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07/08/2019

“O maior jugo de um reino, a mais pesada carga de uma república,


são os imoderados tributos. Se queremos que sejam leves, se
queremos que sejam suaves, repartam-se por todos. Não há tributo
mais pesado que o da morte e contudo todos o pagam e ninguém se
queixa porque é tributo de todos.”

(Padre Antônio Vieira, Sermão de Santo Antônio, pregado na Igreja das

Crimes contra a Ordem Tributária Chagas de São Francisco, Lisboa, em 14 de Setembro de 1642)

Art. 1º a 3º da Lei 8137/90

Doutrina

“No estudo do direito constitucional moderno a noção de deveres


Tema constitucionais (situações jurídicas passivas) esteve relegada a
um segundo plano, por força da própria gênese do Estado de
Direito (limitador do Poder Estatal)”

DEVERES CONSTITUCIONAIS: CRIMES


(J.J.Canotilho)
TRIBUTÁRIOS.

“Deve-se ter presente que o princípio da liberdade não conduz à


anarquia, mas a uma liberdade a que corresponde uma
responsabilidade comunitária.”

(José Casalta Nabais)

Doutrina

“Decorre assim do descumprimento do dever constitucional de Tema


contribuir para o gasto público (pagar tributos), o mandamento
constitucional que legitima a criminalização das fraudes
tributárias.”
PRESUNÇÕES LEGAIS E CRIME TRIBUTÁRIO:
PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA.
Luciano Feldens

(Extratos de LUCIANO FELDENS, A Constituição Penal)

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Sonegação fiscal e presunção de inocência


Não ofende o princípio constitucional da presunção de inocência a exigência de comprovação da origem de valores estabelecida no
art. 42 da Lei 9.430/1996 (“Caracterizam-se também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depósito ou
de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado,
não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações”). Com base nesse
entendimento, a 2ª Turma denegou “habeas corpus” no qual discutida a legalidade da condenação do paciente pelo crime previsto
no art. 1º, I, da Lei 8.137/1990 (“Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e
qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias”), em
continuidade delitiva (CP, art. 71). Na espécie, o paciente, regularmente intimado no âmbito de processo administrativo fiscal para Tema
declinar a origem de valores creditados em sua conta corrente, informara que estaria impossibilitado de prestar os
esclarecimentos solicitados. A Turma consignou que, ao assim proceder, o paciente criaria presunção, ainda que relativa, de que
houvera omissão de rendimentos a dar ensejo, eventualmente, à persecução penal pelo crime em análise. Asseverou que, por se ACESSO DIRETO A DADOS BANCÁRIOS POR PARTE
tratar de procedimento legalmente estabelecido, não haveria ofensa ao postulado da presunção de inocência. Consignou que entendimento
contrário somente seria possível ao se assentar a inconstitucionalidade do próprio tipo penal de sonegação fiscal. Quanto à alegação de DO FISCO E REMESSA DE REPRESENTAÇÃO AO MP.
ocorrência de “reformatio in pejus” — tendo em conta afirmação do STJ no sentido de que o ajuizamento de ação anulatória não teria o
condão de obstar o trâmite da ação penal —, consignou que essa assertiva apenas reforçaria a afirmação daquele tribunal de que a
constituição definitiva do crédito tributário seria suficiente à configuração de indícios de materialidade para o início da persecução penal.
Aduziu que a mera existência da mencionada ação em nada alteraria a situação do paciente. Acrescentou, ademais, que apenas a inclusão
do contribuinte em parcelamento tributário possuiria o condão de suspender a pretensão punitiva do Estado nos crimes previstos nos
artigos 1º e 2º da Lei 8.137/1990, conforme o disposto no art. 83, § 2º, da Lei 9.430/1996. (“§ 2º É suspensa a pretensão punitiva do
Estado referente aos crimes previstos no ‘caput’, durante o período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente
dos aludidos crimes estiver incluída no parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento
da denúncia criminal”). HC 121125/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, 10.6.2014. (HC-121125)

DIREITO PENAL. AGRAVO INTERNO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ALEGAÇÃO DA


OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL. INOCORRÊNCIA.
DECADÊNCIA. ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCINAL. SÚMULA 279/STF. ART.
DIREITO PENAL. AGRAVO INTERNO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 6º
6º DA LEI COMPLEMENTAR Nº 105/2001. CONSTITUCIONALIDADE. UTILIZAÇÃO DE
DA LEI COMPLEMENTAR Nº 105/2001. CONSTITUCIONALIDADE. UTILIZAÇÃO
DADOS OBTIDOS PELA RECEITA FEDERAL PARA INSTRUÇÃO PENAL. POSSIBILIDADE. 1.
DE DADOS OBTIDOS PELA RECEITA FEDERAL PARA INSTRUÇÃO
Não ocorreu a prescrição da pretensão punitiva estatal, uma vez que não transcorreu prazo superior a 8
(oito) anos entre quaisquer dos marcos interruptivos previstos nos incisos do art. 117 do Código Penal.
PENAL. POSSIBILIDADE. 1. O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o RE 601.314,

2. Quanto à decadência, para dissentir do acórdão do Tribunal de origem seria necessário revolver tanto Rel. Min. Edson Fachin, após reconhecer a repercussão geral da matéria, assentou a
a legislação infraconstitucional quanto o quadro fático-probatório, providências inviáveis em recurso constitucionalidade do art. 6º da Lei Complementar nº 105/2001, que permitiu o
extraordinário (Súmula 279/STF). 3. O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o RE 601.314, fornecimento de informações sobre movimentações financeiras diretamente ao Fisco, sem
Rel. Min. Edson Fachin, após reconhecer a repercussão geral da matéria, assentou a autorização judicial. 2. Da mesma forma, esta Corte entende ser possível a utilização de
constitucionalidade do art. 6º da Lei Complementar nº 105/2001, que permitiu o dados obtidos pela Secretaria da Receita Federal para fins de instrução
fornecimento de informações sobre movimentações financeiras diretamente ao Fisco, penal. Precedentes. 3. Agravo interno a que se nega provimento. (STF: RE 1041285 AgR-
sem autorização judicial. 4. Esta Corte entende ser possível a utilização de dados obtidos AgRg/ SP, Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, ACÓRDÃO
pela Secretaria da Receita Federal para fins de instrução penal. Precedentes. 5. Agravo ELETRÔNICO DJe-258 DIVULG 13-11-2017 PUBLIC 14-11-2017)
interno a que se nega provimento. (RE 1043002 AgR / SP , Min. ROBERTO BARROSO, Primeira
Turma, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-288 DIVULG 13-12-2017 PUBLIC 14-12-2017)

O entendimento de que é incabível o uso da chamada prova emprestada do procedimento


fiscal em processo penal, tendo em vista que a obtenção da prova (a quebra do sigilo
bancário) não conta com autorização judicial contraria a jurisprudência consolidada do
Supremo Tribunal Federal de que é possível a utilização de dados obtidos pela Secretaria
da Receita Federal, em regular procedimento administrativo fiscal, para fins de instrução Tema
processual penal. 4. No caso, não há falar em ilicitude das provas que embasam a
denúncia contra os pacientes, porquanto, assim como o sigilo é transferido, sem
ILÍCITO TRIBUTÁRIO E ILÍCITO PENAL:
autorização judicial, da instituição financeira ao Fisco e deste à Advocacia-Geral da
União, para cobrança do crédito tributário, também o é ao Ministério Público, DISTINÇÃO. (DES)NECESSIDADE DE FRAUDE.
sempre que, no curso de ação fiscal de que resulte lavratura de auto de infração de
exigência de crédito de tributos e contribuições, se constate fato que configure, em
tese, crime contra a ordem tributária (Precedentes do STF). 5. Ordem denegada.
Liminar cassada. (STJ: HC 422473 / SP, Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR , SEXTA
TURMA, DJe 27/03/2018)

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Inércia Ilícito
(inadimplência) Administrativo

Pagamento

Sanções
Tributárias Execução
Forçada

Fato Gerador da
Obrigação Tributária Inércia (inadimplência)
CRIME

Inércia quanto ao pagamento


Inércia quanto ao pagamento +
+ fraude para encobrir a conduta Pena
fraude para encobrir Criminal

DISCUSSÃO
ACR - APELAÇÃO CRIMINAL - Processo: 1999.61.81.001830-2
(TRF 3ª REGIÃO – 1ª SEÇÃO - DJF3 DATA:27/05/2008)

PENAL - EMBARGOS INFRINGENTES - ART. 1º, INC. I, DA LEI Nº 8.137/90 - FALTA DE


ENTREGA DE FORMULÁRIO DE IMPOSTO DE RENDA - LAVRATURA DE AUTO DE
INFRAÇÃO PELA RECEITA FEDERAL - AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE DOCUMENTAL - TIPO
PENAL DE OCULTAÇÃO COM FRAUDE - NÃO CARACTERIZAÇÃO - ATIPICIDADE -
A NÃO APRESENTAÇÃO DE DECLARAÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA QUANDO
PRESENTE RENDA TRIBUTÁVEL CONFIGURA O DELITO DO ART. 1º I DA LEI PROVIMENTO DO RECURSO. 1.- A conduta de falta de entrega de

8137/90? declaração de imposto de renda à Receita Federal não configura


delito, porquanto não há materialidade documental passível de
ocorrer a fraude, elemento característico do crime contra a
ordem tributária e necessário ao perfazimento da figura típica.
2. Embargos providos.

PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. MATERIALIDADE E


CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA - SONEGAÇÃO FISCAL - FRAUDE
AUTORIA COMPROVADAS. CONTA CORRENTE EM NOME DE TERCEIRO. CONSISTENTE NA INSERÇÃO DE VALORES INFERIORES AOS
DESTACADOS EM NOTAS FISCAIS NO LIVRO OBRIGATÓRIO, CAUSANDO
SONEGAÇÃO FISCAL. FRAUDE. ELEMENTO DO TIPO.
REDUÇÃO NO RECOLHIMENTO DE ICMS -ATRIBUIÇÃO DE
1. Todo o conjunto probatório aponta o réu como beneficiário da conta RESPONSABILIDADE AO CONTADOR
corrente aberta em nome de terceiro, restando comprovadas a - Impossibilidade: Sendo o agente o único sócio responsável pela
materialidade e a autoria do crime. 2. Os crimes de sonegação fiscal administração da empresa, não pode, simplesmente, alegar que determinado
previstos no art. 1º da Lei 8.137/90 têm existência própria e escritório de contabilidade, cujo profissional sequer nominou, seria o
exigem, para sua configuração, a existência de fraude. 3. No caso responsável pela escrituração contábil. Como responsável pela empresa deve,
em tela, os elementos dos autos indicam que a prática da falsidade foi de qualquer modo, fiscalizar a atuação de seus subordinados e contratados e,
meio para sonegar tributo, sendo, assim, absorvida pelo crime contra sendo o único beneficiado com a fraude, deve responder pela conduta criminosa.
ordem tributária. 4. Recurso desprovido. (TRF 2ª REGIÃO: ACR 4984 RJ
[...] (TJSP: APL 990091503916 SP, 15ª Câmara de Direito Criminal,
2005.51.01.517966-3 , Desembargadora Federal LILIANE RORIZ, SEGUNDA
DESEMBARGADOR J. MARTINS, Julgamento 11 de Novembro de 2010 ,
TURMA ESPECIALIZADA, Julgamento 3 de Junho de 2008 , DJU -
Publicação 03/12/2010 )
Data::17/06/2008 - Página::301)

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Sonegação Fiscal Outros delitos

Art. 2° Constitui crime da mesma natureza:


Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição
(...) II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição
social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos;
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de
III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer
qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;
III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de

documento relativo à operação tributável; contribuição como incentivo fiscal;


IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo
inexato; fiscal ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de
(...) Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. desenvolvimento;
Art. 2° Constitui crime da mesma natureza:
V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao
I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra
sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa
fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo;
daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

CRIME TRIBUTÁRIO COMO DELITO DE INFRAÇÃ DE DEVER?


PENAL. RECURSO ESPECIAL. SONEGAÇÃO FISCAL. ACÓRDÃO A QUO QUE FIRMOU A ATIPICIDADE
DA CONDUTA. OMISSÃO NA APRESENTAÇÃO DE DECLARAÇÕES (DIPJ). FATO TÍPICO. ACÓRDÃO
CASSADO. 1. A conduta omissiva de não prestar declaração ao Fisco com o fim de obter a redução
ou supressão de tributo, quando atinge o resultado almejado, consubstancia crime de sonegação
fiscal, na modalidade do inciso I do art. 1º da Lei n. 8.137/1990. 2. A constituição do crédito tributário,
por vezes, depende de uma obrigação acessória do contribuinte, como a declaração do fato gerador da
obrigação tributária (lançamento por declaração). Se o contribuinte não realiza tal ato com vistas a não
pagar o tributo devido ou a reduzir o seu valor, comete o mesmo crime daquele que presta informação Tema
incompleta. 3. A circunstância de o Fisco dispor de outros meios para constituir o crédito tributário, ante a
omissão do contribuinte em declarar o fato gerador, não afasta a tipicidade da conduta; o arbitramento
efetivado é uma medida adotada pelo Fisco para reparar a evasão decorrente da omissão e uma evidência Conceito Legal de Fraude Tributária
de que a conduta omissiva foi apta a gerar a supressão ou, ao menos, a redução do tributo na apuração. 4.
No caso concreto, verifica-se que o Juízo de piso firmou expressamente que as declarações omitidas
implicaram redução de tributos, os quais só foram apurados mediante procedimento administrativo fiscal, e
que o recorrido agiu de forma dolosa, circunstâncias que firmam, a priori, a tipicidade do crime. 5. Recurso
especial provido a fim de cassar o acórdão impugnado, determinando-se que o Tribunal a quo prossiga no
julgamento do apelo defensivo, afastada a tese de atipicidade. (STJ: REsp 1561442 / SP, Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, Data do Julgamento 23/02/2016 Data da Publicação/Fonte, DJe
09/03/2016)

Lei 4502/64

Art . 72. Fraude é tôda ação ou omissão dolosa


tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, Tema

a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária ELUSÃO FISCAL


principal, ou a excluir ou modificar as suas
características essenciais, de modo a reduzir o
montante do impôsto devido a evitar ou diferir o seu
pagamento.

