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Nota prévia:
Esta é a sebenta de TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL, disponibilizada pela
Comissão de Curso dos alunos do 2º ano da licenciatura em Direito da Faculdade de
Direito da Universidade do Porto, para o mandato de 2022/2023.
Foram elaborados pela aluna Mariana Pereira, tendo por base as aulas teóricas e
documentos disponibilizados pela docente Inês Lopes.
Salienta-se que estes apontamentos são apenas complementos de estudo, não sendo
dispensada, por isso, a leitura das obras obrigatórias e a presença nas aulas.
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Índice:
Ficha de terminologia jurídica ………………………………………………………. 4
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Sites importantes:
Nota: da Parte Geral, os artigos mais importantes para o estudo da cadeira de TGDC serão
os art.º 66º e ss.
Nota:
→ Nulidade (art.º 286º + 289º CC): é o mais grave; invocável a todo o tempo, sendo
insanável; qualquer interessado pode invocar (e não qualquer pessoa, não
interessados não têm legitimidade); opera ipso iure / ope legis (ex.: um negócio
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celebrado em desrespeito da forma legal é nulo pelos termos da lei, nos termos do
art.º 220º); o tribunal limita-se a declarar a nulidade; é de conhecimento oficioso.
→ Anulabilidade (art.º 287º + 289º CC): tem um prazo para ser arguida, sendo
sanável pelo decurso do prazo ou por vontade da própria parte se esta confirmar
o negócio (art.º 288º CC); só as pessoas em cujo interesse a lei estabelece têm
legitimidade para invocar a anulabilidade; é necessária uma sentença constitutiva
que anule o negócio; depende de arguição.
Invalidade ≠ Ineficácia
Nota: a revogação é uma forma de cessação dos contratos por acordo bilateral. Se o
consenso é necessário para a sua celebração, o dissenso (revogação / distrate) é necessário
para a sua cessação (art.º 406º CC – o mútuo consenso de que se fala neste artigo é a
revogação).
Nota: a resolução de um contrato tem um fundamento legal (art.º 801º CC), sendo esta
unilateral (por incumprimento, por alteração superveniente das circunstâncias, …).
Também pode ser designada por rescisão.
10. O contrato é nulo porque as partes não outorgaram a necessária escritura pública.
Nota: neste caso, as partes chamam-se de outorgantes. Por regra, os contratos não exigem
uma forma legal para a sua celebração, são consensuais (ver art.º 219º CC sobre o
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princípio da consensualidade). Contrapõem-se os negócios formais. Uma exceção ao art.º
219º CC é a compra e venda de imóveis, que exige uma forma legal (art.º 875º CC).
Nota: neste caso, a revogação é um negócio jurídico unilateral (art.º 265º/2 CC).
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19. No contrato de compra e venda o vendedor está obrigado a entregar a coisa vendida.
Nota: a obrigação de entrega da coisa decorre do contrato compra e venda, segundo o art.º
879º/b CC.
Nota: a denúncia é uma forma unilateral de cessar contratos com duração indeterminada
(ver art.º 1100º e 1101º CC).
Nota: A instituição de uma fundação é um negócio jurídico unilateral (ver art.º 185º CC).
27. A requereu ao tribunal que decretasse as providências previstas no n.º 2 do artigo 70º,
CC.
Nota: a defesa do reu pode ser feita por impugnação ou exceção. A impugnação traduz-
se no reu atacar ou contrariar os factos invocados pelo autor. Na exceção a defesa do reu
faz-se com a invocação de factos novos por parte do reu e estes podem ser impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito do autor. A prescrição classifica-se como defesa
por exceção, sendo um facto extintivo. A vende a B determinado bem e B deve-lhe o
valor do bem. O B defende-se por impugnação se negar os factos alegados por A (diz que
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foi uma doação). Defende-se por exceção se disser que A vendeu o bem, mas o prazo já
passou.
Nota: Traduz-se no facto de alguém assumir como sua a dívida de outrem (ver art.º 595º
CC).
Nota: Obrigações naturais e obrigações civis são ambas jurídicas, as naturais não são
exigidas judicialmente e as obrigações civis são.
Caso prático nº 1
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intentou uma ação no tribunal comum contra a Câmara Municipal, exigindo o pagamento
da quantia em causa, acrescida de juros de mora. A Câmara Municipal contestou a ação
invocando a incompetência absoluta do tribunal comum em razão da matéria, alegando
que a ação deveria ter sido intentada no tribunal administrativo. Terá razão na sua
argumentação?
Efetivamente, a ação poderia ser intentada num tribunal comum, porque estamos
na presença de um contrato de compra e venda, onde a câmara age na qualidade de um
particular. Ou seja, a relação jurídica entre A e a Câmara caracteriza-se pela paridade e
não por uma relação de superordenação.
A câmara, aqui, age despida de ius imperium. Como se trata de um bem imóvel,
aplicam-se o art.º 874º e o art.º 875º do CC, sendo uma exceção à liberdade de forma. Os
efeitos, neste caso, estão previstos no art.º 879º CC. Seria diferente se, por exemplo, a
câmara expropriasse aquele edifício. Sendo assim, A receberia uma indemnização, no
entanto, nesta situação, o ente público agiria dotado de ius imperium e A teria de se
sujeitar à expropriação. O critério adotado neste caso é o das prerrogativas dos
sujeitos/qualidades dos sujeitos (critério mais fiável na distinção de direito públicos
e direito privado).
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Se há um conflito entre tribunais da mesma jurisdição, temos um conflito de
competência, mas se a questão se prende com os tribunais comuns e os tribunais
administrativos é um problema de jurisdição.
Caso prático nº 2
O contrato é inválido, dado que A não é titular do bem que está a ser vendido.
Segundo o disposto no art.º 892º CC, o negócio é nulo (remissão para o art.º 286º CC).
Os efeitos da declaração da nulidade, estão previstos no art.º 289º CC.
Supondo que A diz a X que a mãe está em fase terminal (portanto, A seria, nesse caso,
em breve, herdeiro universal da mãe) e por isso vende o carro a X. Neste caso, a venda
não é nula pois a venda faz-se como sendo o carro um bem alheio, mas futuro (art.º 893º
CC com remissão para o art.º 880º CC). Imagine-se que A desempregado diz a X que a
mãe lhe doou o automóvel e ele o venderia a X – Contrato de promessa compra e venda
(obrigam-se a, no futuro, celebrar o contrato de compra e venda). Não se produz a
transmissão de titularidade do direito de propriedade. A venda de um bem alheio como
bem futuro é válida, porque as partes encaram como um bem futuro.
