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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE RIO PRETO- UNIRP

ANDRESSA SOARES- 201910229; ELEM CRISTINA SANTOS RODRIGUES-


20186929; JOÃO BATISTA G. F. PAROLARI- 20130602; LEYDE DAYANA
CAVALCANTE DE OLIVEIRA- 20191885; MARIA FERNANDA DE OLIVEIRA
BORGES- 20180804; PERLA ACEDO HERNANDES- 20186743.

DEZ DIFERENÇAS ENTRE A LEI ANTIGA E A LEI NOVA DE


LICITAÇÕES

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO- SP

2022
ANDRESSA SOARES- 201910229; ELEM CRISTINA SANTOS RODRIGUES-
20186929; JOÃO BATISTA G. F. PAROLARI- 20130602; LEYDE DAYANA
CAVALCANTE DE OLIVEIRA- 20191885; MARIA FERNANDA DE OLIVEIRA
BORGES- 20180804; PERLA ACEDO HERNANDES- 20186743.

DEZ DIFERENÇAS ENTRE A LEI ANTIGA E A LEI NOVA DE


LICITAÇÕES

Trabalho semestral da disciplina de Direito


Administrativo II do curso de Direito da
UNIRP. O presente trabalho visa expor as
principais diferenças realizadas na Lei
8.666/93, antiga lei de licitações que será
revogada pela Lei 14.133/21, a nova lei
que implementará mudanças nas
licitações e contratos administrativos.

Docente: Prof. Luis Roberto Thiesi

Turma: 12371

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

2022
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 3
2 PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO ................................................................................................... 4
3 MODALIDADES...................................................................................................................... 5
4 FASES DA LICITAÇÃO............................................................................................................. 6
5 CRITÉRIOS DE JULGAMENTO ................................................................................................ 7
6 DISPENSA POR BAIXO VALOR............................................................................................... 8
7 DISPENSA DE LICITAÇÃO POR EMERGÊNCIA ..................................................................... 10
8 NOVOS CASOS DE INEXIGIBILIDADE .................................................................................. 11
9 DISPENSA DE LICITAÇÃO FRACASSADA E DISPENSA DE LICITAÇÃO DESERTA .................. 14
10 ALIENAÇÃO DE BENS .......................................................................................................... 15
11 PREÇOS MANIFESTAMENTE INEXEQUÍVEIS ....................................................................... 18
12 DEFINIÇÃO DO ÂMBITO DE APLICAÇÃO ............................................................................ 19
13 CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 20
Referências ................................................................................................................................. 21
3

1 INTRODUÇÃO

Após quase 30 anos de vigência, a Lei 8.666/93 será revogada pela Lei 14.133/21.
O objetivo deste trabalho é apresentar as principais mudanças de um dispositivo para
o outro, contudo, cabe analisar, inicialmente, quais são os problemas da Lei 8.666/93
que a nova lei busca superar. Além disso, a dúvida precípua que surge é sobre a
necessidade da criação de uma nova lei para solucionar esses problemas, visto que
durante a vigência da antiga lei de licitações ocorreram mudanças setoriais para
auxiliar o procedimento licitatório, como exemplo temos a Lei 10.520/2002 que instituiu
a modalidade do Pregão, possibilitando a inversão das fases de habilitação e
julgamento, tornando o processo mais racional e econômico.

Um dos principais defeitos que a Lei 8.666/93 apresenta é justamente uma


sequência de fases irracional, atribuindo a fase de habilitação antes da fase de
julgamento, provocando morosidade no procedimento licitatório. Outro ponto de
destaque é o formalismo exagerado, com exigências muito complexas e detalhistas
que acabam tornando o valor do processo alto para os licitantes, que irão descontar
essa quantia no preço dos seus produtos ou serviços. Com isso, é possível dizer que
o Estado acabava pagando preços superiores ao de mercado, sendo mais um
prejudicado pela onerosidade da antiga lei de licitações.

Para sanar essas questões, o legislador optou pela criação de dispositivos que
auxiliassem a lei de licitações, sem modificá-la diretamente. Como já mencionado, a
Lei 10.520/2002 criou a modalidade pregão; o Decreto 3.931/2001, revogado pelo
Decreto 7.892/2013 elaborou a instituição do Sistema de Registro de Preços (SRP);
LC 123/1996 definiu a estipulação de tratamento diferenciado para as microempresas
e empresas de pequeno porte que participam de licitações públicas; Orçamento e
Gestão dispõe sobre normas relativas às licitações sustentáveis; Lei 12.232/2010 trata
do regramento específico para licitações de publicidade; Lei 12.462/2011 produziu o
Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC) dentre outros.1

A nova lei de licitações, Lei 14.133/2021, concentra diversas tendências presentes


nas leis especiais, dando maior atenção a Lei 10.520/02 e a Lei 12.462/11. Portanto,
é possível dizer que a nova lei veio com a intenção de positivar todos esses diplomas
legais em um único dispositivo. Com isso, a nova lei de licitações determinará nas
contratações públicas:
1) planejamento e responsabilidade fiscal (ex.: relevância da gestão pública
na utilização de recursos públicos escassos); 2) celeridade do procedimento,
com a diminuição de formalidades desnecessárias e a utilização de
tecnologia (ex.: inversão das fases de habilitação e julgamento;
procedimentos eletrônicos); 3) promoção de valores constitucionais
fundamentais (ex.: sustentabilidade ambiental); 4) preocupação com a
eficiência econômica na contratação (ex.: fixação de critérios de desempenho
para fixação de remuneração do contratado); 5) maior transparência (ex.: a
divulgação dos atos praticados na rede mundial de computadores),
viabilizando o maior controle por parte da sociedade civil.2

1
CONJUR. A nova Lei de Licitações: um museu de novidades? Por Rafael Carvalho Rezende Oliveira. 2020.
2
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Licitações e contratos administrativos: teoria e prática. 9. ed.
São Paulo: Método, 2020. p. 138
4

Mas a Lei 14.133/21 não se resume somente a isso, a nova lei também preservará
grande parte dos institutos tradicionalmente previstos na Lei 8.666/1993, por exemplo,
algumas hipóteses de dispensa e de inexigibilidade de licitação, bem como positivará
instrumentos utilizados, inicialmente, no âmbito das concessões de serviços públicos,
com destaque para o Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI).

