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UNIDADE I – POSSE

CC, art. 1.196 a 1.224;


CPC, art. 554 a 568.
1. Origem histórica da posse

2. Conceito de posse
O conceito de posse, no direito positivo brasileiro,
deve ser compreendido a partir do art. 1.196 do Código
Civil, in verbis:
CC, art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que
tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade.
Note-se que a noção de posse é dada a partir da
definição de propriedade apresentada no art. 1.228 do
Código, onde estão previstas as faculdades do proprietário
sobre a coisa que lhe pertence.
O conceito de posse torna-se inteligível a partir da
noção de possuidor apresentada no art. 1.196. Portanto,
pode-se dizer que posse é o exercício de fato, pleno ou
não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e
dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem
quer que injustamente a possua ou detenha.
Proprietário = faculdade de:
usar
gozar
dispor (alienação, doação, gravar de ônus reais)
reaver (direito de sequela/ius persequendi. Ver: CC, art.
1.228, caput, in fine).
Observação:
a) Jus possessionis ou posse autônoma: Se alguém se
mantem, pacificamente, em um imóvel, continuamente e
sem oposição, cria uma situação possessória, que lhe
proporciona direito à proteção da posse.
b) Jus possidendi ou posse causal: que é a posse titulada.
Em ambos os casos, é assegurado o direito à proteção
dessa situação contra atos de violência, para garantir a paz
social.
3. Teorias sobre a posse
a) TEORIA DE SAVIGNY, denominada pela doutrina
“TEORIA SUBJETIVA”, em Tratado da Posse (Das Rechtdes
Besitzes, 1893), afirma o autor que a posse se constitui de
dois elementos:
Corpus – elemento objetivo que consiste na detenção física
da coisa; “Faculdade real e imediata de dispor fisicamente
da coisa, e de defendê-la das agressões de quem quer que
seja” (Savigny apud Caio Mário da Silva Pereira, 2007: 18).
Animus – elemento subjetivo, que significa a intenção de
ser dono da coisa e de defendê-la contra a intervenção de
outrem (animus domini ou animus REM sibi habendi). Se
não ocorrerem os dois elementos, há, neste caso, mera
detenção, e não posse.
b) TEORIA DE RUDOLF von IHERING, também denominada
“TEORIA OBJETIVA”, em Teoria Simplificada da Posse,
preleciona o referido autor que o animus já está contido
no corpus, que significa conduta de dono.
Esta pode ser analisada objetivamente, sem a
necessidade de verificar a intenção do agente. A posse
consiste na exteriorização da propriedade, na visibilidade
do domínio e no uso econômico da coisa.
O Código Civil brasileiro adotou essa teoria, nos
termos do art. 1.196.
Para Savigny, o locatário, o usufrutuário, o
arrendatário e o comodatário são detentores e não
possuidores, por isso não têm direito às ações
possessórias.
Para Ihering, ao contrário, os mesmos são
possuidores (posse direta) e podem utilizar as ações
possessórias, mesmo que seja contra o proprietário (posse
indireta).
É o que está previsto no art. 1.197 do Código Civil
pátrio.
Fenômeno jurídico do desdobramento da posse:

POSSE INDIRETA x POSSE DIRETA

Posse indireta = posse de dono.


Posse direta = terceiro/relação
contratual/negocial, por ex. usuário, usufrutuário,
comodatário, locatário etc.
4. Natureza jurídica da posse
Fato
Proteção jurídica.
Caráter duplo da posse: considerada em si é um
fato; pelos direitos que gera, entra na esfera do direito.
Efeito jurídico: as ações reais, por ex., exigem
presença do cônjuge na relação processual concernente ao
bem imóvel, outorga uxória ou marital (CPC, art. 73/74).
Quanto às ações possessórias, no art. 73, §§ 2º e
3º, do CPC, prevê que:
§ 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do
autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de
composse ou de ato por ambos praticado.
§ 3º Aplica-se o disposto neste artigo à união estável
comprovada nos autos.
Observa-se que o legislador infraconstitucional não
incluiu a posse no rol taxativo dos direitos reais do art.
1.225 do CC/2002.
Direitos pessoais incorpóreos – utilizam-se as
cautelares inominadas. Poder cautelar geral do juiz (CPC,
art. 297).
Ver Súmula 228, STJ – “É inadmissível o interdito
proibitório para proteção do direito autoral”.
Cabe Ação de indenização.
5. Distinção entre Posse e
detenção
O ordenamento jurídico pátrio prevê situações em
que uma pessoa não é considerada possuidora, mesmo
exercendo poderes de fato sobre uma coisa, ou seja,
mesmo tendo o exercício físico sobre a coisa.
Isto ocorre quando a lei desqualifica a relação para
mera detenção, como previsto nos artigos 1.198, 1.208 e
1.224, CC/2002.
Casos de detenção
CC, art. 1.198
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se
em relação de dependência para com outro, conserva a
posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou
instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do
modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à
outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o
contrário.
CC, art. 1.208
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão
ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os
atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a
violência ou a clandestinidade.
Detenção
Não gera direito de posse:
os atos de mera permissão
os atos de tolerância.

Não autorizam aquisição da posse:


os atos violentos,
ou clandestinos  senão depois de cessar a violência ou
a clandestinidade.
Quase posse
Os romanos só consideravam posse a emanada do
direito de propriedade.
A exercida nos termos de qualquer direito real
menor (iura in re aliena), ou direitos reais sobre coisas
alheias, servidão e usufruto, por ex., eram denominados
quase posse, por ser aplicada aos direitos ou coisas
incorpóreas.
No direito atual tais situações são consideradas
posse propriamente dita.
No nosso ordenamento o que se denominava antes
quase posse, passou-se a constituir a posse direta,
conforme previsto no art. 1.197 do Código Civil.
Composse
É a situação pela qual duas ou mais pessoas
exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a
mesma coisa (CC, art. 1.199). A composse pode ser:
Pro diviso – quando exercida simultaneamente e se
estabelece uma divisão de fato entre os compossuidores,
quanto a sua utilização;
Pro indiviso– é aquela em que se exercem, ao
mesmo tempo e sobre a totalidade da coisa, os poderes de
utilização ou exploração comum do bem. Por exemplo, a
área comum de um condomínio.

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