, CC), contudo,
excepcionalmente, mesmo que não contabilizadas, o adquirente responde pelas
dívidas FISCAIS (art.133, CTN) e dívidas TRABALHISTAS (art.448, CLT). Nos
casos de falência, quando o estabelecimento comercial for arrematado por meio de
leilão judicial, o adquirente não responde por nenhuma dívida, seja ela contabilizada
ou não contabilizada (art.60 e 141,II, LF). Neste último caso, a intenção do legislador
é incentivar a preservação da empresa, do fundo de comércio, dos empregos e da
fonte produtora de riqueza, postura inexistente na antiga Lei de Falência.
O alienante responde SOLIDARIAMENTE com o adquirente por todas as
dívidas, pelo prazo de 1 anos, contados da publicação do trespasse, para as obrigações
vencidas antes do negócio e, contada da data do vencimento, para as demais.
Alienante e adquirente podem convencionar, no contrato de trespasse, a
cláusula de não-transferência do passivo. Por esta cláusula, fica estipulado que o
adquirente não responde pelo pagamento das dívidas, ou seja, caso seja acionado
judicialmente, o adquirente deve pagar o autor da ação e entrar de regresso contra o
alienante para reaver o valor pago. Também pode ficar estabelecido o contrário, ou
seja, cláusula de transferência do passivo, ou seja, o adquirente assume a
responsabilidade de sanar as dívidas do alienante. Fica esclarecido que mencionadas
cláusulas tem eficácia entre as partes contratantes, mas não terá eficácia em relação
aos credores que, conforme a norma civilista, estipula a regra da solidariedade na
cobrança do alienante e do adquirente pelo prazo de 1 ano.
O adquirente do estabelecimento adquire os créditos do alienante, desde o
momento da publicação da transferência (art.1.149, CC).
O art. 1.147 do CC/02 prevê a cláusula de não-restabelecimento, consubstanciada
no fato de que o alienante não pode se restabelecer, nos 5 anos subsequentes à
transferência do estabelecimento comercial, em idêntico ramo de atividade
empresarial. Trata-se de cláusula implícita, ou seja, trata-se de cláusula que não
precisa estar expressa no contrato para poder ser exigida. Oportuno consignar que
apontada cláusula deve ser analisada segundo cada caso concreto, haja vista que o
Código Civil não delimita a extensão de sua aplicação.

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Por fim, acrescente-se que o adquirente do fundo de comércio se sub-roga nos
contratos estipulados pelo alienante, com exceção dos contratos que tiverem caráter
pessoal, caso em que será lícito aos terceiros interessados promoverem a rescisão do
contrato, no prazo de 90 dias, a contar da publicação da transferência (art.1.148, CC).
Exemplo clássico de contrato de caráter pessoal é o contrato de franquia. O
franqueado é escolhido pelo franqueador segundo características pessoais daquele
primeiro. Deste modo, não pode o franqueado realizar o contrato de trespasse sem a
concordância do franqueador quanto às características do virtual adquirente do
estabelecimento empresarial submetido ao contrato de franquia. Caso o franqueado
concretize a alienação do fundo de comércio, sem a anuência do franqueador, este
último poderá propor ação rescindindo o contrato de franquia, desde que o faça no
prazo decadencial de 90 dias, contados da publicação do trespasse na imprensa oficial.

PROTEÇÃO AO TÍTULO DE ESTABELECIMENTO

O título de estabelecimento é um instituto que complementa o conceito de


estabelecimento empresarial. Alguns doutrinadores lembram que o título de
estabelecimento é o mesmo que o letreiro de entrada do estabelecimento ou
simplesmente, a placa. Não se confunde com o nome empresarial e não se confunde
com a marca, como por exemplo, a AMBEV S.A. é o nome empresarial do empresário
fabrincante de cervejas, do qual é proprietário das marcas Brahma, Skol, Budweiser,
dentre outras, etc.
Aquele que imita ou utiliza o título de estabelecimento tem o dever de
indenizar o proprietário pelo desvio de clientela (art.209, LPI) e também
respondender criminialmente ( art. 195, V, LPI).

PROTEÇÃO AO PONTO EMPRESARIAL


O ponto comercial é o local ou endereço que compõe um dos elementos do
estabelecimento empresarial e, na maioria dos casos, significa um acréscimo de valor
econômico ao mesmo. É evidente que o empresário que pratica empresa por um lapso
temporal elástico, acrescenta valor ao estabelecimento empresarial e, portanto, deve
ser protegido pela lei.
O empresário pode exercer empresa em prédio próprio ou alheio. Quando o
empresário exerce empresa em prédio próprio, a proteção do ordenamento jurídico se

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externalizar por meio do direito civil e do direito processual civil, notadamente por
meio das ações possessórias. Quando o empresário exerce empresa em prédio alheio,
a proteção legal é deferida pelo Direito Empresarial, desde que o mesmo esteja
realizando suas atividades por um período de tempo, estipulado por lei.
O art. 51 da Lei de Locações (Lei 8.245/91) prevê a denominada garantia de
inerência ao ponto ou direito de inerência ao ponto, quando o empresário pratica
atividade mercantil em prédio alheio não residencial, comprovada a relação jurídica
por meio de contrato escrito com prazo determinado, celebrado pelo prazo mínimo
de locação de 5 anos no mesmo local e prazo mínimo de 3 anos ininterruptos de
exploração da mesma atividade econômica. Ficando esclarecido que a ação de
renovação compulsória ou ação renovatória deve ser proposta entre 1 ano e 6 meses
antes do término do prazo do contrato de locação não-residencial, sob pena de
decadência (art.51, §5º).
Presentes os requisitos legais acima enunciados, a renovação deve ser deferida
pelo juiz, como regra, mas não pode representar o aniquilamento do direito de
propriedade do locador que, como é evidente, caracteriza-se como direito
fundamental previsto na Constituição Federal.
O proprietário do prédio poderá se defender alegando qualquer dos requisitos
legais previstas pela Lei de Locação previstos nos arts. 52 e 72 quando, por exemplo,
o Poder Público tiver de realizar obras que importem em transformação radical do
imóvel; para realizar obras que aumentem o valor do negócio ou da propriedade; para
que o locador utilize o imóvel ou para transferência de fundo de comércio existente
em outro local a mais de um ano, quando o detentor da maioria do capital social for
cônjuge, ascendente ou descendente do locador.

SHOPPING CENTER
A origem dos Shoppings Centeres é controvertida. Alguns afirmam que
surgiram na Idade Média, no Irã. Outros afirmam que foi na Inglaterra do século
XVIII, com a construção do Oxford Covered Market. Outros asseveram, ainda, que
foi no século XIX, em Rhode Island, nos Estados Unidos ou em Milão, na Itália, com
a construção da Galleria Vittorio Emanuele II. Contudo, foi somente em meados do
século XX, provavelmente nos Estados Unidos é que se criaram centros de compras
com as características que possuem os atuais shopping centeres. No Brasil, apontadas
estruturas comerciais chegaram em 1966, com a construção do Shopping Center
Iguatemi, na cidade de São Paulo.

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Os Shoppings Centeres são imóveis de grandes proporções cujo proprietários
de tais empreendimentos alugam espaços para empresários lojistas, de diversos
ramos de atividades, com a finalidade de comercializar produtos ou serviços, neles
incluídos práticas de lazer e entretenimento, para o maior número de consumidores.
Aludidos centros de compras tem como pilares fundamentais a existência de lojas
âncoras, estacionamentos privativos, ambiente climatizado e seguro.
O proprietário do empreendimento tem de realizar o tenant mix ou mistura de
inquilinos com vistas a ter, em um mesmo local, os mais variados tipos de lojistas e,
deste modo, criar um ambiente atrativo para os consumidores, como por exemplo,
supermercados, farmácias, restaurantes, bancos, correios, roupas masculinas, roupas
femininas, calçados, cafés. Assim, o dono do shopping fica atento ao declínio e
ascensão das marcas, vontade dos consumidores, marketing e, desta feita, deve
promover com excelência, o tenant mix.
Importante consignar que até hoje não existe uma lei específica para tratar das
bases cardeais do tema e, o grande debate que se levanta, gira em torno de descobrir
qual é natureza jurídica do instituto ora estudado, ou seja, se os contratos
entabulados pelo proprietário do shopping e os lojistas são: contratos de locações,
contratos de adesão ou contratos atípicos.
Considerando que a Lei de Locações, no art. 54, autoriza que as partes
contratantes de espaços em shopping centeres podem estipular livremente as
cláusulas do contrato de locação, pode-se afirmar que supracitado negócio jurídico é
uma espécie de contrato de locação atípico que corrobora vários tipos de transações,
mas que se sobressai o acordo acerca da locação.

Das peculiaridades do contrato de locação em Shopping Center


1. Alugueis com parcelas fixas e variáveis
O contrato de locação tem PARCELAS FIXAS e VARIÁVEIS, ou seja, o
empreendedor locador tem garantido em seu favor um valor de aluguel mínimo fixo
mensal ou um percentual incidente sobre o faturamento do lojista. Aquele primeiro
tipo de parcela de aluguel serve como garantia mínima e este último serve como
equilíbrio ao negócio jurídico celebrado. Fica esclarecido que o dono do shopping
recebera um ou outro valor a título de aluguel. Aquele valor que for maior. Um
exemplo hipotético: João deve pagar R$ 5.000,00 de parcela fixa de aluguel ou 10%
de seu faturamento. Assim, caso João fature R$100.000,00 no mês X, o aluguel a ser

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pago deve ser no montante de R$ 10.000,00, correspondentes a 10% do faturamento,
e não a parcela fixa, haja vista que esta é inferior ao apurado com o faturamento.
2. Aluguel em dobro no mês de dezembro
O empreendedor locador tem direito, ainda, ao ALUGUEL EM DOBRO ou
13º aluguel, no mês de dezembro. Atente-se, contudo, para o fato de que a
jurisprudência majoritária já decidiu que o aluguel em dobro não é considerado
cláusula abusiva, na medida em que faz parte da liberdade contratual das partes e
está justificada no maior movimento de clientes em shopping centeres, durante o
período natalino. Os defensores dos empresários inquilinos alegam que supracitada
cláusula é abusiva porque transfere para os lojistas um ônus que é do dono do
empreendimento, qual seja, o pagamento do 13º dos funcionários do shopping center.
3. Obrigatoriedade de associação à Associação dos Lojistas
Os inquilinos empresários são obrigados a se associarem à Associação dos
Lojistas e, por isso, devem pagar uma mensalidade para a formação do fundo de
promoção. O Estatuto da Associação dos Lojistas e a Escritura Declaratória de
Normas Complementares fazem parte do contrato de locação.
4. Pagamento das despesas condominiais
Há ainda o dever de pagar as despesas com condomínio, ou seja, despesas
ordinárias, tais como água, luz e energia, vedada a cobrança de despesas
extraordinárias e não pactuadas (art.54, §1º, a e b da Lei 8245/91), tais como obras
de reformas ou acréscimos à estrutura do imóvel, pinturas de fachadas, iluminação,
indenizações trabalhistas e previdenciárias em decorrência de empregados
perpetradas em data anterior ao início da locação, constituição de fundo de reserva.
5. Direito de Inerência ao ponto mitigado
O locatário tem assegurado o direito de inerência ao ponto, desde que se
preencham os requisitos legais elencados no art. 51 da Lei 8.245/91. É importante
acrescentar que o dono do shopping não pode alegar que irá usar o imóvel e
tampouco pode exigir o espaço para uso do cônjuge, ascendente ou descendente, na
forma do disposto no art. 52, inc. II da Lei de Locações.
Alguns doutrinadores, contudo, afirmam que o direito de inerência ao ponto é
MITIGADO, ou seja, o inquilino de shopping center não pode ter a mesma força
para renovar o contrato de locação que tem os empresários locatários instalados fora
de shoppings centeres. Isto porque o dono do empreendimento tem o direito e o
dever de realizar o tenant mix. Sob este ponto de vista, será lícito afirmar que o
sucesso global do empreendimento depende da diversificação dos produtos e serviços

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ofertados pelo centro de compras aos seus consumidores, conforme haja maior ou
menor atratividade disponibilizada pelos lojistas aos frequentadores daquele local.
Assim, nem sequer seria necessário existir uma proposta de um terceiro para o ponto
comercial a ser disponibilizado pelo lojista pois, às vezes é mais interesse para o
tenant mix, manter uma loja fechada, do que manter uma loja mal afamada.
6. Pagamento das Luvas ou Res Sperata
A res sperata (coisa esperada) ou luvas constitui-se no contrato de cessão parcial
de uso de infra-estrutura. O inquilino paga um valor por se estabelecer em um local
com infra-estrutura e clientela já formada e com maior probabilidade de vender seus
produtos ou serviços. Os tribunais entendem que o fundo de comércio do centro de
compras pertence ao dono do shopping center que, portanto, se sobrepõe ao fundo de
comércio dos inquilinos empresários, por este motivo, a res sperata não se caracteriza
como cláusula abusiva, haja vista que é livremente pactuada pelas partes sob a ótica
da autonomia de vontade. O dono do empreendimento não pode alterar as
características do imóvel durante o período de vigência do contrato com o lojista ou
desrespeitar cláusula de exclusividade (quando prevista no contrato).

NOME EMPRESARIAL
O nome é uma espécie de Direito de Personalidade da pessoa física ou da
pessoa jurídica. Tratam-se de Direitos Fundamentais previstos, notadamente, no art.
5º da CF/88 e, portanto, tem caráter irrenunciável, impenhorável, imprescritível,
inalienável e oponíveis erga omnes. Neste sentido, também o nome empresarial goza
de proteção constitucional conforme dispõe o art. 5º, inc. XXIX, bem como goza de
proteção infraconstitucional na forma do que dispõem os arts. 16 e 52 do CC/02, ou
seja, tanto o empresário individual, quanto a sociedade empresária e a EIRELI tem
os nomes empresariais protegidos.
A proteção do nome empresarial destina-se a identificar, com precisão, o
empresário individual, a sociedade empresária e a EIRELI e, deste modo,
resguardando os Princípios Constitucionais da Livre Iniciativa (art. 170, caput, da
CF/88) e da Livre Concorrência (art. 170, inc. II, da CF/88), o combate à
concorrência desleal e à captação ilícita da clientela.
A base normativa para o estudo do tema está ligada aos princípios registrais da
garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia, assim como, pela
compreensão dos arts.1.155 a 1.168, CC/02, bem como nos arts. 33 e seguintes da
Lei 8934/94, nos arts. 61 e 62 do Decreto 1.800/96 e, por fim, nas Instruções

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Normativas exaradas pelo Departamento Nacional de Registro de Empresarial e
Integração (DREI).
Neste sentido, é importante destacar que o prejudicado pode propor, a qualquer
tempo, ação para anular inscrição de nome empresarial que viole a lei ou o contrato
(art. 1.167 do CC). É importante colacionar que o nome empresarial é uma espécie de
direito da personalidade e, portanto, tem-se que o mesmo não pode ser alienado
(art.1.164 do CC/02). Ademais, por força de lei, equipara-se a nome empresarial, o
nome da sociedade simples, das associações e das fundações (art.1.155, §único,
CC/02).
Uma vez registrado, a utilização do nome empresarial tornar-se-á prerrogativa
do empresário que titulariza supracitado nome e, portanto, quando um terceiro faz
uso de forma irregular, em tese, há crime de concorrência desleal, previsto na Lei
9.279/96, nos seguintes termos:

Art. 195. Comete crime de concorrência desleal quem:


(…)
V - usa, indevidamente, nome comercial, título de estabelecimento ou insígnia alheios ou vende,
expõe ou oferece à venda ou tem em estoque produto com essas referências;

A partir do registro, o nome empresarial estará protegido dentro do território


do Estado-membro da Junta Comercial em que foi inscrito e, caso o empresário
queira a proteção nacional do nome empresário, o mesmo também deverá promover
o registro em todos as Juntas Comerciais do país (art. 1.166 do CC). Caso o
empresário tenha decretado contra si uma sentença de falência ou tenha ele sido
agraciado com uma recuperação judicial, as Juntas Comercial deverão anotar no
nome empresarial, respectivamente, as expressões “em liquidação”, “falido” e “em
recuperação”, conforme determinam os arts 99, inc. VIII e art. 69 da Lei de Falência
e Recuperação de Empresas. O empresário ME e EPP deveria acrescentar
mencionadas expressões ao final do nome empresarial, conforme determinava o
art.72 da LC123/2006, contudo, referido artigo de lei foi revogado pela LC
155/2016 e, portanto, hoje é vedado o acréscimo das siglas.

