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ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA

Material essencial: Constituição, Lei orgânica do sistema judiciário, código de processo civil.

A nossa matéria passa essencialmente pelo estudo de uma das funções do estado. E qual é
essa função? É a chamada função jurisdicional. Isto baseia-se numa velha causa/principio que
tem a ver com a organização do estado. Todos nós sabemos que o estado se organiza, para
haver estado através destes três elementos: poder político, o povo e o território. Estes três
poderes reunidos formam aquilo a que atualmente chamamos de estado.

Compreende-se também que a função jurisdicional seja do próprio estado, compete ao


estado/ ele tem o monopólio da criação do direito e obviamente na regulação dos litígios
que possam surgir entre os destinatários do estado que é o povo. Até porque a justiça no
sentido de função jurisdicional é exercida/ administrada em nome do povo. O poder soberano
radica no próprio povo. Somos nós que através de eleições que escolhemos os nossos
representantes.

Sabemos também que o nosso estado se fundamenta no princípio da separação e da


interdependência de poderes (principio próprio daquilo a que se chama/ se convencionou
chamar, um estado de direito democrático). Todos nós sabemos que esse princípio da
separação de poderes prevê que o poder legislativo caiba á AR, que o poder executivo caiba ao
governo e que o poder judicial caiba aos tribunais. Vemos também que uma das principais
tarefas do estado é de garantir que os direitos e as liberdades fundamentais do povo sejam
respeitados. Por isso se diz que os tribunais são os órgãos de soberania (ou seja, órgãos
dotados de ius imperi) e isto tem o significado de dizer que têm poderes de autoridade. Um
tribunal quando julga pode por isso obrigar/ condenar alguém a pagar aquilo que deve, pode
fazer ordens/ imposições. Essa função é efetuada em nome do povo porque é em nome do
povo que é exercida a soberania. Por isso, podemos definir a função jurisdicional como o
poder de aplicar/ dizer o direito. Quando um tribunal julga este diz qual é o direito. Nesse
sentido, administra a justiça. Função jurisdicional: Concretiza-se no poder de aplicar o direito.

Se formos procurar a origem da palavra jurisdicional observaremos a junção daquelas duas


expressões latinas iuris vicere.

Também se compreende que o direito, a justiça esteja reservada a órgãos do estado, portanto
para se concretizar aquela tarefa fundamental, é necessário que o próprio estado tenha
organizado um sistema de justiça público. Nós hoje, que tanto falamos no público e no privado,
não ouvimos falar disso na justiça, embora, o próprio estado permita que certas instituições
apliquem o direito, mas é o próprio estado que permite. Portanto, sabemos que a organização
desse sistema de justiça pública existe precisamente para evitar excessos/ abusos que
aconteceriam se existisse um regime de justiça privada. Embora, saibamos também que,
excecionalmente, é possível fazer também aquilo que em linguagem pouco jurídica se chama
de justiça pelas próprias mãos (estado de necessidade, legitima defesa, ação direta). Embora a
justiça privada seja em princípio proibida, há casos excecionais de admissibilidade do recurso á
força.

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O artigo 1º do código de processo civil diz “a ninguém é lícito o recurso á força com o fim de
realizar/ assegurar o próprio direito, salvo os casos e dentro dos limites declarados na lei”. Aqui
têm a consagração da proibição, e portanto se é proibido a cada um de nós recorrer á força
própria para realizarmos ou assegurarmos o nosso próprio direito é necessário que o estado se
organize e que tenha um processo por forma a que as pessoas possam a ele recorrer de modo
a realizar/ assegurar o próprio direito uma vez que, como regra é proibida a justiça privada.

Como resulta do art.º 202 n2 da CRP, uma vez que, o número 1 nos diz que são os tribunais os
órgãos de soberania a quem compete administrar a justiça em nome do povo, há que saber
quais são os fins/ objetivos/ finalidades dessa administração da justiça por parte dos tribunais.
Defender os direitos e interesse legalmente protegidos dos cidadãos, uma das finalidades da
administração da justiça e portanto da função jurisdicional, dirimir os conflitos de interesses
públicos e privados (dirimir no sentido de resolver), e finalmente reprimir a violação da
legalidade democrática (estas são as finalidades da justiça ser administrada por órgãos de
soberania).

Obviamente que quando olhamos para estas três finalidades sabemos que elas têm uma
origem e uma natureza diferente. Quando, por exemplo, se fala em reprimir a violação da
legalidade democrática, estamos a olhar para uma proteção de interesses da coletividade e
portanto é bom que se saiba que essa finalidade tem um cariz objetivo, porque tem a ver com
o interesse coletivo. Quando falamos em direito processual penal é obvio que a finalidade
daquela função olha para os interesses da coletividade. Nós sabemos que há determinado tipo
de atuação que pode colocar em causa aquilo que é o interesse publico, sabemos que há
determinados tipos de comportamentos suscetíveis de causar alarme social. Todos ouvimos
falar do homicídio do triatleta, ou dos casos de violência doméstica. Obviamente que quando
estamos a falar nesta vertente estamos a falar de um cariz mais objetivo.

Quando estamos a falar da tutela de interesses e direitos individuais estamos a falar numa
finalidade de um finalidade cariz subjetiva, já não estamos a falar da tutela dos interesses
coletivos, mas a tutela dos interesses individuais. Por isso é que na tutela dos interesses
coletivos assume especial relevância o direito processual penal, na tutela dos interesses
individuais assume especial relevância o direito processual civil.

De certeza que quando estudamos IED e os vários ramos do direito, e embora estejamos
perante ramos de direito que pertencem ao direito público, o seu objetivo é diferente. Ambos
pertencem ao direito publico porque atendendo ao critério (critério, tem a haver como o
estado intervém na relação, se o estado intervém dotado de poderes de autoridade estamos
perante direito publico).

Direito processual penal: atende á tutela dos direitos da coletividade

Direito processual civil: atende á tutela dos direitos individuais.

Não é porque se chama civil que estamos no âmbito do direito privado.

Organização judiciária: um conjunto de órgãos ou entidades a quem cabe nos termos da


constituição aplicar a justiça. É isto que é o cerne da cadeira.

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Por isso é que iremos estudar para além da organização judiciária propriamente dita, os tais
órgãos dos tribunais, iremos tratar com especial profundidade a parte do processo civil.

Os tribunais

Art.º 202 n1 os tribunais são os órgãos de soberania com competência para administrar a
justiça em nome do povo. Quando os tribunais decidem que devem fazê-lo é representando os
interesses de todos, pensando na coletividade. Por causa, das suas finalidades. Quando se diz
que os tribunais administram a justiça em nome do povo quer-se significar que quando julgam,
fazem-no realizando os interesses da coletividade ainda que estejam em causa
interesses/direitos individuais.

O poder de administrar a justiça em nome do povo é originário, próprio do estado, sem o qual
não podemos falar em estado. Sem um sistema de justiça publico, sério, célere não há justiça e
se não há justiça não há estado.

Para analisarmos a função jurisdicional, é necessário contar com a organização judiciária


(conjunto de órgãos que no nosso ordenamento jurídico administram a justiça). Vimos os
órgãos de soberania que têm esse poder são os tribunais (202 da CRP diz que os tribunais são
órgãos de soberania que administram a justiça em nome do povo). Vimos também na
administração da justiça os tribunais têm e devem assegurar os interesses e direitos legalmente
protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade democrática, dirimir conflitos…
Estes são as finalidades da administração da justiça por parte destes órgãos de soberania: os
tribunais.

Vimos que podiam existir (art.º 209) tribunais que são obrigatórios (de existência obrigatória),
algo que determinamos pela simples leitura do art.º 209. O art.º 209 começa por dizer que
para além da existência do tribunal constitucional existem as seguintes categorias de tribunais:
o tribunal constitucional, o supremo tribunal de justiça e os demais tribunais judiciais, o
supremo tribunal administrativo e os restantes tribunais administrativos e fiscais e o tribunal
de contas. Estes são aqueles que têm uma existência obrigatória porque assim resulta da
constituição. Temos visto nas aulas quer na CRP, quer na lei orgânica do sistema judicial (lei 62/
2013). É essencial conhecer a LOSJ de modo a saber a parcela do poder jurisdicional que cada
um daqueles cidadãos exerce. Não basta sabermos quais são os tribunais que têm que existir,
temos que saber que matérias é que eles julgam, sob que matérias eles julgam e decidem o
direito.

A nossa CRP ainda nos dá outra lista de tribunais, no entanto estes não são obrigatórios, são de
existência meramente facultativa e mais uma vez se lermos o art.º 209, chegamos á conclusão
de serem facultativos. A CRP diz “podem existir”, não diz existem. Estes tribunais são os
tribunais marítimos, arbitrais, julgados de paz, de conflitos e os tribunais militares. Os tribunais
militares vamos deixar de lado, só existem em circunstâncias muito limitadas (quando é
declarado guerra no país).

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Tribunais arbitrais e julgados de paz

Os tribunais arbitrais integram aquilo a que se convencionou chamar meios alternativos de


resolução de conflitos. Embora, o estado, reserve para si o monopólio do exercício da função
jurisdicional, o facto é que o próprio artigo 209 da CRP permite a existência de tribunais
arbitrais. Convém que se tenha uma breve noção do que são os tribunais arbitrais. Como o
nome indica, os tribunais arbitrais estão inseridos na chamada arbitragem, a lei atribui aos
particulares o poder de escolherem quem são as pessoas que vão dirimir um litígio já existente
ou meramente futuro. A arbitragem é isto, é a faculdade atribuída aos particulares de
escolherem terceiros que vão dirimir um conflito que já existe, ou meramente eventual.

EX: Imaginemos que eventualmente celebramos um contrato que tem uma cláusula que prevê
que em caso de litígio o mesmo será resolvido pela arbitragem, ou por arbitro. A decisão que
esses árbitros tomarem tem a mesma força que a sentença de um tribunal de primeira
instância. Vamos pegar na legislação avulsa ao CPC, e vamos abrir na lei 63 2011 14 de
Dezembro. O artigo 1º diz que desde que por lei especial não esteja submetido aos tribunais
do estado, ou a arbitragem necessária, qualquer litígio respeitando a assuntos de natureza
cerimonial pode ser cometido pelas partes diante convenção arbitrária á decisão de árbitros. A
lei atribui aos particulares a faculdade de optarem por este meio de resolução de litígios. ART 1
da lei 63 / 2011 tribunais arbitrais.

Só que esta arbitragem que aqui estamos a falar é a chamada arbitragem voluntária, porque
depende da vontade dos particulares. Ninguém é obrigado só se quiser. Há situações em que o
estado pode impor a arbitragem, e então quando é o estado a impor a arbitragem, então não
é uma arbitragem voluntária. Fala-se em arbitragem necessária. EX: há leis em que o estado
impõe que as partes recorram á arbitragem e, portanto, há arbitragem necessária. Lei 63/ 2019
de 16 de agosto: Sujeita os conflitos de consumo de reduzido valor económico por opção do
consumidor á arbitragem necessária. Se o consumidor optar por recorrer a este modo de
resolução de litígio a outra parte fica obrigada a ir, não se pode opor, porque é a lei que impõe.

Importa saber que a arbitragem embora seja um meio alternativo de resolução de litígio tem
uma natureza jurisdicional. Isto porque os árbitros aplicam o direito. Exercem uma função
jurisdicional porque aplicam o direito. E se formos aos artigos 39 e seguintes da lei 63/ 2011
vemos que a lei fala em sentença, a sentença é a parte do processo em que o tribunal diz qual
é o direito.

Julgados de Paz

Os julgados de paz são também um tipo de tribunal, isto porque estão previstos no artigo 209
da constituição. Mais uma vez utilizando a legislação anexa ao CPC a lei 78/ 2001 de 13 de
julho. No art.º 2º podemos ver quais são os princípios gerais que estão na base dos julgados de
paz. A atuação dos julgados de paz é vocacionada para permitir a participação cívica dos
interessados e para estimular a justaposição dos litígios por acordo das partes. Os julgados de
paz existem para numa primeira finalidade serem as próprias partes por acordo a resolverem o
seu litígio. Outros princípios: simplicidade, adequação, informalidade, oralidade (quase
unicamente falado) e absoluta economia processual (rapidez). Isto são os objetivos, princípios
gerais que presidem aos julgados de paz, mas se as partes não resolverem o seu litígio por

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acordo então o juiz de paz é chamado a decidir. A sua decisão tem uma força igual á da
sentença de um tribunal judicial de primeira instância. Só que o legislador passou um atestado
de menoridade aos julgados de paz, ou seja, o legislador incentiva/ fomenta/ promove que os
litígios sejam resolvidos consoante estes princípios, mas depois passa um atestado de
menoridade. Depois de dizer que a sentença do julgado de paz tem a mesma força que um
tribunal de 1ª instância a parte que perder a decisão do julgado de paz pode recorrer a um
tribunal de 1ª instância. Se no tribunal arbitral a parte que perder o processo recorrer recorre
para o tribunal da relação. Este é o atestado de menoridade que o legislador dá aos julgados de
paz.

ATENÇÃO: NEM TUDO PODE SER RESOLVIDO NUM JULGADO DE PAZ, OS JULGADOS DE PAZ SÓ
TÊM COMPETENCIA PARA QUESTOES CUJO VALOR NÃO EXCEDA 15 MIL EUROS.

Estamos a falar de dois tipos de tribunais que estão previstos na CRP e as suas decisões têm
força idêntica á sentença de um tribunal de 1ª instância. Ambos têm uma natureza jurisdicional
porque ao decidirem aplicam o direito, e quem aplica o direito são terceiro que devem ser
independentes e imparciais. Quem escolhe os árbitros são os próprios litigiosos, cada um paga
os honorários dos árbitros que escolheram e como estes árbitros têm que escolher um terceiro
os honorários desse 3º são pago 50/50. É natural que o árbitro que um dos lados escolheu seja
mais benéfico para quem o escolheu e por isso é que há o 3º.

Estamos perante decisões proferidos por terceiro que aplicam o direito, têm natureza
jurisdicional. Ao contrário, de outros meios de resolução de litígios como a mediação e a
conciliação. Na mediação também existe um terceiro, só que esse terceiro não decide nada,
este só tenta aproximar as partes/ estabelecer pontes de diálogo. A mediação não tem por isso
natureza jurisdicional. Também não tem natureza jurisdicional a conciliação porque a
conciliação são as partes que decidem tal como na mediação.

CPC art.º 591. Estamos num processo judicial que se passa perante os tribunais do estado e
chegamos a uma fase do processo que se chama audiência prévia (isto porque no processo á
duas audiências, a prévia e a final). Audiência final também é conhecida como julgamento. A
primeira finalidade da audiência prévia é realizar tentativa de conciliação. Se formos ao artigo
594 diz-se que quando a causa couber nos poderes de disposição das partes pode ter lugar em
qualquer fase do processo tentativa de conciliação, desde que as partes a queiram ou o juiz a
considere oportuna. O no3 do 594 diz que a tentativa de conciliação é presidida pelo juiz. O juiz
deve empenhar-se ativamente na obtenção da solução de equidade assegurada aos termos do
litígio. Ao contrário do mediador ele está aqui como conciliador. Frustrando-se total ou
parcialmente a conciliação ficam consignadas em ata as concretas soluções sugeridas pelo juiz.
Se não conseguirem chegar a conciliação aqui o artigo 604 diz que antes da audiência final o
juiz deve procurar conciliar as partes. Há uma tentativa óbvia e intensa de fazer com que o
litígio seja decidido pelas partes.

Meios alternativos de resolução de litígio são 3: tribunais arbitrais (são verdadeiros tribunais,
estão no art.º 209 n2 da CRP, têm natureza constitucional, porque aplicam o direito), os outros
dois são mediação e conciliação, no entanto, estes não têm natureza jurisdicional porque não
há terceiro a aplicar direito são as próprias partes que o resolvem).

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Art.º 1248 do CC transação: de transigir, o artigo diz que transação é o contrato pela qual as
partes previnem ou terminam um litígio mediante reciprocas concessões. Quando as partes
através da mediação/ conciliação puserem fim a um litígio fazem-no mediante múltiplas
concessões. Os julgados de paz embora sejam tribunais não integram as categorias comuns dos
tribunais. São tribunais incomuns, embora sejam verdadeiros tribunais.

Para o tribunal de conflitos interessa ter a lei 91/ 2019 de 4 setembro.

Competência: Temos vários tribunais, os litígios são da mais variada natureza, portanto temos
de saber que tribunal que julga o quê. Por exemplo, temos de saber qual é o poder
jurisdicional que compete a cada tribunal. A competência é a fração ou a parte do poder
jurisdicional que cabe a cada tribunal.

Lei de organização do sistema judiciário: lei 62/ 2013 de 26 de agosto

Artigo 29 LOSJ- é um artigo muito semelhante ao artigo 209 da CRP.

Neste artigo vemos o tribunal constitucional. Se olharmos para o artigo 3º da lei percebemos
qual é o objeto da competência do TC. A natureza daquilo que aprecia e julga. “Ao TC compete
especificamente administrar a justiça em matérias de natureza jurídico-constitucional.” Esta é a
competência do TC. É administrar a justiça em matéria jurídico-constitucional. Por exemplo:
Quando há dúvida sobre a constitucionalidade de uma lei o presidente pode enviá-la para o TC.
O TC pode apreciar sobre a constitucionalidade da lei. Pode apreciar também de forma
sucessiva desde que seja requerido por quem a lei prevê.

O art.º 29/ 209 da CRP diz que compete ao tribunal aplicar a justiça em matérias
jurídico-constitucionais. O TC administra especificamente as questões de natureza
jurídico-constitucional.

Tribunais judiciais (supremo tribunal de justiça e os restantes tribunais judiciais e 1ª e 2ª


instancia).

O supremo tribunal administrativo e os restantes tribunais administrativos e fiscais: A lei de


organização do sistema judiciária no seu artigo 144 afirma que aos TA e fiscais compete o
julgamento de litígios emergentes de relações jurídicas administrativas e fiscais. O objeto da
competência destes tribunais é o julgamento/ apreciação de litígios de natureza administrativa
e fiscais. Na CRP o art.º 212 n3 diz que compete aos tribunais administrativas e fiscais o
julgamento das ações e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relações jurídicas administrativas e fiscais. Este é o núcleo da competência
destes tribunais. Se formos ao art.º 145 da LOSJ temos presentes as várias categorias dos
tribunais administrativos e fiscais: o supremo tribunal de justiça no topo da hierarquia, os
tribunais centrais administrativos (porque são dois, o tribunal central administrativo norte e
sul), e na base da hierarquia temos os tribunais administrativos de círculo para as questões
administrativas e os tribunais monetários para as questões fiscais. Isto é a estrutura da ordem
judicial dos TA e fiscais. Art.º 145

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No art.º 209 segue-se o tribunal de contas, o tribunal de contas está referido na CRP. No art.º
149 da LOSJ temos aí o tribunal de contas é o órgão supremo de fiscalização da legalidade e
regularidade das receitas e das despesas públicas, e do julgamento das contas que a lei mandar
submeter-lhe, aprecia a boa responsabilidade financeira e efetiva responsabilidade por
infrações financeiras, competindo-lhe (despois as matérias para o qual o tribunal de contas
tem competência. A fração do poder jurisdicional que compete ao tribunal de contas são os
presentes no art.º 149 da LOJ. Já agora para complementar o art.º 214 diz o mesmo.

Dentro dos tribunais de existência obrigatória falta-nos agora o STJ. Os tribunais judiciais de
segunda instância (tribunais da relação), tribunais judiciais da 1ª instancia (comarcas): estes
são aqueles que vamos trabalhar mais. São estes que analisam a generalidade dos litígios. O
art.º 211 da CRP afirma que os tribunais judiciais são os tribunais comuns/ normais/ordinários
em matéria cível e criminal. A CRP diz também que exercem jurisdição em todas as áreas não
atribuídas a outras ordens judiciais. Tudo o que não cair nas competências dos tribunais
administrativos e fiscais, tudo o que não cair no TC cai nos tribunais judiciais. A isto se diz que
estes tribunais têm uma competência residual. Julgam tudo, apreciam tudo, têm poder
jurisdicional sobre tudo aquilo que não compita a outras ordens judiciais e por isso é que são
tribunais comuns. Julgam a generalidade dos litígios em matéria cível, criminal e em todas as
outras que não estejam na competência dos outros tribunais. Art.º 211 da CRP

Diz-nos ainda o art.º 210 da CRP: que o STJ é o órgão superior da hierarquia dos tribunais
judiciais. O STJ é o órgão superior da hierarquia, está no topo da hierarquia dos tribunais. Os
tribunais de 1ª instância são em regra os tribunais de comarca, os tribunais de segunda
instância são em regra os tribunais da relação.

LOSJ:

Nos artigos 31 e seguintes

A necessidade de haver uma hierarquia judiciária é por causa dos recursos. Quem não
concorda com determina decisão pode recorrer a um tribunal superior. Nem todas as decisões
são suscetíveis de recurso. Um dos vetores que limita a possibilidade de recurso é o valor da
causa. Quando o valor da causa se insira na alçada do tribunal a que se pretende recorrer, essa
decisão não admite recurso. Alçada é o valor até ao qual um tribunal julga sem possibilidade de
recurso.

O art.º 44 da LOJ diz quais são os valores da alçada:

-tribunal de 1ª instância: 5 mil euros;

-tribunal de 2ª instância: 30 mil;

O A vendeu ao B um automóvel de 20 mil euros, e o B intenta uma ação contra o A dizendo que
o automóvel tem o motor mau, querendo anular o contrato. Propõe uma ação. A defende-se
dizendo que o carro está ótimo e A consegue convencer o tribunal que o carro estava ótimo. O
B fica furioso e quer recorrer. Todas as ações de natureza cível têm de ter um valor. Neste caso

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o valor era de 20 mil euros para saber se é possível recurso, determinar a competência do
tribunal e para efeito de pagamento das taxas de justiça.

CPC: artigos 296 e seguintes: No art.º 301 diz-se que quando a ação tiver por objeto a
apreciação da existência, validade, cumprimento, resolução de um ato jurídico atende-se ao
valor do ato determinado. Todas as ações independentemente do valor que tenham iniciam-se
pelo tribunal de 1ª instância.

O legislador em certas alturas quando não é possível fixar o valor (art.º 303 CPC) diz que as
ações sobre o estado das pessoas ou sobre interesses imateriais consideram-se sempre de
valor equivalente á alçada da relação e mais um cêntimo para poder ser superior aos 30 mil.
Uma ação de divórcio tem sempre um valor de 30 mil euros mais 1 cêntimo por exemplo.

Função jurisdicional: poder de aplicar o direito.

A atividade de aplicar o direito está sujeita a vários princípios. O primeiro princípio é o


princípio da independência dos tribunais. Como nós sabemos o estado encontra-se repartido
por vários poderes e os tribunais no exercício da função jurisdicional devem encontrar-se
exclusivamente subordinados ao direito. O poder executivo não deve intervir no poder judicial.
Um estado só é estado de direito se o poder de julgar não se encontrar na dependência do
pode executivo. Este princípio está presente no artigo 203 da CRP que diz que os tribunais são
independentes e apenas estão sujeitos á lei. Encontramos 3 concretizações deste princípio: o
primeiro a independência pessoal dos juízes, a independência coletiva e a independência
funcional. Portanto, começamos pela independência funcional que significa que no exercício
da sua função só devem obediência às diferentes fontes do direito. A independência coletiva,
os juízes formam um corpo único e regem-se por um só estatuto. Os juízes/ magistrados
judiciais têm um estatuto próprio que regula a sua função e de forma a concretizar esta sua
independência têm como órgão superior de gestão o conselho superior da magistratura. Este
órgão decide as sanções a aplicar aos juízes, decide as movimentações do juiz e é um órgão
maioritariamente composto por juízes, a independência pessoal, também os próprios juízes
devem ser independentes, devem atuar apenas e só pela sua convicção, ou seja não pode ser
influenciado por fatores externos ao direito. Para isso, a lei cria uma série de garantias e de
incompatibilidades. O art.º 215 da CRP afirma que os juízes dos tribunais judiciais formam um
corpo único e regem-se pelo seu estatuto. No art.º 218 está presente a composição do
conselho superior de magistratura que é dirigido pelo presidente do supremo e depois os
seguintes vogais: dois designados pelo PR, sete eleitos pela AR e 7 juízes eleitos pelos seus
pares. Há sempre pelo menos 8 juízes. O juiz é um ser humano mas quando se diz que ele deve
atuar de acordo com a sua consciência e convicção daquilo questão os factos não deixa de ser
humano, podendo ser influenciado, daí a necessidade de se criar certas garantias. No art.º 216
diz-se que os juízes são inamovíveis, não podendo ser transferidos, suspensos, aposentados ou
demitidos senão nos casos previstos nas leis. Os juízes não podem ser responsabilizados pelas
suas decisões, exceto nos casos previstos na lei, vê-se assim que os juízes são irresponsáveis
neste sentido. Os juízes em exercício não podem desempenhar qualquer outra função pública
ou privada, salvo as funções docentes, ou de investigação científica de natureza jurídica não
remunerada. Art.º 216 inamovibilidade, existência de uma série de incompatibilidades e da

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autonomia no exercício da sua função jurisdicional. Um juiz do tribunal da comarca não é
menos que um juiz da relação. Os tribunais é que são superiores uns aos outros.

Princípio da imparcialidade: consequência necessária da independência dos juízes e da sua


necessária subordinação á lei. Significa que um juiz deve permanecer/ manter-se equidistante
relativamente ás partes (símbolo da justiça) e deve atuar com isenção e objetivamente. As
questões subjetivas não podem vir ao de cima. É este princípio que justifica várias
concretizações: o dever legal de um juiz se declarar impedido (115 e seguintes do CPC),
justifica a faculdade/ poder/ direito de um juiz pedir escusa ou dispensa de um determinado
poder, e justiça o poder que se dá às partes de apresentarem os chamados incidentes de
suspensão ou de recusa ou de requerer a declaração de impedimento do juiz. Significa que no
CPC aquelas garantias de imparcialidade dividem-se em impedimentos (situações que podem
criar um elevado risco de parcialidade e portanto constituem o juiz no dever de abster-se) as
situações de suspeição que são de menor risco mas são suscetíveis de colocar em a
imparcialidade e portanto nesses casos o juiz tem o poder de pedir dispensa.

ART 115 do CPC: Nenhum juiz pode exercer as suas funções em jurisdição contenciosa ou
voluntária… Quando seja parte na causa… por si ou como representante de outra pessoa, ou
quando nela tenha m interesse que lhe permitisse ser parte principal (um juiz que vai julgar um
litigio entre os irmãos do juiz de que ele pode beneficiar.

Quando seja parte da causa por si ou por parte de outra pessoa o seu cônjuge ou algum seu
parente ou afim, ou em linha reta, ou em segundo grau da linha colateral.

