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POSSE
Trata-se de uma circunstância fática
tutelada pelo Direito.
É um fato.
CONCEITO E
NATUREZA
A posse não é tratada junto aos direitos
JURÍDICA reais constantes no art. 1.225.
• Fortalecimento da tese segundo a qual a posse não
é um direito real, mas, sim, uma situação de
fatotutelada pelo Direito.
TEORIAS DA POSSE
Posse direta: aquela exercida mediante o poder material ou contato direto com a
coisa.
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de
quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o
indireto.
Posse indireta: aquela exercida por via oblíqua (locador= goza dos alugueis, sem que
esteja direta e pessoalmente exercendo poder físico ou material sobre o imóvel
locado).
Quando coexistem: fenômeno do paralelismo ou desdobramento da posse.
EXEMPLO
O sujeito vai à Localiza e aluga um carro. Ele passa a ter posse direta do
carro e a Localiza continua como possuidora indireta. Se ela quiser tomar o
carro do sujeito antes do contrato acabar, ele poderá defender sua posse
contra ela. Isso porque o possuidor direto, conforme foi dito, pode defender
a sua posse contra o possuidor indireto, porém, o possuidor indireto
continua tendo tutela possessória em outros casos, por exemplo, contra
terceiros.
CLASSIFICAÇÃO – QUANTO À EXISTÊNCIA DE VÍCIO (POSSE
JUSTA E POSSE INJUSTA)
Posse justa:
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
Posse injusta: quando violenta, clandestina ou precária.
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de
cessar a violência ou a clandestinidade.
Violento: uso da força;
Clandestino: às escuras, às escondidas.
Posse precária: a concessão da posse é lícita, de maneira que o vício da
precariedade somente surgiria quando houvesse a quebra da confiança do
titular do direito, com negativa de devolução da coisa.
CLASSIFICAÇÃO – QUANTO À LEGITIMIDADE DO TÍTULO OU AO
ELEMENTO SUJETIVO (POSSE DE BOA-FÉ E POSSE DE MÁ-FÉ)
1. Pro diviso: quando os possuidores, posto tenham direito à posse de todo o bem, delimitam áreas para
o seu exercício (ex.: irmãos, condôminos e compossuidores do mesmo bem imóvel, decidem
delimitar a área de uso de cada um).
2. Pro indiviso: quando os possuidores, indistintamente, exercem, simultaneamente, atos de posse
sobre todo o bem (ex.: sucessores – podem valer-se de interditos possessórios quanto a terceiros em
defesa da herança como um todo, em favor de todos, ainda que sendo apenas titular de uma fração).
Em suma, é a posse simultânea; posse justa é a que não é violenta, clandestina ou precária; posse de
boa-fé é aquela em que o possuidor ignora qualquer obstáculo para a aquisição da coisa.
MOMENTO DE AQUISIÇÃO DA POSSE
Outros detalhes:
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar
a violência ou a clandestinidade.
Permissão: consensão expressa.
Tolerância: forma tácita.
Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis
que nele estiverem.
MODOS DE PERDA DA POSSE
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o
poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.
Abandono, tradição, perda, destruição (natural/fortuito, pelo próprio possuidor ou
mesmo por terceiros), inalienabilidade (bens fora do comércio) e esbulho.
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho,
quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é
violentamente repelido.
Cuidado! Ausência por muito tempo pode significar abandono…
EFEITOS DA POSSE
Basicamente, o que interessa a esta aula é o efeito que está no art. 1.210 do CC.
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído
no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
Esse dispositivo apresenta as três modalidades da tutela possessória. A primeira é o
segurado, no caso de violência iminente, se tiver receio. Esse receio significa o chamado
interdito proibitório, sendo que o interdito proibitório tem natureza jurídica de tutela
inibitória, porque ele inibe/impede a ocorrência da lesão. Nesse cenário, há uma ameaça
de ilícito, o sujeito tem a ameaça de ser molestado e, por conseguinte, faz uma tutela
inibitória que inibe a prática do ilícito (não é do dano).