2 PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO
A Lei 8.666/93 trazia alguns princípios para ser o cerne do seu procedimento
licitatório, sendo eles a legalidade; a impessoalidade; a moralidade; a igualdade; a
publicidade; a probidade administrativa; a vinculação ao edital; o julgamento objetivo;
o sigilo de propostas; o procedimento formal e, diz-se ainda sobre a adjudicação
compulsória.
A nova lei de licitações, Lei 14.133/21, traz quase os mesmos princípios da lei
antiga e ainda acrescenta mais alguns, totalizando 22 princípios previstos no art. 5º:
Art. 5º. Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios da
legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da
eficiência, do interesse público, da probidade administrativa, da
igualdade, do planejamento, da transparência, da eficácia, da
segregação de funções, da motivação, da vinculação ao edital, do
julgamento objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da
competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da
economicidade e do desenvolvimento nacional sustentável, assim
como as disposições do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de
1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).

No geral, os cinco primeiros princípios correspondem aos já conhecidos princípios


constitucionais, chamados também pela sigla LIMPE. Esses princípios tratam de como
devem ser prestados os serviços da administração pública, respeitando o
cumprimento da lei (Legalidade), oferecendo tratamento igualitário à todos cidadãos
(Impessoalidade), preservando a ética e moral em todas as ações por parte dos
servidores públicos (Moralidade), priorização da prestação de contas em todas as
ações que envolvam recursos públicos (Publicidade) e a execução dos serviços
públicos com qualidade respeitando o bom uso do orçamento público ( Eficiência).

Além disso, existem outros princípios que não são estranhos por já estarem
presentes na lei antiga, como a Probidade Administrativa, a Vinculação ao Edital e o
Julgamento Objetivo. Tais princípios norteiam a maneira que a administração pública
deve se comportar no processo licitatório, tendo a obrigação de agir com honestidade,
sempre procurando satisfazer os interesses da administração pública. É necessário
respeitar sempre os critérios atribuídos no edital e o seu julgamento deve ser objetivo,
indicado previamente no instrumento convocatório e não admitindo-se elementos
subjetivos aos que já foram atribuídos.

A aplicabilidade desses princípios seguem na Lei 14.133/21 da mesma maneira


já convencionada no ordenamento jurídico. As novidades começam a surgir agora
quando pensamos, por exemplo, no Princípio da Celeridade, o qual determina que as
licitações públicas devem ser realizadas em um prazo razoável, com isso, esse
5

princípio justifica algumas mudanças que serão abordadas mais adiante, como a
inversão das fases de habilitação e julgamento. Ainda nesse sentido, o Princípio da
Razoabilidade busca evitar exageros na licitação, portanto, mais um princípio que visa
sanar o problema da morosidade no procedimento licitatório.

Ademais, fala-se também sobre o Princípio da Transparência, o qual está


diretamente relacionado com o Princípio da Publicidade, diferenciando-se apenas pela
maneira como a informação é divulgada, de modo que seja compreensível e acessível
para a sociedade.

Outrossim, o Princípio da Segregação de Funções trata da divisão de funções dos


servidores públicos dentro do procedimento licitatório, a fim de garantir maior controle
e segurança jurídica no processo. Também é importante falar sobre o Princípio do
Desenvolvimento Nacional Sustentável, o qual se preocupa com as questões
ambientais e econômicas que são pontos de atenção no país.

Alguns princípios não foram citados por terem relação direta com outros já
mencionados, por exemplo, o Princípio da Proporcionalidade com o Princípio da
Razoabilidade ou, ainda, o Princípio da Eficácia com o Princípio da Eficiência.

3 MODALIDADES

Pode-se entender a licitação como o gênero, do qual as modalidades são as


espécies. Os preceitos genéricos da Lei de Licitações abrange todas as espécies e os
específicos contemplam cada uma delas em particular. A licitação não se confunde
com suas modalidades, seja ela a concorrência, a tomada de preço, ou qualquer outra.
Todas elas são formas de licitação, constituem espécies do gênero licitação, mas cada
uma se destina a um tipo de contratação.3

De modo geral as modalidades de licitação conduzem o processo de compra de


produtos e de serviços públicos. Com características próprias e únicas, as
modalidades são classificadas em seis tipos, entre elas: concorrência, convite, tomada
de preço, concurso, pregão e leilão, descritas de acordo com a Lei 8.666/1993 e com
a Lei 10.520/02 (pregão).

Com base em tais leis deve-se levar em conta dois critérios antes de escolher a
modalidade. O primeiro é o valor da transação; o segundo, as características do objeto
(referente ao tipo de produto ou de serviço que será adquirido pela Administração
Pública).

A Nova Lei de Licitações (Lei 14.133/2021) deixa de definir a modalidade em razão


do valor do objeto. Por essa razão, as modalidades de tomada de preços e convite
estarão ultrapassadas, não estando mais previstas, permanecendo apenas as
modalidades concorrência, concurso, leilão, pregão e acrescentando a modalidade
diálogo competitivo, que não havia previsão anterior (art. 6º, incisos XXXVIII a XLII).

3MEIRELLES, Hely Lopes. Licitações e contratos administrativos . Revista de Direito Administrativo,


v. 105, p. 14-34, 1971.
6

Na Tabela 1 é possível comparar como eram as modalidades de licitações na Lei


8.666/93 e como estão previstas na nova Lei 14.133/21.
Tabela 1 - Mudanças nas Modalidades de Licitações

Lei 8.666/1993 Lei 14.133/2021

 Concorrência  Concorrência
 Tomada de preços  Concurso
 Convite  Leilão
 Concurso  Pregão
 Leilão  Diálogo competitivo
 Lei 10.520/2002 (pregão)
 Lei 12.462/2011 (arts. 1º
ao 47-A do RDC)
Fonte: Prof. Herbert Almeida (2021).

4 FASES DA LICITAÇÃO

Pode-se entender o processo de licitação como composta de duas fases macro:


uma a interna e outra externa.