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ELISÃO FISCAL Elisão Fiscal – planejamento tributário, é a atuação do


contribuinte que, evitando a ocorrência do fato
gerador, escapa da incidência da tributação.
EVASÃO FISCAL

ELUSÃO FISCAL Evasão Fiscal – conduta do contribuinte que, após a


ocorrência do fato gerador, visa frustrar o pagamento
do tributo.

Planejamento Fraude

FATO GERADOR CRIME ORGANIZADO E A APARENTE LICITUDE DAS


CONDUTAS

Elisão Fiscal Evasão Fiscal

APARENTE LICITUDE DA CONDUTA


CRIME DO COLARINHO BRANCO

“Em seus estudos, Sutherland descortinou outra característica que se


revelou evidenciada em crimes deste jaez, qual seja, o fato de que o crime
"White colar crime” é expressão que designa pessoas de nível sócio-econômico do “colarinho branco” é, mais do que deliberado, um crime
superior, que, desviando-se de suas atividades normais, ingressam no mundo do verdadeiramente organizado. ... verifica-se uma agregação ... no sentido
crime, causando graves lesões à coletividade. de planejar o delito de forma tal que a conduta ostente, em si, um “ar
delicitude”, a fim de que em absoluto transpareça a ilegalidade. ... A
perspicácia do juiz é fator imperioso ...”
Trata-se de um "criminoso de luxo", que "não passa recibo", e, pois, em processo
em que esteja envolvido, enorme será a dificuldade do Ministério Público para
obter êxito na persecução criminal.” (Luciano Feldens, Tutela Penal de Interesses Difusos...)

(Sérgio Demoro Hamilton, Temas: Aspectos da Prova Indiciária)

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Art.116 CTN
...

Parágrafo único. A autoridade administrativa


A DESCONSIDERAÇÃO DOS FATOS APARENTES PELA LEI
TRIBUTÁRIA poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos
praticados com a finalidade de dissimular a
ocorrência do fato gerador do tributo ou a
natureza dos elementos constitutivos da obrigação
tributária, observados os procedimentos a serem
estabelecidos em lei ordinária.

ELUSÃO FISCAL

ELUSÃO FISCAL

Conduta do contribuinte que, abusando das formas Proprietário


Comprador (B)
jurídicas, simula a não ocorrência do fato gerador. de Imóvel (A)

A conduta é ilícita, tanto quanto a evasão fiscal.


Contrato de
Compra e Venda

ITBI

Constituição de Sociedade para evitar o tributo

I
N
T A B
E
G
R
A
TEMA
L
I Imóvel Dinheiro ($$$) Cap. Social = Imóvel + Dinheiro
Z
A
Ç Histórico e Legislação
Ã
O

Distrato

A Dinheiro ($$$)
“Não ocorrência” do fato gerador

B Imóvel

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ANTECEDENTES

Contrabando ou descaminho
Código Criminal do Império: criminalização do contrabando e do
descaminho (crimes contra o tesouro público).
Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou
em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela
Código Penal de 1890: criminalização do contrabando e do
saída ou pelo consumo de mercadoria:
descaminho (crimes contra a fazenda pública).
Pena - reclusão, de um a quatro anos.

...
Código Penal de 1940: contrabando e descaminho (crimes contra
a administração pública) / sonegação resolvida como delito de
falsidade ideológica.

Lei 4357/64

Art 11. Inclui-se entre os fatos constitutivos do crime de apropriação


indébita, definido no art. 168 do Código Penal, o não-recolhimento,
dentro de 90 (noventa) dias do término dos prazos legais:
LEI 4729/65
a)das importâncias do Impôsto de Renda, seus adicionais e
empréstimos compulsórios, descontados pelas fontes pagadoras de
(Crimes de Sonegação Fiscal)
rendimentos;

b) do valor do Impôsto de Consumo indevidamente creditado nos


livros de registro de matérias-primas (modêlos 21 e 21-A do
Regulamento do Impôsto de Consumo) e deduzido de recolhimentos
quinzenais, ...
...

Lei 4729/65

Art 1º Constitui crime de sonegação fiscal:

I - prestar declaração falsa ou omitir, total ou parcialmente, informação LEI 8137/90


que deva ser produzida a agentes das pessoas jurídicas de direito público
interno, com a intenção de eximir-se, total ou parcialmente, do
pagamento de tributos, taxas e quaisquer adicionais devidos por lei; (Crimes contra a ordem tributária)
...

Pena: Detenção, de seis meses a dois anos, e multa de duas a cinco vêzes o
valor do tributo.

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Modificação Sistemática

Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária Lei 4729/65 Crimes formais
suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição
social e qualquer acessório, mediante as
seguintes condutas:
Lei 8137/90 Crimes Materiais

Classificação dos Crimes contra a ordem tributária

TEMA
1) Aduaneiros (Art. 334 CP)
2) Sonegação Fiscal (Lei Art. 1º e 2º L. 8137/90 e Art. 337-A CP)
Crimes Tributários: Constitucionalidade
3) Apropriação Indébita (Art. 168-A CP e 2º II L. 8137/90)
4) Crimes Funcionais (Art. 3º Lei 8137/90 e Art. 318 CP)

DISCUSSÃO CONTROVERTIDO

1ª Corrente – LUCIANO AMARO – TRATA-SE DE


PRISÃO POR DÍVIDA (Argumento a fortiori).
CRIMES TRIBUTÁRIOS CONFIGURAM

PRISÃO POR DÍVIDA??

Art. 5º LXVII C.R.


2ª Corrente – LUIZ FLÁVIO GOMES – PUNE-SE
CONDUTAS QUE DE PER SE JÁ SÃO CRIMES.

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APELAÇÃO CRIMINAL - Processo: 200061810061145 UF: SP Origem: TRF-2 Classe: ACR - APELAÇÃO CRIMINAL - 5603 Processo:
(TRF 3ª REGIÃO – 5ª TURMA - 13/05/2003) 2003.50.01.006779-3 UF : RJ Orgão Julgador: PRIMEIRA TURMA
ESPECIALIZADA Fonte DJU - Data::04/03/2009
- O dispositivo legal que serviu de suporte à denúncia é constitucional,
pois visa a proteger a Previdência Social, direito reconhecido pelo art. EMENTA: (...) III - Não há inconstitucionalidade no dispositivo legal em
6º da Lei Maior. Ademais, atende aos princípios norteadores da comento, que não preconiza a prisão por dívida, mas a prisão-pena em
Seguridade Social expressos nos arts. 194 e 195 da CF. A ação penal decorrência da prática de fato considerado pelo legislador como ilícito
não objetiva a cobrança do débito. O art. 95, "d", da Lei nº penal, dada a relevância do bem jurídico tutelado. A Constituição da
8.212/91 tem por fim a defesa da ordem econômico-tributária e, República de 1988 de modo algum veda a previsão de crime patrimonial ou
especialmente, a garantia do regular funcionamento do sistema tributário, como quer fazer prevalecer a tese defensiva. (...) Relator
securitário público. Se o legislador tipificou a conduta de omissão Desembargador Federal ABEL GOMES Decisão A Turma, por unanimidade, deu
de recolhimento da importância arrecadada dos segurados ao parcial provimento ao recurso da defesa e negou provimento ao recurso do
INSS, não há prisão civil por dívida. Se a conduta é penalmente Ministério Público Federal
relevante, a prisão, conseqüentemente, é penal. ...”

Princípio da Insignificância

TEMA

Crimes Tributários e Princípio da Insignificância Crimes de Perigo


Crimes Materiais (Lesão)
(Crimes de Bagatela)

Exclusão da Tip. Material ?????

Doutrina
STF - HC 82324 / SP – (STF – 1ª Turma - DJ 22-11-2002)

EMENTA: (...) não admitiu o princípio da insignificância ou crime de


bagatela quanto a crime de posse e de uso de substância entorpecente,
... Nesse sentido, os RHCs 51.235 e 45.973, HCs 68.516, 69.806, 71.638 e Art. 1º (Crimes Materiais)
74.661, e o RC 108.697. "Habeas corpus" indeferido.

2005.050.00858 - APELACAO CRIMINAL - DES. ANGELO MOREIRA


Lei n. 8.137/90
GLIOCHE - Julgamento: 09/06/2005 - OITAVA CAMARA CRIMINAL

Apelação. Art. 16 da Lei 6.368/76. (...) A circunstância de ser pequena a Art. 2º (Crimes Formais)
quantidade de entorpecente não descaracteriza o crime definido no artigo 16 da
Lei de Tóxicos. O crime de uso de entorpecente é de perigo abstrato. Não é
possível o acolhimento do princípio da insignificância. Recurso desprovido.

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1. Para configuração do delito previsto no art. 168-A, do


Lei 8137/90 Código Penal, basta a intenção de não repassar à
previdência social as contribuições recolhidas dos
Art. 2° Constitui crime da mesma natureza:
contribuintes, no prazo e forma legal, conduta
essencialmente omissiva 2. Existência de elementos hábeis
I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre a comprovar a autoria e materialidade do delito tipificado no
rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para art. 168-A, do Código Penal. 3. Quanto a lesão à
eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de seguridade social é insignificante, não se justifica a
tributo; instauração da ação penal. (TRF 1ª REGIÃO, ACR
199901001034413/MT, TOURINHO NETO, TERCEIRA
TURMA, DJ DATA: 23/9/2005)

Insignificância no crime tributário


(bem jurídico transindividual)
Tema

Princípio da Insignificância e delito


tributário. Questões fundamentais e Delito de Acumulação
Interesse fiscal como
condicionante do
interesse penal
controvérsias.

Paradigma do
Descaminho

XXXVIII Concurso para a Magistratura de Carreira – TJRJ

CONTRADIÇÃO
DIREITO PENAL

1ª QUESTÃO (VALOR: TRÊS PONTOS) :

Turíbulo, rico comerciante, pretendendo sonegar tributo estadual (ICMS), majorou despesas
e praticou outros atos que o fizeram incidir nas sanções do art. 1º, IV da lei 4.729/65, sendo
INSIGNIFICÂNCIA CONDUTA
por isto denunciado.

A Defesa suscitou a tese de a conduta de seu defendido ter sido irrelevante para o Direito
Penal, invocando em seu abono, entre outras, a seguinte decisão do E. STJ, nestes termos:

Fatos geradores PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. FURTO.

1000 É aplicável ao caso o princípio da insignificância, visto que o valor furtado (R$ 13,00) é
????? BEM JURÍDICO
1000 ínfimo, justificando o trancamento da ação penal intentada. Precedente citado, HC 11.542-
... DF, DJ 10/04/2000”. (HC 27.218-MA, - 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em

10000 10/06/2003).

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O M.P., por sua vez, embora reconhecendo modesta a majoração, afirmou ser inviável a aplicação de tal LEI 10522/2002
princípio, ante o entendimento de não estar prevista no C.P. brasileiro, chamando à colação, entre outros, o
julgado do E. STJ, nestes termos:

Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante


TÓXICO. PEQUENA QUANTIDADE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. PERIGO PRESUMIDO. requerimento do Procurador da Fazenda Nacional, os autos das
O crime tipificado no artigo 16 da Lei de Tóxicos é o de posse de entorpecente para uso próprio, ajustando-
execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida Ativa da União
se-lhe à essência a pequena quantidade, própria à utilização individual, como é o caso da espécie, em que
se apreendeu 0,6 grama de maconha. O delito em exame é de perigo abstrato para a saúde pública, pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrados,
caracterizando-se, portanto, com a aquisição, guarda ou posse, para uso próprio, de substância
entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com a de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil
autorização legal ou regulamentar, fazendo-se irrelevante que seja pequena a quantidade de entorpecente.
reais).
Precedentes citados: RHC 11.122-RS, DJ 20/08/2001; RHC 9.483-SP, DJ 04/09/2000; HC 10.871-MG, DJ
17/04/2000; HC 16.913-RS, DJ 05/11/2001, e Resp 212.959-MG, D 28/05/2001)”. § 1o Os autos de execução a que se refere este artigo serão
(HC 23.969-RJ, 6ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, julgado em 09/09/2003).
reativados quando os valores dos débitos ultrapassarem os limites
Como Magistrado, manifeste-se ou decida a questão, justificada e concisamente, discorrendo de forma
sucinta sobre a tese suscitada – princípio da insignificância – frente ao relatado. indicados.

Lei 10522/2002

Art. 18. Ficam dispensados a constituição de créditos da Fazenda

Nacional, a inscrição como Dívida Ativa da União, o ajuizamento da

respectiva execução fiscal, bem assim cancelados o lançamento e a

inscrição, relativamente:
JURISPRUDÊNCIA VACILANTE

(...)

§ 1o Ficam cancelados os débitos inscritos em Dívida Ativa da

União, de valor consolidado igual ou inferior a R$ 100,00 (cem

reais).

CONTINUAÇÃO

DIREITO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. DESCAMINHO. TRANCAMENTO DA


AÇÃO PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INOCORRÊNCIA. DECISÃO (...) 2. A lesividade da conduta, no delito de descaminho, deve ser tomada em
RECONSIDERADA. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. As freqüentes relação ao valor do tributo incidente sobre as mercadorias apreendidas. O art. 20,

modificações nos critérios para aplicação do princípio da insignificância caput, da Lei nº 10.522/2002 se refere ao ajuizamento da ação de execução ou
arquivamento sem baixa na distribuição, não ocorrendo, pois, a extinção do crédito, daí
na hipótese de prática de crime de descaminho suscitaram nesta Corte
não se poder invocar tal dispositivo normativo para regular o valor do débito caracterizador
novas reflexões sobre o critério até aqui utilizado. Neste sentido, observou o
de matéria penalmente irrelevante. In casu, o valor do tributo incidente sobre as
eminente Ministro Félix Fischer: “... acredito que esse entendimento há de ser
mercadorias apreendidas é superior ao patamar estabelecido no dispositivo legal
revisto, devendo ser alterado tal critério, pois, como já vinha ressalvando, o que determina a extinção dos créditos fiscais (art. 18, § 1º, da Lei nº
valor limite para a execução carece de sentido mesmo em matéria 10.522/2002), logo, não se trata de hipótese de desinteresse penal específico. 3.
extra-penal” (HC 41700/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, O valor referência utilizado pela fazenda pública, quanto aos débitos inscritos em Dívida
julgado em 17.05.2005, DJ 20.06.2005 p. 321). (...) (STJ: AgRg no AgRg no Ativa da União, é, pois, cem reais, conforme o artigo 18, §1o, da Lei 10.522/2002,

REsp 981393 / RS, DJe 09.06.2008) e corresponde ao valor máximo que o erário está disposto a abrir mão, por meio do
cancelamento. O mencionado arquivamento não implica em renúncia fiscal, mas, tão-
somente, denota a política quanto à prioridade para efeito de cobrança imediata, conferida
aos montantes mais elevados. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.

