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Conceito: Ramo do direito civil que tem como conteúdo relações jurídicas estabelecidas entre
pessoas e coisas. O Código Civil divide a matéria em duas partes: posse e direitos reais.
A posse é um dos poderes do direito à propriedade. Com isso, conclui-se que a posse é um
instituto do Direito das Coisas, mas não é um direito real, visto que a lei enumera os direitos
reais em rol taxativo.
I – a propriedade;
II – a superfície;
III – as servidões;
IV – o usufruto;
V – o uso;
VI – a habitação;
VII – o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII – o penhor;
IX – a hipoteca;
X – a anticrese.
XI – a concessão de uso especial para fins de moradia;
XII – a concessão de direito real de uso;
XIII – a laje.
Sobre o Direito de Laje, que foi recentemente inserido no rol dos Direitos Reais, há quem
diga que se trata de um Direito Real sobre Coisa Própria por derivar da propriedade. Outra
parte da doutrina entende que se trata de um Direito Real de Gozo ou Fruição, tendo origem
na Superfície.
POSSE
Teoria Subjetiva (Savigny): A posse se caracteriza pelo poder físico sobre a coisa + intenção
de tê-la para si. Ou seja, posse é o contato com a coisa combinada com a intenção de ser dono.
(corpus + animus domini).
De acordo com a teoria subjetiva, o locatário e o usufrutuário não seriam possuidores, pois
eles detêm a coisa em nome alheio, sem a intenção de permanecer definitivamente com ela
(animus domini).
Teoria Objetiva (Ihering): A posse se caracteriza apenas pela existência do corpus, isto é, o
contato com a coisa.
Esta é a teoria adotada pelo CC: Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o
exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
Para ser possuidor basta ter um dos atributos da propriedade (usar, gozar, dispor, reaver)
POSSE VS DETENÇÃO
A posse não se confunde com a detenção, visto que esta se caracteriza pela relação de
dependência para com outro, pois o detentor conserva a posse realizando o cumprimento de
ordens ou instruções de outrem.
Portanto, o detentor não exerce posse própria, mas uma posse em nome de outrem, ou seja, o
detentor toma conta de algo.
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva
a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
Exemplos de detentores: temos o vigia e o caseiro, com relação à casa que tomam conta; o
motorista, com relação ao carro que dirige etc.
Enunciado 301 JDC - É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a
subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios.
Enunciado 49 JDC - O detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor,
exercer a autodefesa do bem sob seu poder. Exemplo: desforço imediato.
Súmula 619 STJ - A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza
precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias.
Como já pacificou o STJ, em se tratando de bem público, não há que se falar em posse, mas
mera detenção, de natureza precária, o que afasta, por conseguinte, o direito de retenção por
benfeitorias, ainda que à luz de alegada boa-fé.
OBS: O STJ entende que é possível ação possessória por parte de invasor de terra pública
contra outro particular. Ou seja, um particular invadiu uma terra pública e se instalou lá,
porém, posteriormente, outro particular invadiu a mesma terra, com isso, o primeiro ocupante
pode demandar ação possessória em face do segundo invasor.
POSSE DIRETA VS POSSE INDIRETA
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito
pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua
posse contra o indireto.
Possuidor indireto ou mediato é o proprietário que concede o direito de usar a outro (ex:
locador).
• a posse direta não anula a indireta: dessa forma, se algumas pessoas invadem um imóvel
alugado, o locador (possuidor indireto) pode mover ações possessórias contra os invasores,
mesmo que o possuidor direto seja o inquilino (locatário);
• o possuidor direto pode defender sua posse contra o possuidor indireto: dessa forma, se
o locador invade (esbulho) o imóvel locado durante a vigência do contrato de locação, o
locatário expulso pode ajuizar uma ação de reintegração de posse.
Posse justa: Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
OBS: Mesmo sendo injusta é possível ação possessória contra terceiro, pois o vício tem efeito
apenas inter partes.