Na fase interna são verificados os pressupostos para a abertura da licitação, tal


como se haverá pluralidade de participantes em razão do objeto a ser licitado, se
existe tempo hábil para o procedimento e se há interessados em participar do certame.
Esta fase é essencial para se evitar desperdícios de recursos públicos e tempo com
contratos inviáveis. Posteriormente são delimitados os requisitos para habilitação, a
modalidade e tipo da licitação e a elaboração do respectivo edital.

A publicação do edital representa o início da fase externa da licitação, que


ocorrerá nas seguintes etapas: habilitação, julgamento da proposta, homologação e
adjudicação.

Uma inovação importante trazida pela lei do pregão presencial foi a inversão das
fases da licitação. Pela Lei 8.666/93 todos licitantes deviam se habilitar previamente
ao certame. Pelo inciso XII do Art. 4 da Lei 10.520/2002, a verificação da habilitação
ocorrerá apenas para o vencedor, o que reduz o custo operacional da licitação tanto
para o Estado quanto para os licitantes.

Importante notar que esta redução do custo para os licitantes reduz barreira à
entrada permitindo um número maior de competidores, o que por si só dificulta por
exemplo a cartelização. Ademais, a inversão de fases seria positiva para diminuir a
possibilidade de cartelização, pois um procedimento célere, que no mais das vezes
encerra sua fase externa em um mesmo dia, praticamente nulifica a captação de
agentes no decorrer do certame.

Atualmente, a lei que rege as licitações no Brasil é a Lei nº 14.133/21, também


chamada de Nova Lei de Licitações. Ela versa sobre as fases da licitação em seu Art.
17. Confira:
7

Art. 17. O processo de licitação observará as seguintes fases, em


sequência:
I - preparatória;
II - de divulgação do edital de licitação;
III - de apresentação de propostas e lances, quando for o caso;
IV - de julgamento;
V - de habilitação;
VI - recursal;
VII - de homologação.

Ou seja, as licitações são divididas em fase preparatória (ou fase interna), fase de
apresentação das propostas, fase de julgamento, fase de habilitação, fase recursal e
fase de homologação.

Agora a inversão de fases passa a ser a regra, e não a exceção, assim como as
modalidades de licitação por meios eletrônicos. Essas e outras mudanças vieram para
agilizar o processo licitatório e trazer mais transparência para os gastos públicos de
maneira geral.

5 CRITÉRIOS DE JULGAMENTO

O processo licitatório, segundo a Lei 14.133/2021, possui novos critérios de


julgamento, além daqueles previsto na legislação anterior, sendo eles, segundo art.
33, o de maior desconto, melhor técnica ou conteúdo artístico e de maior retorno
econômico, além daqueles já previstos na Lei 8.666/93: menor preço, técnica e preço
e maior lance, este último no caso de leilão.

Merecem destaque dois desses novos critérios: o julgamento em caso de critério


de maior desconto e o julgamento cujo critério seja o de maior retorno econômico.

Dispõe o art. 34, §2º da Lei 14.133/2021:


Art. 34. O julgamento por menor preço ou maior desconto e, quando
couber, por técnica e preço considerará o menor dispêndio para a
Administração, atendidos os parâmetros mínimos de qualidade
definidos no edital de licitação.
§2º O julgamento por maior desconto terá como referência o preço
global fixado no edital de licitação, e o desconto será estendido aos
eventuais termos aditivos.

No que tange ao critério de maior retorno econômico, o art. 39 aduz que será
utilizado exclusivamente em casos de contrato de eficiência, considerando-se a maior
economia para a Administração, sendo que "a remuneração deverá ser fixada em
percentual que incidirá de forma proporcional à economia efetivamente obtida na
execução do contrato".

Se os critérios de escolha acima elencados, que devem ser previamente definidos


no edital, não forem suficientes para a seleção de uma única proposta vencedora, o
art. 60 da Lei 14.133/21 estabelece a ordem de critérios de desempate que devem ser
observados sucessivamente — frisa-se, não alternativamente —, até o alcance
daquele que irá desempatar o embate, são eles:
8

a) disputa final, em que os licitantes empatados poderão apresentar nova


proposta;
b) avaliação do desempenho contratual prévio dos licitantes;
c) desenvolvimento pelo licitante de ações de equidade de gênero no ambiente
de trabalho; e
d) desenvolvimento de programa de integridade (compliance).

Importante destacar que, conforme o art. 4º da nova lei, aplicam-se às licitações a


Lei Complementar nº 123/2006, que dispõe que "nas licitações será assegurada,
como critério de desempate, preferência de contratação para as microempresas e
empresas de pequeno porte".

Entretanto, apesar de todos os critérios de julgamento no processo licitatório, sabe-


se que há casos em que o procedimento de competição não é viável ou, mesmo viável,
é inconveniente ao interesse público, prevendo-se, assim, as hipóteses de
contratação direta. Na Tabela 2 apresenta-se o comparativo entre os critérios de
julgamentos das duas leis.

Tabela 2 - Critérios de Julgamento

Lei 8.666/1993 Lei 14.133/2021

 Menor preço  Menor preço


 Melhor técnica  Maior desconto
 Técnica e preço  Melhor técnica ou
 Maior lance ou oferta conteúdo
artístico
 Técnica e preço
 Maior lance (no caso de
Leilão)
 Maior retorno econômico
Fonte: Prof. Herbert Almeida (2021).

6 DISPENSA POR BAIXO VALOR

O processo utilizado pela administração pública para realizar as contratações tem


por objetivo selecionar as melhores propostas de maneira objetiva e impessoal.

A dispensa de licitação por baixo valor, ou diminuto valor, é uma hipótese


dispensável, onde a Administração pode fazer uma contratação direta, ou seja, sem
licitação, em razão do seu baixo valor. Nesse tipo de situação, realizar uma licitação
pode ser até mais caro do que fazer a própria contratação, contudo, para evitar a
subjetividade em relação ao que é baixo valor, a própria lei coloca um limite para
considerar os valores gerais.
9

Novas regras para licitações e contratos tem por objetivo modernizar e corrigir
falhas da legislação anterior. Além disso, a Lei 14.133/21 unificou num único ato
normativo as leis que tratavam dos mesmos temas centrais: licitações e contratos.