O que não aconteceria por exemplo, se A dissesse a X que a sua mãe lhe ia doar o
carro na semana que vem, por isso, na sexta-feira, vender-lhe-ia o carro no valor de 2000€.
Estaríamos perante um contrato de promessa de compra e venda, em que A promete
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vender o carro no futuro, ou seja, a diferença é que no contrato promessa, as partes
obrigam-se no futuro a celebrar o contrato prometido, mas na venda de bem alheio
como bem futuro, as partes já venderam não sendo, por isso, necessário emitir novas
declarações negociais.
Outra hipótese distinta seria se A dissesse a X que a sua mãe queria vender o carro e
pediu a A que o vendesse, sendo que A estipula 2000€ como preço. Seria, assim, um caso
de procuração, em que A age em representação da mãe. Os efeitos produzem-se na esfera
jurídica do representado, que nesta última hipótese, é a mãe.
Sobre a legitimidade para arguir a nulidade da venda de bem alheio, esta está prevista
no art.º 892º CC (parte final). A parte que está com dolo/má-fé não pode opor a nulidade
da venda à parte que está de boa-fé, isto é, trata-se de boa-fé em sentido subjetivo, que
significa o desconhecimento da ilegitimidade, ou seja, o vendedor sabe que o bem não
lhe pertence, mas o comprador não sabe, logo o vendedor não lhe pode opor a nulidade.
Estamos perante uma venda de bens alheios que, neste caso, é válida, nos termos do
art.º 467º do Código Comercial, dado que ambos intervenientes estão na qualidade de
comerciantes, nos termos do art.º 13º do Código Comercial. Este caso válido de venda de
bens alheios adquire um regime semelhante ao da venda de um bem alheio como bem
futuro.
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Caso prático nº 3
II. B celebra com C um contrato pelo qual se obriga a professar durante cinco anos
uma religião evangélica, mediante o pagamento de uma determinada quantia em
dinheiro.
Este contrato seria nulo dada a violação da ordem pública. Neste caso, é violado o
princípio constitucional da liberdade religiosa consagrado no art.º 41º da CRP. Todo o
negócio jurídico contrário à ordem publica ou ofensivo dos bons costumes é nulo,
segundo o art.º 280º/2 CC. A ordem pública, compreende os princípios jurídicos do nosso
ordenamento, ou seja, a ordem jurídica como um todo (tanto o ordenamento jurídico civil
como o ordenamento jurídico constitucional). Já os bons costumes, apelam à moral social
de uma comunidade. É possível, por exemplo, que um ato seja contrário aos bons
costumes e conforme à ordem pública, simultaneamente.
III. D doa a E, seu sobrinho, todo o seu património imobiliário na condição de este
casar com F.
Neste contrato, a doação é válida, no entanto, a condição de casar é nula, não podendo
haver obrigação de casar. Se esta condição não estivesse especificamente regulada no
Código Civil, poderíamos argumentar que estaríamos perante um negócio jurídico
contrário à ordem pública. Porém, o art.º 2233º CC regula esta situação, limitando a
liberdade contratual ao proibir a obrigação de contrair casamento. Por força do art.º 967º
CC, que diz respeito às doações, remete para as condições proibidas das disposições
testamentárias (art.º 2231º e ss. CC). Neste caso, aplica-se o art.º 2233º CC ex vi (“por
força”) do art.º 967º CC.
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IV. G é impedido de entrar numa discoteca pelo facto de ser indiano.
Porém, se H exclui J da sua quota disponível, deixando-a toda a I, pelo facto de J ser
negro, então, está posto em causa do princípio da igualdade e da não discriminação
consagrado no art.º 13º CRP. Se H, de facto, tem por motivação questões raciais, esse é
um ato contrário à ordem pública e, portanto, esta disposição testamentária é considerada
nula, nos termos do art.º 2186º CC e no art.º 2230/2º CC.
VI. L, proprietário de um imóvel, tendo recebido de M uma oferta para a sua compra
no valor de 100.000 euros, decidiu vendê-lo a N que por ele ofereceu 50.000 euros
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Caso prático nº 4
ii. A, avô de B e de C, vende a este último uma joia de família sem consentimento
de B.
Nota: a colação implica que no falecimento de alguém, se houve doações em vida aos
herdeiros, estes têm de restituir à herança aquilo que receberam ou então ser-lhes-á
descontada na sua parte da herança aquilo que receberam. Para que haja igualdade nas
partilhas.
iii. D, casado com E no regime de comunhão de bens, aliena um prédio urbano sem
consentimento do cônjuge.
Nos termos do art.º 1682º CC, é necessário o consentimento do cônjuge, sendo que,
apenas se exige consentimento, se o casamento for em comunhão de bens. No entanto, se
for a casa de morada de família é necessário consentimento seja qual for o regime dos
bens do casal (art.º 1682º/3/a). Neste caso, não havendo consentimento, a consequência é
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a anulabilidade, nos termos do art.º 1687º CC. A anulabilidade é sanável perante
confirmação, consagrada no art.º 288º CC.
Não pode recusar-se nos termos do art.º 410º e ss. CC. Através do contrato promessa
as partes exerceram a liberdade contratual, no entanto, limitaram a liberdade contratual
futura.
Nem todos os contratos promessa estão sujeitos a execução específica porque, por
vezes, em determinadas situações o contrato não se compatibiliza com a execução
específica (ex.: quando se exigem especiais qualidades científicas/artísticas do obrigado,
pelo que daí se condena o devedor inadimplente ao pagamento de uma quantia pecuniária
pelo incumprimento). As partes podem afastar a execução específica (salvo certos casos
excecionais), se as partes assim o convencionarem.
Caso prático nº 5
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efectuadas com o cartão no qual constam taxas elevadíssimas e comissões relativas à
realização de operações no estrangeiro. C diz desconhecer tais tarifários mas o Banco
contrapõe-lhe as “Condições gerais de utilização do cartão”, onde se lê:
Esta situação cabe no âmbito do diploma, já que esta é uma relação entre o banco
e o consumidor final. Predisponente é aquele que apresenta as cláusulas, neste caso, o
banco. Contraposto ao predisponente está o aderente. A lei impõe algumas obrigações ao
predisponente. Em primeiro lugar, preocupa-se com a inclusão de certas cláusulas e
depois com o conteúdo delas. Neste caso prático, o problema prende-se com a inclusão já
que se fala em desconhecimento de uma certa cláusula. Não é cumprido o ónus de
comunicar (art.º 5º do DL). Além da comunicação é previsto o ónus de informar (art.º
6º do DL) que visa a compreensão das cláusulas. É o predisponente que tem de provar
que comunicou (art.º 5º/3 do DL). A consequência do não cumprimento do ónus de
comunicar é a exclusão da cláusula que não foi comunicada, nos termos do art.º 8º do DL.
