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Aluna: Renata Pedrolli Renz Matrícula: 22250464

Perguntas para o estudo dirigido de Direito Civil - coisas


1. Quais as principais características dos direitos reais?
Segundo Maria Helena Diniz:
- Oponibilidade erga omnes (contra todos os membros da coletividade) → Os direitos
reais aderem à coisa, sujeitando-a imediatamente ao poder de seu titular, com
oponibilidade erga omnis.
- Direitos reais são absolutos (princípio do absolutismo) → Segundo a doutrina, o
absolutismo separa os direitos reais dos direitos obrigacionais, (os quais são
tradicionalmente marcados pela relatividade). Os direitos reais são excludentes, pois
todos se encontram vinculados a não perturbar o exercício do direito real (jura
excludendi omnis alios).
- Existência de um direito de sequela, que segue a coisa → A inerência do direito real
ao objeto afetado é tão substancial que permite que o seu titular persiga-o em poder
de terceiros onde quer que o objeto se encontre;
- Previsão de um direito de preferência a favor do titular de um direito real → consiste
no privilégio de o titular do direito real em obter o pagamento de um débito com o
valor do bem aplicado exclusivamente à sua satisfação. Havendo o concurso de
diversos credores, a coisa dada em garantia é subtraída da execução coletiva, pois o
credor com garantia real – pignoratício, fiduciário ou hipotecário – prefere aos
quirografários.
- Possibilidade de abandono dos direitos reais, de renúncia de tais direitos;
- Viabilidade de incorporação da coisa por meio da posse;
- Previsão da usucapião como um dos meios de sua aquisição;
- Suposta obediência a um rol taxativo (numerus clausus) de institutos, previstos em
lei, o que consagra o princípio da tipicidade dos direitos reais;
- Regência pelo princípio da publicidade dos atos, o que se dá pela entrega da coisa ou
tradição (no caso de bens móveis) e pelo registro (no caso de bens imóveis).

2. O que é posse?
Segundo Pontes de Miranda, a posse é estado de fato em que acontece poder (de
fato), mas não é ato de poder; compreende-se como possibilidade de exercer poder
como o que exerceria quem fosse proprietário (Lôbo, 2024, p.120).

Segundo Tartuce, a posse é um direito de natureza especial, que não se enquadra


como direito real ou pessoal, cujo conceito pode ser retirado da Teoria Tridimensional
do Direito, de Miguel Reale.
Isso porque a posse é o domínio fático que a pessoa exerce sobre a coisa (poder físico
sobre a coisa e a vontade de agir com este poder explorando a utilidade ou destinação
econômica da coisa).
Ou seja, a posse é a utilização econômica da coisa; assim, onde a propriedade é
possível, a posse também o é.

Entretanto, é importante salientar que para a maioria dos doutrinadores, a exemplo de


Maria Helena Diniz, a posse é um direito real, ainda que não abarcado no rol taxativo
dos direitos reais elencados no Código Civil.
3. Em que sentido a posse é um conceito intermediário?
Conforme mencionado na questão anterior, a posse apresenta uma natureza jurídica
especial, sendo um conceito intermediário entre os direitos pessoais e os direitos reais.
Conforme afirma Azevedo (2019, p.48), para Savigny, a posse é um fato que produz
consequências jurídicas, colocando-se entre os direitos pessoais (um fato, em si
mesma e um direito quanto aos efeitos - fato e direito simultaneamente). Ao passo
que para Ihering, a posse é um direito, um interesse juridicamente tutelado,
colocando-se entre os direitos reais.
Importante ressaltar que tal conformação híbrida não seria suficiente para retirar o
caráter de “direito” da posse. Embora muitos juristas resistam em enquadrar a posse
como fenômeno jurídico, não podem deixar de reconhecer os efeitos jurídicos dela
originados.

4. Em que sentido o código civil adota a teoria objetivista, ou não, para a posse?
O CC/2002 adotou parcialmente a teoria objetivista de Ihering, em que somente o
“corpus” (o poder de fato sobre as coisas) é necessário para a posse, não sendo
necessário o “animus”. Em suma, basta o exercício de um dos atributos do domínio
para que a pessoa seja considerada possuidora.
Assim, a lei protege todo aquele que age sobre a coisa como se fosse o seu
proprietário, explorando-a, dando-lhe o destino para o qual, economicamente, foi
feita. Não é exigida, portanto, a intenção de ser dono sobre a coisa, mas a mera
“aparência de possuidor”.

