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AULA 04. POSSE. CLASSIFICAÇÃO E EFEITOS.

I. Principais classificações da posse

Classificar significa ordenar, dispor em classes. No âmbito do Direito das


Coisas, é fundamental estudarmos a classificação da posse para a correta
compreensão do instituto bem como de seus efeitos jurídicos.

1. Quanto à relação pessoa-coisa ou quanto ao desdobramento da posse (art.


1.197 do CC).

a) Posse direta ou imediata: aquela que é exercida por quem tem a coisa
materialmente, havendo um poder físico imediato. Como possuidores diretos
podem ser citados o locatário, o depositário, o comodatário e o usufrutuário.
b) Posse indireta ou mediata: é aquela exercida por meio de outra pessoa,
havendo exercício de direito, geralmente decorrente da propriedade.
Exemplos: locador, depositante, comodante e nu-proprietário.

Enuncia o art. 1.197 do CC que “a posse direta, da pessoa que tem a coisa
em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a
indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse
contra o indireto”.

No plano dos efeitos, tem-se que o possuidor direto tem direito de defender
a sua posse contra o indireto, e este contra aquele. Em suma, tanto o possuidor direto
quanto o indireto podem invocar a proteção possessória um contra o outro, e também
contra terceiros.

Ilustrando, imagine-se um caso em que, vigente um contrato de locação de


imóvel urbano, o locatário viaja e, quando volta, percebe que o imóvel foi invadido pelo
próprio proprietário. Nesse caso, caberá uma ação de reintegração de posse do
locatário (possuidor direto) em face do locador (possuidor indireto), eis que o contrato
ainda estava em vigor e deveria ter sido respeitado.
O QUE É NU-PROPRIETÁRIO?

Pela lei, o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha (CC, art.
1.228, caput). Quando todos os direitos elementares (uso, gozo e disposição) se
acham reunidos na pessoa do proprietário, é plena a propriedade, caso contrário, a
propriedade será limitada. No caso do usufruto, por exemplo, o direito de usar e gozar
dos bens se desloca para a pessoa do usufrutuário, e fica ao proprietário, ainda que
temporariamente, apenas o direito de dispor deles, de modo que, sendo ele um
proprietário despido de alguns dos poderes inerentes ao domínio, chama-se,
tecnicamente, nu-proprietário.

Assim, nu-proprietário é aquele que tem a propriedade que não é plena, que está
despojado ou despido do gozo da coisa, tendo o que, no Direito Romano, se
conhecia como a nuda proprietas (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 258).

2. Quanto à presença de vícios objetivos (art. 1.200 do CC).

a) Posse justa: é a que não apresenta os vícios da violência, da clandestinidade


ou da precariedade, sendo uma posse limpa.
b) Posse injusta: apresenta os referidos vícios, pois foi adquirida por meio de ato
de violência, ato clandestino ou de precariedade, nos seguintes termos.
I. Posse violenta: é a obtida por meio de esbulho, por força física ou
violência moral. Exemplo: movimento popular invade violentamente,
removendo e destruindo obstáculos de uma propriedade rural produtiva
que está sendo utilizada pelo proprietário cumprindo sua função social.
II. Posse clandestina: é a obtida às escondidas, de forma oculta, à surdina,
na calada da noite. Exemplo: movimento popular invade, à noite e sem
violência, uma propriedade rural que está sendo utilizada pelo
proprietário, cumprindo a sua função social.
III. Posse precária: sendo também denominada de esbulho pacífico, é a
obtida com abuso de confiança ou de direito.
ATENÇÃO!

A posse justa e a injusta geram efeitos quanto às ações possessórias e quanto


à usucapião

OBS1: Basta a presença de um dos critérios acima para que a posse seja
caracterizada como injusta, não havendo exigência de cumulação.

OBS2: A posse, mesmo injusta, ainda é posse e pode ser defendida por ações
do juízo possessório, não contra aquele de quem se tirou a coisa, mas sim em
face de terceiros. Isso porque a posse somente é viciada em relação a uma
determinada pessoa (efeito inter partes), não tendo o vício efeito contra todos,
ou seja, erga omnes.