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O tribunal aprecia a validade das cláusulas no caso concreto e enquanto litígio
destas partes. No caso de controlo abstrato, o Tribunal pode considerar proibidas
determinadas cláusulas, proibindo o predisponente a utilizá-las, através de ação inibitória
(art.º 25º e ss. CC). Têm legitimidade ativa o ministério público (art.º 26º CC). No caso
de controlo concreto, há apenas um efeito inter-partes. Neste caso, o consumidor já tem
legitimidade ativa.
Caso prático nº 6
a) C, no entanto, pretende agora recorrer aos tribunais para exigir de B a redução do preço
pago uma vez que o veículo não se encontrava nas condições asseguradas por este último
aquando da celebração do contrato. Poderá fazê-lo?
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O decreto-lei suprarreferido estabelece algumas regras para o predisponente, tais
como, o ónus de comunicação e dever de informação. Neste caso em particular, não há
dados relevantes sobre o cumprimento ou incumprimento destes deveres. C não alega, em
momento algum, que desconhecia as cláusulas em questão. Portanto, o cerne da questão
não é o controlo da inclusão.
Neste caso, o problema prende-se com o controlo de conteúdo das cláusulas (art.º
17º e ss. DL). C compromete-se numa delas a renunciar às vias judiciais e noutra a não
reivindicar quaisquer pretensões indemnizatórias em caso de defeitos. Quanto ao
conteúdo destas cláusulas a segunda é absolutamente proibida, segundo o art.º 21º/d DL,
assim como a primeira (art.º 21º/h DL). O art.º 21º e 22º DL são exemplificativos e não
taxativas o que significa que pode haver mais casos proibidos. Determina-se que uma
cláusula é proibida se for contrária à boa-fé (art.º 15º DL).
Por fim, sim, C pode recorrer aos tribunais, considerando que estas cláusulas são
nulas nos termos do art.º 12º DL em conjugação com o art.º 21º/d/h DL.
Caso prático nº 7
Sabe-se que este é um contrato de adesão, dado que se trata de uma operadora
de comunicações. Portanto, utiliza-se o DL 446/85.
Esta é uma nulidade que é atípica quanto à legitimidade, já que apenas pode
ser invocada pelo utente (art.º 13º/ 2 da Lei), quando o regime geral da nulidade prevê
que esta possa ser invocada por qualquer pessoa. A consequência da nulidade é a
exclusão da cláusula. Com a exclusão, passa a aplicar-se o regime do art.º 10º da Lei
(uma norma supletiva) que indica os 6 meses.
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Caso prático nº 8
Quanto ao dano, há dois tipos: morais e patrimoniais. Os danos morais não são
indemnizáveis, mas sim, compensáveis (art.º 496º CC). Já os danos patrimoniais, estes
sim, são indemnizáveis, nos termos do art.º 564º CC e este tipo de danos divide-se em:
danos emergentes e lucros cessantes. Os danos podem ainda classificar-se como presentes
ou futuros, sendo que, sendo futuros, só são indemnizáveis se forem previsíveis. Os danos
futuros previsíveis dividem-se ainda em determinados e indeterminados. Recentemente,
existem danos biológicos (lesão na integridade psicofísica da pessoa, ou seja, é um dano
da própria saúde daquela pessoa e geralmente a doutrina reconduz aos danos
patrimoniais). Outra categoria de danos que, ultimamente, tem ganhado relevância são os
danos de perda de chance (para ser indemnizável tem de ser uma chance séria e
justificada).
Ainda sobre o dano, quando este existe, a regra geral chama-se por: causa sentit
dominus (quem sofre um prejuízo tem de suportá-lo). Só assim não será, se a lei permitir
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que se possa importar a outra pessoa esse prejuízo, porém, só assim se encontram reunidos
os pressupostos da responsabilidade civil.
Ainda sobre a responsabilidade civil, esta pode ser: subjetiva ou por factos ilícitos
com culpa; objetiva ou pelo risco, o que significa que o sujeito responde ainda que sem
culpa associada; ou por factos lícitos, quando a prática de um facto lícito, por causar
danos, dá origem a obrigação de indemnizar.
Neste caso prático está-se perante o direito absoluto, a integridade física, sendo
este um direito de personalidade (todos os direitos de personalidade são todos direitos
absolutos). No âmbito de um contrato é o direito de crédito. A responsabilidade civil
obrigacional traduz-se na violação de uma obrigação. Há várias fontes de obrigações (art.º
405º e ss. CC), sendo uma delas o contrato (não é a única).
Caso prático nº 9
Caso prático nº 10
Por fim o próprio motorista, também ele sofria danos, tendo ele próprio de
suportar os danos, estando em causa a regra causa sentit dominus, quando alguém sofre
um dano em princípio sendo ele mesmo a cobrar o dano, no caso não há fundamento para
o imputar a outrem. Como se trata de automóveis sabe-se que há um seguro obrigatório
no âmbito da responsabilidade civil automóvel. A única possibilidade de E era se ele
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tivesse um seguro que cobrasse danos próprios, ele iria transferir essa responsabilidade e
cobrança desses danos para a seguradora. O seguro que é obrigatório é unicamente o
seguro que cobre danos a terceiros, não é probatório o seguro de danos próprios. A
seguradora responderá exatamente nos mesmos termos que o motorista, é só uma questão
de transferir a responsabilidade. Um contrato de seguro seria um contrato de adesão.
NOTA:
Tese do não cúmulo – defendida pelo Professor Almeida Costa que entende que a
responsabilidade civil obrigacional prevalece sobre a responsabilidade extraobrigacional.
Esta tese não é maioritária.
Teorias de cúmulo:
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Responsabilidade civil contratual VS. Responsabilidade civil extracontratual:
Exemplo onde não houve exclusão, mas apenas limitação: o veículo era silencioso e o
peão saiu de um autocarro e atravessou a estrada num lugar indevido, e foi atropelado.
Neste caso, o condutor também respondia.
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Caso prático nº 11
Se a cláusula for válida, o fim do local é não habitacional e, nesse caso, não há
direito a resolução. Por outro lado, poderia considerar-se que a cláusula não seria válida,
por ter sido alterada verbalmente e, dessa forma o fim seria habitacional, que era o que
havia ficado acordado por escrito. Neste caso, já haveria direito a resolver, dado que a
alteração do fim deveria ter seguido a forma escrita.