OBS: Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua
aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Os atos
mencionados no artigo impedem a posse, contudo no momento em que os vícios de violência
e clandestinidade cessam a posse que era injusta vira justa, ocorrendo a convalidação.
Art. 558. do NCPC. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II
deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição
inicial. Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo,
contudo, o caráter possessório.
Dessa forma, a explicação anterior acaba “quebrando” a regra prevista no art. 1.203 do CC.
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou
quando a lei expressamente não admite esta presunção.
Não se deve confundir a posse de boa-fé com a posse justa. Para verificar se a posse é de boa-
fé, temos um critério psicológico (subjetivo). Por outro lado, para verificar se a posse é justa,
estamos diante de um critério objetivo, bastando o exame da existência ou não dos vícios.
Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam
presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.
Posse ad interdicta: é aquela que pode ser defendida pelos interditos ou ações possessórias
quando houver moléstia. Entretanto, o seu prolongamento não é capaz de conduzir à
usucapião, pois o possuidor não possui a intenção de ter a coisa em definitivo (animus
domini). Como exemplo de posse ad interdicta, temos o locatário de um apartamento.
Posse nova: aquela exercida com menos de 1 ano e dia. Posse velha: aquela exercida com
mais de um ano e dia.
Isso não se confunde com ação de força nova ou ação de força velha, pois ação de força nova
é aquela proposta a menos de 1 ano e dia do esbulho ou turbação. Ação de força velha é
aquela proposta após 1 ano e dia da moléstia (esbulho ou turbação).
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos
possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.
Aqui temos o estudo da composse, ou seja, quando há uma posse em comum e do mesmo
grau entre duas ou mais pessoas.
Posse pro indiviso: é a composse de direito e de fato, na qual cada compossuidor tem o
direito de exercer a posse sobre o todo, não podendo excluir a posse do outro. Caso ocorra tal
exclusão, o compossuidor turbado ou esbulhado poderá mover ação possessória contra o outro
compossuidor para reapoderar-se da coisa.
Ex.: quando um casal mora em uma casa, um não pode limitar o outro a transitar em
determinadas partes da casa, pois os dois exercem uma posse pro indiviso.
Posse pro diviso: é a composse apenas de direito, na qual cada compossuidor não tem o
direito de possuir a parte da área reservada ao outro. Assim, na prática existe uma divisão na
posse, porém no título de propriedade não há tal divisão.
Ex.: quando dois irmãos possuem uma fazenda e um planta beterrabas na sua metade e o outro
planta batatas na segunda metade. Nesse tipo de composse, um dos compossuidores pode
impedir o acesso do outro à sua área.
AQUISIÇÃO DA POSSE
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de
qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
O momento de aquisição da posse ocorre quando a pessoa puder exercer, em nome próprio,
alguns dos poderes inerentes à propriedade (Gozar, Reaver, Usar e Dispor – GRUD).
À aquisição da posse, apesar de pessoal, não é personalíssima, pois vários são os sujeitos que
podem adquirir a posse da coisa de forma indireta, vejamos:
O art. 1.207 trata do instituto da acessão da posse que é a soma do tempo de posse do atual
possuidor com o tempo de posse dos antigos possuidores. Podem ser de duas espécies, como
veremos a seguir.
Acessão por Sucessão: Ocorre na sucessão universal, ou seja, quando o sucessor substitui o
titular primitivo na totalidade dos bens ou numa quota ideal deles. Como exemplo, temos o
herdeiro que recebe 50% dos bens do de cujus. Nesse caso, o sucessor irá continuar a posse
que já havia sido iniciada.
Acessão por União: Ocorre na sucessão singular, ou seja, quando o sucessor adquire direitos
ou coisas determinadas, como o comprador, o donatário e o legatário. Nesse caso, existe a
possibilidade de o sucessor continuar a somar a sua posse à posse do antecessor se lhe
convier. Caso a faculdade de opção seja exercida, a posse permanecerá com os mesmos
caracteres da posse original (art. 1.206).
