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DIREITO ADMINISTRATIVO

CPIV
1º PERÍODO 2023
TEMAS

01 Serviços Públicos I. Conceito. Características. Princípios. Atividade econômica em sentido estrito X


serviços públicos. Serviços públicos e direitos fundamentais. A crise da noção do serviço público.
Aspectos pertinentes da Lei das Liberdades Econômicas (Lei nº 13.874/2019). Classificação dos
serviços públicos. Direitos dos usuários (Lei nº 13.460/2017). Aplicação do Código de Defesa do
Consumidor.

02 Serviços Públicos II. Titularidade/competência. Execução Direta. Regiões metropolitanas,


aglomerações urbanas e microrregiões (Estatuto da Metrópole - Lei nº 13.089/2015). Consórcios
públicos (Lei nº 11.107/2005).

03 Intervenção do Estado no domínio econômico I. Estado Regulador, Estado Executor e Estado


Monopolista. Desestatização e Privatização. Descentralização legal (outorga) e negocial (delegação).
Regime jurídico da empresa prestadora de serviços públicos e da empresa que explora atividades
econômicas pelo Estado. Lei nº 13303/2016 (Aspectos Gerais)

04 Intervenção do Estado no domínio econômico II. Agência Reguladora. Fonte normativa. Natureza
jurídica. Função. Regime jurídico dos servidores. Poder normativo. Lei nº 13.848/2019.

05 Concessão de Serviços Públicos. Fontes normativas constitucional e infraconstitucional. Modalidades


de concessão. Natureza jurídica. Política tarifária, fiscalização e encargos do concedente.
Responsabilidade e encargos do concessionário. Prazo da concessão, extinção e reversão.

06 Permissão de Serviços Públicos. Conceito, natureza, referências constitucionais. Aplicação de regras


das concessões. Extinção. Serviços Públicos Autorizados.

07 Parceria Público-Privada. Regime especial de outorga: peculiaridades. Concessão Patrocinada e


Concessão Administrativa. Requisitos. Fundo Garantidor de Parcerias. Programa de parcerias de
Investimentos - PPI (Lei nº 13.334/2016).

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08 Estado Gestor (3º Setor). Regimes de parcerias: regimes de convênios administrativos, regimes de
contrato de gestão (as Organizações Sociais), Gestão por colaboração (OSCIP-Organização da
sociedade civil de interesse público). Lei nº 13.019/2014 (Aspectos Gerais) Serviço Social Autônomo.

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Tema 01:
Serviços Públicos I. Conceito. Características. Princípios. Atividade econômica em sentido
estrito X serviços públicos. Serviços públicos e direitos fundamentais. A crise da noção do
serviço público. Aspectos pertinentes da Lei das Liberdades Econômicas (Lei nº 13.874/2019).
Classificação dos serviços públicos. Direitos dos usuários (Lei nº 13.460/2017). Aplicação do
Código de Defesa do Consumidor.

1ª QUESTÃO:
O Município X fez editar uma Lei que veda o uso de carros particulares para o transporte
remunerado individual de pessoas, mediante a utilização de plataformas digitais, tais como os
aplicativos.
Paralelamente, o mesmo ente federativo fez editar norma que admitiu o deferimento de autorização
para o serviço de taxi na localidade, mediante requisitos objetivos e razoáveis, sem a realização de
licitação, bem como a transferência inter vivos, mediante alienação, e causa mortis das respectivas
outorgas.
Tais normas foram questionadas, pelas vias pertinentes, de forma autônoma, sob o fundamento de
violação ao disposto no art. 175, da CRFB/88, que exige a realização de licitação para a concessão
e permissão de serviços públicos.
Diante dessa situação hipotética, esclareça se as atividades em questão são serviços públicos, para
fins de enfrentamento da constitucionalidade de cada uma delas, à luz da orientação do C. STF.

RESPOSTA:
Letra A)

Com relação aos serviços de transporte individual pela utilização de plataformas digitais:

STF ADPF 449/DF; Relator(a): Min. LUIZ FUX; Julgamento: 08/05/2019; Publicação:
02/09/2019; Órgão julgador: Tribunal Pleno
Ementa
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E REGULATÓRIO.
PROIBIÇÃO DO LIVRE EXERCÍCIO DA ATIVIDADE DE TRANSPORTE INDIVIDUAL DE
PASSAGEIROS. INCONSTITUCIONALIDADE. ESTATUTO CONSTITUCIONAL DAS
LIBERDADES. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA LIVRE INICIATIVA E DO VALOR
SOCIAL DO TRABALHO (ART. 1º, IV), DA LIBERDADE PROFISSIONAL (ART. 5º, XIII),
DA LIVRE CONCORRÊNCIA (ART. 170, CAPUT), DA DEFESA DO CONSUMIDOR (ART.
170, V) E DA BUSCA PELO PLENO EMPREGO (ART. 170, VIII). IMPOSSIBILIDADE DE
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ESTABELECIMENTO DE RESTRIÇÕES DE ENTRADA EM MERCADOS. MEDIDA
DESPROPORCIONAL. NECESSIDADE DE REVISÃO JUDICIAL. MECANISMOS DE
FREIOS E CONTRAPESOS. ADPF JULGADA PROCEDENTE. 1. A Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental é cabível em face de lei municipal, adotando-se como
parâmetro de controle preceito fundamental contido na Carta da República, ainda que também
cabível em tese o controle à luz da Constituição Estadual perante o Tribunal de Justiça competente.
2. A procuração sem poderes específicos para ajuizar a Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental pode ser regularizada no curso do processo, mercê da instrumentalidade do Direito
Processual. 3. A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental não carece de interesse de
agir em razão da revogação da norma objeto de controle, máxime ante a necessidade de fixar o
regime aplicável às relações jurídicas estabelecidas durante a vigência da lei, bem como no que diz
respeito a leis de idêntico teor aprovadas em outros Municípios. Precedentes: ADI 3306, Relator(a):
Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2011; ADI 2418, Relator(a): Min.
TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 04/05/2016; ADI 951 ED, Relator(a): Min.
ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 27/10/2016; ADI 4426, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/2011; ADI 5287, Relator(a): Min. LUIZ FUX,
Tribunal Pleno, julgado em 18/05/2016. 4. A União possui competência privativa para legislar sobre
"diretrizes da política nacional de transportes", "trânsito e transporte" e "condições para o exercício
de profissões" (art. 22, IX, XI e XVI, da CRFB), sendo vedado tanto a Municípios dispor sobre esses
temas quanto à lei ordinária federal promover a sua delegação legislativa para entes federativos
menores, considerando que o art. 22, parágrafo único, da Constituição faculta à Lei complementar
autorizar apenas os Estados a legislar sobre questões específicas das referidas matérias. Precedentes:
ADI 3136, Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgado em 01/08/2006, DJ
10/11/2006; ADI 2.606, Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ de 07/02/2003; ADI 3.135,
Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJ de 08/09/2006; e ADI 3.679, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, Tribunal Pleno, DJ de 03/08/2007; ARE 639496 RG, Relator(a): Min. Cezar Peluso,
julgado em 16/06/2011; ADI 3049, Relator(a): Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno, julgado em
04/06/2007. 5. O motorista particular, em sua atividade laboral, é protegido pela liberdade
fundamental insculpida no art. 5º, XIII, da Carta Magna,submetendo-se apenas à regulação
proporcionalmente definida em lei federal, pelo que o art. 3º, VIII, da Lei Federal n.º 12.965/2014
(Marco Civil da Internet) e a Lei Federal n.º 12.587/2012, alterada pela Lei n.º 13.640 de 26 de
março de 2018, garantem a operação de serviços remunerados de transporte de passageiros por
aplicativos. 6. A liberdade de iniciativa garantida pelos artigos 1º, IV, e 170 da Constituição
brasileira consubstancia cláusula de proteção destacada no ordenamento pátrio como fundamento
da República e é característica de seleto grupo das Constituições ao redor do mundo, por isso que
não pode ser amesquinhada para afastar ou restringir injustificadamente o controle judicial de atos
normativos que afrontem liberdades econômicas básicas. 7. O constitucionalismo moderno se
fundamenta na necessidade de restrição do poder estatal sobre o funcionamento da economia de
mercado, sobrepondo-se o Rule of Law às iniciativas autoritárias destinadas a concentrar privilégios,
impor o monopólio de meios de produção ou estabelecer salários, preços e padrões arbitrários de
qualidade, por gerarem ambiente hostil à competição, à inovação, ao progresso e à distribuição de
riquezas. Literatura: ACEMOGLU, Daron; ROBINSON, James. Por que as nações fracassam - As
origens do poder, das prosperidade e da pobreza. Trad. Cristiana Serra. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012. 8. A teoria da escolha pública (public choice) vaticina que o processo politico por
meio do qual regulações são editadas é frequentemente capturado por grupos de poder interessados
em obter, por essa via, proveitos superiores ao que seria possível em um ambiente de livre
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competição, porquanto um recurso político comumente desejado por esses grupos é o poder estatal
de controle de entrada de novos competidores em um dado mercado, a fim de concentrar benefícios
em prol de poucos e dispersar prejuízos por toda a sociedade. Literatura: STIGLER, George. "The
theory of economic regulation". in: The Bell Journal of Economics and Management Science, Vol.
2, No. 1 (Spring,1971). 9. O exercício de atividades econômicas e profissionais por particulares deve
ser protegido da coerção arbitrária por parte do Estado, competindo ao Judiciário, à luz do sistema
de freios e contrapesos estabelecidos na Constituição brasileira, invalidar atos normativos que
estabeleçam restrições desproporcionais à livre iniciativa e à liberdade profissional. Jurisprudência:
RE nº 414426 Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 01/08/2011; RE
511961, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 17/06/2009. 10. O
sistema constitucional de proteção de liberdades goza de prevalência prima facie, devendo eventuais
restrições ser informadas por um parâmetro constitucionalmente legítimo e adequar-se ao teste da
proporcionalidade, exigindo-se ônus de justificação regulatória baseado em elementos empíricos
que demonstrem o atendimento dos requisitos para a intervenção. 11. A norma que proíbe o "uso de
carros particulares cadastrados ou não em aplicativos, para o transporte remunerado individual de
pessoas" configura limitação desproporcional às liberdades de iniciativa (art. 1º, IV, e 170 da CRFB)
e de profissão (art. 5º, XIII, da CRFB), a qual provoca restrição oligopolística domercado em
benefício de certo grupo e em detrimento da coletividade. Ademais, a análise empírica demonstra
que os serviços de transporte privado por meio de aplicativos não diminuíram o mercado de atuação
dos táxis. 12. O arcabouço regulatório dos táxis no Brasil se baseia na concessão de títulos de
permissão a um grupo limitado de indivíduos, os quais se beneficiam de uma renda extraordinária
pela restrição artificial do mercado, de modo que o ativo concedido não corresponde a qualquer
benefício gerado à sociedade, mas tão somente ao cenário antinatural de escassez decorrente da
limitação governamental, sendo correto afirmar que os princípios constitucionais da igualdade (art.
5º, caput), da livre iniciativa (artigos 1º, IV, e 170) e da livre concorrência (art. 173, § 4º) vedam ao
Estado impedir a entrada de novos agentes no mercado para preservar a renda de agentes
tradicionais. Jurisprudência: ADI 5062, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em
27/10/2016. 13. A proibição legal do livre exercício da profissão de transporte individual
remunerado afronta o princípio da busca pelo pleno emprego, insculpido no art. 170, VIII, da
Constituição, pois impede a abertura do mercado a novos entrantes, eventualmente interessados em
migrar para a atividade como consectário da crise econômica, para promover indevidamente a
manutenção do valor de permissões de táxi. 14. A captura regulatória, uma vez evidenciada, legitima
o Judiciário a rever a medida suspeita, como instituição estruturada para decidir com independência
em relação a pressões políticas, a fim de evitar que a democracia se torne um regime serviente a
privilégios de grupos organizados, restando incólume a Separação dos Poderes ante a atuação dos
freios e contrapesos para anular atos arbitrários do Executivo e do Legislativo. 15. A literatura do
tema assenta que, verbis: "não há teoria ou conjunto de evidências aceitos que atribuam benefícios
sociais à regulação que limite a entrada e a competição de preços" (POSNER, Richard A. "The
Social Costs of Monopoly and Regulation". In: The Journal of Political Economy, Vol. 83, No. 4
(Aug., 1975), pp. 807-828). Em idêntico prisma: SHLEIFER, Andrei. The Enforcement Theory of
Regulation. In: The Failure of Judges and the Rise of Regulators. Cambridge: The MIT Press, 2012.
p. 18; GELLHORN, Walter. "The Abuse of Occupational Licensing". In: 44 U. Chi. L. Rev. 6 1976-
1977. 16. A evolução tecnológica é capaz de superar problemas econômicos que tradicionalmente
justificaram intervenções regulatórias, sendo exemplo a sensível redução de custos de transação e
assimetria de informação por aplicativos de transporte individual privado, tornando despicienda a
padronização dos serviços de táxi pelo poder público. Literatura: MACKAAY, Ejan. Law and
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Economics for Civil Law Systems. Cheltenham: Edward Elgar, 2013. 17. Os benefícios gerados aos
consumidores pela atuação de aplicativos de transporte individual de passageiros são documentados
na literatura especializada, que aponta, mediante métodos de pesquisa empírica, expressivo
excedente do consumidor (consumer surplus), consistente na diferença entre o benefício marginal
na aquisição de um bem ou serviço e o valor efetivamente pago por ele, apartir da interação entre a
curva de demanda e o preço de mercado, por isso que a proibição da operação desses serviços
alcança efeito inverso ao objetivo de defesa do consumidor imposto pelos artigos 5º, XXXII, e 170,
V, da Constituição. 18. A Constituição impõe ao regulador, mesmo na tarefa de ordenação das
cidades, a opção pela medida que não exerça restrições injustificáveis às liberdades fundamentais
de iniciativa e de exercício profissional (art. 1º, IV, e 170; art. 5º, XIII, CRFB), sendo inequívoco
que a necessidade de aperfeiçoar o uso das vias públicas não autoriza a criação de um oligopólio
prejudicial a consumidores e potenciais prestadores de serviço no setor, notadamente quando há
alternativas conhecidas para o atingimento da mesma finalidade e à vista de evidências empíricas
sobre os benefícios gerados à fluidez do trânsito por aplicativos de transporte, tornando patente que
a norma proibitiva nega "ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente", em contrariedade ao
mandamento contido no art. 144, § 10, I, da Constituição, incluído pela Emenda Constitucional nº
82/2014. 19. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental julgada procedente para
declarar inconstitucional a Lei Municipal de Fortaleza nº 10.553/2016, por ofensa aos artigos 1º, IV;
5º, caput, XIII e XXXII; 22, IX, XI e XVI; 144, § 10, I; 170, caput, IV, V e VIII; e 173, § 4º, todos
da Carta Magna.

STF - RE 1054110; Repercussão Geral - Mérito; Órgão julgador: Tribunal Pleno; Relator(a): Min.
ROBERTO BARROSO; Julgamento: 09/05/2019; Publicação: 06/09/2019

Ementa: Direito constitucional. Recurso Extraordinário. Repercussão Geral. Transporte individual


remunerado de passageiros por aplicativo. livre iniciativa e livre concorrência. 1. Recurso
Extraordinário com repercussão geral interposto contra acórdão que declarou a
inconstitucionalidade de lei municipal que proibiu o transporte individual remunerado de
passageiros por motoristas cadastrados em aplicativos como Uber, Cabify e 99. 2. A questão
constitucional suscitada no recurso diz respeito à licitude da atuação de motoristas privados
cadastrados em plataformas de transporte compartilhado em mercado até então explorado por
taxistas. 3. As normas que proíbam ou restrinjam de forma desproporcional o transporte privado
individual de passageiros são inconstitucionais porque: (i) não há regra nem princípio constitucional
que prescreva a exclusividade do modelo de táxi no mercado de transporte individual de passageiros;
(ii) é contrário ao regime de livre iniciativa e de livre concorrência a criação de reservas de mercado
em favor de atores econômicos já estabelecidos, com o propósito de afastar o impacto gerado pela
inovação no setor; (iii) a possibilidade de intervenção do Estado na ordem econômica para preservar
o mercado concorrencial e proteger o consumidor não pode contrariar ou esvaziar a livre iniciativa,
a ponto de afetar seus elementos essenciais. Em um regime constitucional fundado na livre
iniciativa, o legislador ordinário não tem ampla discricionariedade para suprimir espaços relevantes
da iniciativa privada. 4. A admissão de uma modalidade de transporte individual submetida a uma
menor intensidade de regulação, mas complementar ao serviço detáxi afirma-se como uma estratégia
constitucionalmente adequada para acomodação da atividade inovadora no setor. Trata-se, afinal,
de uma opção que: (i) privilegia a livre iniciativa e a livre concorrência; (ii) incentiva a inovação;
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(iii) tem impacto positivo sobre a mobilidade urbana e o meio ambiente; (iv) protege o consumidor;
e (v) é apta a corrigir as ineficiências de um setor submetido historicamente a um monopólio "de
fato". 5. A União Federal, no exercício de competência legislativa privativa para dispor sobre
trânsito e transporte (CF/1988, art. 22, XI), estabeleceu diretrizes regulatórias para o transporte
privado individual por aplicativo, cujas normas não incluem o controle de entrada e de preço. Em
razão disso, a regulamentação e a fiscalização atribuídas aos municípios e ao Distrito Federal não
podem contrariar o padrão regulatório estabelecido pelo legislador federal. 6. Recurso extraordinário
desprovido, com a fixação das seguintes teses de julgamento: "1. A proibição ou restrição da
atividade de transporte privado individual por motorista cadastrado em aplicativo é inconstitucional,
por violação aos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência; e 2. No exercício de sua
competência para regulamentação e fiscalização do transporte privado individual de passageiros, os
Municípios e o Distrito Federal não podem contrariar os parâmetros fixados pelo legislador federal
(CF/1988, art. 22, XI)".

Letra B)

No tocante ao serviço de taxi:

STF - RE 967479 AgR / RJ; Relator(a): Min. EDSON FACHIN; Órgão Julgador: Segunda Turma;
DJE 07/05/2019
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL
E ADMINISTRATIVO. SERVIÇO DE TRANSPORTE INDIVIDUAL DE PASSAGEIROS.
TÁXIS. SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA. INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO.
AUSÊNCIA DE OFENSA AO ART. 175 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DESPROVIMENTO.
1. O Plenário desta Corte, no julgamento do RE 359.444, reconheceu a desnecessidade de submissão
a procedimento licitatório para autorização da exploração da atividade de transporte individual de
passageiros. 2. In casu, o Tribunal de origem dissentiu da orientação firmada na jurisprudência desta
Corte, segundo a qual não há falar em violação ao disposto no art. 175 da Constituição Federal, uma
vez que a exploração de transporte individual de passageiros não se encaixa na modalidade de
serviço público, mas tão somente de "serviço de utilidade pública". 3. Agravo regimental a que se
nega provimento.

Já no que concerne à transferência inter vivos e causa mortis:

STF - ADI 5337 / DF; Relator(a): Min. LUIZ FUX; Julgamento: 01/03/2021; Publicação:
25/03/2021
Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTITUCIONAL E
ADMINISTRATIVO. ARTIGO 12-A, §§ 1º, 2º E 3º, DA LEI 12.587/2012. POLÍTICA
NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA. EXPLORAÇÃO DE SERVIÇOS DE TÁXI.