Dos Princípios da Veracidade e da Novidade


Segundo o art. 34 da Lei 8934/94, o nome empresarial deve estar norteado
pelo princípio da veracidade e da novidade. Pelo princípio da veracidade o nome do
sócio, que compõe o nome empresarial, não pode ser inventado, devendo, portanto,
ser verdadeiro. Assim, como regra, nomes de terceiros, alheios ao quadro societário,
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não devem fazer parte do nome empresarial, salvo no caso das sociedades anônimas,
conforme art.1.160, § único do CC, nos seguintes termos: “pode constar da
denominação, o nome do fundador, acionista, ou pessoa que haja concorrido para o
bom êxito da formação da empresa”. Por fim, é importante acrescentar que o ramo de
atividade previsto expressamente no nome empresarial também deve corresponder à
realidade fática da empresa.
Pelo princípio da novidade tem-se que o nome empresarial deve evitar a
formação de homônimos a fim de evitar prejuízo para credores, captação ilegal de
clientela e responsabilidade civil e criminal equivocada de empresários. Considera-se
idêntico o nome empresarial quando afeta o NÚCLEO do mesmo, ou seja, quando
afeta a parte do nome que não pode ser retirada sem descaracterizar o nome.

Das espécies de nome empresarial


A legislação brasileira prevê duas espécies de nomes empresariais: firma e
denominação. A firma é a espécie de nome empresarial adotada quando existe
responsabilidade ilimitada do empresário, ou seja, quando o sócio responde com seu
patrimônio pessoal pelas obrigações assumidas na execução da empresa. Adotam
firma o empresário individual, a sociedade em nome coletivo e a sociedade em
comandita simples. A firma pode ser individual quando forma o nome do empresário
individual ou firma social ou razão social quando forma o nome da sociedade
empresária.

FIRMA INDIVIDUAL Empresário Individual

FIRMA
FIRMA SOCIAL OU Sociedade empresária
RAZÃO SOCIAL

Já a denominação é a espécie de nome empresarial adotada quando existe


responsabilidade limitada do empresário, isto é, quando o patrimônio pessoal dos
sócios não responde pelas obrigações sociais. Utilizam denominação a sociedade
anônima e a cooperativa. É importante lembrar que as sociedades limitadas e a
EIRELI podem optar por firma ou denominação, utilizando, ao final, a palavra
“Limitada”ou “Ltda” e EIRELI. Por fim, as sociedades em comandita por ações
também podem adotar firma ou denominação.

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Em síntese:

Empresário Individual - EI
ADOTAM APENAS FIRMA Nome Coletivo - NC
Comandita Simples- CS
Limitada – Ltda
PODEM ADOTAR FIRMA OU Empresa Individual de Responsabildiade
DENOMINAÇÃO Limitada - EIRELI
Sociedade Anônima - SA
ADOTAM APENAS DENOMINAÇÃO Cooperativas

Fica esclarecido que a sociedade em conta de participação não pode ter nome
empresarial (art.1.162, CC/02), haja vista que se trata, na verdade, de um contrato de
investimento, com a presença de um sócio ostensivo, regularmente registrado na
Junta Comercial e outro sócio participante ou oculto que realiza aportes financeiros
com a finalidade de investir.
Da classificação do nome empresarial:
a) Quanto à estrutura
A estrutura trata dos elementos lingüísticos na formação do nome empresarial.
A firma é composta deve conter o nome civil ou nome de batismo, completo ou
abreviado, do empresário, acrescentando, se quiser, de designação mais precisa da
pessoa ou objeto da empresa. Já a denominação deve acrescentar no nome
empresarial o objeto da empresa, sendo permitirdo acrescentar o nome civil e
elemento lingüístico (elemento fantasia).

b) Quanto à função
Quanto à função, tem-se que o nome empresarial pode para identificar o
empresário e ainda utilizar o nome como assinatura. No caso da firma, o nome
empresarial serve como identificação e assinatura. Enquanto que na denominação
serve apenas como identificação do empresário.
Da formação do nome empresarial
O empresário individual somente pode adotar firma, utilizando o nome civil
completo ou abreviado, sendo opcional acrescentar o ramo de atividade.
A sociedade em comandita simples somente adota firma, utilizando apenas o
nome dos sócios comanditados, por extenso ou abreviadamente, podendo acrescentar

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ou não o ramo de atividade. O nome dos sócios comanditários não podem ser
utilizados porque mencionados sócios tem responsabilidade limitada. Deve ser usada
a expressão companhia por extenso ou abreviadamente ao final do nome empresarial
para indicar a existência de sócios comanditários.
Da alteração do nome empresarial
O nome empresarial pode ser alterado em caráter excepcional, voluntária ou
involuntariamente. Ocorrerá a alteração voluntária quando depender da vontade do
empresário individual ou da vontade dos sócios quando se tratar de sociedade
empresária. Entretanto, existem casos em que há necessidade de alteração
involuntária, quando houver:
a) Saída, retirada, exclusão ou morte do sócio cujo nome civil consta do nome
empresarial – responde enquanto não retirado (art.1.158, §1º e art.1.165 do
Código Civil);
b) Alteração da categoria do sócio, ou seja, quando o nome civil fazia parte do
nome empresarial (art.1.157 do Código Civil). Por exemplo, quando o sócio
comanditado possou a ser comanditário no caso das sociedades em
comandita simples. Fica esclarecido que enquanto não se altera o registro, o
sócios respondem na forma de suas obrigações postas no contrato social na
antiga categoria.
c) Alienação do estabelecimento ou Trespasse. Lembrando que o nome
empresarial não pode ser alienado, ficando ressalvado que o adquirente
pode usar o nome empresarial do alienante acrescido da empressão
“sucessor de” (art.1.164, § único).
d) Transformação de tipo societário, como no caso de alteração de tipo societário
de limitada para anônima.
e) Lesão a direito de outro empresário. Nestes casos, a alteração será compulsória
e poderá gerar responsabilidade por perdas e danos quando houver
captação ilegal de clientela.
Da proteção do nome empresarial
A existência de homônimos pode prejudicar o empresário, consumidores e
terceiros. Quando os nomes empresariais são idênticos, o consumidor pode se
equivocar ao adquirir um produto de um empresário, quando na verdade está
adquirindo de outro. Há ainda a possibilidade de equívoco na concessão de crédito,
quando um empresário toma empréstimos em instituições financeiras ou consegue
melhores condições de pagamento, quando um credor imagina estar contratando

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com um empresário de bom nome, quando na verdade está tratando com um
empresário usurpador do nome daquele primeiro.
Sob este ponto de vista, é lícito afirmar que o empresário tem direito de
exclusividade no manejo do nome empresarial, ou seja, o empresário pode impedir o
registro, perpetrado pela Junta Comercial de nome idêntico ou semelhante já
registrado, conforme se depreende dos art.35, inc.V, RPEM e art.1163, CC e art. 3º,
p.2º da Lei das Sociedades Anônimas.
Entende-se por nome semelhante ou idêntico quando a semelhança ou
identidade disser respeito ao núcleo. A análise do que seja o núcleo do nome
empresarial deve ser feita caso a caso. Em se tratando de denominação, deve-se
observar qual parte do nome mais chama atenção de quem lê ou qual parte identifica
melhor o empresário perante sua clientela. Deste modo, as expressões que indicam o
tipo societário devem ser descartadas como, por exemplo, as expressões Ltda, S/A e
EIRELI. Em se tratando de firmas, deve-se observar a totalidade do nome, ou seja,
se os nomes forem totalmente idênticos ou quase totalmente idênticos, a tendência é
que as Juntas Comerciais, vedem seus registros.

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PROPRIEDADE INDUSTRIAL
Há alguma controvérsia acerca da origem histórica das normas de proteção à
Propriedade Industrial, contudo, entende-se que o grande marco legal para a
disciplina ora estudada ocorre com a Convenção para a Proteção da Propriedade
Industrial de Paris ou, simplesmente, Convenção de Paris de 1883, tratando da
disciplina das marcas, patentes e desenhos industriais.
A Propriedade Industrial no Brasil, tem como base legal o art. 5º, inciso XXIX
da Constituição Federal e também a Lei nº. 9279/96, tendo como principal objetivo a
proteção dos bens imateriais ou intangíveis da empresa, do empresário e do
estabelecimento empresarial. Para reger, fiscalizar e proteger as propriedades
industriais, foi criada pela LPI uma autarquia federal, com sede no Rio de Janeiro,
denominada INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Cabe ao INPI a
concessão da Carta-Patente das patentes de invenção e patentes de modelo de
utilidade e do Certificado-Registro dos registros de desenho industrial (design) e
registros de marca. Somente os proprietários de mencionados direitos podem realizar
a exploração econômica de tais direitos e também podem obstar que terceiros o
façam sem autorização.

Da Patente

Conforme dito, a patente pode ser de invenção e modelo de utilidade. Enquanto


que na invenção existe uma criação totalmente nova, no modelo de utilidade existe
um aperfeiçoamento da invenção ou invenção pequena mas, em ambos os casos deve
haver aproveitamento industrial.
Os requisitos legais para a obtenção da chamada Carta-Patente são idênticos
para ambos institutos mencionados. Senão vejamos:
Art. 8º É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade,
atividade inventiva e aplicação industrial.
Entende-se por novidade tudo aquilo que não estiver compreendido pelo estado
da técnica. Equivale dizer que os especialistas do INPI não tem conhecimento da
existência de nenhuma outro invento parecido.
A patente pode ser cedida totalmente para terceira pessoa explorar
economicamente o invento ou modelo de utilidade.

Do Registro

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O registro pode ser de desenho industrial (design) ou de marca.
O desenho industrial traz uma configuração visual de um objeto sem aumentar
sua utilidade. Deste modo, a grande característica do desenho industrial é a
futilidade.

Do prazo de duração
O prazo de duração da patente de invenção é de 20 anos contados do depósito,
isto é, do requerimento formulado ao INPI ou 10 anos da data da concessão do
direito, aquela data que for mais benéfica ao requerente. Já o prazo de duração da
patente de modelo de utilidade é mais reduzido. São 15 anos contados do depósito ou
7 anos contados da concessão, aquela data que for mais benéfica ao requerente. Após
o decurso do prazo de proteção da patente, a invenção ou modelo de utilidade caem
em domínio público e, deste modo, podem ser explorada por terceiros.
O prazo de duração do registro do desenho industrial é de 10 anos sempre
contados do depósito, podendo haver 3 prorrogação sucessivas de 5 anos, cada vez,
ou seja, as prorrogações podem chegar a um total de 15 anos. Após o prazo de
registro e de suas prorrogações, o desenho industrial cai em domínio público.
O prazo de duração do registro da marca é de 10 anos sempre contados da
concessão, podendo ser prorrogadas, tantas vezes quantas forem necessárias.
Falar a respeito do TRIPS

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DIREITO
SOCIETÁRIO

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1. QUADRO GERAL DAS PESSOAS JURÍDICAS
O estudo de um instituto jurídico deve partir de suas raízes mais profundas.
Buscar o núcleo, fundamento, fonte. No caso do Direito Societário, por dedução
lógica, o estudo deve partir da compreensão das pessoas jurídicas.
No ordenamento jurídico pátrio, as pessoas jurídicas são entes distintos das
pessoas que compõem seu quadro societário, no caso em testilha, a figura do sócio
difere da pessoa da sociedade empresária ou EIRELI – Empresa Individual de
Responsabilidade Limitada.
As pessoas jurídicas são divididas em Pessoas Jurídicas de Direito Público e de
Direito Privado.
As Pessoas Jurídicas de Direito Público são de Direito Público Externo
(Estados estrangeiros, ONU, MERCOSUL, OTAN) e de Direito Público Interno
(União, Estados, Distrito Federal, Municípios e Autarquias).
Já as Pessoas Jurídicas de Direito Privado, por seu turno, estão disciplinadas no
art. 44, CC/02, nos seguintes termos: associações, fundações, organizações religiosas,
partidos políticos e sociedades.
As sociedades, foco de nosso estudo, podem ser simples ou empresárias.
As SOCIEDADES EMPRESÁRIAS, se enquadram no conceito do art. 966 do
Código Civil, e sob o ponto de vista técnico-jurídico, as sociedades empresárias,
assim se caracterizam pela organização dos fatores de produção: capital, mão de obra,
matéria-prima, tecnologia.
Em outras palavras, as sociedades empresárias tendem a formar um
encadeamento lógico de condutas direcionadas à produção ou circulação de bens e
serviços.
Vejamos o exemplo de uma fábrica de carrocerias. O setor de compras adquire
a matéria-prima para a fabricação das carrocerias: madeira, parafusos, pneus, etc. O
setor de produção executa a construção das carrocerias. O setor de vendas faz seu
trabalho: vende carrocerias com margem de lucro. O setor de logística entrega o
produto. End of story!
As SOCIEDADES SIMPLES, sob o ponto de vista técnico-jurídico, se
caracterizam por um raciocínio contrario sensu, isto é, por não se enquadrarem no
conceito do art. 966 do Código Civil. Não há organização dos fatores de produção.
Não existe encadeamento lógico entre setores.

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Vejamos o exemplo de uma sociedade de advogados. O advogado especializado
em Direito Empresarial cuida dos problemas societários de seu cliente. Na sala ao
lado, seu sócio, especialista em Direito Tributário, elabora um mandado de segurança
para solucionar um problema de ICMS de seu cliente. Na sala de reuniões, o
advogado especialista em Direito de Trabalho, se reúne com seu cliente a fim de
traçar a estratégia da audiência de instrução que se realizará em algumas horas.
Todos os três advogados são sócios, contudo, cada um deles realiza sua tarefa
independente dos demais.
As sociedades simples, vale lembrar, são compostas por profissionais
intelectuais. Os profissionais intelectuais são aqueles que exercem atividade
científica, literária ou artística e, deste modo, são aqueles que não podem ser
substituídos uma vez que atuam de maneira personalíssima.
Deste modo, deve-se ressaltar que não é a finalidade lucrativa que diferencia
sociedade simples de sociedade empresária, mas a existência ou não de organização
dos fatores de produção (capital, mão de obra, tecnologia, matéria prima).
As sociedades empresárias são personificadas (com personalidade jurídica) ou
não personificadas (sem personalidade jurídica).