AFINIDADE É ENTRE UMA PESSOA E OS FAMILIARES DA MULHER DESSA PESSOA.

Situações em que o juiz tem o dever de se abster/ de não intervir no processo. Art.º 116,
quando se verifique alguma das causas do artigo anterior o juiz deve declarar-se impedido
podendo as partes requerer a declaração do impedimento até á sentença. Se o juiz não
cumprir o seu dever as partes podem requerer a declaração de impedimento.

Não são só os juízes, o art.º 118 fala também de investimentos e funcionários públicos e dos
funcionários da secretaria.

Suspeições: art.º 119 Nas suspeições o juiz tem o poder de pedir para ser dispensado na causa
quando certos casos de verificam se considerar que pode haver duvidas sobre a
imparcialidade. O juiz pela sua própria vontade não pode declarar-se suspeito mas pode pedir
suspensa ou nos casos previstos ou numa circunstância em que possa ser considerado parcial.

Art.º 120: As partes podem opor suspeição ao juiz quando ocorrer motivo sério e grave
adequado a gerar desconfiança sobre a sua imparcialidade nomeadamente:

- Se existir parentesco ou afinidade não compreendidos no artigo 115 em linha reta ou até ao
4º grau da linha colateral…

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Princípio da irresponsabilidade dos juízes

Principio que tem consagração expressa na CRP, Diz-nos o art.º 216 n2 da CRP que os juízes
não podem ser responsabilizados pelas suas decisões, salvas as exceções consagradas na lei. O
que se procura com o princípio da irresponsabilidade dos juízes? Em primeiro lugar, para que
eles se mantenham independentes e imparciais e que não possam existir quaisquer
circunstancias que possam implicar quer o medo, ou receio de um castigo, mas também que
não impliquem a esperança, a expectativa de receber um prémio. Portanto, o que se pretende
é que quando os juízes estão a exercer a sua função nobre de administrar a justiça em nome do
povo, que o façam de cabeça limpa, apenas de acordo com a sua mais intima convicção acerca
dos factos que se passaram ali á sua frente. Se um juiz estiver a julgar condicionado, está a
julgar com medo e isso não e possível. O que se quer é evitar que existam circunstâncias que
impliquem algum medo/ receio de uma comissão ou expectativa/ esperança de um prémio.
Isto não quer dizer que seja um princípio absoluto, de facto há situações (de maior gravidade/
censurabilidade) em que os juízes podem ser obrigados a responder pelas consequências
negativas da sua conduta. Em princípio os juízes são irresponsáveis mas há situações de
especial censurabilidade que os podem levar a responder.

Situações de responsabilidade dos juízes:

-Situações de responsabilidade civil por erros judiciários (situação prevista na lei 67/ 2007,
alterada em 2008), responsabilidade civil significa que alguém é chamado a responder pelos
seus atos e se esses atos causarem danos/prejuízos é obrigado a repará-los. No código civil, há
um artigo que diz que quem estiver obrigado a reparar um dano deve reconstituir a situação
que existiria se não se tivesse verificado o evento que obriga á reparação (562),
responsabilidade civil. Existe responsabilidade civil quando alguém está obrigado a reparar um
dano que causou a outro. Também os juízes podem ser chamados a essas responsabilidades as
coisas passam-se diferentes do que é normal. Isto porque não nos podemos esquecer que a
função jurisdicional é uma função do estado, entregue aos tribunais enquanto órgãos de
soberania, e nessas situações quando existe erro judiciário, quem é chamado a responder por
uma decisão manifestamente errada/ manifestamente inconstitucional/ilegal/ cometida com
um erro grosseiro (aquele erro que o bónus pater família não comete). Nestas situações a ação
é interposta contra o estado porque o estado é o titular do poder jurisdicional exercido através
dos tribunais. O que acontece é que se o estado for condenado por causa de uma decisão
jurisdicional manifestamente inconstitucional/ ilegal/ injustificável em erro grosseiro, o estado
fica com direito de regresso sobre o juiz. Ou seja, o estado paga a indeminização mas depois
pode vir a pedir essa indeminização ao juiz. Há situações em que os juízes podem ser
responsabilizados ainda que por via da ação de regresso ainda que pelo estado. É necessário
que depois se prove que há dolo (intenção malévola) ou culpa grave (é a negligencia
consciente). É o ministério da justiça que pode exercer o direito de regresso.

Mas as atuações dos juízes também podem configurar crime. Mas quais são os crimes que
também podem ser praticados neste caso: denegação de justiça (art.º 8º do CC fala da
obrigação de julgar e do dever de obediência á lei, o tribunal judicial não pode abster-se de
julgar invocando a falta ou obscuridade da lei, ou duvida insanável. Ora, se um juiz se recusar a
julgar comete um crime de denegação de justiça, atenção que a lentidão/ morosidade dos

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processos por vezes equivale á violação do dever de julgar, quando é preterida a sentença os
efeitos que se preteriam com ela já não têm qualquer valor. O estado português tem sido
condenado pelo tribunal europeu dos direitos humanos precisamente pela denegação da
justiça, devido á morosidade e lentidão dos processos. Um crime de prevaricação (um
funcionário que no âmbito do inquérito processual, processo jurisdicional por contraordenação
disciplinar, conscientemente portanto com dolo e contra o direito promover ou não promover,
conduzir, decidir ou não decidir é punido com pena de prisão ate dois anos ou com pena de
multa até 120 dias. Se praticar uma conduta que caiba num destes crimes pode ser preso.

Responsabilidade disciplinar: Os juízes formam um corpo único e são regulados por uma
entidade autónoma: Conselho superior da magistratura que exerce o poder disciplinar sobre os
juízes. Ora se um juiz violar algum dever disciplinar pode incorrer também em responsabilidade
disciplinar. A sanção mais grave é a aposentação compulsiva. Portanto um juiz que viole os
princípios e deveres consagrados no estatuto dos magistrados judiciais pode inclusivamente
receber uma sanção disciplinar. Juízes não podem realizar atividades que se mostrem
incompatíveis com os requisitos dependência, imparcialidade e dignidade necessários ao
exercício das funções. Não pode praticar qualquer ato que exija remuneração para além das
únicas atividades previstas na lei, atividades de docente ou de atividade científica em
remuneração. Os juízes não podem que receber nada de ninguém. Há regras que quem quiser
ser juiz tem de respeitar.

Dever de Fundamentação: Nós sabemos que a principal função dos juízes é julgar, mas,
convém que quando estes julgam convençam as pessoas de que aquela decisão é correta/ a
melhor. Um juiz não pode condenar alguém sem fundamento e é aqui que aparece o chamado
princípio da obrigatoriedade da fundamentação das decisões judiciais. O artigo 205 da CRP
refere este princípio, as decisões dos tribunais que não sejam de mero expediente são
fundamentadas na forma prevista na lei. Se formos ao CPC art.º 154 diz-se aí que as decisões
proferidas sobre qualquer pedido controvertido, ou sobre alguma dúvida suscitada no processo
são sempre fundamentadas. O legislador vai ainda mais longe e também diz que a justificação
não pode consistir na simples adesão aos fundamentos alegados pelas partes. TEM QUE SE
FUNDAMENTAR. Isto com exceção das decisões que são de mero expediente, ou seja, no art.º
152 n4 CPC os despachos de meros expedientes destinam-se a prover ao andamento do
processo, sem interferir no conflito de interesse entre as partes. Á certos despachos que o juiz
emite que sem interferir com a substância do litígio, no conflito de interesses entre as partes,
esses não precisam de ser fundamentados. Por exemplo ao marcar um julgamento não é
preciso fundamentá-lo.

O prof Gomes Canotilho invoca algumas razões que justificam o princípio da obrigatoriedade
da fundamentação das decisões judiciais:

-1º Para controlar a administração da justiça: só assim é que nós conseguimos perceber se a
decisão é manifestamente inconstitucional, manifestamente injustificada/ ilegal/ se há um erro
grosseiro;

-2º Excluir das decisões o chamado carater voluntarístico e subjetivo, isto porque obviamente
todas as decisões denotam uma opinião que tem sempre um quê de subjetividade. Mas é

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profundamente para mitigar essa subjetividade que se deve fundamentar as decisões. Para
demonstrar a racionalidade e coerência argumentativa:

-3º Para que o tribunal superior quando vai decidir o tal recurso possa ver qual foi a razão
daquela decisão, como sabemos as decisões dos tribunais são suscetíveis de recurso, portanto,
importa o conhecimento da decisão por um tribunal hierarquicamente superior, portanto é
importante que o tribunal superior saiba qual foi o fundamento da decisão;

- 4º Atribuir às decisões um carater persuasivo, portanto quanto melhor for a fundamentação


mais as pessoas ficam convencidas;

Princípio da obrigatoriedade das decisões: A constituição diz no art.º 205 n2 que as decisões
dos tribunais são obrigatórias e que prevalecem sobre as de quaisquer outras autoridades.
Mas, quando olhamos para este princípio (princípio da obrigatoriedade das decisões) e quando
lemos o que diz a constituição podemo-nos perguntar: mas o que é que eu tenho a ver com
aquela decisão? Se há uma sentença que resolve um litígio entre A e B o que é que C tem a ver
com aquela decisão, se ele nem sequer participou naquele processo? Primeira nota, não
significa que as decisões produzam efeitos para todos. A expressão em latim “erga homnes”,
que significa apenas que todos temos de respeitar os efeitos daquela sentença. Por exemplo se
há uma sentença que resolveu um litígio entre o A e o B, dizendo que o B é o proprietário nós
acatamos a sentença que não nos diz nada mas não podemos atuar como se o proprietário
fosse A e não B. Se a sentença diz que é de B, essa sentença tem de ser respeitada, assim como
os seus efeitos, neste caso o facto de B ser o proprietário. Os efeitos das sentenças têm de ser
respeitados. Embora as decisões sejam obrigatórias isso não implica que elas produzam efeitos
para todos, mas apenas que todos devem respeitar a sua eficácia.

EX: Se o A pediu e lhe foi dada razão de que ele é proprietário de X e pedir ainda a condenação
de B na sua entrega, o C não fica impedido se achar que é o proprietário do terreno. Embora
tenha de aceitar a sentença daquele processo em que se chegou á decisão de que o A é que
era proprietário.

C não pode pôr em causa que existiu uma sentença que declarava A como proprietário
(autoridade da sentença), embora tenha de respeitar os efeitos não está por eles abrangidos,
isto porque não foi parte neste processo, e porque o caso julgado só produz efeito/ só é eficaz
quanto às partes. É assim que temos de interpretar o princípio.

As decisões dos tribunais são obrigatórias, no entanto não produzem efeitos a todos, não
abrangem C, embora este tenha de aceitar a decisão.

Convém também distinguir quais são os efeitos da sentença, e é normal dizer que a sentença
pode ter 2 efeitos:

- um efeito declarativo/ efeito constitutivo das sentenças: ou seja, a sentença declara diz de
forma vinculativa/ imperativa qual o direito, aplicável aos factos. A sentença não altera o

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conteúdo da situação, limita-se a declarar de forma imperativa/ vinculativa qual é que é o
direito. Torna certa ou mais certa uma realidade jurídica já existente. Neste caso não foi a
sentença que constituiu o A como proprietário, ele já era proprietário, ou porque comprou, ou
porque herdou, ou porque lhe foi doado… o tribunal vai é declarar de forma imperativa que
ele é o proprietário por alguma razão.

Mas ao contrário, as sentenças também podem modificar/ alterar a ordem jurídica existente
constituindo/modificando/ ou extinguindo situações jurídicas. Por exemplo, numa ação de
divórcio os cônjuges entram num tribunal casados, se a sentença decretar o divórcio saem de
lá divorciados. A sentença altera uma situação jurídica existente. Outro exemplo, reconhece-se
que Abel é o pai de bento, não é a sentença que constituiu Abel como pai de Bento, esta
limita-se a declarar que Abel é pai de Bento.

Estes são os efeitos que resultam das sentenças/ a eficácia que resulta das sentenças, neste
caso o efeito é o de declarar.

Outro exemplo: A com 14 anos, vende um imóvel que tinha herdado do seu avô ao bento. Algo
que com 14 anos não podia fazer, porque é menor. As pessoas que exercem as
responsabilidades parentais podem requerer a anulabilidade, se o tribunal a decretar o
contrato extingue-se. Extingue-se o efeito jurídico, portanto foi a sentença que extingui o efeito
jurídico.

Nulidade vs anulabilidade: Se A vende a B um imóvel verbalmente este negócio é nulo visto


que nunca chega a produzir efeitos. A sentença que resulta não destrói, limita-se a declarar
uma situação.

As sentenças por sua vez a partir de uma determinada altura tornam-se imodificáveis,
tornam-se imodificáveis porque deixa de ser possível a sua bonificação. Isto porque a partir de
uma certa altura são insuscetíveis de recurso ordinário ou de reclamação. Isto chama-se
transito em julgado.

O trânsito em julgado consiste na impossibilidade de recurso ordinário ou de reclamação (nos


termos do artigo 628). E uma vez transitada em julgado a sentença adquire uma qualidade:
Caso julgado. O que significa que ele se torna imodificável. Produz um efeito preclusivo:
significa que a partir desta altura, momento em que se constitui caso julgado, regra geral é
impossível haver uma outra decisão que seja incompatível com a decisão anteriormente
declarada.

Se esta sentença transitar em julgado adquire a qualidade de caso julgado e o B fica


impossibilitado de obter uma sentença numa ação contra o A que seja incompatível com a que
declarou A proprietário.

O caso julgado tem limites, a regra é da eficácia relativa do caso julgado, significa que regra
geral o caso julgado apenas produz efeitos para as partes. Depois de 30 dias sem se recorrer
de uma decisão essa decisão transita em julgado, se transita em julgado constitui caso julgado.

A sentença uma vez proferida caso seja insuscetível de recurso ou de reclamação nos termos
do art.º 628 transita em julgado, tendo transitado em julgado adquire a qualidade de caso

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julgado. Isto significa que a sentença é imodificável (extingue-se o poder de obter uma outra
declaração por parte do tribunal que seja incompatível com a decisão anterior.

O caso julgado tem requisitos e tem limites. Regra geral o limite subjetivo do caso julgado é de
que este apenas abrange as suas próprias partes. As suas partes são os intervenientes do
processo.

CPC art.º 580: Conceitos de litispendência e caso julgado. As exceções de litispendência e do


caso julgado pressupõem a repetição de uma causa. Se a litispendência e o caso julgado
pressupõem a repetição de uma causa qual a litispendência e qual o caso julgado? Voltemos ao
artigo: se a causa se repete estando a anterior ainda em curso há lugar a litispendência, se a
repetição se verifica depois de a primeira causa ter sido decidida por sentença que já não
admite recurso ordinário há lugar á exceção do caso julgado.

Requisitos da litispendência e do caso julgado (581), repete-se a causa quando se propõe uma
ação idêntica á outra quanto aos sujeitos ao pedido e á causa de pedir. Identidade de sujeitos
de pedido e de causa de pedido, depois a lei explica o que são estas identidades.

Autoridade da sentença: Significa que a sentença é obrigatória para aqueles sujeitos que
estão abrangidos pela sua eficácia. Isto é diferente de se ter de respeitar os efeitos de algo.
Quando no art.º 205 n2 da CRP se diz que as decisões são obrigatórias para todas as entidades
não se quer com isso dizer que o caso julgado, produza efeitos para todos, não é isso que se
quer dizer. Quer-se dizer que todos têm de respeitar os seus efeitos, mas dentro de certos
limites. O C tem que respeitar a eficácia do caso julgado decorrente desta sentença, mas não
está abrangido por ela. Daí pode aplicar uma ação contra A, A não pode invocar o caso julgado,
porque C não está abrangido. Ninguém pode por em causa esta sentença o que acontece é que
o C não está abrangido pela eficácia da sentença, porque quando se diz que as sentenças são
obrigatórias não se quer dizer que todos ficam impedidos de obter uma sentença que retire a
eficácia de uma sentença anterior. Quer-se dizer que todos têm que respeitar os seus efeitos,
havendo alguns limites.

Vimos que o princípio da obrigatoriedade das decisões judiciais tem de ser entendido
convenientemente por causa das noções que vimos, e por causa do princípio da eficácia
relativa do caso julgado.

Quando a CRP no art.º 205 n2 diz que as decisões judiciais são obrigatórias isso não significa
que o caso julgado que é produzido pela sentença transitado em julgado produzem efeitos
contra todos, ou seja, que a impossibilidade de a modificar abranja todas as pessoas, não é isso
que quer dizer mas apenas e tão só todos têm que respeitar os seus efeitos mas dentro de
certos limites.

O exemplo: A intenta uma ação contra B pedindo ao tribunal que reconheça que ele, A, é o
proprietário sobre o bem X porque o havia comprado a C e pede também a condenação do B a
entregá-lo. Esta ação é julgada procedente e a sentença transita em julgado, ou seja, já não é
suscetível de recurso ordinário nem de reclamação nos termos do art.º 628 do CPC. É uma
sentença meramente declarativa. Por si só não altera a ordem jurídica existente. O A já era
proprietário não apenas porque a ordem jurídica existente não é alterada, o A já era

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proprietário porque comprou. Ele já é o proprietário por via do contrato, não porque a
sentença o diz, a sentença limita-se a declarar. Portanto, a sentença não é constitutiva.

Transitado em julgado, já não é suscetível de recurso ordinário nem de reclamação, adquire a


qualidade de caso julgado (imodificável), efeito preclusivo (perdeu-se a possibilidade de
alterar). Portanto o B que foi parte (era o réu) fica impedido de obter contra o A uma sentença
que com base nos mesmos factos declare uma situação incompatível com aquela que ficou
declarada de forma vinculativa na 1ª ação.

Ação ser julgada procedente: ser julgada em favor de quem pede, o autor). Portanto o B com
base naqueles factos fica impedido de obter a modificação, ou seja, se o B propusesse contra o
A uma ação baseada naqueles factos dizendo que ele é que era o proprietário, A pode-lhe opor
o caso julgado.

Vamos supor que agora C afirma ser o verdadeiro proprietário de X. Será que aquela sentença
o abrange? Não porque C não foi parte naquela ação e, portanto, ele pode ser admitido a
demonstrar em Portugal que é o verdadeiro proprietário. Ele não está impedido de obter uma
sentença que retire eficácia á primeira. Embora não se possa pôr em causa (autoridade da
sentença) que existiu uma sentença que declarou que A era o proprietário, o que acontece é
que o C não está vinculado á eficácia da sentença porque não está abrangido por ela. No
entanto, tem de respeitar a sua autoridade. Tem de respeitar os efeitos que aquela sentença
produziu entre o A e o B.

Conceitos que é preciso precisar:

Conceitos de caso julgado

Caso julgado: Qualidade da sentença (é um tipo de decisão de tribunais da 1ª instância) ou da


decisão que se torna imodificável em virtude de ter transitado em julgado. Se lerem o art.º 628
do CPC está lá a noção de trânsito em julgado.

O art.º 628 diz que a decisão se considera transitada em julgado logo que não seja suscetível
de recurso ordinário ou de reclamação.

Transitada em julgado a decisão constitui caso julgado.

O caso julgado por sua vez pode assumir duas modalidades:

- Caso julgado formal:

-Caso julgado material:

O A intentou uma ação contra o B alegando que lhe vendeu um automóvel estragado, portanto
o contrato devia ser anulado. B vem dizer na contestação que é parte ilegítima (para que possa
haver uma ação têm que ser reunidos vários pressupostos, por exemplo as partes têm que ter
personalidade judiciária (tem quem tem personalidade jurídica), as partes têm que ter
capacidade judiciária (para estarem por si só em juízo e por isso têm que ter capacidade de
exercício por si próprias), têm que ter legitimidade, o tribunal tem que ser competente…

O pedido que A fazia era a nulidade do contrato.

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Vamos supor que o tribunal considera que o B é parte ilegítima (não tinha de estar no
processo), um dos pressupostos é que a parte tenha legitimidade, portanto se não tem é
ilegítimo. O que o tribunal vai fazer é que quando declara que o B é parte ilegítima, já não vai
conhecer o pedido. Acaba logo ali o processo e vai absolver o réu da instância. O TRIBUNAL
NÃO CONHECE O PEDIDO.

As situações normais, os pressupostos estão todos cumpridos, podendo as partes seguirem o


caminho normal, sendo este as partes discutirem em julgamento o seu litígio e depois haver
uma sentença. A sentença vai conhecer o pedido. Se julgar o pedido procedente deu razão ao
autor, seu deu razão ao autor decreta a nulidade. Pode também dizer que A não fez provas que
o carro estava em más condições, e, portanto, absolve o réu do pedido. Ou seja, o tribunal
conhece o pedido, julga o improcedente e absolve o réu do pedido.

Absolvição da instância: o juiz não conhece o pedido

Absolvição do pedido: quando o juiz conhece o pedido

Quando haja uma absolvição da instância estamos perante uma decisão que foi proferida
sobre a relação processual. Ou seja, quando o juiz entende que B é parte ilegítima está a
debruçar-se sobre uma questão meramente processual.

Quando assim seja, quando essa decisão transitar em julgado diz-se que o caso julgado é
formal, isto porque essa decisão apenas tem força no próprio processo em que a decisão é
proferida. Significa que naquele processo o juiz já não pode dizer que o B é parte legítima. Já
disse que é ilegítima transitou em espaço geral naquele próprio processo o A não fica impedido
de propor nova ação contra o B. isto porque o caso julgado apenas produziu efeitos dentro do
processo em que a decisão foi proferida.

Quando o juiz conhece o pedido, diz-se que ele conhece sobre o mérito da causa, e quando
conhece o mérito da causa, o caso julgado que se forma é o caso julgado material e o caso
julgado material tem força, produz efeitos dentro e fora do processo.

Por isso é que numa outra ação estiverem em causa os mesmos factos e o mesmo pedido a
outra parte pode dizer que isso já constituiu caso julgado.

O art.º 619 diz que transitada em julgado a sentença ou o despacho saneador que decida do
mérito da causa (é conhecer o pedido, julgando-o procedente ou improcedente) a decisão
sobre a relação material controvertida fica a ter força obrigatória dentro do processo e fora
dele. Dentro, obviamente dos artigos 580 e 581. Os limites são: tem que haver identidade de
sujeitos, identidade de causa de pedido, identidade do pedido.

Art.º 620 as sentenças e os despachos que recaiam unicamente sobre a relação processual,
têm força obrigatória dentro do processo. E quando é que a decisão conhece unicamente sobre
a relação processual? Quando o juiz profere certas razões que nada têm a ver com o
reconhecimento da causa do mérito. Não tem nada a ver como conhecimento do pedido.
Portanto esta distinção temos que a saber e principalmente o significado das palavras.

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A palavra instância tem vários significados: tem o significado de as perguntas que se fazem a
testemunhas, também significa a relação jurídico-processual que se estabelece entre um
autor o tribunal e o réu. Por isso se a instância acaba porque não estão reunidos alguns dos
pressupostos processuais o juiz não conhece o mérito.

O direito processual é direito público porque o tribunal não está ao mesmo nível que as partes
(ius imperi), poderes de autoridade.

Podemos dizer que o caso julgado tem uma função negativa e uma função positiva. A função
negativa é a mais corrente, que aliás está prevista no artigo 580 do CPC, não nos podemos
esquecer que os tribunais exercem uma função nobre, exercer a justiça em nome do povo e
portanto o tribunal não pode/ não deve ser colocado na alternativa de ter que contradizer/
colocar em causa/ repetir uma decisão anterior, e é isto que constitui a função negativa do caso
julgado. Evitar que o tribunal seja colocado naquela posição/ naquela alternativa de ter de
contradizer ou reproduzir uma função anterior e é esta função que dá lugar á exceção do caso
julgado. Se o A intenta uma ação contra o B, o tribunal conhece do mérito do pedido, absolveu
o B do pedido, a decisão transitou em julgado, constitui caso julgado, e agora o A vem intentar
a mesma ação contra B. não pode fazer isso porque B pode dizer que já é caso julgado, já
constituiu caso julgado material. O juiz fica impedido de apreciar o mérito da causa.

Mas, qual é que é a função positiva? Embora semelhante, não tem a mesma finalidade,
pretende-se impor a autoridade do caso julgado. No exemplo que começámos a ver: era entre
A e B que havia uma sentença que dizia que B era o proprietário e que constituiu caso julgado.
C não está impedido de apresentar uma ação contra o A, para que o tribunal diga que ele é o
proprietário. Portanto o A não pode dizer ao C isto, porque os sujeitos não são iguais, não se
verifica a exceção do caso julgado que nos termos do artigo 580 pressupõe identidade dos
sujeitos da causa de pedido e do pedido, os sujeitos não são mesmos. Quando o C intenta a
ação contra o A, A não pode invocar a exceção do caso julgado, mas o tribunal que vai apreciar
agora este litigio entre o A e o C tem que respeitar que há uma sentença que disse que no
confronto entre A e B o A é que é proprietário. A sentença que vier a ser proferida no protesto
AC não pode contrariar a do processo AB. O juiz deve julgar o mérito da causa entre A e C
impondo ás partes uma sentença anterior, ou seja, não pode colocar em causa o que disse a
sentença anterior. Importa a aceitação de uma decisão proferida por uma ação anterior que se
insere no objeto de uma ação posterior.

Competência

Vamos estudá-la com maior profundidade de modo a entender a sua importância.

Competência: Fração ou parcela do poder jurisdicional atribuído a cada tribunal.

Vamos aplicar a função jurisdicional á prática e para o fazermos temos de saber a noção de
competência. Convém não confundir a competência com jurisdição.

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A competência traduz-se no poder de julgar atribuído a cada um dos tribunais. (já sabemos
qual a competência de um juízo central cível por exemplo, têm competência para apreciar e
julgar ações declarativas cíveis sobre a forma de processo comum cujo valor seja superior a
50 000 euros. Os juízos centrais cíveis têm essa competência. Mas, por exemplo já o juízo de
família e menores tem outra competência. Um tribunal de competência territorial alargada
(tem competência para determinadas matérias) …

Jurisdição é o poder de julgar genericamente atribuído aos tribunais. Todos os tribunais


julgam logo se julgam ter esse poder/ jurisdição.

É importante saber bem estes conceitos, por causa da possibilidade da existência de conflitos:
de competência e de jurisdição. Há conflitos de jurisdição quando duas ou mais autoridades
pertencentes a diferentes atividades do estado ou dois ou mais tribunais de diferentes ordens
jurisdicionais (por exemplo um tribunal judicial e um tribunal administrativo e fiscal) se
arrogam (se acham), ou declinam que têm o poder de conhecer certa questão. Por exemplo,
um tribunal judicial acha-se competente para decidir determinado litígio, mas um tribunal
administrativo e fiscal acha-se também competente para dirimir esse litígio, há um conflito de
jurisdição porque ambos têm jurisdições diferentes. Dar-se-á o nome de conflito positivo
quando ambas acham que têm esse poder e o nome de conflito negativo quando ambas
acham que não têm esse poder.