Tendo em conta o art.º 1069º CC, esta cláusula não seria válida por não seguir a
forma legal (a solicitação não deveria ter sido feita verbalmente, mas sim por escrito).
Assim, a declaração negocial que determina a alteração do fim, seria nula nos termos do
art.º 220º CC. Nesta segunda opção, tendo direito a resolver, pode falar-se em abuso de
direito (art.º 334º CC). Para se fundamentar a existência de abuso de direito, dir-se-ia que
houve má-fé na aceitação verbal com o fim de, no futuro, resolver o contrato de
arrendamento. Caso haja efetivamente abuso de direito ou se impede o exercício do
direito ou existe responsabilidade civil, depende do caso particular.
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a questão da inobservância. Na verdade, a modalidade que se segue é aquela que melhor
se aplica ao caso em questão, sendo ela:
tu quoque (que significa “tu também”), serve para aqueles casos em que alguém
pratica um ato ilícito e depois quer prevalecer-se das consequências desse ato.
Para além deste caso prático, outro exemplo de tu quoque: imagine-se um
condómino de propriedade horizontal. Esse condómino não paga a sua quota, o
que faz com que o condómino não tenha património suficiente patra fazer face a
todas as despesas. Por força da lei, o condomínio estava obrigado a fazer obras e
não o fez precisamente por não ter património suficiente. O condómino
mencionado supra abre uma ação em tribunal para ser indemnizado pelos danos
causados pela falta de obras. O tribunal declara abuso de direito, já que o
condómino não pagou a sua parte e esse comportamento fez com que o
condomínio não tivesse património que cobrisse a realização das obras;
atos emulativos, aplicado a situações onde alguém exerce o direito apenas com o
intuito de prejudicar outrem. É de notar que os atos emulativos são de utilização
excecional, não esquecendo que o próprio abuso de direito já é por si só um
instituto excecional. Esta modalidade só deve ser utilizada em situações de
extrema injustiça;
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mais tarde, A intenta uma ação judicial com vista à declaração da invalidade formal do
negócio celebrado com B, pretendendo assim obter o terreno de volta, uma vez que a zona
onde este se situava tinha passado a ser "zona urbanizável", com a aprovação do novo
Plano Director Municipal da região, o que levou a uma subida "em flecha" dos preços.
Deverá o tribunal atender à sua pretensão? (Cfr. Acórdão do STJ de 17.01.2002 (Miranda
Gusmão), CJ — Acórdãos do STJ, I, 2002, pp. 48-50 e Acórdão da Relação de Coimbra
de 14.12.1993 (Moreira Camilo), CJ, V, 1993, pp. 48-50).
A invoca a nulidade do contrato, nos termos do art.º 220º CC, que constitui uma
exceção à liberdade contratual (ver também, art.º 875º CC). De facto, A tem direito a
invocar a nulidade, pois o contrato não respeita a forma legal. Note-se que se pode
considerar o comportamento de A contrário à boa-fé. Sendo este agente imobiliário,
saberia qual era a forma exigida pela lei para o contrato e, ao mesmo tempo, é ele quem
convence B a não obedecer a essa forma legal. Assim, A age em abuso de direito ao
invocar a nulidade.
O regime da nulidade está presente no art.º 286º CC. Esta é insanável, pode ser
invocada por qualquer interessado a todo o tempo e o Tribunal pode reconhecê-la
oficiosamente (não precisa de ser invocada). Os efeitos da declaração da nulidade estão
contemplados no art.º 289º CC. A declaração pelo Tribunal tem efeitos retroativos pelo
que deve ser restituído tudo aquilo que foi prestado (A devolve o preço, B o imóvel).
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NOTA: O Professor Batista Machado entendia que só em casos muito excecionais de
muita confiança e investimento nessa confiança, podia o tribunal ultrapassar o art.º 875º
CC e não declarar a nulidade do contrato.
A ação direta, presente neste caso, é uma forma de autotutela, sendo esta de uso
excecional. Esta está consagrada no art.º 336º CC. A foi apenas furtado, não tendo
deixado de ser proprietário. Há uma inutilização prática do direito de propriedade de A.
A ação direta só é possível para a defesa de um direito próprio, não podendo ser
utilizada para a defesa de terceiros. Também é de notar a proporcionalidade da ação
direta que está presente nos números 1 (parte final) e 3 do artigo mencionado supra. Neste
caso, essa proporcionalidade não se verifica. Por um lado, tem-se o direito de C à
integridade física e, por outro, o interesse patrimonial de A. O número 2 limita aquilo em
que se pode traduzir a ação direta. Em abstrato, o interesse de A é inferior ao direito de
C, logo, conclui-se que, neste caso, a ação direta é ilícita. Para além disso, é de ter em
conta que o furto foi da autoria de B e não de C, o que significa que C poderia nem ter
conhecimento que o automóvel havia sido furtado e estar de boa-fé. Suponha-se que A
acreditava que os pressupostos da ação direta estavam consagrados no seu caso, reconduz-
se para o art.º 338º CC. De acordo com o disposto, se o erro for desculpável, não há lugar
a indemnização. Por outro lado, se não for desculpável, o ato é ilícito e há lugar a
indemnização. Sendo ilícito, há lugar a responsabilidade civil extraobrigacional,
consagrada no art.º 483º CC (tem-se um facto voluntário ilícito, causa dano, há nexo de
causalidade e é culposo). Como se trata de um direito de personalidade adiciona-se à
indemnização as consequências previstas no art.º 70º/2 CC.
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Caso prático nº14
F é abordado à noite por um indivíduo empunhando uma faca exigindo a sua carteira. 1ª
hipótese: F dá-lhe um pontapé e o indivíduo cai na rua. 2ª hipótese: F, que andava sempre
armado, dá um tiro ao indivíduo.
A 1ª hipótese consagra a legítima defesa (art.º 337º CC), dado que os pressupostos
deste instituto se encontram preenchidos: há uma agressão atual e ilícita que ocorra
contra a pessoa ou contra o seu património, podendo haver legítima defesa de direito
próprio ou de um terceiro, não sendo possível recorrer aos meios coercitivos normais
e tendo de se verificar proporcionalidade. Note-se que o dano causado em legítima
defesa pode ser superior, não pode ser manifestamente superior.
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Plus Iuris as alium transfere potest quam ipse habet (que significa: ninguém pode
transmitir mais direitos do que aqueles que detém).