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POSSIBILIDADE DE TRANSFERÊNCIA DA OUTORGA A TERCEIROS E AOS
SUCESSORES DO AUTORIZATÁRIO.INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL NÃO
CONFIGURADA. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS FEDERATIVO, REPUBLICANO, DA
IMPESSOALIDADE E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA, DA
PROPORCIONALIDADE E DA LIVRE INICIATIVA. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE CONHECIDA E JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO. 1. A
União ostenta competência privativa para legislar sobre diretrizes da política nacional de trânsito e
transporte e sobre condições para o exercício de profissões (art. 22, IX, XI e XVI, da CF).
Precedente: ADI 3.136, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Plenário, julgado em 1º/8/2006, DJ de
10/11/2006. 2. A isonomia e a impessoalidade recomendam que a hereditariedade, numa República,
deva ser a franca exceção, sob pena de se abrirem indevidos espaços de patrimonialismo. 3. In casu,
a transferência do direito à exploração do serviço de táxi aos sucessores do titular da outorga implica
tratamento preferencial, não extensível a outros setores econômicos e sociais, que vai de encontro
ao princípio da proporcionalidade, porquanto: (i) não é adequada ao fim almejado, pois não gera
diminuição dos custos sociais gerados pelo controle de entrada do mercado de táxis, contribuindo
para a concentração de outorgas de táxi nas mãos de poucas famílias; (ii) tampouco é necessária, na
medida em que ao Estado é possível a tutela dos taxistas e das respectivas famílias sem a restrição
ainda mais intensa da liberdade de iniciativa de terceiros (e.g. a concessão de benefícios fiscais,
regulação das condições de trabalho, etc.); e (iii) não passa, em especial, pelo filtro da
proporcionalidade em sentido estrito, por impor restrição séria sobre a liberdade de profissão e a
livre iniciativa de terceiros sem qualquer indicação de que existiria, in concreto, uma especial
vulnerabilidade a ser suprida pelo Estado, comparativamente a outros segmentos econômicos e
sociais. 4. A livre alienabilidade das outorgas de serviço de táxi, por sua vez, oportuniza aos seus
detentores auferir proveitos desproporcionais na venda da outorga a terceiros, contribuindo para a
concentração naquele mercado e gerando incentivos perversos para a obtenção de outorgas - não
com a finalidade precípua de prestação de um serviço de qualidade, mas sim para a mera especulação
econômica. 5. O sobrepreço na comercialização da outorga dificulta o acesso à exploração do
serviço por interessados com menor poder aquisitivo, o que contribui para que motoristas não
autorizatários sejam submetidos a condições mais precárias de trabalho, alugando veículos e
operando como auxiliares dos detentores das outorgas. 6. A possibilidade de alienação da outorga a
terceiros é fator incentivador de comportamento oportunista (rent-seeking), tanto pelo taxista
individualmente, que busca auferir o maior preço possível na revenda da outorga, quanto para a
própria categoria profissional, que passa a se mobilizar em prol da manutenção da escassez na oferta
de transporte individual, como forma de preservar os lucros extraordinários auferidos com a
transferência da outorga. 7. In casu, são inconstitucionais os dispositivos impugnados, que permitem
a transferência inter vivos ou causa mortis da outorga do serviço de táxi, na medida em que não
passam pelo crivo da proporcionalidade, da isonomia, da impessoalidade e da
eficiênciaadministrativa, gerando, adicionalmente, potenciais efeitos econômicos e sociais
perversos que não resistem a uma análise custo-benefício. 8. Ação direta conhecida e julgado
procedente o pedido, para declarar inconstitucionais os §§ 1º, 2º e 3º do artigo 12-A da Lei
12.587/2012, que institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, com a redação
dada pela Lei 12.865/2013.

2ª QUESTÃO:

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Caio, Tício e Mévio são amigos de longa data, residentes no mesmo Município, e, em uma reunião,
chegaram à conclusão de que todos sofreram com a interrupção do serviço de energia elétrica nos
últimos tempos.
O corte do serviço de Caio foi decorrente de dívidas de dois anos atrás, em nome de Lina, antiga
locatária do imóvel em que reside atualmente. A situação de Tício decorreu da suspensão da
atividade para reparo, que perdurou cerca de duas horas, mediante a devida notificação de que o
conserto seria realizado. Já a de Mévio é resultante da apuração de consumo decorreu da verificação
de fraude em seu medidor, relativo ao período de sessenta dias antes da constatação da fraude,
mediante instauração de processo administrativo em que garantida a ampla defesa e contraditório,
mediante notificação cinco dias depois do prazo para pagamento.
Diante dessa situação hipotética, analise a viabilidade de interrupção do serviço em comento para
cada um dos usuários mencionados, à luz da orientação do C. STJ.

RESPOSTA:
A) Em relação a Caio

STJ - REsp 1682992 / SE; Rel. Min. HERMAN BENJAMIN; Segunda Turma; Dje 09/10/2017
ADMINISTRATIVO. ENERGIA ELÉTRICA. COBRANÇA DE DÉBITOS PRETÉRITOS.
INTERRUPÇÃO. ILEGALIDADE. RELAÇÃO CONSUMERISTA. 1. O Superior Tribunal de
Justiça consagra entendimento no sentido da ilicitude da interrupção, pela concessionária, dos
serviços de fornecimento de energia elétrica por dívida pretérita, a título de recuperação de
consumo, em face da existência de outros meios legítimos de cobrança de débitos antigos não pagos.
1. Recurso Especial provido.

STJ - AREsp 1557116 / MG; Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES; Primeira Turma; Dje
10/12/2019
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE FORNECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTO. PAGAMENTO
DO DÉBITO DE CONSUMO. OBRIGAÇÃO PESSOAL. EXISTÊNCIA DE CONTRATO DE
LOCAÇÃO NÃO INFORMADO À CONCESSIONÁRIA. RESPONSABILIDADE DO
PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL.
1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que os débitos relativos aos serviços essenciais,
tais como água/esgoto e energia elétrica, são de natureza pessoal, ou seja, de quem efetivamente
obteve a prestação do serviço, não se caracterizando como obrigação de natureza propter rem, pois
não se vinculam à titularidade do imóvel. Precedentes: AgRg no AREsp 45.073/MG, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, Dje 15/02/2017; AgRg no AREsp 829.901/SP, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 11/05/2016AgRg no AREsp 592.870/SP,
Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 21/11/2014; AgRg no Resp 1.320.974/SP, Rel.
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 9
Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, Dje 18/08/2014; AgRg no REsp 1.444.530/SP, Rel.
Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 16/05/2014.
2. Todavia, no caso dos autos, não obstante tenha havido contrato de locação do imóvel, não houve
a alteração da titularidade contratual perante a concessionária do serviço. Assim, considerando que
o proprietário do bem permaneceu inscrito como titular do serviço nos cadastros da concessionária,
que não foi informada da existência do contrato de locação, não há como imputar a ela a obrigação
de cobrar os custos de terceiro (locatário), que com ela sequer manteve relação contratual.
3. Por conseguinte, não há falar em ilegitimidade da recorrente, proprietária do imóvel, para figurar
na presente execução fiscal, não podendo se eximir de sua obrigação contratual perante a
concessionária de pagamento dos pelos serviços prestados, cujas faturas de consumo estão
regularmente em seu nome, sem prejuízo de eventual direito de regresso em face do inquilino.
4. Esse mesmo raciocínio já foi adotado por esta Corte ao reconhecer a ilegitimidade do locatário
para discutir perante a concessionária questões relativas a contrato de prestação de serviços, em
relação ao qual não fez parte. Precedentes: AgInt no AREsp 1.105.681/SP, Rel. Min. Gurgel de
Faria, Primeira Turma, DJe 09/10/2018; AgRg no REsp 1.185.667/RS, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, Primeira Turma, Dje 27/09/2010; REsp 1.074.412/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, DJe 11/05/2010).
5. Agravoconhecido para negar provimento ao recurso especial.

Questão correlata foi objeto do seguinte julgado:


AgInt no REsp 1737379 / PR; RELATOR: Ministro OG FERNANDES; ÓRGÃO JULGADOR:
SEGUNDA TURMA; DATA DO JULGAMENTO: 08/03/2022; DATA DA
PUBLICAÇÃO/FONTE: DJe 25/03/2022;
ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. SERVIÇO DE
ENERGIA ELÉTRICA. OBRIGAÇÃO DE NATUREZA PESSOAL E NÃO PROPTER REM.
PRECEDENTES. CONTRATO DE LOCAÇÃO. MUDANÇA DE TITULARIDADE. AUSÊNCIA
DE COMUNICAÇÃO À CONCESSIONÁRIA. RESPONSABILIZAÇÃO DO PROPRIETÁRIO.
1. A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que a responsabilidade pelo pagamento da
prestação do serviço de água, esgoto ou energia possui natureza pessoal e não propter rem, devendo,
portanto, a obrigação pelo pagamento do serviço recair sobre quem o solicita.
2. Ocorre que, no caso, ainda que seja possível atribuir ao locatário a responsabilização pelo
pagamento do serviço de energia elétrica, conforme consignado pela Corte a quo, a companhia
agravada não foi informada a respeito da mudança de titularidade da obrigação.
3. Quando o proprietário deixa de informar a alteração de titularidade, permanece a relação de
fornecimento de energia estabelecida entre ele e a companhia de energia, vinculando-o à obrigação
como usuário, uma vez que o vínculo jurídico estabelecido entre o locador e locatário não pode ser
imposto à companhia de energia, sob pena de transferir obrigações sem prévio ajuste.
4. Agravo interno a que se nega provimento.

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 10


B) Em relação à Tício

STJ - AgRg no REsp 1546899 / MG; REL. Min. OG FERNANDES; Segunda Turma; Dje
16/11/2015
ADMINISTRATIVO E CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. ENERGIA ELÉTRICA. CORTE NO
FORNECIMENTO. REALIZAÇÃO DE REPARO. SÚMULA 7/STJ.
1. O Tribunal local, registrando que a suspensão do fornecimento de energia elétrica, para
conserto, deu-se por período inferior a 24 (vinte e quatro) horas, entendeu inexistir lesão moral
ao autor. Impossível afirmar o contrário sem o reexame dos fatos e provas constantes dos autos.
Incidência da Súmula 7/STJ.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.

Cumpre mencionar, ainda, o seguinte julgado:


STJ - AgInt no AREsp 1913993 / PR; RELATOR: Ministro SÉRGIO KUKINA; ÓRGÃO
JULGADOR: PRIMEIRA TURMA; DATA DO JULGAMENTO: 06/06/2022; DATA DA
PUBLICAÇÃO/FONTE: DJe 09/06/2022
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA
DE DÉBITO. ENERGIA ELÉTRICA. FRAUDE NO MEDIDOR. APLICAÇÃO DO
REPETITIVO. TEMA 699/STJ. REGULARIDADE DO PROCESSO ADMINISTRATIVO.
REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ.
1. A Primeira Seção desta Corte, no julgamento do Recurso Especial Repetitivo n. 1.412.433/RS,
sob o rito de recursos repetitivos (Tema 699), cujacontrovérsia versava sobre a "possibilidade de o
prestador de serviços públicos suspender o fornecimento de energia elétrica em razão de débito
pretérito do destinatário final do serviço", consignou que, em relação aos débitos por recuperação
de efetivo consumo, por fraude no medidor, "incumbe à concessionária do serviço público observar
rigorosamente os direitos ao contraditório e à ampla defesa do consumidor na apuração do débito,
já que o entendimento do STJ repele a averiguação unilateral da dívida".
2. O acórdão recorrido, à luz das provas constantes do autos, concluiu pela aplicação do mencionado
julgamento repetitivo ao entendimento de que à parte agravante foram garantidos os devidos
contraditório e processo legal, bem como a ampla defesa na apuração do débito no âmbito do
processo administrativo. Rever essa compreensão demandaria o reexame do acervo fático constante
dos autos, providência vedada em sede de recurso especial, conforme o óbice previsto na Súmula
7/STJ. 3. Agravo interno não provido.

C) No tocante à Mévio

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 11


STJ - REsp 1412433 / RS; Rel. Min. HERMAN BENJAMIN; Primeira Seção; Dje 28/09/2018
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC/1973 (ATUAL 1.036 DO CPC/2015) E RESOLUÇÃO
STJ 8/2008. SERVIÇOS PÚBLICOS. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. FRAUDE
NO MEDIDOR DE CONSUMO. CORTE ADMINISTRATIVO DO SERVIÇO. DÉBITOS DO
CONSUMIDOR. CRITÉRIOS. ANÁLISE DA CONTROVÉRSIA SUBMETIDA AO RITO DO
ART. 543-C DO CPC/1973 (ATUAL 1.036 DO CPC/2015)
1. A concessionária sustenta que qualquer débito, atual ou antigo, dá ensejo ao corte administrativo
do fornecimento de energia elétrica, o que inclui, além das hipóteses de mora do consumidor, débitos
pretéritos relativos à recuperação de consumo por fraude do medidor. In casu, pretende cobrar débito
oriundo de fraude em medidor, fazendo-o retroagir aos cinco anos antecedentes.
TESE CONTROVERTIDA ADMITIDA 2. Sob o rito do art. 543-C do CPC/1973 (atualmente 1036
e seguintes do CPC/2015), admitiu-se a seguinte tese controvertida: "a possibilidade de o prestador
de serviços públicos suspender o fornecimento de energia elétrica em razão de débito pretérito do
destinatário final do serviço".
PANORAMA GERAL DA JURISPRUDÊNCIA DO STJ SOBRE CORTE DE ENERGIA POR
FALTA DE PAGAMENTO
3. São três os principais cenários de corte administrativo do serviço em decorrência de débitos de
consumo de energia elétrica por inadimplemento: a) consumo regular (simples mora doconsumidor);
b) recuperação de consumo por responsabilidade atribuível à concessionária; e c) recuperação de
consumo por responsabilidade atribuível ao consumidor (normalmente, fraude do medidor).
4. O caso tratado no presente recurso representativo da controvérsia é o do item "c" acima, já que a
apuração de débitos pretéritos decorreu de fato atribuível ao consumidor: fraude no medidor de
consumo.
5. Não obstante a delimitação supra, é indispensável à resolução da controvérsia fazer um apanhado
da jurisprudência do STJ sobre a possibilidade de corte administrativo do serviço de energia elétrica.
6. Com relação a débitos de consumo regular de energia elétrica, em que ocorre simples mora do
consumidor, a jurisprudência do STJ está sedimentada no sentido de que é lícito corte administrativo
do serviço, se houver aviso prévio da suspensão. A propósito: REsp 363.943/MG, Rel. Ministro
Humberto Gomes de Barros, Primeira Seção, DJ 1º.3.2004, p. 119; EREsp 302.620/SP, Rel.
Ministro José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministro Franciulli Netto, Primeira Seção, DJ 3.4.2006, p.
207; REsp 772.486/RS, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ 6.3.2006, p. 225; AgRg
no Ag 1.320.867/RJ, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, Dje 19.6.2017; e AgRg
no AREsp 817.879/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 12.2.2016.
7. Quanto a débitos pretéritos, sem discussão específica ou vinculação exclusiva à
responsabilidade atribuível ao consumidor pela recuperação de consumo (fraude no medidor),
há diversos precedentes no STJ que estipulam a tese genérica de impossibilidade de corte do
serviço: EREsp 1.069.215/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 1º.2.2011;
EAg 1.050.470/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 14.9.2010; Resp
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 12
772.486/RS, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ 6.3.2006, p. 225; AgRg nos EDcl
no AREsp 107.900/RS, Rel. Ministro Ari Pargendler, Primeira Turma, DJe 18.3.2013; AgRg no
Resp 1.381.468/RN, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe 14.8.2013; AgRg
no REsp 1.536.047/GO, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 15.9.2015; AgRg
no AREsp 273.005/ES, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 26.3.2013; AgRg no
AREsp 257.749/PE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 8.2.2013; AgRg no
AREsp 462.325/RJ, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 15.4.2014; AgRg no AREsp
569.843/PE, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 11.11.2015; AgRg no
AREsp 484.166/RS, Rel. Ministro Ministro Napoleão Nunes Maia Filho,Primeira Turma, DJe
8.5.2014; EDcl no AgRg no AREsp 58.249/PE, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, DJe 25.4.2013; AgRg no AREsp 360.286/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,
Segunda Turma, DJe 11.9.2013; AgRg no AREsp 360.181/PE, Rel. Ministro Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, Dje 26.9.2013; AgRg no AREsp331.472/PE, Rel. Ministro Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, DJe 13.9.2013; AgRg no AREsp 300.270/MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina,
Primeira Turma, DJe 24.9.2015; AgRg no REsp 1.261.303/RS, Rel. Ministro Sérgio Kukina,
Primeira Turma, Dje 19.8.2013; EDcl no REsp 1.339.514/MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina,
Primeira Turma, DJe 5.3.2013; AgRg no AREsp 344.523/PE, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda
Turma, DJe 14.10.2013; AgRg no AREsp 470/RS, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira
Turma, Dje 4.10.2011; e AgRg no Ag 962.237/RS, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma,
DJe 27.3.2008.
CORTE ADMINISTRATIVO POR FRAUDE NO MEDIDOR
8. Relativamente aos casos de fraudedo medidor pelo consumidor, a jurisprudência do STJ
veda o corte quando o ilícito for aferido unilateralmente pela concessionária. A contrario
sensu, é possível a suspensão do serviço se o débito pretérito por fraude do medidor cometida
pelo consumidor for apurado de forma a proporcionar o contraditório e a ampla defesa. Nesse
sentido: AgRg no AREsp 412.849/RJ, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe
10.12.2013; AgRg no AREsp 370.548/PE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, Dje
4.10.2013; AgRg no REsp 1.465.076/SP, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, DJe 9.3.2016; REsp 1.310.260/RS, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe
28.9.2017; AgRg no AREsp 187.037/PE, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma,
Dje 8.10.2012; AgRg no AREsp 332.891/PE, Relator Min. Mauro Campbell Marques, Segunda
Turma, DJe 13.8.2013; AgRg no AREsp 357.553/PE, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira
Turma, DJe 26.11.2014; AgRg no AREsp 551.645/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira
Turma, DJe 3.10.2014; AgInt no AREsp 967.813/PR, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda
Turma, DJe 8.3.2017; AgInt no Resp 1.473.448/RS, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda
Turma, Dje 1º.2.2017; AgRg no AREsp 345.130/PE, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma,
DJe 10.10.2014; AgRg no AREsp 346.561/PE, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe
1º.4.2014; AgRg no AREsp 448.913/PE, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, Dje
3.9.2015; AgRg no AREsp 258.350/PE, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, DJe
8.6.2016; AgRg no REsp 1.478.948/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe
20.3.2015; AgRg no AREsp 159.109/SP, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, Dje
18.4.2013; AgRg no AREsp 295.444/RS, Rel. Ministra Marga Tessler (Desembargadora Federal
Convocada do TRF/4ª Região), Primeira Turma, DJe de 17.4.2015; AgRg no AREsp 322.763/PE,
Rel. Ministra Diva Malerbi (Desembargadora Federal Convocada do TRF/3ª Região), Segunda

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 13


Turma, DJe 23.8.2016; e AgRg AREsp 243.389/PE, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira
Turma, DJe 4.2.2013.
RESOLUÇÃO DA CONTROVÉRSIA
9. Como demonstrado acima, em relaçãoa débitos pretéritos mensurados por fraude do
medidor de consumo causada pelo consumidor, a jurisprudência do STJ orienta-se no sentido
do seu cabimento, desde que verificada com observância dos princípios do contraditório e da
ampla defesa.
10.O não pagamento dos débitos por recuperação de efetivo consumo por fraude ao medidor
enseja o corte do serviço, assim como acontece para o consumidor regular que deixa de pagar
a conta mensal (mora), sem deixar de ser observada a natureza pessoal (não propter rem) da
obrigação, conforme pacífica jurisprudência do STJ.
11. Todavia, incumbe à concessionária do serviço público observar rigorosamente os direitos ao
contraditório e à ampla defesa do consumidor na apuração do débito, já que o entendimento do STJ
repele a averiguação unilateral da dívida.
12. Além disso, o reconhecimento da possibilidade de corte de energia elétrica deve ter limite
temporal de apuração retroativa, pois incumbe às concessionárias o dever não só de fornecer o
serviço, mas também de fiscalizar adequada e periodicamente o sistema de controle de consumo.
13. Por conseguinte e à luz do princípio da razoabilidade, a suspensão administrativa do
fornecimento do serviço - como instrumento de coação extrajudicial ao pagamento de parcelas
pretéritas relativas à recuperação de consumo por fraude do medidor atribuível ao consumidor -
deve ser possibilitada quando não forem pagos débitos relativos aos últimos 90 (noventa) dias da
apuração da fraude, sem prejuízo do uso das vias judiciais ordinárias de cobrança. 14. Da mesma
forma, deve ser fixado prazo razoável de, no máximo, 90 (noventa) dias, após o vencimento da
fatura de recuperação de consumo, para que a concessionária possa suspender o serviço.
TESE REPETITIVA 15. Para fins dos arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015, fica assim resolvida a
controvérsia repetitiva: Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por
fraude no aparelho medidor atribuída ao consumidor,desde que apurado em observância aos
princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do
fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo
inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias
anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa) dias
após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios
judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90
(noventa) dias de retroação.
RESOLUÇÃO DO CASO CONCRETO 16. Na hipótese dos autos, o Tribunal Estadual declarou a
ilegalidade do corte de energia por se lastrear em débitos não relacionados ao último mês de
consumo.
17. Os débitos em litígio são concernentes à recuperação de consumo do valor de R$ 9.418,94 (nove
mil, quatrocentos e dezoito reais e noventa e quatro centavos) por fraude constatada no aparelho
medidor no período de cinco anos (15.12.2000 a 15.12.2005) anteriores à constatação, não sendo

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 14


lícita a imposição de corte administrativo do serviço pela inadimplência de todo esse período,
conforme os parâmetros estipulados no presente julgamento.
18. O pleito recursal relativo ao cálculo da recuperação de consumo não merece conhecimento por
aplicação do óbice da Súmula 7/STJ.
19. Recurso Especial não provido. Acórdão submetido ao regime dos arts. 1.036 e seguintes do
CPC/2015.