Conflito de competência: existe quando dois ou mais tribunais da mesma ordem jurisdicional
se arrogam (conflito positivo) ou declinam (conflito negativo) o poder de decidir a mesma
questão. Por exemplo, dois tribunais judiciais de competência especializada se arrogarem ou
declinarem de conhecer essa questão. Por exemplo, um juízo central cível e um juízo de família
(da mesma ordem jurisdicional, neste caso aos tribunais judiciais. Portanto isto é um conflito
de competência, porque dois ou mais tribunais da mesma ordem jurisdicional.

A lei 91/ 2019 4 de setembro, estabelece o regime de resolução dos conflitos de jurisdição
entre os tribunais judiciais e os tribunais administrativos e fiscais, regulando a composição, a
competência, o funcionamento e o processo perante o tribunal de conflitos. Quando se diz no
110 n1 do CPC diz-se que os conflitos de jurisdição são resolvidos conforme os casos pelo STJ
ou pelo tribunal dos conflitos. Quando se faz referência ao tribunal dos conflitos (lei 91/ 2019
de 4 de setembro). LEI 91/2019 4 DE setembro. A lei diz o tipo de conflitos que regula e como é
composto o tribunal de conflitos (ver esta lei, é importante). É um tribunal que é constituído
sempre que haja conflitos entre tribunais judiciais e tribunais administrativos e ficais, entre
outras autoridades do estado.

Os conflitos de competência:

Aqui estamos perante conflito entre tribunais da mesma ordem jurisdicional. É resolvido pelo
presidente do tribunal de menor categoria que exerça jurisdição sobre as autoridades em
conflito. Está no artigo 110 N2 CPC.

Se os tribunais em conflito pertencerem ao mesmo distrito judicial (por exemplo, estamos


perante um conflito entre o juízo central cível de lisboa e o juízo de família e menores de Lisboa
o conflito será dirimido pelo presidente do tribunal da relação de Lisboa. Se pertencerem a

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distritos judiciais diferentes (juízo central cível de lisboa e um tribunal de famila e menores do
Porto) soluciona-se pelo presidente do supremo tribunal de justiça, se os tribunais
pertencerem a distritos judiciais diferentes.

Competência

Os tribunais portugueses não têm só competência interna, também podem ter competência
internacional. Por isso é que é necessário distinguir entre a competência interna e
internacional.

Na competência internacional estamos perante um litígio plurilocalizado, quer dizer que


existem certas situações/ certos litígios que estão em contacto/ têm algum elemento de
conexão com ordens jurídicas estrangeiras. Podemos dizer que a competência internacional é a
fração ou parcela do poder jurisdicional atribuída aos tribunais portugueses no seu conjunto
para julgar ações que tenham algum elemento de conexão, algum elemento de contacto com
ordens jurídicas estrangeiras, as chamadas relações plurilocalizadas. Os tribunais portugueses
são internacionalmente competentes quando: assim resulte do direito internacional aplicado
(os tribunais portugueses podem ter competência internacional se sim resultar do direito
internacional), por força de algum dos elementos de conexão presentes nos artigos 62 e 63
previstos no CPC, se existir um pacto atributivo de jurisdição.

Os tribunais portugueses podem ter competência internacional, isto significa que eles têm uma
fração do poder jurisdicional (que é atribuída em conjunto aos tribunais portugueses, sempre
que esteja em causa uma determina situação que tenha pontos de contacto com uma ordem
jurídica estrangeira).

Exemplo: A Português vendeu a B francês, quando ambos estavam de férias em faro. Esta
situação tem um ponto de conexão com uma ordem jurídica estrangeira por força da
nacionalidade do B.

Art.º 59 do CPC: competência internacional, diz-se assim, sem prejuízo do que se encontre
estabelecido em regulamentos europeus e em outros instrumentos internacionais, os tribunais
europeus são internacionalmente competentes quando se verificam alguns dos elementos de
conexão contidos nos artigos 62 e 63 do CPC ou quando as partes lhes tenham atribuído
competência nos termos do artigo 94.

A competência internacional dos tribunais portugueses pode resultar de 3 modalidades. Os


tribunais portugueses têm esse poder por força de algum elemento de conexão com uma
ordem jurídica estrangeira.

Direito internacional: Por força do art.º 8 as regras do direito internacional prevalecem sobre
as regras internas. Fazemos parte da UE e, portanto, temos de conhecer quais são os
regulamentos (que visam a existência de uma certa uniformidade de critérios entre estados
membros da EU). Daí que exista o regulamento nº1215 /2012 de 12 de dezembro. Este
regulamento merece destaque porque visa melhorar e simplificar o reconhecimento e

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execução das decisões em matéria civil e comercial, assim como promover a compatibilidade
das normas aplicáveis aos estados membros.

Este regulamento prevalece sobre as normas dos art.º 62 e 63, é preciso saber quais são as
matérias a que este regulamento não se aplica:

Matéria civil: á matéria civil que aborde as questões relativas ao estado e capacidade das
pessoas singulares (saber se uma pessoa está sujeita o regime do maior acompanhado,
capacidade, menoridade…), aplica-se ao regime de bens do casamento, ou de relações
análogas (união de facto), às obrigações de alimentos, testamentos e sucessões.

Matéria comercial: aplica-se á matéria comercial, na questão das insolvências, as concordatas e


os processos análogos. Estão ainda expressamente excluídas as questões relativas á segurança
social e á arbitragem.

Âmbito de aplicação objetiva do regulamento: saber quais as matérias às quais o regulamento


se aplica.

Para além do âmbito de aplicação objetivo, há o âmbito de aplicação subjetivo. Este aplica-se
quando o réu/demandado/ requerido independentemente da sua nacionalidade tenha
domicílio (ou sede se for uma pessoa coletiva) num estado membro. Para além das situações
em que o regulamento prevê matérias de competências exclusivas (matérias em que só os
tribunais previstos no regulamento artigos 24 e seguintes). Por exemplo: A, português forneceu
a B iraniano com domicílio em Roma 150 pares de sapatos por 15 mil euros. B não pagou, o
fornecimento foi por via aérea. O regulamento aplica-se. A matéria não é nenhuma das que
está excluída nem no comercial nem no civil, a nacionalidade de B é iraniana e este tem
domicílio em Roma, aplica-se o regulamento porque B tem domicilio ou sede num estado
membro.

*A título excecional esta aula começa com uma revisão rápida da outra aula.

Estamos a estudar a matéria da competência. A competência é a fração/ parcela do poder


jurisdicional atribuído a cada um dos tribunais. Mas para ficarmos a saber bem isto convém
distinguir o conceito de competência do conceito de jurisdição. São muito parecidos, mas são
muito diferentes. A jurisdição consiste no poder de julgar genericamente atribuído aos
tribunais. Face ao artigo 212 da CRP, os tribunais são os órgãos de soberania que administram
a justiça em nome do povo. Portanto, todos os tribunais têm este poder de julgar, e por isto se
fala em jurisdição. Mas sabemos que nem todos os tribunais têm competência para julgar uma
determinada questão. Basta que a matéria não caiba nessa competência. Quando falamos em
tribunais sabemos que estes são órgãos de soberania que têm a função de dizer o direito (aqui
fala-se em jurisdição).

Quando se vai analisar em concreto se aquele tribunal em concreto pode julgar aquela ação
em concreto aí já não se fala em jurisdição, mas sim em competência.

20
É preciso saber isto porque depois podem existir conflitos quando dois ou mais tribunais ou
entre um tribunal e uma entidade do estado se acham com poder para julgar determinada
situação.

A lei distingue dois tipos de conflitos:

-Os conflitos de jurisdição: quando dois ou mais tribunais integrados em ordens jurisdicionais
diferentes se arrogam (acham-se com poder de julgar aquela situação) ou declinam julgar
determinada situação. No primeiro caso o conflito diz-se positivo, no segundo diz-se negativo.
Se o tribunal judicial se achar no poder de julgar determinada ação e se o tribunal
administrativo se achar no poder de poder julgar aquela ação temos um conflito de jurisdição,
porque temos dois tribunais pertencentes a ordens jurisdicionais diferentes. E, se ambos se
acham com o poder de julgar aquele caso o conflito diz-se positivo. Se nenhum dos dois se
acham com esse poder diz-se que o conflito é negativo. Conflitos de jurisdição existem quando
estamos frente autoridades pertencentes a ordens jurisdicionais diferentes;

-Nos conflitos de competência, o conflito dá-se entre tribunais integrados na mesma ordem
jurisdicional. Entre um tribunal de família e menores e um juízo central cível. Entre um juízo de
comércio e um juízo de trabalho. Isto porquê? Porque eles fazem todos parte da ordem
jurisdicional dos tribunais judiciais. Ou se houver um conflito entre um TA e um tribunal
tributário também são conflitos integrados dentro da mesma ordem jurisdicional.

Como é que se resolvem os conflitos?

A lei de PP só resolve os conflitos entre os tribunais judiciais e os tribunais administrativos e


fiscais. LEI 91/2019 de 4 de setembro. Se formos ao artigo 209 da CRP a própria constituição
prevê a existência de um tribunal dos conflitos. Esta lei veio no fundo atualizar esta matéria
porque os diplomas que estavam em vigor datavam da década de 30.

A lei estabelece a composição, a competência e o funcionamento bem como o processo


perante o tribunal dos conflitos, este tribunal passa a ater uma composição fixa de 3 membros
de entre os respetivos presidentes e vice-presidentes quer do supremo tribunal de justiça quer
do supremo tribunal administrativo que são os supremos tribunais das duas ordens
jurisdicionais.

As principais regras são:

- a presidência do tribunal dos conflitos varia, tanto pode ser o presidente do STJ ou o
presidente do STA, consoante se a questão quando nasce seja colocada ou por um tribunal
judicial ou por um tribunal administrativo e fiscal.

Se a questão do conflito for colocada por um tribunal judicial, o presidente é o do STJ, se for
colocado por um tribunal administrativo e fiscal, o presidente é do STJ.

Depois, para além do presidente têm ainda assento mais dois juízes, sendo um deles o vice
presidente do ST J (o mais antigo no cargo, se tiverem os dois a mesma antiguidade o mais
antigo na categoria), e o vice presidente do STA que é eleito pelos juízes das respetivas

21
composições de contencioso administrativo ou de contencioso tributário caso a matéria seja de
administrativo ou de tributário). Esta é a composição do tribunal dos conflitos.

O que é que compete ao tribunal dos conflitos?

Compete conhecer os pedidos de resolução de conflitos de jurisdição, que sejam feitas nos
termos dos artigos 9º e 10º da lei. Quando dois ou mais tribunais integrados em ordens
jurisdicionais diferentes se arrogam ou declinam o poder de conhecer da mesma questão. Se
houver um conflito entre um tribunal judicial e um tribunal administrativo e fiscal, um deles
tem que pedir a resolução do conflito. Se for o do tribunal judicial a pedir o presidente é o
presidente do STJ se for o do tribunal administrativo e fiscal a pedir o presidente será o
presidente do STA.

Mas também pode acontecer que ainda não haja conflito, mas pode haver, e então para
prevenir pode-se fazer um pedido de consulta prejudicial, só que prejudicial ali é no sentido de
pré judicial. Prevê-se que possa haver um pedido de consulta ao tribunal dos conflitos (nos
termos do ART 15 da lei ) de modo a prevenir. O tribunal dos conflitos também julga/conhece
dos recursos previstos no N2 do artigo 101 do CPC. Se formos ao 101 n2 do CPC podemos ler:
se um tribunal judicial julgou uma determinada causa mas uma das partes recorreu para o
tribunal da relação mas a relação em sede de recurso da decisão que tinha conhecido da 1ª
instância entende que o tribunal judicial foi incompetente, porque quem era competente era o
tribunal da jurisdição administrativa e fiscal. Esta situação diz o 101 N2 o recurso destinado a
fixar o tribunal competente de uma vez por todas é interposto pelo tribunal dos conflitos. O
mesmo se passa na ordem administrativa e fiscal porque nesse caso são eles os tribunais
administrativos e fiscais porque são eles que entendem que o tribunal competente seria o
judicial. Os tribunais de conflitos também julgam estas situações.

Tudo aquilo que não possa ser resolvido pelo tribunal dos conflitos, que não caiba na sua
competência é resolvido pelo presidente do STJ. Caso o conflito não se entregue na
competência do tribunal de conflitos a resolução do conflito integra as competências do
presidente do STJ.

Quanto aos conflitos de competência. Os conflitos de competência (conflitos entre 2 ou mais


tribunais integrados na mesma ordem jurisdicional) estes são resolvidos pelo presidente do
tribunal de menor categoria que exerça jurisdição entre as autoridades em conflito. E qual é
que é o tribunal que exerce jurisdição (de menor categoria) por exemplo por um tribunal
judicial de primeira instância? É o tribunal da relação. E, portanto, será esse. Mas, os tribunais
da relação só têm jurisdição sobre os tribunais judiciais de 1ª instancia que estejam na sua
circunscrição territorial. Um tribunal judicial da comarca do porto não está dentro da jurisdição
do tribunal da relação de Lisboa. Isto porque não está na sua circunscrição territorial. Isto só
pode ser resolvido pelo tribunal de menor categoria que exerça jurisdição sobre os tribunais
em conflito quando estamos dentro do mesmo distrito judicial. Quando pertencerem a
distritos judiciais diferentes o conflito terá que ser solucionado pelo presidente do STJ.
Portanto se houver um conflito entre um tribunal de família e menores da comarca do porto e
um juízo local cível de lisboa, ambos se acham competentes, há um conflito de competência,
mas como pertencem a conflitos judiciais diferentes este vai ser decidido pelo presidente do

22
STJ. Se ambos os tribunais pertencessem ao mesmo distrito judicial ia ser resolvido pelo
presidente do tribunal da relação respetivo.

Competência internacional: os tribunais portugueses no seu conjunto podem ter competência


internacional, para julgar ações que tenham qualquer ponto de contacto/ elemento de
conexão com ordens jurídicas estrangeiras. Algum dos elementos da relação jurídica contacta
com normas jurídicas da ordem estrangeira, seja por força da nacionalidade, das partes, do
domicílio das partes, do local em que foi celebrado negócio… os tribunais portugueses têm
competência internacional no seu conjunto para julgar as ações que tenham algum ponto de
contacto com normas jurídicas estrangeiras.

E de aonde é que vem essa competência internacional dos tribunais portugueses? Pode advir
de três fontes:

-Pode advir do próprio direito internacional, ou seja, haver tratados, convenções, instrumentos
nascidos de tratados (o tratado de Roma, institui a CECA e nesse tratado está dito que o
objetivo é criar uma comunidade económica e de modo a regular as relações entre os estados
criarem-se regulamentos comunitários, diretivas). Os regulamentos comunitários têm uma
eficácia direta nos estados membros, vinculam imediatamente os estados membros e as suas
instituições, ao contrário das diretivas que devem ser transpostas para o território.
Regulamento 1215/ 2012 de 12 de dezembro.

-O próprio direito português/ interno tem normas que tratam da competência internacional
dos próprios tribunais. São os casos previstos nos artigos 62 e 63 do CPC. São normas de direito
interno que tratam da competência internacional dos tribunais portugueses.

- Esta competência ainda pode ter como fonte o acordo das partes. As partes atribuem
competência internacional aos tribunais portugueses. Por isso é que se chama pacto atributivo.
Um acordo das partes que atribuem competência internacional aos tribunais portugueses. O
pacto privativo priva os tribunais portugueses de competência internacional;

É importante estudar estas fontes/ os principais regulamentos sobre a competência


internacional. Até porque as normas do direito internacional prevalecem sobre as normas de
competência internacional interna.

As três fontes são o direito internacional, as normas internas de competência internacional,


as normas de direito internacional que prevalecem sobre as normas internas de direito
internacional e o acordo das partes.

Dentro do direito internacional temos de reconhecer o regulamento 1215/2012 de 12 de


dezembro. O parlamento europeu e o conselho europeu são quem trata da competência
judiciária em matéria civil e comercial, é este o âmbito material do regulamento.

O n3 do art.º 8 da CRP diz que o regulamento prevalece sobre o direito interno relativo á
competência internacional. Prevalece sobre as normas do direito interno.

Âmbito material/ âmbito objetivo do regulamento: são as matérias civis com exceção às
questões relativas ao estado e capacidade das pessoas singulares aos regimes de bens do

23
casamento e das relações análogas, obrigações de alimentos, testamentos e sucessões. Isto
resulta do art.º 1º n2 al), e, f. Não se aplica a toda a matéria comercial, fica excluído as
insolvências, concordatas e processos análogos, nos termos da alínea b do n2 do art.º 1.

Do regulamento também sai fora do seu âmbito material questões relativas á segurança social
e á arbitragem.

Âmbito pessoal ou subjetivo (saber a quem se aplica o regulamento): o regulamento aplica-se


a todas aquelas pessoas que independentemente da nacionalidade tenham domicílio ou
sede num estado membro. As pessoas que têm a sede são as pessoas coletivas. E ainda
quando o regulamento estatui competências exclusivas. Previstas no art.º 24

Regra geral: critérios gerais de determinação da competência pelo regulamento. No art.º 4 do


regulamento que para além de definir o âmbito de aplicação subjetivo também determina qual
é a regras geral da competência: as ações nos termos do regulamento devem ser intentadas
perante o tribunal do estado membro onde o réu/ demandado tem o seu domicílio. Critério
do domicílio do reu.

Estas regras mantêm-se ainda que o mandado não seja nacional do estado em que se encontre
o domiciliado ou de qualquer outro estado membro.

Análise do regulamento de Bruxelas /regulamento 1215/ 2012 de 12 de dezembro e vimos


como era o seu âmbito de aplicação objetivo/ material e o âmbito de aplicação
subjetivo/pessoal.

Ficámos a saber que o regulamento de Bruxelas, aplica-se sempre que um demandado/ réu/
requerido independentemente da sua nacionalidade tenha domicílio num estado membro. É
pela pessoa do demandado/ réu /requerido que se determina a aplicação pessoal/ subjetiva do
regulamento.

Se a pessoa vai figurar na ação como réu/ demando/ requerido independentemente da


nacionalidade tiver domicílio num estado membro e se se verificarem os requisitos do âmbito
de aplicação objetivo ou material o regulamento aplica-se.

Ora bem, no âmbito de aplicação pessoal retira-se a regra geral quanto ao critério da
competência. Se o réu tiver domicílio ou sede num estado membro quais são os tribunais
internacionalmente competentes? São internacionalmente competentes os tribunais desse
domicílio/ ou sede. Este critério está no artigo 4º do regulamento. Se formos ao artigo 4º do
regulamento diz assim: sem prejuízo do disposto no presente regulamento as pessoas
domiciliadas num estado membro devem ser demandadas independentemente da sua
nacionalidade nos tribunais desse estado membro. Atenção: a regra mantém-se mesmo que o
demandado não seja de nacionalidade do estado em que se encontra domiciliado nem que não
tenha nacionalidade um outro estado membro.

Se o demandado não se encontrar domiciliado num estado membro a competência será


regulada pela lei processual de cada estado membro /do estado onde a ação for proposta.

24
Se tivermos que propor uma ação contra um brasileiro residente em luanda, as regras serão as
previstas no direito português sem prejuízo das situações previstas no artigo 18º, 21º, 24º e
25º. Portanto, se o demandado não tiver domicílio ou sede num estado membro a
competência internacional será aferida em cada estado membro pela respetiva lei processual.
Por isso é que temos os artigos 62 e 63, são regras de competência internacional, mas de
direito interno, cada estado membro tem as suas regras. Sem prejuízo do disposto nos artigos
18 (direitos do consumidor), artigo 21 (direitos emergentes de contratos individuais de
trabalho), artigo 24 (competências exclusivas) e artigo 25 (extensão da competência).

Já sabem que:

1ª regra: o demandado deve ser demandado perante os tribunais do estado membro em que
tem o seu domicílio.

2ª regra: essas regras continuam a aplicar-se ainda que o demandado não tenha a
nacionalidade do estado membro onde se encontra domiciliado nem a nacionalidade de outro
estado membro.

3ª Regra: se não tiver domicílio do estado membro a competência é aferida em cada estado
membro pela respetiva lei processual sem prejuízo do disposto nos artigos 18, 21, 24 e 25.

Para além dos critérios gerais, o regulamento de Bruxelas tem também critérios especiais,
esses critérios estão previstos nos artigos 7 a 26. Estes são especiais/ alternativos porque o
regulamento permite que não obstante o demandado tenha domicílio num estado membro e
portanto, pela regra geral, seria nesse tribunal que deveria ser demandado, possa ser
demandado perante um tribunal de outro estado membro. Exemplo: eu, português quero
intentar uma ação contra B, francês residente em Paris. Pela regra geral a ação teria de ser
intentada em Paris, mas o regulamento permite que em determinadas situações (artigos 7 a
26), ele réu possa ser demandado perante o tribunal de outro estado membro. Portanto, o
autor pode optar por qualquer dos tribunais determinados quer pela aplicação do critério geral
ou especial, desde que este se verifique.

Um dos artigos mais importantes é o disposto no artigo 7º do regulamento, diz-se aí, no artigo
7º que as pessoas domiciliadas num estado membro podem ser demandadas noutro estado
membro e matéria contratual, perante o tribunal do lugar onde ficou deva ser cumprida a
obrigação em questão. Vamos supor, que A e B tinham celebrado um contrato e
convencionaram que a obrigação deveria ser cumprida em Faro. Nesse caso, A pode optar por
intentar a ação ou em Paris ou então perante os tribunais do lugar onde a obrigação devia ser
cumprida. Onde é que a obrigação devia ser cumprida? Em faro, logo os tribunais portugueses
têm competência internacional por força do artigo 7º do regulamento.

Depois, a alínea B do número 1 do artigo 7º diz assim: para efeitos da presente disposição e
salvo convenção em contrário, o lugar do cumprimento da obrigação e questão será no caso da
venda de bens o lugar no estado membro os bens foram ou devem ser entregues, no caso da
prestação de serviços o lugar no estado membro em que os serviços foram ou devam ser
prestados. Em matéria contratual o regulamento permite que o demandado pode ser
demandado num tribunal de um estado membro diferente do que o em que tem domicílio: no

25
lugar onde a obrigação foi ou devia ser cumprida. Podemos copiar para o artigo 7º n1 o que
está no art.º 71 n 1 do CPC. Se se pretender a anulação do contrato com fundamento em erro,
ou declaração de nulidade contrato com base em simulação aplicamos a regra geral, não há
critério especial que aqui caiba.

Em matéria extra contratual/ obrigações que tenham por fonte factos diferentes dos contratos,
deve ser proposta porque o regulamento o diz que o tribunal competente é o tribunal onde
ocorreu ou deverá ocorrer o facto danoso, ou seja onde aconteceu o dano. Sempre que o lugar
onde o facto ocorreu não coincida com o lugar onde o dano se deu a ação pode ser intentada
num ou noutro tribunal. Por exemplo A tem um acidente de viação em Espanha e se fosse
assim só a ação que se tem de intentar teria de ser no tribunal onde ocorreu o facto, mas se
teve o acidente em Espanha e voltou para Portugal, e só em Portugal é que ocorreu o dano (só
agora começou a sentir dores, verificou que teve um traumatismo), portanto o dano, o prejuízo
decorrente do facto que gerava a responsabilidade extra contratual ocorreu num lugar
diferente de onde ocorreu o facto originário de onde ocorreu o facto originário da
responsabilidade, portanto nesse caso pode-se escolher entre intentar ação num outro noutro
local. Art.º 7º do regulamento.

Para além das competências gerais, da especiais e dentro das especiais temos umas mais
especiais que outras, destaca-se as previstas no art.º 24 do regulamento, porque são
competências exclusivas, e esta competência prevalecem sempre sobre a competência
determinada ou pelo critério geral ou pelos especiais. O artigo 24 determina que têm
competência exclusiva os seguintes tribunais do estado membro independentemente do
domicílio das partes. Portanto independentemente do domicílio os tribunais
internacionalmente competentes são aqueles que o artigo 24 diz que são, mesmo que não
sejam do domicilio do demandado. As situações são:

- Matéria de direitos reais sobre imóveis e matéria de arrendamento (têm competência


exclusiva os tribunais dos estados membros onde se encontre o imóvel, se se tratar em matéria
de arrendamento se o contrato de arrendamento não tiver uma duração superior a seis meses
não se aplica o que diz no 24 n1);

-Matéria de validade/ nulidade ou de dissolução de sociedades ou de outras pessoas coletivas:


nessas situações os tribunais competentes, são os tribunais dos estados membros onde essas
pessoas coletivas tiverem a sua sede;

- Em matéria de execução (as decisões judiciais, limitam-se a declarar o direito ou a constituir.


modificar ou extinguir um direito. No primeiro caso diz-se que a decisão tem efeito declarativo,
no segundo diz-se a decisão produzir um efeito constitutivo, mas é sempre necessária a
colaboração do réu. Se o tribunal condenar a pagar mil euros, o tribunal declarou o meu
direito, mas agora é preciso ser pago, se não nos pagarem a decisão terá de ser executada
através do património de X, para que com a venda/ entrega dessa património a outra pessoa
esse direito fique integralmente satisfeito. O artigo 24 n 5 diz que em matérias de execução de
decisões judiciais é competente o tribunal do estado membro onde tenha dado lugar a
execução. Estes são critérios relativos a competências exclusivas.

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Vimos que a competência internacional dos tribunais portugueses pode nascer ou pelas regras
do direito internacional, ou pelas regras internas de competência internacional portuguesas,
ou então por pactos celebrados entre as partes. E, portanto, as normas de competência podem
por regra ser afastadas pelas próprias partes e, portanto, também a competência internacional
dos tribunais determinada por aplicação do regulamento de Bruxelas 1 não é por regra
imperativa, o que quer dizer que a própria competência internacional determinada pelo
regulamento pode ser afastada por vontade das partes. E, portanto, se as partes
independentemente de onde ficam os seus domicílios chegarem a acordo de que um tribunal,
ou tribunais de um estado membro têm competência para dirimir qualquer litígio, são esses
tribunais acordados pelas partes que terão competência. Salvo se, o pacto nos termos da lei
desse estado membro for substantivamente nulo. Eu num determinado contrato que faça com
um estrangeiro, posso de acordo com ele escolher um tribunal que irá dirimir esse litígio, só
não será assim se face á lei dos estados onde escolhemos onde seria o tribunal competente
determine que aquele acordo/ pacto é nulo.

Aqui a competência internacional é determinada pela vontade das partes, estas podem afastar
as regras de competência definidas pelas regras do determinado regulamento, pois não tem
natureza imperativa.