Sendo aquela a regra geral das aquisições derivadas, é de notar que há exceções nas
quais o adquirente obtém um direito que não pertencia ao transmitente, ou então, o
direito do transmitente é ampliado para o adquirente. Assim, as exceções são no caso de:
1- Funcionamento do Registo
Legislação importante para este tópico: art.º 1º e art.º 34º DL 224/84 (sendo que o art.º
34º consagra o princípio do trato sucessivo, o qual dita que o adquirente só consegue
registar se o transmitente também o fez). Ainda o art.º 5º e 6º do mesmo D. (importa ter
em conta que os terceiros para efeitos de registo se encontra consagrado no art.º 5º/4 do
DL).
→ Requisitos do art.º 291º CC: tem de haver um terceiro afetado por uma
invalidade anterior; tem de se tratar de um bem imóvel ou então um bem
móvel sujeito a registo; tem de haver uma aquisição de terceiro que é
onerosa; tem de haver registo; o terceiro tem de estar de boa-fé sem culpa
(o nº 3 deste artigo diz que boa-fé sem culpa significa que o terceiro não
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saberia do vício do negócio anterior. Aqui a boa-fé é no sentido objetivo,
no sentido de desconhecimento, de ignorância. Esta boa-fé é aferida no
momento da aquisição); e têm de passar 3 anos sem que seja proposta uma
ação de invalidade do negócio inválido (o negócio que afeta o terceiro).
→ Requisitos do art.º 243º CC: necessário que haja um terceiro, afetado por
uma simulação anterior, que tem de estar de boa-fé com ou sem culpa
(boa-fé no sentido objetivo).
1.
Neste caso, aplica-se o art.º 243º CC, afastando-se logo o art.º 291º CC, dado que,
os requisitos para a aplicação deste último artigo não estão cumpridos. Um dos
pressupostos requerido para a aplicação do art.º 291º CC prende-se com a qualidade do
bem, sendo que o bem em causa tem de ser um bem imóvel, ou então, um bem móvel
sujeito a registo. Neste caso, o bem é um bem móvel que não está sujeito a registo. Assim,
C adquire o colar por força do art.º 243º CC, quando estão preenchidos todos os requisitos.
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2.
Neste caso, há uma invalidade que é a simulação, prevista no art.º 240º CC. O art.º
291º CC é afastado, dado que dado que não há registo e não há boa-fé sem culpa e,
portanto, não estão cumpridos todos os requisitos necessários à aplicação deste artigo.
Assim, aplica-se o art.º 243º CC. C adquire o bem por força do art.º 243º CC, em 1984,
sem necessidade de registo.
3.
Note-se que a simulação entre A e B é nula nos termos do nº 2 do art.º 240º CC.
Nesta situação, não é possível a aplicação do art.º 291º CC, pois os requisitos não estão
cumpridos na sua totalidade. A boa-fé sem culpa requerida para a aplicação deste artigo,
não se verifica, já que se sabe que C ignora a simulação com culpa. Assim sendo, aplica-
se o art.º 243º CC, visto que, para este artigo, os requisitos encontram-se cumpridos.
4.
Primeiramente, é de notar que há uma simulação (art.º 240º CC), que é nula, nos
termos do art.º 240º/2 CC.
5.
32
6.
7.
Entre A e B, há um negócio nulo, nos termos dos art.º 220º e 875º CC, dado que
a forma exigida para a compra e venda não é respeitada pelos sujeitos. A doação
absolutamente simulada entre B e C é nula, nos termos do art.º 240º CC. Seguidamente,
D adquire quando regista, em 1986, havendo, neste caso, proteção do art.º 291º CC, visto
que se verificam todos os requisitos necessários.
8.
Em primeiro lugar, importa salientar a aplicação dos artigos 220º e 875º CC, pela
falta de forma, relativamente ao negócio entre A e B. Em seguida, no que se refere à
doação simulada entre B e C, esta é nula, nos termos do art.º 240º/2 CC.
Neste caso, aplicam-se ambos os artigos, o 243º e o 291º CC, pois a situação
requer proteção de ambos. D age sem culpa quanto ao negócio nulo entre A e B (o que
justifica a aplicação do art.º 291º CC), porém, age com culpa no que se refere à simulação
(agindo com culpa não se pode aplicar o art.º 291º CC, podendo aplicar-se o art.º 243º
CC).
9.
Entre A e B há lugar a um negócio nulo já que a forma exigida pela lei para o
contrato de compra e venda não foi pelos sujeitos cumprida. Assim, o negócio é
considerado nulo, nos termos dos artigos 220º e 875º CC. Entre B e C, tem-se uma doação
33
simulada, sendo esta nula, segundo o art.º 240º/2 CC. Para esta situação, devem aplicar-
se, tanto o art.º 243º CC, como o art.º 291º CC.
10.
Há um negócio nulo entre A e B, nos termos dos artigos 220º e 875º CC, dado que
a forma exigida pela lei para este tipo de contrato não é cumprida pelas partes. Entre B e
C, dá-se uma simulação, prevista no art.º 240º CC, que é nula, segundo o nº 2 desse artigo.
11.
Neste caso, verificados todos os requisitos necessários, é aplicável o art.º 291º CC.
O negócio entre A e B é nulo, dada a falta forma apresentada pelo contrato de compra e
venda entre as partes (art.º 220º e 875º CC) Sendo nulo, B não tem direito de propriedade
e, portanto, segundo o princípio do nemo plus iuris, B não pode transmitir o direito de
propriedade a ninguém, já que ele próprio não possui esse direito, dada a invalidade do
negócio que celebrou com A.
Assim, considera-se que C e D são os terceiros, neste caso, pois são aqueles que
se veem afetados por uma invalidade anterior. Tendo em conta o efeito central de registo,
D é quem detém o direito de propriedade já que é o primeiro a registar, obtendo esse
mesmo direito no preciso ano em que procede ao registo.
12.
Este caso merece a aplicação do art.º 291º CC, já que se verificam todos os
pressupostos exigidos.
Relativamente à simulação entre A e B, esta é nula, nos termos do art.º 240º/2 CC.
Note-se que, nesta situação, C pode considerar-se um terceiro afetado por um vício
34
anterior (a compra e venda nula entre A e B) e que E e F devem ser tidos em conta como
terceiros para efeitos de registo.