Nos ensinamentos do professor Diógenes Gasparini, tal dispensa de licitação é


coerente e de todo justificável, vez que “a execução de pequenas obras ou a prestação
de singelos serviços de engenharia [também as compras de pequeno vulto] são
medidas simples que não se compatibilizam com procedimentos solenes, dotados de
formalidades que só emperraram a atividade da administração, sem vantagem
alguma”.4

Carvalho Filho, por sua vez, pontua:


Anote-se que o administrador, mesmo nesses casos, poderá realizar
a licitação, se entender mais conveniente para a administração. Não
há obrigatoriedade de não licitar, mas faculdade de não fazê-lo.

Importante observar que a Lei 14.133/2021, em seu art. 182, previu a necessidade
de atualização dos valores de dispensa por baixo valor, a cada 1º de janeiro, pelo
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) ou por índice que
venha a substituí-lo. Deste modo, a cada início de ano teremos valores atualizados,
resolvendo o problema da defasagem da Lei 8.666/93.

Com efeito, consoante ao Decreto 10.922/2021, a partir de 1º de janeiro de 2022


os limites de valores para dispensa de licitação passaram a ser de R$ 54.020,41
(cinquenta e quatro mil vinte reais e quarenta e um centavos) para compras e serviços
e de R$ 108.040,82 (cento e oito mil quarenta reais e oitenta e dois centavos) para
obras e serviços de engenharia, desde que o processo de dispensa seja de acordo
com a nova lei, que tem aplicação facultativa até abril de 2023. A Tabela 3 exibe os
critérios para dispensa por baixo valor.

Tabela 3 - Dispensa de Licitação por baixo valor

Lei 8.666/1993 Lei 14.133/2021

 10% do limite da modalidade  Valor fixo (não existe mais o


convite (art. 24, I e II). convite).
 R$ 33 mil para obras e serviços de  R$100 mil para: obras, serviços
engenharia. de engenharia ou serviços de
 R$ 17,6 mil para compras e demais manutenção de automotores
serviços. (nova hipótese).
 No caso de agências executivas e  R$ 50 mil para: outros serviços
consórcios públicos, o limite é o e compras.
dobro.

Fonte: Prof. Herbert Almeida (2021).

4 GASPARINI, Diógenes. Curso de Direito Administrativo, p. 581, 2012.


10

7 DISPENSA DE LICITAÇÃO POR EMERGÊNCIA

Para que ocorra eventual dispensa, a lei em apreço considera como emergencial
ou de calamidade as situações em que há risco efetivo da ocorrência de prejuízos ou
de insegurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, tanto
públicos quanto particulares.

A contratação direta é permitida com base no art. 24, inc. IV, da Lei de Licitações
apenas em situações que esteja comprovada a situação de risco/emergência real,
concreta e atual, onde não permite seu atendimento por via ordinária, visto que a
realização de licitação pode agravar o risco de prejuízo ou comprometer à segurança
de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares.
Desta forma, baseado no inc. I, do parágrafo único do art. 26 da lei nº 8.666/93 é
indispensável a comprovação da situação de risco, para que ocorra a contratação
direta emergencial, sob pena de ausência da medida ocasionar prejuízo ou
comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens,
públicos ou particulares. Podemos então, observar as exceções nos casos
de inexigibilidade, licitação dispensada e a licitação dispensável, esta última, tópico
do nosso subparágrafo. A priori, via de regra, impõe-se a necessidade da realização
de procedimentos licitatórios, porém, como trata-se de uma hipótese de exceção ao
dever de licitar, podemos observar que a aplicação desse dispositivo possui
interpretações restritivas.

À vista disso, discorre sobre o fundamento, no inciso XXI do art. 37 da CF/88, no


inc. IV do art. 24 e no art. 26 da Lei de Licitação, entendemos que em caso de
necessidade de contratação direta em virtude de situação emergencial, é
imprescindível:

a) Demonstrar a situação emergencial, ou seja, juntar aos autos a decisão, ou


seja a caracterização da situação emergencial;
b) Justificar o preço contratado, de acordo com os valores de mercado, por meio
de pesquisa lícitas frente a particulares e outros órgãos públicos adquirentes
do mesmo medicamento, demonstração de que somente está sendo adquirido
o bem no quantitativo necessário ao atendimento da situação;
c) Efetuar a compra do quantitativo mínimo necessário a atender a demanda
enquanto efetua o regular procedimento licitatório para a compra do
medicamento; o preço deve ser justificado;
d) Necessidade de ratificação da dispensa pela autoridade superior ;
e) Pela necessidade de publicação da ratificação na imprensa oficial;
f) Pela necessidade de efetuar a compra dos medicamentos restantes por meio
de regular procedimento licitatório, ou seja, por meio de pregão eletrônico, que
é célere, econômico e garante a ampla participação;

É indispensável pontuar que, de acordo com o exposto do art. 26 da Lei de


Licitações e Contratos, os contratos de dispensa e de inexigibilidade de licitação
deverão ser letrado, no que couber, com formalidades pertinentes, evidenciando-se
inclusive que o preço pactuado seja compatível com os praticados no mercado.
Ademais, deve-se comprovar que a contratação emergencial é necessária para o
atendimento de situação que não pode aguardar o decurso de tempo de um
procedimento licitatório.
11

Uma possibilidade, como exemplo da dispensa de licitação por emergência, é a


compra de remédios. Pelo teor da lei, para a compra de medicamentos em situações
em que haja decisão judicial determinando o atendimento em prazo exíguo ao doente,
é possível a realização de dispensa de licitação, com fundamento no inc. IV do art. 24
da Lei nº 8.666/93; pelos seguintes motivos: – há decisão judicial estabelecendo prazo
para o fornecimento, sob pena de pagamento de multa e se não houver o pronto
fornecimento do medicamento, ao Estado será imposto ônus-multa, que trará prejuízo
à economia.