Cumpre destacar, ainda, os seguintes julgados:

STJ - AgInt no REsp 1716711 / TO; Relator(a): Ministro FRANCISCO FALCÃO; Órgão Julgador:
T2 - SEGUNDA TURMA; Data do Julgamento; 15/06/2020; Data da Publicação/Fonte
DJe 26/06/2020
Ementa
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FORNECIMENTO DE
ENERGIA ELÉTRICA. PRESTAÇÃO INADEQUADA DO SERVIÇO. ALEGAÇÃO DE
VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 DO CPC/2015 (ART. 535 DO CPC/73). INEXISTÊNCIA.
PRETENSÃO DE REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO E DE REVISÃO DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS. INCIDÊNCIA DOS ENUNCIADOS N. 7 E 5 DAS SÚMULAS DO STJ.
I - Na origem, trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Tocantins,
que objetiva a reparação, atualização e modernização de todo o sistema de fornecimento de energia
elétrica dos municípios mencionados na inicial. Na sentença,
julgou-se procedente a ação, condenando a concessionária de energia à respectiva reparação, bem
como à indenização no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) por danos morais coletivos.
No Tribunal de Justiça Estadual, a sentença foi reformada somente para afastar a multa aplicada no
julgamento dos declaratórios contra ela opostos.
II - Sobre a alegada violação dos arts. 489 e 1.022 do CPC/2015, por suposta omissão pelo Tribunal
de origem da análise das questões apontadas,tenho que não assiste razão à recorrente.
III - Na hipótese dos autos, verifica-se a inexistência da mácula apontada, tendo em vista que, da
análise do referido questionamento em confronto com o acórdão hostilizado, não se cogita
ocorrência de omissão, contradição, obscuridade ou mesmo erro material, mas mera
tentativa de reiterar fundamento jurídico já exposto pela recorrente e devidamente afastado pelo
julgador, verbis (fls. 874 e ss.): "[.. .] O voto condutor do acórdão deixou clara a responsabilidade
da embargante, enquanto concessionária, quanto à deficiência da prestação do serviço público de
fornecimento de energia elétrica, dada a rotineira interrupção e oscilação na execução do serviço
com o acarretamento de danos que exorbitaram a normalidade que se espera. A concessionária
embargante ultrapassou os índices

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 15


estabelecidos pela ANEEL de DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade
Consumidora) e FEC (Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora), de acordo
com a Resolução nº 796/2007, sendo estes índices considerados como parâmetros
toleráveis à execução do serviço e que levam em consideração justamente as interferências externas
a que está submetida a prestação do serviço [...]."
IV - Nesse panorama, a oposição de embargos de declaração, com fundamento na omissão acima,
demonstra, tão somente, o objetivo de rediscutir a matéria sob a ótica da recorrente, sem que tal
desiderato objetive o suprimento de quaisquer das baldas descritas no dispositivo legal mencionado,
ou mesmo evidencie decisão carente de fundamentação, mas sim, unicamente, a renovação da
análise da controvérsia.
V - Quanto ao mérito, na questão de fundo, o Tribunal a quo, soberano na análise do conjunto fático-
probatório, decidiu a demanda nos seguintes termos (fls. 821 e ss.): "De plano, vejo que é inequívoca
a deficiência da prestação do serviço público de fornecimento de energia elétrica pela concessionária
apelante, dadas as constantes interrupções na execução do serviço, o que acarretou graves prejuízos
na prestação de outros serviços públicos à população, tais como saúde e educação, além de prejuízos
no setor privado da indústria, comércio e demais atividades profissionais e, ainda, queimas e
danificações em eletrodomésticos dos munícipes,
perecimento de gêneros alimentícios e inúmeros outros transtornos às atividades diárias da
população. Toda a documentação carreada aos autos converge no sentido da rotineira interrupção e
oscilação no fornecimento de energia elétrica nos 7 (sete) municípios apontados, com danos que
exorbitam em muito a normalidade que se tolera. Os
fatos que originaram a presente ação estão subsidiados no procedimento administrativo preparatório
nº 031/2008 (evento1, anexos 3-9, autos originários), instaurado pelo Ministério Público com vistas
a esclarecer a má qualidade no serviço público prestado pela ré. Foram coletadas informações dos
Poderes Executivo, Legislativo e de Secretarias Municipais de Saúde eEducação dos municípios
mencionados, com relatos de graves prejuízos e
transtornos causados a toda à comunidade [...]."
VI - Dessa forma, para rever as conclusões da Corte de origem, na forma como pretendida pela
recorrente, seria imprescindível o reexame de fatos e provas, bem como cláusulas contratuais
relativas ao contrato de concessão, providência vedada em recurso especial, ante o óbices constantes
nos enunciados n. 5 e 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.
VII - Agravo interno improvido

STJ - REsp 1773493 / MG; RECURSO ESPECIAL; Relator(a): Ministra ASSUSETE


MAGALHÃES; Órgão Julgador: T2 - SEGUNDA TURMA; Data do Julgamento
01/06/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 14/06/2021

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 16


Ementa
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ALEGADA VIOLAÇÃO
AOS ARTS. 11, 489, § 1°, IV, E 1.022, II, DO CPC/2015. INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS, NO
ACÓRDÃO RECORRIDO. INCONFORMISMO. RESPONSABILIDADE CIVIL DA
CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE
ENERGIA ELÉTRICA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.
CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO. TESE RECURSAL NÃO PREQUESTIONADA.
SÚMULA 211 DO STJ. CASO FORTUITO. CAUSA EXCLUDENTE DE
RESPONSABILIDADE RECONHECIDA, PELAS INSTÂNCIAS DE ORIGEM, À LUZ DAS
PROVAS DOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO, NA VIA ESPECIAL. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. ACÓRDÃOS PARADIGMAS DO MESMO TRIBUNAL DE ORIGEM.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 13/STJ. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
CONHECIDO, E, NESSA EXTENSÃO, IMPROVIDO.
I. Recurso Especial interposto contra acórdão publicado na vigência do CPC/2015, aplicando-se, no
caso, o Enunciado Administrativo 3/2016, do STJ, aprovado na sessão plenária de 09/03/2016 ("Aos
recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18
de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC").
II. Na origem, trata-se de Ação de Indenização, ajuizada por Posto Atlântico Ltda. em face da
Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG, objetivando indenização pelos danos morais e
materiais sofridos em decorrência de alegada suspensão injustificada de fornecimento de energia
elétrica no aludido estabelecimento comercial, nos dias 9 a 12 de junho de 2011, prejudicando,
assim, sua atividade empresarial. O Tribunal de origem manteve a sentença de improcedência da
ação.
III. Não há falar, na hipótese, em violação aos arts. arts. 11, 489, § 1°, IV, e 1.022, II, do CPC/2015,
porquanto a prestação jurisdicional foi dada na medida da pretensão deduzida, de vez que os votos
condutores do acórdão recorrido e do acórdão proferido em sede de Embargos de Declaração
apreciaram fundamentadamente, de modo coerente e completo, as questões necessárias à solução
da controvérsia, dando-lhes, contudo, solução jurídica diversa da pretendida.
IV. No caso, o acórdão objeto do Recurso Especial manteve a sentença de improcedência da ação,
esclarecendo, inicialmente, que "o pedido indenizatório está fulcrado tão somente na alegação de
danos morais e materiais sofridos em decorrência de interrupção injustificada de
energia elétrica no estabelecimento empresarial da autora, ou seja, a pretensão não se funda em
alegada demora norestabelecimento do serviço de energia elétrica, questão somente suscitada nesta
instância revisora". Consignou o acórdão recorrido que a concessionária de energia elétrica
comprovou ter havido fato impeditivo do direito do autor, pois não houve interrupção injustificada
do fornecimento do serviço de energia elétrica, que, à luz das provas produzidas nos autos, decorreu
de "tempestade arrasadora na data de 09/06/2011 (cf. documentos de f. 894/899), incomum para o
período do ano, causando grandes transtornos, inclusive, desabamentos de imóveis - em um deles
uma criança foi soterrada -, quedas de árvores nas avenidas e ruas, com fechamento de vias e queda
generalizada de energia elétrica, aliás, recorde, conforme noticiado na mídia. A documentação
juntada pela apelada às f. 900/928 -‘Relatório Diário da Operação do Sistema CEMIG - MT‘ -,
corrobora o fato alegado pela ré, ora apelada, no sentido de que houve problemas na ‘Estação:

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 17


BHPM - PAMPULHA‘ (‘sic‘, f. 913), que atende, entre outros bairros, Jardim Atlântico, localização
da ora
apelante". Concluiu, assim, pela existência de caso fortuito, sendo, em consequência, incabível a
indenização postulada. Destacou, ainda, que "não se desincumbiu a parte autora, ora recorrente, de
comprovar a alegação de que sua região não foi afetada pelas chuvas
torrenciais que caíram sobre toda a cidade de Belo Horizonte, como inicialmente comprovado pela
parte ré, ora apelada".
V. Por simples cotejo das razões recursais e dos fundamentos do acórdão recorrido, percebe-se que
a tese recursal de aplicação, ao caso, do Código de Defesa do Consumidor, ao fundamento de ser a
demandante consumidora por equiparação, não foi apreciada, no
acórdão impugnado, não tendo servido de fundamento à conclusão adotada pelo Tribunal de origem,
incidindo o óbice da Súmula 211/STJ. Conquanto tenha o autor ventilado tal matéria, nos
Declaratórios opostos na origem, o acórdão recorrido registrou que "a alegação, todavia, não tem o
condão de alterar o julgado, haja vista que a matéria somente foi trazida aos autos nesta instância
revisora nas razões de apelação", deixando de examiná-la.
VI. Considerando a fundamentação do acórdão objeto do Recurso Especial, os argumentos
utilizados pela parte recorrente, a fim de afastar a excludente de responsabilidade reconhecida, à luz
das provas dos autos, pelas instâncias de origem, somente poderiam ter sua procedência verificada
mediante o necessário reexame de matéria fática, não cabendo a esta Corte, a fim de alcançar
conclusão diversa, reavaliar o conjunto probatório dos autos, em conformidade
com a Súmula 7/STJ. Precedentes do STJ.
VII. No tocante à hipótese de cabimento de Recurso Especial prevista na alínea c do inciso III do
art. 105 da Constituição Federal - quando o acórdão recorrido der, a dispositivo de lei federal,
interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro Tribunal -, tendo em vista que a parte ora
agravante apontou divergência jurisprudencial com acórdão paradigma do próprio Tribunal de
origem, incide, na espécie, o óbice da Súmula 13 do STJ ("A divergência entre julgados do mesmo
tribunal não enseja recurso especial").
VIII. Recurso

Tema 02:
Serviços Públicos II. Titularidade/competência. Execução Direta. Regiões metropolitanas,
aglomerações urbanas e microrregiões (Estatuto da Metrópole - Lei nº 13.089/2015).
Consórcios públicos (Lei nº 11.107/2005).

1ª QUESTÃO:
O Estado Beta fez editar a Lei Complementar ABC, que criou uma região metropolitana composta
da capital e mais quatro municípios limítrofes, quais sejam, W, X, Y e Z, para a integração e gestão
dos serviços de saneamento básico, com desenho institucional que garante a representatividade e
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 18
participação de cada um dos entes federativos na execução das respectivas atividades e repartição
de eventuais benesses.
Ocorre que o Município W não concorda em ter que compulsoriamente integrar a região
metropolitana em questão, tal como decorre da Lei Complementar, de modo que seus representantes
questionam a constitucionalidade da norma estabelecida, sob o fundamento de que viola a
autonomia municipal (art. 18 CRFB/88), bem como pelo fato de que eventual gestão associada
deveria se dar por consórcio público, tal como decorre do art. 241 da CRFB/88, na forma
regulamentada pela Lei nº 11.107/2005.
Analise a viabilidade de criação da região metropolitana para a gestão dos serviços públicos em
comento, mediante o enfrentamento dos argumentos apontados pelo Município W acerca de sua
inconstitucionalidade, à luz da orientação do C. STF.

RESPOSTA:
STF - INFORMATIVO 1055 - 27 DE MAIO DE 2022; DIREITO CONSTITUCIONAL -
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO; REGIÕES METROPOLITANAS, AGLOMERAÇÕES
URBANAS E MICRORREGIÕES - DIREITO AMBIENTAL - SANEAMENTO BÁSICO
Região metropolitana: saneamento básico, poder decisório e recursos obtidos com a empreitada
comum - ADI 6573/AL e ADPF 863/AL
Resumo: É inconstitucional norma que prevê a concentração excessiva do poder decisório nas
mãos de só um dos entes públicos integrantes de região metropolitana.
A integração metropolitana de municípios visando promover melhorias das condições de
saneamento básico é compatível com a CF/1988, e a simples existência fática de isolamento ou não
integração do sistema não obsta a sua formação nos moldes da legislação de regência.
A concorrência entre o princípio do interesse comum e a autonomia municipal não deve traduzir-se
em total centralização do poder decisório metropolitano, uma vez que prevalece a tese da
competência e da titularidade conjuntas, que enseja a existência de uma estrutura colegiada
assecuratória da participação dos municípios integrantes da região metropolitana (1).
Ainda que a gestão colegiada das regiões metropolitanas não esteja obrigada a respeitar a paridade
de votos entre seus integrantes, afronta o princípio da proibição da concentração decisória todo o
desenho institucional que agrupe poderes em apenas uma de suas pessoas políticas, conferindo-lhe
o exercício do predomínio absoluto nas instâncias deliberativas e/ou executivas.
Nesse mesmo contexto, é inadmissível que a gestão e a percepção dos frutos da empreitada
metropolitana comum, incluídos os valores referentes a eventual concessão à iniciativa
privada, aproveitem a apenas um dos entes federados.
A densificação da autonomia dos entes deve ser exercida com a lógica do compartilhamento,
assegurando-se a participação de todos na gestão dos recursos, mesmo que não siga uma proporção
estrita. Ainda que a Constituição e a jurisprudência não imponham um único modelo pré-fixado, é
vedado que apenas um ente absorva a integralidade das competências e das benesses.

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 19


Com base nesses entendimentos, o Plenário, em julgamento conjunto e por unanimidade, julgou
parcialmente procedente a ADI 6.573 e totalmente procedentes a ADI 6.911 e a ADPF 863,
modulando os efeitos da decisão para resguardar a continuidade do essencial serviço de saneamento
básico na região. Precedentes citados: ADI 1.842
<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=630026>; ADI 1.841
<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=266777>; e ADI
796<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=266541>.
Acerca do tema, vale destacar os excertos de julgados selecionados na Constituição anotada pelo C.
STF, disponível em: <https://portal.stf.jus.br/constituicao-
supremo/artigo.asp?abrirBase=CF&abrirArtigo=25&abrirTipoItem=INC&abrirItem>=
O interesse comum inclui funções públicas e serviços que atendam a mais de um Município, assim
como os que, restritos ao território de um deles, sejam de algum modo dependentes, concorrentes,
confluentes ou integrados de funções públicas, bem como serviços supramunicipais. (...) A função
pública do saneamento básico frequentemente extrapola o interesse local e passa a ter natureza de
interesse comum no caso de instituição de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
microrregiões, nos termos do art. 25, § 3º, da CF. Para o adequado atendimento do interesse
comum, a integração municipal do serviço de saneamento básico pode ocorrer tanto
voluntariamente, por meio de gestão associada, empregando convênios de cooperação ou
consórcios públicos, consoante o arts. 3º, II, e 24 da Lei federal 11.445/2007 e o art. 241 da CF,
como compulsoriamente, nos termos em que prevista na lei complementar estadual que
institui as aglomerações urbanas. A instituição de regiões metropolitanas, aglomerações
urbanas ou microrregiões pode vincular a participação de Municípios limítrofes, com o
objetivo de executar e planejar a função pública do saneamento básico, seja para atender
adequadamente às exigências de higiene e saúde pública, seja para dar viabilidade econômica
e técnica aos Municípios menos favorecidos. Repita-se que esse caráter compulsório da
integração metropolitana não esvazia a autonomia municipal. O estabelecimento de região
metropolitana não significa simples transferência de competências para o Estado. O interesse
comum é muito mais que a soma de cada interesse local envolvido, pois a má condução da função
de saneamento básico por apenas um Município pode colocar em risco todo o esforço do conjunto,
além das consequências para a saúde pública de toda a região. O parâmetro para aferição da
constitucionalidade reside no respeito à divisão de responsabilidades entre Municípios e Estado. É
necessário evitar que o poder decisório e o poder concedente se concentrem nas mãos de um único
ente parapreservação do autogoverno e da autoadministração dos Municípios. Reconhecimento do
poder concedente e da titularidade do serviço ao colegiado formado pelos Municípios e pelo Estado
federado. A participação dos entes nesse colegiado não necessita de ser paritária, desde que apta a
prevenir a concentração do poder decisório no âmbito de um único ente. A participação de cada
Município e do Estado deve ser estipulada em cada região metropolitana de acordo com suas
particularidades, sem que se permita que um ente tenha predomínio absoluto.
[ADI 1.842 , red. do ac. min. Gilmar Mendes, j. 6-3-2013, P, DJE de 16-9-2013.]
A instituição de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas
por agrupamentos de Municípios limítrofes, depende, apenas, de lei complementar estadual.
[ADI 1.841, rel. min. Carlos Velloso, j. 1º-8-2002, P, DJ de 20-9-2002.]
= ADI 1.842 , red. do ac. min. Gilmar Mendes, j. 6-3-2013, P, DJE de 16-9-2013
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 20
2ª QUESTÃO:
Os pequenos Municípios Alfa, Beta, Gama e Delta realizaram um consórcio público e, após os
devidos trâmites, constituíram uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, para a
prestação de serviços públicos, na forma do protocolo de intenções.
Com vistas a obter recursos para o desenvolvimento de suas atividades, o mencionado consórcio
conseguiu obter a aprovação da União para a celebração de convênio, o que resultará no repasse de
verbas, mediante os trâmites pertinentes.
Ocorre que a União alega que não pode promover o mencionado repasse, em razão da inadimplência
dos Municípios Alfa, Beta e Gama em convênios anteriores, na forma registrada no Cadastro Único
de Convênios - CAUC.
Analise se os argumentos suscitados pela União estão em consonância com a orientação dos
Tribunais Superiores acerca do tema.