Pelo facto de E não proceder ao registo, não pode opor o seu direito, segundo o
disposto no art.º 5º do Código do Registo Predial. Já F, faz o registo e, portanto, adquire
o direito de propriedade plena ao mesmo tempo que o direito de E se extingue por
decadência, por força do efeito central do registo de F. Deste modo, em 1986, tinha-se o
direito de D com usufruto de E e, em 1987, tem-se o direito de propriedade de F sem
reservas.
Suponha-se que D ignorava os vícios com culpa, nesse caso, já não se aplicaria o
art.º 291º CC e, portanto, D não adquiria nada e já não se aplicava o efeito central do
registo daí em diante, sendo a propriedade de A.
13.
14.
35
15.
Entre A e B, há lugar a uma simulação que é nula, nos termos do art.º 240º/2 CC.
Porém, o negócio dissimulado é válido, segundo o art.º 241º CC. Neste caso, não se aplica
nem o art.º 291º CC nem o art.º 243º CC. Não se pode falar em boa-fé em sentido objetivo,
nesta situação, já que a simulação é conhecida. Sendo a doação válida, tal como referido
supra, assiste-se a um caso de desnecessidade de tutela. A doa a B e B pode proceder à
venda.
Caso prático nº 15
Neste caso, C é o terceiro, dado que é afetado por uma invalidade anterior. O
negócio entre A e B é nulo, nos termos do art.º 220º CC, pois não foi respeitada a forma
legal (art.º 875º CC).
No que diz respeito à 1ª hipótese, esta não está protegida pelo art.º 291º CC, por
ainda não se terem passado os 3 anos requeridos para a aplicação desse artigo. Quanto à
2ª hipótese, recorre-se ao art.º 291º CC, visto que os pressupostos para a aplicação deste
artigo estão verificados.
Caso prático nº 16
E, comerciante, receosa de uma acção judicial com vista à declaração da sua insolvência
em virtude das avultadas dívidas acumuladas nos últimos anos, e pretendendo
salvaguardar os seus bens, forjou com F, sua empregada, um contrato de compra e venda
36
de um valioso colar de pérolas, recebendo um preço simbólico a título de pagamento.
Mais tarde, F doa o mesmo colar a G, sua filha, que, embora estranhando que a sua mãe
tivesse uma jóia tão valiosa, desconhecia o acordo entre E e F. Que direitos assistem a G?
Afasta-se o art.º 291º CC, visto que os pressupostos necessários à sua aplicação
não estão cumpridos. Não há um negócio oneroso, não há boa-fé sem culpa e o bem em
causa, é um bem móvel que não está sujeito a registo. Aplica-se, então o art.º 243º CC.
Assim, a nulidade do negócio simulado (art.º 240/2º CC) não pode ser oponível a
G, o terceiro, neste caso.
Caso prático nº 17
M, viúvo, decidiu doar a sua casa sita na Av. da Boavista, ao seu único filho N, residente
em França, instalando-se num "Lar de Terceira Idade". N não regista a sua aquisição.
Entretanto, tendo-se M apercebido que o filho pretendia arrendar a casa a uma empresa,
o que implicava o "despejo" de uma empregada antiga (O) que ainda lá habitava, decidiu
constituir a favor de esta um usufruto até à sua morte, por via contratual. Ambos os
contratos foram celebrados mediante escritura pública. N, quando preparava os
documentos para arrendar a casa é confrontado com o registo do direito de usufruto a
favor de O, incompatível com a possibilidade de arrendamento. Quid iuris?
37
direito (art.º 5º Códido de Registo Predial) e vai ter prioridade no registo (art.º 6º Código
de Registo Predial). N não consegue opor o seu direito dado que não regista.
Caso prático nº 18
A vende a B a sua casa de praia em Janeiro de 2012. B, no entanto, não registou a sua
aquisição. Posteriormente, verificando A que a casa ainda se encontrava registada em seu
nome, decide doá-la a um seu sobrinho C, que muito o havia ajudado na sua velhice. C,
tendo conhecimento, antes da aceitação da doação, do anterior negócio realizado pelo tio,
sossegou-o dizendo que "o proprietário é aquele que aparece mencionado como tal no
registo", e como tal o tio estava no seu pleno direito ao fazer a doação. Quid iuris?
Caso prático nº 19
Caso prático nº 20
Num dia de mar revolto, A foi pescar num pequeno barco para a barra de Viana do
Castelo. Perante o olhar impotente de alguns transeuntes, a embarcação voltou-se, foi
arrastada para o alto mar pela corrente, e nunca mais se viu A. Diga se um credor de
Braga, interessado na conservação dos bens de A para garantia de vultuosos créditos,
pode ser nomeado seu curador provisório nos termos dos artigos 89º e segs., e, sobretudo,
92º do Código Civil.
39
mais tempo passa menor a possibilidade de regresso, assim, à medida que o tempo passa
aproximamo-nos dos efeitos da morte real. A morte tem um efeito principal que é o da
extinção da personalidade jurídica (art.º 68º/1 CC). Neste caso, com o instituto de morte
real, a personalidade jurídica de A cessa. Por fim, a herança de A responde pelas dívidas
do sujeito ao credor de Braga.
Caso prático nº 21
Para A, que não dá notícias desde 2010, pode ser requerida curadoria definitiva
(art.º 99º e ss. CC) a seu favor em 2015. Não há lugar a curadoria provisória (prevista nos
art.º 89º e ss. CC) porque até 2014 havia um procurador. A curadoria definitiva requer
5 anos desde as últimas notícias, no caso de não haver procurador. Note-se que são
requeridos 5 anos sem notícias e não 5 anos sem procurador. A morte presumida podia
ser decretada após 10 anos das últimas notícias, nos termos do art.º 114º do CC (morte
presumida em 2020, no caso de A). Quanto a B, a morte presumida poderia ser decretada
em 2013 e a curadoria definitiva em 2008.
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Caso prático nº 81
4. Com 4 anos de idade, órfão de pai, Anabela M. saiu da casa onde residia com o filho e
mudou-se.
5. Não foi dado conhecimento à A. do local para onde o R. se mudava nem da nomeação
de representante ou procurador.
9. A A. nunca foi contactada pelo R. e desconhece o seu paradeiro, não tendo mais notícias
do mesmo”.
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Aprecie criticamente os factos transcritos tendo em conta que a pretensão de A., de ser
declarada a morte presumida do R., foi negada pela 1ª instância com fundamento na não
verificação dos requisitos legais (nomeadamente temporais) para o efeito.
Em resumo: João é casado com Isabel. O casal teve 2 filhos, a autora e Martinho.
Este último casou-se com Anabela M. e tiveram um filho, o réu. João, Isabel e Martinho
falecem. A autora e o réu são ambos herdeiros das heranças em questão.