Destaca-se ainda que esta contratação direta deverá ocorrer mediante ampla
cotação de preços junto às mais diversas empresas dos respectivos ramos, pelo
período de 60 (sessenta) dias, a contar da ocorrência da emergência, período
razoável para instauração imediata e conclusão do processo de licitação, admitindo a
prorrogação deste prazo, excepcionalmente, acaso a licitação não tenha sido
justificadamente concluída, contudo, não pode o prazo do contrato emergencial
ultrapassar o limite máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

Assim, a contratação direta, mediante dispensa de licitação por emergência,


somente será considerada regular se preenchidos integralmente os pressupostos
autorizadores, pontuados no inciso IV, do art. 24, da Lei nº 8666/93, juntamente com
as devidas justificativas, bem como seguindo as formalidades consignadas no art. 26,
da referida Lei. Pois como o próprio dispositivo discorre, em casos de emergência ou
calamidade pública, são possibilidades extraordinárias. Em sentido diverso, a
emergência provocada, geralmente por desídia, quando administração deixa de
cumprir seu propósito, é possível também dispensar, mas será necessário
apurar, posteriormente, quem deu causa. A Tabela 4 apresenta as condições para
dispensa de licitação por emergência.

Tabela 4 - Dispensa de Licitação por Emergência

Lei 8.666/1993 Lei 14.133/2021

 O prazo máximo do  O prazo máximo do contrato


contrato será de 180 será de um ano (art. 75, VIII).
dias (art. 24, IV).  Não pode recontratação de
empresa já contratada com
base nesse dispositivo.
 Dispensa “manter a
continuidade do serviço
público”.
Fonte: Prof. Herbert Almeida (2021).

8 NOVOS CASOS DE INEXIGIBILIDADE

As hipóteses de inexigibilidade de licitações encontram-se no art. 74 da Lei


14.133/21.
12

Nessa seara, chama-se a atenção para algumas novidades nas hipóteses do art.
74, tornando-se inexigível a licitação em caso de:

a) Fornecedor exclusivo

Pode acontecer uma situação de exclusividade do fornecedor quando apenas uma


única empresa oferece determinado produto ou serviço que a Administração Pública
necessita. Ora, se apenas uma empresa pode ser a fornecedora, não existe
competição, logo não faz sentido realizar uma licitação.

Mas para comprovar que apenas determinada empresa é capaz de satisfazer a


Administração, a legislação solicita comprovação da exclusividade por meio de
atestados, certificados e outros documentos, tal como está exposto no art. 74, §1º:
Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição, em
especial nos casos de:
§1º Para fins do disposto no inciso I do caput deste artigo, a
Administração deverá demonstrar a inviabilidade de competição
mediante atestado de exclusividade, contrato de exclusividade,
declaração do fabricante ou outro documento idôneo capaz de
comprovar que o objeto é fornecido ou prestado por produtor, empresa
ou representante comercial exclusivos, vedada a preferência por
marca específica.

b) Artista consagrado

Se a Administração Pública quer realizar um evento e deseja contratar uma artista


como a Marisa Monte, não faz sentido realizar um procedimento licitatório, pois só
existe uma única Marisa Monte.

Em outras palavras, se a Administração quiser convocar um artista – de qualquer


setor artístico e aclamado pela opinião pública ou crítica especializada – para animar
um show, teremos uma situação de inexigibilidade de licitação.

c) Serviços técnicos de natureza predominantemente intelectual

A contratação de serviço técnico é passível de inexigibilidade quando estivermos


falando de um contrato de natureza predominantemente intelectual, cujo fornecedor
tenha notória especialização na área. Novamente, a legislação explica como a
Administração pode comprovar essa notoriedade:
§ 3º Para fins do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-
se de notória especialização o profissional ou a empresa cujo conceito
no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior,
estudos, experiência, publicações, organização, aparelhamento,
equipe técnica ou outros requisitos relacionados com suas atividades,
permita inferir que o seu trabalho é essencial e reconhecidamente
adequado à plena satisfação do objeto do contrato.

Além disso, a Nova Lei traz duas vedações à esse tipo de contrato. A primeira
proibição diz que é “vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e
divulgação” e a segunda está descrita no art. 74, §4º:
13

Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição, em


especial nos casos de:
§4º Nas contratações com fundamento no inciso III do caput deste
artigo, é vedada a subcontratação de empresas ou a atuação de
profissionais distintos daqueles que tenham justificado a
inexigibilidade.

Em outras palavras, a Administração não pode contratar um profissional notório e


especializado e em seguida subcontratar outro, pois assim descaracterizaria a
situação de inexigibilidade.

d) Credenciamento

O credenciamento é uma situação onde pode ocorrer uma contratação sem que
ocorra competição entre os credenciados. Por exemplo, um determinado município se
diz aberto ao credenciamento de todos os veterinários que estejam dispostos a cobrar
X reais por consulta. Neste caso, a população visitará todos os especialistas
credenciados e a Administração pagará a consulta.

e) Aquisição ou locação de imóvel

Quando um imóvel tem determinadas características que condicionem a escolha


da Administração Pública, pode-se adotar o critério de inexigibilidade de licitação. A
Lei 8.666/93 também menciona essa possibilidade, mas lá a hipótese é de dispensa
de licitação, enquanto na nova lei trata-se de uma situação inexigível. A Tabela 5
sintetiza as alterações realizadas pela nova lei de licitações nos casos de
inexigibilidade.

Tabela 5 - Novos casos de Inexigibilidade

Lei 8.666/1993 Lei 14.133/2021

 Fornecedor exclusivo (vedada  Fornecedor exclusivo (vedada


preferência de marca). preferência de marca).
 Serviços técnicos profissionais  Serviços técnicos especializados
especializados, de natureza de natureza predominantemente
singular, com profissionais ou intelectual, com prestador de
empresas de notória notória especialização (vedada a
especialização (vedada a inexigibilidade para serviços de
inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação)
publicidade e divulgação).  Artista consagrado.
 Artista consagrado.  Credenciamento.
 Aquisição ou locação de imóveis
cujas características de
instalações e localização tornem
necessária sua escolha.
Fonte: Prof. Herbert Almeida (2021).
14

9 DISPENSA DE LICITAÇÃO FRACASSADA E DISPENSA DE LICITAÇÃO


DESERTA

Há casos em que a licitação não atinge um de seus pressupostos, seja por falta
de competidores interessados em participar do certame, tornando-a deserta ou porque
nenhum dos licitantes atenderam às condições dispostas no edital, restando
desclassificados ou inabilitados, denominada licitação fracassada.