EFEITOS DA POSSE
Posse justa.
Quem tem posse derivada de violência, clandestinidade ou precariedade,
não tem tutela possessória.
No entanto, esses vícios da posse apenas podem ser alegados por quem
deles foi vítima, assim, outras pessoas deverão respeitar a posse daquele
sujeito.
O ladrão, autor do furto, tem direito à tutela possessória?
Respostas: Contra terceiros, sim. Ele não tem direito à tutela possessória contra o
próprio sujeito que foi vítima do furto, porque a posse do ladrão, nesse caso, é injusta.
Entretanto, quando o ladrão está defendendo a sua posse contra terceiros que não
formam as vítimas do furto, ele tem tutela possessória, porque esses terceiros não
podem alegar esses vícios em seu favor.
ESPÉCIES DE AÇÕES POSSESSÓRIAS
2) Ação de manutenção de posse: aplicada na hipótese em que a posse foi turbada, mas
não foi perdida.
3) Ação de reintegração de posse: utilizada no caso em que a posse já foi perdida e o
sujeito quer recuperá-la.
CPC, Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e
reintegrado em caso de esbulho.
O CPC dispõe que o juiz adotará as providências que forem necessárias para a
manutenção ou para reintegração.
NA PRÁTICA...
Essas situações muitas vezes se misturam, o art. 554 do CPC estabelece uma plena
fungibilidade entre todas as tutelas possessórias. Desta maneira, não interessa se o
sujeito pediu uma tutela e na vida se encontrou outra, o juiz dará aquela que for
adequada, dadas as circunstâncias do caso.
CPC, Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a
que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela
cujos pressupostos estejam provados.
Em casos de esbulho: cabe ação de reintegração de posse.
Em casos de turbação: cabe ação de manutenção de posse.
Em casos de ameaça: cabe interdito proibitório.
COMPETÊNCIA
Além dos requisitos normais do art. 319, a inicial deve apresentar a prova,
obviamente, da posse, da turbação ou do esbulho ou da continuação, no caso de
manutenção.
CPC, Art. 561. Incumbe ao autor provar:
I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da
posse, na ação de reintegração.
PROVIMENTO: AÇÕES DE FORÇA NOVA E DE FORÇA VELHA
Se o esbulho ou a turbação aconteceu até um ano e um dia, tem-se uma ação possessória de
força nova. A partir do encerramento desse prazo, tem-se uma ação possessória de força
velha.
Prazo de ano e dia é o prazo de um ano mais um dia.
EXEMPLO: Considerando a data de 10/08/2021, prazo de ano e dia significa que em
10/08/2022 terá transcorrido um ano (lembre-se que prazo de um ano é sempre a mesma data no
ano subsequente), mais um dia, será 11/08/2022. Sendo assim, se o sujeito sofrer um esbulho ou
turbação em 10/08/2021, ele tem até 11/08/2022 para propor uma ação possessória de força
nova. Se ele propuser essa ação em 12/08/2022, estará propondo uma ação possessória de força
velha.
CPC, Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas
da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou
do esbulho afirmado na petição inicial. Parágrafo único. Passado o prazo referido no
caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.
Basicamente, isso significa que o autor não terá direito à tutela provisória específica das
ações possessórias. Sendo assim, a ação continua possessória, continua discutindo-se
posse, mas o autor não terá direito a uma tutela provisória específica das ações
possessórias se ele propuser depois de ano e dia.
A ação possessória é um procedimento especial, em que há a
possibilidade de uma liminar com um requisito muito peculiar. O autor
que sofreu esbulho tem direito à liminar se demonstrar que a moléstia à
posse aconteceu em menos de 1 ano e 1 dia. Se o juiz não der a liminar
por entender que não há a comprovação devida, ele designará uma
audiência de justificação. O réu será citado para comparecer à audiência,
não sendo esse o momento para ele contestar. Concedendo ou não a
liminar, a ação possessória vira procedimento comum.
REFERENCIAL TEÓRICO
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil: volume único. 3. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2019.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil, v5: direitos reais. 2. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
Outros…