RESPOSTA:
STF - ACO 1289 AgR / AC - ACRE; Rel. Min. TEORI ZAVASCKI; Tribunal Pleno; DJE
09/12/2015
Ementa: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. FINANCEIRO. AGRAVO REGIMENTAL
NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. INSCRIÇÃO DE ENTE FEDERATIVO NO CADASTRO
ÚNICO DE CONVÊNIO (CAUC). OFENSA AO PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA DAS
MEDIDAS RESTRITIVAS DE DIREITOS. OCORRÊNCIA. PENDÊNCIA ORIUNDA DO
TRIBUNAL DE CONTAS ESTADUAL. JURISPRUDÊNCIA. PRECEDENTES. ACO 1.612-
AGR, REL. MIN. CELSO DE MELLO, PLENO, DJE DE 13/2/2015. 1. O Plenário do Supremo
Tribunal Federal uniformizou o entendimento no sentido de que o Estado só pode sofrer restrições
nos cadastros de devedores da União por atos praticados pelo Executivo. Em consequência, atos do
Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas e dos entes da Administração Pública
indireta (como as autarquias e as empresas públicas) não podem gerar sanções da União contra o
Estado, diante da ausência de ingerência direta do Executivo sobre eles. (ACO 1.612-AgR, Rel.
Min. Celso de Mello, Pleno, DJe 13/2/2015). 2. Agravo regimental a que se nega provimento.

STF - ACO 1726; Relator(a): Min. EDSON FACHIN; Julgamento: 06/03/2020; Publicação:
10/03/2020
Decisão
CADASTRO ÚNICO DE CONVÊNIO (CAUC) E ALEGAÇÃO DE OFENSA AO PRINCÍPIO
DA INTRANSCENDÊNCIA DAS MEDIDAS RESTRITIVAS DE DIREITOS. - O postulado da
intranscendência impede que sanções e restrições de ordem jurídica superem a dimensão
estritamente pessoal do infrator. Em virtude desse princípio, o descumprimento de obrigações
contraídas por Municípios não pode atingir os Estados-membros, projetando, sobre estes,
conseqüências jurídicas desfavoráveis e gravosas, pois o inadimplemento obrigacional - por revelar-
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 21
se unicamente imputável aos entes municipais vinculados ao respectivo Estado - só a estes pode
afetar. (AC 2317MC-REF/MA REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO
CAUTELAR Relator(a):Min. CELSO DE MELLO, Julgamento: 29/04/2009, Órgão Julgador:
Tribunal Pleno, Publicação DJe 05.06.09). Como bem noticiado pelo autor e confirmado por meu
antecessor na apreciação da tutela de urgência desta Ação, o precedente assemelha-se à situação ora
analisada. Examinados os autos, verifico que o Estado de Minas Gerais poderia executar de forma
indireta os trabalhos necessários à consecução do Projeto de Implantação dos Consórcios
Intermunicipais de Saúde, conforme cláusula primeira do Convênio 194/95

Tema 03:
Intervenção do Estado no domínio econômico I. Estado Regulador, Estado Executor e Estado
Monopolista. Desestatização e Privatização. Descentralização legal (outorga) e negocial
(delegação). Regime jurídico da empresa prestadora de serviços públicos e da empresa que
explora atividades econômicas pelo Estado. Lei nº 13303/2016 (Aspectos Gerais)

1ª QUESTÃO:
Logo após ao advento da Constituição de 1988, foi criada a sociedade Alfa, sociedade de economia
mista com o escopo de desenvolver atividade econômica em sentido estrito, certo que a lei de
regência de tal entidade administrativa previa a possibilidade de criação de subsidiárias e não
contém exigência no sentido de que sua extinção dependa de lei específica.
Pouco tempo atrás, após o advento da Lei nº 13.303/2016, com vistas a implementar metas de
desinvestimento, a sociedade Alfa, utilizando-se da previsão autorizativa genérica de sua lei de
regência, criou uma subsidiária, a sociedade Beta, para o desempenho de parcela da sua atividade,
a fim de, posteriormente, vender o controle acionário na bolsa de valores, sem autorização legal
específica e sem licitação, nos termos do art. 29, XVIII, do aludido Diploma Legal.
No ano corrente, entendeu-se que a sociedade Alfa deveria passar a integrar o plano nacional de
desestatização, objetivando-se alienar o seu controle acionário, através de leilão, com base na
autorização genérica constante do art. 2º, da Lei nº 9.491/97, in verbis:

Art. 2º Poderão ser objeto de desestatização, nos termos desta Lei:


I - empresas, inclusive instituições financeiras, controladas direta ou indiretamente pela União,
instituídas por lei ou ato do Poder Executivo;

Diante dessa situação hipotética, responda, fundamentadamente, aos questionamentos a seguir, à luz
da orientação do E. STF.

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 22


A) O que se entende por desestatização? Quais são os requisitos para a venda do controle
acionário da sociedade Alfa? Este poderia ser realizado com base na Lei nº 9.491/99, tal como
pretendido, ou dependeria de lei específica para tanto?
B) É constitucional a alienação do controle acionário da sociedade Beta nos termos pretendidos?

RESPOSTA:
LETRA A)

Acerca da compreensão da desestatização, cumpre destacar as palavras de José dos Santos Carvalho
Filho, em Manual de Direito Administrativo, 33ed., São Paulo: Atlas, p. 368/369:

“ A Lei nº 9491/97, porém, passou a chamar de desestatização o que a lei anterior chamava de
privatização, de modo que o termo, além de se tornar compatível com o próprio nome do Programa,
indicou claramente que o objetivo pretendido era apenas o de afastar o Estado da posição de
executor de certas atividades e serviços. Ampliando um pouco mais o conceito da lei anterior,
dispôs a nova lei:
Art. 2º Poderão ser objeto de desestatização, nos termos desta Lei:
§ 1º Considera-se desestatização:
a) a alienação, pela União, de direitos que lhe assegurem, diretamente ou através de outras
controladas, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos
administradores da sociedade;
b) a transferência, para a iniciativa privada, da execução de serviços públicos explorados pela
União, diretamente ou através de entidades controladas, bem como daqueles de sua
responsabilidade.
c) a transferência ou outorga de direitos sobre bens móveis e imóveis da União, nos termos desta
Lei.
Esse é o sentido atual da desestatização: o Estado, depois de abraçar, por vários anos, a execução
de muitas atividades empresariais e serviços públicos, com os quais sempre teve gastos infindáveis
e pouca eficiência quanto aos resultados, resolveu imprimir nova estratégia governamental: seu
afastamento das atividades e serviços para sociedade e grupos empresarias.”

Quanto aos requisitos para alienação do controle acionário de sociedade de economia mista, vale
destacar o seguinte julgado do E. STF:

STF - ADI 5624 MC- Ref/ DF; Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI; Órgão Julgador:
Tribunal Pleno; DJE 29/11/2019
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 23
Ementa: MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CONCESSÃO PARCIAL MONOCRÁTICA. INTERPRETAÇÃO CONFORMEÀ
CONSTITUIÇÃO. ART. 29, CAPUT, DA LEI 13.303/2016. VENDA DE AÇÕES. ALIENAÇÃO
DO CONTROLE ACIONÁRIO DE EMPRESAS PÚBLICAS, SOCIEDADES DE ECONOMIA
MISTA OU DE SUAS SUBSIDIÁRIAS E CONTROLADAS. NECESSIDADE DE PRÉVIA
AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA E DE LICITAÇÃO. VOTO MÉDIO. MEDIDA CAUTELAR
PARCIALMENTE PELO PLENÁRIO. I - A alienação do controle acionário de empresas públicas
e sociedades de economia mista exige autorização legislativa e licitação pública. II - A transferência
do controle de subsidiárias e controladas não exige a anuência do Poder Legislativo e poderá ser
operacionalizada sem processo de licitação pública, desde que garantida a competitividade entre os
potenciais interessados e observados os princípios da administração pública constantes do art. 37 da
Constituição da República. III - Medida cautelar parcialmente referendada pelo Plenário do
Supremo Tribunal Federal.

Recentemente, o E. STF entendeu que tal autorização legislativa não precisa ser específica, sendo
cabível a alienação do controle acionário de sociedade de economia ter fundamento na autorização
genérica constante do Plano Nacional de Desestatização (Lei nº 9491/97), tal como se depreende do
julgado na ADI 6241, noticiado no informativo 1004, de fevereiro de 2021, cujo resumo e
conclusões estão citados a seguir:

RESUMO: É desnecessária, em regra, lei específica para inclusão de sociedade de economia mista
ou de empresa pública em programa de desestatização.

É desnecessária, em regra, lei específica para inclusão de sociedade de economia mista ou de


empresa pública em programa de desestatização. Para a desestatização é suficiente a autorização
genérica prevista em lei que veicule programa de desestatização. A autorização legislativa genérica
não corresponde a delegação discricionária e arbitrária ao Chefe do Poder Executivo. Essa
autorização é pautada em objetivos e princípios que devem ser observados nas diversas fases
deliberativas do processo de desestatização. A atuação do chefe do Poder Executivo vincula-se aos
limites e condicionantes legais previstos. A retirada do Poder Público do controle acionário de uma
empresa estatal, ou a extinção dessa empresa pelo fim da sua personalidade jurídica, é consequência
de política pública autorizada pelo Congresso Nacional, em previsão legal pela qual se cria o
Programa de Desestatização, objetivando a redução da presença do Estado na economia e fixando-
se, objetivamente, os parâmetros a serem seguidos para a efetivação de eventual desestatização pelo
Poder Executivo. Exceção: com relação às empresas estatais cuja lei instituidora tenha previsto,
expressamente, a necessidade de lei específica para sua extinção ou privatização, é necessário que
o administrador público observe a norma legal. STF. Plenário. ADI 6241/DF, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 6/2/2021 (Info 1004).

LETRA B)

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 24


A situação das subsidiárias tem peculiaridades, consoante se depreende noticiado no Informativo de
STF nº 943, a seguir:

STF- INFORMATIVO 943 - junho 2019 - PLENÁRIO


DIREITO ADMINISTRATIVO - EMPRESA PÚBLICA E SOCIEDADE DE ECONOMIA
MISTA- Venda de empresa estatal e autorização legislativa - 2 -
Em conclusão de julgamento, o Plenário, em voto médio, referendou parcialmente medida cautelar
anteriormente concedida em ação direta de inconstitucionalidade, para conferir ao art. 29, caput,
XVIII, da Lei 13.303/2016 (1) interpretação conforme à Constituição Federal (CF), nos seguintes
termos: i) a alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de economia mista
exige autorização legislativa e licitação; e ii) a exigência de autorização legislativa, todavia, não se
aplica à alienação do controle de suas subsidiárias e controladas. Nesse caso, a operação pode ser
realizada sem a necessidade de licitação, desde que siga procedimentos que observem os princípios
da administração pública inscritos no art. 37 da CF (2), respeitada, sempre, a exigência de necessária
competitividade (Informativo 942). O voto médio reproduziu o entendimento majoritário extraído
dos pronunciamentos dos ministros em juízo de delibação.

2ª QUESTÃO:
O Estado X fez editar uma Emenda à Constituição estadual que determina que os serviços de
saneamento básico e abastecimento de água, por se tratarem de serviços essenciais, deverão ser
prestados por pessoa jurídica de direito público ou por sociedade de economia mista sob o controle
acionário e administrativo do Estado ou de Município.
Já o Estado Y, que não possui tal norma constitucional específica, fez editar uma lei que criou a
Agência Reguladora - ABC, conferindo a tal entidade competência regulatória sobre o serviço de
saneamento básico, no sentido de prevenir e arbitrar, conforme a lei e os contratos, os conflitos de
interesses entre concessionários e usuários ou entre aqueles e o Poder Concedente, bem como de
definir os valores das tarifas, observados os termos e a juridicidade do contrato subjacente.
Analise, fundamentadamente, a constitucionalidade das normas editadas por cada um dos
mencionados entes federativos, à luz da orientação do E. STF.

RESPOSTA:
LETRA A) Inconstitucionalidade da Emenda Constitucional do Estado X:

ADI 4454; Órgão julgador: Tribunal Pleno; Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA; Julgamento:
05/08/2020; Dje Publicação: 25/08/2020
Ementa

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 25


EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. § 3º DO ART. 210-A DA
CONSTITUIÇÃO DO PARANÁ, ACRESCENTADO PELA EMENDA CONSTITUCIONAL N.
24/2008. EXIGÊNCIA DE SEREM PRESTADOS OS SERVIÇOS LOCAIS DE SANEAMENTO
E ABASTECIMENTO DE ÁGUA POR PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO OU
SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA SOB CONTROLE ACIONÁRIO E ADMINISTRATIVO
DO ESTADO OU DO MUNICÍPIO. INVASÃO DA COMPETÊNCIA DO MUNICÍPIO PARA
LEGISLAR SOBRE ASSUNTOS DE INTERESSE LOCAL: SANEAMENTO BÁSICO. INCS. I
E V DO ART. 30 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AÇÃO DIRETA JULGADA
PROCEDENTE.

ADI 2077 / BA; Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES; Julgamento: 30/08/2019


Publicação: 16/09/2019; Órgão julgador: Tribunal Pleno; Dje 16-09-2019
Ementa: CONSTITUCIONAL. FEDERALISMO E RESPEITO ÀS REGRAS DE
DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA. NORMAS DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA
BAHIA, COM REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL 7/1999.
COMPETÊNCIAS RELATIVAS A SERVIÇOS PÚBLICOS. OCORRÊNCIA DE USURPAÇÃO
DE COMPETÊNCIAS MUNICIPAIS (ART. 30, I E V). PARCIAL PROCEDÊNCIA. 1. As regras
de distribuição de competências legislativas são alicerces do federalismo e consagram a fórmula de
divisão de centros de poder em um Estado de Direito. Princípio da predominância do interesse. 2.
A Constituição Federal de 1988, presumindo de forma absoluta para algumas matérias a presença
do princípio da predominância do interesse, estabeleceu, a priori, diversas competências para cada
um dos entes federativos - União, Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios - e, a partir
dessas opções, pode ora acentuar maior centralização de poder, principalmente na própria União
(CF, art. 22), ora permitir uma maior descentralização nos Estados-Membros e nos Municípios (CF,
arts. 24 e 30, inciso I). 3. O art. 59, V, da legislação impugnada, ao restringir o conceito de "interesse
local", interferiu na essência da autonomia dos entes municipais, retirando-lhes a expectativa de
estruturar qualquer serviço público que tenha origem ou que seja concluído fora do limite de seu
território, ou ainda que demande a utilização de recursos naturais pertencentes a outros entes. 4. O
artigo 228, caput e § 1º, da Constituição Estadual também incorre em usurpação da competência
municipal, na medida em que desloca, para o Estado, a titularidade do poder concedente para
prestação de serviço público de saneamento básico, cujo interesse é predominantemente local. (ADI
1.842, Rel. Min. LUIZ FUX, Rel. P/ acórdão Min. GILMAR MENDES, DJe de 13/9/2013). 5. As
normas previstas nos artigos 230 e 238, VI, não apresentam vícios de inconstitucionalidade. A
primeira apenas possibilita a cobrança em decorrência do serviço prestado, sem macular regras
constitucionais atinentes ao regime jurídico administrativo. A segunda limita-se a impor obrigação
ao sistema Único de Saúde de participar da formulação de política e daexecução das ações de
saneamento básico, o que já é previsto no art. 200, IV, da Constituição Federal. 6. Medida Cautelar
confirmada e Ação Direta julgada parcialmente procedente.

LETRA B) Constitucionalidade da norma do Estado Y

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 26


ADI 2095 / RS; Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA; Julgamento: 11/10/2019; Publicação:
26/11/2019; Órgão julgador: Tribunal Pleno; Dje 26-11-2019
Ementa
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CRIAÇÃO DA AGÊNCIA
ESTADUAL DE REGULAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DO RIO GRANDE DO SUL -
AGERGS. AUSÊNCIA DE AFRONTA À AUTONOMIA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO
OU DE USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DA UNIÃO. LEGITIMIDADE PARA ATUAR NA
ÁREA DE SANEAMENTO BÁSICO. COMPETÊNCIA COMUM ENTRE UNIÃO, ESTADOS E
MUNICÍPIOS. COMPETÊNCIA REGULADORA DE NATUREZA TÉCNICO-
ADMINISTRATIVA. PRECEDENTES. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
JULGADA IMPROCEDENTE. 1. A atuação da Agência Estadual de Regulação dos Serviços
Públicos do Rio Grande do Sul - AGERGS não se opõe à autonomia do Chefe do Poder Executivo
(inc. II do art. 84 da Constituição da República). Não lhe incumbe atuar na conformação de políticas
de governo, mas prevenir e arbitrar, conforme a lei e os contratos, os conflitos de interesses entre
concessionários e usuários ou entre aqueles e o Poder concedente. 2. É da essência da regulação
setorial a autonomia das agências para a definição dos valores de tarifas, observados os termos e a
juridicidade do contrato subjacente. Precedentes. 3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
improcedente.

Tema 04:
Intervenção do Estado no domínio econômico II. Agência Reguladora. Fonte normativa.
Natureza jurídica. Função. Regime jurídico dos servidores. Poder normativo. Lei nº
13.848/2019.

1ª QUESTÃO:
No regular exercício da fiscalização inerente ao poder de polícia outorgado pela Lei de Regência, a
Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL - constatou a prática de ilícitos por parte das
sociedades Alfa e Beta, que atuam no respectivo setor regulado.
Quanto à sociedade Alfa, foi verificada a violação de norma constante de uma de suas Resoluções
acerca da prestação de serviços, a ensejar a aplicação de multa. Já com relação à sociedade Beta,
observou-se o cometimento de crime e a necessidade de busca e apreensão dos bens utilizados para
tal finalidade, no âmbito de sua competência, que seria pertinente no caso.
Acerca das referidas situações, vale transcrever o disposto no art. 19, IV, X e XV, da Lei nº 9.472/97:

Art. 19. À Agência compete adotar as medidas necessárias para o atendimento do interesse público
e para o desenvolvimento das telecomunicações brasileiras, atuando com independência,
imparcialidade, legalidade, impessoalidade e publicidade, e especialmente:
IV - expedir normas quanto à outorga, prestação e fruição dos serviços de telecomunicações no
regime público;
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 27
X - expedir normas sobre prestação de serviços de telecomunicações no regime privado;
XV - realizar busca e apreensão de bens no âmbito de sua competência;

Considerando os dispositivos acima transcritos, responda, fundamentadamente aos questionamentos


a seguir, à luz da orientação do C. STF.
A) O poder normativo conferido à Agência Reguladora, que ensejaria a aplicação da penalidade
à sociedade Alfa, viola o princípio da legalidade?
B) A ANATEL poderia promover a busca e apreensão dos bens em questão da sociedade Beta,
sem decisão judicial?