Primeiramente devemos considerar que licitação deserta e fracassada não são a


mesma coisa. Apesar de apresentarem situações semelhantes, não são sinônimos.

A licitação deserta, chamada por alguns autores de “frustrada”, ocorre quando não
houve interessados, ninguém compareceu para participar da licitação, faltando-lhe o
pressuposto fático (a existência de uma pluralidade de interessados em disputar o
certame). Ela está prevista no artigo 24 inciso V da lei 8.666/93 e no art. 75, no inciso
III, alínea A da nova lei 14331/21.

É importante ressaltar que a licitação deserta não gera automaticamente a


dispensa, primeiro convém averiguar se não houve falha na elaboração do edital e
será analisado se a administração continua precisando da contratação. Se a
realização de nova licitação acarretará prejuízo à administração pública; será possível
a dispensa desde que mantida as condições apresentadas na licitação que foi deserta.
A contratação direta, nessa hipótese, requer justificativa do gestor público que deve
deixar demonstrado, de forma fundamentada, que a abertura de novo procedimento
licitatório pode causar prejuízo à Administração e que sejam mantidas as condições
já previstas no instrumento convocatório, além de requerer o emprego de um
procedimento formal como em qualquer contratação direta, compreendendo a
justificativa do preço, a ratificação do ato pela autoridade superior e a publicação do
ato que autorizou a contratação direta na imprensa oficial, nos termos do art. 26 da lei
8.666/93, deverá verificar a idoneidade do contratado, qualificação técnica, habilitação
jurídica e regularidade fiscal e trabalhista.

Já a licitação fracassada ocorre quando não foram apresentadas propostas válidas,


ou seja, houve interessados no processo licitatório, porém nenhum é selecionado
devido à desclassificação ou inabilitação, faltando-lhe pressuposto jurídico (a licitação
deve constituir meio apto para que a Administração possa cumprir ao interesse que
deve prover).

Neste caso a lei antiga (8666/93) dispõe que somente será possível a contratação
direta na condição expressa no art. 24, VII:
Art. 24. É dispensável a licitação:
VII - quando as propostas apresentadas consignarem preços
manifestamente superiores aos praticados no mercado nacional, ou
forem incompatíveis com os fixados pelos órgãos oficiais
competentes, casos em que, observado o parágrafo único do art. 48
desta Lei e, persistindo a situação, será admitida a adjudicação direta
dos bens ou serviços, por valor não superior ao constante do registro
de preços, ou dos serviços.

Ressalte-se que a lei antiga apenas admite a contratação direta nos casos de
licitação fracassada em função do valor excessivo das propostas, não possibilitando
15

a utilização desse permissivo legal aos demais casos de inabilitação ou


desclassificação de propostas. Além disso, deverão ser atendidos e evidenciados no
processo de contratação os seguintes requisitos: a) que houve a realização de uma
licitação anteriormente à contratação direta; b) que a Administração exerceu a
faculdade de reapresentação das propostas no prazo de oito dias úteis, ou três dias
úteis nos casos de convite, para a apresentação de nova documentação, conforme
previsto no art. 48, § 3º da lei 8.666/93 e; c) a existência de interessado disposto em
contratar por valor compatível ao mercado, baseado em pesquisa de preços.

Na nova lei de licitações temos um artigo expresso que trata da possibilidade de


dispensa nos casos retratados acima, é o artigo 75, no inciso III alínea A e B da nova
lei 14331/21.

Quanto às diferenças, podemos citar que surgiu uma nova possibilidade de


contratação direta no caso de licitação fracassada; anteriormente era possível apenas
em razão do valor (propostas muito acima ao valor de mercado art. 24, VII) agora
temos hipótese de fracasso em virtude da validade das propostas, ou seja, nenhuma
foi aceita pela administração pública.

Novas condições: para ambos os casos (deserta e fracassada), a licitação deve


ter ocorrido em edital de licitação realizada há menos de 1 ano e que mantenha todas
as mesmas condições anteriormente definidas (art. 75, no inciso III). A Tabela 6 expõe
as condições de dispensa fracassada e deserta.

Tabela 6 - Dispensa de Licitação Fracassada e Deserta

Lei 8.666/1993 Lei 14.133/2021

 Deserta + prejuízo + mesmas  Deserta + prejuízo + mesmas


condições condições
 Fracassada “em razão do  Fracassada “em razão do
valor” (art. 24, VII). valor”.
 Fracassada em virtude da
validade das propostas.

 OBSERVAÇÃO: A licitação
deverá ter ocorrido no prazo de
até um ano e sempre deverá
manter as mesmas condições
da licitação.
Fonte: Prof. Herbert Almeida (2021).

10 ALIENAÇÃO DE BENS

Convém destacar que alienar é transmitir, com ou sem remuneração, a


propriedade de um bem a outra pessoa. A alienação de bens públicos é a
16

transferência de sua propriedade a terceiros, quando sobretudo há o interesse público


na transferência.

Observando a alienação de bens na vigência da Lei 8.666/93, tomemos como


exemplo a venda direta ao particular de um bem pertencente ao Poder Público.

Todos os Bens Públicos Dominicais podem ser alienados no Brasil segundo a


premissa do art. 101 do Código Civil. Porém, para realização da alienação de tais bens
deve ser observado as exigências da Lei Federal das licitações e contratos
administrativos.

Vale destacar, especificamente, o art. 17 da Lei 8.666/93, este traz um rol de


quesitos a serem cumpridos para a realização da alienação dos bens públicos, de
maneira que, qualquer desvio pode impactar na alienação realizada. Ainda, vale
salientar que, segundo o caput desse mesmo dispositivo, comprovar o interesse
público sobre a alienação do bem é o requisito mais importante.