A traditio breve manu é quando você exercia a posse em nome alheio e passa a exercer a
posse em nome próprio. Ex: o locatário que possui a casa em nome alheio compra a casa
passando a possuir em nome próprio.
No Constituto possessório, também conhecido como clásula constituti, aquele que possuía em
nome prórpio, passa a possuir em nome alheio. Ex: vendo uma casa que possuía em nome
próprio, e coloco no contrato de compra e venda uma cláusula que prevê minha permanência
na casa na condição de locatário, ou seja, passo a possuir a casa em nome alheio.
EFEITOS DA POSSE
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e
segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
Os interditos são as ações possessórias. Tais ações são cabíveis quando a posse for justa,
pouco importando se a posse é de boa-fé ou de má-fé, direta ou indireta.
Nessas ações estamos diante do jus possessionis. Existem três tipos de interditos
possessórios:
Art. 1.210 § 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força,
contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção,
ou restituição da posse.
Na legítima defesa, a violência é empregada para impedir a perda da posse, ao passo que, no
desforço imediato, a violência é empregada para recuperar a posse perdida.
Sobre o elemento temporal da reação ao esbulho ou à turbação, se ela for tardia, ficará
caracterizado o crime previsto no art. 345 do Código Penal: Exercício Arbitrário das
Próprias Razões.
Ainda no art. 1.210 do CC, o fato de outra pessoa estar questionando a propriedade ou outro
direito sobre a coisa turbada ou esbulhada não impede que o possuidor intente ação de
manutenção da posse ou ação de reintegração da posse. Assim, mesmo que a pessoa que
esbulhou seja de fato a proprietária da coisa, nada impede que o possuidor ingresse com as
ações possessórias.
Art. 1.210, § 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro
direito sobre a coisa.
Numa disputa possessória que envolva mais de uma pessoa, a posse será mantida
provisoriamente a quem detiver a coisa, SALVO se este a possuir das outras pessoas por
modo vicioso.Veja:
Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa,
se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso.
Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a
coisa esbulhada sabendo que o era.
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de
deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.
Como exemplo, se o possuidor de boa-fé plantar e colher, então terá direito ao que for colhido
(fruto percebido), porém, a plantação que ainda não foi colhida (fruto pendente) no tempo em
que cessou a boa-fé, terá de ser devolvida, caso ocorra o fim da posse.
Os frutos que, fraudulentamente, forem colhidos de forma antecipada, também devem ser
restituídos, sob pena de locupletação da coisa alheia.
Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis
reputam-se percebidos dia por dia.
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por
culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da
produção e custeio.
O artigo em questão pune o dolo e a malícia do possuidor de má-fé ao exigir que ele responda
por todos os danos que causou com os frutos colhidos e percebidos.
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como,
quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e
poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Enunciado 81 JDC: O direito de retenção previsto no art. 1.219 do Código Civil, decorrente
da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e
plantações) nas mesmas circunstâncias.
Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas
pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas,
serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção.
Art. 36. As benfeitorias voluptuárias não serão indenizáveis, podendo ser levantadas pelo locatário,
finda a locação, desde que sua retirada não afete a estrutura e a substância do imóvel.
Súmula 335 STJ: Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à indenização das
benfeitorias e ao direito de retenção.
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o
direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção
ainda existirem.
Caso o possuidor esteja obrigado a ressarcir alguma coisa, poderá haver a compensação entre
o valor utilizado com as benfeitorias e o valor a ser pago a título de ressarcimento.
Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar
entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.
Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa a que não der causa.
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se
provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.
DA PERDA DA POSSE:
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual
se refere o art. 1.196.
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se
abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido.
O dispositivo legal quer dizer que a simples ausência não importa na perda da posse, podendo
o possuidor, embora ausente, continuar a posse solo animo, ainda que a coisa possuída por ele
tenha sido ocupada por um terceiro, durante a sua ausência.