RESPOSTA:
LADI 1668 / DF - DISTRITO FEDERAL; Relator(a): Min. EDSON FACHIN
Julgamento: 01/03/2021; Publicação: 23/03/2021; Órgão julgador: Tribunal Pleno
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-055 DIVULG 22-03-2021 PUBLIC 23-03-2021
Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI GERAL DE
TELECOMUNICAÇÕES. LEI 9.472/1997. CRIAÇÃO DE ÓRGÃO REGULADOR.
INDEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA. SUPERVISÃO MINISTERIAL. NÃO
CONHECIMENTO. COMPETÊNCIAS ANATEL. DELEGAÇÃO LEGISLATIVA AO PODER
EXECUTIVO NÃO VERIFICADA. PODER NORMATIVO DAS AGÊNCIAS
REGULATÓRIAS. SUBMISSÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. COMPETÊNCIA
PARA REALIZAÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO PELO ÓRGÃO REGULADOR.
IMPOSSIBILIDADE. LICITAÇÃO. OBEDIÊNCIA À COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA
UNIÃO. ESTABELECIMENTO DE PREGÃO E CONSULTA COMO MODALIDADE
LICITATÓRIA. POSSIBILIDADE. OUTORGA DE SERVIÇOS MEDIANTE CONCESSÃO,
PERMISSÃO OU AUTORIZAÇÃO. GLOSA AO PROCEDIMENTO SIMPLIFICADO
PREVISTO PARA A PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO. POSSIBILIDADE DE REGRAS
ESPECÍFICAS PREVISTAS EM LEI PARA O SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES. REGIME
JURÍDICO DOS SERVIÇOS. CONCOMITÂNCIA ENTRE REGIMES PÚBLICO E PRIVADO.
AUSÊNCIA DE VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL. PREVISÃO DE PRESTAÇÃO DO SERVIÇO
POR MEIO DE AUTORIZAÇÃO. AÇÃO DIRETA CONHECIDA EM PARTE E, NA PARTE
CONHECIDA, JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. 1. Por ocasião da apreciação do
pedido de medida cautelar, por votação unânime, o Plenário não conheceu da ação direta, quanto
aos arts. 8º e 9º, da Lei nº 9.472/1997. 2. A competência atribuída ao Chefe do Poder Executivo,
para expedir decreto em ordem a instituir ou eliminar a prestação do serviço em regime público, em
concomitância ou não com a prestação no regime privado, aprovar o plano geral de outorgas do
serviço em regime público e aprovar o plano de metas de universalização do serviço prestado em
regime público está em consonância com o poder regulamentar previsto no art. 84, IV, parte final,
da Constituição Federal. 3. O poder de expedir normas quanto à outorga, prestação e fruição
dos serviços de telecomunicações no regime público e no regime privado é imanente à
atividade regulatória da agência, a quem compete, no âmbito de sua atuação e nos limites do
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 28
arcabouço normativo sobre o tema, disciplinar aprestação dos serviços. Interpretação
conforme à Constituição para fixar o entendimento de que a competência da Agência Nacional
de Telecomunicações para expedir tais normas subordina-se aos preceitos legais e
regulamentares que regem matéria.4. A busca e posterior apreensão, efetuada sem ordem
judicial, com base apenas no poder de polícia de que é investida a agência, mostra-se
inconstitucional diante da violação ao disposto no princípio da inviolabilidade de domicílio, à
luz do art. 5º, XI, da Constituição Federal. 5. A competência atribuída ao Conselho Diretor da
ANATEL para editar normas próprias de licitação e contratação deve observar o arcabouço
normativo atinente às licitações e contratos. Interpretação conforme à Constituição, no ponto, em
observância ao princípio da legalidade. 6. Diante da especificidade dos serviços de
telecomunicações, é válida a criação de novas modalidades licitatórias por lei de mesma hierarquia
da lei geral de licitações. Contudo, sua disciplina deve ser feita por meio de lei, e não de atos
infralegais, em obediência aos artigos 21, XI, e 22, XXVII do texto constitucional. 7. A possibilidade
de concomitância de regimes público e privado de prestação do serviço, assim como a definição das
modalidades do serviço são questões estritamente técnicas, da alçada da agência, a quem cabe o
estabelecimento das bases normativas de cada matéria relacionada à execução, à definição e ao
estabelecimento das regras peculiares a cada serviço. Assim, a atribuição à agência da competência
para definir os serviços não desborda dos limites de seu poder regulatório. 8. Não viola a
competência legislativa da União lei federal que disciplina licitações no âmbito de Agência
reguladora. Ademais, o legislador atende ao comando do art. 21, XI, da Constituição Federal, ao
editar normas específicas atinentes à organização do serviço de telecomunicações. 9. Ação direta
conhecida em parte, e, na parte conhecida, julgada parcialmente procedente.
STF INFORMATIVO 1007/2021 - 5 de março de 2021
DIREITO ADMINISTRATIVO - AGÊNCIAS REGULADORAS
Serviços de telecomunicações:criação da ANATEL e competências do órgão regulador - ADI
1668/DF

Resumo: A competência atribuída ao chefe do Poder Executivo para expedir decreto em ordem a
instituir ou eliminar a prestação do serviço em regime público, em concomitância ou não com a
prestação no regime privado, aprovar o plano geral de outorgas do serviço em regime público e o
plano de metas de universalização do serviço prestado em regime público está em perfeita
consonância com o poder regulamentar previsto no art. 84, IV, parte final, e VI, da Constituição
Federal (CF). O art. 18, I, II e III da Lei 9.472/1997 (1) é compatível com os arts. 21, XI, e 48, XII,
da Constituição Federal (CF) (2).
De fato, as medidas previstas no art. 18 são atinentes à execução da política de telecomunicações
definidas no corpo da Lei 9.472/1997 e estão condicionadas por várias normas desse diploma.
O caput do art. 18 da Lei 9.472/1997 observa, portanto, esses dispositivos constitucionais, que
atribuem ao Presidente da República a competência para expedir decretos e regulamentos destinados
à fiel execução de lei, e a ele outorgam o poder de dispor, mediante decreto, sobre a organização e
funcionamento da administração federal.

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 29


É ínsito ao poder regulamentar atuar secundum legem e intra legem. Assim, atendidos os limites
da legislação que rege a matéria, a Lei 9.472/1997, ao tempo em que confere tal poder ao Presidente
da República, também fixa parâmetros para o seu exercício.
A competência da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) para expedir normas
subordina-se aos preceitos legais e regulamentares que regem a outorga, prestação e fruição
dos serviços de telecomunicações no regime público e no regime privado. O art. 19, IV e X, da
Lei 9.472/1997 (3), desse modo, é constitucional.
Na esteira da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) (4), cabe às agências
reguladoras, como a ANATEL, desempenhar a tarefa ordenadora e fiscalizatórias dos setores
a elas submetidos. E, para a adequada execução dessa função, exsurge o poder de
expedirnormas como imanente à atividade regulatória das agências, a quem compete, no
âmbito de sua atuação e nos limites do arcabouço normativo sobre o tema, disciplinar a
prestação dos serviços.
Não se trata, portanto, de delegação de poderes legislativos, pois a expedição de normas
regulatórias é sempre exercida com fundamento na lei, que também lhe serve de limite, mas
que não esgota as possibilidades de mediação dos interesses diversos colocados para
composição pelos órgãos reguladores.
A busca e posterior apreensão efetuada sem ordem judicial, com base apenas no poder de
polícia de que é investida a ANATEL, mostra-se inconstitucional diante da violação ao
disposto no princípio da inviolabilidade de domicílio, à luz do art. 5º, XI, da Constituição
Federal (5). Logo, o art. 19, XV, da Lei 9.472/1997 (6) é inconstitucional.
A possibilidade de promoção de interdição de estabelecimentos, instalações ou equipamentos,
e apreensão de bens ou produtos, nos termos do art. 3º, parágrafo único, da Lei 10.871/2004
(que dispõe sobre a criação de carreiras e organização de cargos efetivos das autarquias
especiais, denominadas agências reguladoras),constitui exercício do poder de polícia da
Administração Pública, dotado de autoexecutoriedade, inerente ao exercício dessa função (7).
Ocorre que o art. 19, XV, da Lei 9.472/1997, que estabelece a busca e apreensão de bens, tem
uma dimensão distinta. Frise-se que, segundo orientação do STF, o conceito de domicílio não
está limitado à residência domiciliar, mas abarca também qualquer compartimento privado
onde alguém exerce profissão ou atividade (8).
A competência atribuída ao Conselho Diretor da ANATEL para editar normas próprias de licitação
e contratação (Lei 9.472/1997, art. 22, II) (9) deve observar o arcabouço normativo atinente às
licitações e aos contratos, em respeito ao princípio da legalidade.
Com efeito, as agências reguladoras não possuem a prerrogativa de legislar em matéria de licitação.
Primeiro, porque isso viola a competência legislativa privativa da União (CF, art. 22, XXVII).
Segundo, porque inovar no ordenamento jurídico não se encontra dentre os atributos que a função
regulatória desses órgãos detêm, uma vez que eles colmatam lacunas propositais de natureza técnica
na legislação, mas não podem estabelecer, de forma originária e primária, deveres e obrigações aos
particulares, menos ainda exercer atividade criativa no que concerne a modalidades licitatórias e
contratuais.

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 30


Diante da especificidade dos serviços de telecomunicações, é válida a criação de novas modalidades
licitatórias por lei de mesma hierarquia da Lei Geral de Licitações (Lei 8.666/1993). Portanto, sua
disciplina deve ser feita por meio de lei, e não de atos infralegais, em obediência aos artigos 21, XI,
e 22, XXVII, do texto constitucional. Em razão disso, é inconstitucional a expressão “serão
disciplinados pela Agência” contida no art. 55 da Lei 9.472/1997 (10).
A inserção, no ordenamento jurídico, de novas modalidades licitatórias, por lei que tem o mesmo
status que a Lei Geral de Licitações não viola a Carta Magna. Todavia, para que seja respeitado o
princípio da reserva legal e, ainda, tendo em vista que a consulta é instituto que não está restrito à
ANATEL, mas cuja aplicação foi estendida, por meio do art. 37 da Lei 9.986/2000, a todas as
agências reguladoras, a disciplina deve dar-se mediante lei.
A contratação, a que se refere o art. 59 da Lei 9.472/1997 (11), de técnicos ou empresas
especializadas, inclusive consultoresindependentes e auditores externos, para executar atividades de
competência da ANATEL, deve observar o regular procedimento licitatório previsto pelas leis de
regência.
Efetivamente, a contratação sem o procedimento licitatório previsto pelas leis de regência fere o art.
22, XXVII, da CF.
A possibilidade de concomitância de regimes público e privado de prestação do serviço, assim como
a definição das modalidades do serviço são questões estritamente técnicas, da alçada da agência, a
quem cabe o estabelecimento das bases normativas de cada matéria relacionada à execução, à
definição e ao estabelecimento das regras peculiares a cada serviço.
Diante da existência de parâmetros definidores na legislação, e da permissão constitucional para a
prestação do serviço de telecomunicações pelo regime privado, por meio de autorização, não se
vislumbra inconstitucionalidade nos artigos 65, III, §§ 1º e 2º, 66 e 69 da Lei 9.472/1997 (12).
A atribuição à agência da competência para definir os serviços não desborda dos limites de seu poder
regulatório.
A previsão constitucional do art. 21, XI, permite a exploração “diretamente ou mediante autorização,
concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei ”.
Portanto, a despeito da previsão mais genérica do art. 175 da CF (13), no caso dos serviços de
telecomunicações, é o texto constitucional que permite a exploração por meio de autorização, o que
significa conferir à Administração a faculdade de instituir um regime privado, submetido à livre
concorrência, ainda que derrogado parcialmente pela regulação estabelecida pela ANATEL (14).
A ANATEL não pode disciplinar procedimento licitatório simplificado por meio de norma de
hierarquia inferior à Lei Geral de Licitações, sob pena de ofensa ao princípio da reserva legal. Por
isso, são inconstitucionais as expressões “simplificado” e “nos termos por ela regulados” do art.
119, da Lei 9.472/1997 (15).
As normas licitatórias são cogentes, não viabilizando atuação livre deste ou daquele administrador,
por maior que lhe seja a envergadura.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente pedido
formulado em ação direta ajuizada contra dispositivos da Lei 9.472/1997, que dispõe sobre a
organização dos serviços de telecomunicações, a criação e o funcionamento de um órgão regulador
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 31
e outros aspectos institucionais, nos termos da Emenda Constitucional 8/1995. Vencido o ministro
Roberto Barroso. ADI 1668/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em
27.2.2021

2ª QUESTÃO:
Sociedade Servitios é uma concessionária de transporte interestadual e, diante de cometimento de
infração ao respectivo contrato de delegação, foi multada pela Agência Nacional de Transportes
Terrestres - ANTT, após procedimento simplificado, cujo trâmite está estabelecido em Resolução
da Agência, editada com respaldo em sua competência normativa, delineada na Lei nº 10.233/2001.
Inconformada, Servitios ajuizou ação anulatória da mencionada penalidade, sob o fundamento de
que o procedimento simplificado em questão não prevê a oportunidade de a interessada apresentar
alegações finais, direito consagrado no art. 2º, parágrafo único, X, c/c art. 38, da Lei nº 9.784/99,
que não lhe foi assegurado pela Agência, a violar, portanto, o princípio da legalidade, bem como o
da ampla defesa e do contraditório.
Analise se os argumentos da demandante merecem acolhida, mediante o enfrentamento da validade
do poder normativo das agências reguladoras, à luz da orientação do C. STJ.

RESPOSTA:
STJ - AgInt no AgInt no REsp 1879659 / PR; Relator(a): Ministra ASSUSETE MAGALHÃES;
Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA; Data do Julgamento: 09/08/2021; Data da Publicação/Fonte:
DJe 16/08/2021
Ementa
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AGÊNCIA
NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES - ANTT. PROCESSO ADMINISTRATIVO
SIMPLIFICADO. RESOLUÇÃO ANTT 442/2004. NÃO OPORTUNIZAÇÃO DE
APRESENTAÇÃO DE ALEGAÇÕES FINAIS. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. APLICAÇÃO
DA LEI 9.784/99 APENAS SUBSIDIARIAMENTE AOS PROCESSOS REGULADOS POR
NORMA ESPECÍFICA. NULIDADE DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO AFASTADA.
AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.
I. Agravo interno aviado contra decisão que julgara Recurso Especial interposto contra acórdão
publicado na vigência do CPC/2015. II. Trata-se, na origem, de ação anulatória, proposta por Rumo
Malha Sul S/A. em face da Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT, objetivando a
declaração de nulidade dos atos administrativos praticados no curso do processo administrativo
50520.006003-06 que decorreu do Auto de Infração lavrado pela Agência reguladora, em face de
alegado descumprimento de cláusula de contrato de concessão, bem como da multa aplicada no
aludido processo administrativo. O Tribunal de origem manteve a sentença que julgou parcialmente
procedente a ação, para reconhecer a nulidade do referido processo administrativo, a partir do
momento em que deveria ter sido oportunizada à concessionária a apresentação de alegações finais.

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 32


III. O STJ, ao apreciar o REsp 1.046.376/DF, julgado sob o rito dos recursos repetitivos, consolidou
o entendimento de que "a Lei 9.784/99, que regula o processo administrativo da Administração
Pública Federal prevê em seu art. 69, que suas normas somente se aplicam subsidiariamente, nos
procedimentos regulados por lei específica, obedecida a lex specialis derrogat lex generalis" (STJ,
REsp 1.046.376/DF, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de 23/03/2009).
IV. Na esteira desse entendimento, a Primeira e a Segunda Turmas desta Corte firmaram a
orientação no sentido de que o processo administrativo simplificado, previsto na Resolução ANTT
442/2004, possui respaldo na Lei 8.987/95 e na Lei 10.233/2001, de forma a afastar a aplicação da
Lei 9.784/99, por força de seu art. 69, inexistindo, assim, cerceamento de defesa, em razão da não
oportunização de oferecimento de alegações finais, no âmbito do processo administrativo
simplificado. Nesse sentido: STJ, Resp 1.723.086/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES,
SEGUNDA TURMA, DJe de 18/09/2018). Em igual sentido: STJ, AgInt nos EDcl no AgInt no
AREsp 1.152.519/PR, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de
19/12/2019; AgInt no REsp 1.779.362/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, DJe de 12/09/2019; AgInt no Resp 1.581.109/PR, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA,
PRIMEIRA TURMA, DJe de 26/10/2017.
V. No caso, o Tribunal de origem, em dissonância com a jurisprudência desta Corte, concluiu que
"a falta de intimação da concessionária para apresentar suas alegações finais, mesmo em se tratando
de processo administrativo simplificado, macula, no entender do E. TRF4, referida garantia legal.
Se é certo que, diferentemente do que prevê o art. 51 da Resolução ANTT 442/2004 para o processo
administrativo ordinário, há previsão naquele diploma normativo de que no processo administrativo
simplificado não será observado o direito às alegações finais(art. 64 e seguintes), por outro lado é
certo também que, nos termos do art. 2º, parágrafo único, IV, da Lei 9.784/99, deverá ser observada,
no âmbito dos processos administrativos, a atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e
boa-fé". Assim, merece ser mantida a decisão
agravada, que deu provimento ao Recurso Especial da ANTT, para determinar a devolução dos autos
ao Tribunal de origem a fim de que prossiga no julgamento do feito.
VI. Agravo interno improvido.

STJ - AgInt no REsp 1875014 / PR; Relator(a): Ministra REGINA HELENA COSTA; Órgão
Julgador: PRIMEIRA TURMA; Data do Julgamento: 14/06/2021: Data da Publicação/Fonte
DJe 16/06/2021
Ementa
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. DIREITO ADMINISTRATIVO.
APLICAÇÃO DE MULTA ADMINISTRATIVA. INFRAÇÃO À RESOLUÇÃO. EXERCÍCIO
DO PODER NORMATIVO CONFERIDO ÀS AGÊNCIAS REGULADORAS. CONTROLE DE
LEGALIDADE. ANTT. PROCESSO ADMINISTRATIVO SIMPLIFICADO. ALEGAÇÕES
FINAIS. PREVISÃO. AUSÊNCIA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 33


ATACADA. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
DE 2015. DESCABIMENTO.
I. Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime
recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. In casu,
aplica-se o Código de Processo Civil de 2015.
II. Não há que falar em impossibilidade de apreciação de atos infralegais, tais como resoluções,
porquanto a decisão monocrática impugnada analisa apenas se não há ilegalidade no procedimento
que resultou na aplicação da multa pela ANTT, que agiu no exercício do
seu poder regulamentar, amparado na Lei 10.233/2001.
III. No caso, verifico que o acórdão recorrido está em confronto com orientação desta Corte segundo
a qual a falta de previsão na Resolução ANTT n. 442/2004 para oferecimento de alegações finais
não acarreta omissão normativa, mas simplificação do processo administrativo, razão pela qual não
há cerceamento de defesa em sua não oportunização, não sendo o caso de aplicação da Lei n.
9.784/1999.
IV. A Agravante não apresenta, no agravo, argumentos suficientes para desconstituir a decisão
recorrida.
V. Em regra, descabe a imposição da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de Processo Civil
de 2015 em razão do mero desprovimento do Agravo Interno em votação unânime, sendo necessária
a configuração da manifesta inadmissibilidade ou improcedência do recurso a autorizar sua
aplicação, o que não ocorreu no caso.
VI. Agravo Interno improvido.

