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DIREITOS
REAIS
1. Da Conceituação
O objeto do direito das obrigações é uma prestação, que poderá ser de dar, fazer ou
não-fazer, enquanto nos direitos reais, o objeto são bens materiais móveis ou imóveis.
Os direitos obrigacionais têm como característica a transitoriedade, a efemeridade, uma
vez que quando avençados já apontam para serem extintos, como, por exemplo, na
obrigação de pintar uma residência, em que claramente se prevê o final do serviço; nos
direitos reais, há a perenidade, ou seja, ser proprietário de um imóvel é um direito que se
protrai no tempo indefinidamente. Não se questiona quanto durará a propriedade sobre
determinado bem.
Conforme Washington de Barros Monteiro: “o direito real pode, de tal arte, ser
conceituado como a relação jurídica em virtude da qual o titular pode retirar da coisa,
de modo exclusivo e contra todos, as utilidades que ela é capaz de produzir. O
direito pessoal, por seu turno, conceitua-se como a relação jurídica mercê da qual o
sujeito ativo assiste o poder de exigir do sujeito passivo, determinada prestação,
positiva ou negativa.”
Tendo características próprias dos direitos reais e dos direitos das obrigações, Sílvio de
Salvo Venosa afirma que a obrigação propter rem “fica no meio do caminho entre o direito
real e o direito obrigacional”. Da raiz latina, que dá o nome à obrigação, tem-se que nasce
“em razão da coisa”, ou seja, a obrigação acompanha a coisa. É o caso das dívidas
condominiais, que são vinculadas à coisa. Quem adquirir o imóvel, passa a ser obrigado a
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b) segue o seu objeto onde quer que este encontre (direito de sequela);
Nos termos do artigo 1.225 da Lei 10.406/2002 - Código Civil Brasileiro (CCB), os
direitos reais são:
I - a propriedade;
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitação;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese.
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela Lei nº 11.481, de
2007)
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XII - a concessão de direito real de uso. (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)”
Importa destacar que, além dos direitos reais acima referidos, outros direitos reais
podem vir a ser criados por lei, como recentemente o fez a Lei n. 11.481 de 2007. A posse
não é um direito real, uma vez que não está elencada no rol do artigo 1.225 do Código
Civil, no entanto, será objeto de estudo, visto que é manifestação do direito real de
propriedade.
5. Da Classificação
a) Direito real sobre coisa própria, que se dá, sobretudo, no direito de propriedade;
6. Da Posse
6.1. Da Conceituação
a) a Teoria subjetiva de Savigny que refere ser a posse “o poder que tem a pessoa de
dispor fisicamente de uma coisa, com intenção de tê-la para si e de defendê-la contra
a intervenção de outrem.” Como se verifica, presente esta a detenção da coisa (corpus) e
a vontade de tê-la para si (animus).
b) a Teoria objetiva de Ihering que refere que para “constituir a posse basta o corpus”, ou
seja, o poder de fato exercido sobre a coisa. Cumpre aduzir, que Ihering não afasta o
elemento ânimo, no entanto, refere que não é elemento essencial, uma vez que quem se
acha no poder de fato exercido sobre a coisa tem esse elemento implícito. A teoria
objetiva foi adotada pelo Código Civil de 1916 e se mantém no atual Código Civil de 2002,
nos termos do artigo 1.196, a saber: “Considera-se possuidor todo aquele que tem de
fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.”.
Jornada III STJ 236: “Considera-se possuidor para todos os efeitos legais, também a
coletividade desprovida da personalidade jurídica.”
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Como leciona Nelson Nery Junior: “Possuidor direto. Proteção contra o possuidor
indireto. Nos casos de convivência simultânea de posse direta e indireta, o possuidor
No tocante à devolução do imóvel pelo locatário, há ação própria de despejo, a teor do
direito (vg. Usufrutuário, credor pignoratício, locatário), tem proteção possessória
artigo 5º da Lei 8.245/91. (Lei do Inquilinato)
interdital contra o possuidor indireto (v.g. nu-proprietário, dono da coisa empenhada,
locador), caso sua posse seja molestada indevidamente, com atos de turbação ou
6.2.2. Da Composse
“Jornada I STJ 76: O possuidor direto tem direito de defender a sua posse contra o
Nos termos do artigo 1.199 do Código Civil: “Se duas ou mais pessoas possuírem
indireto, e este contra aquele.”
coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não
excluam os dos outros compossuidores.”.