Requisitos de forma desses pactos que atribuem competência a tribunais diferentes daqueles
que o regulamento determina:

- Devem ser celebrados por escrito, ou verbalmente celebrados desde que haja confirmação
escrita;

- No âmbito do direito internacional os usos e costumes são fontes do direito internacional e


daí que também possam ser celebrados de acordo com os usos que as parte entre si tenham
estabelecido, ou então no comércio internacional em que o costume e o uso é uma fonte
muito importante de acordo com os usos que as parte conheçam e que tenham uma aplicação
generalista, sejam amplamente reconhecidos e observados pelas partes naquele contrato em
concreto.

Estes são os requisitos de forma dos pactos atributivos de competência.

Pactos atributivos de jurisdição: no artigo 25 n4 observamos que estes pactos são ineficazes,
nos termos do regulamento se: forem contrários às regras de competência exclusiva do
regulamento. Essas regras de competência exclusiva prevalecem sobre tudo.

É também nos termos do regulamento admissível a existência de um pacto tácito, a chamada


competência por comparência. Isto significa que desde que não haja uma situação de
competência exclusiva, quando se devia propor ação contra X no estado membro donde este é
residente propôs-se a ação no estado membro de quem pôs a ação. X veio e não levantou o
problema da competência, tacitamente aceitam que o tribunal fosse competente para decidir
da questão: por isso é que se diz que é uma competência por comparência é o que se chama
pacto tácito sobre a competência internacional.

27
Regulamento de Bruxelas 2 (ou bis)

Este trata de matérias civis relativas ao divórcio, separação e anulação do casamento assim
como a atribuição, ao exercício, limitação ou cessação das responsabilidades parentais.

Estão expressamente excluídas as matérias relativas ao estabelecimento, impugnação, afiliação


e adoção. O regulamento comunitário 2201/ 2003 de 27 de novembro de 2003 trata em razão
da matéria, matéria matrimonial e responsabilidade parental. Estas matérias que estão
excluídas do regulamento Bruxelas 1 incluídas no regulamento Bruxelas 2.

O que é que releva a título de critério de atribuição de competência nas matérias relativas ao
divórcio, separação e anulação de casamento? O território dos cônjuges e a sua nacionalidade.
Ao nível da responsabilidade parental releva os tribunais do território da residência habitual da
criança, da residência onde as residências dos titulares da responsabilidade parental nos casos
previstos no artigo 12 ou os tribunais do local onde a criança se encontra nos casos de
impossibilidade aplicação do artigo 12 ou do artigo 8º. Aqui há que atender ao critério do
interesse superior da criança e assim sendo no que diz respeito às matérias de
responsabilidade parental os tribunais que seriam competentes para conhecer do mérito pode
nesse tribunal suspender a instância e convidar as partes a apresentarem o pedido noutro
tribunal, que pode estar em melhores condições para conhecer o processo. Desde que isso seja
no interesse superior da criança.

Artigo 59 do CPC. Estamos a tratar da matéria da competência internacional dos tribunais


portugueses no seu conjunto, já sabemos que essa competência internacional dos tribunais
portugueses no seu conjunto é a fração/ parcela do poder jurisdicional quando uma
determinada situação está em contacto com uma ordem jurídica estrangeira. O artigo 59 sobre
a epígrafe: “competência internacional”, diz-nos que de facto para analisarmos esta matéria
devemos começar por analisar os regulamentos europeus, sem prejuízo do que se encontre
estabelecido em regulamentos europeus e em outros instrumentos internacionais. Pode
acontecer que os tais regulamentos não se apliquem a uma determinada situação, porque não
estão preenchidos os requisitos no seu âmbito pessoal. Sabemos que o âmbito pessoal do
regulamento Bruxelas 1 é onde o mandato tem domicílio independentemente da sua
nacionalidade e do estado membro. As situações podem ocorrer sem que a pessoa a demandar
tenha residência num estado membro, se não houver nenhum tratado/ nenhuma convenção
sobre isso ficamos sem saber se os tribunais portugueses têm competência para aquela ação?
Não pode ser. Por isso é que o artigo 59 diz que os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes no seu conjunto quando se verifique algum dos elementos
de conexão referidos nos artigos 62e 63 ou quando as partes lhes tenham atribuído
competência: pacto atributivo, nos termos do artigo 94. Portanto, se por alguma razão não
aplicarmos os regulamentos europeus, ou se não existir pacto/ tratado ou convenção
internacional temos que saber se os tribunais portugueses têm competência internacional por
força da verificação de algum dos elementos de conexão previstos nos artigos 62 e 63 ou se
houver algum paco atributivo de jurisdição nos termos do artigo 94.

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Análise das situações em que os tribunais portugueses têm competência exclusiva:

-ART 63 CPC, se se verificar alguma destas situações os tribunais portugueses têm competência
internacional exclusiva. Al) a: Matérias onde os tribunais portugueses têm competência
internacionais exclusivas: relativas a direitos reais sobre imóveis (propriedade, usufruto, uso e
habitação, servidões prediais…) e relativo a matérias de arrendamento de imóveis situados e
território português. Al) b: matérias relativas á validade da constituição ou dissolução de
sociedades ou de outras pessoas coletivas que tenham sede em Portugal bem como em
matérias de validade das decisões dos seus órgãos. Não é pelo facto de uma sociedade celebrar
contrato com outra sociedade que vamos aplicar esta alínea B, só o aplicamos se a matéria for
relativa á validade da constituição ou da dissolução, ou á validade das decisões dos seus
órgãos. Aplicamos a alínea A se a matéria for relativa a direitos reais sobre imóveis. A alínea C
refere-se á validade de inscrições em registos públicos conservados em Portugal. A alínea D em
matéria de execuções de imóveis situados em Portugal. E em matéria de insolvência ou de
revitalização das pessoas domiciliadas em Portugal ou de pessoas coletivas ou de sociedades
cuja sede esteja situada em território português.

Qual é que é a consequência de ser violar a competência exclusiva dos tribunais portugueses?

Como é que se viola a competência exclusiva dos tribunais portugueses? É propondo a ação
fora dos tribunais portugueses, eu não vos posso dizer qual é que é a consequência do direito
estrangeiro para essa situação, mas como a competência é exclusiva em Portugal, em Portugal
tem que haver uma consequência. É que se depois, a parte que intentou a ação no estrangeiro,
quando devia ter executado cá a ação quiser vir executar a ação cá não se deixa. A decisão
proferida na decisão de um estado estrangeiro não pode ser reconhecida na ordem jurídica
portuguesa, nos termos do art.º 980 al) c do CPC.

Artigo 62CPC: estamos fora do âmbito dos regulamentos, mas estamos no âmbito da
competência, chegámos a conclusão de que não há competência exclusiva e queremos saber:
os tribunais Portugueses mesmo não se aplicando os regulamentos e o artigo 63 ainda assim
podem ter competência internacional? O A, português casou com B espanhol quando estão a
passar férias em faro, B comete adultério. Pode esta ação de divórcio que A vai propor ser
intentada em Portugal (ambos residem em Marrocos). Ora bem, o artigo 62 consagra três
critérios para atribuição da competência internacional:

-Critério da coincidência: al) A;

-Critério da causalidade: al) B;

-critério da necessidade: al) C.

Temos de os analisar por esta ordem.

Pelo critério da coincidência os tribunais portugueses são internacionalmente competentes


sempre que a ação possa ser proposta em Portugal segundo as regras da competência
territorial, estabelecida pela lei portuguesa nos artigos 70 a 81; nestes casos os tribunais
portugueses serão internacionalmente competentes. No caso acima, A fica desesperado e vai
viver para casa dos pais, que residem em lisboa. Esquecendo agora as nacionalidades/ lugares

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há algum critério no CPC que diga qual é o tribunal territorialmente competente para intentar
uma ação de divórcio? ART 72, que diz que é competente o tribunal do domicílio do autor. O
autor da ação é A, este reside em Lisboa. Pode ser por isto intentar uma ação em Lisboa
porque há uma coincidência entre a competência internacional dos tribunais portugueses e as
regras estabelecidas pela lei no art.º 72.

Imaginemos agora, que a mulher cometeu adultério, mas que ele não quer sair da casa dele, e
pôs ação em Portugal, esquecendo as nacionalidades temos algum artigo na ordem jurídica
portuguesa que nos diga qual é o tribunal competente em matéria de ação de divórcio? Art.º
72 diz que é o tribunal do domicílio do autor. Sendo que este mora em Marrocos já não
podíamos aplicar a aliena a) do artigo 62 porque não há coincidência.

Critério da causalidade al) b: tem que ver com o saber se os factos que integram a causa do
pedido ocorreram em Portugal.

Se se aplica o regulamento não se aplicam as regras internas de competência internacional. As


regras internas de competência internacional só se aplicam àqueles casos em que a fonte da
competência internacional não existe. Ou não há regulamento, ou não há tratado, ou
convenção internacional. Isto porque se se aplicar alguma destas se a competência dos
tribunais portugueses é aferida ou em função de um regulamento/ tratado/ convenção
internacional não se aplicam as normas nacionais. Estas regras só se aplicam quando não há
outra regra para aplicar. Aliás é assim que começa o artigo 59, sem prejuízo do que se ache
estabelecido nos regulamentos europeus então é que a competência internacional dos
tribunais portugueses é determinada por alguns elementos de conexão previstos nos artigos
62, 63 ou 64.

Voltando às regras internas sobre a competência internacional dos tribunais Portugueses, nós
já vimos o disposto no artigo 63 que consagra aquilo a que se chama de competências
exclusivas. Mas atenção, no confronto entre o regulamento de Bruxelas e o artigo 63 ganha
sempre o regulamento. O regulamento aplica-se porque é direito internacional e este
prevalece sobre as regras de direito interno.

Na última aula, estávamos a falar do artigo 62. O artigo 62 consagra 3 critérios: o critério da
coincidência, o critério da causalidade e o critério da necessidade. Mas atenção, a aplicação
destes critérios tem uma ordem, portanto, só aplicamos o critério da causalidade se não for
possível aplicar o critério da coincidência. Só aplicamos o critério da necessidade se não for
possível aplicar nem o critério da coincidência nem o da causalidade.

Vimos que o critério da coincidência é relativo á coincidência entre a competência


internacional dos tribunais portugueses e as regras de competência em razão do território.
Temos de ver que obviamente estamos perante uma relação plurilocalizada, uma situação que
está em contacto com mais do que uma ordem jurídica e não se aplica o regulamento. O que
temos de ver é se de acordo com as regras da competência em razão do território se existe esta
coincidência. Por exemplo, A, angolano, pretende intentar uma ação contra B, português, que

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tem domicílio em luanda tendo este domicílio em Lisboa. A quer que B lhe pague 50 mil euros
por causa do fornecimento que lhe fez de bananas. O B não paga, e o A quer saber se pode
propor ação em Portugal. Isto é uma situação de uma relação plurilocalizada, portanto trata de
se saber se os tribunais portugueses têm competência internacional. Terá competência
internacional se face às regras da competência em razão do território a ação possa ser
proposta em Portugal. Esta situação está a chamar artigo 71, este tem uma regra: domicílio do
réu. Sendo que o réu tem domicílio em Portugal a ação poderia ser proposta em Portugal. Há
uma coincidência internacional e as regras da competência em razão do território.

Outro exemplo: A situação é exatamente a mesma, mas o A quer intentar contra B uma ação
de divórcio e quer saber se os tribunais portugueses têm competência internacional. A regra
em razão do território para as ações de divórcio é o artigo 72. A regra é de que é no domicílio
do autor, sendo que o autor não tem domicílio em Portugal a ação não poderia ser proposta
em Portugal. Não há coincidência entre a competência internacional e as regras de
competência em razão do território.

A é português tem residência em Angola, e quer anular o contato que celebrou com B e C,
residentes em Portugal. A anulação de um contrato chama o artigo 80 (a regras geral porque
não está previsto em nenhum dos artigos anteriores. A regra é o domicilio do reu, os réus têm
domicilio em Portugal, por isso a ação pode ser proposta em Portugal. Há coincidência com a
luz da competência do direito interno territorial.

Quando estamos a aplicar e chegamos á conclusão que, por força da coincidência os tribunais
portugueses têm competência internacional, porque há competência entre a competência
internacional e as regra da competência em razão do território fica imediatamente
determinado qual o tribunal português concretamente competente para aquela ação. Isto
porque já estamos a aplicar as regras em razão da competência do território. Neste exemplo,
que diz que há coincidência porque os réus têm residência em Portugal, mais concretamente
em Lisboa, nós ficamos a saber que o tribunal concretamente competente em razão do
território terá de ser um tribunal em Lisboa.

Atenção: o n3 do artigo 80 não pode ser aplicado com a regra da coincidência. Isto porque
com o princípio da coincidência fica imediatamente determinado qual o tribunal
concretamente competente em razão do território. E portanto, se fica imediatamente, não
podemos recorrer a outras regras para saber qual o tribunal competente em razão do
território. Este n3 diz-nos que se o réu tiver o domicílio e a residência no estrangeiro é
demandado para um tribunal do local em que se encontrava. Não se encontrando em território
português é demandado no domicílio do autor, quando este domicílio for em país estrangeiro é
competente para a causa o tribunal de Lisboa.

Como se aplica o artigo 80: O A, português residente em Lisboa, celebrou com B, Brasileiro com
domicílio no rio de janeiro, em Faro um determinado contrato. Agora quer anulá-lo com
fundamento em erro/ vicio. Aplica-se a regra da coincidência? Estamos perante uma relação
plurilocalizada, por força da nacionalidade de B e do seu domicílio, aqui não se aplica o
regulamento porque o demandado não tem domicílio no estado membro. A anulação do
contrato chama o artigo 80, a regra do artigo 80º é o domicílio do réu. Esta ação pode ser

31
proposta em Portugal? Não por força do princípio da coincidência. Se não aplicamos o princípio
da coincidência, vamos ver se é possível aplica o princípio da causalidade.

O princípio da causalidade, vem dizer que a ação poderá ser proposta em Portugal se os factos
que integram a causa de pedido, tiverem ocorrido em Portugal. A causa de pedido é o facto/
conjunto de factos que sustentam o pedido. O pedido que é feito é o da anulação do contrato,
o contrato ocorreu em Faro. Os tribunais portugueses têm competência internacional por
força do princípio da causalidade. Qual é que é o tribunal concretamente competente em
razão do território? Esta será intentada no domicílio do autor, aqui estamos a aplicar o n3 do
artigo 80.

O artigo 80 n3 aplica-se quer estejamos a determinar a competência em concreto do tribunal


por força do princípio da causalidade quer estejamos a aplicar o regulamento. Isto porque com
o regulamento sabemos também que os tribunais portugueses têm competência internacional
mas temos depois que ir determinar quais os tribunais com competência internacional.

Exemplo: Vamos supor que chegamos á conclusão de que os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes, por força do artigo 7 do regulamento que permite que o
demandado seja demandado perante tribunais que não são os do estado membro onde tem o
seu domicílio. Chegamos á conclusão de que se aplicássemos as regras, em razão do território a
ação teria que ser demandada no domicílio do réu, mas o réu não tem domicilio em Portugal,
mas sim em Roma, então temos que aplicar o 80 n1.

Não se esqueçam que iremos ouvir falar muitas vezes do conceito “causa do pedir”, todas as
ações têm de ter um pedido e uma causa do pedir. A causa do pedir é constituída por factos, e
se os factos que fundamentam a ação ocorrerem em Portugal se não aplicarmos o critério da
concorrência aplicamos o critério da causalidade, os tribunais portugueses têm competência
internacional sempre que se verifiquem em Portugal os factos jurídicos que constituam a causa
de pedir.

Uma ação que não tenha causa do pedir chama-se inepte. Se por força do princípio da
causalidade não for possível a ação ser proposta em Portugal temos uma última hipótese. Essa
última hipótese é o chamado princípio da necessidade. Este vem dizer que quando entre o
objeto do litígio e a nossa ordem jurídica existir um poderoso elemento de conexão os
tribunais portugueses terão competência quando se o direito invocado para a resolução do
litígio não se puder efetivar a não ser pela ação proposta.

Exemplo: Chegamos á conclusão que nem por força do princípio da coincidência nem por força
do princípio da causalidade os tribunais portugueses seriam internacionalmente competentes.
Teríamos de ir propor a ação na síria. Estudamos o direito sírio e chegamos á conclusão de que
o direito sírio não reconhece, por exemplo, o direito á propriedade sobre canetas. A ação não
poderia ser intentada na síria porque a síria não reconhece esse direito. Não podia ser
intentada também em Portugal por força das regras de competência internacional, mas,
Portugal reconhece o direito de propriedade sobre canetas. Por esta mesma razão,
esquecem-se as regras de direito internacional e se está em causa a efetivação do teu direito
que a ordem jurídica portuguesa reconhece a ação pode ser proposta. Pode acontecer que a
síria também reconheça o direito de propriedade sobre canetas, mas em certas situações pode

32
ser proposta em Portugal. Quando estiverem em causa estes ponderosos elementos de
conexão com a ordem jurídica portuguesa os tribunais portugueses também terão
competência internacional. Isto não é uma válvula de escape para quando os tribunais
portugueses não têm competência internacional. O princípio da necessidade e essa
necessidade só existe quando o direito não possa exigir-se senão através da ação proposta em
Portugal ou então quando não seja exigível ao autor por alguns motivos (falta de dinheiro por
exemplo).

Para terminar o critério da necessidade previsto no artigo 62, já deu para perceber que o
critério da necessidade só se deve aplicar em caso de necessidade. Ele tem aplicação
subsidiária e o que se pretende é que alguém necessitado da intervenção dos tribunais não
deixe de ter uma decisão que satisfaça o seu direito e portanto para evitar situações de
conflitos negativos de jurisdição ou que possam conduzir a uma situação em que não lhe seja
garantida a justiça, e como o critério da necessidade não pode ser aplicado sem que haja
ponderosos elementos de conexão podemos aplicar como ponderosos elementos de conexão
a nacionalidade das partes e também o lugar da situação dos bens em causa. É esta a
finalidade do critério da necessidade.

Temos estado a analisar as situações em que por força do artigo 63 e 62 do CPC, os tribunais
portugueses têm competência internacional, mas o artigo 59 também se refere ao artigo 94.

O artigo 94 trata dos pactos atributivos e privativos de jurisdição. Ou seja, a própria lei permite
que a vontade das partes seja um fator relevante para a atribuição, ou a sua retirada da
competência internacional dos tribunais. Vimos que, os tribunais portugueses podem ter
competência internacional por força da própria lei internacional, por força de certas
competências exclusivas, por força dos critérios previstos no artigo 62, ou também podem tê-lo
por força da vontade das partes. A vontade das partes é também uma parte essencial da
competência internacional dos tribunais internos.

Temos 2 tipos de pactos:

-Pactos atributivos: Aqueles que atribuem competência internacional aos tribunais


portugueses quando eles não a tinham. Atribuem competência internacional aos tribunais
portugueses no seu conjunto.

-Pactos privativos: Privam/ retiram jurisdição aos tribunais portugueses naquelas situações em
que eles de início teriam.

Mas, estes pactos para poderem ser válidos têm que respeitar alguns requisitos:

-O pacto deve ser reduzido a escrito;

-Devem dizer respeito a direitos disponíveis, ou seja, a direitos que as partes podem dispor. Se
estiver em causa um litígio sobre direitos indisponíveis (direitos de personalidade), não pode
haver pacto privativo ou atributivo de jurisdição;

-Ser aceite pela lei do tribunal do país que foi designado. Se dois estrangeiros celebrarem um
destes pactos atribuindo competência aos tribunais portugueses, os tribunais portugueses têm

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competência por força deste requisito? Claro, a lei portuguesa admite-o (art.º 94) desde que se
respeitem os requisitos. Agora, se Portugal não admitisse a existência destes pactos estes não
teriam validade. Nós sabemos que quando se celebram contratos muitas vezes/ a maior parte
das vezes não é isto que acontece, se vamos celebrar um contrato muitas vezes não
conseguimos negociar (a outra parte é a parte economicamente mais forte, por exemplo),
pode acontecer também que ao celebrar um contrato previamente elaborado às vezes a parte
económica mais forte pode fixar um tribunal competente. Por isso é que estes pactos devem
corresponder a um interesse prévio entre ambas as partes, ou então a um interesse sério da
outra, desde que não envolva um inconveniente sério da outra parte, este é outro requisito;

-Exige-se que a matéria que seja objeto destes pactos não recaia sobre as matérias previstas no
artigo 63 do CPC, não recaia sobre matéria de exclusiva competência dos tribunais
portugueses.

Uma coisa é sabermos que os tribunais portugueses tenham competência internacional, por
força de alguns dos critérios do artigo 62, outra coisa é saber depois qual o tribunal
concretamente competente. Se aplicarmos o critério da coincidência não vamos a mais
nenhum artigo, porque por este critério como há uma coincidência entre a competência
internacional dos tribunais portugueses e as regras da competência em razão do território fica
automaticamente determinado o tribunal competente. Por aplicação dos outros critérios
temos que ir aos artigos 80 n2, ou 80 n3 consoante o que esteja em causa. Se chegarmos á
conclusão de que os tribunais portugueses têm competência internacional por força do critério
da causalidade o tribunal português concretamente competente se o reu tiver domicílio num
país estrangeiro será o tribunal do lugar em que se encontrar cá em Portugal, se não se
encontrar em Portugal será o tribunal do autor, se o autor tiver domicílio do estrangeiro será
no tribunal da comarca de lisboa.

Competência interna

Na ordem interna o poder jurisdicional de que a competência é uma fração ou parcela


distribui-se por estes critérios: matéria, valor, hierarquia e território.

Artigos 202 e 209 CRP

Tribunais de existência obrigatória é a expressão correta não tribunais obrigatórios.

1ª Coisa a saber face á competência residual dos tribunais judiciais é saber se a matéria se
enquadra noutra ordem jurisdicional ou não. Se não se enquadrar noutra ordem ela pertence
aos tribunais judiciais.

2ª Coisa: sabemos que nos tribunais judiciais de 1ª instância se incluem os tribunais de


competência territorial alargada e os tribunais de comarca.

São 23 comarcas que existem. Os tribunais de comarca também têm competência residual,
porque julgam processos/ causas não abrangidas pela competência de outros tribunais. São
tribunais de competência genérica e especializada, porque o juízo de competência genérica faz
parte do tribunal de comarca e por isso desdobram-se em juízos de competência especializada,
competência genérica e de proximidade.

34
Como se trata de uma ação declarativa cível sobre a forma de processo comum, ficam
afastados todos os restantes juízos sem ser o juízo local cível e juízo central cível.

Os tribunais de competência territorial alargada são aqueles que têm competência para mais
de uma comarca, podemos dizer que estes tribunais estão afastados porque a matéria em
causa não se enquadra na matéria prevista nos artigos 111 a 116.

É importante consultar os mapas porque a organização judiciária dos tribunais judiciais não é
idêntica nas 23 comarcas. Já vimos, por exemplo, a comarca da guarda não tem juízo de
competência especializada de execução. Por isto é que temos de ir ao mapa ver se existe
aquele juízo de competência especializada, porque se não existir pode-se ter de intentar a ação
num juízo de competência genérica.

Os juízos centrais cíveis julgam as ações de valor SUPERIOR a 50 mil euros.

Juízos de família e menores competência: estado civil das pessoas e família, menores e filhos
maiores, matéria tutelar educativa e de proteção.

A competência do tribunal em razão da matéria: temos que ver sempre como é que o autor
apresenta a relação jurídica na petição inicial, ou seja, analisando a causa de pedido e o
pedido. Ou seja, nós vemos o que eu é que o autor pretende e é daí que vemos onde vamos
encaixar na competência em razão da matéria essa ação. Se o autor alega que a mulher o traiu
e por isso quer o divórcio é por aí que vemos que cabe num juízo de família.

ART 124 competência do tribunal de menores.

Os juízos locais cíveis/ juízos de competência genérica: competência genérica nas respetivas
áreas territoriais quando essas causas não sejam atribuídas a outros tribunais

Juízos de proximidade: para realizar certas audiências de julgamento ou outras diligencias


processuais determinadas pelos juiz que não seja necessário outro juízo.

Competência em razão da hierarquia: os tribunais judiciais estão organizados de forma


hierárquica para o efeito de recurso das suas decisões.

Valor: serve para determinar a competência dos juízos centrais e dos juízos locais. Senão
alteraram, alterem o artigo 66, substituir instâncias pelas palavras juízos.

Competência em razão do território: já sabemos os tipos de foro que o CPC refere, podemos
encontrar o foro do réu nos artigos 80, 81, 82, o foro real ou da situação dos bens no artigo 70.
O foro obrigacional no artigo 71. O foro do autor nos artigos 72, 78 e 80 n2.

O foro do réu constitui a regra geral e portanto só a devemos ir no caso de não haver previsão
especial.

Exemplos: ação de anulação, de declaração de nulidade do negócio jurídico, de investigação da


paternidade, aqui não existe disposição especial recorre-se á regra geral.

Art.º 82

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A pluralidade de partes pode assumir qualquer uma das figuras do 82.

……………………………………………………………………………………………………
…………………………………………

Competência

Convém que quando se fale em competência em razão do território, tenhamos presente que as
regras de determinação da competência podem sofrer alguns desvios em função de certos
princípios, fundamentais no processo civil.

Há pelo menos dois princípios (principio da economia processual e principio dispositivo), não
nos podemos esquecer que estamos em direito processual civil, e embora o direito processual
civil seja um ramo de direito público, o que está na sua base é o direito civil. No direito civil há
um princípio extremamente importante: princípio da autonomia da vontade. Transpondo esse
princípio da autonomia da vontade para o processo civil encontramos o chamado principio
dispositivo. Dispositivo no sentido em que regra geral, são as partes que dispõem do
processo. Portanto, também esse princípio pode fazer com que as regras gerais de
determinação da competência sofram desvios.

O primeiro desvio tem a ver com a extensão da competência, estender a competência de um


tribunal para uma determinada situação que em princípio ele não a teria. O tribunal
competente para apreciar uma ação vê o seu poder de julgar estendido para certas questões
que possam surgir durante a ação e para as quais se não existisse esta estreita ligação com
aquilo que se pretende obter do tribunal não obteria competência.

Casos de extensão da competência:

Temos uma determinada ação que tem uma determinada causa de pedido e um pedido, para
isto sabemos que o tribunal competente é o tribunal A, mas a meio do processo surge uma
outra questão, questão X, para a qual o tribunal A não seria competente, mas como entre o
objeto inicial desta ação e esta ação há um estreito contacto, este tribunal passa a ser
competente também para apreciar a questão X, estende-se a competência deste tribunal para
apreciar esta questão, de outra forma este tribunal seria incompetente para conhecer da
questão X.