STJ - AgInt no REsp 1884482 / PR; Relator(a): Ministro GURGEL DE FARIA; Órgão Julgador:
PRIMEIRA TURMA; Data do Julgamento: 08/02/2021; Data da Publicação/Fonte: DJe 17/02/2021
Ementa
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRARTIVO. ANTT. PROCESSO ADMINISTRATIVO
SIMPLIFICADO. ALEGAÇÕES FINAIS. PREVISÃO. AUSÊNCIA. NULIDADE.
INOCORRÊNCIA.
1. Conforme estabelecido pelo Plenário do STJ, "aos recursos interpostos com fundamento no
CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidosos
requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC" (Enunciado Administrativo n. 3).
2. A Lei n. 9.784/1999 se aplica de forma subsidiária aos processos administrativos em geral, na
hipótese de haver lacuna normativa.
3. A falta de previsão na Resolução ANTT n. 442/2004 para oferecimento de alegações finais não
acarreta omissão normativa, mas simplificação do processo administrativo, razão pela qual não há
cerceamento de defesa em sua não oportunização.

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 34


4. Eventual reconhecimento de nulidade do processo administrativo por ausência de alegações finais
exige a demonstração de prejuízo, por força do princípio pas de nullite sans grief.
5. Agravo interno desprovido

Relevante mencionar, ainda, o seguinte julgado:

STJ - AgInt no REsp 1875065 / PR; RELATOR:Ministro OG FERNANDES; ÓRGÃO


JULGADOR
T2 - SEGUNDA TURMA; DATA DO JULGAMENTO; 07/12/2021; DATA DA
PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 01/02/2022
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO
ESPECIAL. APLICAÇÃO DE MULTA ADMINISTRATIVA. EXERCÍCIO DO PODER
NORMATIVO CONFERIDO ÀS AGÊNCIAS REGULADORAS. CONTROLE DE
LEGALIDADE.
ANTT. PROCESSO ADMINISTRATIVO SIMPLIFICADO. ALEGAÇÕES FINAIS. PREVISÃO.
AUSÊNCIA. NULIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. Não há que falar em impossibilidade de apreciação de atos infralegais, tais como resoluções,
porquanto a decisão monocrática impugnada analisa apenas se não há ilegalidade no procedimento
que resultou na aplicação da multa pela ANTT, que agiu no exercício do seu poder regulamentar,
amparado na Lei n. 10.233/2001.
2. A jurisprudência desta Corte firmou entendimento segundo o qual a falta de previsão na
Resolução ANTT n. 442/2004 para oferecimento de alegações finais não acarreta omissão
normativa, mas simplificação do processo administrativo, razão pela qual não há cerceamento de
defesa em sua não oportunização.
3. Agravo interno a que se nega provimento.

Tema 05:
Concessão de Serviços Públicos. Fontes normativas constitucional e infraconstitucional.
Modalidades de concessão. Natureza jurídica. Política tarifária, fiscalização e encargos do
concedente. Responsabilidade e encargos do concessionário. Prazo da concessão, extinção e
reversão.

1ª QUESTÃO:

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 35


Vermelhusca S/A, concessionária do serviço de saneamento básico, ajuizou ação com vistas a
impugnar cobrança realizada por Rodoexpresso S/A, concessionária de determinada rodovia federal,
em razão da utilização da faixa de domínio da mencionada rodovia, para fins de instalação de dutos
necessários para a prestação do serviço levado a efeito pela autora.
A demandante assevera que a atividade objeto de cobrança corresponde ao cerne do serviço
concedido e que a faixa de domínio é bem público de uso comum do povo, de modo que não pode
haver a cobrança pela utilização de tal bem para a prestação de serviço público em prol da
coletividade.
A demandada, por sua vez, sustenta que a cobrança é legal e legítima, pois corresponde à
remuneração pela utilização da faixa de domínio, expressamente prevista como receita alternativa
da concessionária, nos termos previstos no edital de licitação e respectivo contrato de concessão,
que não pode ser confundida com eventual cobrança efetuada diretamente pelo Poder concedente.
Analise se a pretensão da demandante merece acolhida, descompatibilizando as controvérsias, à luz
da orientação dos Tribunais Superiores.

RESPOSTA:
AgInt no REsp 1892769 / PR; Relator(a): Ministro GURGEL DE FARIA; Órgão Julgador:
T1 - PRIMEIRA TURMA; Data do Julgamento: 23/02/2021; Data da Publicação/Fonte
DJe 09/03/2021
Ementa
ADMINISTRATIVO. CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO. UTILIZAÇÃO DE FAIXA DE
DOMÍNIO. INSTALAÇÃO DE OBRAS DE SANEAMENTO POR OUTRA
CONCESSIONÁRIA. COBRANÇA PELO USO. PREVISÃO CONTRATUAL.
POSSIBILIDADE.
1. Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir
de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma nele
prevista (Enunciado Administrativo n. 3).
2. Esta Corte de Justiça firmou entendimento de que não é possível a cobrança pelos entes da
Federação em face de concessionária de serviço público pelo uso de solo, subsolo ou espaço aéreo,
admitindo-se, porém, nos termos do art. 11 da Lei n. 8.987/95, que a concessionária responsável
pela administração da área cobre pelo uso de faixa de domínio por terceiros, inclusive quando seja
concessionária de serviço público, para passagem de cabos ou dutos,
não havendo ressalvas sobre o tipo de serviço prestado.
3. Hipótese em que o Tribunal de origem manteve a sentença, afastando a possibilidade de cobrança
de valor a ser pago pela ocupação da faixa de domínio com as obras de saneamento, porque as vias
públicas são bens de uso comum do povo, sendo inadmissível a exigência de remuneração para
instalação de obras de serviço público, o que ensejou o provimento do apelo nobre .
4. Agravo interno desprovido.
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 36
RE 1272322 AgR; Órgão julgador: Segunda Turma; Relator(a): Min. EDSON FACHIN
Julgamento: 17/02/2021; Publicação: 26/02/2021
Ementa
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INTERPOSIÇÃO EM
21.08.2020. DIREITO ADMINISTRATIVO. OBRIGAÇÃO DE FAZER. AUTORIZAÇÃO PARA
INSTALAÇÃO DE POSTES DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. COBRANÇA.
USO DA FAIXA DE DOMÍNIO. ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. RE 581.947-
RG. TEMA 261 DA REPERCUSSÃO GERAL. INAPLICABILIDADE. LEIS ESTADUAIS Nºs
7.835/1992 E 12.635/2007. PORTARIA ARTESP 18/2010. LEI FEDERAL 8.987/1995.
REEXAME DE FATOS E PROVAS E DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL.
OFENSA REFLEXA. SÚMULAS 279 E 280 DO STF. 1. Inviável o recurso extraordinário para a
apreciação de legislação infraconstitucional e de fatos e provas, porque a alegada afronta à
Constituição, se houvesse, seria reflexa ou indireta e por incidir, na espécie, os óbices das Súmulas
279 e 280 do STF. 2. A controvérsia ora analisada não se amolda ao quanto decidido no Tema 261
da Repercussão Geral, porquanto o que aqui se examina é a possibilidade da cobrança de valor, pelo
uso da faixa de domínio, entre concessionária de serviço público, empresa de direito privado, ao
passo que no referido tema de Repercussão Geral foi abordada a questão referente à cobrança de
tributo por parte de Município, pessoa jurídica de direito público, pelo uso do solo urbano. 3. Agravo
regimental a que se nega provimento. Mantida a decisão agravada quanto aos honorários
advocatícios, eis que já majorados nos limites do art. 85, §§ 2º e 3º, do CPC.

RE1294459 AgR; Órgão julgador: Segunda Turma; Relator(a): Min. RICARDO


LEWANDOWSKI; Julgamento: 24/02/2021
Publicação: 01/03/2021
Ementa
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.
ADMINISTRATIVO. COBRANÇA DE TAXA. USO DE FAIXAS DE DOMÍNIO PÚBLICO
POR CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇO PÚBLICO E EMPRESAS DE DIREITO PRIVADO.
DEMONSTRAÇÃO DE REPERCUSSÃO GERAL. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE.
SUPOSTA AFRONTA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO CONTRADITÓRIO, DA
AMPLA DEFESA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO
GERAL (TEMA 660). NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVAS. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 279/STF. INAPLICABILIDADE DO TEMA 261 DA SISTEMÁTICA DA
REPERCUSSÃO GERAL. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I - As
razões do agravo regimental são inaptas para desconstituir os fundamentos da decisão agravada,
que, por isso, se mantêm hígidos. II - A mera alegação, nas razões do recurso extraordinário, de
existência de repercussão geral das questões constitucionais discutidas, desprovida de
fundamentação adequada que demonstre seu efetivo preenchimento, não satisfaz a exigência
prevista no art. 1.035, § 2°, do Código de Processo Civil/2015. III - O STF, ao julgar o ARE 748.371-
RG/MT (Tema 660), de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, rejeitou a repercussão geral da
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 37
controvérsia referente à suposta ofensa aos princípios constitucionais do contraditório, da ampla
defesa e do devido processo legal, quando o julgamento da causa depender de prévia análise de
normas infraconstitucionais, por configurar situação de ofensa indireta à Constituição Federal. IV -
Conforme a Súmula 279/STF, é inviável, em recurso extraordinário, o reexame do conjunto fático-
probatório constante dos autos. V - O caso sob análise diverge do entendimento firmado nos autos
do RE 581.947-RG/RO (Tema 261 da sistemática da Repercussão Geral), de relatoria do Ministro
Eros Grau, que definiu ser incompatível com a Constituição a cobrança de taxa que tenha como fato
gerador o uso de espaço público por concessionárias de energia elétrica. VI - Agravo regimental a
que se nega provimento.

Acerca do tema, relevante destacar, ainda, os seguintes julgados:

STJ - AgInt no AREsp 2020519 / SP; RELATOR: Ministro HERMAN BENJAMIN; ÓRGÃO
JULGADOR: SEGUNDA TURMA; DATA DO JULGAMENTO: 21/06/2022; DATA DA
PUBLICAÇÃO/FONTE: DJe 27/06/2022
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO. FAIXAS DE DOMÍNIO.
COBRANÇA PELA UTILIZAÇÃO. PREVISÃO NO EDITAL. NECESSIDADE DE AFERIÇÃO
DOS FATOS, PROVAS, EDITAL E CONTRATO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 5 E 7/STJ.
1. Cuida-se de Agravo Interno contra decisum que conheceu do Agravo para não se conhecer do
Recurso Especial.
2. Na origem, trata-se de inconformismo com decisum do Tribunal a quo que não admitiu o Recurso
Especial, sob o fundamento de incidência da Súmula 7/STJ. O Recurso Especial combatia aresto da
Corte Regional que considerou devida a cobrança por contrapartida de uso de bem público.
3. Esbarra na Súmula 7/STJ a tentativa de alterar o quadro fático e revisão do edital para se
demonstrar a inexigibilidade da remuneração cobrada pela utilização das faixas de domínio de
ferrovia concedida.
4. Para corroborar a presente constatação, citam-se os fundamentos adotados noacórdão: "Pretensão
à inexigibilidade da remuneração cobrada pela utilização das faixas de domínio de ferrovia
concedida.
Cobrança autorizada pela Lei n. 8.987/95, não havendo controvérsia quanto à existência de
autorização no edital e no contrato de concessão, correspondente a contrapartida pelo uso de bem
público cuja exploração econômica foi concedida a particular".
5. Agravo Interno não provido.

STJ - REsp 1677414 / SP; RELATORA: Ministra REGINA HELENA COSTA; ÓRGÃO
JULGADOR: PRIMEIRA TURMA; DATA DO JULGAMENTO: 14/12/2021; DATA DA
PUBLICAÇÃO/FONTE: DJe 01/02/2022; RB vol. 675 p. 184
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 38
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
APLICABILIDADE. JUÍZO DE ADEQUAÇÃO. ART. 1.040, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL DE 2015. DIREITO ADMINISTRATIVO. COBRANÇA PELO ENTE FEDERADO PELO
USO DA FAIXA DE DOMÍNIO POR CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. NÃO
CABIMENTO. RE N. 581.947. DISTINGUISHING. ART. 11 DA LEI N. 8.987/1995. CONFLITO
ENTRE CONCESSIONÁRIAS. EXIGÊNCIA DE CONTRAPRESTAÇÃO. POSSIBILIDADE.
PREVISÃO NO CONTRATO DE CONCESSÃO. IMPRESCINDIBILIDADE. ERESP N.
985.695/RJ. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime
recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. In casu,
aplica-se o Código de Processo Civil de 1973 II - Retorno dos autos ao colegiado para eventual juízo
de adequação, a teor do art. 1.040, II, do Código de Processo Civil de 2015.
III - O Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência firme e consolidada de que a cobrança
pelo ente federado em face de concessionária de serviço público pelo uso de solo, subsolo ou espaço
aéreo é ilegal, uma vez que: a) a utilização, nesse caso, se reverte em favor da sociedade - razão pela
qual não cabe a fixação de preço público; e b) a natureza do valor cobrado não é de taxa, pois não
há serviço público prestado ou poder de polícia exercido.
Precedentes do Supremo Tribunal Federal.
IV - O entendimento do Supremo Tribunal Federal segundo o qual os entes da federação não podem
cobrar retribuição pecuniária pela utilização de vias públicas, inclusive solo, subsolo e espaço aéreo
para a instalação de equipamentos destinados à prestação de serviço público, não impede que as
concessionárias de rodovias realizem a cobrança pela utilização das faixas de domínio, nos termos
do art. 11 da Lei 8.987/95, desde que tal exação seja autorizada pelo poder concedente e esteja
expressamente prevista no contrato de concessão, porquanto não houve discussão sobre esta
hipótese no RE 581.497. Distinguishing.
V - Em juízo de adequação, mantido o acórdão.

STJ - REsp 1817302 / SP; Tema IAC 8; RELATORA: Ministra REGINA HELENA COSTA;
ÓRGÃO JULGADOR: PRIMEIRA SEÇÃO; DATA DO JULGAMENTO: 08/06/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE: DJe 15/06/2022
EMENTA
INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA - IAC NOS AUTOS DE RECURSO
ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE.
ADMINISTRATIVO. FAIXA DE DOMÍNIO DE RODOVIA CONCEDIDA. USO DO LOCAL
POR PRESTADORAPÚBLICA DE SERVIÇO DE SANEAMENTO BÁSICO. COBRANÇA
PELA CONCESSIONÁRIA. DESCABIMENTO. FIXAÇÃO DE TESE VINCULANTE.

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 39


I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime
recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. Aplica-
se, no caso, o Código de Processo Civil de 2015.
II - Embora cedido ao particular, o bem público de uso comum do povo não se desnatura,
permanecendo, pois, afetado à destinação pública, motivo pelo qual se afigura ilegítimo exigir
remuneração pela sua utilização, quando voltada a viabilizar a execução de serviço público de
saneamento básico prestado por entidade estatal, cuja configuração jurídica seja adversa à
lucratividade, vale dizer, esteja fora do regime concorrencial.
III - Tese vinculante fixada, nos termos dos arts. 947, § 3º, do CPC/2015, e 104-A, III, do RISTJ: É
indevida a cobrança promovida por concessionária de rodovia, em face de autarquia prestadora de
serviços de saneamento básico, pelo uso da faixa de domínio da via pública concedida.
IV - Recurso especial do particular desprovido.

2ª QUESTÃO:
Após os devidos trâmites, Sociedade Vainafé S/A tornou-se concessionária de serviço público de
transporte estadual, mas, no curso do contrato de concessão devidamente formalizado, houve uma
profunda reformulação societária que importou na transferência de seu controle acionário e alteração
de sua denominação para Sociedade Voudeboua S/A.
O Poder concedente anuiu com a aludida transferência, na medida em que atendidas às exigências
de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal necessárias à assunção
do serviço, bem como porque a sociedade comprometeu-se a cumprir todas as cláusulas do contrato
em vigor.
Por discordar da conduta administrativa, o Ministério Público ajuizou ação civil pública para
impugnar a conduta da Administração, com fulcro no art. 37, XXI, c/c art. 175 da CRFB/88, sob a
alegação de que os contratos de concessão são formalizados intuitu personae, com a sociedade
vencedora da respectiva licitação, qual seja, sociedade Vainafé S/A, de modo que a transferência da
concessão subverte as determinações constitucionais, notadamente os princípios da isonomia e da
impessoalidade, indispensáveis na formalização de avenças pelo Poder Público.
Analise se os argumentos do parquet merecem acolhida, à luz da orientação do C. STF.

RESPOSTA:
Acerca do tema, cumpre mencionar o disposto no art. 27, §1º, da Lei nº 8987/95:

Art. 27. A transferência de concessão ou do controle societário da concessionária sem prévia


anuência do poder concedente implicará a caducidade da concessão.
§ 1o Para fins de obtenção da anuência de que trata o caput deste artigo, o pretendente deverá:

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 40


I - atender às exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e
fiscal necessárias à assunção do serviço; e
II - comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor.