11
07/08/2019

PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA. DESCAMINHO.

DESCAMINHO. PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA.


Os pacotes de cigarro e litros de uísque apreendidos por entrada ilegal no País
totalizavam quase sete mil reais. Assim, não é possível incidir, nesse crime de
descaminho, o princípio da insignificância, pois o parâmetro contido no art. 20 da Depreende-se dos autos que o paciente foi denunciado pela suposta prática do crime
Lei n. 10.522/2002 (dez mil reais) diz respeito ao arquivamento, sem baixa na tipificado no art. 334 do CP. Rejeitada a exordial acusatória, o Ministério Público
distribuição, da ação de execução fiscal (suspensão da execução), o que denota sua
Federal, em recurso em sentido estrito no TJ, obteve seu reconhecimento, sendo também
inaptidão para caracterizar o que deve ser penalmente irrelevante. Melhor padrão para
mantida em embargos infringentes de nulidade. No habeas corpus, pugna o paciente
esse fim é o contido no art. 18, § 1º, daquela mesma lei, que cuida da extinção do débito
fiscal igual ou inferior a cem reais. Anote-se que não se desconhecem recentes pela aplicação do princípio da insignificância em razão do baixo valor dos tributos
julgados do STF no sentido de acolher aquele primeiro parâmetro (tal qual faz a devidos. O Min. Relator observou que o montante do valor sonegado foi de R$
Sexta Turma do STJ), porém se mostra ainda preferível manter o patamar de cem reais,
672,69, superior ao valor fixado no art. 18, § 1º, da Lei n. 10.522/2002, não havendo,
entendimento prevalecente no âmbito da Quinta Turma do STJ, quanto mais na hipótese,
assim, como considerar insignificante a conduta do acusado. Isso posto, a Turma
em que há dúvidas sobre o exato valor do tributo devido, além do fato de que a
denunciada ostenta outras condenações por crimes de mesma espécie. Com esse denegou a ordem de habeas corpus. Precedentes citados: HC 88.619-MG, DJ 9/8/2007, e
entendimento, a Seção conheceu dos embargos e, por maioria, acolheu-os para HC 66.308-SP, DJe 10/3/2008. HC 108.966-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
negar provimento ao especial. EREsp 966.077-GO, Rel. Min. Laurita Vaz, julgados
Filho, julgado em 2/6/2009 (ver Informativo n. 396).
em 27/5/2009.

Descaminho e Princípio da Insignificância

Por ausência de justa causa, a Turma deferiu habeas corpus para determinar o
trancamento de ação penal instaurada contra acusado pela suposta prática do
crime de descaminho (CP, art. 334), em decorrência do fato de haver iludido
impostos devidos pela importação de mercadorias, os quais totalizariam o
montante de R$ 5.118,60 (cinco mil cento e dezoito reais e sessenta centavos). No
caso, o TRF da 4ª Região, por reputar a conduta do paciente materialmente típica, negara aplicação ao
princípio da insignificância ao fundamento de que deveria ser mantido o parâmetro de R$ 2.500,00 (dois
STF E SUA VINCULAÇÃO DE INSTÂNCIAS mil e quinhentos reais) para ajuizamento de execuções fiscais (Lei 10.522/2002) e não o novo limite de
R$ 10.000,00 (dez mil reais) instituído pela Lei 11.033/2004. Inicialmente, salientou-se o caráter
vinculado do requerimento do Procurador da Fazenda para fins de arquivamento de execuções fiscais e a
inexistência, no acórdão impugnado, de qualquer menção a possível continuidade delitiva ou acúmulo de
débitos que conduzisse à superação do valor mínimo previsto na Lei 10.522/2002, com a redação dada
pela Lei 11.033/2004 (...) Entendeu-se não ser admissível que uma conduta fosse
irrelevante no âmbito administrativo e não o fosse para o Direito Penal, que só
deve atuar quando extremamente necessário para a tutela do bem jurídico
protegido, quando falharem os outros meios de proteção e não forem suficientes as tutelas
estabelecidas nos demais ramos do Direito. HC 92438/PR, rel. Min. Joaquim Barbosa, 19.8.2008. (HC-
92438)

Descaminho e Princípio da Insignificância

Por ausência de justa causa, a Turma, em votação majoritária, proveu recurso ordinário em habeas
corpus para trancar ação penal instaurada contra acusado pela suposta prática do crime de descaminho
(CP, art. 334, § 1º, d), em decorrência do fato de ter ingressado em território nacional trazendo Descaminho e princípio da insignificância
mercadorias de origem estrangeira, sem a documentação comprobatória de regularidade fiscal,
alcançando os impostos devidos o montante de R$ 2.528,24 (dois mil quinhentos e vinte e oito
reais e vinte e quatro centavos). No caso, o STJ, enfatizando a reiteração da conduta típica, rejeitara a A 1ª Turma, por maioria, denegou habeas corpus em que se pleiteava a aplicação do
aplicação do princípio da insignificância por considerar que já teria sido instaurado, anteriormente,
princípio da insignificância — em favor de denunciado pela suposta prática do crime
procedimento contra o mesmo paciente por fato semelhante, porém arquivado. Asseverou-se que o
art. 20 da Lei 10.522/2002 determina o arquivamento das execuções fiscais, sem cancelamento da de descaminho —, haja vista o tributo totalizar valor inferior a R$ 10.000,00. Aludiu-
distribuição, quando os débitos inscritos como dívida ativa da União forem iguais ou inferiores a R$
se à Lei 10.522/2002. Nesse tocante, ressaltou-se que não se poderia confundir a
10.000,00 (dez mil reais) — valor este resultante da modificação pela Lei 11.033/2004. Salientou-se que a
jurisprudência do STF é firme no sentido da incidência do princípio da insignificância quando a quantia sonegada não
possibilidade de o Procurador da Fazenda Nacional requerer o sobrestamento de
ultrapassar o valor estabelecido no mencionado dispositivo, o que implicaria falta de justa causa para ação penal pelo execução fiscal, na origem, com a persecução criminal. Salientou-se que a ação penal,
crime de descaminho. Ademais, aduziu-se que a existência de procedimento criminal — arquivado — por fatos similares não se
inclusive, seria pública e, ainda, a cargo do órgão ministerial. Vencidos os Ministros
mostraria suficiente para afastar o aludido princípio, tendo em vista o caráter objetivo da regra estabelecida por esta Corte para o
efeito de se reconhecer o delito de bagatela. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Carlos Britto que desproviam o recurso Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, que concediam a ordem.
por considerar a repetição da prática delituosa, ressaltando que o paciente já fora beneficiado antes pelo instituto da
HC 100986/PR, rel. Min. Marco Aurélio, 31.5.2011. (HC-100986)
insignificância pelo mesmo crime. Alguns precedentes citados: HC 96374/PR (DJE de 23.4.2009); HC 96309/RS (DJE de
24.4.2009); RE 514531/RS (DJE de 6.3.2009). RHC 96545/SC, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 16.6.2009. (RHC-96545)

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07/08/2019

PORTARIA MF No 75, DE 22 DE MARÇO DE 2012

D.O.U.: 26.03.2012*
(*) Republicada no DOU de 29.03.2012 por ter saído com incorreção no original.

Dispõe sobre a inscrição de débitos na Dívida Ativa da União e o ajuizamento de execuções fiscais pela Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional.

O MINISTRO DE ESTADO DA FAZENDA, no uso da atribuição que lhe confere o parágrafo único, inciso II, do art. 87 da Constituição da
PORTARIA MF 75/2012: ESTUDO DO IPEA A EMBASAR NOVO PATAMAR
República Federativa do Brasil e tendo em vista o disposto no art. 5º do Decreto-Lei nº 1.569, de 8 de agosto de 1977; no parágrafo único do art. 65 da
Lei nº 7.799, de 10 de julho de 1989; no § 1º do art. 18 da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002; no art. 68 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de
1996; e no art. 54 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, resolve:

Art. 1º Determinar:
I - a não inscrição na Dívida Ativa da União de débito de um mesmo devedor com a Fazenda Nacional de valor consolidado igual ou inferior a R$
1.000,00 (mil reais); e
II - o não ajuizamento de execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00
(vinte mil reais).
§ 1º Os limites estabelecidos no caput não se aplicam quando se tratar de débitos decorrentes de aplicação de multa criminal.
§ 2º Entende-se por valor consolidado o resultante da atualização do respectivo débito originário, somado aos encargos e acréscimos legais ou
contratuais, vencidos até a data da apuração.

“ [...] Esclareça-se, por fim, que é inaplicável para estabelecimento da insignificância penal, por falta de base
legal, o valor de R$ 20.000,00, recentemente previsto no artigo 1º, II, da recente Portaria nº 75 do Ministério da
Fazenda, de 22/3/2012, publicada em 26/3/2012, que dispõe sobre a inscrição de débitos na Dívida Ativa e o AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. DESCAMINHO. PRINCÍPIO DA
ajuizamento de execuções fiscais pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Por esse dispositivo a Fazenda INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. PRECEDENTES. LEI N. 10.522/02.
Nacional ficou desonerada de ajuizar executivos fiscais se a dívida for igual ou inferior a R$ 20.000,00, mas se trata de VALOR ELIDIDO SUPERIOR A R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS). PORTARIA N.
norma de estatura inferior à da lei, desconhecendo-se na Lei nº 10.522/02 algum dispositivo que autorizasse o agente do 75/2012, DO MINISTÉRIO DA FAZENDA. DESCABIMENTO. AGRAVO
Ministério da Fazenda a "manejar" valores para fins de persecução das dívidas. [...]” (TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL REGIMENTAL IMPROVIDO.
DA 3ª REGIÃO - APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0010369-33.2006.4.03.6108/SP - 2006.61.08.010369-0/SP RELATOR : I - A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, apreciando a questão da aplicação do
Desembargador Federal JOHONSOM DI SALVO - D.E. Publicado em 14/8/2012) princípio da insignificância ao crime de descaminho, no julgamento do Recurso Especial
Representativo de Controvérsia n. 1.112.748/TO, sedimentou o entendimento segundo o qual
somente é cabível o reconhecimento do delito de bagatela aos débitos tributários que não
ultrapassem o teto de R$ 10.000,00 (dez mil reais), em conformidade com o art. 20 da Lei n.
10.522/2002.
EMENTA: PENAL. PROCESSO PENAL. DESCAMINHO. ART. 334 DO CÓDIGO PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. VALOR DOS
II - A Portaria n. 75, de 22 de março de 2012, do Ministério da Fazenda, não conduz à
TRIBUTOS ELIDIDOS. PIS/COFINS. MULTA E CORREÇÃO MONETÁRIA. NÃO INCLUSÃO. 1. Firmou-se na jurisprudência a aplicação do
princípio da insignificância ao crime de descaminho, nos termos do entendimento do Supremo Tribunal Federal, segundo o qual é
conclusão diversa. Se a execução fiscal pode prosseguir por valor inferior a R$ 20.000,00
inadmissível que a conduta seja irrelevante para a Administração Fazendária e não o seja para o Direito Penal. 2. O parâmetro utilizado (vinte mil reais), consoante a disciplina legal, então tal montante não pode ser considerado
para a aferição da tipicidade material da conduta, no valor de R$ 10.000,00, tinha por base o art. 20 da Lei n° 10.522/2002 e a insignificante.
Portaria nº 49 do Ministério da Fazenda, de 1º/04/2004, e foi modificado pela Portaria nº 75 do Ministério da Fazenda, de 26/03/2012, III - In casu, o valor do tributo elidido é superior ao patamar fixado por esta Corte Superior.
que alterou para R$ 20.000,00 o valor para arquivamento das execuções fiscais, patamar que deve ser observado para os fins
IV - Agravo regimental improvido. (STJ: AgRg no HABEAS CORPUS Nº 216.368 – RS,
penais, nos termos da referida orientação jurisprudencial. 3. O montante dos impostos suprimidos deve considerar o Imposto de
Importação e o IPI, sem o cômputo do PIS e COFINS. Entendimento do Superior Tribunal de Justiça. 4. A aferição do valor tributário
5ª Turma)
elidido, para fins de insignificância, não inclui encargos adicionados sobre aquele valor, como multas e atualização monetária.
Precedentes. (TRF4 5000128-43.2011.404.7002, Sétima Turma, Relator p/ Acórdão José Paulo Baltazar Junior, D.E. 10/07/2013)

PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE CONTRABANDO. PRINCÍPIO


DA INSIGNIFICÂNCIA.APLICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. REITERAÇÃO
DELITIVA. ORDEM DENEGADA. I – Nos termos da jurisprudência deste
Tribunal, o princípio da insignificância deve ser aplicado ao delito de
descaminho quando o valor sonegado for inferior ao estabelecido no art. 20 da Lei
10.522/2002, com as atualizações feitas pelas Portarias 75 e 130, ambas do
Ministério da Fazenda. II – No caso sob exame, o paciente detinha a posse, sem a
documentação legal necessária, de 22.500 (vinte e dois mil e quinhentos) maços de
STF COMEÇANDO A ADOTAR O CRITÉRIO DAS PORTARIAS cigarro de origem estrangeira, que, como se sabe, é típica mercadoria trazida do
exterior, sistematicamente, em pequenas quantidades, para abastecer um intenso
comércio clandestino, extremamente nocivo para o País, seja do ponto de vista
tributário, seja do ponto de vista da saúde pública. III – Os autos dão conta da
reiteração delitiva, o que impede a aplicação do princípio da insignificância em
favor do paciente em razão do alto grau de reprovabilidade do seu comportamento.
IV - Ordem denegada. (STF: HC 118000 / PR , Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe-182 DIVULG 16-09-2013 PUBLIC
17-09-2013)

Fazendo referência, mas afastando por se tratar de contrabando.

