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DIREITOS REAIS
Introdução
A propriedade é o direito real que descreve o domínio jurídico que existe
entre os titulares de coisas sobre as quais incidem os seus interesses e
todas as demais pessoas, as quais se sujeitam ao poder que decorre
da titularidade dessas coisas. Como o direito real é mais complexo, a
propriedade reúne atributos que permitem a criação de outros direitos
reais, sem que esta seja desnaturada.
Neste capítulo, você vai ler sobre o conceito de propriedade, seus
caracteres e atributos, bem como seus mecanismos de aquisição e perda.
1 Conceitos fundamentais
A propriedade é considerada o direito real por excelência. Isso acontece porque
todos os outros direitos reais descritos pelo Código Civil são desdobramentos
da propriedade. O direito de propriedade é uma preocupação doutrinária e
metodológica para os estudos jurídicos desde o Direito romano, conforme
Caio Mário da Silva Pereira (2019, p. 64):
Faculdade de uso
A faculdade de uso da coisa (chamada em latim de jus utendi, ou seja, direito
de usar) é relacionada à possibilidade que o proprietário tem de usar a coisa,
dentro daquilo que é permitido no ordenamento jurídico:
Faculdade de fruição
A faculdade de gozo ou fruição da coisa (antigamente chamada de jus fruendi)
se traduz pela possibilidade da retirada dos frutos da coisa. Esses frutos podem
ser naturais (como a colheita agrícola que venha do imóvel), industriais ou
civis (como os rendimentos de aluguéis) e representam proveito econômico
para seu proprietário.
Faculdade de disposição
A terceira faculdade que compõe o direito de propriedade é a disposição da
coisa (em latim, jus disponendi), seja por atos inter vivos ou mortis causa:
4 Propriedade
A disposição do bem pode ser gratuita — por exemplo, nos casos de ces-
são gratuita de imóvel para a realização de evento beneficente, comodato ou
doação — ou onerosa — como em contratos de locação ou compra e venda.
Faculdade de reivindicação
A última das faculdades descritas no art. 1.228 do Código Civil se refere ao
direito de reivindicar a coisa em face de quem injustamente a detenha (ius
vindicandi, na expressão latina) (BRASIL, 2002). O exercício desse direito
ocorre pela via processual das ações petitórias, cujos pedidos são fundados
na propriedade, como a ação reivindicatória:
Pode-se afirmar que proteção da propriedade é obtida por meio dessa demanda,
aquela em que se discute a propriedade visando à retomada da coisa, quando
terceira pessoa, de forma injustificada, a tenha, dizendo-se dono. Nessa ação
o autor deve provar o seu domínio, oferecendo prova da propriedade, com o
respectivo registro e descrevendo o imóvel com suas confrontações. O autor
da ação reivindicatória deve ainda demonstrar que a coisa reivindicada es-
teja na posse injusta do réu. A ação petitória não se confunde com as ações
possessórias, sendo certo que nestas últimas não se discute a propriedade do
bem, mas a sua posse (TARTUCE, 2019, p. 134).
Quando uma pessoa tiver essas quatro faculdades sobre o bem, dizemos que
ela tem propriedade plena sobre a coisa. Contudo, esses atributos podem ser
distribuídos entre pessoas distintas, havendo a chamada propriedade restrita.
Assim, podemos classificar a propriedade como:
Atributos da propriedade
A propriedade é um direito que possui atributos específicos. O primeiro deles
é o absolutismo, porque, apesar das relativizações existentes sobre o direito
de propriedade (normalmente relacionadas com a colisão com interesses
coletivos), este é oponível erga omnes, ou seja, contra todos. A exclusividade
indica que uma coisa determinada não pode pertencer a mais de uma pessoa,
salvo nos casos de condomínio ou multipropriedade, embora a exclusividade
não exclua interesses indiretos de outros indivíduos.
Quanto à perpetuidade, a propriedade é concebida em solução de con-
tinuidade, de maneira a permanecer, independentemente de seu exercício,
salvo causa modificativa ou extintiva, de ordem legal ou convencional. A
elasticidade se refere à possibilidade de a propriedade ser contraída ou dis-
tendida em seus elementos, constituindo direitos reais em coisa alheia. São
atributos da propriedade:
e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região
e tipo de exploração, e, eventualmente, trabalho com a ajuda de terceiros”
(BRASIL, 1964, documento on-line).
Rio Rio
Ilha
Ilha
100%
Novo desdobramento
do rio
Ilha
Proprietário X Proprietário Y
Rio
Figura 2. Formação de ilhas e domínio particular: (a) formação de ilha no meio do rio;
(b) formação de ilha entre a linha média do curso d’água e uma de suas margens; (c) ilha
que se forma pelo desdobramento de um novo ramo do rio.
12 Propriedade
A regra básica relativa às acessões artificiais é aquela que consta do art. 1.253
do Código Privado: “toda construção ou plantação existente em um terreno
presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário”.
Constata-se que as construções e plantações têm natureza acessória, uma vez
que constituem bens imóveis por acessão física artificial, nos termos do art.
79 do CC/2002. Por isso é que seguem a sorte do principal, particularmente
quanto à propriedade (princípio da gravitação jurídica). De qualquer forma,
deve-se entender, por razões óbvias, que a presunção prevista no art. 1.253
do Código Civil é relativa, iuris tantum, admitindo prova e até previsão em
contrário, podendo haver um destino diverso das construções e plantações
realizadas em um bem. Relativamente à previsão em contrário, concretizando,
esta pode ocorrer no direito real de superfície.
Propriedade 13
Perda da propriedade
Sempre que há aquisição da propriedade, há concomitantemente sua perda para
outrem, independentemente de se tratar de coisa móvel ou imóvel. Assim, a
técnica legislativa adotada no art. 1.275 do Código Civil considera que algumas
hipóteses precisavam ser consideradas expressamente, como:
BRASIL. Lei nº. 4.504, de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra,
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 30 nov. 1964. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4504.htm. Acesso em: 19 abr. 2020.
BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial
da União, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 10 abr. 2020.
TARTUCE, F. Direito civil: direito das coisas. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. 4 v.
GONÇALVES, C. R. Direito civil brasileiro: direito das coisas. 16. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019. 5 v.
Propriedade 15
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de direito civil: direitos reais. 27. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2019. 4 v.
RIZZARDO, A. Direito das coisas. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
Leitura recomendada
BRASIL. Lei nº. 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Consti-
tuição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, 11 jul. 2001. Disponível em: https://www2.camara.leg.
br/legin/fed/lei/2001/lei-10257-10-julho-2001-327901-publicacaooriginal-1-pl.html.
Acesso em: 20 abr. 2020.
BRASIL. Lei nº. 8.629, de 25 de fevereiro de 1993. Dispõe sobre a regulamentação dos
dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III, Título
VII, da Constituição Federal. Diário Oficial da União, Brasília, 26 fev. 1993. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8629.htm. Acesso em: 19 abr. 2020.
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