NOTA: Direito de acrescer – instituto subsidiário; aplicando a este caso, a autora tem o
direito de ficar com a parte da herança que se destinaria ao réu, já que se presume a morte
deste.
Caso prático nº 22
F, grávida de 4 meses, é atropelada por G ao atravessar a rua com toda a atenção, numa
passadeira para peões. Conduzida de imediato ao hospital, é submetida a uma intervenção
cirúrgica de urgência. Supondo que o filho de F veio a nascer com uma grave deformação
física em resultado de traumatismos sofridos devido ao acidente, diga se existe
responsabilidade civil de G e, em caso afirmativo, quem tem direito a indemnização e
quais os danos indemnizáveis. Poderá F accionar judicialmente o hospital, pedindo uma
indemnização pelo facto de ter sido operada sem o seu consentimento?
42
pela sua gravidade merecem tutela, nos termos do art.º 496º CC. Neste caso, merecem
tutela (art.º 496º/1 CC). É de notar que constitui um dano de F ter tido um filho com
deformação devido ao acidente que sofreu.
Voltando ao caso concreto, não há dúvidas que o feto tem direito a indemnização
uma vez que há personalidade jurídica após o seu nascimento completo e com vida. Há
danos patrimoniais e morais compensáveis, nos termos do art.º 496º CC.
Caso prático nº 24
Ao chegar a casa do seu amigo A, B depara com a porta da entrada aberta e com um
bilhete colado numa parede dizendo “Não me salves!”, compreendendo então que A
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decidira cometer suicídio. Com efeito, A encontrava-se dentro da banheira esvaído em
sangue mas ainda com vida. Deverá B tentar salvar A?
Além disto, quando A pede para não ser salvo, não se poder interpretar o seu
pedido como um consentimento válido, primeiramente, pelo facto de a vida não é um
direito que possa ser limitado. A ao escrever o bilhete não estava a consentir ser salvo,
aliás, estava precisamente a negar ser salvo. Porém, só é possível o consentimento na
limitação de direitos de personalidade que são disponíveis, que não é o caso do direito
à vida. A somar a isto, é necessário ter em conta que o consentimento tem como limite
a ordem pública (princípios jurídicos vigentes no nosso ordenamento, nomeadamente
no Direito Constitucional) e os bons costumes ou proibição legal (art.º 340/2º e 280º
CC). O consentimento deste tipo violaria a ordem pública. B tem o dever jurídico de
salvar A, já que o bilhete não tem qualquer valor. Aliás, B ao não salvar A comete um
ato ilícito.
44
Caso prático nº 25
É de notar que este ato viola direitos de personalidade, como o direito à reserva
da vida privada (está-se a perturbar a esfera privada do E com as chamadas sucessivas).
Viola-se o direito à solidão e ainda, o direito à integridade física e psíquica, já que as
chamadas consecutivas da empresa não permitem que E descanse devidamente. Está
também em causa ainda o direito à proteção de dados, cujo tratamento tem de ter um
fundamento de licitude. O RGPD prevê vários fundamentos, como o consentimento (art.º
6º/a e o art.º 9º/2 para dados sensíveis), que aqui não ocorreu.
Assim, conclui-se que o ato praticado pela empresa constitui um ato ilícito. A ré
responde por responsabilidade civil extraobrigacional (art.º 483º CC), verificados
todos os pressupostos para tal: há um facto ilícito, há culpa dolosa (poderia ser
negligente), há nexo de causalidade e há dano. Os danos morais, neste caso, são
compensáveis, nos termos do art.º 496º CC. A pessoa coletiva responde enquanto
comitente pelos atos dos seus comissários (art.º 500º CC). Segundo o art.º 500º CC, quem
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encarrega outro de uma comissão é apelidado de comitente. Este último responde pelos
danos do comissário independentemente de culpa (responsabilidade objetiva), desde que
sobre o comissário também recaia a obrigação de indemnizar. Quem responde em
primeira linha é o comitente e depois se condenado a indemnizar, vai ter direito de
regresso sobre o comissário.
Caso prático nº 26
Na sua edição de 3/5/09, uma revista espanhola publicou um escrito onde se podia ler:
“Os irmãos A e B passam droga através da fronteira portuguesa. Uma vez foram
surpreendidos a assaltar uma joalharia. Um deles fugiu para o Brasil e, no seu regresso, a
polícia deteve-o num hotel de Vigo, mas o outro, B, nunca o apanharam e vive agora em
Portugal, onde continua o seu tráfico ilegal, em estreito contacto com o fadista português
C, que é ele mesmo um capo da droga em Portugal”. Em 16/5/09, D, agência noticiosa,
enviou às redacções dos principais orgãos de comunicação social portugueses um
telegrama de cujo teor constava: “A revista espanhola cita ainda outros portugueses
implicados na rede de tráfico de droga, entre eles, o fadista C, o qual é classificado pela
fonte citada pela revista como um dos cabecilhas da droga em Portugal”. Assim, alguns
orgãos de comunicação social portugueses deram grande relevo à matéria constante do
telegrama, com títulos de primeira página e caixa alta ou com transcrições repetidas. C,
de cujo certificado de registo criminal nada consta, viu cancelados vários espectáculos,
após a divulgação do telegrama, e deixou de auferir uma quantia não inferior a esc.
100.400 euros. C sente-se lesado e pretende reagir. Quid iuris? (Cfr. Acórdão da Relação
de Lisboa (secção cível) de 22.01.1998, CJ, I, 1998, pp. 83-87).
Hoje entende-se que um caso como estes não é um caso de colisão de direitos (art.º
335º CC), apesar de, anteriormente, se resolver desse modo. Hoje, a jurisprudência
entende que a resolução do problema está a montante. Haveria colisão de direitos se A e
B tivessem ambos direitos e esses colidissem e, nesse caso, tem de se chegar a uma
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solução prática para conjugar os dois. Hoje entende-se que se um sujeito A tem direito à
honra, então um sujeito B não tem liberdade de expressão e vice-versa. As pretensões
limitam-se reciprocamente, segundo a jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos
do Homem. Entre o direito à honra e a liberdade de expressão tem prevalecido a liberdade
de expressão.
Caso prático nº 27
A, doente renal crónico, contratou com o seu irmão B – que se encontrava em má situação
económica – a cedência de um rim deste para lhe ser transplantado, entregando-lhe, como
contrapartida, a quantia de 50.000 euros. Na véspera do dia marcado para a operação, B,
após ter recebido o dinheiro e gasto parte dele, arrependeu-se e comunicou a A que não
consentiria na extracção. Em face da atitude do seu irmão, A pretende agir judicialmente
contra este, requerendo, nomeadamente, a condenação de B numa sanção pecuniária
compulsória com vista a obrigá-lo a cumprir o contrato. Quid juris?
