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AULA 09/02/2022

DIREITO DAS COISAS

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS

Conceito: o direito das coisas vai se preocupar em estudar a relação jurídica entre a pessoa e o
poder que ela exerce em relação a uma coisa. Para o direito civil coisa é tudo aquilo que é
passível de apropriação pelo homem (coisas sobre as quais o ser humano pode exercer
domínio).

2. DIREITOS REAIS E PESSOAIS

Os direitos pessoais analisam a relação entre pessoas (credor e devedor). Já os direitos reais
analisam a relação entre o sujeito e a coisa. O direito real é taxativo, enquanto os direitos
obrigacionais possuem uma finalidade de possibilidades. O direito das coisas é erga omnes
(qualquer um tem a obrigação de respeitar o meu direito real). Os direitos reais têm um único
titular, enquanto os direitos obrigacionais possuem 2 sujeitos.

3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS DIREITOS REAIS

a) Princípio da Aderência, especialização ou inerência: o proprietário tem um vínculo tão


grande com a coisa que é como se houvesse uma aderência entre o sujeito e a própria coisa, a
ponto de onde essa coisa vá ou onde quer que ela esteja terá o seu proprietário o direito de
reavê-la de quem quer que a detenha (onde a coisa vá, terá o possuidor direito de buscá-la).

b) Princípio do Absolutismo: o sujeito passivo dessa relação é a comunidade. Quem tem o


dever de respeitar o direito real é a comunidade (toda e qualquer pessoa tem o dever de
respeitar meu direito real). Esses direitos são exercidos erga omnes (toda e qualquer pessoa
tem o dever de respeitar / contra todos).

c) Princípio da publicidade ou da visibilidade: preciso saber que existe um direito real para que
eu possa respeitá-lo. O detentor do direito real precisa ostentar publicamente a coisa para que
as pessoas conheçam e respeitem esse direito. Os direitos reais só se podem exercer contra
todos se forem assumidos publicamente. A tradição deve ficar bem clara quando da aquisição
da propriedade de bem móvel.

- coisas móveis: publicidade se dá por meio da posse

- coisas imóveis: publicidade do título através do registro no cartório de registro de imóveis

d) Princípio da taxatividade ou numerus clausus: diz que os direitos reais não podem ser
criados pelas vontades das partes. Direitos reais são criados através de procedimentos
legislativos e estão previstos na própria lei. São direitos reais todos os elencados
taxativamente no artigo 1225 do CC.

e) Princípio da perpetuidade: ultrapassa a morte do proprietário. Não se perde pelo uso, mas
somente pelos meios legais.

f) Princípio da exclusividade: não existe, sobre uma mesma coisa, sobre um mesmo direito
real, o exercício do direito real por duas ou mais pessoas. O direito real é exercido com
exclusividade.

g) Princípio do desmembramento: uma vez que o direito real é constituído ele pode ser
desmembrado (ou eu posso exercer esse direito real diretamente ou indiretamente).
Beneficiam os terceiros que passam a exercê-los, mas quando se extinguem retornam às mãos
do proprietário, em virtude do princípio da consolidação.

4. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS

a) Propriedade: não existe outro direito real se não existir o direito de propriedade. É o único
direito real originário. Todos os outros direitos, chamados direitos na coisa alheia decorrem do
direito de propriedade.

Propriedade x domínio

- Propriedade: é o exercício, direito que o titular exerce e que todas as pessoas tem o dever de
se abster de desrespeitar.

- Domínio: o sujeito exerce alguns poderes sobre a coisa

5. FIGURAS HÍBRIDAS

Existem 3 figuras que aparentemente são obrigações, mas não são completamente obrigações
porque possuem influência dos direitos reais. Falamos que são figuras híbridas porque têm
influência tanto dos direitos reais como dos direitos obrigacionais.

a) Obrigações propter rem (por causa da coisa): é uma obrigação que recai sobre uma pessoa,
mas por causa de uma coisa. Aqui, a pessoa se torna devedora de uma obrigação não porque
quis. Se me torno proprietária de uma coisa, automaticamente me torno devedora de uma
obrigação propter rem (a obrigação está atrelada à própria titularidade).

Ex: direito de vizinhança, obrigação de pagar IPVA

OBS: a obrigação propter rem recai sobre a pessoa

NOÇÕES GERAIS SOBRE A POSSE


1.NATUREZA JURÍDICA SOBRE A POSSE

- Direito real ou estado de fato?