São sociedades não personificadas:

A) Sociedade em comum (S/C)

B) Sociedade em conta de participação (SCP)

São sociedades personificadas:

A) sociedade em nome coletivo (N/C);

B) sociedade em comandita simples (C/S);

C) sociedade comandita por ações (C/A);

D) sociedade limitada (LTDA);

E) EIRELI;

F) sociedade anônima (S/A).

- Da Personalização das Sociedades Empresárias

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A Sociedade empresária adquire personalidade jurídica com a autenticação dos
ATOS CONSTITUTIVOS na Junta Comercial do Estado-membro em que se
localiza a empresa.
As sociedades simples são registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas,
com exceção das sociedades de advogados que serão registradas no Conselho
Seccional da OAB da sede em que se localiza (art. 15 do Estatuto da OAB).
Vale lembrar, conforme dito supra, que os sócios se diferenciam das Sociedades
Empresárias que representam. Os sócios têm a proteção de seu patrimônio
particular, ou seja, há separação entre patrimônio pessoal e patrimônio da empresa
(princípio da autonomia patrimonial).
Ressalte-se que as cooperativas são espécies de sociedades simples, porém são
registradas na Junta Comercial do Estado-membro da Federal em que está o local de
sua sede, por força do que reza o art. 18 da Lei 5764/71.
Ressalte-se que o princípio da autonomia patrimonial existe para dar um
ambiente favorável ao empreendedorismo e à criação de novas empresas, justamente
por proporcionar maior segurança aos sócios.

2. CONSEQUENCIAS DA PERSONIFICAÇÃO:

O registro da sociedade empresária traz consequências importantes sob o


ponto de vista jurídico e econômico, quando, por exemplo, possibilita à sociedade
empresária maior facilidade de acesso a crédito bancário ou quando possibilita à
sociedade empresária pedir recuperação judicial, participar de licitações e contratar
com o poder público.
O arquivamento dos atos constitutivos da sociedade empresária proporcionará,
sob a ótica específica do Direito Societário, as seguintes consequências:
a) TITULARIDADE NEGOCIAL – a sociedade empresária assume um dos
polos dos negócios jurídicos, ora como contratante, ora como contratada.

b) TITULARIDADE PROCESSUAL – é a sociedade empresária que pode


demandar e ser demandada, ora como autora, ora como ré.

c) RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL – é a sociedade empresária que


responderá com seu patrimônio pelas obrigações que assumir.

3. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

a) Quanto à responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais -

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Como regra, se um sócio for demandado por dívida constituída pela empresa,
haverá a possibilidade de exigir do credor que se esgote primeiro os bens da
sociedade e, somente depois, os bens particulares dos sócios.
Assim, o sócio pode alegar, em sua defesa, que sejam executados, primeiro o
patrimônio da empresa e, somente depois de esgotado tal patrimônio, é que se cogita
adentrar o patrimônio pessoal dos sócios.
Trata-se da chamada responsabilidade SUBSIDIÁRIA dos sócios (art.1.024,
CC e art. 795, CPC).

Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade,
senão depois de executados os bens sociais.

Art. 795. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, senão nos
casos previstos em lei.
§ 1º O sócio réu, quando responsável pelo pagamento da dívida da sociedade, tem o direito de
exigir que primeiro sejam excutidos os bens da sociedade.

Importante repetir aqui que se aplica o princípio da autonomia patrimonial, ou


seja, patrimônio do sócio não se confunde com o patrimônio da sociedade empresária
ou EIRELI.
Lembre-se, a responsabilidade dos sócios é subsidiária, mas, caso o patrimônio
da sociedade acabe, sem que haja esgotamento do débito devido pelo empresário, o
patrimônio pessoal do sócio pode responder limitada ou ilimitadamente, conforme o
tipo societário adotado.

a1) SOCIEDADE ILIMITADA – os sócios respondem ilimitadamente com


seu patrimônio pessoal pelas obrigações sociais, nas sociedades em nome
coletivo;

a2) SOCIEDADE MISTA – há sócios com responsabilidade limitada e sócios


com responsabilidade ilimitada, como por exemplo, respectivamente, os sócios
comanditários e comanditados, nas sociedades em comandita simples e
comandita por ações;

a3) SOCIEDADE LIMITADA – sócios respondem de forma limitada com seu


patrimônio pessoal, até o limite do capital social subscrito, como por exemplo,
as sociedades limitadas e as sociedades anônimas.

- Da responsabilidade limitada das sociedades do tipo Limitada - LTDA.

Na sociedade limitada a responsabilidade dos sócios é SOLIDÁRIA pelo total


do capital social subscrito (compromisso de pagar pelas cotas) e não integralizado
(não cumprir o compromisso de pagar pelas cotas).

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O compromisso ocorre quando o sócio assina o contrato social afirmando que
irá pagar determinada quantia em dinheiro, bens ou direitos, a fim de compor o
capital social da empresa.
Lembre-se sempre, subscrição, etimologicamente, está ligada à palavra
assinatura, ou seja, compromisso. Já a palavra integralizar, etimologicamente, está
ligada à palavra inteirar, completar ou concluir o pagamento.
Assim, se um ou alguns dos sócios não integraliza o montante pelo qual se
comprometeu, todos podem ser compelidos a pagar o valor que ainda falta
integralizar, em face da regra da responsabilidade solidária.
Vamos ao exemplo hipotético de uma sorveteria com 4 sócios, cujo capital
social é de R$ 100.000,00:

SÓCIOS SUBSCRIÇÃO INTEGRALIZAÇÃO


A 50.000,00 NADA
B 30.000,00 30.000,00
C 10.000,00 10.000,00
D 10.000,00 10.000,00

No caso acima, o sócio A não integralizou o montante subscrito e os sócios B, C


e D, integralizaram suas cotas. Sendo assim, os sócios B, C e D, isolados ou
solidariamente, mesmo tendo integralizado suas quotas, podem ser compelidos a
pagar o montante subscrito por A e não integralizado.
Importante notar que o limite de perda patrimonial não ultrapassa os
R$100.000,00, ou seja, tanto os sócios, quanto os credores sabem, de antemão, o
limite de suas perdas.
Pode ocorrer, no entanto, que os sócios A, B, C e D tenham integralizados suas
cotas e, neste caso, de capital totalmente integralizado, o credor somente poderá
executar o patrimônio da empresa.
Neste último caso, a invasão ao patrimônio particular dos sócios pode ocorrer
em casos excepcionais, por meio da aplicação das regras acerca da Desconsideração
da Personalidade Jurídica.
Os credores, cientes desta regra, deverão buscar outros meios jurídicos para
garantir o adimplemento dos créditos que concedem aos devedores, dos quais
destacam-se o aval, fiança, hipoteca e a alienação fiduciária em garantia.

- Da responsabilidade limitada das sociedades do tipo S/A.

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Nas sociedades anônimas, o acionista responde somente pelo que subscreveu e
não integralizou de maneira isolada, ou seja, a regra apresentada acima, quanto à
responsabilidade SOLIDÁRIA dos sócios, aqui não é aplicada.
Em síntese, se no caso hipotético acima estivéssemos tratando de uma S/A, os
credores somente poderiam executar o patrimônio pessoal do sócio A, até o limite do
capital subscrito, ou seja, até R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

- DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Proveniente do Direito Anglo-Saxão, a Desconsideração da Personalidade


Jurídica, também conhecida como disregard doctrine ou disregard of legal entity ou
lifting the corporate veil, pressupõe MAL USO da pessoa jurídica.
Deste modo, tem como missão atacar o patrimônio pessoal dos sócios,
quebrando a autonomia patrimonial, por motivos de confusão patrimonial ou desvio
de finalidade da sociedade.
Não atinge a validade do ato constitutivo, mas a sua eficácia episódica, ou seja, o
contrato social é válido mas fica sem efeitos momentâneos, para satisfazer o apetite
episódico dos credores.

- Das teorias acerca da Desconsideração da Personalidade Jurídica:

a) Teoria Maior – aplicada quando há confusão patrimonial (elemento


objetivo) e desvio de finalidade (elemento subjetivo), conforme previsto no
art.50, CC/02.

b) Teoria Menor – aplicada quando há comprovação de insolvência, conforme


previsto no art.28, § 5º, CDC, art. 4º da Lei 9.605/98.

c) Teoria inversa – não tem previsão legal expressa, ocorrendo no caso


específico de divórcio ou situação correlata, caracterizando-se quando o sócio,
em vez de transferir os bens para o patrimônio pessoal, o mesmo transfere para
a empresa.

Vale destacar que não é necessário que se proponha uma ação autônoma, pois o
CPC prevê o incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica, como uma
nova modalidade de intervenção de terceiro, cuja legitimidade é do credor ou do
Ministério Público.

b) Quanto ao regime de constituição e dissolução

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As sociedades empresárias possuem como ato constitutivo o contrato social ou
o estatuto social, nos seguintes termos.

b1) SOCIEDADES CONTRATUAIS – ato constitutivo é o contrato social –


previsão das regras está no CC/02 – ex: N/C, C/S e Ltda.

b2) SOCIEDADES INSTITUCIONAIS – ato constitutivo é o estatuto –


previsão legal está na lei 6.404/76 – ex: S/A e C/A.

Fica esclarecido que as sociedades contratuais têm como característica a


flexibilidade na alteração de seus atos constitutivos, enquanto que as sociedades
institucionais tendem a ser mais estáveis em seus atos constitutivos.

c) Quanto a alienação da participação societária

As sociedades empresárias podem ser classificadas quanto ao critério de livre


negociação de sua participação societária, isto é, se podem alienar livremente, está-se
falando de sociedade de capital ou institucional, contudo, se existem regras
restritivas quanto à alienação das cotas, está-se falando de sociedade de pessoas.

Destaque-se que na sociedade de pessoas, preponderam as qualidades dos


sócios para a manutenção da empresa, já na sociedade de capital, prepondera o
dinheiro ou os bens direcionados ao capital social.

c1) SOCIEDADE DE PESSOAS – sócios tem direito de vetar a entrada de


estranhos na sociedade.

c2) SOCIEDADE DE CAPITAL – princípio da livre circulabilidade da


participação societária.

A sociedade limitada poderá ser de pessoas ou de capital, mas é de pessoas


como regra (art. 1057 do CC). A sociedade limitada será de pessoas, também
chamada personalista, quando a transferência das cotas depender da concordância dos
demais sócios, mas será de capital, também chamada capitalista, quando a
transferência das cotas a terceiro, não depende da anuência dos demais sócios.

Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a
quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver
oposição de titulares de mais de um quarto do capital social.

As sociedades institucionais são sempre de capital e as sociedades contratuais são


de pessoas ou de capital, a depender do tipo societária escolhido pelos sócios.

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d) Quanto à quantidade de sócios

A palavra sociedade pressupõe a existência de dois ou mais sócios, contudo, há


que se esclarecer que existem exceções:

d1) SOCIEDADE PLURIPESSOAL – compostas por 2 ou mais sócios.

d2) SOCIEDADE UNIPESSOAL – composta por um único sócio. Admitida


em 3 hipóteses: para a subsidiária integral (art.251 da LSA), sociedade
superveniente acidental e temporária (art. 1033, CC) e a Empresa Individual de
Responsabilidade Limitada - EIRELI (art.980-A do CC/02).

4. DO CONTRATO SOCIAL

O contrato social é uma espécie de negócio jurídico sui generis, uma vez que é
regido pelas regras do Direito Civil, mas com nuances específicas de Direito
Empresarial, uma vez que as partes contratantes não tem interesses contrapostos,
mas interesses convergentes.

Neste contexto, importa dizer que ATO CONSTITUTIVO é gênero, dos quais
o CONTRATO SOCIAL e o ESTATUTO são espécies. Utilizar-se-á um ou outro
ato constitutivo conforme o tipo societário.

Adota-se estatuto quando a sociedade empresária for regida pelas normas da


Lei de S/A (Lei 6.404/76), quais sejam, a sociedade anônima e a comandita por ações.
Já o contrato social será adotado nas sociedades em nome coletivo, comandita
simples e limitada.

A) Dos Requisitos de Validade

O contrato social é um negócio jurídico e, como tal, deve observar princípios e


regras concernentes ao Direito Contratual, contudo, trata-se de uma espécie de
contrato sui generis e, portanto, com algumas peculiaridades que precisam ser
melhores estudas.

Os contratos sociais possuem requisitos genéricos, devidamente tratados no


art.104, CC/02 como requisitos de validade do negócio jurídico, quais sejam, agente

Professor Breno Dores 44


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capaz; objeto lícito, possível, determinada ou determinável e forma prescrita e não vedada em
lei.

Há ainda os requisitos específicos constantes do art.981 do CC/02 consistentes


em, os sócios, contribuir com bens e serviços, para o exercício de atividade econômica
e a partilha, entre si, dos resultados.

B) Das Cláusulas Contratuais

O contrato social deve contemplar as regras que disciplinam a vida da empresa


e, portanto, qualquer assunto é admitido, desde que seja lícito.
O contrato social deve prever as chamadas cláusulas essenciais, previstas
expressamente no art.997, inc. I a IV e VI do CC/02, sem as quais, a Junta Comercial
estará proibida de concretizar o arquivamento de mencionado ato constitutivo.
Há ainda a possibilidade de previsão, no contrato social, das chamadas
cláusulas acidentais, atinentes a assuntos específicos do contexto que aquele
determinado quadro societário exige, como, por exemplo, a previsão da chamada
cláusula arbitral para a resolução de eventuais litígios entre sócios, bem como a
previsão da entrada no quadro societário, dos herdeiros de sócio falecido, dentre
tantos outros casos possíveis.
C) Da Forma do Contrato Social
O ato constitutivo deve ser sempre escrito, ou por instrumento público
(escritura pública) ou instrumento particular, uma vez que só assim é possível seu
ingresso perante a Junta Comercial.
Eventuais alterações do contrato social devem ser também escritas e nada
obsta que sejam por instrumento público ou particular.
Assim, será lícito que o ato de constituição seja realizado por instrumento
particular, como é mais comum acontecer e, eventual alteração seja realizada por
meio de escritura pública e vice-versa.
Cabe destacar, ainda, que caso algum dos sócios não possa ou não saiba assinar
o contrato social ou sua alteração, dever-se-á lavrar procuração pública com poderes
específicos para que o procurador assine o instrumento de contrato social.

D) Da Alteração do Contrato Social

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A alteração do contrato social se dá por vontade das partes ou por decisão
judicial, contudo, conforme já dito, deve-se respeitar os requisitos de validade de
todo negócio jurídico e as cláusulas essenciais do contrato social.