5. O que é “G. R. U. D.”?


A sigla “G. R. U. D.” se refere aos atributos ou faculdades inerentes à propriedade.
Segundo o art. 1.228 do CC/02, “o proprietário tem a faculdade de USAR, GOZAR e
DISPOR da coisa, e o DIREITO DE REAVÊ-LA do poder de quem quer que injustamente a
possua ou detenha”.

6. Como se aplica a teoria da função social da posse?


Segundo o Enunciado nº 492 da V Jornada de Direito Civil de 2011, “a posse constitui
direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos
bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de
tutela”. Portanto, para se chegar à finalidade social da posse, esta precisa satisfazer as
necessidades básicas de uma sociedade.
Conforme o pensamento de parte da doutrina, a função social da posse justifica-se
pela necessidade de satisfação dos direitos fundamentais e sociais garantidos na
Constituição.

7. Posse é detenção? E por quê?


Não. A posse é definida como o exercício de fato de algum dos poderes inerentes à
propriedade, de modo que, independentemente do título que a pessoa tenha sobre a
coisa, o mero exercício de qualquer das faculdades inerentes ao domínio configura a
posse.
Com relação aos efeitos que produz, a posse traduz-se como direito. Isso porque o
possuidor tem legitimidade para defender diretamente sua posse contra quem quer
que o ameace (CC, art. 1.210) e recuperá-la por meio de ação própria (CPC, arts. 554 a
568).

Já a detenção é aquela situação em que alguém conserva a posse em nome de outro e


em cumprimento às suas ordens e instruções. Nesse caso, não serão produzidos os
efeitos da posse, portanto confere ao titular direitos derivados dela.
O detentor, pessoa que se encontra em relação de dependência para com o possuidor,
conserva a posse em nome deste e cumprindo ordens ou instruções suas, conforme
menciona o art. 1.198 do Código Civil. Ou seja, o detentor apenas cuida da coisa alheia,
com vínculo de dependência ou de subordinação com o titular do direito sobre a coisa.

8. Cite e explique as principais classificações da posse.


Segundo Lôbo (2024, p.161), para a qualificação da posse o que interessa é o
momento de sua aquisição, ou seja, demarca-se na origem da posse. A alteração
posterior que venha a sofrer, em princípio e em relação ao titular, não altera a
qualificação da posse.
Ainda conforme o autor, as principais classes de posses que o direito brasileiro adota,
são:
1. Posse justa e posse injusta:
Considera-se justa a posse pública, pacífica, não precária e que observa sua função
social e os deveres com o meio ambiente. Injusta é a posse que não corresponder a
qualquer desses predicados. A posse injusta não recebe a proteção legal, em nenhuma
medida, o que a torna inexistente para o direito, enquanto permanecer contaminada
por um desses vícios.

2. Posse direta e posse indireta.


A posse direta é o exercício real e temporário do poder de fato sobre a coisa, em
virtude de relação jurídica pessoal ou real contraída com o possuidor indireto. A posse
indireta é a do titular da posse ou propriedade da coisa que está sob exercício do
possuidor direto.

3. Posse de boa-fé e posse de má-fé.


A posse é de boa-fé quando o possuidor ignora a existência de obstáculo legal à
aquisição da coisa, notadamente de titular de posse justa.
Contrariamente, incorre em má-fé o possuidor que não ignora o obstáculo que o
impede de adquirir a coisa.
Todavia, a posse de má-fé, ainda que restringida em seus efeitos, goza da proteção
possessória, razão por que não pode ser considerada ilícita.

Também se alude a “posse em nome próprio” e “posse em nome alheio”, além de


“posse própria” e “posse imprópria”, “posse originária” e “posse derivada”, “posse
legítima” e “posse ilegítima”, “posse de direitos” e “posse de coisas”.

9. O que é posse de boa-fé?


A posse de boa fé refere-se à situação em que uma pessoa ocupa um bem acreditando
de boa fé que possui o direito legítimo de fazê-lo (quando o possuidor está convicto de
que a coisa realmente lhe pertence). Conforme dispõe o art. 1.201 do CC/02, “é de
boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da
coisa.”
Importante ressaltar que a posse de boa-fé assenta-se em um conceito subjetivo,
puramente psicológico, que reside na íntima convicção de que se está agindo em
conformidade com a lei.
REFERÊNCIAS
Azevedo, Álvaro Villaça. Curso de direito civil: direito das coisas. 2. ed. v.5. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019.
Lôbo, Paulo Luiz Neto. Direito Civil - Volume 4 - Coisas. 9. ed. São Paulo: SaraivaJur,
2024.

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