OBS3: Segundo a visão clássica, e pelo que consta no art. 1.208, segunda parte do
CC, as posses injustas por violência ou clandestinidade podem ser
convalidadas, o que não se aplicaria à posse injusta por precariedade. Tal
dispositivo acaba quebrando a regra pela qual a posse mantém o mesmo caráter com
que foi adquirida, conforme o art. 1.203 do CC, e que consagra o princípio da
continuidade do caráter da posse. Ato contínuo, acaba reconhecendo que aqueles
que têm posse violenta ou clandestina não têm posse plena, para fins jurídicos, sendo
meros detentores.

Pois bem, diante dessa situação jurídica, sempre foi comum afirmar, conciliando-se o
art. 1.208 do CC/2002 com o art. 558 do CPC, que, após um ano e um dia do ato de
violência ou de clandestinidade, a posse deixaria de ser injusta e passa a ser
justa (ação de posse nova e posse velha).

Apesar desse entendimento tido como clássico e consolidado, filia-se à corrente


contemporânea que prega a análise dessa cessação caso a caso, de acordo com
a finalidade social da posse (função social da posse). Para essa mesma corrente,
a posse precária também pode ser convalidada, havendo alteração substancial na sua
causa, o que parece ser o melhor caminho, revendo aquela antiga conclusão teórica.

OBS4: – Em relação aos seus efeitos, os vícios da violência, da clandestinidade


ou da precariedade não influenciam na questão dos frutos, das benfeitorias e
das responsabilidades. Para tais questões, leva-se em conta se a posse é de boa-
fé ou má-fé, ou seja, critérios subjetivos. Ainda, aquele que tem posse injusta não
tem a posse usucapível (ad usucapionem), ou seja, não pode adquirir a coisa
por usucapião.

3. Quanto à boa-fé subjetiva ou intencional (art. 1.201 do CC):

a) Posse de boa-fé: presente quando o possuidor ignora os vícios ou os


obstáculos que lhe impedem a aquisição da coisa ou quando tem um justo título
que fundamente a sua posse.
• Pode ser dividida em:
i. Posse de boa-fé real: quando a convicção do possuidor se apoia
em elementos objetivos tão evidentes que nenhuma dúvida pode
ser suscitada quanto à legitimidade de sua aquisição;
ii. Posse de boa-fé presumida: quando o possuidor tem o justo
título;
b) Posse de má-fé: situação em que alguém sabe do vício que acomete a coisa,
mas mesmo assim pretende exercer o domínio fático sobre esta. Neste caso o
possuidor nunca possui um justo título. De qualquer modo, ainda que de má-
fé, esse possuidor não perde o direito de ajuizar a ação possessória
competente para proteger-se de um ataque de terceiro.

ATENÇÃO!

A posse de boa e a de má-fé geram efeitos quanto aos frutos, às benfeitorias e


às responsabilidades dos envolvidos, com a devida análise do caso concreto.

OBS1: A presente classificação não se confunde com a última (quanto aos vícios
objetivos posse justa e injusta). Ao contrário, na presente classificação, são
considerados os critérios subjetivos, eis que a boa-fé que entra em cena é a subjetiva,
que está no plano da intenção, da crença dos envolvidos.

OBS2: Inicialmente, destaque-se que não há coincidência necessária entre a posse


justa e a posse de boa-fé. À primeira vista, toda posse justa deveria ser de boa-fé
e toda posse de boa-fé deveria ser justa. Mas a transmissão dos vícios de
aquisição permite que um possuidor de boa-fé tenha posse injusta, se adquiriu
de quem a obteve pela violência, pela clandestinidade ou pela precariedade,
ignorante da ocorrência. Também é possível que alguém possua de má-fé,
embora tenha posse justa, por exemplo, ocorre no caso de compra de um bem
roubado, sem que se saiba que o bem foi retirado de outrem com violência. Por
outro lado, terá posse justa, mas de má-fé, o locatário que pretende adquirir o
bem por usucapião, na vigência do contrato.

O QUE É JUSTO TÍTULO?