13
07/08/2019

PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE DESCAMINHO. VALOR SONEGADO INFERIOR AO FIXADO NO ART. 20 DA
Princípio da insignificância: alteração de valores por portaria e execução fiscal
LEI 10.522/2002, ATUALIZADO PELAS PORTARIAS 75/2012 E 130/2012 DO MINISTÉRIO DA FAZENDA.
A 2ª Turma, em julgamento conjunto, deferiu “habeas corpus” para restabelecer as sentenças de primeiro grau que, RETROATIVIDADE DA NORMA MAIS BENÉFICA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE.
com fundamento no CPP (“Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o PRECEDENTES. ORDEM CONCEDIDA. I - Nos termos da jurisprudência deste Tribunal, o princípio da

juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: ... III - que o fato narrado evidentemente não insignificância deve ser aplicado ao delito de descaminho quando o valor sonegado for inferior ao estabelecido
no art. 20 da Lei 10.522/2002, atualizado pelas Portarias 75/2012 e 130/2012 do Ministério da Fazenda, que, por se
constitui crime”), reconheceram a incidência do princípio da insignificância e absolveram sumariamente os
tratar de normas mais benéficas ao réu, devem ser imediatamente aplicadas, consoante o disposto no art. 5º, XL,
pacientes. Na espécie, os pacientes foram denunciados como incursos nas penas do art. 334, § 1º, d, c/c o § 2º,
da Carta Magna. II – Ordem concedida para restabelecer a sentença de primeiro grau, que reconheceu a incidência do
ambos do CP (contrabando ou descaminho). A Turma observou que o art. 20 da Lei 10.522/2002 determinava o
princípio da insignificância e absolveu sumariamente o ora paciente com fundamento no art. 397, III, do Código de
arquivamento das execuções fiscais, sem cancelamento da distribuição, quando os débitos inscritos como Processo Penal. (HC 122213 / PR, Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe-113 DIVULG 11-06-2014
dívidas ativas da União fossem iguais ou inferiores a R$ 10.000,00. Destacou que, no curso dos processos, PUBLIC 12-06-2014)
advieram as Portarias 75/2012 e 130/2012, do Ministério da Fazenda, que atualizaram os valores para R$
20.000,00. Asseverou que, por se tratar de normas mais benéficas aos réus, deveriam ser imediatamente aplicadas,
Habeas corpus. Processual Penal. Descaminho (CP, art. 334, § 1º, alínea d). Trancamento da ação penal. Pretensão à
nos termos do art. 5º, XL, da CF. Aduziu que, nesses julgados, além de o valor correspondente ao não recolhimento
aplicação do princípio da insignificância. Contumácia na conduta. Não cabimento. Ausência de constrangimento ilegal.
dos tributos ser inferior àquele estabelecido pelo Ministério da Fazenda, a aplicação do princípio da bagatela seria
Ordem denegada. 1. Não obstante a expressividade financeira do tributo em tese sonegado delituosamente pelo
possível porque não haveria reiteração criminosa ou introdução, no País, de produto que pudesse causar dano à paciente seja inferior ao patamar estipulado pelo art. 20 da Lei nº 10.522/02 - atualizado pelas Portarias nºs 75 e
saúde. Os Ministros Teori Zavascki e Cármen Lúcia concederam a ordem com ponderações. O Ministro Teori 130/12 do Ministério da Fazenda -, entendo não ser possível acatar a tese de irrelevância material da conduta
Zavascki salientou o fato de portaria haver autorizado e dobrado o valor da dispensa de execução. A Ministra praticada, tendo em vista que as informações presentes nos autos dão conta de que o ora paciente seria um

Cármen Lúcia observou que “habeas corpus” não seria instrumento hábil a apurar valores. HC 120620/RS e HC infrator contumaz na modalidade delituosa, ainda que, formalmente, não se possa reconhecer, na espécie, a
existência da reincidência. 2. Ordem denegada. (HC 121383 / PR, Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, DJe-122
121322/PR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 18.2.2014. (HC-120620)
DIVULG 23-06-2014 PUBLIC 24-06-2014)

STJ  CAMINHANDO PARA SEGUIR O STF STF: APLICAÇÃO RETROATIVA (INSIGNIFICÂNCIA NA DATA DO FATO OU DA
SENTENÇA)?

[...] Saliente-se, por oportuno, que a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na sessão
PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE DESCAMINHO. VALOR SONEGADO
eletrônica iniciada em 22/11/2017 e finalizada em 28/11/2017, decidiu afetar os Recursos Especiais n.
1.709.029/MG e 1.688.878/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, a fim de propor a revisão da tese INFERIOR AO FIXADO NO ART. 20 DA LEI 10.522/2002, ATUALIZADO PELAS
firmada no Tema 157/STJ (REsp 1.112.748/TO), nos termos do art. 927, § 4º, do CPC e art. 256-S do PORTARIAS 75/2012 E 130/2012 DO MINISTÉRIO DA FAZENDA. PRINCÍPIO
RISTJ, com a seguinte questão submetida a julgamento: "Discute-se a revisão da tese fixada no REsp
DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO. PRECEDENTES. ORDEM CONCEDIDA. I -
n. 1.112.748/TO (representativo de controvérsia) - Tema 157, a fim de adequá-la ao entendimento
Nos termos da jurisprudência deste Tribunal, o princípio da insignificância deve ser
externado pela Suprema Corte, no sentido de considerar o parâmetro estabelecido nas Portarias
n. 75 e 130/MF (vinte mil reais) para aplicação do princípio da insignificância aos crimes tributários aplicado ao delito de descaminho quando o valor sonegado for inferior ao estabelecido no
federais e de descaminho". II - Contudo, imperioso destacar, não ser essa a questão envolvida no art. 20 da Lei 10.522/2002, com as atualizações feitas pelas Portarias 75 e 130, ambas do
presente recurso. Na hipótese dos autos, verifica-se que o valor de tributo suprimido é inferior ao até
Ministério da Fazenda. Precedentes. II – Mesmo que o suposto delito tenha sido
então admitido por esta Corte Superior. Afastou-se o princípio da insignificância, não pelo valor do tributo
praticado antes das referidas Portarias, conforme assenta a doutrina e
sonegado, repita-se, mas sim por verificar a habitualidade delitiva da ora agravante. III - Não é possível
a aplicação do princípio da insignificância ao crime de descaminho quando houver informações acerca jurisprudência, norma posterior mais benéfica retroage em favor do acusado. III –
da existência de outros procedimentos administrativos fiscais, indicando elevado grau de Ordem concedida para trancar a ação penal. (HC 139393 / PR, Min. RICARDO
reprovabilidade do comportamento do acusado e maior potencial de lesividade ao bem jurídico tutelado.
LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe-089 DIVULG 28-04-2017 PUBLIC 02-05-
Precedentes. [...](AgRg no REsp 1694698 / RS, Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJe
2017)
18/12/2017)

PATAMAR DA EXECUÇÃO FISCAL FEDERAL E TRIBUTOS DE ESTADOS/MUNICÍPIOS VALOR A SER CONSIDERADO PARA FINS DE BAGATELA

DIREITO PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO CASO DE CRIMES RELACIONADOS A [...] 1. Definindo o parâmetro de quantia irrisória para fins de aplicação do princípio da

TRIBUTOS QUE NÃO SEJAM DA COMPETÊNCIA DA UNIÃO. insignificância em sede de descaminho, a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento do Recurso Especial Representativo de Controvérsia nº 1.112.748/TO, pacificou o

É inaplicável o patamar estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, no valor de R$ 10 mil, para se entendimento no sentido de que o valor do tributo elidido a ser objetivamente considerado é aquele

afastar a tipicidade material, com base no princípio da insignificância, de delitos concernentes a de R$ 10.000,00 (dez mil reais) previsto no artigo 20 da Lei nº 10.522/02, parâmetro que vem sendo

tributos que não sejam da competência da União. De fato, o STJ, por ocasião do julgamento do REsp utilizado para fins de aplicação do princípio da insignificância nos crimes contra a ordem tributária

1.112.748-TO, Terceira Seção, DJe 13/10/2009, submetido à sistemática do art. 543-C do CPC, em geral. 2. A consideração, na esfera criminal, dos juros e da multa em acréscimo ao valor

consolidou o entendimento de que deve ser aplicado o princípio da insignificância aos crimes referentes a do tributo sonegado, para além de extrapolar o âmbito do tipo penal implicaria em punição

débitos tributários que não excedam R$ 10 mil, tendo em vista o disposto no art. 20 da Lei 10.522/2002. em cascata, ou seja, na aplicação da reprimenda penal sobre a punição administrativa

Contudo, para a aplicação desse entendimento aos delitos tributários concernentes a tributos que não anteriormente aplicada, o que não se confunde com a admitida dupla punição pelo mesmo fato

sejam da competência da União, seria necessária a existência de lei do ente federativo competente, em esferas diversas, dada a autonomia entre elas. 3. O valor a ser considerado para fins de

porque a arrecadação da Fazenda Nacional não se equipara à dos demais entes federativos. Ademais, aplicação do princípio da insignificância é aquele fixado no momento da consumação do

um dos requisitos indispensáveis à aplicação do princípio da insignificância é a inexpressividade da lesão crime, vale dizer, da constituição definitiva do crédito tributário, e não aquele posteriormente

jurídica provocada, que pode se alterar de acordo com o sujeito passivo, situação que reforça a alcançado com a inclusão de juros e multa por ocasião da inscrição desse crédito na dívida

impossibilidade de se aplicar o referido entendimento de forma indiscriminada à sonegação dos tributos ativa. 4. Recurso improvido. (STJ: REsp 1306425 / RS, Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS

de competência dos diversos entes federativos. Precedente citado: HC 180.993-SP, Quinta Turma, DJe MOURA, SEXTA TURMA, DJe 01/07/2014)

19/12/2011. HC 165.003-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 20/3/2014.

14
07/08/2019

DISCUSSÃO
EMENTA: PENAL. PROCESSO PENAL. DESCAMINHO. ART.
334 DO CÓDIGO PENAL. REITERAÇÃO DELITIVA. PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. Havendo elementos
A reiteração criminosa pode ser utilizada com vistas indicativos de reiteração delitiva na prática do descaminho,

a afastar a aplicação do princípio da insignificância afasta-se a aplicação do princípio da insignificância, em razão do

em sede de descaminho? elevado grau de reprovabilidade da conduta. Entendimento do


Supremo Tribunal Federal. (TRF4 5002009-06.2012.404.7007,
Sétima Turma, Relator p/ Acórdão José Paulo Baltazar Junior,
D.E. 10/07/2013)

HC 66316 / RS (STJ - 5ª Turma - DJ 05.02.2007 p. 307): I. O entendimento desta Corte vem


se firmando no sentido de que o princípio da insignificância deve se aplicado com parcimônia, restringindo-
se apenas as condutas sem tipicidade penal, desinteressantes ao ordenamento positivo. II. Nos delitos

de descaminho, embora o pequeno valor do débito tributário seja condição


necessária para permitir a aplicação do princípio da insignificância, o mesmo pode
ser afastado se o agente se mostrar um criminoso habitual em delitos da espécie.
III. O comportamento do réu, voltado para a prática de reiterada da mesma conduta
criminosa, impede a aplicação do princípio da insignificância. Precedentes. (...) VII. Ordem
denegada.

STF: INSIGNIFICÂNCIA – CARÁTER OBJETIVO


RE 550761 / RS (STF – 1ª TURMA - DJE-018 DIVULG 31-01-2008 PUBLIC 01-02-2008)

EMENTA Recurso extraordinário em matéria criminal. Ausência de prequestionamento. Princípio da


insignificância. Habeas corpus de ofício. (...) 2. Nos termos da jurisprudência da Corte Suprema, o princípio
da insignificância é reconhecido, sendo capaz de tornar atípico o fato denunciado, não sendo adequado
considerar circunstâncias alheias às do delito para afastá-lo. 3. No cenário dos autos, não parece
razoável concluir, com base em dois episódios, que o réu faça da prática do descaminho o seu modo
de vida. 4. Habeas corpus concedido de ofício para cassar o título judicial condenatório formado contra o
réu.

DECISÃO: O Ministério Público Federal ofereceu denúncia em desfavor de Gessi da Motta Xavier, dando-a como
incursa na sanção do artigo 334 do Estatuto Repressivo, por ter em 11.08.2004, introduzido no País mercadorias de
procedência estrangeira (com destinação comercial) avaliadas em R$ 1.278,99 elidindo totalmente o pagamento dos
impostos devidos pela regular importação (II e IPI) estimados pela Receita Federal em R$ 639,50 (fls. 05-6). O MM.
AI-QO 559904 / RS (STF - Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - 1ª turma - DJ 26-08-
Juiz a quo, aplicando o princípio da insignificância, rejeitou a denúncia, com apoio no artigo 43, inc. I, do CPP (fls.
2005 ) 34-6). Irresignado, o Parquet interpôs o presente recurso. Nas razões (fls. 39-42) aduz ser inaplicável o aludido

EMENTA: (...) Descaminho considerado como "crime de bagatela": aplicação do "princípio preceito pois "deve ser visto com a necessária cautela, não podendo ser erigido em escudo imunizante à conduta

da insignificância". Para a incidência do princípio da insignificância só se consideram ilícita praticada pelo denunciado eis que a pratica de forma habitual". (...) Com efeito o presente recurso

aspectos objetivos, referentes à infração praticada, assim a mínima ofensividade da versa exclusivamente sobre a aplicação do princípio da insignificância. É cediço

conduta do agente; a ausência de periculosidade social da ação; o reduzido grau de que o referido preceito destipificante tem larga utilização para afastar do direito

reprovabilidade do comportamento; a inexpressividade da lesão jurídica causada (HC 84.412, 2ª penal, fatos que não produzam relevante lesão a determinado bem jurídico. Assim,

T., Celso de Mello, DJ 19.11.04). A caracterização da infração penal como insignificante não exclui-se a tipicidade das condutas consideradas inexpressivas diante do ínfimo dano causado. Tal benefício,
abarca considerações de ordem subjetiva: ou o ato apontado como delituoso é insignificante, ou aliás, pode ser utilizado, independente - conforme decidiu o Supremo
não é. E sendo, torna-se atípico, impondo-se o trancamento da ação penal por falta de justa Tribunal Federal nos HCs nºs 77003 e 84.412 - dos aspectos subjetivos
causa (HC 77.003, 2ª T., Marco Aurélio, RTJ 178/310). IV. Concessão de habeas corpus de
(habitualidade criminosa) relacionados à propensão delitiva por parte do
ofício, para restabelecer a rejeição da denúncia.
agente. ... (TRF4, RSE 2007.71.18.001319-0, Oitava Turma, Relator Élcio Pinheiro de Castro, D.E.
16/09/2008)