Causas em que se pode verificar esta extensão de competência:

-Questões incidentais: incidentes que podem acontecer durante do processo. A palavra


incidente demonstra que são questões que não integram anormal marcha/ tramitação do
processo, mas quando estas acontecem o tribunal tem que as resolver. Algumas situações de
incidentes da instância: verificação do valor da causa (todas as ações têm que ter um valor,
mas pode acontecer que as partes não estejam de acordo com o valor e que o tribunal vá ter
que decidir esta discussão quanto ao valor da causa. Isto é uma questão incidental, porque não
se propõe ações em tribunal para discutir valores das causas. Intervenção de terceiros:
intervenção de terceiros porque geralmente, a ação passa-se entre o autor e o réu mas a meio
do processo pode ser necessário chamar a intervir alguém que não seja parte (terceiro), e
portanto se se verificar essa necessidade o tribunal tem que ser chamado a resolver se esse

36
terceiro deve intervir ou não no processo. Habilitação: os nosso processos duram tanto tempo
que não é raro que o autor da ação ou o réu morram durante o processo, tem-se por isso que
habilitar os seus sucessores, a ação começa com A ou B mas acaba com B e C. Incidente da
liquidação: muitas vezes quando se invocam danos não é possível no momento em que se
propõe a ação determinar toda a extensão desses danos. Meios de defesa do réu: vamos
estudar um principio essencial do processo civil que é o principio do contraditório (quando se
intenta uma ação contra alguém esse alguém tem que ter conhecimento de que a ação foi
intentada contra ela e chamada a juízo para poder contradizer o que está a ser invocado contra
ela) e pode acontecer que essa parte invoque certos meios de defesa que se fossem apreciados
originariamente, no tribunal onde foi proposta a ação não teria competência, mas como existe
esta estreita ligação entre os meios de defesa e a ação que foi intentada o tribunal competente
para a ação também é competente para julgar todas as ações que o réu invoque como meio de
defesa. Exemplo: A residente em Lisboa, intenta uma ação de cumprimento de obrigação em
Coimbra que devia ser cumprida nessa comarca e o réu opõe a exceção da anulabilidade do
contrato. Nessa situação, se fosse apreciada aa anulabilidade em ação intentada pelo réu
contra o autor o tribunal competente seria Lisboa. Se a exceção da anulabilidade fosse
invocada nos termos do artigo 80 o tribunal competente seria o de lisboa (causa do réu) mas o
tribunal de Coimbra como está a apreciar o meio de defesa passa a ater competência.
Questões prejudiciais (lê se com acento o e): para se conhecer de uma determinada ação tem
que se conhecer uma anterior, nesta situações nos termos do artigo 92 do CPC se pode
verificar uma extensão da competência. Questões reconvencionais: regra geral quem deduz
pedidos é o autor, mas nessa mesma ação por uma questão onde economia processual, o réu
pode aproveitar a ação que o autor intentou contra ele para vir ele, réu fazer um pedido de
condenação do autor, passamos a ter duas ações a correr simultaneamente no mesmo
processo, e o tribunal que é importante para conhecer a ação que o autor intentou contra o
réu passa também a ser competente para conhecer a ação que o réu nesse mesmo processo
intenta contra o autor (reconvenção). É necessário que o tribunal que é competente para a
ação seja competente em razão da matéria, da hierarquia e em razão da competência
internacional para conhecer do pedido reconvencional, mas não tem de ser competente em
razão do território. Ação quando entrou tinha um valor de 30 mil euros, o autor pediu a
condenação do réu a pagar-lhe 30 mil euros e agora o réu em reconvenção pede que o autor
seja chamado a pagar-lhe 40 mil euros, sabem que o estado aqui não brinca este aumento para
70 mil euros faz aumentar a taxa de justiça, mas e aumenta a taxa de justiça porque aumentou
o valor. Se o juízo que começou a ser competente o local cível, deixa de ser e passa a ser o
central. Art.º 93 do CPC. A lei diz que o tribunal da ação é competente para as questões
reduzidas por via de convenção desde que tenha competência para elas em razão da matéria,
hierarquia e da competência internacional. Quando por virtude da reconvenção o tribunal
deixe de ser competente em razão do valor, deve o juiz oficiosamente remeter o processo para
o tribunal judicial. Reconvenção é um pedido autónomo que o réu deduz contra o autor que
por força do princípio da economia processual a lei permite que sejam apreciados num só
processo. Principio dispositivo: São as partes por sua vontade que modificam a competência,
nós na competência internacional chamamos a estes pactos conforme atribuam ou retirem
pactos atributivos ou privativos de jurisdição (art.º 94), aqui estamos apenas a falar
internamente, estamos a referir-nos às situações previstas no artigo 95. Competência
convencional, são as partes que através de convenção modificam a competência que está

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prevista no CPC. As regras de competência em razão da matéria da hierarquia e do valor da
causa não podem ser afastadas, é no entanto permitido á partes afastar por convenção
expressa a aplicação das regras de competência em razão do território. Não podem ser
afastadas as que estão previstas no art.º 104 do CPC. Esta convenção tem algumas exigências.

O acordo para modificar a competência deve satisfazer os requisitos da forma do contrato


fonte da obrigação, nos casos em que a lei não exija uma forma especial para o contrato a
convenção de modificação da competência faz-se por escrito, tem que ser reduzido a escrito
nos termos do n4 do artigo 94. Deve ainda designar as questões a que se refere e o critério de
determinação do tribunal que fica a ser o competente. São estes os tribunais que se deve ter
em conta quando as partes querem modificar a competência em razão do território nas
situações em que é possível.

O n3: a competência fundada na estipulação é tão obrigatória como a que derive da lei, isto
significa que as partes modificaram a competência, mas agora o autor ao intentar a ação, ao
invés de intentar a ação no tribunal convencionado intenta no tribunal que deriva da lei. Este
tribunal é incompetente. Incompetência relativa. Art.º 102 do CPC

Pode acontecer que intentemos ação num tribunal incompetente e por isso há que estudar os
regimes da incompetência e as suas consequências.

Há que estudar dois grandes regimes de incompetência:

-Incompetência absoluta (a mais grave), quando se violem regras de competência e razão da


matéria, da hierarquia, competência internacional e se viole a possibilidade de resolução de
litígio por tribunal arbitral. Portanto, a partes afastaram a jurisdição dos tribunais judiciais
prevendo que o litígio seria resolvido pelo tribunal arbitral e depois violam esse acordo.

Forma mais da incompetência porque de facto os critérios que estão na base dessas regras
intentam em razões de interesse e de natureza pública como seja a boa administração da
justiça. Quem pode arguir/invocar a incompetência absoluta pode ser arguida por qualquer das
partes e deve ser conhecida oficiosamente pelo tribunal. Em todas as situações? Não, a
incompetência absoluta não pode ser conhecida pelos tribunais oficiosamente se decorrer da
violação de um facto privativo de jurisdição ou da preterição do tribunal arbitral voluntário.

- Incompetência relativa.

Na última aula, ficámos no regime da incompetência absoluta, depois de nos ser dito quais as
situações que dão lugar á incompetência absoluta, vimos que era uma situação de
incompetência mais grave (pelas razões) e começámos a ver como se pode fazer valer a
incompetência em sede de tribunal.

Qualquer das partes pode arguir essa incompetência e essa incompetência pode ser conhecida
oficiosamente pelo, pelo próprio tribunal, sem que ninguém lhe peça salvo se a incompetência

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decorrer da violação de pacto privativo de jurisdição ou de preterição do tribunal arbitral, nos
termos do artigo 97.

Consequências da incompetência absoluta:

-Indeferimento liminar da petição inicial e consequente extinção da instância nos casos em que
o processo admita indeferimento liminar. Isto carece de esclarecimento. No processo civil
atual, a regra é a de que no processo civil declarativo não há lugar a despachos liminar, ou seja,
o juiz só tem contacto com as peças processuais a meio do processo essa fase acontece quando
termina a fase dos articulados. O processo inicia-se com a petição inicial (o autor dá entrada da
petição inicial no tribunal), depois se a secretaria não recusar a petição segue-se o sorteio
(definir o juiz), o sorteio chama-se distribuição, depois de distribuído tem que ser dado
conhecimento ao réu que contra ele foi proposta uma ação, chama-se de citação, o réu tem de
ser citado (para lhe dar a conhecer a proposta de determinada ação, e para se vir defender se
quiser. O réu é citado para contestar, se o articulado do autor se chama petição inicial, o
articulado do réu chama-se contestação. A seguir a esta contestação pode haver lugar a um
outro articulado do autor que se chama réplica. Só depois disto é que termina a fase dor
articulados, só depois da fase dos articulados é que o processo é concluso ao juiz para que
possa fazer a primeira apreciação do processo. Quando há lugar a despacho liminar, esse
despacho tem lugar antes mesmo do réu ser citado. Há despacho liminar em duas situações:
nos casos previstos na lei ou quando o juiz assim o determinar. Isto resulta do artigo 590. Só
há despacho liminar em situações excecionais. Os casos previstos na lei estão previstos no
artigo 226 n4.

226 n4: a citação depende porem de despacho prévio e indica os casos em que há lugar a esse
despacho. Se antes da situação o juiz verificar que o tribunal é absolutamente incompetente
em vez de citar indefere liminarmente a petição inicial com a consequente extinção da
instância (art.º 99 do CPC).

Nos casos em que não há despacho liminar o juiz conhece da incompetência absoluta no
despacho saneador. Nesse caso como o réu já foi citado, não há indeferimento liminar da
petição, nesse caso o réu é absolvido da instância (art.º 99). Se, por acaso, não houver lugar a
despacho saneador ou no despacho saneador o juiz não detetou a incompetência absoluta
ainda o pode fazer na própria sentença, absolvendo o réu da instância.

No meio disto tudo há uma exceção, um caso em que, não obstante, de estarmos perante uma
situação de incompetência absoluta em vez de haver absolvição do réu da instancia, remete-se
o processo para o tribunal competente, isto só é possível desde que se encontram preenchidos
os requisitos do artigo 99 n2.

99 n2 diz que se a incompetência for decretada depois de findos os articulados, podem estes
aproveitar-se desde que o autor requeira, não oferecendo o réu oposição justificada. Reparem,
mesmo que o autor requeira cumprindo o prazo, se o réu se opuser e essa oposição seja
justificada não se aplica o n2 do 99 e o réu é absolvido da instância.

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Isto, regra geral a decisão proferida sobre a incompetência absoluta mesmo depois de
transitada em julgado não produz efeitos fora do processo. Aqui forma-se o caso julgado
formal. Isto, exceto se se verificarem os requisitos previstos no artigo 101.

O valor da decisão sobre a incompetência absoluta do tribunal: a decisão que tenha transitado
em julgado num tribunal absolutamente incompetente apenas produz efeitos dentro do
processo, constitui caso julgado formal, exceto se forem verificados os requisitos consagrados
no artigo 101.

Incompetência relativa

Se a incompetência absoluta resulta da violação das regras em razão da matéria, hierarquia,


competência internacional e da preterição do tribunal arbitral a incompetência relativa
aplica-se aos casos restante.

A incompetência relativa resulta da infração da violação das regras fundadas no valor da


causa, na divisão do território ou na vontade das partes. Nos termos do artigo 102, estes são
os casos normais que originam a incompetência relativa embora, no artigo 107, esteja presente
um caso especial de incompetência relativa quando alguém aciona outra pessoa com o fim de
se desviar o verdadeiro réu do tribunal territorialmente competente.

Quando dissemos que a incompetência absoluta é mais grave devido á natureza dos interesses
que estão na base dessa incompetência absoluta que para a incompetência relativa temos que
dizer o contrário, ela é menos grave porque os interesses que estão na sua base são
fundamentalmente interesses de natureza particular. Reparem que ao contrário da
incompetência absoluta, que vimos que podia ser arguida por qualquer das partes, a
incompetência relativa só pode ser arguida pelo réu. Em razão do valor, a incompetência é
sempre do conhecimento oficioso pelo tribunal, ao contrário do que acontece com a
incompetência relativa em razão do território, nesses casos só é do conhecimento oficioso os
casos previstos no artigo 104.

Como se distingue o regime da incompetência relativa? Na incompetência absoluta por ser de


facto uma situação mais grave pode ser arguida por qualquer uma das partes e pode ser
conhecida oficiosamente pelo tribunal exceto nos casos e que se viole um pacto privativo de
jurisdição ou nos casos em que haja preterição do tribunal arbitral voluntário. Na
incompetência relativa é menos grave, só pode ser requerida pelo réu, só pode ser conhecido
oficiosamente no tribunal nos casos de incompetência relativa em razão ao valor. Nos casos de
incompetência relativa em relação ao território, regra geral não é conhecimento oficioso, só o é
nos casos previstos no artigo 104.

Exemplo: quando se viola o disposto no artigo 71 n2.

Quando é que se pode arguir a incompetência relativa? Se ela só pode ser requerida pelo réu é
normal que seja arguida no prazo fixado para a contestação, esse prazo é de 30 dias. Se a
exceção (não no sentido de exceção á regra, processualmente este palavra é um meio de
defesa do réu, o réu pode defender-se por impugnação, exceção dilatória ou por exceção
perentória) da incompetência

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Art.º 576: n1 diz que as exceções são dilatórias ou perentórias), exceções dilatórias são as que
obstam/impedem que o tribunal conheça do mérito da causa, dão lugar á absolvição do réu ou
á remessa do processo para outro tribunal. Se a exceção da incompetência for julgada
procedente o processo deve ser remetido para o tribunal competente. A incompetência
relativa é uma exceção dilatória. Art.º 577 verificar na lista se não estão incompetência com
exceção dilatória.

Portanto, quando nos perguntar quando o réu na contestação argui a incompetência relativa
como meio de defesa como é que ele se está a defender? Está-se a defender por exceção
dilatória. As exceções dilatórias são aquelas que obstam a que o tribunal conheça do mérito da
causa e tenha como consequência a absolvição da instância ou a remessa do processo para o
tribunal competente.

Nestas situações a lei prevê ainda que a decisão quando o tribunal é chamado a resolver esta
questão da incompetência relativa, nessa situação é admissível reclamação para o presidente
da relação que decide de forma definitiva a questão (art.º 105 n4). Temos aqui, todas as
diferenças entre o regime da incompetência absoluta e o regime da incompetência relativa
menos grave. TEMOS DE SABER

Matéria dos restantes pressupostos processuais.

O que são pressupostos processuais? São os requisitos necessários para que o juiz possa
apreciar o mérito da causa. Apreciar o mérito da causa é conhecer o pedido seja julgado
procedente ou improcedente.

Estes pressupostos processuais estão regulados no CPC, dizem respeito á disciplina processual.

Os pressupostos processuais distinguem-se e também convém não fazer confusão das


condições de ação.

As condições de ação são os requisitos necessários para que, o juiz possa julgar a ação de
forma procedente.

Para que se possa condenar o réu num pedido de indemnização com fundamento em
responsabilidade civil, há um artigo no CC que diz quais são as condições da ação, que
consubstanciam uma série de requisitos que têm de estar preenchidos para que o juiz possa
acolher favoravelmente o pedido. Tem de haver um facto, esse facto tem de ser ilícito, tem de
haver culpa, tem de haver dano, tem de haver nexo de causalidade entre o facto e o dano.
Esses requisitos para além de terem de ser alegados, têm de ser provados. Se o juiz ficar
convencido acerca da existência dos requisitos previstos no art.º 483 do CPC estão reunidas as
condições para que julgue procedente a ação.

Reparem, são requisitos completamente diferentes do que são os pressupostos processuais


porque os pressupostos processuais verificam-se antes do momento em que o juiz vai julgar
a ação. No momento, em que o juiz vai julgar a ação já temos de dizer que o tribunal é
competente, que as partes têm capacidade e personalidade judiciária, que têm legitimidade,
estão devidamente patrocinadas e que têm interesse em agir. No momento do julgamento os
pressupostos processuais têm de estar todos cumpridos, porque se não estiverem o juiz não

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aprecia o mérito da causa. Quando o juiz não aprecia o mérito da causa o réu é absolvido da
instância.

Podemos dividir os pressupostos processuais em duas grandes modalidades:

-Os pressupostos positivos (aqueles que têm de se verificar para que o juiz possa apreciar o
mérito da causa;

-Os pressupostos negativos (se se verificar impede o juiz de verificar o mérito da causa);

Quais são os pressupostos processuais negativos?

-Caso julgado;

-Exceção do caso julgado (caso julgado que pressupõe uma tríplice identidade: identidade
quanto ao sujeito, identidade quanto á causa de pedido, identidade quanto ao pedido de
forma a que o tribunal não se coloque na posição de ter julgado de forma contrária a uma
decisão anteriormente decidida e transitada em julgado);

-Função negativa do caso julgado;

-Litispendência: Uma figura muito próxima do caso julgado, no entanto, enquanto o caso
julgado pressupõe que a primeira decisão já esteja transitada em julgado, portanto pressupõe a
repetição das ações, mas a segunda tem lugar já depois da decisão da primeira, na
litispendência não, existe essa tríplice identidade, mas as ações estão a decorrer ao mesmo
tempo.

Quer o caso julgado como exceção quer a litispendência pressupõem a repetição de ações.

Enquanto no caso julgado a segunda ação entra depois da primeira ter já constituído caso
julgado, a litispendência pressupõe a repetição de duas ações mas simultaneamente.

Pretende-se evitar que os tribunais sejam colocados na situação de estarem a contrariar


decisões uns dos outros.

Quais são os pressupostos processuais positivos:

-Competência;

-Personalidade judiciária;

-Capacidade judiciária;

-Legitimidade processual;

-Interesse em agir;

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-Patrocínio judiciário,

-Constituição obrigatória de advogado.

São estes pressupostos que nós iremos dedicar a atenção.

Para a personalidade e capacidade temos de fazer apelo às bases adquiridas em DPSJ.

Os pressupostos processuais são os requisitos necessários para que os juízes possam conhecer
o mérito da causa (julgar procedente ou improcedente o pedido deduzido/ formulado pelo
autor).

Os pressupostos processuais podem ser de 2 tipos: positivos (têm que se verificar para que o
juiz possa apreciar o mérito da causa) ou negativos (aqueles que não se pode verificar, se se
verificarem o juiz está impedido de apreciar o mérito da causa.

Vamos dedicar-nos mais aos pressupostos processuais positivos, um dos quais a competência.

Personalidade judiciária: o primeiro requisito que o juiz tem de apreciar para depois poder
entrar na apreciação do mérito da causa é que as partes tenham personalidade judiciária. Isso
consiste precisamente na suscetibilidade ser parte, na suscetibilidade de demandar outro/ ser
demandado. Este requisito está previsto no artigo 11 do CPC. Há que ter atenção, o conceito de
parte que está previsto no artigo 11º é um conceito formal, portanto, parte de quem
demanda/ ou é demandado e não quem pode demandar ou pode ser demandado. Se a turma/
grupo intentar uma ação contra o professor, nós somos parte em sentido formal, porque fomos
nós que demandámos o professor. Podemos fazê-lo? Não, porque não somos parte em sentido
material, isto porque para haver personalidade judiciária tem de haver personalidade jurídica,
o CPC, equipara a personalidade judiciária á personalidade jurídica, cujo conceito já sabemos. A
turma enquanto grupo não é uma entidade dotada de personalidade jurídica, logo não tem
personalidade judiciária, logo não pode demandar. Embora sejam partes em sentido formal
não são parte em sentido material porque não podem demandar. Quem tiver personalidade
jurídica tem personalidade judiciária. Suscetibilidade de ser parte é a personalidade judiciária.
O que acontece é que o conceito de personalidade judiciária é mais amplo que o conceito de
personalidade jurídica, ou seja, tem personalidade judiciária quem tem personalidade jurídica,
mas a lei processual estende a personalidade judiciária a quem não tem personalidade jurídica.
Quais são essas situações? Essas situações são as previstas no artigo 12º do código do processo
civil. Caso da herança jacente (noção no artigo 2046 do código civil), dos patrimónios
autónomos semelhantes cujo titular não esteja determinado, associações sem personalidade
jurídica e as comissões especiais (entidades que não obstante de não terem personalidade
jurídica, têm personalidade judiciária), sociedades civis (previstas nos artigo 980 e seguintes do
código civil, sociedades comerciais que ainda não conseguiram personalidade jurídica, o
condomínio (resultante da propriedade horizontal), o caso dos navios.

O artigo 13º refere-se a uma situação especial, essa situação especial é a situação de embora
não tenham personalidade jurídica a lei vem dizer que as sucursais, agências, filiais, delegações
ou representações podem demandar ou ser demandadas quando a ação proceda de facto por

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elas praticado. Regra geral, quem tenha personalidade judiciária é a pessoa coletiva as se
estivermos perante ações que digama respeito a factos praticados pelo próprio aí podem
demandar/ serem demandados.

N2 se a administração principal tiver sede ou domicílio em país estrangeiro as sucursais,


agências, filiais, delegações ou representações estabelecidas em Portugal, podem demandar e
ser demandadas ainda que a ação nasça de um facto praticado pela administração principal.

Consequências da falta de personalidade judiciária: Por exemplo, eu não sabia e intentei ação
contra um morto, este obviamente não pode ser parte, se está morto não tem personalidade
jurídica, não tendo também personalidade judiciária, é quase impossível de sanar a situação.

Consequências: Por regra a falta de personalidade é insanável, e se acontecer a possibilidade


de existir o despacho liminar então a petição inicial deve ser liminarmente indeferida ou senão
houver despacho liminar dá-se a absolvição do réu da instancia no despacho saneador (nos
termos do disposto no artigo 577 alínea c, porque a falta de personalidade é uma exceção
dilatória e art.º 76 n2 tem a definição e consequência da exceção dilatória e no artigo 278 n1
al)c. Se não houver lugar a despacho liminar o momento é no despacho saneador, mas o nosso
legislador prevê um princípio e esse princípio é que devemos impedir ao máximo que o
processo termine na secretaria. O que o nosso legislador quer é que o juiz aprecie o mérito da
causa, que descubra a verdade material daquele litígio.

Portanto, sempre que possível deve-se tentar sanar a falta de pressupostos processuais, claro
que alguns são insanáveis e a falta de personalidade judiciária, regra geral, é insanável, mas
mesmo que falte esse pressuposto o nosso legislador consagra aí situações em que é possível
sanar a falta de personalidade judiciária.

Situação em que é possível sanar a falta de personalidade judiciária:

-1ª Situação: situação de as agências, filiais, sucursais, delegações e representações


demandarem ou serem demandadas fora dos casos previstos no artigo 13º. Fora desses casos,
estes não têm personalidade judiciária, mas se ação for proposta contra elas é possível sanar a
falta desse pressuposto processual. Como? Artigo 14: a falta de personalidade judiciária das
sucursais, agências, filiais, filiações ou representações pode ser sanada mediante a intervenção
da casa mãe, administração principal. Mas não basta a intervenção, é necessário ainda que ela
ratifique ou se proceda á repetição do processar. A forma de sanar a falta de personalidade
judiciária das agências, filiais, sucursais, representações e delegações é sanada, fora dos caos
do artigo 13 através da intervenção da administração principal e a ratificação ou repetição do
processado.

Mesmo nos casos em que o demandado morre antes de proposta a ação, ou os casos de ser o
autor a morrer antes de propor a ação, mas já depois de ter constituído advogado para este
efeito é possível salvar isto. Vamos buscar essa salvação ao artigo 351, através de um incidente
chamado incidente de habilitação. Diz o número 2 do art.º 351, se em consequência das
diligências para citação do réu, resultar certificado o falecimento deste pode requerer-se a
habilitação dos seus sucessores em conformidade com o que neste capítulo se dispõe ainda
que o óbito seja anterior á proposição da ação. Portanto, a morte do réu descobre-se naquele
que seria o réu e consequência das diligências para a sua citação. Ninguém pode ser

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condenado sem poder ser ouvido, ouve-se sempre a outra parte e a citação é o ato pelo qual
se dá a conhecer ao réu que contra ele foi proposta uma ação e que se o chama a tribunal para
se defender. Se em resultado das diligências para essa situação, resultar certificado que o
senhor já morreu o autor pode requerer a habilitação dos sucessores do de cujus ainda que o
óbito tivesse acontecido antes de proposta a ação.
N3 Se o autor falecer depois de ter conferido mandato para a proposição da ação e antes desta
ter sido instaurada, também se pode promover a habilitação dos seus sucessores, quando se
verifique algum dos casos excecionais em que o mandato é suscetível de ser emissivo depois
da morte do constituinte. O CPC prevê situações em que, não obstante da morte do mandante
ainda assim o mandatário pode prosseguir com os atos relativos ao mandato. Nessas situações
excecionais pode-se também proceder á habilitação dos sucessores. Fora destas situações, a
falta de personalidade judiciária é insanável. Portanto, se alguém puser uma ação contra um
cão é um caso de alta de personalidade judiciária insanável.

Capacidade judiciária: Não confundir nunca a capacidade judiciária com a personalidade


judiciária.
É muito normal, o professor fazer um caso prático e dizer que A intentou contra B, menor uma
ação… Depois diz: Na contestação o réu vem dizer que a ação não podia ser proposta contra
ele, e a pergunta é: concorda com a declaração? R: Temos de dizer que a ação pode ser
posposta contra ele, porque é que pode ser demandado? Porque tem personalidade jurídica,
se tem personalidade jurídica tem personalidade judiciária pode ser parte. Mas, sendo menor,
sabemos que os menores sofre de incapacidade de exercício, não podem atuar livre e
pessoalmente, transpondo isso para o CPC, é a mesma coisa, ele pode ser parte/ demandado,
tem personalidade jurídica, logo tem personalidade judiciária, o que acontece é que não tem a
possibilidade de estar por si mesmo porque não pode atuar por si próprio de forma pessoal e
livre em juízo.
Se lermos o artigo 15º do CPC, lá é dito que a capacidade judiciária consiste na possibilidade
de estar por si mesmo em juízo. A, lápis é preciso acrescentar, por si mesmo, ou seja, sem
necessidade de representação. Só quem pode estar por si mesmo, ou seja, sem necessidade de
representação e juízo é que tem capacidade judiciária.
Se, no artigo 11º n2 está o princípio da equiparação entre a personalidade judiciária e a
personalidade jurídica (a personalidade judiciária é ais ampla do que a personalidade jurídica),
também quanto á capacidade o legislador processual civil remete para o direito substantivo e
diz o seguinte: a capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade do exercício
do direito.

Temos por base e por medida: estas palavrinhas temos de as saber interpretar. Tem por base
significa que só tem capacidade judiciária quem tiver capacidade de exercício. E por medida?
Por medida significa que a capacidade judiciária acompanha os limites da capacidade de
exercício. Exemplo típico: menor de 17 anos, vendeu um bem com o produto do seu trabalho,
ele é menor? É, logo é incapaz de exercício, mas neste caso não é uma exceção á incapacidade
de exercício prevista no artigo 127? É, então a capacidade judiciária é elástica o suficiente para
acompanhar as limitações da capacidade de exercício, e então se estivermos perante uma
situação destas o menor tem suscetibilidade de estar por si mesmo em juízo, porque se ele
pode atuar pessoal e livremente ao abrigo do previsto no artigo 127 pode atuar pessoal e
livremente em juízo. Às limitações da capacidade de exercício corresponderam idênticas
limitações á capacidade judiciária.