Com relação as modalidades de alienação, temos duas:

a) Alienação por leilão – em regra utilizada para bens móveis

b) por concorrência – em regra utilizada para bens imóveis

Todavia, dentro destas modalidades a própria Lei de Licitações de 1993 traz


exceções, são elas: a respeito da venda de bens móveis, segundo o §6º do art. 17, o
leilão poderá ser utilizado enquanto o valor for de até R$1.430.000,00, acima deste,
deverá ser utilizada a modalidade concorrência para venda dos bens móveis; e ainda,
nos casos em que a origem da alienação for derivada de procedimento judicial ou
dação em pagamento cabe ambas as modalidades, leilão ou concorrência.

Paralelamente a isso, a Lei 14.133/21, em seu art. 76 dispõe sobre a alienação de


bens da Administração Pública, atribuindo a modalidade e o rol de dispensa de
licitação tratando-se de bens imóveis no inciso I, bem como a modalidade e casos de
dispensa quando se tratar de bens móveis no inciso II:
Art. 76. A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à
existência de interesse público devidamente justificado, será
precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas:
I - tratando-se de bens imóveis, inclusive os pertencentes às
autarquias e às fundações, exigirá autorização legislativa e dependerá
de licitação na modalidade leilão, dispensada a realização de licitação
nos casos de:
a) dação em pagamento;
b) doação, permitida exclusivamente para outro órgão ou entidade da
Administração Pública, de qualquer esfera de governo, ressalvado o
disposto nas alíneas “f”, “g” e “h” deste inciso;
c) permuta por outros imóveis que atendam aos requisitos
relacionados às finalidades precípuas da Administração, desde que a
diferença apurada não ultrapasse a metade do valor do imóvel que
será ofertado pela União, segundo avaliação prévia, e ocorra a torna
de valores, sempre que for o caso;
d) investidura;
17

e) venda a outro órgão ou entidade da Administração Pública de


qualquer esfera de governo;
f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real
de uso, locação e permissão de uso de bens imóveis residenciais
construídos, destinados ou efetivamente usados em programas de
habitação ou de regularização fundiária de interesse social
desenvolvidos por órgão ou entidade da Administração Pública;
g) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito
real de uso, locação e permissão de uso de bens imóveis comerciais
de âmbito local, com área de até 250 m² (duzentos e cinquenta metros
quadrados) e destinados a programas de regularização fundiária de
interesse social desenvolvidos por órgão ou entidade da
Administração Pública;
h) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita ou onerosa,
de terras públicas rurais da União e do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra) onde incidam ocupações até o
limite de que trata o § 1º do art. 6º da Lei nº 11.952, de 25 de junho de
2009, para fins de regularização fundiária, atendidos os requisitos
legais;
i) legitimação de posse de que trata o art. 29 da Lei nº 6.383, de 7 de
dezembro de 1976, mediante iniciativa e deliberação dos órgãos da
Administração Pública competentes;
j) legitimação fundiária e legitimação de posse de que trata a Lei nº
13.465, de 11 de julho de 2017;
II - tratando-se de bens móveis, dependerá de licitação na modalidade
leilão, dispensada a realização de licitação nos casos de:
a) doação, permitida exclusivamente para fins e uso de interesse
social, após avaliação de oportunidade e conveniência
socioeconômica em relação à escolha de outra forma de alienação;
b) permuta, permitida exclusivamente entre órgãos ou entidades da
Administração Pública;
c) venda de ações, que poderão ser negociadas em bolsa, observada
a legislação específica;
d) venda de títulos, observada a legislação pertinente;
e) venda de bens produzidos ou comercializados por entidades da
Administração Pública, em virtude de suas finalidades;
f) venda de materiais e equipamentos sem utilização previsível por
quem deles dispõe para outros órgãos ou entidades da Administração
Pública. (Grifo nosso)

Sendo assim, realizando breve comparação entre as Leis de Licitação de nº


8.666/93 e 14.133/21, com relação a Alienação de Bens Públicos, percebemos que a
nova Lei ainda traz como principal requisito a existência justificada do interesse
público para a realização da alienação. Todavia, a modalidade concorrência foi
excluída da nova Lei, sendo assim, quando a licitação for necessária não importa o
valor e/ou tipo do bem, móvel ou imóvel, a única modalidade cabível será o leilão. A
Tabela 7 mostra as modalidades de alienação de bens nas duas leis objeto de estudo
desse trabalho.
18

Tabela 7 - Alienação de Bens

Lei 8.666/1993 Lei 14.133/2021

 Leilão para bens móveis  Leilão, em qualquer


(regra). caso.
 Concorrência para
imóveis (regra).

Fonte: Prof. Herbert Almeida (2021).

11 PREÇOS MANIFESTAMENTE INEXEQUÍVEIS

No momento de fazer a contratação de um serviço por meio de licitação, o que


chama atenção é o preço. Um dos objetivos do processo licitatório é evitar
contratações com preços manifestamente inexequíveis, que são aqueles que não
possuem viabilidade demonstrada. Sendo assim, nem sempre o menor preço é o
melhor serviço, ou, o vencedor da licitação, pois será avaliado durante o processo de
licitação o preço inexequível.

O preço inexequível é aquele que não demonstra viabilidade de execução, ou seja,


é quando o serviço oferecido tem um valor muito abaixo da média de mercado e
levanta dúvidas se a empresa que oferta terá reais condições de colocá-lo em prática.
Além disso, a inexequibilidade pode se dar diante de prazos de entrega impraticáveis.

De acordo com as alíneas “a” e “b”, do parágrafo 1º, do inciso II, da Lei de
Licitações nº 8.666/73, é considerado preço inexequível para obras e serviços de
engenharia aquele que é 70% menor que o valor orçado pela Administração Pública,
ou ainda que seja 70% menor que a média aritmética dos valores das propostas
superiores a 50%.

Além de ser exigido para a assinatura do contrato prestação de garantia adicional.


Podendo o contrato optar entre as seguintes modalidades de garantia: caução em
dinheiro ou títulos da dívida pública, seguro-garantia, ou fiança bancária.

Segundo o parágrafo 4º, do artigo 59, da Nova Lei de Licitações nº 14.133/21, é


considerado preço inexequível para obras e serviços de engenharia as propostas
cujos valores forem inferiores a 75% do valor orçado pela Administração.

