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AULA 06-CRIMES CONTRA A HONRA


5.1 CALÚNIA
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

Exceção da verdade
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por
sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença
irrecorrível.

5.2 DIFAMAÇÃO
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a
ofensa é relativa ao exercício de suas funções.

5.3 INJÚRIA
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: (Injúria Simples)
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio
empregado, se considerem aviltantes: (Injúria Real)
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou
a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de
2003) (Injúria Preconceituosa)
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)

5.4 DISPOSIÇÕES COMUNS


Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é
cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação
ou da injúria.
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de
injúria. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)

Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a


pena em dobro.

5.5 EXCLUSÃO DO CRIME


Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
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II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a


intenção de injuriar ou difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que
preste no cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá
publicidade.

5.6 RETRATAÇÃO
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação,
fica isento de pena.
Parágrafo único.  Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação
utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos
mesmos meios em que se praticou a ofensa.      (Incluído pela Lei nº 13.188, de 2015)

Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se
julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz,
não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.

Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando,
no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.

Parágrafo único - Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do n.º I do art.
141, e mediante representação do ofendido, no caso do n.º II do mesmo artigo, bem como no caso
do §3º do art. 140 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.033 de 29.09.2009).

CRIMES CONTRA HONRA

Legislação:

 CP: arts. 138 a 140.

 Lei de Imprensa: arts. 20 a 22. (Lei nº 5250/67-ADPF: voto 7x4 do STF, dia 30.04.2009, afirmou que não foi
recepcionada pela CF/88)

 Código Brasileiro de Telecomunicações: art. 53.

 Código Eleitoral: arts. 324 a 326.

 Código Penal Militar: arts. 214 a 216 e 219.

 Lei de Segurança Nacional: arts. 19, 33 e 42.

Eventual conflito de normas, no caso, deve ser resolvido sob o crivo do princípio da especialidade.

Diferenças entre calúnia, difamação e injúria:

Crime Conduta Bem jurídico tutelado

CALÚNIA Imputar a outrem fato previsto como crime, Honra objetiva (reputação perante a
sabidamente falso sociedade)
DIFAMAÇÃO Imputar a outrem determinado fato, não previsto Honra objetiva (reputação perante a
como crime, mas desonroso, pouco importando se sociedade)
verdadeiro ou falso.
3

INJÚRIA Atribuir a outrem qualidades negativas Honra subjetiva (auto-estima. É o que


a vítima pensa dela mesma)

Do crime de Calúnia:

 Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo aqueles que são invioláveis por suas palavras, v.g., deputados.
Obs: a imunidade do advogado não abrange a calúnia.

 Sujeito passivo: qualquer pessoa1.

O menor de 18 anos ou os loucos podem ser vítimas de calúnia, bastando que impute aos mesmos fatos
definido como crime, sabidamente falso. Há corrente no sentido de que pessoa jurídica também pode ser vítima
(Crime Ambiental). No entanto, há autores, como Mirabete, que entende que a pessoa jurídica não pode ser vítima
de crimes contra honra, pois tais crimes estão no capítulo dos crimes contra a pessoa, aí entendida por pessoa física
e não jurídica. Rogério Sanches aponta que a doutrina está dividida acerca do tema.

Morto não pode ser vítima. Segundo Rogério, não há se confundir o §2º do artigo 138 do CP, pois, a vítima
nesse caso é a família e não o morto.

Se a calúnia for praticada contra o Presidente da República e a mesma estiver imbuída de motivação política, há
que se aplicar na hipótese a Lei de Segurança Nacional e não o CP.

 Ação nuclear: é o verbo caluniar, que significa imputar falsamente fato definido como crime2.

A imputação pode ser explícita, implícita ou reflexa (v.g., dizer que “um Promotor deixou de denunciar um
indiciado porque foi por ele subornado”. O indiciado também foi ofendido).

O crime pode ser praticado por palavras, escritos ou gestos3.

A falsidade pode ser do fato ou de sua autoria.