A posse é um poder que uma pessoa exerce sobre uma coisa. Esse exercício do poder é
exercido erga omnes (toda e qualquer pessoa tem a obrigação de respeitar).

Posse é um estado de fato (visualização do poder que a pessoa exerce sobre a coisa). Nem
sempre conseguimos visualizar de forma fática o domínio que uma pessoa exerce sobre uma
coisa. A posse é a exteriorização desse domínio. O exercício da posse é que da visibilidade
desse domínio.

- Posse formal: desprovida de qualquer causa que garanta o exercício daquela posse. Não há
relação jurídica, documento que justifique o fato da pessoa estar exercendo posse sobre uma
coisa, porém ela exerce posse. Posse será a utilização da coisa com uma destinação econômica
de forma mansa, pacífica, por mais de ano e dia.
- Posse causal: há uma causa de direito para estar naquela posse (ex: registro público, contrato
de locação). Há um documento, um título que me garante estar no exercício daquela posse.

2. CONFIGURAÇÃO TRIDIMENSIONAL DA POSSE

a) Posse real: posse decorrente do exercício de um direito real. Aquela que eu tenho um título
que me garante não só o direito real, mas também a posse.

b) Posse obrigacional: aquela que vem de uma relação jurídica obrigacional. Eu não tenho
nenhum direito real sobre a coisa, mas realizo um acordo de vontade com quem tem e adquiro
o direito de possuir a coisa. São relações obrigacionais em que o proprietário da coisa autoriza
que eu use a coisa. Ex: contrato de locação

c) Posse fática: aquela que não tem nenhum título ou contrato. É quando encontrei uma coisa
em que comecei a dar a ela uma destinação econômica, usá-la de forma pública, ninguém
contestou e eu continuei ali por anos. A posse fática gera o direito de propriedade por meio do
usucapião.

3. OBEJTO DA POSSE

O objeto da posse pode ser a coisa (coisas materiais, corpóreas que possuam valor
econômico).

4. TEORIAS SOBRE A POSSE

- Savigny: Teoria Subjetiva

Para Savigny posse é a conjugação de dois elementos: corpus(detenção física sobre a coisa ou
tê-la à sua disposição) + animus (quem detém fisicamente a coisa com intenção de ser dono).
Se eu tenho esses dois elementos na mesma pessoa eu tenho posse, então ela merece
proteção. Todavia, por essa teoria, o locatário não era possuidor e se ele não era possuidor
não merecia proteção. Então, essa teoria não persistiu e precisou ser aprimorada, pois excluía
do rol dos possuidores uma parte muito grande de pessoas que tinham legitimidade para
possuir a coisa e mereciam proteção, mas por causa do elemento animus não conseguiam
essa proteção.

- Rudolf Von Ihering: Teoria Objetiva

Aqui, analisa-se um único elemento chamado corpus (detenção física da coisa tendo a pessoa
conduta de dono em relação à coisa). Pessoa detém fisicamente a coisa e cuida dela como se
fosse dona. Então, ela tem posse.

5. CONCEITO DE POSSE

Art.1196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de
algum dos poderes inerentes à propriedade.

Eu reconheço um possuidor analisando a sua conduta, o seu comportamento, a forma que ele
trata a coisa e não analisando um título, um documento.

Conduta de dono: usar, gozar, dispor, reaver

Se uma pessoa exercer de fato algum desses poderes, em regra, a pessoa é tida como
possuidora.
É uma situação de fato, em que uma pessoa, que pode ou não ser a proprietária, exerce sobre
uma coisa atos e poderes ostensivos, conservando-a e defendendo-a. Utiliza a coisa com
conduta, comportamento de dano dando a ela uma destinação econômica.

Art.1198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com
outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.

Quem detém uma coisa não pode usá-la com liberdade, autonomia. O que falta para os servos
da posse é a autonomia, pois eles utilizam a coisa sob as ordens das pessoas que são
possuidoras. A pessoa usa e explora a coisa economicamente, mas a mando do possuidor. Ele
não tem liberdade acerca da utilização da coisa.

Art.1208. Não deduzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não
autorizam a sua aquisição os atos violentos, os clandestinos, senão depois de cessar a violência
ou a clandestinidade.

Atos de mera permissão ou tolerância não são considerados posse. É algo transitório e
passageiro.

- Permanência: autorização expressa do possuidor para que o terceiro utilize a coisa.

- Tolerância: resulta do consentimento tácito ao seu uso.

Também não é possuidor aquele que exerce sobre a coisa ato violento ou clandestino (são
condutas que inviabilizam a aquisição da coisa).

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