15
07/08/2019

Descaminho e Princípio da Insignificância


Por ausência de justa causa, a Turma, em votação majoritária, proveu recurso ordinário em habeas corpus
para trancar ação penal instaurada contra acusado pela suposta prática do crime de descaminho (CP, art. 334,
§ 1º, d), em decorrência do fato de ter ingressado em território nacional trazendo mercadorias de origem estrangeira,
sem a documentação comprobatória de regularidade fiscal, alcançando os impostos devidos o montante de R$
2.528,24 (dois mil quinhentos e vinte e oito reais e vinte e quatro centavos). No caso, o STJ, enfatizando a
reiteração da conduta típica, rejeitara a aplicação do princípio da insignificância por considerar que já teria
sido instaurado, anteriormente, procedimento contra o mesmo paciente por fato semelhante, porém
Tema
arquivado. Asseverou-se que o art. 20 da Lei 10.522/2002 determina o arquivamento das execuções fiscais, sem
cancelamento da distribuição, quando os débitos inscritos como dívida ativa da União forem iguais ou inferiores a
R$ 10.000,00 (dez mil reais) — valor este resultante da modificação pela Lei 11.033/2004. Salientou-se que a Crimes tributários e a denúncia em crimes societários
jurisprudência do STF é firme no sentido da incidência do princípio da insignificância quando a quantia
sonegada não ultrapassar o valor estabelecido no mencionado dispositivo, o que implicaria falta de justa causa
para ação penal pelo crime de descaminho. Ademais, aduziu-se que a existência de procedimento criminal —
arquivado — por fatos similares não se mostraria suficiente para afastar o aludido princípio, tendo em vista o
caráter objetivo da regra estabelecida por esta Corte para o efeito de se reconhecer o delito de bagatela.
Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Carlos Britto que desproviam o recurso por considerar a repetição da prática
delituosa, ressaltando que o paciente já fora beneficiado antes pelo instituto da insignificância pelo mesmo crime.
Alguns precedentes citados: HC 96374/PR (DJE de 23.4.2009); HC 96309/RS (DJE de 24.4.2009); RE 514531/RS
(DJE de 6.3.2009). RHC 96545/SC, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 16.6.2009. (RHC-96545)

HC 85327 / SP - (STF - 2ª TURMA - DJ 20-10-2006)

PACELLI ...
Mudança de orientação jurisprudencial, que, no caso de crimes societários,
entendia ser apta a denúncia que não individualizasse as condutas de cada
indiciado, bastando a indicação de que os acusados fossem de algum modo
responsáveis pela condução da sociedade comercial sob a qual foram
Denúncia Geral Denúncia Genérica
supostamente praticados os delitos. Precedentes: HC no 86.294-SP, 2a Turma, por
maioria, de minha relatoria, DJ de 03.02.2006; ...

5. Necessidade de individualização das respectivas condutas dos indiciados. 6.


Observância dos princípios do devido processo legal (CF, art. 5o, LIV), da ampla
STF defesa, contraditório (CF, art. 5o, LV) e da dignidade da pessoa humana (CF, art.
1o, III). Precedentes: HC no 73.590-SP, 1a Turma, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ
de 13.12.1996; e HC no 70.763-DF, 1a Turma, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de
23.09.1994. 7. No caso concreto, a denúncia é inepta porque não pormenorizou, de modo
Denúncia Genérica adequado e suficiente, a conduta dos pacientes. 8. Habeas corpus deferido

HC 88600 / SP - (STF - 1ª Turma - DJ 09-03-2007) RHC 24515 / DF (STJ – 6ª TURMA - DJe 16/03/2009)

PROCESSO PENAL – HABEAS CORPUS – CRIME TRIBUTÁRIO – ATRIBUIÇÃO DO DELITO AOS MEMBROS
DA DIRETORIA, POR MERA PRESUNÇÃO - AUSÊNCIA DE VÍNCULO ENTRE UM DETERMINADO ATO E O
EMENTA: PENAL. PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. FALTA DE JUSTA CAUSA.
RESULTADO CRIMINOSO. DENÚNCIA GENÉRICA E CONSAGRADORA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA –
CRIMES SOCIETÁRIOS. SONEGAÇÃO FISCAL. ART. 1º, I E II, DA LEI 8.137/90. ART. 151
RECURSO PROVIDO PARA DECLARAR A INÉPCIA FORMAL DA DENÚNCIA E A CONSEQUENTE NULIDADE
DA LEI 6.404/76. RETIRADA DE DIRETOR ADMINISTRATIVO DE SOCIEDADE ANÔNIMA.
DOS ATOS POSTERIORES. De nada adiantam os princípios constitucionais e processuais
CONTRATO DE ADIANTAMENTO PARA EXPORTAÇÃO FUTURA. REMESSA DE DINHEIRO
do contraditório, da ampla defesa, em suma, do devido processo legal na face
PARA O EXTERIOR. OPERAÇÃO REALIZADA APÓS A SAÍDA DO DIRETOR. ORDEM
CONCEDIDA. I - Falta justa causa para a ação penal quando o paciente demonstra não substantiva e processual, das próprias regras do estado democrático de direito, se

possuir, ao tempo da assinatura do contrato tido por irregular, poder de direção na permitido for à acusação oferecer denúncia genérica, vaga, se não se permitir a

empresa. II - Em que pese a possibilidade de oferecimento da denúncia sem a individualização da conduta de cada réu, em crimes plurissubjetivos. O simples fato de uma pessoa
discriminação precisa das individualizações de conduta, faz-se necessário pertencer à diretoria de uma empresa, só por só, não significa que ela deva ser
explicitar-se minimamente o nexo entre a conduta, o acusado e o resultado responsabilizada pelo crime ali praticado, sob pena de consagração da
ilícito. II - Ordem concedida.
responsabilidade objetiva repudiada pelo nosso direito penal. É possível atribuir aos
denunciados a prática de um mesmo ato (denúncia geral), porquanto todos dele participaram, mas não é possível
narrar vários atos sem dizer quem os praticou, atribuindo-os a todos, pois neste caso não se tem uma denúncia
geral, mas genérica. Recurso provido para declarar a inépcia da denúncia e a nulidade dos atos que lhe
sucederam.

16
07/08/2019

DISCUSSÃO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

CRIMES SOCIETÁRIOS
Aplica-se o precedente mesmo se a conduta é
omissiva (Art. 168-A CP, Art. 2º II da Lei 8137/90)?

CONTRATO SOCIAL ELEMENTO FÁTICO CONCRETO

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. ANULAÇÃO. AÇÃO PENAL.

HC-AgR 89985 / SP - (STF - 1ª TURMA - DJ 19-12-2006)


Cuida a questão de saber a possibilidade de se instaurar ação penal em
desfavor de administradores de pessoas jurídicas inadimplentes perante o EMENTA: I. Habeas corpus: inviabilidade: incidência da Súmula 691-STF ("Não compete ao
Fisco Previdenciário pelo simples fato de serem os denunciados detentores de Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que,
em habeas corpus, requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar"). Ausência, no caso, de
poderes de gestão administrativa. A jurisprudência deste Superior Tribunal e do STF entende
"flagrante constrangimento ilegal", hipótese em que tem o Tribunal admitido temperamentos à
que, nos crimes praticados no âmbito das sociedades, a detenção de poderes de gestão e administração
Súmula 691. II. Omissão de recolhimento de contribuições previdenciárias descontadas
não é suficiente para a instauração da ação penal, devendo a denúncia descrever conduta da qual possa
de empregados: denúncia: aptidão. Tratando-se de crimes societários em que não se
resultar a prática do delito. Esclareceu a Min. Relatora que, em nosso ordenamento jurídico, não é admitida
verifica, de plano, que "as responsabilidades de cada um dos sócios ou gerentes são
a responsabilidade penal objetiva; para haver a procedência da inicial acusatória deve ficar
diferenciadas, em razão do próprio contrato social relativo ao registro da pessoa
demonstrado o nexo causal entre a conduta imputada ao denunciado e o tipo penal apresentado. jurídica envolvida", não há inépcia da denúncia pela ausência de indicação individualizada da
Está-se exigindo apenas que se exponha, na inicial acusatória, qual a conduta perpetrada pelo conduta de cada indiciado, sendo suficiente a de que "os acusados sejam de algum modo
denunciado que culminou efetivamente no delito, porque o simples fato de deter poderes de gestão responsáveis pela condução da sociedade sob a qual foram supostamente praticados os
não tem capacidade (nexo de causalidade) lógica de se concluir pela prática do delito em questão delitos" (HC 85.579, 2ª T., 24.5.05, Gilmar, DJ 24.6.05). A condição de gestores da empresa,
(art. 168-A do CP), que prescinde de uma ação específica a ser demonstrada na denúncia. Assim, a nos sucessivos períodos da prática dos fatos delituosos, basta a fundar a imputação inicial feita a
Turma, ao prosseguir o julgamento, concedeu a ordem para determinar a anulação da ação penal cada um dos pacientes, não se prestando o habeas corpus à verificação do efetivo exercício da
instaurada contra os pacientes sem prejuízo de eventual oferecimento de nova denúncia. HC 53.305-SP gestão, no período em que por elas responsáveis os denunciados.

Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 24/5/2007.

Lei 8137/90

Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária


suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição
Tema
social e qualquer acessório, mediante as

Crimes tributários: norma penal em branco ou seguintes condutas


elemento normativo do tipo

Objeto Material

Art. 145 C.R. c/c Art. 3º CTN

17
07/08/2019

Conflito de Leis Penais no Tempo

“A lei penal aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência.


Princípio da Anterioridade
No crime tributário torna-se relevante a identificação da lei
Princípio da Retroatividade Benéfica vigente ao tempo da conduta, o prazo de recolhimento do tributo
e ainda a eventual existência de causas de extinção da
punibilidade pelo pagamento.”

NORMA PENAL EM BRANCO (REVOGAÇÃO DO COMPLEMENTO)

Tema

Norma penal tributária e modificação do


complemento: revogação da norma tributária
RETROATIVIDADE BENÉFICA (?) NORMA TEMPORÁRIA (?)
relativa ao tributo e redução da alíquota a zero. Art. 2º CP Art. 3º CP

19º Concurso para Procurador da República (2002)


Interpretação das normas tributárias
para fins criminais

TRIBUTOS ORÇAMENTO

Caráter Temporal Princípio da Anualidade

18
07/08/2019

CONCLUSÃO

Tema

“A eventual modificação da alíquotas dos tributos que têm Lei penal no tempo e seus aspectos
caráter extrafiscal (I.I., I.E., IPI e IOF) ou mesmo a não
renovação de contribuições temporárias (C.P.M.F.) não induzem
à retroatividade benéfica descriminalizando a conduta.”

Aspectos relevantes: Tipicidade da Conduta e Causas de Extinção


da Punibilidade

2003
Código Lei 4729/65 Lei 8137/90 2000
Crimes Crimes REFIS
Penal REFIS 2

1991 1995
1968

Lei 8383/91 Art. 15 da Lei 9964/00


Revoga o Art. 14 Parcelamento e Pagamento
Art. 1º Lei 5498/68 Art. 14
Art. 2º (Extinção da punibilidade Efeitos na Pretensão Punitiva
(Extinção da punibilidade Extinção da punibilidade: da Lei 8137/90
pelo pagamento antes da ação fiscal) (limite temporal: denúncia)
Pagto ou parcelamento IR) Pagto antes da denúncia
Art. 9º da Lei 10684/03
(crimes do Art. 1º a 3º)
Parcelamento e Pagamento
Efeitos na Pretensão Punitiva
Art. 1º §1º Art. 34 da Lei 9249/95
(sem limite temporal)
Pena exclusiva de multa Extinção da punibilidade
se primário
Art. 3º? pelo pagamento antes da denúncia)

ABOLITIO CRIMINIS

ABOLITIO CRIMINIS

CONDUTA DESAPARECE DO ORDENAMENTO


JURÍDICO

19
07/08/2019

18º Concurso para Procurador da República (2001) 18º Concurso para Procurador da República (2001)

98. X É CONDENADO POR FATO, CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO 98. X É CONDENADO POR FATO, CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO
QUE POSTERIORMENTE PERDE DETERMINADA NATUREZA, SUBSISTINDO, QUE POSTERIORMENTE PERDE DETERMINADA NATUREZA, SUBSISTINDO,
TODAVIA, POR NATUREZA DIVERSA. TODAVIA, POR NATUREZA DIVERSA.

a) ( ) a condenação sofrida subsiste; a) ( ) a condenação sofrida subsiste;

b) ( ) a condenação sofrida não subsiste, preservado, todavia ao Ministério Público o b) ( ) a condenação sofrida não subsiste, preservado, todavia ao Ministério Público o
direito de persecução ante novo enquadramento; direito de persecução ante novo enquadramento;

c) ( ) tem-se diante abolitio criminis; c) ( ) tem-se diante abolitio criminis;

d) ( ) em caso de abolitio criminis, o dever de indenizar, pelo cometimento do fato d) ( ) em caso de abolitio criminis, o dever de indenizar, pelo cometimento do fato
criminoso, perdura em seu caráter consequencial. criminoso, perdura em seu caráter consequencial.

OBSERVAÇÃO

NOVATIO LEGIS IN MELIUS


Dentro da perspectiva da teoria da continuidade
normativo típica só se pode falar em abolitio
quando a conduta em si mesma não for mais
LEI NOVA REDUZ A PENA CRIA CAUSA DE EXTINÇÃO DE
PUNIBILIDADE
objeto de qualquer outro crime no ordenamento.

LEI 8212/91 (Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras
providências)

Art. 95. Constitui crime:

d) deixar de recolher, na época própria, contribuição ou outra importância devida à Seguridade Social e
arrecadada dos segurados ou do público;

§ 1º No caso dos crimes caracterizados nas alíneas "d", "e" e "f" deste artigo, a pena será aquela
estabelecida no art. 5º da Lei nº 7.492, de 16 de junho de 1986, aplicando-se à espécie as disposições
constantes dos arts. 26, 27, 30, 31 e 33 do citado diploma legal.

LEI NOVA REDUZ A PENA


Lei 7492/86
Art. 5º Apropriar-se, quaisquer das pessoas mencionadas no art. 25 desta lei, de dinheiro, título, valor ou
qualquer outro bem móvel de que tem a posse, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Apropriação indébita previdenciária (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos


contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

20
07/08/2019

Lei 4729/65

Art. 2º. Extingue-se a punibilidade dos crimes previstos nesta lei quando o
agente promover o recolhimento do tributo devido, antes de ter início, na esfera
administrativa, ação fiscal própria.