Com relação aos argumentos do C. STF, relevante apontar o seguinte julgado:

STF - ADI 2946; <https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur464437/false>Órgão julgador:


Tribunal Pleno; Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI
Julgamento: 09/03/2022; Publicação: 18/05/2022
Ementa
EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Artigo 27, caput e § 1º, da Lei nº 8.987, de 13 de
fevereiro de 1995, renumerado pela Lei nº 11.196/05. Transferência da concessão ou do controle
societário da concessionária. Alegada violação do art. 175 da Constituição Federal. Vício
inexistente. Isonomia e impessoalidade. Princípios correlatos do dever de licitar. Ofensa não
configurada. Caráter personalíssimo ou natureza intuito personae dos contratos administrativos.
Superação da tese. Finalidades do procedimento licitatório. Seleção da proposta mais vantajosa, com
respeito à isonomia e à impessoalidade. Garantia institucional. Possibilidade de alteração contratual
objetiva e subjetiva. Concessões públicas. Peculiaridades. Caráter dinâmico e incompleto desses
contratos. Mutabilidade contratual. Pressuposto de estabilidade e segurança jurídica das concessões.
Finalidade da norma impugnada. Medida de duplo escopo. Transferência da concessão X
subconcessão dos serviços públicos. Distinção. Formação de relação contratual nova.
Improcedência do pedido. 1. A concepção de que os contratos administrativos ostentam caráter
personalíssimo ou natureza intuitu personae "reflete uma transposição mecânica do direito
administrativo francês anterior ou, quando menos, traduz um regime jurídico não mais existente"
(JUSTEN FILHO, Marçal. Considerações acerca da modificação subjetiva dos contratos
administrativos. Fórum de Contratação e Gestão Pública - FCGP. Belo Horizonte: Editora Fórum,
ano 4, n. 41, maio/2005). 2. Em nosso sistema jurídico, o que interessa à Administração é, sobretudo,
a seleção da proposta mais vantajosa, independentemente da identidade do particular contratado ou
dos atributos psicológicos ou subjetivos de que disponha. Como regra geral, as características
pessoais, subjetivasou psicológicas são indiferentes para o Estado. No tocante ao particular
contratado, basta que tenha comprovada capacidade para cumprir as obrigações assumidas no
contrato. 3. O princípio constitucional da impessoalidade veda que a Administração Pública tenha
preferência por esse ou aquele particular. Então, a identidade do particular contratado não é relevante
por si mesmo, devendo ser considerada apenas e tão somente na justa medida em que representa o
preenchimento dos requisitos objetivos e previamente definidos, previstos na lei e no edital do
certame. 4. É a proposta mais vantajosa que, prima facie, vincula a Administração. Mantidos seus
termos, não se pode afirmar que a modificação do particular contratado implica, automática e
necessariamente, burla à regra da obrigatoriedade de licitação ou ofensa aos princípios
constitucionais correlatos, mormente nos casos de concessão, dada a natureza incompleta e dinâmica
desses contratos e a necessidade de se zelar pela continuidade da prestação adequada dos serviços
públicos. 5. Tendo em vista que as concessões públicas se estabelecem em bases não completamente

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 41


definidas e cambiantes conforme múltiplos fatores externos, só é possível cogitar a estabilidade
econômica e segurança jurídica das relações e situações a ela relacionadas a partir da mutabilidade
contratual. Desse modo, considerando a dinâmica peculiar e complexa das concessões públicas, é
natural - e até salutar - que o próprio regime jurídico das concessões contenha institutos que
permitam aos concessionários se ajustarem às vicissitudes da execução contratual. As transferências
da concessão e do controle societário da concessionária, previstas no dispositivo legal impugnado,
são exemplos de institutos dessa natureza. 6. Os contratos de concessão seguem uma modelagem
própria e inovadora, distinta do padrão de contratação previsto na Lei nº 8.666/93. Não há na
Constituição brasileira de 1988 fundamento que ampare a suposição de uniformidade do regime
nuclear dos contratos públicos. Existem regimes diversos de contratação administrativa que
convivem paralelamente e de forma pontualmente subsidiária, não havendo embates entre os
modelos previstos nas Leis nº 8.666/93 e nº 8.987/95. 7. A norma impugnada é uma "via de mão
dupla", porque, "por um lado, busca equacionar a rigidez do contrato com a dinâmica do mundo
negocial (¿); por outro, assegura à Administração Pública o controle da regularidade desse ato".
Trata-se de norma de duplo escopo, que institui a anuência da Administração Pública como relevante
prerrogativa de verificação da regularidade da avença havida entre particulares, em prol do interesse
público. 8. Mesmo no tocante aos serviços públicos, a exigência constitucional de licitação prévia
não se traduz em regra absoluta e inflexível. Ao contrário. Os comandos constitucionais inscritos no
art. 37, inciso XXI, e no art. 175, caput, a par de estipularem, como regra, a obrigatoriedade de
licitação, não definem, eles próprios, os exatos contornos do dever de licitar, cabendo ao legislador
ordinário ampla liberdade quanto a sua conformação, à vista da dinamicidade e da variedade das
situações fáticas aserem abrangidas pela respectiva normatização. Há precedentes do Supremo
Tribunal Federal no sentido de privilegiar a escolha legislativa, desde que protegidos os valores
constitucionais assegurados pela garantia da licitação. 9. Do cotejo da norma impugnada com o
parâmetro constitucional de controle, verifica-se que eles se referem a momentos distintos da
contratação, possuindo diferentes âmbitos de incidência. O art. 175 da Constituição exige a
realização de licitação para a outorga inicial da prestação dos serviços públicos a particulares.
Enquanto isso, o art. 27 da Lei nº 8.987/95 só se aplica após licitada a prestação do serviço público
e formalizado o respectivo contrato de concessão. É no decorrer da execução contratual, e havendo
anuência do poder concedente, que se procede à transferência da concessão ou do controle
societário. 10. O ato de transferência da concessão e do controle societário da concessionária, nos
termos do art. 27 da Lei nº 8.987/95, não se assemelha, em essência, à subconcessão de serviço
público prevista no art. 26 do mesmo diploma, justificando-se o tratamento legal diferenciado.
Diversamente da transferência da concessão ou do controle acionário, que não dá início a uma
relação jurídico-contratual nova e mantém intacta a base objetiva do contrato, a subconcessão
instaura uma relação jurídico-contratual inteiramente nova e distinta da anterior entre o poder
concedente e a subconcessionária. 11. Na espécie, não se constata a alegada burla à exigência
constitucional de prévia licitação para a concessão de serviços públicos, constante do art. 175 da
CF, a qual é devidamente atendida com o certame levado a cabo para sua outorga inicial e cujos
efeitos jurídicos são observados e preservados no ato de transferência mediante a anuência
administrativa. Também não se pode cogitar afronta aos princípios constitucionais da isonomia e da
impessoalidade. No procedimento licitatório, a isonomia se concretiza ao se proporcionar a todos
os particulares interessados em contratar com a Administração a faculdade de concorrerem em
situação de igualdade. A impessoalidade, por sua vez, decorre da observância de regras objetivas e
predefinidas na lei e no edital do certame para a seleção da proposta mais vantajosa, bem como para
o escrutínio das características inerentes ao futuro contratado. 12. Não faz sentido exigir que o ato
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 42
de transferência do art. 27 da Lei nº 8.987/95 observe os princípios da isonomia e da impessoalidade.
A anuência é matéria reservada ao Administrador e pressupõe o atendimento de requisitos bem
específicos. A par disso, a operação empresarial sobre a qual incide a anuência é, tipicamente, um
negócio jurídico entre particulares e, como tal, é disciplinado pelo direito privado. O concessionário,
como agente econômico que é, pode decidir sobre seus parceiros empresariais conforme critérios
próprios. Não há, portanto, espaço para aplicação dos princípios da isonomia e da impessoalidade,
os quais são típicos da relação verticalizada que possui uma entidade estatal em um dos polos. 13.
Pedido julgado improcedente.

Tema 06:
Permissão de Serviços Públicos. Conceito, natureza, referências constitucionais. Aplicação de
regras das concessões. Extinção. Serviços Públicos Autorizados.

1ª QUESTÃO:
O Estado Alfa almeja realizar uma concessão especial, na modalidade parceria público-privada, no
âmbito da educação universitária.
A ideia do projeto inclui a construção de manutenção dos edifícios e contratação de professores para
a realização das atividades educacionais, mediante contraprestação em dinheiro do poder público e
cobrança de tarifa dos usuários de matrícula e mensalidades a preços populares.
Diante dessa situação hipotética, responda fundamentadamente aos questionamentos a seguir.
A) Estabeleça a distinção entre as modalidades de parcerias público-privadas previstas no
ordenamento, para então indicar qual seria aquela almejada pelo Estado Alfa no projeto mencionado.
B) Analise se a cobrança dos usuários almejada é viável, à luz da orientação do C. STF.

RESPOSTA:
A) Quanto à distinção entre as modalidades de parceria público-privada

Considerando que a ideia do projeto inclui a cobrança de contraprestações/tarifa dos usuários, a


modalidade de parceria público-privada almejada é a concessão patrocinada, sendo relevante
destacar as principais distinções para a concessão administrativa, consoante se extrai da doutrina
mencionada abaixo.

Segundo Irene Patrícia Nohara, em Direito Administrativo, 11 ed, Barueri: Atlas, 2022, pg. 46:

Há duas modalidades de parceria público-privada:

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 43


¿a concessão patrocinada; e
¿a concessão administrativa.
A concessão patrocinada é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a
Lei nº 8.987/95, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários, contraprestação
pecuniária do parceiro público ao parceiro privado (art. 2º, § 1º).
Concessão administrativa é o contrato de prestação de serviços de que a Administração seja a
usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de
bens.
A concessão patrocinada diferencia-se da concessão comum pelo fato de que além da amortização
do investimento por tarifas cobradas dos usuários, existe a previsão de contraprestação pecuniária
paga pelo Poder Público. Trata-se de um financiamento público extra, uma vez que a concessão
comum corre, como regra geral, por conta e risco da empresa privada que terá como fonte de renda
única145 o produto da tarifa paga pelo usuário do serviço.
Já a concessão administrativa, conforme expõe Maria Sylvia Zanella Di Pietro, aproxima-se muito
do contrato de empreitada, pois a remuneração é feita exclusivamente do parceiro público ao
parceiro privado. Na concessão administrativa são facultativos a execução de obra e o
fornecimento e instalação de bens.

Já José do Santos Caravalho Filho, em Manual de Direito Administrativo, 36ed., Barueri: Atlas,
2022, pg. 384:

Os contratos de concessão especial de serviços públicos comportam duas modalidades: a concessão


patrocinada e a concessão administrativa.
A concessão patrocinada se caracteriza pelo fato de o concessionário perceber recursos de duas
fontes, uma decorrente do pagamento das respectivas tarifas pelos usuários, e outra, de caráter
adicional, oriunda de contraprestação pecuniária devida pelo poder concedente ao particular
contratado (art. 2o, § 1o).
A segunda modalidade é a concessão administrativa, assim considerada a prestação de serviço "de
que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra
ou fornecimento e instalação de bens" (art. 2o, § 2o). Diversamente do que ocorre com a concessão
patrocinada, a concessão administrativa não comporta remuneração pelo sistema de tarifas a cargo
dos usuários, eis que o pagamento da obra ou serviço é efetuado diretamente pelo concedente.
Poderão os recursos para pagamento, contudo, ter origem em outras fontes.154 Embora haja
entendimentos que contestem esse tipo de remuneração exclusiva do Poder Público ao
concessionário (tarifa-zero), domina o pensamento de que, tratando-se de modalidade especial de
concessão, inexiste vedação constitucional para sua instituição, o que realmente nos parece
acertado.

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 44


B) Acerca da impossibilidade de cobrar contraprestação/TARIFA dos usuários dos serviços
de educação universitária

STF - RE 1334066 AgR; Órgão julgador: Primeira Turma; Relator(a): Min. ROSA WEBER;
Julgamento: 08/02/2022; Publicação: 15/02/2022
Ementa
EMENTA DIREITO ADMINISTRATIVO. PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA. COBRANÇA DE
TARIFA DOS USUÁRIOS DE SERVIÇO PÚBLICO NA ÁREA DA EDUCAÇÃO.
CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRIDA COM A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTS. 30, I, II E V, E 175,
PARÁGRAFO ÚNICO, III, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. SÚMULAS NºS 282 E 356
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
RECURSOEXTRAORDINÁRIO QUE NÃO MERECE TRÂNSITO. AGRAVO MANEJADO
SOB A VIGÊNCIA DO CPC/2015. 1. O entendimento da Corte de origem, nos moldes do
assinalado na decisão agravada, não diverge da jurisprudência firmada no Supremo Tribunal
Federal, no sentido da impossibilidade de cobrança de taxas para a expedição de diplomas, para
inscrição de processo seletivo seriado, bem como para custeio de alimentação, considerada a
gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais. 2. As razões do agravo interno não se
mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada. 3. Cristalizada a
jurisprudência desta Suprema Corte, nos termos das Súmulas nºs 282 e 356/STF: "Inadmissível o
recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada", bem
como "O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não
pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento". 4. Agravo
interno conhecido e não provido. 5. A teor do art. 85, § 11, do CPC/2015, o "tribunal, ao julgar
recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional
realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º, sendo vedado
ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor,
ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento".

2ª QUESTÃO:
A União fez editar a Lei XYZ, que determinou a gratuidade no direito de passagem da infraestrutura
para as redes necessárias para a prestação do serviço de internet de banda larga em vias públicas,
em faixas de domínio e bens de uso comum do povo, inclusive os explorados por meio de concessão
ou outra forma de delegação, excetuadas aquelas cujos contratos decorram de licitações anteriores
à da norma em questão.
A constitucionalidade da mencionada norma foi questionada, pelas vias pertinentes, com base em
diversos fundamentos, dentre os quais, foi alegado que o serviço de comunicação multimídia
(internet de banda larga) é objeto de autorização por parte do Poder Público, o que descaracterizaria
tal atividade como serviço público propriamente dito, na medida em que regido pelo direito privado,
em regime de liberdade de preços, que não se confunde com aquele dos serviços públicos.

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 45


Considerando as circunstâncias destacadas, indique qual é o ente competente para explorar os
serviços de telecomunicações, mediante apontamento da base normativa pertinente, para então
enfrentar a alegação de que a submissão ao regime de autorização descaracterizaria o serviço de
internet de banda larga como serviço público, à luz da orientação do C. STF.

RESPOSTA:
O ente competente para explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os
serviços de telecomunicações, é a União, nos termos do art. 21, XI, da CRFB/88.
Com relação à natureza de serviço público, ainda que submetido à autorização, cumpre destacar o
seguinte julgado:

STF - ADI 6482 / DF; Relator(a): Min. GILMAR MENDES; Julgamento: 18/02/2021; Publicação:
21/05/2021
Órgão julgador: Tribunal Pleno
Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 12, CAPUT, DA LEI
13.116/2015. INSTALAÇÃO DE INFRAESTRUTURA E DE REDES DE
TELECOMUNICAÇÕES. GRATUIDADE DO DIREITO DE PASSAGEM EM VIAS
PÚBLICAS, EM FAIXAS DE DOMÍNIO E EM OUTROS BENS PÚBLICOS DE USO COMUM
DO POVO, AINDA QUE ESSES BENS OU INSTALAÇÕES SEJAM EXPLORADOS POR
MEIO DE CONCESSÃO OU OUTRA FORMA DE DELEGAÇÃO. CONTEXTO
REGULATÓRIO SETORIAL DA NORMA IMPUGNADA. CONSTITUCIONALIDADE
FORMAL. COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE
TELECOMUNICAÇÕES. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO PARA
EDITAR NORMAS GERAIS DE LICITAÇÃO E CONTRATAÇÃO ADMINISTRATIVA.
CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DA EFICIÊNCIA, DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA.
RESTRIÇÃO AO DIREITO DE PROPRIEDADE DOS ESTADOS VOLTADA À GARANTIA
DA PRESTAÇÃO E DA UNIVERSALIZAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL. NORMA
QUE IMPÕE RESTRIÇÃO ADEQUADA, NECESSÁRIA E PROPORCIONAL EM SENTIDO
ESTRITO AO DIREITO DE PROPRIEDADE DOS ESTADOS E DOS MUNICÍPIOS. AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA IMPROCEDENTE. 1. O Setor Brasileiro
de Telecomunicações passou por importantes mudanças na década de 1990, com a aprovação da
Emenda Constitucional 8/1995 e da Lei 9.472/1997, que promoveram a liberalização do setor e a
privatização do sistema Telebras. A expansão do acesso à internet de alta velocidade tem empurrado
as políticas de telecomunicações da década de 1990 para um verdadeiro "ponto de inflexão"
(inflection point). (COWHEY, Peter F.; ARONSON, Jonathan D. Transforming Global Information
and Communication Markets: The Political Economy of Innovation. Cambridge, Massachusetts:
The MIT Press, 2011, p. 8 e 10-11). Ainda que intuitivamente a internet seja considerada um espaço
livre e desregulado, a conexão dos usuários à rede depende da prestação de serviços de
telecomunicações e da interação entre agentes econômicos que atuam de forma verticalmente
integrada entre a camada física composta pela gestão de infraestrutura de telecomunicações, a

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 46


camada de protocolo e a amada de conteúdos e de aplicações. (BENJAMIN, Staurt Minor et al.
Telecommunications Law and Policy. 3a. Durham: Carolina Academic Press, 2012, p. 717-721).
Daí porque a doutrina assenta que "o fenômeno Over-The-Top (OTT) passa a demandar a
remodelagem de políticas de incentivo ao investimento em infraestrutura de redes de alta
velocidade, as quais se mostram essenciais não apenas para a viabilidade desses modelos de
negócios, mas para a garantia dos incentivos à inovação no âmbito do setor de Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC)". (FERNANDES, Victor Oliveira. Regulação de Serviços de
Internet: desafios daregulação de aplicações Over-The-Top (OTT), Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2018, p. 36). 2. No caso do setor de telecomunicações, a atribuição da titularidade pela prestação
dos serviços públicos à União (art. 21, inciso XI, da CF) tem como contrapartida o reconhecimento
de uma federalização ampla das relações jurídicas que permeiam a prestação desses serviços. Do
próprio conceito legal, extrai-se que "telecomunicação é a transmissão, emissão ou recepção, por
fio, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer outro processo eletromagnético, de símbolos,
caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza" (art. 60, § 1º, da Lei
9.472/1997). A disciplina jurídica de toda e qualquer forma de transmissão de sinais voltada à
prestação de um serviço de telecomunicações revolve matéria afeta à competência legislativa da
União, tal qual o direito de passagem e uso para a instalação de infraestrutura de rede. 3. O Supremo
Tribunal Federal decidiu que a edição da Lei 13.116/2015 se insere no âmbito da competência
privativa da União para legislar sobre telecomunicações (art. 22, inciso IV, CF/88) e materializa
uma decisão de afastar a possibilidade de os Estados e Municípios legislarem sobre a matéria (ADI
3.110, Relator Edson Fachin, Tribunal Pleno, julgado em 4.5.2020, DJe 10.6.2020; ADPF 731,
Relator(a): Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 21/12/2020, DJe 10-02-2021). A disciplina
da gratuidade do direito de passagem prevista no art. 12, caput, da Lei 13.166/2015 divisou a
necessária uniformização nacional, sobretudo em um setor econômico como o de telecomunicações,
em que a interconexão e a interoperabilidade das redes afiguram-se essenciais. 4. A interpretação
sistemática da Lei 13.116/2015, sobretudo naquilo que complementada pelo seu regulamento,
revela, na realidade, zelo do legislador de, ao mesmo tempo, uniformizar a gratuidade do direito de
passagem no âmbito nacional e respeitar o exercício das competências administrativas dos poderes
concedentes locais, preservando-se a competência da União de legislar sobre normas gerais em
matéria de licitações e contratos administrativos (art. 22, inciso XXVII, da CF). 5. O art. 12, caput,
da Lei 13.116/2015 institui verdadeiro ônus real sobre o direito de propriedade dos bens de Estados
e Municípios nas vias públicas, faixas de domínio e outros bens públicos de uso comum do povo.
Dado que o direito de propriedade não se revela de caráter absoluto, essa restrição "pode ser
admitida constitucionalmente quando decorrer da necessidade de prestação de serviço público no
interesse da coletividade. Este privilégio ainda se reveste da maior importância quando se trata de
ocupação de bens públicos de qualquer natureza quando esta ocupação for indispensável à própria
exploração do serviço". (CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Tratado de Direito
Administrativo, vol. IV. Rio de janeiro: Editora Freitas Bastos, 1943, p. 404-405). 6. A natureza
constitucional dos serviços públicos de telecomunicações (art. 21, inciso XI, da CF/88) não foi
desconstituída pela simples previsão legal de que tais serviços podem ser prestados no regime
privado por meio de autorização (art. 62 da Lei 9.472/1997). A forma de delegação do serviço
não é o fator unicamente determinante à definição de sua natureza econômica, já que "não é
pelo fato de a lei ou o regulamento se referir nominalmente a ‘autorização‘ que, como em um
passe de mágica, a atividade deixa de ser serviço público (ou monopólio público), para ser uma
atividade privada". ARAGÃO, Alexandre dos Santos. O Direito dos Serviços Públicos. 3ª Ed.
Editora Forense: Rio de Janeiro, 2013, p. 695).O fato de o Poder Constituinte de Reforma ter
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 47
mantido sob a responsabilidade da União a titularidade da prestação dos serviços de
telecomunicações (art. 21, inciso XI, da CF/88) torna incontroverso que esses serviços
apresentam natureza de serviço público. 7. A restrição ao direito real de propriedade imposta pelo
art. 12, caput, da Lei 13.116/2015 afigura-se adequada, necessária e proporcional em sentido em
estrito. Sob o ponto de vista da adequação, as dificuldades históricas de harmonização da disciplina
normativa sobre a implantação da infraestrutura de telecomunicações, aliada à extensão da
competência privativa da União para legislar sobre a matéria, convergem para o juízo de que a
edição de uma lei federal sobre o tema é a medida mais adequada para a finalidade da norma. Sob
o ponto de vista da necessidade, não haveria meio menos gravoso para assegurar a finalidade da
norma, uma vez que, mesmo que secogitasse de deixar ao poder dos Estados e dos Municípios a
fixação de um valor pelo uso da faixa de domínio, essa opção poderia gerar distorções na política
regulatória nacional dos serviços de telecomunicações. Por fim, sob o ponto de vista da
proporcionalidade em sentido estrito, verifica-se que tanto a lei federal quanto o seu regulamento
previram salvaguardas de modo a evitar o total aniquilamento do direito real em jogo, tais como a
ressalva de que a gratuidade não afeta obrigações indenizatórias decorrentes de eventual dano
efetivo ou de restrição de uso significativa e a previsão de que a gratuidade será autorizada pelos
órgãos reguladores sob cuja competência estiver a área a ser ocupada ou atravessada, 8. Ação direta
de inconstitucionalidade julgada improcedente.