Obs: A honra é bem disponível, logo, o consentimento do ofendido exclui a ilicitude.

A imputação de contravenção penal poderá configurar crime de difamação, mas nunca calúnia. De outro
lado, a imputação de fato atípico não constitui crime de calúnia, podendo constituir outro crime contra a honra,
conforme o caso.

 Art. 138, §1º: propalação ou divulgação de calúnia.

1
CAPEZ: os desonrados também podem ser vítimas do crime de calúnia, uma vez que a honra é um bem jurídico
incorporado à personalidade humana, sendo certo que jamais poderá haver a sua supressão total. Assim, afirmar
falsamente que determinado político, que um dia fora corrupto, ainda continua a utilizar-se de seu cargo para solicitar
vantagens indevidas, caracteriza o crime de calúnia, uma vez que a sua honra subsiste, não obstante já ter sido
outrora maculada pela constante prática de ilícitos (cf. Curso de Direito Penal, vol.II, 2ª edição, p.227).
2
CAPEZ: o fato precisa ser determinado, ou seja, um caso concreto, não sendo necessário, contudo, descrevê-lo de
forma pormenorizada, detalhada. Nesse sentido STF: “Para caracterização do crime de calúnia é imprescindível a
existência de ato determinado, não se podendo conceber como tal a comunicação, em audiência judicial, de
advogado no sentido de que seu constituinte sofrera ‘ameaça’ pela parte adversa, visto que a palavra, aí, está
empregada em sentido amplo, genérico, sem indicação dos elementos essenciais que, de plano, dêem a imagem de
fato tipicamente criminoso” (RT, 650/328).
3
CAPEZ: Se, porém, a calúnia for lançada em propaganda eleitoral, o fato se enquadra no Código Eleitoral (ob.
citada, p. 221)
4

Cuida-se de um subtipo do crime de calúnia previsto no caput. Assim, os verbos-núcleos do tipo são propalar ou
divulgar. Ambas expressões exprimem a conduta de levar ao conhecimento de outrem a calúnia de que tenha
tomado conhecimento. N. HUNGRIA: “propalar refere-se mais propriamente ao relato verbal, enquanto divulgar tem
acepção extensiva, isto é, significa relatar por qualquer meio”.

 Elemento subjetivo:

O crime é punido a título de dolo. Exige que tanto o caluniador quanto o propalador tenham consciência da
falsidade da imputação. O dolo pode ser direto ou eventual na figura do caput e somente direto na figura do §1º.
Segundo Sanches, além do dolo, nos crimes contra honra deve estar presente um especial fim de agir
consubstanciado no animus injuriandi vel difamandi, consistente no ânimo de denegrir, ofender a honra do indivíduo.

 Consumação:

Dá-se quando terceiros tomam conhecimento do que foi dito, independentemente do efetivo dano à reputação.

 Tentativa:

Em regra não há. Excepcionalmente haverá quando praticado por escrito4. Pensar se o modo de praticar é
unissubsistente ou plurissubsistente.

Telegrama: não admite tentativa, porque no momento em que a funcionária o materializa para enviar a 3º
pessoa, já tomou ela conhecimento e o crime se consumou.

 Exceção da verdade:

Exceção da verdade é instrumento de defesa, possibilitando ao querelado fazer prova da verdade do fato
imputado.

Havendo procedência da exceção da verdade, o juiz absolve por atipicidade (o falso é elementar do tipo).

O artigo 138, §3º, veda a prova da verdade. Segundo Sanches, o dispositivo abrange o corpo monárquico,
assim como, resguarda o respeito à coisa julgada.

Doutrina minoritária diz que o artigo 138, §3º, não foi recepcionado, infringindo o princípio da ampla defesa.
Nesse sentido, TJ/MG.

Do crime de Difamação:

 Sujeito ativo: crime comum, com as mesmas observações da calúnia.

Pessoa jurídica: pode ser vítima (majoritária).

Morto: não é punida a difamação contra os mortos.