CRIA CAUSA DE EXTINÇÃO DE


PUNIBILIDADE

No mesmo sentido:

Art. 14 da Lei 8137/90, Art. 34 da Lei 9249/95, Art. 15 da Lei 9964/2000 e Art. 9º
da Lei 10684/2003.

Lei 10684/2003

Art. 9o É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos
arts. 1º e 2º da Lei nº 8137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o período em
que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no
CAUSA DE SUSPENSÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA
regime de parcelamento.

§ 1o A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão


punitiva.

§ 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa


jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos
de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios.

EMENTA: (...) 3. Quanto à aplicação da Lei nº 8.137/90 aos fatos


ocorridos antes de sua vigência, trata-se de interpretação
judicial adotada pelo magistrado, no sentido de que, no crime
Tema continuado, incide a lei nova em toda a série delitiva, ainda que
mais grave. Ademais, foi reconhecida a extinção da

A identificação do número de condutas praticadas punibilidade dos réus em face da prescrição pela pena aplicada

no crime tributário. relativamente aos delitos imputados até 30/06/91, - e, portanto,


posteriores à data de entrada em vigor da Lei nº 8.137/90 -, não
havendo, pois, que se falar em nulidade da sentença. (...) 13.
Apelação parcialmente provida. (TRF4, ACR 1999.71.00.013749-2,
Sétima Turma, Relator Fábio Bittencourt da Rosa, DJ
26/03/2003)

21
07/08/2019

DOUTRINA
IMPOSTO DE RENDA

“A multiplicidade de condutas deve ser considerada em


FATO TRIBUTAÇÃO
relação a cada fato imponível, ainda que globalmente IMPONÍVEL SOBRE

considerado, independentemente de terem ocorrido


dentro de um mesmo período de apuração do tributo ou
RENDA ANUAL
contribuição social.”

FALSA NÃO PAGAR OU


(Andreas Eisele – Crimes contra a ordem tributária, DECLARAÇÃO PAGAR A
DE IRPF MENOR

Dialética, São Paulo, 1998, p. 11)

ICMS
IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO
FATO
IMPONÍVEL

FATO TRIBUTAÇÃO
Venda de veiculo Venda de veiculo Venda de veiculo
IMPONÍVEL SOBRE
(1/04) (5/04) (30/04)

Nota fiscal calçada Nota fiscal calçada Nota fiscal calçada


CADA IMPORTAÇÃO

FALSA
NÃO PAGAR OU PAGAR A
DECLARAÇÃO
MENOR NO
DE
IMPORTAÇÃO
DESEMBARAÇO Vencimento do tributo
5/05

CRIME ÚNICO OU VÁRIOS CRIMES? ... CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. NOTA FISCAL "CALÇADA". ... CRIME
CONTINUADO. ÚMERO DE CRIMES. CONCURSO FORMAL. FUNÇÃO FAVORÁVEL AO
RÉU. OBRIGATORIEDADE.
... 2. Cuidando-se de ICMS, incidente em "operações relativas à circulação de
1ª CORRENTE – ANDREAS EISELE – PARA CADA FATO mercadorias" (artigo 2º, inciso I, da Lei Complementar nº 87, de 13 de setembro de
1996), cada qual das reduções de tributo devido caracteriza o delito tipificado no artigo
IMPONÍVEL GERADOR DO DEVER DE PAGAR O TRIBUTO HÁ
1º, inciso I, da Lei 8.137/90. 3. Nada impede, em hipóteses tais, o reconhecimento do
UM CRIME. (STJ) concurso formal, se a conduta final, que dá lugar à supressão ou diminuição dos
tributos devidos, unifica as várias condutas-meio. 4. A caracterização de mais de um
concurso formal de crimes, na unidade do crime continuado, há de influir, favoravelmente ao
2ª CORRENTE – JOSÉ PAULO BALTAZAR – PARA CADA
réu, no quantum do aumento da continuação, porque certamente a sua extensão resta
COMPETÊNCIA HÁ UM CRIME, AINDA QUE HAJA VÁRIAS atenuada pelas unidades formais que a integram, sendo demasia ignorá-las e considerar
OPERAÇÕES. cada um dos crimes isoladamente, para, depois, somá-los e aplicar o grau máximo da
continuação. 5. Ordem concedida. (STJ: HC 34347 / RS, Rel. Min. Hamilton Carvalhido,
Sexta Turma, DJ 09.10.2006 p. 362)

22
07/08/2019

Retenção de IRPF de funcionários

FATO RETER IMPOSTO DE RENDA NA


IMPONÍVEL FONTE DOS FUNCIONÁRIOS

Tema

Janeiro Fevereiro Março ... Dezembro

Continuidade delitiva e crime tributário.


Não Não Não Não Não
recolhimento recolhimento recolhimento recolhimento recolhimento
(Fev) (Mar) (Abr) (...) (Jan)

UM CRIME PARA CADA MÊS DE NÃO REPASSE

Crime continuado

1. A jurisprudência reiterada do Superior Tribunal de Justiça orienta-se no


Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou sentido de que, para caracterizar a continuidade delitiva, é necessário o
preenchimento de requisitos de ordem objetiva e subjetiva. 2. "Se entre as
omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie
séries delituosas houver diferença de meses, não haverá continuidade

e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e delitiva, mas sim reiteração delitiva, devendo ser aplicada a regra do
concurso material" (REsp 765.590/RS, Rel. Min. FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJ
outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos 29/5/06). [...] 4. Constatada a inexistência da identidade de condições de tempo,
lugar e modus operandi nas condutas delituosas, afasta-se a idéia de continuidade
como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só
delitiva para se acolher a tese da habitualidade ou profissionalismo na prática de
dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, crimes, circunstância que merece um tratamento penal mais rigoroso, tendo em vista
o maior grau de reprovabilidade. (...) 6. Recurso especial provido. (STJ: REsp
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. 759991 / RS, 5ª TURMA, DJe 08/09/2008)

(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Pode o lapso temporal ser superior a 30 dias?

TRIBUTO DE RECOLHIMENTO MENSAL: LAPSO DE 3 MESES

Sonegação Fiscal: Crime Continuado e Intervalo Temporal – 1


A Turma, por maioria, deferiu, em parte, habeas corpus em que denunciado por
Sonegação Fiscal: Crime Continuado e Intervalo Temporal – 2
suposta sonegação de tributo de recolhimento mensal (Lei 8.137/90,
artigos 1º, I e II; e 11) pleiteava a reunião de todas as ações penais
(...) Tendo em conta que uma das denúncias admitira intervalo de até 3
contra ele instauradas, ao argumento de que os crimes foram cometidos
meses entre as condutas (meses de julho e outubro de 1998),
em continuidade delitiva (CP, art. 71), ainda que o intervalo entre as
considerou-se razoável aceitar-se, sem desfigurar a continuidade
condutas tenha sido superior a 30 dias, e, em conseqüência, haveria
delitiva, esse prazo como o máximo a ser considerado como parâmetro
conexão entre os processos (CPP, artigos 76 e 78, II, c). (...) delitos
para todas as ações, sem prejuízo da escolha de critério mais favorável
cometidos nos meses de julho e outubro de 1998 já ter sido distribuído a
pelas instâncias de mérito. Em conseqüência, deferiu-se o writ, nesta parte,
determinada vara criminal, outras novas denúncias, (...) meses de março de
para que o paciente passe a responder a 3 acusações (meses de julho e outubro
2000 a junho de 2001; julho a outubro de 1998; maio e novembro de 1999 e
de 1998; março a maio de 1999; novembro de 1999, janeiro de 2000 a outubro
janeiro e fevereiro de 2000; março e abril de 1999, foram oferecidas, referentes
de 2001 e dezembro de 2001). (...) HC 89573/PE, rel. Min. Sepúlveda Pertence,
aos mesmos tributo e tipo penal, que, distribuídas livremente, ensejaram 4
13.2.2007. (HC-89573)
ações penais simultâneas em varas diversas . HC 89573/PE, rel. Min. Sepúlveda
Pertence, 13.2.2007. (HC-89573)

23
07/08/2019

TRIBUTO DE PAGAMENTO ANUAL

EMENTA: PENAL. SONEGAÇÃO FISCAL. ART. 1º, INC. I, DA LEI Nº 8.137/90.


NULIDADE DO PROCESSO. PERÍCIA CONTÁBIL. DOSIMETRIA DA PENA.
CONTINUIDADE DELITIVA. 1. A nulidade de um processo é ato extremo, só Tema
ocorrendo quando houver demonstração inequívoca de prejuízo concreto e
efetivo ao acusado. 2. É dispensável a prova pericial quando os documentos
necessárias para a formação do juízo de convicção, encontram-se presentes nos Concurso formal ou crime único: falsificação de uma
autos. 3. Consuma-se o crime de omissão e prestação de declarações falsas à
nota fiscal e sonegação de dois tributos (ICMS / IPI)
autoridade fazendária, quando o agente assim age com o evidente intuito de
suprimir ou reduzir o pagamento do imposto de renda. 4. Se o crime consiste
em omitir rendimentos ou prestar declarações à autoridade fazendaria
com vistas a suprimir ou reduzir o pagamento, é possível considerá-lo
continuado para fins de cálculo da pena, mesmo que entre as
declarações tenha se passado um ano, pois é exatamente este o prazo
para a prática de tal ato. (TRF4, ACR 1999.04.01.132128-0, Sétima
Turma, Relator Vladimir Passos de Freitas, DJ 19/06/2002)

SITUAÇÕES POSSÍVEIS DE OCORRER (J.P. BALTAZAR) DISCUSSÃO

Uma conduta fraudulenta (omissão de receita),


Diversas condutas para 1 tributo
vários tributos
Uma única conduta que leve ao não recolhimento de
Uma competência Controvertido tributos estaduais e federais configura crime único
ou mais de um delito?
Entes diversos
Um crime

Baltazar/TRF4 – concurso Hugo de Brito – Crime único

Hugo B Machado / Rui Stoco

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.


EMENTA: PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE SONEGAÇÃO DE DIVERSIDADE DE ENTES POLÍTICOS LESADOS. CRIME ÚNICO. OFENSA A
IMPOSTOS. LEI-8137 /90, ART-1, INC-2, ICMS E IPI. NOTAS FISCAIS FRIAS. COISA
ENTE FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. O produto da
JULGADA. CONCURSO FORMAL. UNIFICAÇÃO DAS PENAS. 1. O Paciente utilizou as
arrecadação do imposto de renda, de competência da União, sobre os
mesmas notas fiscais frias para fraudar o IPI e o ICMS, tendo sido condenado pela
rendimentos pagos pelos municípios, a estes pertencem. 2. Existência de
sonegação a este último, na Comarca de Farroupilha e já cumprida a pena. 2. Nova
omissão na declaração do tributo em hipóteses em que o produto da
denúncia, agora na Justiça Federal, acusando-o novamente da prática do crime previsto
no INC-2 do ART-1 da LEI-8137 /90, por ter fraudado o IPI. 3. Apesar de se considerar arrecadação não é destinado integralmente aos municípios, conforme o

que o Paciente praticou uma só conduta - utilização de notas fiscais frias - o disposto no art. 159, inciso I, da Carta da República. 3. Embora se perceba
resultado importou em dois delitos, atingindo duas ordens tributárias diferentes, a lesão aos entes municipal e estadual, destinatários de parte do produto da
estadual e a federal. 4. Como o Paciente, com a sua conduta, quis mais de um resultado, arrecadação, em face da repartição tributária, há crime único, revelando-se
há concurso formal e em havendo sentença definitiva em relação à sonegação do ICMS, presente a ofensa a ente federal e ensejando a competência da Justiça Federal.
aplicável a parte final do ART-82 do CPP-41, no sentido de que a unidade dos processos
4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 3ª Vara da
só se dará ulteriormente, para efeito de soma ou unificação das penas. (TRF4, HABEAS
Subseção Judiciária de Uberlândia/MG, suscitado. (CC 43102 / MG, Ministro
CORPUS, 97.04.40045-4, Segunda Turma, Relator Jardim de Camargo, DJ
ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, DJ 02/03/2005 p. 184)
03/12/1997)

É UM ÚNICO TRIBUTO  UM ÚNICO CRIME

24
07/08/2019

RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA A


ORDEM TRIBUTÁRIA. SUPRESSÃO DE MAIS DE UM TRIBUTO. CONCURSO FORMAL.
INOCORRÊNCIA. CRIME ÚNICO.
1. No crime de sonegação fiscal o bem jurídico tutelado não é o patrimônio ou erário de
cada pessoa jurídica de direito público titular de competência para instituir e arrecadar
tributos - fiscais (entes federativos) ou parafiscais (entidades autárquicas) - mas, sim, a
ordem jurídica tributária como um todo. 2. A conduta consistente em praticar qualquer
uma ou todas as modalidades descritas nos incisos I a V do art. 1 da Lei nº 8.137/90
(crime misto alternativo) conduz à consumação de crime de sonegação fiscal
quando houver supressão ou redução de tributo, pouco importando se atingidos um
ou mais impostos ou contribuições sociais. 3. Não há concurso formal, mas crime
único, na hipótese em que o contribuinte, numa única conduta, declara Imposto de
Renda de Pessoa Jurídica com a inserção de dados falsos, ainda que tal conduta
tenha obstado o lançamento de mais de um tributo ou contribuição. 4. Recurso
improvido. (REsp 1294687/PE, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 15/10/2013, DJe 24/10/2013)

Doutrina de referência no parecer do MPF

Tema

Conflito aparente de normas e crimes tributários SONEGAÇÃO X ESTELIONATO

25
07/08/2019

LEI 8137/90 ESTELIONATO. ABSORÇÃO. CRIME. ORDEM TRIBUTÁRIA.

Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou


Os pacientes foram denunciados, em concurso material, por
contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
estelionato e uso de documento falso (CP, arts. 171, § 3º e 304).

I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; Também foram denunciados dois servidores públicos, mas somente por uso
de documento falso. A Min. Relatora denegava a ordem de habeas corpus
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo entendendo prejudicada a discussão a respeito da prescrição da conduta
operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; imputada ao paciente. Mas a Turma, ao prosseguir o julgamento, por
maioria, concedeu a ordem nos termos do voto do Min. Nilson Naves,
declarando o estelionato absorvido pelo crime contra a ordem

Estelionato tributária e, conseqüentemente, extinguiu a ação penal pela

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo prescrição da pretensão punitiva. Precedentes citados: HC 36.824-RR,

ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio DJ 6/6/2005, e HC 40.762-PR, DJ 16/10/2006. HC 88.617-TO, Rel.

fraudulento: originária Min. Jane Silva (Desembargadora convocada do TJ-MG), Rel. para

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. acórdão Min. Nilson Naves, julgado em 17/6/2008.

