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Bens reciprocamente considerados

Bens reciprocamente considerados é a classificação que leva em conta a ligação jurídica


existente entre o bem jurídico principal e o acessório.

Levando em consideração a classificação entre bens principal e acessório, nos temos que:
principal de acordo com o art. 92 do Código Civil é o bem que tem existência própria, que
existe por si só. O acessório é aquele cuja existência depende do principal. Em consequência,
como regra o bem acessório segue o destino do principal, salvo estipulações em contrario,
dessa forma : a) a natureza do acessório é a mesma do principal; b) o proprietário do principal
é proprietário do acessório.

A acessoriedade pode existir entre coisas e entre direitos, pessoais ou reais. Os contratos de
locação e de compra e venda, por exemplo, são principais. A fiança e a cláusula penal, neles
estipuladas, são acessórios.

Classes de bens acessórios:

Dispõe o art. 95 do Código Civil que, apesar de “ainda não separados do bem principal, os
frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico”. Compreendem-se, pois, na grande
classe dos bens acessórios, os produtos e os frutos.

 Produtos: “são as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhe a quantidade,


porque não se reproduzem periodicamente, como as pedras e os metais, que se
extraem das pedreiras e das minas”. Distinguem-se dos frutos porque a colheita destes
não diminui o valor nem a substância da fonte, e a daqueles sim.

A diferença é importante em matéria de usufruto, que só dá direito à percepção dos frutos


(CC, art. 1.394).

 Frutos: são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e renascem
da coisa, sem acarretar-lhe a destruição no todo ou em parte. Caracterizam-se, assim,
por três elementos: a) periodicidade; b) inalterabilidade da substância da coisa
principal; e c) separabilidade desta.

Além disso, dividem-se quanto a origem, em naturais, industriais e civis:

a ) Naturais — São os que se desenvolvem e se renovam periodicamente, em virtude da força


orgânica da própria natureza como os frutos das árvores, os vegetais, as crias dos animais etc.

b) Industriais — Assim se denominam os que aparecem pela mão do homem, isto é, os que
surgem em razão da atuação ou indústria do homem sobre a natureza, como a produção de
uma fábrica.

c ) Civis — São os rendimentos produzidos pela coisa, em virtude de sua utilização por outrem
que não o proprietário, como os juros e os aluguéis.

Clóvis Beviláqua classifica os frutos, quanto ao seu estado, em pendentes, enquanto unidos à
coisa que os produziu; percebidos ou colhidos, depois de separados; estantes, os separados e
armazenados ou acondicionados para venda; percipiendos, os que deviam ser mas não foram
colhidos ou percebidos; e consumidos, os que não existem mais porque foram utilizados. São
de grande importância esses conceitos, porque o legislador os utiliza nos arts. 1214 e s. do
Código Civil.

 Pertenças: O novo Código Civil incluiu, no rol dos bens acessórios, as pertenças, ou
seja, os bens móveis que, não constituindo partes integrantes (como o são os frutos,
produtos e benfeitorias), estão afetados por forma duradoura ao serviço ou
ornamentação de outro, como os tratores destinados a uma melhor exploração de
propriedade agrícola e os objetos de decoração de uma residência, por exemplo.

Prescreve, com efeito, o art. 93 do referido diploma: “Art. 93. São pertenças os bens que, não
constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao
aformoseamento de outro”.

Por sua vez, o art. 94 mostra a distinção entre parte integrante (frutos, produtos e
benfeitorias) e pertenças, ao proclamar: “Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao
bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação
de vontade, ou das circunstâncias do caso”.

Verifica-se, pela interpretação a contrario sensu do aludido dispositivo, que a regra “o


acessório segue o principal” aplica-se somente às partes integrantes, já que não é aplicável às
pertenças.

O conceito de pertença está muito próximo do conceito de bens imóveis por destinação do
proprietário ou por acessão intelectual a que aludia o art. 43, III, do Código Civil de 1916.

 Benfeitoria : Desde o direito romano classificam-se em três grupos as despesas ou os


melhoramentos que podem ser realizados nas coisas:

a) despesas ou benfeitorias necessárias (impensae necesariae);

b) despesas ou benfeitorias úteis (impensae utiles);

c) despesas ou benfeitorias de luxo (impensae voluptuariae).

O Código Civil brasileiro considera necessárias as benfeitorias que “têm por fim conservar o
bem ou evitar que se deteriore”; úteis, as que “aumentam ou facilitam o uso do bem”; e
voluptuárias, as de “mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda
que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor” (art. 96).

Essa classificação não tem caráter absoluto, pois uma mesma benfeitoria pode enquadrar-se
em uma ou outra espécie, dependendo das circunstâncias.

Pode-se qualificar de necessária uma benfeitoria: a) quando se destina à conservação da coisa;


b) quando visa a permitir sua normal exploração. O conceito de benfeitorias úteis é negativo:
as que não se enquadram na categoria de necessárias, mas aumentam objetivamente o valor
do bem. Para o Código Civil brasileiro, como já dito, são úteis as benfeitorias que aumentam ou
facilitam o uso do bem.
Voluptuárias são as benfeitorias que só consistem em objetos de luxo e recreio, como jardins,
mirantes, fontes, cascatas artificiais, bem como aquelas que não aumentam o valor venal da
coisa, no mercado em geral, ou só o aumentam em proporção insignificante, como preceitua o
§ 2º do art. 967 do Código Civil colombiano.

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