A nova Lei também exige garantia adicional ao licitante, todavia quando a sua
proposta for inferior a 85% do estimado para a contratação, em valor equivalente à
diferença entre o orçado pela Administração e a proposta formulada.

Comparando as Leis de Licitações, pode-se concluir que na nova Lei de Licitações


não há mais o critério utilizando a média aritmética, o legislador manteve a proposta
do valor orçado alterando apenas o valor inferior de 70% para 75% do valor orçado
pela Administração.
19

E ainda, vale destacar que em ambas a proposta de licitação pode ser


desclassificada por preço inexequível, ou seja, caso o licitante não consiga provar a
exequibilidade da sua proposta ou garantir de alguma forma que o serviço será
entregue a proposta poderá ser desclassificada pela Administração Pública. O objetivo
é minimizar os prejuízos que ocorrem quando o contrato firmado não é cumprido. Na
Tabela 8 apresenta-se um comparativo dos preços manifestamente inexequíveis das
duas leis.

Tabela 8 - Preços Manifestamente Inexequíveis

Lei 8.666/1993 Lei 14.133/2021

 Para obras e serviços de  No caso de obras e serviços de


engenharia, considera-se as engenharia, serão considerados
propostas cujos valores inexequíveis as propostas cujos
sejam inferiores a 70% do valores forem inferiores a 75% do
menor dos seguintes valor orçado pela administração
valores: (art. 59,§4º).
a) Média aritmética dos
valores das propostas
superiores a 50% do
valor orçado pela
administração, ou
b) Valor orçado pela
administração
Fonte: Prof. Herbert Almeida (2021).

12 DEFINIÇÃO DO ÂMBITO DE APLICAÇÃO

A lei antiga se aplicava à toda administração pública, prevendo por exemplo a


aplicação às empresas estatais (empresas públicas e sociedades de economia mista),
já a nova lei define que as empresas estatais não se submetem à nova lei de licitações,
pois elas já possuem uma norma sobre licitações públicas que é a lei 13.303/16
(Estatuto da empresa pública e da Sociedade de economia mista). Porém, há algumas
exceções para aplicação da lei nova nesses casos e uma delas é quanto as
disposições penais.

Ela possui aplicação na administração direta, autárquica e fundacional em todos


os entes da federação e em todos os poderes (executivo, legislativo e judiciário)
quando estiverem em sua função administrativa. Se aplica aos fundos especiais
(conjunto de recursos) e entidades controladas.

A nova lei entrou em vigor desde a sua publicação, porém no prazo de revogação
(2 anos), deixará de valer a lei antiga 8.666/93, a lei 10.520/02 (pregão) e a lei
12.462/11 (Regime Diferenciado de Contratações Públicas). Durante esse prazo, o
administrador deverá escolher a lei a ser aplicada e constar expressamente no edital
20

de convocação de concurso público, devendo o contrato firmado ser regido pela lei
escolhida.

13 CONCLUSÃO

O estudo das leis de licitações é complexo e denota muita atenção a tendências


previstas em outros diplomas legais. Até aqui, é possível observar que entre uma lei
e outra, alguns pontos foram mudados e outros alterados, contudo, muito se
aproveitou de todo um ordenamento para a criação de uma única lei que pudesse
solucionar as falhas presentes no procedimento licitatório.

Embora a Lei 14.133/21 não tenha se apresentado muito “ousada”, há sim


novidades no seu texto legal, como a incorporação da modalidade do diálogo
competitivo, tradicionalmente utilizado no Direito Europeu, com a extinção das
modalidades tomada de preços e convite. Contudo, faz-se presente uma sensação de
frustração diante de poucas novidades e “mais do mesmo”, pondera o procurador do
município do Rio de Janeiro, Rafael Carvalho Rezende Oliveira:
De lado os importantes avanços em relação às normas contidas na Lei
8.666/1993, a nova Lei de Licitações, ao incorporar institutos
consagrados em leis especiais, positivar orientações dos órgãos de
controle e apresentar texto prolixo, parece um grande "museu de
novidades" e nos remete à música do inesquecível Cazuza: "Eu vejo
o futuro repetir o passado; Eu vejo um museu de grandes novidades;
O tempo não para; Não para, não, não para".

Ademais, a nova lei de licitações apresenta um texto excessivamente formalista,


tal qual a antiga lei nº 8.666/93, com pouca flexibilidade para adaptações necessárias
às especificidades das contratações públicas.

Apesar de todos esses pontos, é muito interessante que a Lei 14.133/21 tenha
incorporado soluções encartadas na Lei de Pregão e na Lei do RDC, são estes
considerados grandes avanços em relação ao regime jurídico tradicional de licitações.
E, com fidúcia, era necessário positivar esses instrumentos para melhor
aproveitamento do processo. A Lei 8.666/93 já não vinha cumprindo com eficiência
seu papel, fazendo-se essencial a criação de um dispositivo que tornasse o
procedimento licitatório menos burocrático e mais célere.
21

Referências
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05 de novembro de 2020. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=JBz0RX0AK1M>. Acesso em: 21 de Março de
2022.
ALMEIDA, Herbert. Nova Lei de Licitações [E1] - Âmbito de aplicação da Lei 14133/21.
Youtube, 02 de abril de 2021. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=4bG83AaK7bo>. Acesso em: 21 de Março de
2022.
ALMEIDA, Herbert. Nova lei de licitações [e18] - licitação deserta e fracassada.
Youtube, 03 de abril de 2021. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=JBz0RX0AK1M>. Acesso em: 21 de Março de
2022.
ALMEIDA, Herbert. Nova Lei de Licitações [E2] - Comparação Lei 8666 e Lei 14133
(Nova Lei de Licitações). Youtube, 02 de abril de 2021. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=G8ajutUZMmY>. Acesso em: 21 de Março de
2022.
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as-suas-fases/>. Acesso em: 21 de Março de 2022.
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Administrativos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1º abr.
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BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
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Pública e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil.
Brasília, DF, 21 jun. 1993. Disponível em:
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22

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