HC 88.617 - TO (STJ – 6ª TURMA - RELATORA : MINISTRA JANE SILVA (DESEMBARGADORA


CONVOCADA DO TJ/MG - R.P/ACÓRDÃO : MINISTRO NILSON NAVES)

Fundo de Investimento da Amazônia. Financiamento. Parcelas. Liberação. Fraude. Estelionato. Incentivo


fiscal. Não-aplicação. Lei nº 8.137/90.
1. A prática de fraude com o intuito de obter liberação de parcelas de financiamento de fundo
de investimento constitui a figura de um só crime – uma só figura penal autônoma –, aquela

prevista na Lei nº 8.137/90, art. 2º, IV. 2. Não se trata, pois, de obtenção de
vantagem ilícita, com induzimento ou manutenção de alguém em erro, CRIMES FUNCIONAIS
mediante artifício, ardil ou outro meio fraudulento, e sim de malversação
de recursos. 3. Ademais, deve o estelionato ser absorvido pelo desvio e/ou

apropriação, aquele previsto no Cód. Penal, este na Lei nº 8.137/90, tal e qual o
que ocorre quanto ao falso. Isso porque a lei nova substituiu a precedente, a que
sujeitava os responsáveis por infrações às penas previstas no art. 171 do Cód.
Penal; então, se uma substituiu a outra, prevalece a lei nova, e nela a figura penal
é autônoma, vale por completo e por si só. 4. Ordem concedida para se declarar o
estelionato absorvido pelo crime contra a ordem tributária, extinguindo-se,
conseqüentemente, a ação penal pela prescrição da pretensão
punitiva.

LEI 8137/90
LEI 8137/90
II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou
n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I): aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição
social, ou cobrá-los parcialmente.
I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda em
razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
indevido ou inexato de tributo ou contribuição social;

Corrupção passiva
CÓDIGO PENAL
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo
ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.

26
07/08/2019

Lei 8.137/90: atribuição funcional e suspensão de débito - 1


A 2ª Turma negou provimento a recurso ordinário em habeas corpus interposto, por condenado pela prática de crime
funcional contra a ordem tributária, sob a alegação de que: a) o indeferimento de diligências, pleiteadas na fase do art. 499
do CPP, o prejudicara; e b) o tipo penal em questão somente poderia ser cometido por funcionário público competente para
o lançamento ou a cobrança do tributo. Consignou-se que o acórdão recorrido estaria consoante a jurisprudência do STF no LEI 8137/90

sentido de que para configuração do cerceamento de defesa impenderia a demonstração de efetivo prejuízo sofrido com o
III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração
indeferimento da diligência.
fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário público. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4
RHC 108822/GO, rel. Min. Gilmar Mendes, 19.2.2013. (RHC-108822)
(quatro) anos, e multa.

Lei 8.137/90: atribuição funcional e suspensão de débito - 2


No tocante à tese de atipicidade de conduta, inicialmente, mencionou-se o teor do dispositivo em que fundada a
condenação [Lei 8.137/90: “Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei
CÓDIGO PENAL
n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I): ... II - exigir, solicitar ou receber, para si ou
para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela,
Advocacia administrativa
vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social,
ou cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa”]. Observou-se consistir tipo especial,
Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se
mas característico da própria corrupção passiva. Esclareceu-se constar da decisão do STJ que, mesmo fora da da qualidade de funcionário:
função ou antes de iniciar seu exercício, seria possível a funcionário público perpetrar o referido crime. Frisou-se Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
que a circunstância de não ser encarregado do lançamento tributário não impedira o paciente de suspender Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
ilicitamente o débito de empresas que, para tanto, teriam lhe oferecido vantagem indevida. RHC 108822/GO, rel. Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.
Min. Gilmar Mendes, 19.2.2013. (RHC-108822)

Discussão

O uso de um documento falso após a sonegação,


USO DE DOCUMENTO FALSO E SONEGAÇÃO visando justificar incompatibilidade encontrada pela
Receita Federal caracteriza novo crime ou é postfactum?

HC 83115 / SP (Relator(a): Min. GILMAR MENDES // Relator(a) p/ Acórdão: Min. CARLOS VELLOSO
HC-ED-ED 83115 / SP - SÃO PAULO (EMB.DECL.NOS EMB.DECL.NO HABEAS CORPUS)
julgamento: 04/05/2004 Órgão Julgador: Segunda Turma - DJ 18-03-2005)
Relator(a): Min. GILMAR MENDES - Julgamento: 12/12/2006 Órgão Julgador: Segunda Turma
EMENTA: Penal. Processual Penal. Habeas Corpus. Crime de uso de documento falso. Código Penal, art.
Publicação DJ 09-02-2007 PP-00053 EMENT VOL-02263-02 PP-00219
304 c/c art. 297, parágrafo único, e art. 92, I. Lei 8.137/90, art. 2º, I. I. - Inquérito STJ nº 300: ação
Parte(s) EMBTE.(S) : ROBERTO LUIZ RIBEIRO HADDAD / ADV.(A/S) : ANTONIO NABOR AREIAS
penal STJ nº 238/SP: uso de documento falso. Inquérito STJ nº 281: apuração de eventual
BULHÕES E OUTRO(A/S) ADV.(A/S) : JOÃO HENRIQUE CAMPOS FONSECA
enriquecimento ilícito no exercício do cargo. II. - O documento falso foi apresentado numa
EMBDO.(A/S) : CORTE ESPECIAL DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
investigação que poderia resultar, em tese, em mais de um delito: o delito contra a ordem
tributária e possível ou possíveis delitos decorrentes de enriquecimento ilícito no exercício de
EMENTA: Embargos de declaração nos embargos de declaração em habeas corpus. 1. Diante do fato
cargo público. O pagamento do tributo não elide o crime de falso, por isso que, da investigação,
novo correspondente ao arquivamento do Inquérito no 281 (que tramitou perante o STJ) destinado a
em que o documento falso teria sido apresentado, poderia originar-se outro ou outros delitos,
apurar as repercussões criminais do suposto delito de enriquecimento ilícito, não é mais possível
decorrentes de enriquecimento ilícito, que o pagamento do tributo não elidiria. III. - Prematuro
reconhecer a plausibilidade da tese condutora do acórdão embargado. 2. A superveniência de falta
concluir, ademais, no julgamento do habeas corpus, que o crime de falso não pode ser tratado como crime
de justa causa para a apuração do crime de enriquecimento ilícito (Lei nº 8.429/1992, art.
autônomo. IV. - Exame de provas: impossibilidade no processo de habeas corpus. V. - H.C. indeferido.
9º) configura situação excepcional de constrangimento ilegal, que demanda, no caso
concreto, o trancamento da ação penal. 3. Possibilidade de reconhecimento de efeitos
infringentes a embargos de declaração. 4. Precedentes nos quais o STF admitiu a modificação de
julgados em sede de embargos declaratórios: Pet-AgR no 1.079-DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
HC-ED 83115 / SP - (2ª Turma - Rel.: Min. CARLOS VELLOSO Julgamento: Pleno, unânime, DJ 26.04.1996; RHC-ED no 80.520-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, Segunda Turma, DJ

13/12/2005 - DJ 24-02-2006) 01.06.2001; e HC-ED no 79.446, Rel. Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, unânime, DJ 03.03.2000.
5. Embargos de declaração acolhidos no sentido de deferir a ordem de habeas corpus para
EMENTA: PROCESSUAL PENAL. PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. - trancar a ação penal instaurada em face do paciente (AP no 238 que tramita perante o STJ).

Inocorrência dos pressupostos dos embargos de declaração: sua rejeição.

27
07/08/2019

"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. USO DE DOCUMENTO IDEOLOGICAMENTE


FALSO (ART. 304, C/C ART. 299, DO CÓDIGO PENAL). ALEGADA ABSORÇÃO PELO DELITO "o crime de falso cometido única e exclusivamente com vistas a
DE SONEGAÇÃO FISCAL. IMPOSSIBILIDADE. FALSIDADE PRATICADA EM MOMENTO
POSTERIOR À SUPRESSÃO DOS TRIBUTOS. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. É
suprimir ou reduzir tributos é absorvido pelo crime de sonegação
pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal quanto à excepcionalidade do fiscal, sendo irrelevante, para tanto, que a apresentação do
trancamento de ação penal pela via processualmente contida do habeas corpus. Via de
verdadeiro atalho que não comporta a renovação de atos próprios da instrução criminal. 2.
documento falso perante a autoridade fazendária seja posterior à
Os dados empíricos retratados neste processo não deixam nenhuma dúvida quanto à entrega da declaração de imposto de renda porque apenas
autonomia do crime de uso de documento ideologicamente falso. Delito supostamente
praticado em momento posterior à própria consumação do delito de que trata o inciso I do
materializa a informação falsa antes prestada" (STJ, AgRg no
artigo 1º da Lei 8.137/90. Pelo que não sobra espaço para a adoção do instituto da REsp 1.372.457/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
consunção. 3. Recurso a que se nega provimento." RHC 97921 (2ª Turma STF, j.
29/03/2011, DJ 26/08/2011)
MOURA, SEXTA TURMA, DJe de 10/09/2013).

O crime de sonegação fiscal absorve o de falsidade ideológica e o de uso de documento


falso praticados posteriormente àquele unicamente para assegurar a evasão fiscal. Após
evolução jurisprudencial, o STJ passou a considerar aplicável o princípio da consunção ou da
absorção quando os crimes de uso de documento falso e falsidade ideológica – crimes meio –
tiverem sido praticados para facilitar ou encobrir a falsa declaração, com vistas à efetivação
do pretendido crime de sonegação fiscal – crime fim –, localizando-se na mesma linha de
Falso em contrato social e sonegação
desdobramento causal de lesão ao bem jurídico, integrando, assim, o iter criminis do
delito fim. Cabe ressalvar que, ainda que os crimes de uso de documento falso e falsidade
ideológica sejam cometidos com o intuito de sonegar o tributo, a aplicação do princípio da
consunção somente tem lugar nas hipóteses em que os crimes meio não extrapolem os limites
da incidência do crime fim. Aplica-se, assim, mutatis mutandis, o comando da Súmula 17 do STJ
(Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido).
Precedentes citados: AgRg no REsp 1.366.714-MG, Quinta Turma, DJe 5/11/2013; AgRg no
REsp 1.241.771-SC, Sexta Turma, DJe 3/10/2013. (EREsp 1.154.361-MG , Rel. Min. Laurita
Vaz, julgado em 26/2/2014, DJe 6/3/2014)

Alteração do Contrato Social e Princípio da Consunção – 2

Alteração do Contrato Social e Princípio da Consunção - 1

Entendeu-se que, na via eleita, não haveria como se chegar à


A Turma indeferiu habeas corpus em que acusados pela suposta prática dos delitos previstos
no art. 297 do CP e no art. 1º, I, da Lei 8.137/90 pleiteavam o trancamento de inquérito conclusão almejada pelos pacientes. Asseverou-se que, embora
policial por falta de justa causa. No caso, durante o curso de ação de execução fiscal
admitida a tese da defesa, em nenhum momento a potencialidade
ajuizada contra determinada empresa, o Ministério Público Federal requerera a instauração
de inquérito para apurar a responsabilidade penal dos pacientes, antigos sócios da lesiva do falsum, objeto de investigação do inquérito, esgotar-
empresa, em alteração do contrato social reputada fraudulenta pelos atuais sócios.
se-ia no suposto crime contra a ordem tributária, ainda que
A impetração sustentava a extinção da punibilidade (Lei 10.684/2003, art. 9º, §
2º), dado que, quando da instalação do referido inquérito, existia parcelamento do subsumido no art. 2º, I, da Lei 8.137/90 (“Art. 2º. Constitui crime da
débito tributário, o qual já fora integralmente pago. Pretendia-se, também, o
reconhecimento de que o delito tributário teria absorvido o de falso, porquanto este seria mesma natureza: I - fazer declaração falsa ou omitir declaração
crime-meio para o cometimento daquele, uma vez que a conduta investigada seria a de
sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-
prestar falsa declaração, por intermédio de simulação de venda de pessoa jurídica devedora
de tributos, objetivando a supressão da dívida. se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo;”). (...)
HC 91542/RJ, rel. Min. Cezar Peluso, 18.9.2007. (HC-91542)
HC 91542/RJ, rel. Min. Cezar Peluso, 18.9.2007. (HC-91542)

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07/08/2019

Alteração do Contrato Social e Princípio da Consunção – 2


Alteração do Contrato Social e Princípio da Consunção – 2

(...) Nesse sentido, aduziu-se que, não obstante o falso servisse para, num primeiro momento,
(...) . Concluiu-se que, na espécie, a falsificação apurada teria
eximir os pacientes do pagamento de tributo devido pela pessoa jurídica de que eram sócios,
poderia a falsificação não se ter esgotado em tal fato penalmente relevante, haja ido além e, como tal, possuiria potencialidade lesiva mais
vista que o contrato regula situações jurídicas específicas da vida da sociedade e ampla, que transporia os limites do crime contra a ordem
não se predestina a permitir ao Fisco, por meio da desconsideração da
tributária. Ordem denegada, para que a autoridade policial, para
personalidade jurídica, executar os sócios. Assim, aduziu-se que a hipótese aventada
pela impetração não estaria incluída no caso clássico de crime contra a ordem tributária, além de crime contra a ordem tributária, cuja punibilidade está
com falso na contabilidade da empresa, preordenado a fraudar o Fisco, reduzindo ou
extinta, possa investigar outros eventuais ilícitos conseqüentes à
suprimindo o valor de tributo. Ademais, considerou-se possível a absorção do crime de
falsificação por delito contra a ordem tributária, se houver, naquele, finalidade e destino alteração contratual da empresa. Precedente citado: HC 84453/PB
específicos, voltados unicamente à prática de crime contra a ordem tributária. (DJU de
(DJU de 4.2.2005).
4.2.2005).
HC 91542/RJ, rel. Min. Cezar Peluso, 18.9.2007. (HC-91542) HC 91542/RJ, rel. Min. Cezar Peluso, 18.9.2007. (HC-91542)

Tema

Questões controvertidas Natureza Jurídica do Art. 83 da Lei 9430/96

DISCUSSÃO

Lei 8137/90

Art. 15. Os crimes previstos nesta lei são de ação penal pública, aplicando-se-lhes o
disposto no art. 100 do Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.