A maioria dos sócios pode alterar o contrato social.

A maioria dos sócios é definida pela quantidade de cotas de que cada sócio é
proprietário no quadro societário (one share, one vote). A quantidade de sócios só
importa em caso de desempate, ou seja, em caso de votação empatada em número de
cotas, apura-se quantos sócios votaram para um lado ou para outro.

Persistindo o empate, a resolução do problema se dará conforme rezam as


cláusulas constantes do contrato social, como, por exemplo a acima mencionada
cláusula arbitral, ou em último caso, por meio de decisão judicial.

Ressalte-se que, neste último caso, o juiz não pode impor uma conduta não
aventada pelos sócios.

5. DA TRANSFORMAÇÃO DO REGISTRO

A transformação de registro ocorre quando o empresário individual passa a ser


enquadrado como sociedade empresária (art.968, parágrafo 3º do CC/02).
Note que a transformação de registro não se confunde com a transformação de
tipo societário, como é mais comum, ou seja, ocorre quando a sociedade limitada se
transforma para sociedade anônima.

6. DO SÓCIO DA SOCIEDADE CONTRATUAL

O sócio possui um regime jurídico especial ou sui generis e, portanto, precisa ser
melhor entendido em todos os seus contornos, a fim de se definir melhor quem é ele.
Neste contexto, é equivocado afirmar que o sócio é proprietário da sociedade
empresária, porque uma pessoa não pode ser proprietária de pessoa.
O sócio também não é credor da sociedade empresária, uma vez que, embora
tenha participação nos lucros da empresa, o sócio não recebe como credor caso a
empresa venha a falir.
Os direitos e obrigações dos sócios devem estar previstos no contrato social.

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A) Das Obrigações do Sócio
São duas as obrigações dos sócios.
A primeira obrigação do sócio é contribuir com a formação do capital social.
O sócio que não contribui para a formação do capital social é chamado de sócio
remisso (art. 981, CC/02). O sócio remisso pode ser cobrado judicialmente pelo valor
devido, pode ser excluído do quadro societário ou pode ter sua participação societária
reduzida ao montante integralizado.
Caso o sócio remisso seja cobrado judicialmente, o contrato social é
considerado o título executivo extrajudicial que legitima a cobrança.
Caso os sócios optem pela exclusão do sócio remisso, com diminuição do capital
social integralizado, será lícito descontar do sócio remisso os juros de mora e outras
prestações previstas no contrato social.
Os demais sócios adimplentes podem atribuir as cotas não integralizadas do
sócio remisso a SI MESMOS, a TERCEIROS ou à PRÓPRIA SOCIEDADE, se não
quiserem a diminuição do capital social.
Senão vejamos:

Art. 1.004. Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às contribuições estabelecidas
no contrato social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação
pela sociedade, responderá perante esta pelo dano emergente da mora.

Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir, à indenização,
a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado, aplicando-se, em
ambos os casos, o disposto no § 1o do art. 1.031.

Art. 1.058. Não integralizada a quota de sócio remisso, os outros sócios podem, sem
prejuízo do disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá-la para si ou transferi-la
a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago,
deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas.

A segunda obrigação do sócio é contribuir com as perdas sociais, na exata medida de


suas participações societárias.

B) Direitos dos Sócios

B1) Participação nos resultados da empresa


O grande objetivo da empresa é obter lucros. Caso a sociedade empresária
obtenha lucro, os sócios podem deliberar pela constituição de reservas, capitalizar a
empresa ou distribuir lucros para os sócios.
Portanto, desde que haja deliberação dos sócios no sentido da distribuição, os
sócios têm direito a receber os lucros auferidos pela sociedade empresária, na
proporção das cotas que cada um possui.

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Importante destacar que os lucros auferidos são da sociedade empresária e,
portanto, caso a deliberação da maioria dos sócios seja pela não distribuição dos
lucros, não pode um dos sócios exigir que haja distribuição.
Contudo, se houve deliberação da maioria dos sócios pela distribuição dos
lucros, após a realização da deliberação pela distribuição, os sócios passam a ser
credores da sociedade empresária e, portanto, podem cobrar judicialmente esta
última, caso seja necessário.
É vedada a distribuição de lucros quando a sociedade empresária é devedora do
INSS – Instituto Nacional da Seguridade Social (art.52, Lei 8.212/91).
A distribuição dos lucros não se confunde com o pro labore (pelo labor, pelo
trabalho), valor este direcionado aos sócios que trabalham na empresa,
diferentemente da figura do sócio investidor, que recebe apenas distribuição de
lucros, caso exista o lucro.
B2) Participação na administração da sociedade
Os sócios têm direito de participar da escolha do ADMINISTRADOR e da
ESTRATÉGIA DA EMPRESA.
Os sócios minoritários não têm força contratual para determinar as escolhas,
porém, todos têm o direito de participar das deliberações por meio de voto
proporcional à quantidade de cotas que possui.
Por fim, deve-se ressaltar que a participação na administração se faz por meio
da regra uma cota é igual a um voto, ou seja, one share, one vote.
B3) Participação na fiscalização da administração
Os sócios têm direito de exigir a prestação de contas dos administradores da
sociedade empresária, nos seguintes termos:

Art. 1.020. Os administradores são obrigados a prestar aos sócios contas justificadas de sua
administração, e apresentar-lhes o inventário anualmente, bem como o balanço patrimonial e
o de resultado econômico.

Os sócios poderão ainda exigir e examinar livros, documentos e o caixa da empresa,


nos seguintes termos:

Art. 1.021. Salvo estipulação que determine época própria, o sócio pode, a qualquer tempo,
examinar os livros e documentos, e o estado da caixa e da carteira da sociedade.

Em casos graves de litígio entre os sócios, será lícita a propositura de ação de


prestação de contas com fundamento nos dispositivos acima apontados.

B4) Direito de retirada

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O sócio tem o direito de se retirar da sociedade empresária e receber, em
dinheiro, o valor equivalente às suas cotas do capital social.
A regra de retirada dos sócios variará conforme se trate de sociedade por prazo
determinado ou por prazo indeterminado.
Nas sociedades por PRAZO INDETERMINADO os sócios, como regra,
podem se retirar imotivadamente, apenas notificando os demais sócios com
antecedência mínima de 60 dias.
Já nas sociedades por PRAZO DETERMINADO, será necessária a
comprovação de justa causa, por parte do sócio retirante.

Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da
sociedade; se de PRAZO INDETERMINADO, mediante notificação aos demais sócios, com
antecedência mínima de sessenta dias; se de PRAZO DETERMINADO, provando
judicialmente justa causa.

Parágrafo único. Nos trinta dias subsequentes à notificação, podem os demais sócios optar pela
dissolução da sociedade.

Importante destacar que nas sociedades limitadas, o sócio pode exercer o


direito de retirada, nos 30 dias subsequentes à reunião, quando houver alteração
contratual, incorporação ou fusão, nos termos seguintes:

Art. 1.077. Quando houver modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação de outra,
ou dela por outra, terá o sócio que dissentiu o DIREITO DE RETIRAR-SE da sociedade, nos
trinta dias subsequentes à reunião, aplicando-se, no silêncio do contrato social antes vigente, o
disposto no art. 1.031.

Cabe esclarecer que a incorporação ocorre quando uma empresa incorpora


outra, extinguindo a empresa incorporada. Já a fusão ocorre quando uma empresa se
funde a outra que, juntas, formam uma terceira.

EXCLUSÃO DE SÓCIO

O sócio pode ser excluído quando incorrer em mora na integralização de suas


cotas ou quando o sócio pratica ato grave contra a sociedade empresária,
caracterizado como justa causa.
No caso da mora na integralização, isto é, quando o sócio deixar de integralizar
a cota subscrita, nos seguintes termos:

Art. 1.004. Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às contribuições estabelecidas
no contrato social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias seguintes ao da
NOTIFICAÇÃO pela sociedade, responderá perante esta pelo dano emergente da mora.

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Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir, à
INDENIZAÇÃO, a EXCLUSÃO do sócio remisso, ou REDUZIR-LHE A QUOTA ao
montante já realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no § 1o do art. 1.031.

O sócio poderá ser excluído quando incorrer em ato caracterizado como justa
causa, em face do descumprimento das obrigações sociais.
Ademais, não há necessidade de previsão expressa no contrato social daquilo
que venha a ser justa causa, bastando que o ato praticado pelo sócio ponha em risco a
existência da empresa.
Admite-se a exclusão do sócio por perda da affectio societatis.
Não há necessidade que haja deliberação da vontade majoritária dos sócios.
Nesta esteira de raciocínio, deve-se dizer que o sócio majoritário pode ser remisso e,
neste caso, os sócios minoritários podem excluir este último. A exclusão do sócio
majoritário dependerá, no entanto, de ação judicial (art. 1.030, CC).
Em qualquer caso, o sócio expulso terá direito de receber o valor patrimonial
de sua participação societária, em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da
liquidação, salvo estipulação contratual em sentido contrário.

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DAS SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS

SOCIEDADE EM COMUM

A sociedade em comum é de fato ou irregular. A sociedade de fato pressupõe


acordo verbal entre os sócios. Já a sociedade irregular pressupõe a existência de um
contrato sem o devido registro perante a Junta Comercial.
A sociedade em comum poderá se tornar regular se houver registro de seus
atos constitutivos.
Uma vez que se trata de sociedade sem registro perante a Junta Comercial, a
responsabilidade dos sócios torna-se SOLIDÁRIA e ILIMITADA.

Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais,
excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.

A sociedade em comum prova sua existência, nas relações entre os sócios ou


dos sócios com terceiros, apenas por escrito, contudo, nas relações de terceiros com a
sociedade, prova-se por qualquer meio.
Os bens e dívidas da sociedade formam patrimônio especial. O patrimônio
especial é aquele constituído pelos bens utilizado pelos sócios no desenvolvimento do
objeto social.
No caso hipotético de sociedade em comum constitutiva de um restaurante, o
patrimônio especial são as mesas, cadeiras, talheres, fogões, geladeiras, e utensílios
correlatos. Eventual propositura de ação de execução, promovida por terceiro credor,
far-se-á com que haja a liquidação do patrimônio especial, em primeiro lugar e,
somente depois, haverá que se falar em execução dos bens particulares dos sócios.
Deste modo, vê-se que até mesmo nas sociedades em comum, existe uma
espécie da responsabilidade subsidiária dos sócios.
Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos
sócios e constituem patrimônio comum de todos os sócios.
Nos casos omissos, aplicam-se subsidiariamente as normas das sociedades
simples.

SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO – arts.991 a 996

A sociedade em conta de participação é conhecida como SOCIEDADE


SECRETA, haja vista que seu ato constitutivo não é e nem pode ser arquivado
perante a Junta Comercial.

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Assim, diz-se que a SCP é sociedade secreta, não porque ninguém fica sabendo
de sua existência mas, porque seu contrato social não é publicado no órgão
competente.
A SCP é um CONTRATO DE INVESTIMENTO que foi normatizado como
sociedade empresária não personificada.
A SCP gera interesse dos investidores por possibilitar uma MENOR
TRIBUTAÇÃO e uma MAIOR INFORMALIDADE na sua constituição.
A SCP possui 2 tipos de sócios: ostensivo e o participante ou oculto.
O sócio ostensivo não pode admitir novo sócio sem consentimento dos demais.
Note que o contrato social somente produz efeitos entre os sócios e, mesmo
que não haja contrato social, a SCP comprova-se por qualquer meio admitida em
Direito.
A SCP não tem nome empresarial.
Aplica-se à SCP, subsidiariamente, as normas da sociedade simples.
É importante destacar que a SCP pode ser registrada no Registro de Títulos e
Documentos, apenas para conservação de direitos, entretanto, apontado registro não
significa que a SCP passa a ter personalidade jurídica.
Importante esclarecer que o cartório de Registro de Títulos e Documentos tem
a função precípua dar publicidade a documentos em geral.
Fica esclarecido, ainda, que o critério para se realizar o registro de um
documento no RTD é por exclusão, ou seja, tudo que não é registrado no Registro de
Imóveis, no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e no Registro Civil das Pessoas
Naturais, pode ser registrado no Registro de Títulos e Documentos, como por
exemplo: letra de música, livro, poesias, etc.

- Da Responsabilidade das Sociedades em Conta de Participação:

A SCP não pode assumir responsabilidade em seu nome. Quem deve assumir a
responsabilidade é o sócio ostensivo. O sócio participante responde somente perante
o sócio ostensivo, limitada ou ilimitadamente, a depender do que foi estipulado no
contrato entre ambos.
Ressalte-se que o sócio oculto ou participante não pode praticar atos de gestão
e, caso o faça, responderá ilimitadamente.
O credor da sociedade, caso seja necessário, deverá demandar o sócio ostensivo
e não poderá demandar sócio participante. Nesta linha de raciocínio, o sócio
participante não pode demandar devedor da sociedade.

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SOCIEDADES PERSONIFICADAS

1) SOCIEDADE SIMPLES (S/S)

O legislador civilista decidiu disciplinar pormenorizadamente a sociedade


simples, ao lado das sociedades empresárias personificadas.
As sociedades simples são formadas por sócios profissionais intelectuais que
realizam atividade científica, literária e artística, como, por exemplo, advogados,
engenheiros, artistas plásticos, pintores, atores, poetas.
Cabe lembrar que as sociedades simples e as sociedades empresárias não se
confundem. Ambas são como água e óleo. Nas sociedades simples, a atuação dos
sócios se faz indispensável na prestação do serviço ou na entrega do produto, isto é,
uma vez retirada a figura do sócio, a sociedade se desnaturaliza. Nas sociedades
empresárias, por seu turno, a atuação dos sócios, como regra, se faz dispensável na
prestação do serviço ou na entrega do produto como, por exemplo, o caso de
supermercados, lojas de roupas, postos de gasolinas, etc.
O registro da sociedade simples se faz perante o Registro Civil das Pessoas
Jurídicas do local da sede, nos 30 dias subsequentes à constituição.
A sociedade simples pode utilizar um dos tipos societários previstos no Código
Civil ou, caso não o faça, utilizar-se-á de seu próprio regramento legal, senão
vejamos:

Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts.
1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e,
não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias.

As sociedades de advogados e as sociedades unipessoais de advogados são


sociedades simples que adquirem personalidade jurídica com seu registro perante o
Conselho Seccional da OAB da base territorial de sua sede (art. 15 do Estatuto da
Ordem dos Advogados do Brasil).
Oportuno consignar que a sociedade empresária deve se registrar antes de
iniciar suas atividades comerciais.
É ilícita a constituição de sociedade, empresárias ou não empresárias, entre
cônjuges, cujo casamento tenha sido celebrado sob o regime da comunhão universal ou
da separação obrigatória. Destaque-se, no entanto, que a restrição legal do art. 977,
CC/02 vale apenas para as sociedades conjugais constituídas após a vigência do
Código Civil de 2002, ou seja, as sociedades conjugais, sob qualquer regime de bens,
anteriores a 2002, vigoram normalmente, em homenagem ao ato jurídico perfeito.

