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A POSSE E PROPRIEDADE NO DIREITO AGRÁRIO

O presente artigo pretende abordar a posse e propriedade


relacionadas com o direito agrário e suas consequências diretas.

Abstract: This article aims to address property ownership and related land
rights and direct consequences.

Palavras chave: posse – propriedade – direito agrário

Conceituar posse propriamente dita foi tarefa que Savigny e Ihering


fizeram e que tornou em um divisor de água, se tratando em definição. Na obra
O tratado da posse(Savigny,1803) o Autor, de forma cristalina definiu de forma
subjetiva a posse tratando ao mesmo tempo como se fosse fato e direito. A
partir desta obra Savigny trata a posse como uma faculdade real e imediata de
dispor fisicamente da coisa com a intenção de dono e defendê-la contra
agressões de terceiros, claramente com a presença de dois elementos, corpus
e animus. O corpus neste caso revela-se na submissão que a coisa esta à
vontade humana em dispor fisicamente desta. O animus é entendido como a
expressão clara da vontade em ter a coisa para si, como se proprietário fosse.

Em oposição ao pensamento de Savigny, o conceituado Ihering


apresenta elementos divergentes. A teoria objetiva de posse ignora o ponto de
vista de Savigny declarando que possuidor é quem procede com aparência de
dono, com a visibilidade de domínio.

Para Ihering apud Álvaro Antônio S. B. de Aquino, “enquanto a


propriedade é o poder de direito, jurídico, exercido sobre a coisa, a posse é o
poder de fato exercido sobre a coisa, traduzido na exteriorização de um direito
real, importando a utilização econômica da coisa, ainda que exercida in nomine
alieno.”

Portanto, possuidor será aquele que exercer, em proveito próprio,


qualquer dos poderes inerentes do domínio ou à propriedade.

Os dois conceituados autores concordavam, porém que a posse era


composta pelos dois elementos, um moral e outro intelectual (corpus e
animus). A discordância se limitava tão somente da conceituação, que altera a
caracterização desses elementos.

O Código Civil Brasileiro adotou em parte a teoria de lhering para


definição de posse, e conceitua possuidor de forma clara, veja-se:

Art. 1.196 Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a
indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a
sua posse contra o indireto.

Para fazer uma interface entre o Código Civil e teoria adotada deve-
se levar em consideração que a limitação da propriedade oferece maior
robustez às teorias, pois a função social da terra é ferozmente capaz de
sobrepor aos conceitos. Desta feita a posse direita pressupõe contato direto
sobre a coisa. Enquanto a posse indireta revela a existência de uma relação
jurídica que constitui direito real ou obrigacional sobre coisa alheia.

A posse pode ser justa ou injusta. Justa é quando a origem de sua


aquisição é lícita e injusta revela que contém vício(s) ou foi adquirida com
violência, clandestinidade e precariedade, assim leciona o Código Civil
Brasileiro:

Art. 1.200 É justa a posse que não for violenta, clandestina ou


precária.
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o
obstáculo que impede a aquisição da coisa.

Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de


boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não
admite esta presunção.

Assim sendo, na posse de boa fé o possuidor desconhece a


existência de qualquer vício que macule o ato jurídico.

A posse com justo título é aquela que está apta a produzir seus
efeitos jurídicos. Já a posse sem justo título revela a inexistência de um título
que possa legalizar a titularidade da propriedade.

Composse dá-se na ocasião de existir mais de que um sujeito na


relação propriedade de coisa indivisa, veja-se

Código Civil Brasileiro, artigo 1.199:

Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada
uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos
outros compossuidores.

O fato de se ter a posse da propriedade não revela ser o proprietário


absoluto. O direito brasileiro concede ao que detém o registro o título de
proprietário.

A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE


Sabendo que o direito de propriedade não é absoluto, a função social
da propriedade é na verdade uma condição de reforçar esse direito. A real
necessidade de uma paz social urge como a preservação da propriedade, haja
vista que a ideia de direito subjetivo não deve superar a noção de interesse de
coletividade.

A Carta Magna assegura, no art 5º inc XXIII: “A propriedade atenderá sua


função social”. Este artigo é cristalino quanto a limitação no direito de
propriedade, objetivando promover reforma agrária ou socialização de terras
particulares. A responsabilidade social-econômica que a terra deve cumprir é
no caráter de bem comum. Observa-se que o conceito de função social está
como uma riqueza, que se destina à produção de bens, para satisfação das
necessidades sociais do seu proprietário, de sua família e da comunidade em
que esta se situa, contrariando o antigo modelo, afirmando que a terra deve
pertencer aquela que nela produz, valorizando o trabalho

Evidente está que o direito brasileiro busca com esta concepção


esclarecer que o uso indevido da terra poderá levar a consequente perda desta.
A propriedade, desde que não cumprida a função social poderá se tornar em
objeto que se destinará a reforma agrária, evidentemente excetuando as
pequenas propriedades protegidas por lei.

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