Mas, é preciso ver um bocado mais á frente. É preciso ver quem é que representa aquelas
entidades dotadas de personalidade jurídica coletiva e, portanto, personalidade judiciária, nós

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sabemos que as Pessoas C, são pessoas logo têm personalidade jurídica e se têm personalidade
jurídica, tem personalidade judiciária. Atenção: nestas situações não está em causa a
incapacidade judiciária, porque uma pessoa coletiva também não tem incapacidade de
exercício, estamos a falar de um tipo específico de representação, representação orgânica. Os
órgãos incorporam a pessoa coletiva, são o instrumento de atuação da pessoa coletiva.
Portanto, é saber quem é que pode representar estas entidades e obviamente que no CC já
sabemos, e que cada sociedade comercial é regida pela sua própria disciplina. Esta
representação que aqui estamos a falar não é a mesma que vamos falar em relação aos
menores, não estamos a falar de qualquer situação de incapacidade judiciária. Mas sim de
representação orgânica.

Há também que saber quem é que representa aquelas entidades que não são dotadas de
personalidade jurídica as que têm personalidade judiciária nos termos do artigo 12.
Relativamente aos patrimónios autónomos pelos seus administradores, nas sociedades e
associações, sucursais, agências, filiais e delegações são as pessoas que agem como diretores,
agentes ou administrador, no caso do condomínio pelo administrador, no que diz respeito a
bens doados a nascituro administra o próprio doador. Se houver algum litígio relativamente a
alguma destas entidades deve-se dizer no caso mais comum: fulano tal vem intentar ação
contra o condomínio X, devidamente representado pelo seu administrador.

Como devem estar a ver vamos continuar com a matéria dos pressupostos processuais e
estávamos na capacidade judiciária que já sabem o que é. Em termos do disposto no art.º 15, a
capacidade judiciária consiste na suscetibilidade de estar por si mesmo em juízo. Sem
necessidade de representação, o que acontece é que o legislador no mesmo preceito no
número 2 do artigo 15 vem dizer que a capacidade judiciária tem por base e por medida a
capacidade de exercício de direitos. E, portanto, significa isto, duas coisas: que só tem
capacidade judiciária quem tiver capacidade de exercício e a capacidade judiciária
acompanha as limitações decorrentes da capacidade de exercício.

É bom que esteja presente o regime substantivo para depois podermos relacionar com o
regime processual.

Quais são os meios de suprimento da incapacidade judiciária?

Sabemos quais são os casos de incapacidade de exercício e, portanto, se, a incapacidade


judiciária tem por base e por medida a capacidade de exercício nós sabemos que aquelas
pessoas que estão sujeitas á incapacidade de exercício são os menores e os maiores
acompanhados.

Portanto, o meio de suprir essa incapacidade no que diz respeito aos menores é a
representação. As partes incapazes (os incapazes podem ser partes, porque têm
personalidade jurídica, logo têm personalidade judiciária) podem estar em juízo por
intermédio dos seus representantes. No que diz respeito aos menores, são representados por

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quem exerça as responsabilidades parentais e subsidiariamente por um tutor. Aplicar ao
processo civil o que resulta do artigo 124 do código civil.

No que diz respeito aos maiores acompanhados sabemos que, atualmente, não temos as
mesmas soluções legais que tínhamos nos tempos dos interditos e inabilitados, porque as
medidas que o tribunal pode aplicar ao maior acompanhado são inúmeras mas podemos fazer
uma distinção entre medida que implicam representação e medidas que não implicam
representação.

As que impliquem representação significa que nesse caso o maior acompanhado carece de ser
representado pelo acompanhante, meio de suprir a incapacidade do maior acompanhado.

As medidas que não impliquem, a que os maiores acompanhados não estão por isso sujeitos a
representação podem intervir na ação e devem ser citados quando estiverem na posição de
réus.

No que diz respeito aos menores, eles podem ser partes, mas como são menores são incapazes
de exercício, se são incapazes de exercício não têm capacidade judiciária e se não têm
capacidade judiciária não podem estar por si mesmos representados, carecem de quem os
represente.

Para todos os efeitos a parte é o incapaz, é o incapaz que é condenado/ absolvido se for réu, o
representante nunca é parte é apenas o representante. Está lá porque essa parte não pode
estar por si mesmo em juízo. Isto são os meios de suprir a incapacidade.

Mas podemos ainda encontrar algumas situações um pouco mais complexas, casos de
incapazes que não tenham representante designado ou em que haja um conflito de interesses
entre o representante e o representado. Nesses casos carece de ser nomeado um curador
especial, diz-nos o artigo 17 do CPC: representação por curador especial ou provisório: se o
incapaz não tiver representante geral deve requerer-se a nomeação dele (curador especial ou
provisório), sem prejuízo de imediata designação de um curador provisório pelo juiz da causa
em caso de emergência.

E, também se deve nomear pelo tribunal um curador por três situações: existência de conflitos
de interesses, existir norma que especialmente o determine, e quando ocorra uma
impossibilidade de facto de se proceder á situação. Nestas situações deve ser nomeado um
curador especial.

A quem cabe requerer o suprimento dessa incapacidade? Ora temos de distinguir se a


incapacidade diz respeito ao autor ou ao réu.

Exemplos: Um menor incapaz cujos pais morreram quer propor uma ação. Depende de se a
incapacidade diz respeito ao autor ou ao réu. Se a incapacidade disser respeito ao autor e de
facto houver necessidade de nomear curador especial ou provisório, quando a incapacidade
se referir ao autor a nomeação desse curador deve ser feita ou pelo ministério publico ou
qualquer parente sucessivo. Se a incapacidade disser respeito ao réu e necessita nos casos
que vimos de um curador especial ou provisório esse ónus recai sobre o autor. O autor

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sabendo que é necessário nomear um curador especial ao réu, o autor deve requerer essa
nomeação.

No que diz respeito aos incertos, essa situação cumpre ao ministério publico e no que diz
respeito aos incertos e ausentes diz respeito também ao ministério público. Estas são as
situações em que o incapaz não tem representante ou então nos casos de conflitos de
interesses, quando existe a norma especial que determine ou então quando exista uma
impossibilidade de facto de se proceder á situação (referente aos incertos e ausentes).

Pequeno resumo: meios de suprimento da incapacidade judiciária: em relação aos menores


tem-se a representação, por quem exerça poder paternal, subsidiariamente por um tutor. No
caso dos maiores acompanhados se a medida que incide sobre o maior acompanhado careça
de representação eles carecem de ser representados pelo acompanhante, se a medida não
envolver representação são eles que devem estar por si em juízo e citados se tiverem a posição
de réus.

Situação em que é necessário nomear curador especial ou provisório (para casos de


emergência): falta de representante, conflitos de interesse, quando existe a norma especial
que o determina, ou quando exista uma impossibilidade de facto de se efetuar a citação.
Nessas situações os modos de suprir essas incapacidades são diferentes quanto ao autor e
quanto ao réu.

Se diz respeito ao autor a regra é que seja pelo ministério publico ou por qualquer outro
sucessível, se a incapacidade disser respeito ao réu cabe ao autor, o autor tem o ónus de
requerer essa nomeação.

Passando dos meios aos modos, uma coisa é o meio de suprir outra coisa é o modo.

Exemplo: vão intentar uma ação contra um menor e ele tem 17 anos, não estamos perante
nenhumas das situações excecionais do artigo 127 do CC. Intenta ação contra ele, sem ter
pedido o suprimento da incapacidade. A ação devia ter sido intentada contra o André com
representação dos seus pais, no entanto, foi só intentada contra o André. Ou ao contrário, o
André ser menor e apresentar ação sem autorização dos seu progenitor. Numa situação o
incapaz é o réu na outra é o autor. Tal como vimos nas situações de falta de personalidade em
que algumas situações podem ser sanadas também temos de ver quando e como se faz esse
suprimento. Ma agora já não estamos nos meios mas sim modos de suprir a incapacidade. A
regra é que nos termos do artigo 27 do CPC a incapacidade judiciária e a irregularidade de
representação são sanáveis. Ao passo que na falta de personalidade judiciária a regra é de que
não é sanável, aqui na incapacidade judiciária a regra é de que é sanável. Também aqui, temos
de fazer a distinção consoante a incapacidade diga respeito a o autor ou ao réu.

O modo de suprir a incapacidade do autor: supre-se a incapacidade referente ao autor


mediante a intervenção e ratificação do processado pelo seu representante.

Se a incapacidade disser respeito ao réu, for apresentada uma ação contra um menor sem este
estar representado pelos seus progenitores como é que se pode suprir essa situação? Através
da intervenção ou citação do seu representante.

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Ora bem, e se esta situação for apenas verificada pelo juiz? Se o juiz verificar a situação de
incapacidade judiciária não suprida, o juiz deve/ tem o dever de providenciar pelo seu
suprimento.

Artigos 27 e 28 do CPC

Artigo 28: logo que se aperceba de alguns dos vícios a que se refere o artigo anterior deve o
juiz oficiosamente e a todo o tempo providenciar pela regularização da instância.

N2 incumbe ao juiz de ordenar a citação do réu em quem o deva representar, ou se a falta ou


irregularidade respeitar ao autor determinar a notificação de quem o deva representar na
causa para, no prazo fixado, ratificar querendo, no todo ou em parte, o processado anterior,
suspendendo-se entretanto a instância. Aqui está a diferença, enquanto se a incapacidade
disser respeito ao autor é suprida com a intervenção e ratificação do processado por quem
deva representar o autor, no que diz respeito ao reu, basta a intervenção ou ratificação de
quem o deva representar.

Consequências do não suprimento: regra geral, absolvição do réu da instância, quando a


incapacidade disser respeito ao autor. A consequência é exatamente a mesma, absolvição do
réu da instância, quando é o réu que é incapaz e o não suprimento da incapacidade for
imputável ao autor.

Se o não suprimento disser respeito ao réu (é o réu que é incapaz e essa incapacidade não foi
suprida), mas o não suprimento não é imputável ao autor qual é que é a consequência? Não
sendo imputável ao autor, incumbe ao ministério publico a representação do réu, se o
ministério publico nada fizer, segue o processo como se não houvesse incapacidade.

Se o não suprimento disser respeito ao réu (é o reu que é incapaz), mas se o não suprimento
for da responsabilidade do autor o réu é absolvido da instância.

Pode acontecer que o não suprimento (ausência de intervenção ou citação do representante


do réu não seja da responsabilidade do autor), até foi pedida a citação do representante do
réu, mas o representante não respondeu, se estivermos perante uma situação que não seja
imputável ao autor (não cabe ao autor fazer mais nada) deve-se citar o ministério publico para
ele representar o incapaz. Se o ministério público não representar não se pode absolver o réu
da instância porque estaríamos a beneficiar um infrator, o processo segue por isso á revelia.

Voltando atrás:

Modos de suprimento:

-A incapacidade judiciária é sanável (27 n1 do CPC);

-A incapacidade judiciária e a irregularidade de representação são sanáveis;

-Há que saber qual é o modo de suprimento/ sanação consoante a incapacidade diga respeito
ao autor ou ao réu, se disser respeito ao autor o suprimento faz-se através da intervenção ou
ratificação do processado pelo representante. Se disser respeito ao réu, a incapacidade
supre-se através da intervenção ou citação.

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-Se o juiz verificar a situação da incapacidade, deve ele a todo o tempo providenciar pelo
suprimento nos termos do artigo 28, diga respeito ao autor ou ao réu.

Se disser respeito ao autor o juiz incumbe a secretaria de notificar o representante do autor


para que ele vá ao processo ratificar o processado e assim intervém e ratifica, se não fizer uma
das duas coisas o réu é absolvido da instância

No que diga respeito ao reu, o juiz deve ordenar a citação na pessoa de quem representa o réu.
Se a falta de suprimento da incapacidade do réu é de responsabilidade do autor tem o ónus de
ser ele a nomear um representante e não o fez o réu é absolvido da instância.

Se disser respeito ao réu e o não suprimento não for devido ao autor segue-se a necessidade
de chamar o ministério público para contestar e se o ministério público não contestar o
processo segue á revelia

Seguir á revelia significa que o processo segue normalmente como se o réu não tivesse
contestado.

O regime é igual nos casos de citação ou intervenção do representante em que estes não
ratifiquem ou renovem os atos praticados pelo incapaz. No caso do autor, ele tem de intervir e
ratificar, no caso do réu ele tem que intervir, se não teve intervenção o processo segue á revelia
deste.

No caso de a parte estar devidamente representada, mas nos termos do artigo 29 falta alguma
autorização ou deliberação. A parte pode estar devidamente representada, mas faltar alguma
autorização ou deliberação, sana-se isto dando um prazo á parte para ela juntar a respetiva
autorização ou deliberação. Passando-se o prazo se a mesma devesse ter sido obtida pelo
autor o réu é absolvido da instância. Se era o representante do réu a consequência é de que o
processo segue á revelia.

A regra da absolvição do réu da instância sofre uma exceção presente no artigo 278 n3. Neste
artigo são falados dos casos de absolvição da instância. O juiz deve abster-se de conhecer o
pedido e absolver o réu da instância quando…

Exemplo: Eu sou um maior acompanhado e o André intenta uma ação contra mim sem pedir
que eu esteja devidamente acompanhado e cumpria-lhe nomear um representante, coisa que
não fez. A consequência é que eu seja absolvido da instância.

Quando o legislador diz que eu vou ser absolvido da instância quer-me proteger, eu não posso
estar por mim mesmo em juízo, tenho de estar devidamente representado, incumbia ao autor
o ónus da minha representação ele não pediu, eu vou ser absolvido. Mas, suponham que o juiz
ao conferir o despacho em que me vai absolver da instância olha para a ação e percebe que o
autor não tinha razão, se não fosse o facto de eu ser incapaz eu até podia conhecer já do
mérito do pedido. A lei diz que se está impedido, mas se conhecesse o mérito ia decidir
integralmente favorável ao réu. O que é que é mais benéfico? O réu ser absolvido da instância
ou do pedido? É mais favorável haver absolvição do pedido quando a decisão se tornar
definitiva forma-se caso julgado material, ao caso que se o réu for absolvido da instância

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forma-se o chamado caso julgado formal, que não impede que o autor venha a propor nova
ação.

Então como quem queremos proteger é a parte que padece da incapacidade ele fica mais
protegido se o juiz conhecer do pedido, desde que esse conhecimento seja integralmente
favorável á parte que está a ser protegida pela incapacidade o juiz deve conhecer do pedido e
ao invés de o absolver da instância absolver do pedido (art.º 278 n3).

Legitimidade

Está prevista nos artigos 30 e seguintes do CPC e convém que nãos nos deixemos enganar.

Olhando para o artigo 30 pensamos que é fácil, o artigo 30 até tem o conceito de legitimidade.
Nada mais enganador, é pecado mortal, isto porque, o artigo 30 diz-nos que o autor é parte
legitima quando tem interesse direto em demandar, e o réu é parte legitima quando tem
interesse direto em contradizer. Obviamente que que se é proposta uma ação contra mim
quem a propôs tinha interesse em me demandar, se eu sou demandado tenho interesse direto
em contradizer. O número 2 ainda vem dizer que o interesse em demandar exprime-se pela
utilidade derivada da procedência da ação, isto é claro, se eu intento uma ação é para ganhar,
se ganhar daí vai-se retirar uma utilidade. Significa que para o réu o interesse em contradizer
exprime-se pelo prejuízo que dessa procedência advenha.

Temos um interesse direto em demandar porque se a ação for ganha daí retira-se uma
utilidade, o réu tem interesse em contradizer porque se perder a ação daí advém um
prejuízo.

Só que isto, embora importante, é pouco.

Vamos olhar para o artigo 30 e vamos tentar desenvolver. A palavra direto está lá por uma
razão. O autor tem legitimidade quando tem interesse direto em demandar. O direto está
desde logo para afastar situações em que o interesse não é direto, situações em que o
interesse é meramente reflexo.

Exemplo: os nossos filhos têm ou não interesse que o nosso património seja o maior possível?
Sim. Se eu for credor da pessoa B, e B não pagar não podemos, por exemplo, decidir não
apresentar ação contra B. Mas o meu filho pode ficar chateado, pelo facto de esses 20 mil
euros não estarem presentes no património deixado pelo pai, portanto o filho vai pedir para B
ser condenado. Isto não pode acontecer, embora o filho tenha interesse, este interesse não é
direto, é um interesse reflexo.

Há, no entanto, um caso em que os herdeiros podem requerer a nulidade de um negócio


jurídico em que os filhos podem provocar a nulidade de um negócio: caso da simulação
quando esta seja fraudulenta. Neste caso, o interesse direto é atribuído pela lei, mas regra
geral, não o têm.

51
De 1931 a 1995 discutiu-se isto da legitimidade, isto porque havia 2 professores: o professor
Barbosa Magalhães e o professor Alberto dos Reis que discutiram como se aferia a
legitimidade, mesmo com o conceito que está no CPC.

O professore Antunes Varela, ele próprio veio dizer-nos o que é legitimidade: ele definia a
legitimidade como sendo o poder de condução do processo. As partes são legitimas quando
sejam essas partes que podem dispor do objeto do processo. Isso significa que quando têm o
pode como autores de fazer o pedido ou como réus o poder de deduzir a defesa oponível.

Legitimidade: Poder de condução do processo, mas no sentido de deduzir uma pretensão em


juízo, e o poder deduzir uma defesa contra essa pretensão.

Obviamente que não se pode confundir o poder de deduzir uma determinada e concreta
pretensão com o poder de a obter.

Estamos a tratar de saber quem é que pode deduzir em juízo uma determinada e concreta
pretensão. Isto não tem nada a ver com a personalidade ou capacidade judiciária, mas de saber
se aquelas partes podem assumir as respetivas posições no processo em face do pedido
deduzido ou em face da contestação deduzida.

Para que possa haver uma ação em tribunal tem de haver uma relação jurídica qualquer
substantiva, por exemplo, ou porque A é atropelado por B, e agora A quer intentar uma ação
contra B, ou então quando o A celebra um contrato de compra e venda com B… Para haver
uma ação em tribunal tem de haver primeiro uma situação jurídica da vida: um litígio entre as
pessoas, é esse litígio que o tribunal vai dirimir.

Regra geral, o tribunal deve olhar para os interesses em causa e depois ver se estão em juízo os
titulares desses interesses. Regra geral, é assim que se afere a legitimidade: olha-se para a
relação litigiosa, e depois de a ação ser interposta em tribunal temos de ver se as pessoas em
litígio correspondem às pessoas que eram os titulares dos interesses em causa na tal relação
controvertida.

Se o acidente foi entre o A e o B, e se agora temos uma ação entre o B e o A em que o A vem
pedir uma indeminização, obviamente que temos de aferir se a relação da vida que deu lugar
ao litigio tem como titulares aqueles que estão no processo, tem que haver uma coincidência
entre as pessoas que estão em litigio com aquelas que estão em tribunal. Se foi o B a atropelar
o A faz sentido que seja o A, a intentar a ação.

Imaginando que A intentava ação contra o B, por este o ter atropelado dizendo que com isso
ficou muito magoado, e pedindo uma indeminização de 100 mil euros e na contestação B dizia
que não o atropelou, que não era ele a conduzir o carro e, que portanto, é parte ilegítima
porque não é titular do interesse que está subjacente á relação processual nem tem interesse
em contradizer.

O juiz perante isto, um diz que B atropelou, B diz que não atropelou, deve com base na prova
produzida, verificar se é possível provar quem ia a conduzir o carro. No entanto, o juiz ainda
não está nessa fase do processo, ainda está a apreciar se estão reunidos todos os pressupostos
processuais.

52
A discussão acerca da legitimidade nasce nesta situação: uma empresa vendeu muitas mil
toneladas de ferro á empresa B e esta não pagou. A empresa A intenta por isso ação contra a
empresa B, e a empresa B na contestação vem dizer que não tem nada a ver com o pagamento
do preço, que foi apenas um intermediário no negócio, porque quem comprou e não pagou foi
a empresa C. Ora, como a empresa B não é titular do interesse em causa, esta é parte ilegítima.

O professor Alberto dos Reis vinha dizer que as partes são legitimas quando depois de ouvidas,
se concluir que estão em juízo os titulares da relação controvertida.

O professor Barbosa de Magalhães vinha dizer que não podia ser porque na análise dos
pressupostos processuais não se pode analisar a relação controvertida, temos por isso que
partir do principio de que tudo se passa como o autor diz: vamos partir do principio, dar como
bom que aquilo que o autor diz só para efeitos de legitimidade é verdadeiro. A isto o professor
Alberto dos Reis perguntava que então se em julgamento se vier a provar que afinal o B tem
razão? O professor Barbosa de Magalhães vinha dizer que se o B tinha razão não havia
problema nenhum, já não estamos na fase do pressuposto processual, aqui já estamos a
analisar o mérito da causa e se for provado que não foi ele que realmente comprou não há
problema, porque ele não é absolvido da instancia, -mas sim do pedido.

Depois de muita discussão em 95 houve uma reforma do CPC, em que o legislador toma uma
opção, opta pela tese do professor Barbosa de Magalhães.

Na falta de indicação da lei em contrário (algum caso em que a lei diga quem tem
legitimidade), são considerados titulares do interesse relevante para o efeito da legitimidade,
para efeitos de pressuposto processual, saber se o juiz pode entrar na apreciação do mérito da
causa os sujeitos da relação controvertida, tal como é configurada pelo autor. Portanto, se o
autor diz que celebrou um contrato com a Adriana, sendo que Adriana não cumpriu e o autor
intenta uma ação e a Adriana vem dizer que não foi ela que comprou as batatas mas sim a
Edna, o juiz vai dizer que a Adriana é parte legitima, porque para efeitos de legitimidade os
titulares do interesse relevante são os sujeitos da relação material controvertida, tal como, o
autor configurou.

A Adriana em tribunal prova que não comprou as batatas, e se não foi ela que comprou ela não
tem de pagar, se ela não tem de pagar e o pedido foi que ela pagasse o juiz irá absolver a
Adriana do pedido.

Para efeitos de legitimidade só importa aquilo que o autor diz, ora, quando se for apreciar o
mérito da causa, aí a questão já não é de legitimidade, mas de saber quem é efetivamente o
sujeito da relação controvertida. Isto é assim para a legitimidade singular, não para a plural.

Hoje não existem muitos casos de ilegitimidade singular porque aquelas que são legitimas são
as que o autor diz que são.

Quando se fala em legitimidade singular e uma vez que é necessário irmos ao fundo da
questão/ ao mérito da questão temos que arranjar uma solução porque não estamos num
momento em que podemos ir ao fundo da questão, o juiz não pode ainda apreciar o mérito da
questão, isto porque ainda estamos por saber se se pode apreciar o mérito ou não.

53
Parte-se do princípio de que a relação material controvertida configurada pelo autor existiu e
com esses sujeitos que ele diz, se com a apreciação do mérito da causa, se chegar á conclusão
de que aquele sujeito não tem nada a ver com isso ele é absolvido. Até porque para ele é muito
mais vantajoso ser absolvido do pedido do que da instância.

Consequências da ilegitimidade

A consequência da ilegitimidade é o impedimento do juiz de apreciar o mérito da causa, e,


portanto, a absolvição do réu da instância.

Em processo civil a legitimidade pode ser singular ou plural, consoante a relação com apenas
um sujeito ou da relação com vários sujeitos quer do lado ativo quer do lado passivo. Reparem
como é que deve ser colocada a questão quando estamos a tratar da legitimidade singular: em
vez de estar lá o António, está lá o Gonçalo, quando se trata de legitimidade plural para além
do António também não deve lá estar o Manel?

A ilegitimidade singular é insanável, ao passo a que, a ilegitimidade plural quando consista na


preterição de um litisconsórcio necessário (ele é necessário quando é necessário que estejam
em juízo todos os interessados), pode ser necessário por lei, por convenção ou pela própria
natureza da relação jurídica que para alem do X também tenha de estar o Y o litisconsórcio é
necessário. E se lá devesse estar também o Y e não está o X sozinho é parte legitima, mas essa
ilegitimidade é sanável nos termos do disposto no artigo 261 e nos termos dos artigos 316 e
seguintes em que a lei consagra um poder de intervenção de terceiros, precisamente para que
esses terceiros possam vir a ser chamados ao processo e então estarem lá todos os
interessados.

A legitimidade deve ser aferida tendo em conta a titularidade dos interesses em jogo, portanto,
saber se estão em juízo os titulares dos interesses da relação material controvertida, litigiosa, e
a lei diz-nos para reforçar a ideia de que a legitimidade se afere a uma determinada e concreta
ação, a lei diz-nos que o interesse em demandar que o artigo 30 n1 começa por dizer que tem
legitimidade como autor quem tem interesse direto em demandar e que tem legitimidade
como réu aquele que tem interesse em contradizer.

O interesse direto em demandar afere-se pela utilidade/ benefício que o autor pode retirar da
ação ser julgada procedente. O interesse em contradizer exprime-se pelo prejuízo que daquela
procedência advenha.

A questão que se coloca é de saber: mas quem é que configura essa relação material
controvertida, onde nós vamos ver quem são os titulares do tal interesse? Porque para haver
titulares de um certo interesse tem de haver uma determinada relação. É dessa determinada
relação que nos sabemos quem são os titulares

Que é que determina quem são os sujeitos da relação material controvertida?

A lei dá-nos a resposta no 30 n3, quanto á definição dos titulares do interesse relevante para
efeitos de legitimidade deve atender-se aos sujeitos da relação controvertida tal como é
configurada pelo autor. Quando a lei não disponha em contrário são titulares do interesse

54
relevante para efeitos de legitimidade, entendida a legitimidade como o poder de condução do
processo os sujeitos da relação material controvertida tal como é configurada pelo autor.

Temos de ver se os sujeitos da relação material controvertida, tal como o autor configura são
os mesmos que estão em juízo.

Exemplo: No dia 1 de dezembro vinha com o seu carro a passear na marginal e que o B
conduzindo a sua viatura colidiu, desrespeitando um stop. A intenta uma ação contra B
pedindo que este seja condenado a pagar uma indeminização. Neste caso há uma coincidência
entre os sujeitos da relação processual e os sujeitos da relação material controvertida tal como
é configurada pelo autor. Neste caso, as partes são legitimas, o A tem um interesse direto na
ação porque se ganhar tem a indeminização e o B tem interesse em contradizer, porque se
perder a ação tem um prejuízo. Se estão em tribunal os sujeitos da relação material
controvertida tal como o autor a configura, as partes são legitimas.