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Assim, é lícita a sociedade entre cônjuges casados sob o regime da comunhão
parcial, da separação voluntária e participação final nos aquestos.
Nas sociedades simples é permitida a figura do sócio de serviços, isto é, do
sócio que não precisa integralizar suas cotas em dinheiro (art.997, V, CC/02).
A responsabilidade dos sócios é SUBSIDIÁRIA e PROPORCIONAL.

2) SOCIEDADE EM NOME COLETIVO (N/C) – art.1.039 a 1.044

Na sociedade em nome coletivo todos os sócios respondem SUBSIDIÁRIA,


ILIMITADA e SOLIDARIAMENTE.
Somente pessoas naturais podem ser sócias (art.1.039, CC/02).
Somente sócio pode ser administrador (art.1.042, CC/02).
O nome empresarial da sociedade em nome coletivo é firma, ou seja, adota-se o
nome civil do sócio ou sócios na composição do nome.
Nos casos omissos, aplicam-se as normas das sociedades simples (art.1040,
CC/02)
Em caso de falecimento de um dos sócios: ou haverá liquidação das cotas; ou
ingresso dos sucessores e, neste último caso, se houver previsão contratual (art.1028,
CC/02). Note que o ingresso dos sucessores é exceção à regra, haja vista que a
sociedade em nome coletivo é uma sociedade de pessoas que, portanto, leva em conta
a personalidade e das características das pessoas que compõem o quadro societário.
A sociedade se dissolve pelas causas do art.1.033:
a) vencimento de sociedade por prazo determinado;

b) consenso unânime entre os sócios;

c) deliberação da maioria absoluta dos sócios de sociedade por prazo


indeterminado;

d) falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de 180 dias;

e) extinção da autorização para funcionar.

Embora não prevista no rol acima, dissolve-se a sociedade em nome coletivo


pela decretação da falência (art.1044, CC/02).

Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumeradas no art.
1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência.

Cabe destacar que as causas de dissolução aqui elencadas também são aplicadas
para as sociedades em comandita simples e sociedades limitadas.

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3) SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES (C/S) - arts. 1.045 a 1.051

As sociedades em comanditas simples são denominadas sociedades mistas uma


vez que há dois tipos de sócios, o COMANDITADO, com responsabilidade
subsidiária, ilimitada e solidária e os COMANDITÁRIOS, com responsabilidade
subsidiária, limitada e solidária.
Importante destacar que, em essência, entre os sócios comanditados existe a
caracterização de uma sociedade de pessoas, mas, entre os sócios comanditários,
existe a caracterização de uma sociedade de capital.
O contrato social deve prever expressamente qual sócio é comanditado e qual
sócio é comanditário.
O nome empresarial deve ser firma social ou razão social.
Somente o nome dos sócios comanditados podem compor o nome empresarial.
Caso algum nome de sócio comanditário venha a compor o nome empresarial, este
passa a responder ilimitadamente perante terceiros.
Somente PESSOAS NATURAIS podem ser sócios COMANDITADOS. Já os
COMANDITÁRIOS podem ser PESSOAS NATURAIS OU JURÍDICAS (art.1.045
do CC/02).
Ademais, somente sócio comanditado pode ser administrador (art.1.047 do
CC). O sócio comanditário que praticar ato de gestão responderá ilimitadamente
pelas obrigações sociais contratadas.
Ressalve-se, no entanto, que o sócio comanditário poderá ser procurador da
sociedade para NEGÓCIOS DETERMINADOS e com PODERES ESPECIAIS,
sem que isso implique responsabilidade ilimitada (art.1.047, p. único, CC).
O que ocorre em caso de morte de sócio?

a) sócio COMANDITADO – sociedade se dissolve parcialmente, salvo


estipulação no CS para ingresso dos sucessores (art.1.028, CC).

b) sócio COMANDITÁRIO – sociedade não se dissolve, ou seja, entram os


sucessores do sócio falecido, salvo estipulação no CS em contrário (art.1.050,
CC).

Nos casos omissos aplicam-se as normas da Sociedades Simples (art. 1.046,


CC).

4) SOCIEDADE LIMITADA (LTDA)

HISTÓRICO E DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

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As sociedades por quotas de responsabilidade limitada têm origem no século
XIX, na Alemanha. O tipo societário criado naquele contexto tinha como objetivo
principal mesclar as facilidades de constituição e agilidade de alterações das
sociedades de pessoas, com a limitação da responsabilidade das sociedades anônimas.
A junção de apontadas características societárias fomentou a economia local e
promoveu o aumento de pessoas se arriscando em novos empreendimentos e na
constituição de novas sociedades empresárias.
Diante das flagrantes vantagens do instituto jurídico acima, no Brasil, as
sociedades por quotas de responsabilidade limitada foram disciplinadas pelo Decreto
3.708/1919.
Embora tenha sido adotado em larga escala, apontado diploma legal foi muito
criticado por ser lacunoso, admitindo larga margem de autonomia dos para os sócios
estruturarem as cláusulas da sociedade limitada.
O Código Civil de 2002, visando combater as lacunas do decreto, tentou
corrigir as imperfeições e procurou disciplinar com mais técnica e minucia as
questões deixadas em aberto pelo Decreto 3.708/1919.
Contudo, o CC/02 não foi perfeito em sua missão.
Assim, nos casos omissões, a resolução de quezilas deverá ser realizada pelas
normas das sociedades simples ou pelas normas das sociedades anônimas. Em outras
palavras, caso o contrato social nada preveja acerca de regência supletiva, dever-se-
ão utilizar as normas das sociedades simples.
Caso os sócios queiram a regência supletiva das sociedades anônimas, o
contrato social deverá prever expressamente a aplicação das normas da Lei de S/A.
A bem da verdade é que, no Brasil, as sociedades limitadas são um sucesso, haja
vista que são o tipo societário mais registrado nas Juntas Comerciais, notadamente
em razão da limitação da responsabilidade dos sócios e pela contratualidade.
Contratualidade é a qualidade da sociedade limitada de possibilitar maior
margem de negociação entre os sócios e maior facilidade de alteração formal do
contrato social.
É importante esclarecer que tudo o que for dito acerca das regras das
Sociedades Limitadas, vale para as Empresas Individuais de Responsabilidade
Limitadas (EIRELI).
O nome empresarial das sociedades limitadas pode ser firma social ou
denominação.

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Conforme dissertado na classificação das sociedades, a sociedade limitada tem
responsabilidade SUBSIDIÁRIA, LIMITADA e SOLIDARIA.
Os sócios somente respondem com seu PATRIMONIO PESSOAL até o limite
do capital social subscrito e não integralizado, de maneira solidária.
Assim, mesmo que um sócio tenha integralizado suas cotas, poderá ser cobrado
por credor no montante não integralizado por outro sócio.
Contudo, se o capital estiver totalmente integralizado, não haverá
responsabilidade dos sócios, mesmo em caso de falência.
Note que a limitação das perdas é estimulo ao investimento e mecanismo para o
avanço da economia brasileira.
O indivíduo que contrata com sociedade limitada deve prever meios de
minimizar os RISCOS ou acrescentar uma taxa de risco, notadamente por meio da
instituição de garantias pessoais ou reais, tais como a hipoteca, alienação fiduciária
em garantia, fiança e aval.
São exceções à responsabilidade limitada dos sócios:

a) sócios que adotam deliberação contrária à lei ou ao contrato social


responderão de forma ilimitada. Os demais sócios devem formalizar a
discordância com a postura ilegal ou contrária ao contrato social, para escapar
à responsabilidade ilimitada mencionada (art.1.080, CC).

Art. 1.080. As deliberações infringentes do contrato ou da lei tornam ilimitada a


responsabilidade dos que expressamente as aprovaram.

b) sociedade marital com cônjuges casados pelo regime da comunhão universal


ou separação total registrada na JC respondem ilimitadamente.

c) aplicação da regra da desconsideração da personalidade jurídica em


decorrência do abuso da personalidade jurídica fundamentado na confusão
patrimonial ou desvio de finalidade (art.50, CC).

DAS QUOTAS

O capital social da sociedade limitada é dividido em quotas, podendo ser


IGUAIS ou DESIGUAIS (art. 1055, CC).
Deste modo, será lícito afirmar que o contrato social, como é mais comum
acontecer, pode conter, por exemplo, um capital social de cem mil reais (R$100 mil),
sendo cada quota com valor nominal de um real (R$ 1,00).
Entretanto, em um caso diverso, também será lícito afirmar que, para um
capital social de cem mil reais (R$100 mil), podem estar previstas quotas com valor

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nominal de um real (R$ 1,00), cada uma e outras quotas com valor de dois reais (R$
2,00), cada uma.
É lícito afirmar, ainda, que as quotas podem ser distribuídas entre os sócios em
quantidades diversas, ou seja, ao sócio A pode caber um por cento das quotas e ao
sócio B pode caber noventa e nove por cento das quotas.
A integralização das quotas pode ser feita com dinheiro, bens ou direitos.
Quando a integralização for feita por meio bens, o sócio que os conferiu
responde solidariamente com os demais sócios, pela exata estimação dos mesmos,
pelo prazo de 5 anos.
Os sócios NÃO podem contribuir para formação do capital social apenas por
meio de prestação de serviços.
Como regra, as quotas são indivisíveis em relação à sociedade, salvo quando
transferidas inter vivos ou causa mortis. Naquele primeiro caso, os direitos dos sócios
serão exercidos pelo condômino representante. No segundo caso, os direitos serão
realizados pelo inventariante do espólio do sócio falecido (art. 1056, CC).
Quando o contrato social for omisso, os sócios podem CEDER suas quotas
entre si, total ou parcialmente, independentemente da concordância dos outros
sócios. O sócio pode fazer a cessão das quotas a terceiros desde que não haja oposição
de titulares de um quarto do capital social (art. 1057, CC).
A cessão das quotas só tem eficácia com a averbação no contrato social,
subscrito pelos sócios anuentes.
Quando o sócio for remisso, os demais sócios podem excluí-lo, tomando as
quotas para si ou transferi-las a terceiro. Caso isso ocorra, os valores pagos pelo
sócio remisso devem ser devolvidos, deduzidos juros de mora, prestações e demais
despesas previstas no contrato (art. 1058, CC).

DA ADMINISTRAÇÃO

A administração da sociedade cabe a UMA ou MAIS de uma pessoa, SÓCIOS


ou NÃO SÓCIOS, designados no contrato social ou em ato separado, por mandato
com prazo determinado ou indeterminado.
Quando todos os sócios forem designados administradores no contrato social, a
admissão de um novo sócio, em ato posterior, não faz, este último, administrador da
sociedade de forma imediato.

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O sócio administrador não pode ser pessoa jurídica (Enunciado 66 da 1ª
Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal e Instrução Normativa do
DREI nº.38/2017).
A Junta Comercial arquiva os atos de condução, recondução e cessação do
exercício do cargo de administrador.
A DESTITUIÇÃO do administrador se dá por aprovação dos titulares de mais
da metade do capital social ou pelo decurso do tempo.
Em caso de RENÚNCIA do administrador, o ato só produz efeitos perante
terceiros se feito por ESCRITO, devidamente arquivado na Junta Comercial e
publicação no Diário Oficial, porém, perante a sociedade empresária, a renúncia é
eficaz desde o momento em que a mesma toma conhecimento por escrito (art.1063, §
3°, CC).
Os administradores devem prestar contas, em assembleia anual, por meio da
apresentação do balanço patrimonial e de balanço de resultado econômico, no prazo
de 4 meses seguintes ao término do exercício social (art.1.065 e 1.078, CC).
O administrador quando age com excesso de poder ou infração de lei, contrato
social ou estatuto (art. 135, CTN), pode ser responsabilizado com seu patrimônio
particular, em razão do não pagamento de tributos.

- Da aplicação da Teoria Ultra Vires ou da Teoria da Aparência

O administrador da sociedade limitada pode atuar com interesses particulares, ora


auferindo vantagem, ora atacando o patrimônio da sociedade, ora prejudicando
terceiros que com ela contrata.
Caso algum terceiro prejudicado proponha ação contra a sociedade limitada, por ato
inadequado do administrador, os sócios da mesma poderão se defender alegando que
o administrador realizou operação evidentemente estranha aos negócios da
sociedade.
Trata-se da aplicação do art.1.015, §único, inc. III, Código Civil.

Art. 1.015. No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos


pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de
bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir.
Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a
terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:
I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade;
II - provando-se que era conhecida do terceiro;
III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade. (g.n.)

A aplicação da norma acima mencionada caracteriza a Teoria Ultra Vires


Societatis, ou seja, a sociedade empresária somente será responsabilizada por seus atos
praticados quando compatíveis com o objeto da empresa (art.997, CC), pois, caso
incompatíveis, o ato deve ser imputado à pessoa física do administrador.
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A Teoria Ultra Vires Societatis (“além do conteúdo da sociedade”), tem origem
no Direito Inglês, no século XIX.
Por esta teoria, o administrador, ao praticar ato de gestão, que extrapole o
objeto social da empresa, delimitado no contrato social, fará com que o ato não seja
imputado à sociedade empresária.
Portanto, é uma teoria que protege a sociedade empresária e desguarnece
aquele que contrata com a sociedade.
A aplicação da Teoria Ultra Vires Societatis foi criticada por causar insegurança
jurídica e, deste modo, provocando desestímulo àqueles que contratam com as
sociedades por receio de não poderem receber os valores contratados.
Quando a sociedade limitada se utiliza supletivamente das regras da Lei de
S/A, a empresa responderá por todos os atos praticados em seu nome, mesmo que o
administrador tenha extrapolado em seus poderes, isto é, a sociedade paga ao
terceiro e, posteriormente, pode entrar com ação de regresso contra o administrador.
Importante destacar que nas relações da sociedade com o consumidor, aplica-se
a Teoria da Aparência. Trata-se de teoria com origem no direito romano. Pela
Teoria da Aparência, a relação jurídica concretizada por alguém que aparentemente
se reveste dos atributos necessários para a prática de negócio jurídico, com terceiro
de boa-fé, vincula a empresa.
A Teoria da Aparência visa proteger o terceiro de boa-fé e dar segurança
jurídica às relações empresariais e tem sido aplicada pelo Superior Tribunal de
Justiça, a despeito da existência de norma.

CONSELHO FISCAL

O Conselho Fiscal é órgão facultativo na sociedade limitada.


Na prática, os Conselhos Fiscais são muito raros de existirem porque são caros,
sendo mais útil em sociedades limitadas com grande poder econômico e grande
número de sócios afastados do dia-a-dia da sociedade.
As atribuições e poderes do Conselho Fiscal não podem ser delegadas a outros
órgãos e a responsabilidade dos sócios é idêntica à dos administradores (art. 1.070,
CC).
O Conselho Fiscal é composto por no mínimo 3 conselheiros e 2 suplentes, e
suas respectivas remunerações são fixadas em assembleia anual.

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Os conselheiros podem ser SÓCIOS ou NÃO, residentes no país, eleitos na
assembleia ou reunião anual. A remuneração também deve ser fixada por assembleia
ou reunião.
Os sócios minoritários, com no mínimo 1/5 do capital social, podem eleger um
conselheiro (art. 1.066, §1°, Código Civil).
O conselheiro pode ser auxiliado por contador legalmente habilitado,
especialmente designado para analise de livros, contas e demonstrativos.
A fim de garantir a isenção, não podem ser conselheiros os inelegíveis, os
membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por ela controlada,
empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, o cônjuge ou
parente até o terceiro grau (art.1066, §1°, CC).