Tema 07:
Parceria Público-Privada. Regime especial de outorga: peculiaridades. Concessão
Patrocinada e Concessão Administrativa. Requisitos. Fundo Garantidor de Parcerias.
Programa de parcerias de Investimentos - PPI (Lei nº 13.334/2016).

1ª QUESTÃO:
O Município Alfa editou a Lei XYZ, com o intuito de regulamentar as Parcerias Público-Privadas a
serem estabelecidas pelo ente federativo em questão.
A mencionada norma prevê que, mediante contraprestação do mencionado ente federativo, poderão
ser realizadas as citadas concessões especiais nas modalidades de concessão patrocinada e
concessão administrativa.
A lei previu, ainda, que todos os projetos propostos para a formalização de todos os contratos
concernentes às parcerias em questão, independentemente de seu valor, deverão ser previamente
remetidos e aprovados pela Câmara de Vereadores.
Diante dessa situação hipotética, responda, fundamentadamente aos questionamentos a seguir:
A) Existe distinção entre concessão patrocinada e administrativa? Em caso positivo, esclareça
os principais aspectos diferenciadores.
B) É constitucional a submissão dos contratos à autorização legislativa?

RESPOSTA:
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 48
LETRA A) Com relação à distinção entre concessão patrocinada e administrativa

Acerca do tema, cumpre destacar as lições de José dos Santos Carvalho Filho (pag. 455/456), que
bem sintetiza a matéria, mediante o apontamento dos dispositivos pertinentes da Lei nº 11.079/2005:

"Os contratos de concessão especial de serviços públicos comportam duas modalidades: a


concessão patrocinada e a concessão administrativa.
A concessão patrocinada se caracteriza pelo fato de o concessionário perceber recursos de duas
fontes, uma decorrente do pagamento das respectivas tarifas pelos usuários, e outra, de caráter
adicional, oriunda de contraprestação pecuniária devida pelo poder concedente ao particular
contratado (art. 2º, §1º).
A segunda modalidade é a concessão administrativa, assim considerada a prestação de serviço "de
que a Administração Pública seja usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra
ou fornecimento e instalação de bens" (art. 2º §2º). Diversamente do que ocorre com a concessão
patrocinada, a concessão administrativa não comporta remuneração pelo sistema de tarifas a cargo
dos usuários, eis que o pagamento da obra ou serviço é efetuado diretamente pelo concedente.(...)"

LETRA B) Em relação à autorização legislativa

Vale pontuar a seguinte jurisprudência

TJPR - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 1523417-4, ÓRGÃO ESPECIAL.


RELATOR : DES. LUÍS CARLOS XAVIER, Publicado em 16/08/2016
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROPOSTA PELO PREFEITO MUNICIPAL
DE CASCAVEL - PEDIDO CAUTELAR DE SUSPENSÃO DA EFICÁCIA DA LEI MUNICIPAL Nº
6.582/2016, QUE ALTEROU A LEI MUNICIPAL Nº 6.551/2015 - PASSANDO A EXIGIR QUE O
PROJETO DE PARCERIA, APROVADO PELO CONSELHO GESTOR DE PARCERIAS PÚBLICO
- PRIVADAS, SEJA PREVIAMENTE APROVADO PELO PODERLEGISLATIVO- PRESENÇA DO
FUMUS BONI IURIS - VISLUMBRADA A INDEVIDA INGERÊNCIA DA CAMARA MUNICIPAL
NO PODER EXECUTIVO LOCAL - EVIDENCIADO TAMBÉM O PERICULUM IN MORA -
EMBARAÇOS NO ESTABELECIMENTO DE PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS COM RISCO ÀS
POLÍTICAS ADMINISTRATIVAS E AO INTERESSE PÚBLICO - LIMINAR DEFERIDA.

0000696-07.2018.8.19.0000 - DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Des(a). ANTONIO


EDUARDO FERREIRA DUARTE - Julgamento: 15/10/2018 - OE - SECRETARIA DO TRIBUNAL
PLENO E ORGAO ESPECIAL

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 49


"DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA Nº 38/2017. NOVA REDAÇÃO AO ART.
168, CAPUT, DA LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE ANGRA DOS REIS. PREVÊ A
OBRIGATORIEDADE DE SUBMISSÃO DA CELEBRAÇÃO DE CONTRATOS REFERENTES A
CONCESSÕES, PERMISSÕES E PARCERIAS PÚBLICO PRIVADAS À PRÉVIA AUTORIZAÇÃO
DO PODER LEGISLATIVO. MATÉRIA DE INICIATIVA DO CHEFE DO EXECUTIVO.
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. ARTS. 7º, 112, §1º, II, "D" E 145,
TODOS DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
A emenda 38/2017 modifica o art. 168 da lei orgânica do município de Angra dos Reis/RJ, dispondo
que: Art. 1º O caput do art. 168, da Lei Orgânica do Município de Angra dos Reis/RJ, passa a
vigorar com a seguinte redação: "Art. 168. Cada contrato referente a concessões, permissões e
parcerias público privadas, independente de sua modalidade, somente poderá ser efetuado após
autorização legislativa. [...]" (NR) Art. 2º Esta Emenda à Lei Orgânica entra em vigor na data de
sua publicação."

0062723-31.2015.8.19.0000 - DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Des(a). NAGIB SLAIBI


FILHO - Julgamento: 17/04/2017 - OE - SECRETARIA DO TRIBUNAL PLENO E ORGAO
ESPECIAL
Direito Constitucional. Ação Direta de Inconstitucionalidade. Art. 36, XIV eart. 37,XI, da Lei
Orgânica do Município de Natividade, promulgada em 05 de abril de 1990. Submissão de
convênios, acordos e consórcios à prévia autorização legislativa. Questão pacificada na
jurisprudência do STF e desta Corte de Justiça, no sentido de que a celebração de acordos e
convênios é ato típico de gestão, reservado ao Chefe do Poder Executivo, de modo que a
necessidade de autorização legislativa ofenderia o princípio da separação dos poderes. "[...] A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que a regra que subordina a
celebração de acordos ou convênios firmados por órgãos do Poder Executivo à autorização prévia
ou ratificação da Assembléia Legislativa, fere o princípio da independência e harmonia dos poderes
(art. 2º, da C.F.). Precedentes. 2. Ação Direta julgada procedente para a declaração de
inconstitucionalidade do inciso XXI do art. 54 da Constituição do Estado do Paraná. (ADI 342/PR,
Relator: Min. Sydney Sanches, Tribunal Pleno, julgado em 06/02/2003, DJ 11-04-2003).
Procedência do pedido para reconhecer a inconstitucionalidade dos dispositivos legais
impugnados, com efeitos ex nunc

2ª QUESTÃO:
Em 2016, a União fez editar a Lei nº 13.334/2016, que estabelece o Programa de Parcerias de
Investimentos - PPI, destinado a ampliação e fortalecimento da interação entre o Estado e a iniciativa
privada por meio da celebração de contratos de parceria para a execução de empreendimentos
públicos de infraestrutura e de outras medidas de desestatização.
Pelas vias pertinentes, foram questionados diversos dispositivos da mencionada norma,
notadamente o disposto no respectivo art. 6º, in verbis:

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 50


Art. 6º Os órgãos, entidades e autoridades da administração pública da União com competências
relacionadas aos empreendimentos do PPI formularão programas próprios visando à adoção, na
regulação administrativa, independentemente de exigência legal, das práticas avançadas
recomendadas pelas melhores experiências nacionais e internacionais, inclusive:
I - edição de planos, regulamentos e atos que formalizem e tornem estáveis as políticas de Estado
fixadas pelo Poder Executivo para cada setor regulado, de forma a tornar segura sua execução no
âmbito da regulação administrativa, observadas as competências da legislação específica, e
mediante consulta pública prévia;
II - eliminação de barreiras burocráticas à livre organização da atividade empresarial;
III - articulação com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE, bem como com a
Secretaria de Acompanhamento Econômico - SEAE do Ministério da Fazenda, para fins de
compliance com a defesa da concorrência; e
IV - articulação com os órgãos e autoridades de controle, para aumento da transparência das ações
administrativas e para a eficiência no recebimento e consideração das contribuições e
recomendações.

Com relação ao aludido dispositivo, alegou-se que se teria configurado ofensa ao princípio da
reserva legal, na medida em que o Poder Executivo Federal se autoconcede um verdadeiro cheque
em branco para regular, independentemente do que prescrever a legislação pátria e em detrimento
das prerrogativas do Poder Legislativo, atos e ações administrativas necessárias à consecução dos
objetivos do PPI.
Analise se os argumentos apresentados acerca da inconstitucionalidade do dispositivo em questão
merecemacolhida, à luz da orientação do E. STF.

RESPOSTA:
ADI 5551 - Órgão julgador: Tribunal Pleno; Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA; Julgamento:
15/03/2021
Publicação: 23/03/2021
Ementa
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA PROVISÓRIA N.
727/2016, CONVERTIDA NA LEI N. 13.334/2016. PROGRAMA DE PARCERIAS E DE
INVESTIMENTOS - PPI. INTERAÇÃO ENTRE ESTADO E INICIATIVA PRIVADA.
CONTRATOS DE PARCERIA PARA EMPREENDIMENTOS PÚBLICOS DE
INFRAESTRUTURA. ATENDIMENTO AOS PRESSUPOSTOS CONSTITUCIONAIS DE
RELEVÂNCIA E URGÊNCIA. INEXISTENTE AFRONTA À AUTONOMIA DOS ENTES
FEDERADOS. PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA. PERDA DE OBJETO QUANTO AOS ARTS. 4º,
5º, 7º E 8º, ALTERADOS PELA LEI N. 13.901/2019. AÇÃO IMPROCEDENTE QUANTO AO
INC. II DO § 1º E AO CAPUT DO ART. 1º, AO ART. 6º E AO ART. 18 DA MEDIDA
PROVISÓRIA N. 727/2016.
DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 51
INFORMATIVO 1009 - MARÇO DE 2021 - PLENÁRIO -
DIREITO ADMINISTRATIVO - ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Constitucionalidade do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) - ADI 5551/DF

RESUMO: O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) destinado à ampliação e ao


fortalecimento da interação entre o Estado e a iniciativa privada [Medida Provisória (MP)
727/2016, convertida na Lei 13.334/2016] não afronta os princípios da Administração Pública
e da proteção do meio ambiente e dos índios [Constituição Federal (CF), arts. 23, VI, 37,
“caput” e 231, § 2º] (1).

Por meio do PPI é implementada política pública nas contratações estatais para a execução de
empreendimentos de infraestrutura, tidas como de importância fundamental e urgente pelas
autoridades administrativas e governamentais competentes para a definição das políticas públicas.
Não se cuida de criação de nova forma de contratação pública. O programa nacional abrange
instrumentos legais existentes no ordenamento jurídico, como se extrai do § 2º do art. 1º da MP
727/2016 (2).
A possibilidade de empreendimentos públicos de infraestrutura dos estados, Distrito Federal e
municípios serem incluídos no PPI (MP 727/2016, art. 1º, § 1º, II) (3) também não afronta a
autonomia político-administrativa daqueles entes federativos. Isso porque não se confere à União
possibilidade de ingerência na gestão de contratos celebrados por estados, Distrito Federal ou
municípios ou em suas escolhas administrativas. Estabelece-se apenas que os empreendimentos
executados por aqueles entes com o fomento da União ou mediante delegação deverão integrar o
PPI, o que se mostra compatível com os princípios da eficiência e do controle, notadamente pela
responsabilidade do ente federal nestes casos.
Cabe destacar que, pelo teor da norma do art. 6º da MP 727/2016 (4), tornou-se expresso apenas o
poder regulamentar da Administração Pública para a consecuçãodos fins estatais, ou seja, para a
implementação do PPI estatuído em lei. Nesse ponto, não se vislumbra contrariedade aos princípios
da reserva legal ou da separação dos Poderes, porque pela norma não se transferiu ao Poder
Executivo a disciplina de matéria de competência do Congresso Nacional. Na MP, determina-se que
os órgãos, entidades e agentes públicos com competência para a prática de atos administrativos
relacionados ao PPI deverão aplicar, na regulação administrativa, as “práticas avançadas
recomendadas pelas melhores experiências nacionais e internacionais”, preceito que atende ao
princípio da eficiência insculpido no art. 37 da CF. Também está expresso na norma que a regulação
administrativa deve observar “as competências da legislação específica” (MP 727/2016, art. 6º, I),
exigindo-se também a “articulação com os órgãos e autoridades de controle, para aumento da
transparência das ações administrativas e para a eficiência no recebimento e consideração das
contribuições e recomendações”, preceitos alinhados aos princípios da probidade e publicidade.

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 52


Ademais, a norma exige da Administração Pública, na avaliação e na execução de empreendimentos
do PPI, atuação coerente com o caráter prioritário da política pública (MP 727/2016, art. 17) (5),
evitando-se contradições entre órgãos e entidades, gastos públicos desnecessários e procrastinações
indevidas, sem que tanto signifique, autorize ou permita a supressão ou diminuição de obrigação do
cumprimento de princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade, da motivação, da
probidade, da publicidade e da moralidade administrativa.
Tampouco pela norma se autoriza diminuição ou amesquinhamento, sob qualquer pretexto, do
direito fundamental ao meio ambiente equilibrado. Cabe aos agentes públicos e órgãos estatais
responsáveis pelo controle, fiscalização e implementação dos empreendimentos do PPI a
observância das regras de direito ambiental e dos princípios que lhes são inerentes, notadamente os
princípios do desenvolvimento sustentável, da prevenção e da precaução. Além disso, nenhum
empreendimento, público ou privado, pode sobrepor-se aos direitos originários dos índios sobre as
terras que tradicionalmente ocupam (CF, art. 231, § 2º), sendo nulos os atos de disposição de imóveis
cujo objeto seja o domínio e a posse de suas terras, que devem ser praticados em observância aos
dispositivos constitucionais sobre a matéria.

Tema 08:
Estado Gestor (3º Setor). Regimes de parcerias: regimes de convênios administrativos, regimes
de contrato de gestão (as Organizações Sociais), Gestão por colaboração (OSCIP-Organização
da sociedade civil de interesse público). Lei nº 13.019/2014 (Aspectos Gerais) Serviço Social
Autônomo.

1ª QUESTÃO:
Associação Mundomelhor é uma entidade sem fins lucrativos que se dedica a promover atividades
educativas complementares para menores em situação de risco.
Trata-se de entidade que exerce suas atividades junto ao Estado Beta há mais de cinco anos e que
foi qualificada pelo mencionado ente federativo como Organização Social nos termos da lei
estadual, que dispõe especificamente sobre a matéria.
Ocorre que Mundomelhor vem ampliando o seu espectro de atuação e visa buscar recursos junto ao
governo federal, mediante a qualificação como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
- OSCIP, razão pela qual questionou a sua assessoria jurídica sobre quem seria a autoridade
competente para tanto, se há discricionariedade no ato de reconhecimento ou qualquer outro
impedimento para alcançar a mencionada finalidade, bem como quanto a aplicabilidade da Lei nº
13019/2014 aos termos de parceria formalizados com uma OSCIP.
Esclareça os questionamentos suscitados pela Associação Mundomelhor, à luz do ordenamento
vigente.

RESPOSTA:

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 53


O pedido de reconhecimento como OSCIP deve ser endereçado ao Ministério da Justiça, na forma
do art. 5º da Lei nº 9790/90, que não possui discricionariedade quanto ao seu deferimento,
considerando tratar-se de ato vinculado, consoante se depreende do §3º do mencionado dispositivo,
só podendo ser indeferido se não prenchidos os requisitos constantes dos arts. 1º, 3º e 4º da Lei em
questão ou incidir uma das vedações constantes do art. 2º.

Ocorre que o art. 2º, IX, c/c art. 18, §1º e §2º, da Lei 9790/90 estabelecem que as organizações
sociais não podem ser qualificadas como OSCIP, argumento que pode ser afastado no caso concreto,
em razão do fato de tanto a Lei 9637/98 quanto a Lei 9790/90 serem normas federais, ao passo que
a associação Mundomelhor foi qualificada como organização social em âmbito estadual, de acordo
com a norma local.

Neste ponto, cumpre destacar o seguinte enunciado da I Jornada de Direito Administrativo do


Conselho da Justiça Federal, realizada entre 03 e 07/08/2020:

Enunciado 9: Em respeito ao princípio da autonomia federativa (art. 18 da CF), a vedação ao


acúmulo dos títulos de OSCIP e OS prevista no art. 2º, inc. IX, c/c art. 18, §§ 1º e 2º, da Lei n.
9.790/1999 apenas se refere à esfera federal, não abrangendo a qualificação como OS nos Estados,
no Distrito Federal e nos Municípios.

Demais disso, há de se pontuar que o disposto na Lei 13019/2014 não é aplicável aos termos de
parceria formalizados com a OSCIP, na forma do art. 3º, VI, deste diploma legal.

2ª QUESTÃO:
Em um município interiorano, o Prefeito celebrou acordo de cooperação diretamente com empresa
sob controle acionário estadual para planejar, executar e operar o saneamento básico em todo o seu
território, atribuindo-lhe, portanto, os serviços mediante remuneração paga pelos respectivos
usuários. Considerando que o Ministério Público recebeu representação questionando tal avença,
examine a juridicidade do ajuste.
Resposta objetivamente fundamentada.

RESPOSTA:
Questão do XXXV Concurso para Ingresso na Carreira do Ministério Público do Estado do
Rio de Janeiro

GABARITO FORNECIDO PELA BANCA

DIREITO ADMINISTRATIVO - CP05 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2023 54


O candidato deve explicitar a inaplicabilidade do acordo de cooperação ao caso proposto, nos termos
da Lei 13019/14. Deve reconhecer a natureza do ajuste descrito no enunciado, esclarecendo que se
trata de serviço público sujeito ao regime de concessão, observadas as regras de licitação e
contratação pública (arts. 37, XXI e 175, CR/88; art. 14, Lei n. 8987/95; Lei 8666/93). Pertinente
mencionar a impropriedade de se incluir na delegação a atividade de planejamento. Caberá, ainda,
abordar a disciplina específica prevista na Lei 11445/07, notadamente o disposto nos arts. 10 e 11.
Deve o candidato, à conta dos argumentos anteriores, fundamentar a nulidade do ajuste.

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