Isto resultou de um velho debate na jurisprudência entre dois ilustres processualistas: Alberto
dos Reis e o Professor Barbosa de Magalhães. O primeiro vinha dizer que a legitimidade só se
podia aferir depois de ouvidas ambas as partes. Isto, no entanto, tem um problema, vai obrigar
o juiz a entrar na apreciação do mérito da causa quando ainda estamos numa fase em que ele
ainda não sabe se pode entrar na apreciação do mérito da causa. Ainda estamos a aferir o
pressuposto processual.

O professor Barbosa Magalhães vem dizer que ela deve aferir-se pressupondo que a relação
material controvertida que o autor configura foi assim mesmo. Parte-se desse o princípio: para
efeitos de legitimidade a coisa passa-se como o autor a configura, se depois mais á frente se
chega á conclusão que não foi assim, a consequência já não é a absolvição da instância, mas a
absolvição do pedido. E, portanto, no n3 do artigo 30, como se pode perceber foi acolhida a
tese do professor Barbosa de Magalhães, mas para as situações de legitimidade singular, para
as situações de legitimidade plural conta outra coisa.

Pequeno resumo:

A legitimidade consiste na posição da parte em relação a certo objeto do processo, quanto a


certa matéria que é tratada desse mesmo processo, e, portanto, sempre que alei não diga nada
em contrário, condenar-se-ão como titulares do interesse relevante os sujeitos da relação
material controvertida. Tem de haver uma coincidência entre os sujeitos da relação subjacente
com a relação jurídica processual.

Quem configura essa relação é o autor. A relação jurídica controvertida que serve de base á
legitimidade das partes é aquela unilateralmente configurada pelo autor.

Fim do resumo

Conselhos:

-Quando estamos no âmbito da legitimidade singular, nunca se deixem levar pelo que
diz o réu.

55
Mas a lei para alem dos critérios gerais que estão no artigo 30 também prevê situações
especiais, e uma delas é relativa a interesses de cujus.

A fábrica ao pé do douro anda a fazer uns despejos, nós estamos em Lisboa, será que um
cidadão normal pode propor uma ação contra a fábrica? Ou quando se vir alguém a fazer um
grafiti num monumento se pode apresentar uma ação? Ora tudo isto são interesses difusos, e
que a lei diz quem tem legitimidade, qualquer cidadão no gozo dos seus direitos civis e
políticos tem legitimidade.

Interesses difusos são os que têm uma dimensão individual e supra individual e que, portanto,
todos nós somos titulares desse direito, mesmo que não haja um interesse direto a lei quem é
que tem essa legitimidade.

Outro critério especial é o que se passa com a substituição processual: a lei atribui legitimidade
a quem não é titular do objeto do processo, ou naquelas situações em que há uma
contitularidade, não é o único titular dos interesses em causa. Se lermos o artigo 263
rapidamente percebemos do que se trata aqui.

O 263 diz que no caso de transmissão por ato entre vivus de coisa ou direito litigioso, o
transmitente continua a ter legitimidade para a causa enquanto o adquirente não for por meio
de habilitação admitido a transmitir. Já não é titular do objeto do processo, mas mesmo assim
a lei continua a atribuir-lhe legitimidade.

As situações de compropriedade, em que são vários os titulares de direito de propriedade


sobre uma coisa, de acordo com o artigo 1460 n2 do código civil, embora a coisa seja de todos,
um dos proprietários sozinho pode intentar uma ação de reivindicação contra esse agressor.

Legitimidade plural

Já vimos á pouco que na legitimidade plural temos mais de um sujeito no lado ativo ou passivo
da relação substantiva ou processual. A questão não é de em vez do X estar o Y, mas sim de
para além do X também tem que estar o Y.

A legitimidade plural tem duas famílias, o litisconsórcio e a coligação.

No litisconsórcio á pluralidade de partes corresponde a unicidade de pedido.

A, B e C, autores (pluralidade de partes no lado ativo) deduzem um só pedido contra B.

A deduz um só pedido contra B, C e D é também litisconsórcio. Há pluralidade de partes e um


único pedido.

Na coligação existe pluralidade de partes e pluralidade de pedidos deduzidos de forma


diferenciada. O A deduz um pedido contra C, o B deduz um pedido contra C, coligação.

O A deduz um pedido contra C e outro pedido contra D, coligação.

O A deduz um pedido contra o E, o B deduz um pedido contra o D, coligação.

56
Tem de haver pluralidade de partes, com pluralidade de pedidos, mas em que os pedidos são
apresentados de forma diferenciada relativamente às várias partes.

Coligação: O A pede a condenação de B a entregar X, e a condenação de C a entregar Y.

Litisconsórcio tem a ver com pluralidade de partes.

Se há pluralidade de partes e unicidade de pedido há litisconsórcio.

Se há pluralidade de partes e de pedidos deduzidos diferenciadamente há coligação.

Mas, o litisconsórcio é um dos membros da família da pluralidade de partes e também tem


duas grandes modalidades:

-O litisconsórcio pode ser voluntário (regra geral art.º 32 do CPC), em que temos uma
relação processual em que existem vários interessados), mas no litisconsórcio voluntário não é
necessário que lá estejam todos para se assegurar a legitimidade daqueles que lá estão, a
intervenção de todos os sujeitos da relação material controvertida não é exigida para
assegurar a legitimidade das partes.

O professor pede emprestado 1 milhão de euros, a turma junta-se e empresta ao professor que
fica de o restituir até ao dia 31 de dezembro. No dia 15 de janeiro o professor não pagou,
temos de ir todos apresentar ação contra ele? Todos somos terceiros, a relação material
controvertida passa-se entre todos os alunos e o professor. Basta que um intente a ação,
podemos ir todos, mas não é necessário. É litisconsórcio voluntário

No litisconsórcio voluntário temos de distinguir duas situações:

-Situações em que a lei ou o negócio jurídico expressamente admitem que o direito


exercido na sua globalidade possa sê-lo exercido por um único. Se a lei expressamente admitir
essa possibilidade não pode haver como defesa que a ação só tenha sido intentada por uma
pessoa. Artigo 538: pluralidade de credores, sendo vários os credores da prestação indivisível
qualquer um deles tem o direito de exigi-la por inteiro.

512 é o contrário: quando existem vários devedores. Será que o credor tem de exigir de todos
os devedores ou basta 1? A obrigação é solidária, quando cada um dos devedores responde
pela prestação integral e esta a todos libera. Basta que um devedor cumpra que os outros
cumpriram. Claro que esse fica depois com direito de regresso.

1405 n2: em que há vários comproprietários, mas basta um para reivindicar uma coisa.

Se a lei ou o negócio forem omissos, estamos perante uma situação que não diga que o direito
pode ser exercido na globalidade, ou que a prestação possa ser cumprida na integra por um só,
ainda assim nessas situações o tribunal deve apenas conhecer da respetiva quota parte, ainda
que o pedido seja feito na totalidade.

Por exemplo: O professor pede emprestado e vem um colega intentar ação contra o professor,
pedindo tudo, mas a lei e o negócio são omissos quanto á possibilidade de ele exigir tudo.
Nessa situação o juiz condena o réu a pagar a parte que recebeu de quem intentou a ação.

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Na aula passada, começámos a legitimidade plural e disse-vos que a legitimidade plural
comporta duas grandes famílias:

-O litisconsórcio;

-Coligação.

E vimos que o litisconsórcio existe quando há pluralidade de partes e á pluralidade de partes


corresponde uma unicidade de pedido. Vimos também que o litisconsórcio por sua vez pode
ser voluntário (regra geral), em que a intervenção dos vários interessados na relação material
controvertida não é exigida para assegurar a legitimidade das partes (artigo 32), e que, quando
assim é, apenas temos de ver se a lei, ou o negócio jurídico permitem que o direito seja
exercido na globalidade. Se a lei ao propósito de permitir que o direito seja exercido na
globalidade, o tribunal pode decidir que a obrigação seja exigida na totalidade por um dos
interessados ou contra apenas um dos interessados, consoante estivermos a falar de
litisconsórcio ativo ou passivo. Se a lei ou o negócio forem omissos então o que o tribunal tem
de fazer é apenas conhecer da respetiva quota parte do interessado que exige, ou do
interessado contra o qual é exigido. Portanto, litisconsórcio voluntário, regra geral.

O litisconsórcio por sua vez é necessário quando a intervenção de todos os interessados na


relação material controvertida é imposta/ exigida sob pena de ilegitimidade. É imposta por lei,
por convenção das partes ou então pela própria natureza da relação jurídica. E daí que o
litisconsórcio necessário possa ser legal, convencional ou natural.

O legal é aquele que é imposto por lei, o convencional é aquele que é imposto por negócio
jurídico/ acordo/ convenção e o natural, que é aquele que é imposto pela própria natureza da
relação jurídica. No artigo 33 do CPC, podemos ler que em casos de a regra geral ser o
litisconsórcio voluntário, o que significa que o litisconsórcio necessário é excecional, resulta
logo do início do artigo 33, “se, porém”, o porem indica-nos desde já que o litisconsórcio
necessário não é regra. “se porem a lei ou o negócio exigir a intervenção dos vários
interessados na relação controvertida a falta de qualquer deles é motivo de ilegitimidade. Se a
lei impuser a presença dos vários interessados, se por negócio jurídico tiver sido
convencionado a presença dos vários interessados na relação controvertida, a falta de um
deles provoca a ilegitimidade dos restantes, daqueles que estão obviamente, em juízo. E depois
diz o número 2, é igualmente necessária a intervenção de todos os interessados quando pela
própria natureza da relação jurídica ela seja necessária para que a decisão a obter produza o
seu efeito útil normal.

No artigo 33 n1 temos o litisconsórcio necessário legal e convencional e no artigo 33 n2 temos


o litisconsórcio natural (o mais complicado).

Litisconsórcio necessário legal: nestas matérias nós não podemos desconsiderar nunca o
direito substantivo, porque não é o CPC que nos vai dizer quais são aquelas relações jurídicas
em que é necessária intervenção de todos, o que o CPC está a fazer é a tratar de um
pressuposto processual, que é a legitimidade. As substâncias das relações não são definidas
pelo CPC, são definidas pelo CC e pela legislação substantiva.

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Exemplo em que por lei, ART 335 do CC impõe a intervenção dos vários interessados na relação
controvertida em juízo: se a prestação for indivisível, e vários os devedores só de todos pode o
credor exigir o cumprimento da prestação, portanto nas obrigações indivisíveis com pluralidade
de devedores sabemos que a lei impõe um litisconsórcio necessário passivo. Salvo se tiver sido
estipulada a solidariedade ou esta resultar da lei, se isto acontecer passamos a ter
litisconsórcio voluntário, porque a solidariedade permite que a prestação seja exigida apenas
de um. E, portanto, se o A pedir contra B a condenação do B a entregar um automóvel que
tinha sido adquirido a B e C o A tem que intentar ação contra B e C, porque a obrigação de
entrega é indivisível. Só não seria exigível se tivessem estipulado a solidariedade.

Outras das situações de litisconsórcio necessário legal é o litisconsórcio conjugal (artigo 34


CPC), mas mais uma vez o artigo 34 lido sozinho não vale nada. Este vem dizer que devem se
propostas por ambos os cônjuges (litisconsórcio necessário legal ativo, marido e mulher devem
ser os autores juntos, ou então apenas por um deles mas com o consentimento do outro, as
ações de que possa resultar a perda, ou a oneração de bens que só por ambos possam ser
alienados, ou a perda de direitos que só por ambos possam ser exercidos, incluindo as ações
que tenham por objeto, direta ou indiretamente a casa de morada de família. Sabemos quais
são essas ações quando tivermos dado direito da família, convém por isto que tenhamos o
código civil, e que saibam que o regime destas situações depende do regime de casamento. Os
regimes de casamento existentes em Portugal são a comunhão e a separação. Dentro da
comunhão, temos a comunhão de bens adquiridos ou a comunhão geral. Basicamente, e numa
linguagem pouco rigorosa no regime da separação o que é meu é meu e o que é teu é teu, no
regime de comunhão, o que é adquirido depois do matrimónio é nosso, o que tinhas antes é de
cada um, na comunhão geral é tudo dos dois.

O que nos interessa é os regimes de comunhão, na separação a única coisa que interessa é a
casa de morada de família, que não é uma questão de ser bem próprio ou de família, é uma
questão própria, mas tudo o que tenha a ver com esta a ação tem que ser posta por ambos,
ainda que estejam casados em separação de bens.

Se formos aos artigos 1682 e seguintes temos um artigo que nos pode ajudar muito na
interpretação do artigo 34 n1, esse artigo é o artigo 1682 A, este diz que carece o
consentimento de ambos os cônjuges salvo se entre eles vigorar o regime de separação de
bens a alienação ou a oneração. Portanto, se entre os cônjuges vigorar o regime de comunhão
a alienação, oneração, arrendamento, ou constituição de direitos pessoais de gozo sobre
imóveis próprios ou comuns carece do consentimento de ambos os cônjuges, transpondo isso
para o artigo 34 n1 devem ser propostas por ambos os cônjuges as ações de que possa resultar
a perda ou oneração de bens que só por ambos possam ser alienados, ou a perda de direitos
que só por ambos possam ser exercidos, sabemos que se tivermos uma ação que tenha por
objeto um destes bens, a ação tem que se proposta por ambos os cônjuges. Se aquele bem só
pode ser alienado ou onerado por ambos se um determinado direito sobre aquele bem só
pode ser exercido por ambos as ações que das quais possam resultar a perda ou oneração de
bens que só por ambos possam ser alienados ou onerados tem de ser proposta por ambos.

1682 B- relativamente á casa de morada de família carecem de consentimento de ambos os


cônjuges.

59
Se o artigo 34 n1 se refere á legitimidade ativa o artigo 34 n2 refere-se à legitimidade passiva,
ou seja, aquelas ações que têm de ser propostas contra ambos os cônjuges. Devem ser
propostas contra ambos os cônjuges as ações emergentes de facto praticado por ambos os
cônjuges. É o que acontece com as dividas contraídas por ambos os cônjuges, uma ação que
tenha por objeto este facto, uma vez que foi praticada por ambos, deve ser proposta contra
ambos os cônjuges. O artigo 34 n3 também diz que as ações emergentes de facto praticado por
um deles, mas em que se pretenda obter decisão suscetível de ser executada, sobre bens
próprios do outro cônjuge.

No direito da família a propósito do casamento podemos distinguir 3 tipos de dividas: dividas


comuns (as que nascem de facto praticado por ambos os cônjuges), as dividas comunicáveis
(são aquelas que emergem de facto praticado por um, mas que responsabilizam ambos) e as
dividas da exclusiva responsabilidade daqueles que as praticam.

Se o legislador consagra os vários tipos de dividas também tem de consagrar os vários tipos de
responsabilidade, e então pelas dividas comuns respondem em primeiro lugar os bens comuns,
se não houver bens comuns ou se estes forem insuficientes respondem os bens próprios de
cada um.

Pelas dividas comunicáveis a mesma coisa. Mas, na divida comunicável, o facto só foi praticado
por um, ou seja, se eu quero no futuro responsabilizar também os bens próprios da outra
porque é uma divida comum, embora tenha sodo praticada apenas por um eu tenho que
intentar ação eu tenho de intentar ação também contra elas, sob pena de num futuro não
poder exercer o meu direito sobre os bens próprios dela. Quando a lei nos diz no 34 n3 factos
praticados por um dos cônjuges, mas em que se pretende a decisão suscetível de ser executada
sobre os bens próprios do outro cônjuge, está-se a referir á dividas praticada por um mas que
responsabilizam os 2. Se eu não fizer isso, intentar a ação também contra o outro, no futuro a
sentença que me condenar só a mim apenas pode ser executada sobre os meus bens próprios
ou sobre a minha meação nos bens comuns.

Artigo 34 n3 terceira parte: e ainda as ações compreendidas no número 1, mas agora ao


contrário. As ações no 34 n1 tinham de ser propostas por ambos os cônjuges, agora temos que
ver as ações propostas contra ambos os cônjuges, mas que tenham por objeto bens que
possam ser alienados ou onerados com direitos exercidos por ambos os cônjuges. Nestas
situações estamos perante um litisconsórcio necessário legal, em que a falta de um dos
cônjuges gera a ilegitimidade.

Litisconsórcio necessário convencional: a presença dos vários interessados é exigível pelo


próprio negócio, seja ele expresso ou tácito.

Exemplo: contrato de deposito em que o depositário se obriga a entregar a coisa depositada a


todos os depositantes. Eu e os meus irmãos temos uma joia herdada e vamos depositá-la ao
banco e convencionámos no contrato que fizemos que só pelos 3 é que a joia podia ser
entregue. Mas agora há um determinado litígio sobre esse contrato de depósito, a ação tem de

60
ser ou proposta por todos ou contra todos. No litisconsórcio necessário convencional a
presença dos próprios interessados resulta do tal acordo dos próprios interessados.

Ora bem, litisconsórcio necessário natural: quando a presença de todos os interessados se


impõe pela própria natureza da relação jurídica. O CPC diz no n2 do artigo 33 que é igualmente
necessária a intervenção de todos os interessados quando pela própria natureza da relação
jurídica ela seja necessária para que a decisão a obter produza o seu efeito útil normal.

O n3 diz que a decisão produz o seu efeito útil normal sempre que não vinculando, embora os
restantes interessados. Portanto, se produz o seu efeito útil normal quer dizer que não é
necessário que lá estejam todos, quando embora não vinculando os restantes interessados,
possa regular definitivamente a situação concreta das partes, aqueles que lá estão em tribunal
relativamente ao pedido formulado. Naquelas situações em que são vários os interessados na
relação controvertida, não estão todos em tribunal, mas se a decisão que vier a ser proferida
não regular definitivamente a situação concreta relativamente àqueles que estão no tribunal,
então aí a decisão não produz o efeito útil normal, e se o efeito útil normal não for produzido
significa que os outros lá tinham de estar. Se não estiverem então estes que lá estão são parte
ilegítima.

33 n2: não é um artigo fácil, diz-nos que quando por força da natureza da relação controvertida
a decisão só pode produzir o seu efeito útil normal com intervenção de todos os interessados.
Mas isto do efeito útil normal é o que o artigo 33 n3 vem dizer: a decisão produz o efeito útil
normal quando regula de forma definitiva, sem poder ser posta em causa para aqueles que não
estão lá a situação concreta das partes (sujeitos processuais). O 33 n3 diz que não vincula os
restantes interessados, aqui está em causa o princípio da relatividade do caso julgado, o caso
julgado só vincula as partes.

Portanto, regula definitivamente a situação concreta das partes relativamente ao pedido


vinculado, e, portanto, é uma decisão que não pode vir ser posta em causa numa outra ação da
qual possa a vir ser proferida outra decisão, o que se pretende é evitar decisões inconciliáveis.
Pode vir a ser posta em causa, porque com aqueles interessados que não estiveram em juízo,
como não estão vinculados pela eficácia do caso julgado propor outra ação. Visa-se assim que
uma decisão de uma determinada ação não possa vir a ser posta em causa por uma outra
decisão, resultante de uma outra ação proposta pelos interessados que não estavam em juízo
nessa primeira ação.

Exemplo: A, B, C e D, são proprietários do terreno X e o A está farto de se manter em


compropriedade com os restantes, portanto, quer por termo á compropriedade e isto faz-se
através da ação de divisão de coisa comum. Este quando intenta a ação diz que é
comproprietário com B, C e D, intenta a ação apenas contra B e C. Vamos supor que não havia
ilegitimidade. O fim desta ação é dividir o terreno. O terreno era dividido pelos 4. Esta sentença
não vincula D porque ele não é parte, o caso julgado que compõe esta sentença não o abrange.
Este pode por isso intentar uma ação para impor nova decisão, e a sentença não seria
conciliável com a primeira, daqui se conclui a decisão a obter neste caso só produz o efeito útil
normal se lá estiverem todos: litisconsórcio necessário natural.

61
Outro exemplo: A anulação do contrato de compra e venda referente a algo indivisível. A
compra automóvel a B e C. A ação não pode ser intentada só contra B, porque não vincularia C.

Ora bem, tínhamos estado a estudar as modalidades da pluralidade de partes e, na última aula,
vimos as situações de litisconsórcio necessário, quer o legal, quer o convencional, quer o
natural. Já sabem que a regra, é a do litisconsórcio voluntário, artigo 32. O litisconsórcio
necessários é o excecional e só existe quando haja norma que imponha a intervenção de todos
os interessados, quando exista convenção/ acordo/ negócio dos interessados ou quando pela
própria natureza da relação jurídica a intervenção de todos os interessados é necessária para
que a decisão a obter produza o seu efeito útil normal.

Artigo 33 n3: faz o favor de dizer quando é que a decisão produz o seu efeito útil normal,
produzindo o seu efeito útil normal, mesmo não vinculando todos os interessados, ou seja,
bastando que resolva definitivamente a situação das partes quanto ao pedido concretamente
formulado, então ela produzindo o seu efeito útil normal não há litisconsórcio necessário
natural.

Importa agora saber concretizações práticas da distinção entre litisconsórcio necessário ou


voluntário. Há uma que é fundamental: se existir litisconsórcio voluntário a falta dos restantes
interessados não produz ilegitimidade. Se o litisconsórcio for necessário a falta dos outros
produz ilegitimidade.

Mas, existem outras distinções que convém saber:

-Primeira: quando existam vários interessados, litisconsórcio necessário estão lá todos,


mas um dos réus não foi citado, o autor intentou ação contra todos, mas um dos réus não foi
citado. A falta dessa citação em caso de litisconsórcio necessário causa a invalidade de todos os
atos praticados depois das citações. Tem de se repetir tudo. No litisconsórcio necessário tudo
se mantém igual.

-Segunda: A confissão (alguém reconhece um facto que lhe é desfavorável) desistência


e transação. Se formos á lei, diz-se no artigo 288 no caso de litisconsórcio voluntário é livre a
confissão, a desistência e a transação individual (individualmente pode fazer tudo isto, sendo,
no entanto, limitado ao interesse que cada um tem na causa). Se o A intenta ação contra B, C e
D e a situação é de litisconsórcio voluntário, mas se chegar apenas a acordo quanto a um,
maravilha, pode só um deles desistir, fazer transação ou confessar. No litisconsórcio necessário
a confissão a confissão, desistência e transação de um dos litisconsortes só produz efeitos
quanto às custas, quanto ao resto não produz efeitos, porque como é necessário os três réus é
como se fossem um só.

-Quanto aos recursos: A ação foi proposta contra o B, C, D e E por A e estes perderam a
ação. Agora querem recorrer, mas só um recorre, o recurso desse aproveita aos restantes (634).

62
Mas, a doutrina com respalde na própria lei tem também elaborado outras classificações de
litisconsórcio, não tão importantes, mas também é conveniente sabê-las:

- A primeira é a que distingue litisconsórcio inicial e sucessivo: existe litisconsórcio inicial


quando o autor intenta logo a ação, será sucessivo quando a pluralidade de partes apenas surja
na pendencia da ação e em consequência de um incidente de intervenção de terceiros:

-Litisconsórcio simples e litisconsórcio reciproco: no primeiro, uma pluralidade de partes


opõe-se a uma outra parte (A, B e C, opõe uma ação contra D), litisconsórcio reciproco (333),
estando pendente uma causa entre 2 ou mais pessoas, pode um terceiro intervir nela como
oponente para fazer no confronto de ambas as partes um direito próprio.

-Litisconsórcio subsidiário: aplica-se quando um autor tem dúvidas quanto ao verdadeiro


titular/ sujeito da relação material controvertida. Eu sou dono de uma marca, que faz cafés, a
Nestlé. Esta é dona da Mucambo. Os slogans desta marca tinham autores, ora, a Nestlé
contratou com quem fez os slogans, e eles os fizeram, entregaram e foram pagos pela Nestlé.
Estes slogans têm, no entanto, direitos de autor, mesmo que tenha sido cedida a parte
patrimonial da obra, continuam a ser sempre os pais os titulares do direito moral sobre a obra.
E a Nestlé tem ao longo do tempo atribuído a várias agências de publicidade a
responsabilidade de irem fazendo a publicidade com este slogan, mas diferentes publicidades.
Mas, como a Nestlé se acha grande, acha que é dona de tudo, e então entrega a obra às
empresas de publicidade sem pedir aos senhores que fizeram a letra e a música do slogan.
Como advogado destes senhores eu quero intentar a ação, mas contra quem, quem é o
responsável? É a Nestlé ou a empresa? Há dúvida de quem é o verdadeiro sujeito da relação
material controvertida. Para evitar situações de ilegitimidade pode-se dizer ao juiz que se vem
intentar a ação contra a agência, mas para o caso de o juiz achar que devia ter apresentado a
ação contra a Nestlé avisa disso, só que a Nestlé só será condenada se for considerado que a
agencia é parte ilegítima. É para isto que serve o litisconsórcio subsidiário. Artigo 39.

Coligação: Nós já sabemos o que é a coligação, podemos defini-la como uma situação em que á
pluralidade de partes corresponde uma pluralidade de pedidos formulados diferenciadamente
por cada um dos autores contra cada um dos réus.

Se o litisconsórcio necessário é excecional a coligação necessária/ obrigatória é muito mais


excecional.

Exemplo: Casos em que a lei impõe existência do seguro de responsabilidade civil eu transfiro a
minha responsabilidade para a seguradora. O seguro tem um limite obrigatório (capital mínimo
obrigatório), quando o pedido de indeminização seja superior ao capital mínimo obrigatório a
ação deve ser intentada contra a seguradora e o segurado. Há coligação, temos dois pedidos
diferentes deduzidos pelo autor contra dois réus. O pedido contra a seguradora até X e o
pedido contra o réu que será de Y. dois pedidos deduzidos diferenciadamente, pelo autor
contra cada um dos réus. Único caso em que se pode falar de coligação obrigatória ou
necessária.

63
Requisitos de admissibilidade da coligação:

-Primeira: os pedidos têm de ser substantivamente compatíveis: não podem ser


contraditórios, está previsto no artigo, 555, eu não posso pedir simultaneamente contra o B o
cumprimento do contrato e a anulação do mesmo, isto é incompatível. Compatibilidade ao
nível do direito substantivo: portanto, as normas legais sustentam aqueles pedidos têm de ser
compatíveis;

-Segundo: tem de haver uma conexão material entre os pedidos: essa conexão está prevista no
artigo 36 do CPC quando diz assim: é permitida a coligação de autores contra um ou vários réus
e é permitido a um autor demandar conjuntamente vários réus. Por pedidos diferentes,
deduzidos diferenciadamente, quando a causa de pedido seja a mesma e única ou quando
pode não haver identidade de causa de pedido e mesmo assim ser permitida a coligação isto
porque os pedidos estão entre si numa relação de prejudicialidade ou dependência. Exemplo:
quando os pedidos estão entre si numa relação de prejudicialidade ou dependência: A vende
simuladamente uma coisa a B e B vende a C. Agora o A intenta ação contra C, pedindo que o
tribunal declare a nulidade com fundamento na simulação. Ele vai pedir que C seja condenado
a entregar a coisa por força da nulidade contrato celebrado entre A e B. O contrato B e C é nulo
porque é venda de bem alheio. A causa de pedido é diferente porque entre A e B é o facto de o
negócio ser nulo e entre A e C é porque pelo primeiro negócio é nulo este é venda de bem
alheio. O tribunal só vai condenar o C a entregar a coisa a A se considerar o contrato entre A e
B nulo por simulação.