DELIBERAÇÃO DOS SÓCIOS

No cotidiano da empresa, os sócios tomam muitas decisões quanto aos rumos


da empresa, algumas menos importantes e, portanto, sem grandes formalidades e
outras mais importantes, com maiores formalidades.
As decisões rotineiras são aquelas ligadas à atividade operacional do
empresário como, por exemplo a compra de matéria-prima, material de escritório,
contratação e demissão de funcionários, pagamentos de contas mensais, cobrança de
devedores, etc.
Algumas decisões mais impactantes demandam maior formalidade e, por este
motivo, são relacionadas expressamente na legislação civilista, como sendo passíveis
de submissão a regras de convocação, quórum de instalação e quórum de votação.
Importante destacar que as deliberações podem ser realizadas em REUNIÃO,
quando a sociedade limitada tem até 10 sócios ou por ASSEMBLEIA GERAL,
quando a sociedade limitada tem mais de 10 sócios.
Senão vejamos:

a) designação ou destituição de administrador;

b) remuneração de administrador;

c) votação das contas anuais do administrador;

d) modificação do contrato social;

e) operações societárias, dissolução e liquidação da sociedade;

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f) expulsão de sócio minoritário – art. 1085, CC.

Sob a ótica da escada ponteana, inobservância das regras de convocação e


instalação, da assembleia ou reunião dos sócios, induz ato ineficaz.

- Da convocação e do quórum de instalação

Quando apontados assuntos merecem ser deliberados em ASSEMBLEIA, faz-


se a convocação dos sócios por meio da publicação de 3 avisos no Diário Oficial ou
em jornal de grande circulação, com antecedência mínima de 8 dias, entre a primeira
publicação e a realização da assembleia.
Na data marcada para a realização da assembleia, devem estar presentes sócios
correspondentes a, pelo menos, ¾ do capital social.
Caso não atendido quórum de instalação, faz-se nova convocação com 3 novos
avisos. Entre a primeira publicação e a realização da assembleia, deve-se mediar, no
mínimo, 5 dias.
Se houver a necessidade de realizar a segunda convocação, a assembleia instala-
se com qualquer número de sócios presentes.
A assembleia é dirigida por uma mesa diretora, composta por 2 sócios, sendo 1
presidente e um 1 secretário. Ambos têm o dever de fazer valer o direito de voz e
voto de todos os sócios.
No final da assembleia é lavrada uma ata contendo a reprodução de todo o
ocorrido.
A assembleia anual ou ordinária, tem como função principal apreciar as contas
dos administradores, o balanço patrimonial e de resultado econômico, eleger
administradores (no caso de mandato por prazo determinado) e eleger o conselho
fiscal (no caso deste órgão existir);
No caso de se existir até o máximo de 10 sócios, o contrato social pode prever
REUNIÃO dos sócios, em vez da convocação da assembleia. Nestes casos, o contrato
social pode prever a convocação dos sócios por telefone e a instalação da reunião dos
sócios por qualquer quórum.
Ademais, a assembleia ou reunião de sócios pode ser substituída por
documento, assinado pela totalidade dos sócios, com a deliberação dos mesmos, ou
seja, o legislador possibilitou a criação de um documento menos oneroso e mais
simples.

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A assembleia, reunião ou documento substitutivo devem ser registrados na
junta comercial.
Como regra, as deliberações são tomadas por maioria de votos dos sócios
presentes à assembleia ou reunião, ou seja, o voto deve ser computado com base no
valor das quotas que cada sócio possui.
A regra de contagem de votos, portanto, é de uma cota é igual a um voto, ou
seja, one share, one vote.
Há casos em que a maioria dos sócios presentes não atinge o quórum exigido
por lei:

a) unanimidade – designação de administrador não sócio quando o capital social


não está integralizado – art.1061, CC.

b) ¾ - modificação do contrato social, salvo matérias sujeitas a quórum


diferente (art.1071, V e art.1076, CC);

c) ¾ - aprovar incorporação, fusão, dissolução da sociedade e levantamento da


liquidação (art.1071, V e art.1076, CC);

d) 2/3 - designação de administrador não sócio quando o capital social está


integralizado – art.1061, CC;

e) 2/3 – destituir administrador sócio nomeado no CS, salvo se previsto


quórum maior ou menor (art. 1063, § 1°, CC);

f) MAIS DA METADE – designar administrador em ato separado do CS (art.


1076, II, CC)

g) MAIS DA METADE – destituir administrador sócio designado em ato


separado do CS (art. 1076, II, CC);

h) MAIS DA METADE – destituir administrador não sócio designado em ato


separado do CS (art. 1076, II, CC);

i) MAIS DA METADE – expulsar sócio minoritário se permitido no CS (art.


1085, CC);

j) MAIS DA METADE DOS PRESENTES À ASSEMBLEIA OU REUNIÃO


– para aprovar as contas dos administradores, nomeação e destituição dos
liquidantes e julgamento de suas contas (art. 1071, I e VII e 1076, III, CC);

Na sociedade limitada, enquadrada como Microempresa - ME ou Empresa de


Pequeno Porte - EPP, as deliberações são sempre por maioria do capital social (art.
70, LC 123/06), ficando dispensadas as formalidades da convocação e instalação de
assembleia ou reunião, exceto para expulsão dos sócios minoritários.

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DO AUMENTO E REDUÇÃO DO CAPITAL SOCIAL

O capital social pode ser AUMENTADO desde que totalmente integralizado.


Nos 30 dias que se seguem à deliberação de aumentá-lo, os sócios têm direito de
preferência na participação do aumento, na exata proporção das quotas que possuem
(art. 1081, CC).
O direito de preferência acima mencionado pode ser cedido aos outros sócios ou
a terceiros. Neste último caso, os sócios detentores de mais de ¼ do capital social,
podem se opor à cessão do direito de preferência a terceiros.
A REDUÇÃO capital social ocorre em quatro casos: perdas irreparáveis, capital
social excessivo, direito de retirada, exclusão ou redução da participação do sócio remisso.
Primeiro, quando houver PERDAS IRREPARÁVEIS, depois de integralizado
o capital social, como no caso da ocorrência de desastre ou incêndio.
Neste caso, haverá diminuição proporcional do valor nominal das quotas, após
registro da ata da assembleia ou reunião que houver decidido pela redução, perante a
Junta Comercial (art. 1.083, CC).
Segundo, quando o capital social for EXCESSIVO. Nestes casos, o valor das
quotas será restituído aos sócios. Será licito, ainda, que as prestações devidas sejam
dispensadas. Em ambos os casos, o valor nominal das quotas será diminuído
proporcionalmente (art. 1.084, CC).
Neste último caso, os credores quirografários por título líquido anterior
poderão, no prazo de 90 dias da publicação da ata da assembleia que decide pela
redução do capital social, opor-se à deliberação de diminuição.

DA RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE EM RELAÇÃO A SÓCIO


MINORITÁRIO

A resolução da sociedade em relação a sócio minoritário, é novidade do


legislador civilista (art. 1085, CC) que possibilita a exclusão, extrajudicial, de um dos
sócios minoritários, como punição pela prática de atos graves contra a empresa da
qual faz parte.
Alerte-se para o fato de que a exclusão do sócio minoritário depende de
previsão expressa de exclusão, por JUSTA CAUSA, no contrato social.
Desta feita, quando um ou mais sócios estiverem colocando em risco a
continuidade da empresa, em face da prática de atos de INEGÁVEL GRAVIDADE,
os titulares da maioria do capital social poderão excluí-los.

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Nestes casos, será necessária a convocação de uma assembleia ou reunião
específica para votar a expulsão e o sócio a ser excluído deve ser notificado em tempo
hábil para que possa comparecer e exercitar seu direito de defesa.

DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE CONTRATUAL

A dissolução não ocorre em um único ato, mas após PROCESSO judicial (por
sentença) ou extrajudicial (por distrato) direcionado a encerrar as atividades da
sociedade empresária.
Cabe destacar que a dissolução das sociedades institucionais se encontra
disciplina nos arts. 206 e seguintes da Lei S/A e a dissolução das sociedades
contratuais estão previstas nos arts.1.033 a 1.038 do Código Civil.
Desta feita, pode-se dizer que a dissolução lato sensu, também conhecida como
dissolução-procedimento, possui com três fases distintas:

1) dissolução strictu sensu ou dissolução-ato

2) liquidação;

3) partilha.

O professor Fábio Ulhoa chama a dissolução em sentido amplo ou dissolução


lato sensu de EXTINÇÃO.
A DISSOLUÇÃO EM SENTIDO ESTRITO ou DISSOLUÇÃO-ATO se
refere ao ato específico que desencadeia o processo de dissolução ou desvinculação de
um ou alguns dos sócios do quadro societário.
Assim, a dissolução-ato é o desfazimento do ato de constituição, perpetrada por
decisão judicial, decisão assemblear ou distrato. Esta fase se conclui com o registro
do instrumento dissolutório na Junta Comercial.
Pode ocorrer ainda que um, dentre vários sócios, queira continuar as atividades
da sociedade empresária e, neste contexto, o ordenamento jurídico brasileiro fomenta
a preservação da empresa.
Isto porque a dissolução da empresa não é apenas assunto de interesse dos
sócios. Existem interesses econômicos do Estado na manutenção da fonte produtora,
fomento à circulação de riquezas, mantença dos empregos e pagamento de impostos.
A dissolução parcial da sociedade empresária é o exemplo mais nítido de
aplicação da preservação da empresa pois, mesmo que seja vontade exclusiva de um
único sócio minoritário, é a vontade deste último que deve prevalecer.

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A jurisprudência tem admitido que o sócio minoritário possa continuar a
empresa em homenagem ao princípio da preservação da empresa.
Mais comum é que ocorra a DISSOLUÇÃO TOTAL da sociedade empresária,
nestes casos, a mesma pode ocorrer:

A) pelo decurso do prazo determinado de duração (art. 1.033, inc. I), se ocorrer
o decurso do prazo e o empresário continua a funcionar, a sociedade empresária
passa a ser por prazo indeterminado, porém, neste caso, será considerada
sociedade irregular.

A sociedade irregular não pode se tornar regular, uma vez que o requerimento
a ser realizado perante a Junta Comercial, deve ser requerido antes da
ocorrência da data derradeira (art. 35, inc. IV da Lei 8.934/94).

B) por vontade dos sócios (art. 1.033, inc. II e III). Se for sociedade empresária
por prazo determinado, exigir-se-á votação unânime. Se for sociedade
empresária por prazo indeterminado, exigir-se-á votação de mais da metade.

C) por falência da sociedade (art. 1.044, 1.051 e 1.087). Note que a falência do
sócio não implica necessariamente a dissolução total da sociedade. Faz-se a
liquidação das cotas do sócio falido, pagando os credores deste último.

D) exaurimento do objeto social (art. 1.034, inc. II). O exaurimento da


sociedade ocorre quando, por exemplo, a criada especificamente para
determinada OBRA, finaliza esta última.

E) por inexequibilidade do objeto social (art. 1.034, inc. II).

A inexequibilidade pode ocorrer por motivos diversos, isto é, quer por falta de
interesse dos consumidores nos produtos ou serviços oferecidos, quer por
insuficiência de capital para produzir ou circular bem ou serviço, quer por
grave desentendimento entre os sócios.

F) por unipessoalidade temporária superveniente por mais de 180 dias.

Isto ocorre quando a sociedade empresária permanece com um único sócio por
mais de 180 dias, quer por falecimento de sócio ou exclusão de sócio ou exercício do
direito de retirada (art. 1.033, inc. IV).
Lembrando que a sociedade empresária temporariamente unipessoal pode
requerer sua transformação de sociedade limitada para EIRELI.
É importante acrescentar que a Lei de Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019)
acrescentou norma específica para as Sociedades Limitadas e acabou por permitir a
existência de sociedades limitadas unipessoais. Deste modo, não há mais causa de
dissolução das sociedades limitadas por unipessoalidade temporária superveniente

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por mais de 180 dias. Fica esclarecido, no entanto, que todos os demais tipos de
sociedades contratuais se submetem à regra do art. 1.033, inc. IV do Código Civil.

G) por causas contratuais (art. 1.035), como, por exemplo, condicionar a


existência da sociedade empresária a um limite mínimo de lucro.

Após o registro da dissolução na Junta Comercial, a empresa não perde a


personalidade jurídica de imediato, contudo, a personalidade jurídica sofre
considerável restrição.
Destaque-se que o nome empresarial deve ter acrescida a expressão EM
LIQUIDAÇÃO. Ademais, os atos não são mais praticados pelos administradores ou
diretores, mas pelo LIQUIDANTE.
O LIQUIDANTE só pode realizar atos pela empresa no sentido de realizar o
processamento da liquidação, tais como a apuração do ativo e pagamento do passivo.
A partilha ocorrerá se houver patrimônio líquido a ser repartido entre os
sócios, na exata proporção de suas participações societárias.
Registre-se, por fim que existem outras formas de dissolução da sociedade
empresária: incorporação, fusão, cisão e falência.

DA COMPARAÇÃO ENTRE AS NORMAS SUPLETIVAS DAS


SOCIEDADES SIMPLES E DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS APLICADAS ÀS
SOCIEDADES LIMITADAS, NOS CASOS OMISSOS:

A aplicação subsidiária das normas das Sociedades Simples ou das normas da


Lei de S/A provocam repercussões jurídicas distintas nas sociedades limitadas.
Num primeiro momento, pode ser pontuada uma diferença essencial.
A regência supletiva das sociedades simples traz maior INSTABILIDADE às
relações entabuladas entre os sócios. Já a regência supletiva das normas da Lei de
S/A, induz relações societárias tendentes à ESTABILIDADE.
Assim, a sociedade limitada será tanto mais instável ou estável, quanto maior
ou menor facilidade de exercício do DIREITO DE RETIRADA IMOTIVADO DOS
SÓCIOS, nas sociedades com prazo indeterminado.