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A posse justa é a que não for violenta, clandestina ou precária, nos termos do artigo
1.200 do Código Civil. De outra banda, posse injusta é aquele que é violenta, clandestina
ou precária. Será violenta quando adquirida pela força (física, moral, natural);
clandestina, quando às ocultas daquele que tem interesse em conhecê-la; precária,
aquela havida com abuso de confiança, aquele que recebe a coisa, com dever de
restituição e não o faz.
Importa trazer à lume o que preceitua o parágrafo único do artigo 1.201 do Código Civil,
a saber: “Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de
boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta
presunção.”
O conceito de justo título é aquele título que seria hábil a transferir o domínio, caso fosse
firmado pelo verdadeiro proprietário.
“Justo título. Jornada IV STJ 302: “Pode ser considerado justo título para posse de
Nos fé
boa- termos
o ato do artigocapaz
jurídico 1.202de
dotransmitir
Código Civil: “A posse
a posse de boa-fé sóobservado
ad usucapionem, perde esteocaráter no
disposto
caso e desde
no CC 113”. o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não
ignora que possui indevidamente.”, ou seja, tomando ciência de algum vício, desde o
momento da contestação da posse, o possuidor passa a ser de má-fé.
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Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao
bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário.”. Neste sentido,
não tem posse aquele que se limita a deter a coisa, em nome de outro, como no caso do
empregado, que cuida de um imóvel. É mero detentor. É fâmulo da posse, ou seja,
servidor da posse.
A posse nova é a aquela dentro de ano e dia, enquanto a posse velha é de mais de
ano e dia. Nos termos do artigo 924 do Código de Processo Civil: “Regem o procedimento
de manutenção e de reintegração de posse as normas da seção seguinte, quando
intentado dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho; passado esse prazo, será
ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório.”. Assim, quando dentro de ano e
dia, ou seja, posse nova caberá liminar para as ações possessórias; ultrapassando este
prazo, a ação é de força velha, portanto, não sendo lícito à parte o requerimento de
liminar.
Tendo o Código Civil se filiado à teoria de Ihering, nos termos do artigo 1.204 do CCB,
tem-se que: “Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o
exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.” A posse é
o corpus.
Nos termos do artigo 1.205 do Código Civil Brasileiro (CCB), tem-se que: A posse pode
ser adquirida: I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; II - por
terceiro sem mandato, dependendo de ratificação; bem como a posse transmite-se aos
herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres, a teor do artigo 1.206 do
CCB.
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Pode-se adquirir a posse pelo constituto possessório, nos termos do artigo 1.267, em
seu parágrafo único, do Código Civil Brasileiro, a saber: “Subentende-se a tradição
quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao
adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou
quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico.” É o que
ocorre quando o proprietário de um apartamento vende para terceiro, e, continua na posse
deste bem, locando o imóvel deste terceiro.
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Perde-se a posse quando cessa o poder sobre o bem, embora contra a vontade do
possuidor, ou seja, cessa de fato o exercício, pleno ou não, de alguns dos poderes
inerentes à propriedade, nos termos dos artigos 1.196, 1.223 e 1.224 do Código Civil
Brasileiro.
7.1. Da Conceituação
O artigo 1.228 do Código Civil Brasileiro aduz que o proprietário tem a faculdade de
usar, gozar e dispor da coisa (jus utendi, fruendi e abutendi), e o direito de reavê-la
do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. (direito de sequela)
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Nos termos do artigo 1.232 do CCB, pertencem ao proprietário: “Os frutos e mais
produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por
preceito jurídico especial, couberem a outrem.”
a) Pela Usucapião, a teor dos artigos 1.260 e 1.261 do Código Civil Brasileiro:
“Artigo 1.260: Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente
durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade.”
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“Artigo 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá
usucapião, independentemente de título ou boa-fé.”
“Apelação cível. Ação de usucapião. Bem móvel. Posse do veículo há mais de cinco
anos. Propriedade reconhecida. Animus domini caracterizado. Desnecessidade de
justo título e boa-fé. Apelo improvido. (70035609379)”
b) Pela Tradição/Entrega
7.4.2.1. Da Usucapião
“Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como
seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé;
podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o
registro no Cartório de Registro de Imóveis.
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Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver
sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo
cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido
a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.”
Neste a lei exige boa-fé, bem como justo título (é aquele título que seria hábil a
transferir o domínio, caso fosse firmado pelo verdadeiro proprietário).
c.1) Rural (artigo 191 da Constituição Federal c/c artigo 1.239 do CCB):
“Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como
seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não
superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.’
“Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como
sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não
superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.”
c.2) Urbana (artigo 183 da Constituição Federal c/c artigo 1.240 do CCB):
‘Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta
metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a
para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
“Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta
metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para
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sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário
de outro imóvel urbano ou rural.
“Jornada IV STJ 314: Para efeitos do CC 1240, não se deve computar para fins de limite
de metragem máxima, a extensão compreendida pela fração ideal correspondente à
área comum,”
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição,
posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta
“Posse sobre área superior aos limites legais. Jornada IV STJ 313: “Quando a posse
metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que
ocorre sobre área superior aos limites legais, não é possível a aquisição pela via da
abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio
usucapião especial, ainda o pedido restrinja a dimensão do que se quer usucapir.”
integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (Incluído pela
Lei nº 12.424, de 2011)
§ 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma
vez.
Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial do
registro, e este o prenotar no protocolo.”
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II - por aluvião; (Depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou
pelo desvio das águas destas)
III - por avulsão; (Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar
de um prédio e se juntar a outro)
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1.( ) Adquirirá o domínio da coisa móvel o que a possuir como sua, com justo título, sem
interrupção nem oposição durante 5 (cinco) anos.
2.( ) O proprietário do veículo furtado pode reavê-lo de quem o detiver, ainda que este
esteja de boa-fé
4.( ) O direito à percepção dos frutos do bem sobre o qual existe usufruto é do nu-
proprietário.
6.( ) O dono do imóvel hipotecado não pode constituir sobre ele nova hipoteca em favor
de outro credor.
7.( ) Aquele que desfruta de servidão de trânsito pode defendê-la por ação possessória.
8.( ) Qualquer condômino pode, unilateralmente, instituir direito real de garantia sobre a
totalidade da coisa comum.
15.( ) O princípio do numerus clausus não é aplicavel na área dos direitos reais.
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20.( ) O possuidor direto pode defender sua posse contra o possuidor indireto.
21.( ) O exercício de alguns dos poderes inerentes à propriedade, com a utilização da
violência, configura de imediato posse injusta.
24.( ) A servidão não usada durante 10 (dez) anos contínuos é passível de extinção.
26. ( ) O usufruto e a superfície são direitos reais vitalícios, extinguindo-se com a morte do
ti- tular.
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31. ( ) São suficientes 5 (cinco) anos ininterruptos para o possuidor que, não sendo
proprietário de imóvel rural ou urbano, adquira o domínio de área em zona rural não
superior a cinqüenta hectares, desde que a possua como sua e sem oposição, tornando-a
produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nele sua moradia.
32. ( ) Aquele que possuir, como sua, área urbana até duzentos e cinqüenta metros
quadrados, por 5 (cinco) anos ininterruptos, e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia e de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja, durante o
qüinqüídio, proprietário de mais de um imóvel urbano ou rural.
33. De acordo com o que dispõe o Código Civil a respeito do usufruto, do uso e da
habitação, assinale a opção correta.
A) O usufruto é direito real que, a título gratuito ou oneroso, autoriza uma pessoa a retirar,
temporariamente, de coisa alheia todas as utilidades para atender às próprias
necessidades e às de sua família.
B) Pode-se transferir o usufruto por alienação.
C) O uso é o direito real temporário de ocupação gratuita de casa alheia, para moradia do
titular e de sua família.
D) A habitação é direito real limitado, personalíssimo, temporário, indivisível,
intransmissível e gratuito.
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35. Em 2/7/2008, Renato teve de desocupar sua casa, que fora invadida por Glauber
e Walter. Duas semanas após o fato, Renato procurou um advogado para se
informar a respeito da providência jurídica que poderia ser adotada nessa situação.
Com base no que dispõe o atual Código Civil, é correto afirmar que Renato, na
situação hipotética apresentada,
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39. Por meio de uma promessa de compra e venda, celebrada por instrumento
parti cular registrada no cartório de Registro de Imóveis e na qual não se pactuou
arrependimento, Juvenal foi residir no imóvel objeto do contrato e, quando quitou
o pagamento, deparou-se com a recusa do promitente-vendedor em outorgar-lhe
a escritura definitiva do imóvel.
Diante do impasse, Juvenal poderá
(A) requerer ao juiz a adjudicação do imóvel, a despeito de a promessa de compra e
venda ter sido celebrada por instrumento particular.
(B) usucapir o imóvel, já que não faria jus à adjudicação compulsória na hipótese.
(C) desistir do negócio e pedir o dinheiro de volta.
(D) exigir a substituição do imóvel prometi do à venda por outro, muito embora inexisti sse
previsão expressa a esse respeito no contrato preliminar.