Ora bem, diz a lei que é igualmente licita a coligação quando sendo embora diferente a causa
de pedido a procedência dos pedidos principais dependa essencialmente da apreciação dos
mesmos factos ou da interpretação e aplicação das mesmas regras de direito ou de cláusulas
de contratos análogos. Vamos supor que eu e alguns colegas queremos apresentar uma ação
contra a EDP porque entendemos que aquela cláusula do contrato que cada um de nós fez com
a EDP é nula. Cada um tem a sua causa de pedido, mas como está em causa a interpretação
das mesmas clausulas de contratos que são perfeitamente análogos podemo-nos coligar e
intentar ação contra a EDP, cada um tem a sua causa de pedido, mas o que está em causa é a
interpretação das mesmas cláusulas contratuais.

O n3 diz que também é admitida a coligação quando os pedidos deduzidos contra os vários
réus se baseiam na invocação da obrigação cartular quanto a uns e da respetiva relação
subjacente quanto a outros. Estamos no âmbito dos tipos de crédito. Para que eu possa ser
sujeito de uma relação cartular que é a relação que nasce da emissão do título de crédito tem
de haver uma relação subjacente A fornece-nos uma tonelada de batatas, esta é a relação
subjacente. Nós não temos dinheiro para pagar as batatas, por isso A saca-nos uma letra,
dá-nos uma ordem de pagamento para pagarmos na data de vencimento a quantia que
devemos. Temos duas relações, a relação da compra e venda das batas e a relação do título de
crédito. Na data de vencimento vamos pagar aquele senhor, nós somos o devedor, mas
escusamos de estar a pagar a A pagamos diretamente a B. Quando nos sacam a letra dão-nos a
ordem de pagamento para pagarmos a B, esse senhor vem dizer que tinha uma relação com A
que era seu devedor e como nós não pagámos este vai intentar ação, e vem intentar ação

64
contra A com base na relação subjacente e contra nós com base na relação cartular (não
estabelecemos nenhuma relação com ele, B é que disse que teríamos de lhe pagar a ele).

Para além de compatibilidade substantiva, conexão material entre os pedidos a lei ainda
exige uma conexão processual entre os pedidos. Diz-nos ao artigo 37, a coligação não é
admissível quando aos pedidos correspondam formas de processo diferentes, a um dos
pedidos corresponde a forma de processo comum e a outro pedido corresponde a forma de
processo especial. Se a dois pedidos corresponderem formas de processo diferentes a
coligação não é admissível.

Acumulação dos pedidos possa ofender regras de competência internacional ou em razão da


matéria ou da hierarquia, não é admissível a coligação quando o tribunal é absolutamente
incompetente para conhecer um dos pedidos.

37 n2: quando aos pedidos corresponderem formas de processo que embora diversas não
sigam uma tramitação manifestamente incompatível pode o juiz autorizar acumulação, mas
isso depende do entendimento que o juiz fizer.

Ora bem, ilegalidade da coligação:

-Havendo incompatibilidade substantiva (quando os pedidos são nos termos do artigo 555
substantivamente incompatíveis, ou quando não exista a conexão que é exigida pelo artigo 36,
o tribunal deve notificar o autor para indicar o pedido que pretende ver apreciado. Como: os
pedidos deduzidos, entre eles não se verifica compatibilidade substantiva, ou não se verifica a
conexão material o tribunal deve notificar o autor de modo a este indicar quais os pedidos que
o autor quer ver apreciados. Se não houver resposta o réu é absolvido de todos nos termos do
artigo 38, e nos termos do 577 alínea d). Se faltar a identidade de forma o réu é absolvido da
instância. O mesmo se passa se quanto a um dos pedidos o tribunal for absolutamente
incompatível.

Intervenção de terceiros: Modo de sanar a ilegitimidade plural

Artigo 261: até ao transito em julgado da decisão.

Vamos supor que A intentou ação sem estar devidamente acompanhado pela sua esposa e que
era uma daquelas situações em que o A e a esposa tinham de propor ambos a ação (art.º 34
n1). O réu diz logo que o autor sozinho é parte ilegítima, e o tribunal quando aprecia os
pressupostos percebe que o autor sem a sua mulher é parte ilegítima, o que insere no
despacho saneador. Ora, até ao transito em jugado desta decisão (despacho saneador) o autor
pode sanar isto. Até ao transito em julgado da decisão que julgou ilegítima o autor, ao não
estar em juízo a sua mulher pode o autor chamar a juízo a sua mulher nos termos dos artigos
316 e seguintes.

A divisão de coisa comum é um caso típico de litisconsórcio necessário natural. Eram


comproprietários A, B, C, D e E mas a ação foi só proposta contra A, B, C e D pode-se chamar o
E até ao transito em julgado da decisão que considere as partes ilegítimas.

65
Interesse em agir/ processual

Noção: Situação de carência/ de necessidade de instaurar e fazer seguir a ação judicial.

Esta necessidade/ carência não tem de ser absoluta, não pode ser vista como a única via para a
realização do interesse em causa. É necessário que alguém esteja numa situação de carência, e
essa situação de carência mostra-se justificada pelo modo como o autor configura a relação
material.

Aviso: Não se deixem levar pelo que o réu diz, porque a situação de necessidade/ carência da
tutela jurisdicional de instaurar e de fazer seguir a ação justifica-se como o autor configura a
ação material controvertida.

Quais são as razões deste interesse processual? Evitar que as pessoas sejam incomodadas a
terem de se deslocar em tribunal quando nenhuma situação de carência/ necessidade do autor
o justifique. Para evitar o entupimento dos tribunais, que os tribunais se vejam ocupados a ter
que julgar ações, uma vez que, não se justifica a sua intervenção, na medida em que, não há
nenhuma situação de necessidade/ carência merecedora da atividade jurisdicional.
Pressuposto processual inominado visto que não está presente na lei. É um verdadeiro
pressuposto processual mesmo não estando previsto na lei.

Convém nunca confundir o interesse processual com a legitimidade. O interesse em agir não
está previsto no artigo 30 do CPC, este diz que o autor é parte legitima quando tem interesse
direto em demandar, e o réu é parte legitima quando tem interesse direito em contradizer e
que o interesse em demandar se exprime de X formas. O interesse que aqui estamos a tratar
nada tem a ver com o interesse subjacente á legitimidade. A legitimidade como resulta do
artigo 30 resulta do interesse direto em demandar ou em contradizer, este interesse assenta na
utilidade derivada da procedência da ação ou do prejuízo que a procedência dessa ação
acarreta para o reu ao passo que o interesse em agir é o interesse do recurso ao processo. Há
uma situação de carência/ necessidade que justifica o recurso ao processo.

Existe interesse em agir quando há necessidade da tutela jurisdicional para se puder alcançar a
tal utilidade, ou para se evitar a desvantagem procedente da procedência.

O professor pede exemplos de onde há legitimidade, mas não interesse ou vice-versa.

O professor empresta aos alunos hoje 500 euros e, portanto, nós com a obrigação de o restituir
(500 euros mais juros). No dia 17 de Dezembro de 2020 vence-se a nossa obrigação de restituir,
o professor é nosso credor, se nós não lhe pagarmos ele tem legitimidade, se ganhar a ação
tem uma utilidade, uma sentença que lhe permite executar o nosso património. Se o professor
amanhã intentar ação contra nós tem a legitimidade, mas ainda não tem o interesse, não tem o
interesse de receber ainda.

Um senhorio arrenda uma casa ao João, por sua vez, o João subarrendou essa casa á Inês. O
senhorio não celebrou nenhum contrato com o senhorio e vice-versa. Entretanto, começa a
chover dentro da casa e o João está-se nas tintas, a Inês intenta uma ação contra o senhorio
porque o João se está nas tintas. A Inês não tem como configurar uma relação material
controvertida com o senhorio, não tendo por isso legitimidade, no entanto ela está numa

66
situação de carência, tendo por isso interesse em agir. Os dois interesses não são a mesma
coisa, uma coisa é o interesse que está na base da legitimidade, outra coisa é o interesse em
agir.

A utilidade do recurso aos tribunais distingue-se da necessidade do recurso aos tribunais. Pode
existir utilidade recorrente do recurso aos tribunais, mas aquela utilidade não justificar esse
mesmo recurso (exemplo de ter legitimidade, mas não interesse em agir).

Artigo 577: são as exceções dilatórias. O artigo 577 tem uma lista de exceções dilatórias
meramente exemplificativa, não é taxativa. Porque são dilatórias “entre outras”. Também se
invoca o 277 al) e, aqui está a impossibilidade ou inutilidade superveniente da lide, é quando a
lide se torna superveniente inútil, por exemplo, se a meio do processo nós pagarmos ao
professor a ação torna-se inútil. Quando a inutilidade é originariamente inútil, então também
nessas situações se justifica a extinção da instância. Artigo 278: o juiz deve abster-se de
conhecer o pedido e absolver o réu da instância estando nesse artigo a maior parte das
exceções do 277. Mas depois a alínea e diz quando julgue procedente alguma outra exceção
dilatória, o interesse em agir cai que nem uma luva no 278 n2 al) e.

Mas, para ser mais fácil a apreciação do interesse em agir é conveniente separar os vários tipos
de ações declarativas que existem.

Temos que saber artigo 10, que as ações declarativas aquelas em que o autor pretende que o
tribunal declare de forma vinculativa qual o direito aplicável aos factos podem ser de três tipos:

-Ações de simples apreciação: podem ser positivas ou negativas. O autor pretende que o
tribunal declare a existência (positiva) ou inexistência (negativa) de um direito ou de um facto.
Uma ação de simples apreciação negativa é aquela em que o autor pede a declaração de
nulidade de um contrato.

Ação de simples apreciação positiva: A apresenta uma ação pedindo que o tribunal declare que
B é pai dele. A sentença limita-se a declarar.

Nestas situações para que haja interesse em agir é necessário que estejamos perante uma
situação de incerteza grave e objetiva. Grave quando é suscetível de causar prejuízos, objetiva
quando não se traduza de uma mera duvida. Tem de sempre resultar de factos externos ao
autor: anda uma senhora a dizer que eu sou o pai dela. Apresenta a ação para dizer que a
senhora não é filha dela, é uma situação objetiva porque o senhor não tem dúvidas que não é
pai dela. É grave porque é suscetível de causar prejuízos.

-Ações declarativas constitutivas: artigo 10 são aquelas em que se pretende uma alteração da
ordem jurídica existente. Exemplo típico: ação de anulabilidade, entramos no tribunal com um
contrato válido, mas se provarmos algum vicio que produz a anulabilidade podemos anulá-lo.
Na ação de divórcio as partes entram no tribunal casadas se a ação for julgada procedente
saem divorciadas. Sempre que o efeito jurídico que se pretende obter não se possa obter fora
de um tribunal. Se se puder, não valendo a pena ir a tribunal não existe interesse em agir.

67
Exemplo típico: quando se pretende resolver o contrato de arrendamento com fundamento
que não seja a falta de pagamento das rendas. Só pelo não pagamento das rendas é que se
pode obter a resolução por via não judicial.

-Ações declarativas de condenação: que são as que ocupam 90 por cento dos tribunais.

É mais fácil apreciar o interesse. O artigo 10 diz quais são as finalidades de uma ação de
condenação. Aquelas em que o autor pretende que o réu seja condenado na realização de uma
determinada conduta, pressupondo ou prevendo a violação de um direito, o que significa que
nas ações declarativas de condenação existe um interesse processual bastando que o autor
invoque a violação de um direito. A situação do interesse afere-se tal como o autor configura a
relação real controvertida.

Há que fazer uma distinção consoante a condenação diga respeito a obrigações, quando do
lado passivo da relação jurídica existe uma obrigação, no lado ativo existe um direito, há um
credor que tem direito de crédito. Quando a obrigação não seja exigível nem esteja vencida
haverá mesmo assim interesse processual quando o réu/ devedor conteste a existência da
obrigação. Nas prestações/ obrigações periódicas (as que vão vencendo ao longo do tempo),
haverá interesse, mas seja falhado o cumprimento de uma prestação/ renda, porque se o
devedor deixou de cumprir uma há o risco de não cumprir as restantes.

A falta de interesse processual constitui, obviamente, exceção dilatória e constituindo exceção


dilatório dá origem á absolvição do réu da instância. 576

Se a falta do pressuposto processual for apenas detetada na fase da sentença o juiz não deve
absolver o réu da instância, deve conhecer do mérito, e se for caso disso condena o réu a
pagar, mas condena o autor nas custas do processo e no pagamento dos honorários do
advogado do réu. 610 n3 CPC

Patrocínio Judiciário

Noção: Exercício de poderes de representação perante o tribunal por profissionais do foro na


condução e orientação técnico-jurídica do processo.

Razões fundamentais para este pressuposto processual:

-Técnica: a condução e orientação do processo exigem conhecimentos técnicos e experiência


profissional que não está, em regra, ao alcance das partes;

-Psicológica: o advogado defende os interesses do seu cliente, não são os seus interesses
apenas os defende o que lhe permite manter a distância emocional.

O patrocínio judiciário pode ser exercido por advogados, advogados estagiários e solicitadores,
de acordo com os respetivos estatutos profissionais. Só pode ser advogado quem estiver
inscrito na ordem dos advogados. É feito estágio, prova escrita e prova de agregação.

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Advogados estagiários: na primeira fase do estágio a da formação podem sobre orientação do
patrono praticar alguns atos próprios da competência dos advogados, atos da competência dos
solicitadores, a consulta jurídica e ainda podem praticar todos os outros desde que
devidamente acompanhado pelo patrono. Podem assumir o patrocínio forense apenas nas
causas em que não é obrigatória a constituição de advogado. Podem apresentar requerimentos
desde que não se levantes questões de direito.

Os solicitadores têm uma competência forense idêntica á dos advogados estagiários, os


agentes de execução apenas têm competência para as ações executivas, tratam da burocracia
da ação executiva.

Estes poderes de representação perante o tribunal podem ser conferidos por instrumento
publico, documento particular e ainda por declaração verbal perante o próprio tribunal
(declaração por termo).

Para além do estabelecimento de poderes para o exercício de poderes perante o tribunal existe
também o substabelecimento. Se nós constituirmos alguém como nosso procurador forense
pode acontecer que no dia do julgamento o advogado não possa estar presente. Pode o
advogado estabelecer o poder que lhe demos noutro colega: substabelecimento. Este pode ser
estabelecido com reserva, apenas substabelece os poderes para aquele ato, sem reserva
significa que el passa a ser o advogado para sempre.

O patrocínio judiciário pode ser exercido sem que seja a própria parte a estabelecer os poderes
de representação (nomeação oficiosa pela ordem dos advogados, ou segurança social). Mas, os
poderes de procuração forense podem ser, ou revogados, quando o cliente não está satisfeito e
revoga a representação. Ou os próprios advogados perdem a confiança no cliente através da
renúncia. Quer revogação quer renuncia devem ocorrer no próprio processo e nos termos do
artigo 47 estão previstos os efeitos da revogação e da renúncia que só operam efeitos através
da notificação.

A partir do momento em que o mandante é notificado e se for obrigatória a constituição de


advogado a parte tem 20 dias para constituir advogado (47).

Consequências para se a parte não constituir novo advogado no prazo de 20 dias: se a falta
disser respeito ao autor suspende-se a instância e a instância está suspensa durante o prazo de
6 meses, a partir daí o processo é considerado deserto, extingue-se a instância por deserção.

Se disser respeito ao réu o processo segue nos seus termos.

Reconvenção: pedido autónomo que o réu deduz contra o autor, se a falta de constituição de
mandatário disser respeito ao réu fica sem efeito convencional e se disser respeito ao autor o
processo prossegue.

A renuncia não é automática tem de se apresentar o requerimento aos processos dizer que se
quer renunciar, o tribunal tem de notificar a parte e a parte tem 20 dias para constituir novo
advogado. Se nesses dias estiverem a decorrer prazos entre a renúncia e a constituição de novo
mandatário, o mandatário mantém os seus poderes de representação. Se não o fizer ainda é

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sujeito a sanções quer da ordem, quer indemnizar a arte por não praticar um toque era
inadiável.

Um advogado em caso de urgência pode exercer poderes representativos sem procuração,


nesse caso diz-se que ele age como gestor de negócios, nesse caso para que os atos que o
gestor de negócios pratique possam ser aceites têm de ser ratificados, sob pena de eu ser
condenado nas custas e ainda a indemnização de danos para as partes.

Quais as ações/ situações em que é obrigatória constituição de mandatário (artigo 40):

-Nas ações em que seja admissível recurso ordinário (alínea a), por a lápis a seguinte nota: ver
artigo 629 n1, esse artigo se não for devidamente complementada com o 629 não chegamos lá.
Pelo artigo 629 sabemos que o recurso para ser admissível depende de que é obrigatória a
constituição de mandatário nas ações cujo valor exceda a alçada do tribunal de que se recorre.
Para efeito de constituição obrigatória de advogado só interessa este primeiro.

-Alínea b) situações em que é sempre admissível recurso independentemente do valor da


causa (ação de despejo, recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores).

Se as partes não constituírem avogado nos casos em que é obrigatório fazê-lo, devem
oficiosamente notificar as partes para sanarem a falta de patrocínio.

Consequências: se a falta de sanação disser respeito ao autor o réu é absolvido da instancia, se


a falta disser respeito ao réu o processo segue á sua revelia, o que nos permite concluir que a
falta de patrocínio do réu não é um verdadeiro pressuposto processual, porque nas causas em
que é obrigatória a constituição de mandatário, se o réu não constituir o juiz deve informá-lo
para este dentro do prazo sanar a falta de constituição de advogado e se este não sanar segue
á revelia.

Temos de estudar alguns princípios estruturantes do direito processual civil, para que quando
no segundo semestre iniciarmos o direito processual civil declarativo já termos as bases
necessárias para concluir essa unidade curricular.

O processo civil constitui um conjunto de atos. A palavra processo vem etimologicamente da


palavra “procedere” que significa caminhar/ avançar para uma determinada finalidade/
objetivo. Trata-se de uma sequência de atos ordenados entre si tendo em vista a prossecução
de um determinado objetivo (resposta dada ao tribunal sobre a nossa pretensão. Se assim é,
podemos dizer que o direito processual é o conjunto de normas que regula aquela sequencia
de atos ordenados entre si com vista á obtenção de um resultado de natureza judiciária: a
decisão.

Daqui já podemos retirar a conclusão que o direito processual, as suas normas não atribuem
nem impõem direitos e deveres. O direito processual não atribui/ contem critérios de decisão,
esses estão previstos no direito substantivo. Por isso é que estudamos matéria, em, por
exemplo, direito das pessoas em que se estuda os direitos de personalidade, por exemplo: eu
tenho o direito que as manter o meu nome ou imagem. Mas agora, se alguém violar esse

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direito deve-se bater á porta dos tribunais para que através de um conjunto ordenado de atos
atinja uma determinada finalidade (a reparação do meu direito, através de uma declaração
judicial/ sentença/ decisão que satisfaça o meu direito).

O direito processual diz aquilo que se passa em tribunal.

O professor Antunes Varela definia o direito processual civil como conjunto de normas
reguladoras dos tipos, formas e requisitos da ação civil bem como das formalidades que devem
ser observadas em juízo, na propositura e desenvolvimento da ação. Estes requisitos são os
pressupostos processuais.

Podemos dizer que o processo civil tem duas grandes características: as normas de direito
processual são normas instrumentais ou adjetivas, são um instrumento ao serviço do direito
substantivo. O direito processual não resolve os litígios, não contem os critérios da decisão,
mas concebe os meios para que se possa resolver essa ação/ litígio. Isto tem consequências
diretas. O artigo 12 do CC trata da aplicação da lei no tempo, porque se trata de direito
substantivo as regras estão previstas no artigo 12 são diferentes quando temos que aplicar a lei
no tempo processual, porque os motivos que estão na base do direito substantivo são
diferentes das do DPC. No direito processual civil a lei é da aplicação imediata da lei logo,
mesmo ações já pendentes, diz-se que a regra é a aplicação imediata da lei a atos futuros de
ações passadas. Nós sabemos que no direito substantivo a lei nova não tem efeitos retroativos.

Atenção: estamos a falar em direito processual civil, este visa conceder um meio jurisdicional
para se resolver uma ação ou um determinado litígio, mas qual o direito substantivo do qual o
direito processual é instrumento? É o direito civil e comercial, quando se fala em direito
processual penal, o direito substantivo é o direito penal, mas as regras no direito processual
penal, face ao que está em causa tem uma natureza e uma função completamente diferente.

No processo civil, o processo encontra-se na disponibilidade das partes, só entra em processo


se for a vontade de alguém. Não há processo sem haver intervenção da parte. No processo
penal há crimes públicos, pode um terceiro já avançar.

O direito processual civil é um ramo de direito publico, quando se estuda os critérios de


distinção entre o direito publico e o direito privado, quer o critério da natureza dos interesses,
quer o critério da posição dos sujeitos o direito processual é um ramo de direito publico. O fim
deste é o interesse coletivo da paz social e também porque o juiz não está numa relação de
igualdade perante as partes, ele não está numa relação de igualdade, ele exerce a sua posição
com ius imperi.

Duas características essenciais do direito processual:

-Ele é direito instrumental ou adjetivo, mas sem esquecer que depende sempre da
disponibilidade das partes;

-É um ramo de direito publico e por isso é que quando vamos a um tribunal, estamos
perante um órgão de soberania.

Princípios fundamentais do DPC

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No nosso direito a regra não é de que andemos uns á chapada pelos outros, a regra é que só se
pode recorrer aos meios de tutela privada de forma muito excecional. A regra é a proibição da
autotutela. Sisos resulta logo do artigo n1 do CPC. Um sistema que proíbe a autodefesa tem de
ter um sistema de realização dos direitos, quer a CRP quer o CPC consagram o princípio da
garantia de acesso aos tribunais. É um princípio constitucional, artigo 20 da CRP, e dentro desse
princípio é atribuído a todos os cidadãos, independentemente da razão que possam ter ou não
ter, pelo simples facto de haver este princípio da garantia de acesso aos tribunais, todos nós
somos titulares do chamado direito de ação. O direito de ação consiste no direito que todos
temos de requerer uma decisão de mérito, independentemente de termos esse mérito ou não.

O direito de ação é um poder abstrato que não pode deixar de ser reconhecido ainda que no
final do julgamento venha a ser proferida uma decisão que rejeite a pretensão.

Este regime que consagra um princípio de garantia de acesso aos tribunais não pode ficar pelas
meras palavras, tem que haver concretizações, manifestações. O legislador tem que consagrar
mecanismos que permitam o acesso aos tribunais, e por isso é que nós temos aqui uma lei que
consagra o regime de acesso e o direito aos tribunais que ninguém pode ficar impedido ou ter
dificuldades em condição da sua condição social ou cultural, ou da sua situação económica, do
conhecimento, do exercício ou da defesa dos seus direitos. Ninguém pode ser impedido disso.
A ninguém pode ser dificultado o acesso aos tribunais, qualquer que seja a razão. Esta lei veio
no sentido do artigo previsto no artigo 20 da CRP, por isso é que se propagam os mecanismos
quer de informação jurídica (diário da república online por exemplo), quer de proteção jurídica.

A proteção jurídica reveste duas modalidades: a consulta jurídica e o chamado apoio judiciário.
Por isso é que a ordem dos advogados tem protocolos com a segurança social, disponibilizando
advogados para prestar consulta jurídica a quem dela necessite, e depois o apoio judiciário
cujas principais modalidades são:

Princípio da equidade: temos de ter um direito processual civil equitativo, em que os processos
sejam justos. Serem retos. Quando se diz que da concreta aplicação das normas do direito
processual civil devem resultar processos justos é no sentido de serem retos, em que, por
exemplo as partes foram tratadas com absoluta igualdade como resulta do artigo 4 do CPC. No
artigo 4 do CPC diz-se que o tribunal deve assegurar ao longo de todo o processo um estatuto
de igualdade substancial das partes, nomeadamente no exercício de faculdade, no uso de
meios de defesa e na aplicação de cominações ou de sanções processuais. Para que haja uma
verdadeira disciplina equitativa no processo civil, as partes devem ser tratadas com absoluta
igualdade, devem ser atribuídas às partes os mesmos meios processuais, por exemplo. O
professor Lebre Freitas fala mesmo em princípio de igualdade de armas. Para que se possa
obter também um princípio de igualdade no processo o nosso legislador consagra o princípio
do contraditório.

O princípio contraditório é muito importante. Já diziam os romanos: nunca decidas sem ouvir a
outra parte. Este é um princípio sagrado e que tem manifestações ao longo de todo o código de
processo civil. Cada uma das partes tem a possibilidade contestar e de controlar a atividade da
outra parte. Se formos ao artigo 3 do CPC, o legislador é expresso: só nos casos excecionais
previstos na lei, se podem tomar providencias contra determinada pessoa sem que esta seja
previamente ouvida. O artigo número 1 diz que o tribunal não pode resolver o conflito de

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interesses sem que a resolução seja pedida por uma das partes e a outra seja devidamente
chamada para deduzir oposição. 569 consagra a oposição. 584 consagra a réplica. 415 relativo
ás provas.

Princípio dispositivo: o direito processual é instrumental, mas essa intrumentalidade não


dispensa a vontade da parte. Este princípio vem dizer que o processo depende da vontade das
partes, o processo está na disponibilidade das partes e é um princípio que se exprime em
diversas manifestações, tem vários corolários.

1º corolário: o impulso processual e a subsistência da instância depende da vontade das partes.


A parte é que tem de ter o intuito de iniciar o processo. Não há processo sem intervenção da
parte. Artigo 3º n1

2º corolário: normas que impõem ás partes um ónus de impulsionarem o desenvolvimento da


instancia: eu proponho uma ação contra Bento e Bento na pendencia da ação morre. Se ele
morreu deixa de ser parte. Se isto acontecer tenho que ir deduzir um processo de habilitação
(art 351 do CPC).

O processo está tão na disponibilidade das partes que as partes por acordo podem suspender a
instância. Por acordo das partes o juiz pode suspender a instância.

O autor do processo pode desistir da instância ou do pedido.

Se eu desistir do pedido o direito extingue-se.

Se eu desistir da instância apenas desisto do processo, posso novamente apresentar processo.

As partes podem regular por si próprias o seu processo/ litigio.

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