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5) EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA -
EIRELI

O estudo da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI deve


ser feito no contexto do estudo das sociedades limitadas uma vez que as normas
destas últimas, se aplicam àquela primeira.
Assim, ressalvadas as regras específicas acerca da EIRELI, previstas no art.
980-A do CC, aplica-se tudo o que foi estudado acima, no contexto das sociedades
limitadas.
A criação da EIRELI é extremamente bem-vinda, notadamente porque cria
uma alternativa para o empreendedor que queira empreender sozinho e que deseje a
aplicação da regra da separação patrimonial, entre patrimônio pessoal do sócio e
patrimônio da sociedade empresária (princípio da autonomia patrimonial).
Antes da EIRELI, o empreendedor que desejasse realizar empresa sozinho só
tinha a alternativa de constituir-se empresário individual e, portanto, sem aplicação
da regra da autonomia patrimonial, acima mencionada.
Contudo, se quisesse a proteção do seu patrimonial pessoal, teria que constituir
uma sociedade do tipo limitada e, neste caso, deveria procurar um sócio figurativo,
que não desejasse intervir na empresa e com um capital social simbólico, apenas para
cumprir a necessidade legal da legislação pátria.
Importante ressalvar que o legislador civil teria andado melhor se tive
denominado o tipo societário, ora estudado, de Empresário Individual de
Responsabilidade Limitada, considerando que a palavra empresa, tecnicamente, esta
vinculada ao conceito de atividade.
Segundo Fábio Ulhoa, a EIRELI é uma espécie de sociedade UNIPESSOAL.
Já o professor Alessandro Sanchez entende que há impropriedade técnica na
afirmação de que a EIRELI é uma sociedade unipessoal, já que sociedade sempre
pressupõe a existência de dois ou mais sócios. Ainda para Sanchez, a EIRELI seria
uma categoria especial de tipo societário, com normas de sociedade limitada,
contudo, com a presença de um único sócio.
Neste sentido é o Enunciado 469 da V Jornada de Direito Civil, nos seguintes
termos: “A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) não é
sociedade, mas novo ente jurídico personificado”.
A EIRELI forma seu nome empresarial, ou por firma, ou por denominação,
empregando-se no final do nome, a palavra EIRELI.

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O capital social da EIRELI deve ser não inferior a 100 vezes o maior salário
mínimo vigente no país. Trata-se de parâmetro legal criticado pela doutrina, por
considerá-lo inconstitucional em face da vedação constante do art.7º, inc. IV da
CF/88, que proíbe a vinculação do salário mínimo para qualquer fim.
Ademais, a instituição de valor não inferior a 100 salários mínimos é
excessivamente alta, tomando em consideração que o legislador criou a EIRELI para
possibilitar a transformação de empresários individuais, neste novo tipo societário.
O capital social deve estar totalmente integralizado no momento da
constituição da empresa, logo, os credores não poderão invadir o patrimônio pessoal
do sócio, salvo as exceções constantes da Desconsideração da Personalidade Jurídica,
já declinadas alhures.
A EIRELI pode resultar da CONCENTRAÇÃO DAS QUOTAS de outra
modalidade societária, em mãos de um único sócio, independentemente dos motivos
que levaram apontado sócio a reunir as quotas em suas mãos.
A EIRELI pode ser uma importante alternativa de administração patrimonial,
financeira e tributária, sobretudo para jogadores profissionais, escritores, atrizes,
atores famosos e outros profissionais desta natureza.
Isto porque o parágrafo 5º do art. 980-A do CC/02, autoriza a CESSÃO DE
DIREITO PATRIMONIAL do autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja
detentor o titular da pessoa jurídica, vinculada à atividade profissional por ele
desempenhado.
Cabe acrescentar que a Medida Provisória 881/19, que trata da Declaração de
Direitos de Direitos de Liberdade Econômica, acrescentou o parágrafo 7º ao art. 980-
A do CC, asseverando que o patrimônio da EIRELI não se confunde com o
patrimônio de seu titular, em qualquer situação.
Por fim, cabe esclarecer que a Medida Provisória 881/19, incluiu o parágrafo
único ao art. 1052 do CC, admitindo a constituição da sociedade limitada com um
único sócio, sem exigir valor mínimo de capital social para sua constituição, razão
pelo qual, caso aprovado pelo Congresso Nacional, apontado texto legislativo, haverá
completo aniquilamento da EIRELI.

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DAS SOCIEDADE POR AÇÕES

No Brasil, as sociedades por ações são disciplinadas pela Lei 6.404/76, também
conhecida como Lei de S/A. Mencionado diploma legal abarca as sociedades em
comandita por ações e as sociedades anônimas.
Por dedução óbvia, a principal característica destes tipos societários é a divisão
de seu capital social em ações.
Importante destacar, neste contexto, a importância que assume o estudo da
Governança Corporativa. Mencionado instituto surge como o braço que executa o
conteúdo do princípio da função social da empresa, notadamente quanto à proteção
do acionista minoritário e terceiros interessados como empregados, fornecedores e a
sociedade como um todo.

DAS SOCIEDADES EM COMANDITAS POR AÇÕES

As sociedades em comandita por ações se caracterizam por possuírem dois


tipos de sócios: os comanditários e os comanditados.
Conforme já foi dissertado supra, os sócios comanditários são aqueles sócios
cuja responsabilidade perante terceiros está limitada ao montante do capital
subscrito, enquanto que os comanditados são aqueles sócios cuja responsabilidade
perante terceiros é ilimitada e solidária, ressalvando-se que em ambos os casos se
aplicam as regras da responsabilidade subsidiária.
Há que se destacar que a Lei de S/A contempla enorme quantidade de artigos
disciplinando as sociedades anônimas, justamente em razão de sua importância
prática para o Direito pátrio e internacional.
Já as sociedades em comandita por ações são pouco disciplinas, contudo, vem
delineada por poucos artigos de lei, razão pela qual, nos casos omissos, o operador da
norma, deve se socorrer dos dispositivos legais das sociedades anônimas, conforme
reza o art.1090 do Código Civil e art. 280 da Lei 6.404/76.
O nome empresarial das sociedades em comanditas por ações é firma ou
denominação e somente os nomes dos sócios-diretores ou gerentes podem fazer parte
da composição de mencionado nome empresarial.
Somente acionistas podem realizar a gestão da empresa e, por esse motivo,
todos respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações assumidas pela
sociedade empresária, desde que esgotados os bens sociais.

DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS

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Historicamente, as sociedades anônimas representam o primeiro tipo societário
criado pelo homem, com vistas a viabilizar o incremento das práticas comerciais por
meio das grandes navegações, realizadas, sobretudo, no final do século XV.
Naquele contexto, as cortes europeias desejam alcançar novos e lucrativos
mercados sem assumir todos os riscos inerentes ao negócio, razão pela qual abriram
a possibilidade, aos comerciantes da época, de se associarem ao empreendimento.
Havia ali, deste modo, o surgimento de uma espécie de parceria público-
privada, dentre as quais, as mais conhecidas são a Companhia Holandesa das Índias
Orientais, datada de 1602 e a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, datada de
1621.
Aquela primeira companhia, já tinha o capital social dividido em ações,
responsabilidade patrimonial limitada, capital social fixo e possibilidade de
comercialização das ações.
Os sócios das sociedades anônimas respondem subsidiária, limitada e individual
pelo valor das ações que subscrevem, portanto, sem solidariedade entre os mesmos.
Vale lembrar, por oportuno, que nas sociedades limitadas, os sócios respondem
subsidiária, limitada e solidariamente, até o montante do capital subscrito e não
integralizado.
As sociedades anônimas devem compor o seu nome empresarial apenas com
denominação. Podem ser utilizadas as palavras sociedades anônimas ou companhia
por extenso ou abreviada. A palavra companhia somente pode aparecer no começo ou
no meio do nome empresarial, mas nunca no final.
A menção ao ramo de atividade da sociedade é obrigatória. Podem ser
utilizados nomes, do sócio fundador, acionista ou pessoa importante na história da
empresa, conforme dispõe o art.1160 do Código Civil.
Importante destacar que as sociedades anônimas são sempre sociedades de
capital, mesmo que sejam constituídas para a prestação de atividades intelectuais, tais
como as científicas, literárias e artísticas.
Ressalte-se, por oportuno, que os profissionais que praticam atividades
intelectuais, por definição legal, podem constituir sociedades simples, registráveis
perante o Registro Civil das Pessoas Jurídicas e regidas pelas normas dos arts.997 a
1.038 do Código Civil.

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Contudo, quando profissionais intelectuais constituem sociedade anônima,
mencionada sociedade passa a ser sociedade de capital, por força do disposto no
art.982, parágrafo único do Código Civil.
As ações são penhoráveis uma vez que vigora, no contexto das sociedades
anônimas, o princípio da livre circulabilidade da participação societária que, em síntese,
atesta que nenhum acionista pode impedir a entrada na S/A de outro acionista,
notadamente porque se trata de uma sociedade de capital.

Da constituição da sociedade anônima

A sociedade anônima tem como ato constitutivo o Estatuto Social. São


necessários, no mínimo 2 sócios, salvo quando o sócio é uma sociedade subsidiária
integral.
A formação do capital social, entretanto, se dá por meio de Subscrição Pública
ou Subscrição Particular, conforme seja possível que um número indeterminado de
pessoas possa nela investir ou somente algumas pessoas.
A Subscrição Particular da S/A é a formação do capital social pelos sócios que
subscrevem as ações. A constituição se faz por deliberação dos subscritores em
assembleia ou por escritura pública. Se o estatuto for aprovado em assembleia, deverá
ser levado para registro na Junta Comercial. Se lavrado por escritura, não haverá
votação, mas apenas registro na Junta Comercial, uma vez que todos os subscritores
assinam mencionado instrumento público.
Já a Subscrição Pública é a formação do capital social por meio da oferta pública
a todo e qualquer investidor, sendo certo que, nestes casos, deve haver a intervenção
da Comissão de Valores Mobiliários.
O capital social deve ser realizado, no mínimo 10% do preço de emissão das
ações, por cada subscritor, no Banco do Brasil ou em outra instituição financeira
autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários.
Ressalve-se, contudo, que para a constituição de bancos ou instituições
financeiras, a realização do capital social, em moeda corrente, deve ser de, no mínimo,
50% do preço de emissão e os 50% faltantes deve ser realizados em no máximo 1 ano
(art. 27 da Lei 4595/64).
Consideram-se instituições financeiras aquelas pessoas físicas ou jurídicas que
tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação e aplicação de
recursos próprios ou de terceiros e a custódia de valores.

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Das sociedades anônimas abertas e fechadas

As sociedades anônimas são consideradas abertas quando negociam valores


mobiliários na Bolsa de Valores ou Mercado de Balcão.
As Bolsas de Valores são ambientes de negociação, criados com o objetivo de se
realizarem a compra e venda de valores mobiliários. Guardadas as devidas
proporções, Bolsas de Valores são como “feiras livres”, onde comerciantes expõem
seus produtos a venda e, os interessados em compra-las, lá comparecem com o fim
específico de realizar tais negócios.
Ressalte-se, no entanto, que o investidor que desejar comprar ou vender valor
mobiliário, deverá emitir uma ordem de compra, ou de venda, por meio de corretoras
de valores ou de instituições financeiras.
O Mercado de Balcão é o ambiente de negócios de valores mobiliários não
negociados na Bolsa de Valores. O Mercado de Balcão leva esse nome porque, em
tempos passados, os investidores faziam a compra de ativos diretamente no balcão
das corretoras. Os valores mobiliários negociados pelo Mercado de Balcão, como
regra, são pouco atrativos e, portanto, possuem pouca liquidez (facilidade de
negociação).
Assim, a diferença essencial entre Bolsa de Valores e Mercado de Balcão é que
aquele primeiro exige regras rígidas das sociedades que desejam negociar seus
ativos, enquanto que este último possui regras mais flexíveis.
Para negociar valores mobiliários na Bolsa de Valores, as empresas precisam
ter um setor de relacionamento com investidores, práticas de governança corporativa
e realização de auditorias e, os balancetes trimestrais, somente devem ser realizados
com empresas de auditoria especializada, listadas pela própria bolsa, enquanto que o
Mercado de Balcão não faz tais exigências.
Valores Mobiliários são títulos de investimento, tais como ações, debêntures,
partes beneficiárias, bônus de subscrição, notas promissórias/commercial paper, que
são oferecidos no mercado financeiro para qualquer cidadão que queira investir seu
patrimônio.
As sociedades anônimas abertas dependem de autorização e são fiscalizadas
pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários para começarem a operar na Bolsa de
Valores ou Mercado de Balcão.
A CVM – Comissão de Valores Mobiliários é uma autarquia federal, vinculada
ao Ministério da Fazenda, encarregada de fiscalizar, normatizar e disciplinar o

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mercado de valores mobiliários e com isso criar um ambiente seguro e favorável ao
investimento de pequenos, médios ou grandes investidores.

Dos órgãos das sociedades por ações

As sociedades por ações se manifestam por meio de seus órgãos. Os órgãos


desse tipo societário, dividem-se em Assembleia, Conselho de Administração,
Conselho Fiscal e Diretoria.

Da Assembleia

A assembleia é o órgão máximo da sociedade, tem caráter deliberativo e é


composto por todos os acionistas com e sem direito a voto. Os acionistas detentores
de ações ordinárias têm direito a voto. Já os acionistas detentores de ações
preferenciais podem ter ou não direito a voto, contudo, sempre lhes será assegurado
direito de voz nas assembleias.
É por meio das assembleias que se votam temas importantes das sociedades por
ações, tais como aprovação dos balanços patrimoniais e de resultado econômico,
escolha dos membros do Conselho de Administração e Fiscal e, eventualmente, os
diretores.
A assembleia ordinária deve ocorrer anualmente, dentro dos primeiros 4 meses
após o término do exercício social, a fim de se deliberar sobre determinados temas
específicos. São eles: eleição de administradores e fiscais; aprovação das contas dos
administradores e demonstrativos; destinação do lucro líquido e distribuição de
dividendos.
A Assembleia deve ser convocada pelo Conselho de Administração, se houver,
ou pelos Diretores. O Conselho Fiscal também pode convocar quando estes últimos
retardarem a convocação por um mês ou houver motivos graves ou urgentes. No
caso de não convocação por parte de todos estes últimos, com retardo no prazo,
superior a 60 dias, qualquer acionista poderá promover a convocação (art. 123 da
LSA).
A convocação deverá ser publicada por, no mínimo, 3 vezes, contendo data,
hora, local e ordem do dia e, caso haja proposta para alteração do estatuto social,
dever-se-á indicar a matéria a ser reformada (art.124 da LSA).
Nas S/A fechadas, entre a primeira publicação e a realização da assembleia,
deve-se mediar um prazo de 8 dias, contudo, se não for atingido o quórum

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necessário, será realizada nova convocação, devendo mediar, entre a primeira
publicação e a última, o prazo de 5 dias.
Nas S/A abertas, os prazos de publicação, na forma acima mencionadas,
passam a ser de 15 dias e 8 dias, respectivamente.
Como regra, em primeira convocação, o quórum de instalação da assembleia é
de ¼ do capital social e em segunda convocação, qualquer quórum presente (art. 125
da LSA). Note, contudo, que esta regra comporta exceções, como, por exemplo, a
reforma do estatuto social que exigirá quórum de 2/3 do capital social votante, para
a primeira convocação e qualquer quórum, em segunda convocação.
Uma vez instalada a assembleia, dirigida por um presidente e um secretário,
indicado dentre acionistas presentes, passa-se a deliberar sobre os temas adrede
apontados, conforme se segue abaixo.
O quórum de deliberação pode ser simples ou qualificada.
Nas deliberações por quórum simples, as deliberações serão tomadas por
maioria absoluta de votos, excluídos os votos em branco. Entenda-se, por maioria
absoluta de votos, a expressão da vontade da maioria dos acionistas de mais da
metade do total de ações com direito a voto presentes na reunião (art. 129 da LSA).
Já nas deliberações com quórum qualificado, as deliberações serão tomadas por
acionistas, com direito a voto, representantes de mais da metade do capital social
(art. 136 da LSA).
Ressalte-se, por fim, que o estatuto social da S/A fechada pode aumentar os
quóruns de deliberações acima mencionados.
Cabe destacar que a não observância das regras acima expostas, como a
irregular convocação ou instalação de assembleia, violação da lei ou do estatuto, ou
por erro, dolo, fraude ou simulação, pode dar azo à eventual ação de anulação, cujo
prazo prescricional para sua propositura é de 2 anos, contados da deliberação (art.
286 da LSA).