Justo título é o instrumento que conduz um possuidor a iludir-se por acreditar que ele
lhe outorga a condição de proprietário. Trata-se de um título que, em tese, apresenta-
se como instrumento formalmente idôneo a transferir a propriedade, malgrado
apresente algum defeito que impeça a sua aquisição. Em outras palavras, é o ato
translativo inapto a transferir a propriedade por padecer de um vício de natureza formal
ou substancial.

4. Quanto à presença de título

a) Posse com título (ou Civil): situação em que a uma causa representativa da
transmissão da posse, caso de um documento escrito, como ocorre na vigência
de um contrato de locação ou de comodato, por exemplo.
b) Posse sem título (ou Natural): situação em que não há uma causa
representativa, pelo menos aparente, da transmissão do domínio fático.

OBS1: A partir dessa classificação, surgem os conceitos de ius possidendi e ius


possessionis. O ius possidendi é o direito à posse que decorre de propriedade;
enquanto que o ius possessionis é o direito que decorre exclusivamente da posse.

OBS2: Podemos dizer que no ius possidendi há uma posse com título, estribada
na propriedade. No ius possessionis, há uma posse sem título, que existe por si
só.
5. Quanto ao tempo

a) Posse nova: é a que conta com menos de um ano um dia, ou seja, é aquela
com até um ano (vide art. 558 do CPC);
b) Posse velha: é a que conta com pelo menos um ano e um dia, ou seja, com um
ano e um dia ou mais.

OBS1: A classificação da posse quanto ao tempo é fundamental para a questão


processual relativa às ações possessórias. Enuncia o art. 558 do CPC/2015, in verbis:
“regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da
Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação
ou do esbulho afirmado na petição inicial. Parágrafo único. Passado o prazo referido
no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter
possessório”.

6. Quanto aos efeitos

a) Posse ad interdicta: constituindo regra geral, é a posse que pode ser defendida
pelas ações possessórias diretas ou interditos possessórios. Exemplificando,
tanto o locador quanto o locatário podem defender a posse de uma turbação
ou esbulho praticado por um terceiro. Essa posse não conduz à usucapião.
b) Posse ad usucapionem: exceção à regra, é a que se prolonga por determinado
lapso de tempo previsto na lei, admitindo-se a aquisição da propriedade pela
usucapião, desde que obedecidos os parâmetros legais. Em outras palavras, é
aquela posse com olhos à usucapião (posse usucapível), pela presença
dos seus elementos. A posse ad usucapionem deve ser mansa pacífica,
duradoura por lapso temporal previsto em lei, ininterrupta e com intenção
de dono (animus domini – conceito de Savigny). Além disso, em regra,
deve ter os requisitos do justo título e da bos-fé.

II. Efeitos materiais e processuais da posse

O Código Civil de 2002, entre os seus arts. 1.210 a 1.222, traz regras
quanto aos efeitos da posse. Essas regras têm caráter material e processual e estão
aqui abordadas, vejamos.
1. Efeitos da posse quanto aos frutos

Quanto aos efeitos da posse, para a análise do direito aos frutos é


fundamental que a posse seja configurada como de boa ou má-fé.

O QUE SÃO FRUTOS E PRODUTOS?

Os frutos são bens acessórios que saem do principal sem diminuir a sua quantidade,
exemplo, café, cereais, frutos das árvores, leite, crias dos animais, etc.

Produtos também são bens acessórios que se retiram da coisa, diminuindo-lhe a


quantidade, porque não se reproduzem periodicamente, exemplo destes são os
minerais do solo, petróleo, etc.

Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar,


aos frutos percebidos.

Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar


a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as
despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos
os frutos colhidos com antecipação.

OBS: Ilustrando, um locatário está em um imóvel urbano e, no


fundo deste, há uma mangueira. Enquanto vigente o contrato, o
locatário, possuidor de boa-fé amparado pelo justo título, terá
direito às mangas colhidas, ou seja, percebidas. Se o contrato
for extinto quando as mangas ainda estiverem verdes (frutos
pendentes), não poderão ser colhidas, pois são do locador
proprietário. Se colhidas ainda verdes, devem ser devolvidas ao
último, sem prejuízo de eventuais perdas e danos que couberem
por este mau colhimento.

Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e


percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se
percebidos dia por dia.
OBS: Ilustrando, a manga é tida como colhida quando separada
da mangueira; os juros são percebidos nos exatos vencimentos
dos rendimentos, como é comum em cadernetas de poupança

Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos


colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua,
deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de
má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.

OBS: A ilustrar, se um invasor de um imóvel colhe as mangas


da mangueira do terreno, deverá indenizá-las, mas será
ressarcido pelas despesas realizadas com a colheita. Por outra
via, se deixaram de ser colhidas e, em razão disso, vierem a
apodrecer, o possuidor também será responsabilizado

Por fim, surge questão controvertida relativa à aplicação desses efeitos


para os produtos. Orlando Gomes ensina que quanto aos produtos há um dever de
restituição mesmo quanto ao possuidor de boa-fé. Ademais, se a restituição tornou-
se impossível, o possuidor deverá indenizar a outra parte por perdas e danos e, “por
motivo de equidade, a indenização deve corresponder ao proveito real que o
possuidor obteve com a alienação dos produtos da coisa”.

2. Efeitos da posse em relação às benfeitorias

É importante apontar a relação de efeitos entre a posse e o instituto das


benfeitorias.

O QUE SÃO BENFEITORIAS?

As benfeitorias são bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel,


visando a sua conservação ou melhora da sua utilidade. Enquanto os frutos e produtos
decorrem do bem principal, as benfeitorias são nele introduzidas. as benfeitorias
podem ser necessárias (as essenciais, pois visam à conservação da coisa principal),
úteis (aumentam ou facilitam o uso da coisa principal) e voluptuárias (de mero luxo
ou deleite, pois facilitam a utilidade da coisa principal).
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das
benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às
voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o
puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de
retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.

OBS: Cumpre destacar que, no tocante à locação de imóvel


urbano, há regras específicas relativas às benfeitorias
previstas nos arts. 35 e 36 da Lei 8.245/1991. De início, dispõe
o art. 35 da Lei de Locação que, salvo expressa disposição
contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas
pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem
como as úteis, estas desde que autorizadas, são indenizáveis e
permitem o direito de retenção. As benfeitorias voluptuárias não
são indenizáveis, podendo ser levantadas pelo locatário, finda a
locação, desde que a sua retirada não afete a estrutura e a
substância do imóvel (art. 36 da Lei 8.245/1991).

Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as


benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção
pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.

Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias


ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor
atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor
atual.

OBS: Ilustrando, o proprietário que ingressou com a ação de


reintegração de posse contra o comodatário (possuidor de boa-
fé) indenizará este pelo valor atual das benfeitorias necessárias
e úteis. Se a ação possessória foi proposta contra o invasor do
imóvel (possuidor de má-fé), o autor poderá optar entre pagar o
valor atual ou o de custo, aquilo que lhe for mais interessante.
3. Posse e responsabilidades

O Código Civil de 2002, a exemplo do seu antecessor, continua trazendo


regras relativas às responsabilidades do possuidor, considerando-o como de boa ou
de má-fé.

Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou


deterioração da coisa, a que não der causa.

OBS: A responsabilidade do possuidor de boa-fé, quanto à


coisa, depende da comprovação da culpa em sentido amplo
(responsabilidade subjetiva).

Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou


deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que
de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do
reivindicante.

OBS: A responsabilidade do possuidor de má-fé é objetiva,


independentemente de culpa, a não ser que prove que a coisa
se perderia mesmo se estivesse com o reivindicante. O
dispositivo acaba prevendo a responsabilidade do possuidor de
má-fé mesmo por caso fortuito (evento totalmente imprevisível)
ou força maior (evento previsível, mas inevitável).

Para ilustrar, na situação do comodatário (possuidor de boa-fé),


este somente responderá pela perda da coisa havendo dolo ou
culpa. Não pode responder, por exemplo, pelo assalto do veículo
à mão armada, levando o criminoso o bem consigo. Já o
criminoso que leva a coisa (possuidor de má-fé) responde por
ela, se for atingida por um objeto em local onde não estaria o
proprietário ou possuidor.

Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só


obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda
existirem.
OBS: O comando possibilita, portanto, que as benfeitorias
necessárias a que teria direito o possuidor de má-fé sejam
compensadas com os danos sofridos pelo reivindicante,
hipótese de compensação legal, pela reciprocidade de dívidas.

Entretanto, se a benfeitoria não mais existia quando a coisa se


perdeu, não há que se falar em compensação e muito menos em
indenização. A norma está inspirada na vedação do
enriquecimento sem causa.

O QUE É EVICÇÃO?

Evicção é a perda da posse, propriedade ou uso de determinado bem ou coisa. Ocorre


em razão de uma sentença judicial que atribui a terceiro, alheio à relação obrigacional,
os direitos sobre o bem que já lhe era devido antes de ter ocorrido o negócio jurídico
entre as partes. (Vide art. 447 do CC).

Imagine a seguinte situação: você está procurando um carro para comprar e se depara
com um anúncio de jornal. Então, entra em contato com o vendedor, analisa suas
possibilidades e fecha negócio. Pagamento efetuado, documento transferido, tudo
certo!

Porém, meses depois, você recebe uma intimação para devolver o carro à outra
pessoa. Pois o bem, em verdade, o veículo era de terceiro e não da pessoa que o
vendeu.

As partes na evicção são as seguintes:

• Alienante: aquele que aliena ou passa o domínio para outrem. Este responde
pelos riscos da evicção;
• Evicto: aquele que adquire o bem, ou seja, quem sofre a perda do bem em
evicção;
• Evictor: aquele que reivindica o bem, também é chamado de terceiro.
Tabela Resumo

Tipo de possuidor Frutos Benfeitorias Responsabilidade (perda ou


deterioração da coisa)

Tem direito as
benfeitorias
necessárias e úteis
Tem direito com (indenização e
Possuidor de boa-fé Somente responde por dolo
exceção dos retenção). Pode
Ex: Locatário ou culpa.
pendentes ainda levantar as
voluptuárias, sem
prejuízo da coisa
principal

Não tem direito,


Somente tem direito
responde pelos
Possuidor de má-fé as benfeitorias Responde ainda que por
frutos colhidos e
Ex: invasor necessárias (não há fato acidental
pelos que
direito de retenção)
deixou de colher

OBS: 4. Posse e usucapião. Primeira abordagem

5. Posse e Processo Civil. A faculdade de invocar os interditos proibitórios

Os interditos possessórios são as ações possessórias diretas. O possuidor


tem a faculdade de propor essas demandas para manter-se na posse ou para que
esta lhe seja restituída. Para tanto, devem ser observadas as regras processuais
previstas a partir do art. 554 do CPC/2015.

Pois bem, três são as situações concretas que possibilitam a propositura


de três ações correspondentes, apesar da falta de rigidez processual quanto às
medidas judiciais cabíveis:
• No caso de ameaça à posse (risco de atentado à posse), caberá
ação de interdito proibitório.
• No caso de turbação (atentados fracionados à posse), caberá ação
de manutenção de posse.
• No caso de esbulho (atentado consolidado à posse), caberá ação de
reintegração de posse.

As três medidas cabíveis são autorizadas pelo art. 1.210, caput, do


CC/2002, vejamos:

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em


caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de
violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.

§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou


restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os
atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do
indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

§ 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a


alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.

OBS1: A ação possessória é a via adequada para a discussão da posse; enquanto


que a ação petitória é a via adequada para a discussão da propriedade e do domínio,
não sendo possível embaralhar as duas vias.

6. A Legítima defesa da posse e o desforço imediato

A legítima defesa da posse e o desforço imediato constituem formas de


autotutela, autodefesa ou de defesa direta, independentemente de ação judicial,
cabíveis ao possuidor direto ou indireto contra as agressões de terceiro. Nos casos
de ameaça e turbação, em que o atentado à posse não foi definitivo, cabe a legítima
defesa. Em havendo esbulho, a medida cabível é o desforço imediato, visando à
retomada do bem esbulhado.

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