Este contrato pode ser qualificado como uma compra e venda, já que se reúnem
todos os elementos essenciais, sendo, no entanto, uma compra e venda nula, dado que o
objeto do contrato (o rim) é uma coisa fora do comércio, nos termos do art.º 202º/2 CC
e do art.º 5º da lei 12/93 que consagra o princípio da gratuitidade. Assim, como já dito,
este contrato seria nulo, nos termos do art.º 280º CC, por ser contrário à ordem pública,
dado que o objeto do contrato é legalmente impossível. Esta compra e venda é contrária
à ordem pública pois viola um princípio jurídico do nosso ordenamento, o da
47
gratuitidade. Também segundo o art.º 294º CC, os negócios realizados contra a lei são
nulos.
Por força deste contrato, B vai ceder o rim ao irmão A, logo, este é um
consentimento que visa a limitação de direitos de personalidade, neste caso, o direito
à integridade física. Foi prestado um consentimento vinculante (por via negocial, A e B
vincularam-se a esta prestação jurídica). Neste caso, dado que o rim não pode ser objeto
do contrato, então o consentimento é nulo. No entanto, o consentimento não seria nulo
se fosse prestado fora do contrato. Deveria, pois, havido um consentimento autorizante
(só atribui um poder fático de agressão). Neste tipo de consentimento, B prestaria um
consentimento autorizante e A prestaria um consentimento tolerante (porque não
atribui um poder de mera agressão, mas abdicaria da sua integridade física em seu
benefício).
O consentimento num caso como estes, consagrado no art.º 8º da lei 12/93, tem
de ser prestado por escrito e, no caso do rim, sendo este um órgão não regenerável, deve
haver parecer de entidade competente. É ainda necessário que o médico que autoriza
o transplante seja diferente daquele que vai realizar o transplante.
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deve alargar muito a esfera da indemnização, nestes casos, sob pena de se estar a dificultar
ou impossibilitar a revogação.
Para concluir, A não teria razão na pretensão porque o contrato não era válido
e, mesmo sendo válido, à lugar à livre revogação, não havendo sanção pecuniária
compulsória.
Caso prático nº 29
49
Este consentimento é do tipo vinculante, pois foi num âmbito de contrato. Este
é um contrato de adesão, pois foi prévia e unilateralmente fixado e a contraparte não
pode negociar o conteúdo do mesmo. O consentimento é livremente revogável (art.º
81º/2 CC), por isso, a cláusula que impõe a irrevogabilidade não é valida (o consentimento
que limita direitos de personalidade é sempre livremente revogável). Apenas esta cláusula
não seria válida, podendo considerar válido o resto do contrato.
Se se quisesse argumentar que todo contrato é inválido: podia dizer-se que o direito à
honra é indisponível. É uma limitação tão intensa e violenta que quase já se poderia dizer
que se cai na renúncia dos direitos e não numa mera limitação. Ora, estes direitos são
irrenunciáveis, portanto, não seria lícito o consentimento. Mais violento se torna, pois, os
direitos são limitados através de contrato de adesão, o qual não é negociável (ou se aceita
na totalidade ou se rejeita na totalidade).
NOTA:
50
Caso prático nº 40
C, com 17 anos de idade, comprou uma mota Harley Davidson por €40.000, gastando
todo o dinheiro que a sua avó lhe havia deixado em testamento, e escondeu-a na garagem
de um amigo até ao dia em que completou 18 anos, por saber que os seus pais jamais
concordariam com a compra. No dia 3 de junho de 2018, dia do seu aniversário, C
apareceu em casa com a sua mota nova, informando os pais tratar-se de uma prenda que
decidiu oferecer antecipadamente a si próprio. Tendo os pais ameaçado retirar-lhe a
mesada se este não devolvesse a mota, C pretende reagir contra o negócio. Poderá a sua
pretensão ser atendida?
Nesta compra e venda uma das partes era incapaz pois era menor, nos termos
do art.º 122º CC. A menoridade traduz-se numa incapacidade de exercício (art.º 123º
CC) e esta incapacidade supre-se através da representação legal. No caso da menoridade
os representantes legais, serão, à partida, os pais ou, subsidiariamente, um tutor, ou seja,
aqueles que exercem as responsabilidades parentais (art.º 124º CC). Há exceções acerca
da incapacidade na menoridade (consagradas no art.º 127º CC). No entanto, este caso não
cabe nestas exceções e, portanto, o negócio seria anulável, nos termos do art.º 125º CC.
Segundo este último artigo, os pais não teriam legitimidade para arguir a anulabilidade,
porque C, entretanto, atinge a maioridade. A alínea b do nº 1 dita a legitimidade de C, que
tem até 2 de junho de 2019 para arguir a anulabilidade (1 ano após atingir a maioridade).
Assim, sim, a pretensão pode ser atendida. Se quisesse, por outro lado manter a mota,
poderia confirmar o negócio segundo os artigos 125º/2 e 288º CC, sanando-se a
anulabilidade.
NOTA: é de extrema importância ter em conta a ressalva feita no art.º 125º/1 ao art.º 287º
CC.
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Caso prático nº 63
Nesta situação, há lugar a uma compra e venda (a compra das garrafas de bebidas
alcoólicas), uma prestação de serviço (a compra do bilhete do cinema) e duas doações
(donativo na máquina de ATM e a doação do relógio).
Paulo Mota Pinto Mafalda Miranda Barbosa, dizem que a prejudicialidade do ato
se afere na data de celebração (para o negócio ser anulável tem de ser prejudicial na data
em que foi celebrado, para proteger a contraparte), sendo que as doações são sempre
consideradas prejudiciais. Neste caso, os atos foram anteriores ao início do processo e,
segundo o art.º 154/3 CC é aplicável o regime da incapacidade acidental (art.º 257º CC).
Os atos só são anuláveis se alguém estiver acidentalmente incapacitado de entender o
sentido da declaração negocial ou não tinha o livre exercício da sua vontade desde que
este facto seja notório (se uma pessoa com normal diligência se tivesse apercebido dele)
ou conhecido da contraparte. Assim, a incapacidade apenas se pode aplicar à doação do
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relógio e não à doação feita por ATM já que, nesta última doação não há uma contraparte
que conheça ou possa identificar a incapacidade do autor.
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