Do Conselho de Administração

O Conselho de Administração é órgão deliberativo colegiado, composto por, no


mínimo, 3 membros eleitos pela assembleia. Trata-se de órgão obrigatório nas
sociedades de capital aberto, nas de capital autorizado e sociedade de economia mistas,
portanto, facultativo nas de capital fechado.

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Fica esclarecido que as sociedades de capital autorizado são aquelas em que o
Conselho de Administração pode deliberar pelo aumento do capital social sem a
realização da reforma estatutária.
O estatuto deve apontar o prazo de duração dos mandatos dos conselheiros,
nunca superior a 3 anos, admitida a reeleição.
As deliberações são feitas por maioria de votos, contudo, o estatuto pode prever
quórum qualificado para determinadas matérias especificadas em mencionado
documento (art. 140 da LSA).
É lícita a eleição de um membro do conselho representante dos empregados,
escolhidos por eleição direta, organizada pela empresa e conjunto com os sindicatos
que os representem.
Cabe destacar, por fim, que o conselho de administração detém uma parte dos
poderes da assembleia, notadamente para traçar os objetivos estratégicos da
empresa, haja vista que as grandes empresas necessitam de agilidade na tomada de
decisões, como a fixação da orientação geral dos negócios, eleger e destituir
diretores, fiscalizar a gestão de diretores, convocar assembleia geral, dentre outras
atribuições do art. 142 da LSA.

Da Diretoria

A diretoria é órgão de execução das deliberações traçadas pela Assembleia e


pelo Conselho Administrativo. Os diretores são escolhidos pelo conselho de
administração ou pela assembleia, caso não existe o conselho de administração.
Composto por, no mínimo, 2 diretores, residentes no país e mandato com duração
não superior a 3 anos, permitida a reeleição.
O estatuto define as formas de substituição, atribuições e poderes.
Os membros do conselho de administração poderão ser diretores até o máximo
de 1/3 dos membros.
Os diretores fazem a representação da empresa e, caso não fique expresso no
estatuto ou inexistindo deliberação do conselho de administração, no sentido de
especificar, qualquer dos diretores pode ser considerado representante da empresa
(art. 144 da LSA).
Os diretores, nos limites de suas atribuições poderão se fazer representar por
mandatários, desde que no instrumento, fique especificado os atos ou operações que
poderão praticar e a duração do mandato.

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Do Conselho Fiscal

O Conselho Fiscal é um órgão de existência obrigatória, mas de exercício


facultativo, destinado à fiscalização dos órgãos de administração e, portanto,
protetora dos acionistas e, sobretudo, dos interesses da sociedade.
O conselho fiscal, eleito pela assembleia geral, será composto de no mínimo 3 e
no máximo 5 membros, bem como seus respectivos suplentes, em igual número,
sendo admitida a reeleição (art. 161, p. 1º da LSA).
A função do conselheiro é indelegável e realizada por pessoas naturais,
residentes no País, diplomadas em curso de nível universitário ou dentre pessoas que
tenham exercido cargo de administração de empresa ou de conselho fiscal, pelo prazo
mínimo de 3 anos.
Os conselheiros se submetem à mesma responsabilidade civil que os
administradores da sociedade, por ação ou omissão, praticados com culpa, dolo ou
violação da lei ou do estatuto (art. 165 da LSA).
A remuneração, reembolso de despesas e estadas necessárias ao desempenho
dos conselheiros serão definidas em assembleia geral.
As atribuições do conselho fiscal estão especificadas no art. 163 da LSA, sendo
certo que todas elas se referem à fiscalização da gestão, apreciação de relatórios,
balanços, balancetes, emitir pareceres, comparecer a assembleias ordinárias ou
extraordinárias, convocar assembleia geral ordinária quando os órgãos de
administração retardarem 1 mês o prazo legal de convocação e prestação de
informações aos acionistas, quando solicitados.

DAS AÇÕES

As ações são frações do capital social de uma sociedade por ações, são espécies
de valores mobiliários e, portanto, títulos de investimento.
Assim, o proprietário de uma ou algumas ações fazem com que o mesmo seja
acionista da sociedade empresária.
As ações podem ser:
Das ações ordinárias (ON)
Trata-se de tipo de ação de emissão obrigatória, que conferem ao seu
proprietário, direito a voto, propriedade e recebimento de dividendos.
Os votos são contados por ações.

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Ressalte-se que o direito de voto é interessante para aquele acionista que detém
quantidade elevada de ações, de modo a nortear as decisões da empresa como, por
exemplo, a eleição dos conselheiros do Conselho de Administração.
Não possuem garantia de distribuição de dividendos.
Em caso de falência da S/A, recebem primeiro os credores da empresa, em
seguida os acionistas detentores de ações preferenciais e, somente depois, os
acionistas detentores de ações ordinárias.
No chamado Novo Mercado, que se constitui numa lista de empresas que
atuam na Bolsa de Valores e que adotam padrões de governança corporativa,
somente é permitida a emissão de ações ordinárias.
Das ações preferenciais (PN)
Como o próprio nome nos ajuda a entender esse tipo de ação, conferem-se
privilégios aos seus proprietários. São ações com maior grau de liquidez porque são
mais facilmente negociadas.
Possuem garantia de distribuição de dividendos fixos e mínimos que, segundo
o art. 17, p. 1º, inc. I da Lei de S/A, é de 25% do lucro líquido do exercício. Podem
conferir direito a voto ou não, a depender do que dispõem o estatuto social. Somente
podem ser emitidas ações preferenciais sem direito a voto, não podem ultrapassar
50% do total das ações emitidas.
Importante destacar, por oportuno, que as ações preferenciais tendem a ser
desfavoráveis aos acionistas minoritários, justamente porque, em sua grande maioria,
não conferem direito de voto aos sócios.

Das ações de fruição


Constituem-se em ações totalmente amortizadas, ou seja, paga-se ao acionista,
a título de antecipação, o valor que o sócio receberia se a empresa, hipoteticamente,
visse a ser liquidada no momento da amortização, contudo, o acionista pode ou não
manter os direitos de voz e voto e de recebimento de dividendos preferenciais.
As ações de fruição estão em franco desuso.
Em alguns casos, caracterizam-se como uma homenagem ao acionista detentor
de ações de fruição, normalmente o patriarca da família, que iniciou o negócio e fez
prosperar a sociedade, mas que se encontra em fase de desligamento da direção e do
comando da empresa que fundou.

Das ações nominativas

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As ações nominativas se caracterizam pela inscrição do nome do acionista no
livro de Registro de Ações Nominativas. A venda das ações nominativas é lavrada no
Livro de Transferência de Ações Nominativas, com data e assinatura do cedente e
cessionário.
Importante deixar claro que as ações nominativas podem ser ordinárias ou
preferenciais ou de fruição e, portanto, não se trata de uma quarta espécie de ação, ao
lado das ações ordinárias, preferenciais e de fruição.

Das ações escriturais


As ações escriturais ficam mantidas em contas de depósito em nome de seus
titulares, sem emissão de certificados, em instituições autorizadas pela Comissão de
Valores Mobiliários.
Tem a intenção de proporcionar mais agilidade e praticidade às relações
negociais, se comparadas às ações nominativas, haja vista que é realizado apenas o
registro contábil do negócio jurídico em uma conta de depósitos.

Do valor das ações

Imperioso destacar que o preço das ações pode variar conforme o objetivo da
avaliação, ou seja, a grosso modo, o valor atribuído a uma ação pode ser comparado
ao valor atribuído a um imóvel.
Sob o ponto de vista de cobrança de tributos, o imóvel é valorado segundo o
valor venal atribuído pela prefeitura municipal competente. Sob o ponto de vista
negocial, será atribuído o valor que comprador e vendedor entenderem conveniente.
Sob o ponto de vista litigioso, quando o imóvel tiver sido penhorado e tiver de ser
levado a leilão, o imóvel será valorado segundo os parâmetros do perito.
Nesse sentido, as ações podem ser valoradas por critérios estabelecidos, nos
seguintes termos:

a) valor nominal – é o valor que se atribui, quando se divide o valor do capital


social, pelo número de ações emitidas. É facultativo constar o valor nominal no
Estatuto social.
b) valor patrimonial – é o valor que se atribui, quando se divide o valor do
patrimônio líquido, pelo número de ações emitidas. O patrimônio líquido é
aferido com a feitura do balanço patrimonial. O valor patrimonial será utilizado
quando houver liquidação ou falência da empresa.

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c) valor de negociação – valor que o alienante consegue obter em caso de
alienação das ações.
d) valor econômico – trata-se de valor calculado por avaliadores técnicos,
aferidos de forma racional, a ser pago por uma ação, quando se esta num
contexto de compra da empresa.
e) preço de emissão – trata-se do preço pago por quem subscreve a ação, à
vista ou a prazo. O preço de emissão tem por objetivo, mensurar a contribuição,
limitar o valor da responsabilidade subsidiária e valor fixado pelos fundadores.

Dos Valores Mobiliários

Os valores mobiliários, em poucas palavras, são títulos de investimento coletivos


emitidos ao público, pelas sociedades por ações.
Importante destacar que a emissão, negociação e a intermediação de valores
mobiliários é fiscalizada pela Comissão de Valores Mobiliários, autarquia federal,
vinculada ao Ministério da Fazenda, dotada de autoridade administrativa
independente, patrimônio próprio e estabilidade de seus dirigentes, na forma do que
reza a Lei 6385/76.
Apontado diploma legal diz expressamente quais sejam os valores mobiliários
no art. 2º, dentre os quais, destacam-se:

“Art. 2o São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei:


I - as ações, debêntures e bônus de subscrição;
II - os cupons, direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramento relativos aos
valores mobiliários referidos no inciso II;
III - os certificados de depósito de valores mobiliários;
IV - as cédulas de debêntures;
V - as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de investimento em
quaisquer ativos;
VI - as notas comerciais;
VII - os contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos subjacentes sejam
valores mobiliários;
VIII - outros contratos derivativos, independentemente dos ativos subjacentes; e
IX - quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos de investimento
coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante
de prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de
terceiros.“

Imperioso delimitar, ainda, que a própria Lei 6385/76 diz o que não será
considerado valor mobiliário, no parágrafo primeiro do art. 2º, quais sejam, títulos da
dívida pública federal, estadual e municipal, bem como títulos cambiais emitidos por
instituições financeiras, exceto as debêntures.
Isto porque se um título é emitido pelo Poder Público ou por instituição
financeira, não haveria razão para que a Comissão de Valores Mobiliários prestasse a
tutela e salvaguarda dos investidores.

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Ciente dos parâmetros, passamos a estudar cada um dos principais valores
mobiliários.

Das Debêntures

Trata-se de espécie de valor mobiliário que se assemelha a um contrato de


mútuo de médio ou longo prazo, em que o debenturista é o mutuante (credor) e a
sociedade anônima aberta é a mutuária (devedor).
A emissão das debêntures depende da lavratura de uma escritura pública que
fixa as regras do negócio jurídico, tais como, juros, correção monetária, prazo de
vencimento, garantias oferecidas pela sociedade, se podem ser conversíveis em ação
ou não.

O prazo de resgate

As debêntures podem ser garantidas por garantia real ou flutuante. Aquela


primeira, quando um imóvel específico garante o crédito dos investidores. Esta
última, quando o imóvel dado em garantia pode ser trocada, ou seja, assegura um
privilégio aos debenturistas.
Há ainda as debêntures quirografárias e as subordinadas. Em ambos os casos
os debenturistas não possuem preferência e nem garantia.
Ocorre que, nas debêntures quirografárias, em caso de liquidação ou falência da
empresa, os debenturistas se localizam juntamente com todos os demais credores. Já
nesta última, em caso de liquidação ou falência da empresa, os debenturistas
subordinados recebem após os demais credores e os debenturistas quirografários.

Das Nota Promissória Comercial ou Commercial Paper

Trata-se de um valor mobiliário criado por meio da resolução 1723/1990 do


Banco Central do Brasil, assemelhado às debentures, porém de prazo de resgate
curto, ou seja, trata-se de contrato de mútuo com restituição ao credor, no curto
prazo.
O prazo de Resgate é de no mínimo de 30 dias e no máximo 180 dias, para a
S/A fechada, e no mínimo 30 dias e no máximo 360 dias, para a S/A aberta.

Das Partes Beneficiárias

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As Partes Beneficiárias são espécie de valor mobiliário que garantem direito de
crédito anual ao seu titular, por meio da participação nos lucros anuais da S/A
emissora, podendo ser convertidas em ações.
Não se pode atribuir direitos de acionistas aos titulares de partes beneficiárias,
com exceção ao direito de fiscalização (art.46 da Lei de S/A).
As Companhias Abertas estão proibidas de emitir partes beneficiárias.

Dos Bônus de Subscrição

Os Bônus de Subscrição são uma espécie de valor mobiliário representativo de


um direito de preferência que possibilita direito de subscrever ações da S/A quando
de futuro aumento do capital social.
Ressalte-se que o titular do bônus de subscrição não se escusa de pagar o valor
do preço de emissão das ações (art. 75, p. único, da Lei S/A).

DO ACORDO ENTRE ACIONISTAS

Como regra geral, todos os acordos de vontades celebrados entre pessoas


maiores e capazes, em face de um objeto lícito, possível, determinado ou
determinável, concretizado na forma prescrita em lei, ensejam um negócio jurídico
válido (art. 104 do CC/02).
No contexto dos negócios jurídicos válidos, os contratos em geral assumem
especial importância em razão da imensidão de contratos celebrados, todos os dias
país a fora, notadamente, no contexto empresarial.
Assim, será lícito que dois ou mais acionistas celebrem algum tipo de contrato
entre si, gerindo interesses comuns, frente à sociedade anônima.
Contudo, existem alguns tipos de acordos entre acionistas que, versando sobre
determinados assuntos, quando arquivados na sede da companhia, impedem esta
última de concretizar qualquer registro que contrarie o acordo de acionistas, nela
arquivado.
São 3 os assuntos que podem ser arquivados pela companhia e que gozam de
uma proteção especial deferida pela Lei de S/A, quais sejam, poder de controle, exercício
do direito a voto ou compra e venda de ações e seu exercício de direito de preferência.
Assim, as ações que são objeto de acordo de acionistas, devidamente arquivado
na companhia, não pode ser negociada na bolsa de valores ou mercado de balcão.

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No mesmo sentido, os votos proferidos em assembleia ou reunião, proferidos
em desconformidade com o acordo de acionistas, não devem ser computados pelo
presidente da assembleia.
Por fim, cabe esclarecer que os acionistas poderão promover a execução
específica das obrigações assumidas nos termos do acordo de acionistas.

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