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Aula 2 – Teoria e
Classificação da Posse
Prof. Lucio Facci
1. Teorias justificadoras da posse
╺ 1ª – Teoria subjetiva ou subjetivista (Savigny): a posse, para essa teoria, possui
dois elementos: a) o corpus – elemento material ou objetivo da posse (poder
físico ou de disponibilidade sobre a coisa); b) animus domini – elemento
subjetivo (intenção de ter a coisa para si, de exercer sobre ela o direito de
propriedade).
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1. Teorias justificadoras da posse
╺ 2ª – Teoria objetiva, objetivista ou simplificada (Ihering): para a constituição da
posse, basta que a pessoa disponha fisicamente da coisa, ou que tenha a mera
possibilidade de exercer esse contato. Dispensa a intenção de ser dono, tendo a
posse apenas um elemento, o corpus, como elemento material e único fator visível
e suscetível de comprovação.
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1. Teorias justificadoras da posse
╺ O CC/2002 adotou parcialmente a teoria objetivista – art. 1.196: “considera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade”. Locatário, comodatário etc. são possuidores,
podendo utilizar ações possessórias. Todo proprietário é possuidor, mas nem
todo possuidor é proprietário.
╺ Desse modo, a posse pode ser desdobrada em direta e indireta (art. 1.197,
CC).
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1. Teorias justificadoras da posse
╺ A posse pode decorrer de mero exercício de direito. Exemplo: no contrato de
locação, as duas partes envolvidas são possuidoras. O locatário é possuidor
direto, tendo a coisa consigo; o locador proprietário é possuidor indireto,
pelos direitos que decorrem do domínio.
╺ Além das pessoas naturais e jurídicas, os entes despersonalizados podem
ser considerados possuidores: o espólio, a massa falida, a sociedade de fato e
o condomínio.
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2. Função social da posse
╺ A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve
expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses
existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela.
╺ O STJ, utilizando a ideia de autonomia entre a posse e a propriedade, afirma
a possibilidade da partilha, em sede de divórcio, de um imóvel em situação
irregular (REsp 1.739.042, DJe 16.09.2020).
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3. Diferença entre posse e detenção
╺ O detentor (“fâmulo de posse”) não pode ser confundido com o possuidor (art.
1.198) – tem a coisa apenas em virtude de uma situação de dependência
econômica ou de um vínculo de subordinação (ato de mera custódia). Detentor
exerce sobre o bem uma posse em nome de outrem.
╺ Como não tem posse, não lhe assiste o direito de invocar, em nome próprio, as
ações possessórias. Porém, pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa
do bem sob seu poder (Enunciado n. 493, CJF).
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3. Diferença entre posse e detenção
╺ O art. 1.208, primeira parte, acrescenta que não induzem posse
os atos de mera permissão ou tolerância.
╺ Exemplo: Se alguém tolera que o vizinho retire água de sua
fonte ter-se-á simples licença ou autorização revogável porque
quem a concedeu.
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3. Diferença entre posse e detenção
╺ É admitida a conversão da detenção em posse, desde que rompida a
subordinação – exercício dos atos possessórios passa ser em nome
próprio.
╺ Exemplo: se desaparecer o vínculo de dependência de contrato de
trabalho, sendo contratada locação entre ex-patrão e ex-empregado, não
haverá mais mera detenção, mas posse, desdobrada em direta e indireta.
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4. Principais classificações da posse
╺ 4.1) Quanto à relação pessoa-coisa (art. 1.197 do CC):
╺ a) Posse direta ou imediata – aquela que é exercida por quem tem a
coisa materialmente, havendo um poder físico imediato (locatário,
depositário etc.)
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A posse direta não anula a indireta,
“ podendo o possuidor direto e o
indireto invocar a proteção
possessória um contra o outro, e
também contra terceiros
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4. Principais classificações da posse
╺ 4.2) Quanto à presença de vícios objetivos (art. 1.200, CC):
╺ a) Posse justa – não apresenta os vícios da violência, da clandestinidade
ou da precariedade, sendo uma posse limpa.
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4. Principais classificações da posse
╺ Basta a presença de apenas um dos critérios acima para que a posse seja
caracterizada como injusta, não havendo exigência de cumulação.
╺ A posse injusta ainda é posse e pode ser defendida por ações do juízo
possessório, não contra aquele de quem se tirou a coisa, mas sim em face de
terceiros: a posse somente é viciada em relação a uma determinada pessoa
(efeitos inter partes), não tendo o vício efeitos contra todos (erga omnes).
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4. Principais classificações da posse
╺ 4.3) Quanto à boa-fé subjetiva ou intencional (art. 1.201 do CC):
╺ a) Posse de boa-fé – quando o possuidor ignora os vícios ou os obstáculos que
lhe impedem a aquisição da coisa ou quando tem um justo título (p.ex., contrato)
que fundamente sua posse.
╺ b) Posse de má-fé – quando o possuidor sabe do vício que acomete a coisa, mas
mesmo assim pretende exercer o domínio fático. Neste caso, o possuidor nunca
possui um justo título.
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Ainda que de má-fé, o
“ possuidor não perde o direito de
ajuizar a ação possessória para
proteger-se de terceiro.
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4. Principais classificações da posse
╺ 4.4) Quanto à presença de título:
╺ a) Posse com título – em que há uma causa representativa da
transmissão da posse (contrato de locação ou de comodato, por exemplo).
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Ius possidendi: direito à posse que
decorre de propriedade (posse com
“ título, estribada na propriedade);
Ius possessionis: direito que decorre
exclusivamente da posse (posse sem
título, que existe por si só).
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4. Principais classificações da posse
╺ 4.5) Quanto ao tempo:
╺ a) Posse nova – a que conta com menos de um ano e um dia.
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4. Principais classificações da posse
╺ 4.6) Quanto aos efeitos:
╺ a) Posse ad interdicta – constituindo regra geral, é a posse que pode ser
defendida pelas ações possessórias.
╺ b) Posse ad usucapionem – exceção à regra, é a que se prolonga por
determinado lapso de tempo previsto na lei, admitindo-se a aquisição da
propriedade pela usucapião, desde que obedecidos os parâmetros legais.
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