“Fofoqueiro”: para a maioria pune, porque está implícita no caput (César R. Bitencourt). Para a minoria, se a lei
não pune expressamente não cabe ao intérprete fazê-lo.

4
Pirangeli: admite tentativa na forma verbal. Ex: em uma frase há possibilidade de interrupção, havendo aí a
tentativa. Segundo Sanches, se adotada a teoria forma-objetiva, o referido autor está correto.
5

 Elemento subjetivo: dolo, com as observações da calúnia.

 Consumação: vide observações da calúnia. É de se salientar que, ainda que a imputação seja verdadeira,
haverá o crime. Aqui o legislador objetivou que as pessoas não façam comentários com outros acerca de
fatos desabonadores.

 Tentativa: vide observações da calúnia.

 Exceção da verdade: em regra não é cabível. Admite-se para o funcionário público (cf. 139, § único).

Obs: Exceção de notoriedade é cabível nas hipóteses em que não cabe exceção da verdade5.

O Juiz, uma vez acolhida a exceção da verdade, absolve por causa especial de exclusão de ilicitude
(exercício regular de direito). O falso não é elementar do tipo.

Do crime de Injúria:

 Sujeito ativo: crime comum, ressalvadas as inviolabilidades.


Dignidade: ofensa aos atributos morais da pessoa. Decoro ofensa aos atributos intelectuais ou físicos.

Advogado é imune: cf. artigo 7º, §2º do Estatuto da OAB6.

 Auto injúria: não é punida, salvo se ultrapassar a órbita pessoal. Ex: a pessoa dizer que é filha de meretriz.
Nesse caso, atingiu a mãe.

 Sujeito passivo: Só pode ser aquele que tem capacidade de entender a ofensa, na medida em que a honra
é subjetiva. Pessoa jurídica NÃO pode ser vítima, porque não tem dignidade ou decoro.

Mortos: no CP não.

 Conduta: é ferir dignidade ou decoro. Por ação ou omissão (omissão: ignorar cumprimento).

Imputar fato genérico, vago = injúria (na difamação e na calúnia deve ser determinado)

Execução: palavras, gestos...

 Elemento subjetivo: dolo (vide calúnia).

 Consumação: como ofende a honra subjetiva, consuma-se quando a vítima toma conhecimento.

 Tentativa: maioria diz ser possível na forma escrita.

5
CPP: Art. 523. Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado, o querelante
poderá contestar a exceção no prazo de 2 (dois) dias, podendo ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou
outras indicadas naquele prazo, em substituição às primeiras, ou para completar o máximo legal.
6
EAOB: Art. 7º. § 2º. O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato
puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das
sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer.
6

Sanches não concorda: quem entra com a queixa? Vítima. Mas se entrou com a queixa é por que tomou
conhecimento, por conseguinte consumou. Por isso, alguns dizem não ser possível a tentativa.

 Exceção da verdade: não é admitida.

OBS: Art. 141, parágrafo único: Aplica-se ao mandante e/ou executor? Cesar R. Bitencourt e Hungria entendem que
seria crime mercenário com pena majorada para os dois. Rogério Greco, por sua vez, entende que somente o
executor mercenário tem pena majorada.

OBS: alteração do parágrafo único do art. 145 do CP dado pela Lei nº 12.033/2009 tornou o crime do §3º do art. 140
do CP de ação penal pública condicionada à representação.

OBS: Súmula 714 do STF - é concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão
do exercício de suas funções.

OBS: Crimes de Ódio previstos na Lei nº 7.716/89 que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
Prática do racismo.

OBS: Recentemente, no AREsp 686.965/DF, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que a injúria racial deve ser
considerada imprescritível, o que tem gerado diversas críticas por parte da doutrina.
O fundamento foi o de que “a questão da imprescritibilidade do delito de injúria racial foi reconhecida [pelo tribunal]
ao entendimento de que esse crime, por também traduzir preconceito de cor, atitude que conspira no sentido da
segregação, veio a somar-se àqueles outros, definidos na Lei 7.716/89, cujo rol não é taxativo”, [...]

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