A PARTIR DA LEI 9430/96 O CRIME DE SONEGAÇÃO


FISCAL PASSOU A TER SUA AÇÃO PENAL CONDICIONADA
Lei 9430/96
À REPRESENTAÇÃO DO FISCO?
Art. 83. A representação fiscal relativa aos crimes contra a ordem tributária
definidos nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, será
encaminhada ao Ministério Público após proferida a decisão final, na esfera
administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente.

29
07/08/2019

ADI 1571 / UF (STF - PLENO - Relator(a): Min. GILMAR MENDES


Julgamento: 10/12/2003 - DJ 30-04-2004 PP-00027)
REQTE. : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
REQDO. : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
REQDO. : CONGRESSO NACIONAL

Súmula 609 – STF


EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 83 da Lei no 9.430, de 27.12.1996. 3.
Argüição de violação ao art. 129, I da Constituição. Notitia criminis condicionada "à
decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário". 4. A
norma impugnada tem como destinatários os agentes fiscais, em nada afetando a É pública incondicionada a ação penal por crime de
atuação do Ministério Público. É obrigatória, para a autoridade fiscal, a remessa da notitia
criminis ao Ministério Público. 5. Decisão que não afeta orientação fixada no HC 81.611. Crime sonegação fiscal.
de resultado. Antes de constituído definitivamente o crédito tributário não há justa causa para a
ação penal. O Ministério Público pode, entretanto, oferecer denúncia
independentemente da comunicação, dita "representação tributária", se, por outros
meios, tem conhecimento do lançamento definitivo. 6. Não configurada qualquer limitação
à atuação do Ministério Público para propositura da ação penal pública pela prática de crimes
contra a ordem tributária. 7. Improcedência da ação Confirmada na ADI 1571

9. (TRF 1ª REGIÃO – X CONCURSO – 2005) “A representação fiscal


para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária definidos
I - CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TÉRMINO DO PROCESSO nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, será
ADMINISTRATIVO. II - INEXISTÊNCIA DE CONDIÇÃO OBJETIVA DE encaminhada ao Ministério Público após proferida a decisão final, na
PUNIBILIDADE. III - NÃO CONFIGURAÇÃO DE CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário
IV - EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO PAGAMENTO DO TRIBUTO NÃO correspondente” (art. 83, caput – Lei nº 9.430/96). Tendo em conta esse
COMPORTA RESERVAS. V - IMPROCEDÊNCIA DOS FUNDAMENTOS CONTIDOS NO preceito legal, julgue as asserções abaixo e assinale a alternativa correta:
PRECEDENTE DO STF (HC N. 81.611-8/DF) NO CASO CONCRETO. VI - ORDEM
DENEGADA. A representação fiscal para fins penais se limita à última
etapa de um procedimento interno recomendado aos órgãos de
I – cuida-se de preceito inconstitucional, porque limita a independência
fiscalização da Administração Tributária, os quais deverão seguir seus
funcional do Ministério Público (CF – art. 127), pois condiciona a sua
trâmites até a formação de uma peça a ser encaminhada ao Ministério Público,
atuação, em matéria criminal, a uma representação fiscal.
mas não condiciona, este, a agir diretamente, se reunir indícios para o
oferecimento da denúncia. [...] (TRF2, 1ª Turma Especializada, HC
II – o preceito não é inconstitucional, porque, dirigido que é à autoridade
2004.02.01.012398-3/ES, Rel. Des. Fed. Abel Gomes, un, DJU 25.08.05).
fazendária, não impede a atuação do Ministério Público no tocante à
propositura da ação penal.

XI CONCURSO PARA JUIZ FEDERAL DO TRF DA 2ªREGIÃO

TERCEIRA PROVA ESCRITA PARA JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO

III – nos crimes do art. 1º da Lei nº 8.137/90 – materiais ou de resultado


–, a decisão definitiva do processo administrativo consubstancia uma
PENAL E PROCESSUAL PENAL
condição objetiva de punibilidade.
1ª Questão (valor: 6 pontos). ADOLF, BENITO, VITORIA e SADAN, foram denunciados pelo

IV – é pública e incondicionada a ação penal por crime de sonegação Ministério Público Federal, perante a Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro,
por sonegação fiscal e falsidade documental.
fiscal.
ADOLF, é sócio-gerente executivo e financeiro; BENITO, é sócio responsável pela produção;
VITORIA é sócia quotista da empresa “ESCONDENDO SE AVANÇA”, sediada no Rio de Janeiro, e
SADAN é o contador externo da mesma empresa, e nestas qualidades, seriam responsáveis pela
a) somente a I e a IV opções estão corretas.
sonegação do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, nos seguintes períodos: ano-base
b) somente a II e a IV opções estão corretas.
2002/exercício fiscal 2003; ano-base 2003/exercício fiscal 2004 e ano-base 2004/exercício fiscal
c) somente a I opção está incorreta. 2005. (...)
d) nenhuma das opções anteriores.
2) Nulidade do processo por vício de iniciativa, pois o MPF instaurou inquérito sem que
houvesse representação fiscal para fins penais por parte da Receita.

30
07/08/2019

Lei 9249/95

Art. 34. Extingue-se a punibilidade dos crimes


definidos na Lei 8137 de 17 de dezembro de
“Promover” o pagamento: Art. 34 da Lei 9249/95
1990, e na Lei 4729, de 14 de julho de 1965,
quando o agente promover o pagamento do
tributo ou contribuição social, inclusive
acessórios, antes do recebimento da
denúncia.

MP 497/2010 DISCUSSÃO

Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem
tributária previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e
aos crimes contra a Previdência Social, previstos nos arts. 168-A e 337-A do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, será
encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera
administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente. PROMOVER O PAGAMENTO SIGNIFICA INICIAR OU
(Redação dada pela Medida Provisória nº 497, de 2010) QUITAR?

Parágrafo único. As disposições contidas no caput do art. 34 da Lei nº 9.249, de 26


de dezembro de 1995, aplicam-se aos processos administrativos e aos inquéritos e
processos em curso, desde que não recebida a denúncia pelo juiz.

HC 77010 / RS (STF – 2ª TURMA - Relator(a): Min. NÉRI DA


RHC 11598 / SC (STJ – 3ª SEÇÃO - DJ 02.09.2002 p. 145)
SILVEIRA - DJ 03-03-2000)

EMENTA: Habeas corpus. 2. Alegada impossibilidade de o paciente


CRIMINAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. OMISSÃO DE
cumprir a pena no regime determinado na sentença, por não existir,
RECOLHIMENTO DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS.
na comarca, casa do albergado. 3. Questão que deve ser submetida,
PARCELAMENTO ANTERIOR À DENÚNCIA. DESNECESSIDADE DO
primeiramente, ao juiz da execução. 4. Habeas corpus não conhecido,
PAGAMENTO INTEGRAL. RECURSO PROVIDO.
nesse ponto. 5. A simples obtenção de parcelamento
I. Uma vez deferido o parcelamento, em momento
administrativo não é causa de extinção da punibilidade.
anterior ao recebimento da denúncia, verifica-se a Benefício que só se assegura quando a dívida for
extinção da punibilidade prevista no art. 34 da Lei nº integralmente satisfeita, antes do recebimento da denúncia.

9.249/95, sendo desnecessário o pagamento integral Lei n.º 9.249/95, art. 34. 6. Na hipótese, o débito só foi quitado
após a confirmação da sentença pelo Tribunal de Justiça. 7. Habeas
do débito para tanto. II. Recurso provido para conceder a ordem,
corpus indeferido e cassada a liminar.
determinando o trancamento da ação penal movida contra os pacientes.

31
07/08/2019

TRF – 2ª REGIÃO

(...)

6. São requisitos da causa extintiva da punibilidade, contida


no art. 34 da Lei nº 9.249/95: a admissão, pelo agente, de que
praticou um crime de cunho patrimonial e o arrependimento TEMA
objetivo traduzido na restituição do status quo ante pelo
pagamento. Por essa razão, não há fundamento para dotar o
PAGAMENTO EXTINTIVO DA PUNIBILIDADE E OS
pronunciamento definitivo da Administração sobre o conteúdo da
PROGRAMAS DE PARCELAMENTO TRIBUTÁRIO (REFIS)
obrigação tributária de pressuposto para que o agente se valha, a
contento, da referida causa extintiva da punibilidade, a qual
pressupõe sua resignação com o fato de ter cometido um crime nos
patamares do prejuízo que lhe é exigido. (...) 9. Ordem denegada.
(TRF2, 1ª Turma Especializada, HC 2004.02.01.012398-3/ES,
Rel. Des. Fed. Abel Gomes, un, DJU 25.08.05).

LEI Nº 4.729, DE 14 DE JULHO DE 1965.


Art 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes previstos nesta Lei quando o
agente promover o recolhimento do tributo devido, antes de ter início, na
esfera administrativa, a ação fiscal própria.

NORMAS DE PAGAMENTO EXTINTIVO LEI Nº 5.498, DE 9 DE SETEMBRO DE 1968.


Art 1º Extingue-se a punibilidade dos crimes previstos na Lei número 4.729,
de 14 de julho de 1965, para os contribuintes do impôsto de renda que, dentro
de 30 (trinta) dias da publicação desta Lei, satisfizerem o pagamento de seus
débitos na totalidade, ou efetuarem o pagamento de 1ª (primeira) quota do
parcelamento que lhes tenha sido concedido.

Lei 9249, DE 26 DE DEZEMBRO DE 1995


Art. 34. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº 8.137,
de 27 de dezembro de 1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965,
quando o agente promover o pagamento do tributo ou contribuição social,
inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia.
PROGRAMAS DE PARCELAMENTO

LEI Nº 8.137, DE 27 DE DEZEMBRO DE 1990.

Art. 14. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos nos arts. 1° a 3°


quando o agente promover o pagamento de tributo ou contribuição social,
inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia.

32
07/08/2019

CARACTERÍSTICAS DISCUSSÃO

Parcelamento de Pagamento
certos débitos O CITADO DISPOSITIVO INVOCA A MESMA
INTERPRETAÇÃO DADA PELO STF PARA O ART. 366 CPP
QUE TRATA DA SUSPENSÃO DO PROCESSO E DO PRAZO
Suspensão da DE PRESCRIÇÃO?
Pretensão Punitiva Extinção da
Punibilidade

Suspensão da
Prescrição

EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. REJEIÇÃO DA DENÚNCIA. REFIS. HOMOLOGAÇÃO PELO EMENTA: (...) 3. Nestas hipóteses, a solução está em se traçar um paralelo
COMITÊ GESTOR. SUSPENSÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA DO ESTADO. INCIDÊNCIA DO ART. 15, entre a situação do réu antes e depois da lei nova, apurando-se quais
CAPUT E §1º, DA LEI Nº 9.964/00. NORMA PENAL MAIS BENÉFICA. INCONSTITUCIONALIDADE
seriam os resultados e conseqüências da aplicação da norma posterior,
INEXISTENTE. 1. Em matéria de direito intertemporal, a regra geral é para, a final, verificar qual a menos gravosa ao acusado. 4. Na espécie,
a da prevalência da lei do tempo do fato (tempus regit actum), não restam dúvidas de que é muito mais benéfico aos réus não sofrer os
salvo em se tratando de norma penal mais benigna, quando percalços de uma ação penal e, em cumprindo o acordado, ter extinta a

prevalece o princípio da retroatividade da lei (CF/88, art. 5º, XL punibilidade de seus atos, do que sujeitar-se a todo processo judicial a

e CP, art. 2º, parágrafo único). 2. Problema surge quando a norma posterior
fim de que não veja suspenso o prazo prescricional. 5. Não se pode dar ao art.
15 da lei do REFIS a mesma interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal quando do
favorece o réu em parte, prejudicando-o, todavia, em outra. É o que ocorre no caso em tela,
enfrentamento das inovações trazidas pela Lei nº 9.271/96, que alterou o artigo 366 do CPP. É
onde a Lei nº 9.964/00 estabelece a suspensão da pretensão punitiva do Estado, com suspensão
que, diferentemente do disposto no artigo 366 da Lei Penal Adjetiva, o artigo 15 da Lei do REFIS
da prescrição, para aqueles que forem incluídos no REFIS antes do recebimento da denúncia,
(conjugadas as previsões do caput, §§ 1º e 3º) tem o condão de gerar a extinção da
com a extinção da punibilidade ao final, quando quitado integralmente o débito. (TRF4, RSE
punibilidade do réu. Tal benesse não é, contudo, objeto do artigo 366 do CPP (Lei nº 9.271/96),
2001.71.00.030635-3, Turma Especial, Relator Fábio Bittencourt da Rosa, DJ
que apenas assegura ao estado a manutenção de seu jus puniendi. (...)
23/01/2002)

(TRF4, RSE 2001.71.00.030635-3, Turma Especial, Relator Fábio Bittencourt da


Rosa, DJ 23/01/2002)

REFIS

Lei 9964, DE 10 DE ABRIL DE 2000


6. Em sendo caso de incidência do art. 15 da Lei nº 9.964/00, a ação penal não pode ser
instaurada, na medida em que a adesão ao Programa de Recuperação Fiscal, antes do
recebimento da denúncia, retira o jus puniendi do Estado enquanto os débitos em questão
estiverem sujeitos ao regime do REFIS, tornando ilegítima a prática de qualquer ato que Art. 1o É instituído o Programa de Recuperação Fiscal – Refis,
configure exercício do poder punitivo estatal, tal como o recebimento da exordial, com a
destinado a promover a regularização de créditos da União,
conseqüente instauração do processo penal. 7. (...). 10. A lei nº 9.964/00 não
torna imprescritíveis os crimes capitulados nos artigos 1º e 2º decorrentes de débitos de pessoas jurídicas, relativos a tributos e
da Lei nº 8.137/90 e 168-A do CP, pois, ainda que o lapso contribuições, administrados pela Secretaria da Receita Federal e
prescricional possa ficar suspenso por um longo período –
pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, com vencimento
enquanto a pessoa jurídica estiver incluída no REFIS – o fato é
que em caso de descumprimento do acordado o prazo voltará a até 29 de fevereiro de 2000, constituídos ou não, inscritos ou não em
correr. 11. Recurso criminal em sentido estrito improvido. (TRF4, RSE dívida ativa, ajuizados ou a ajuizar, com exigibilidade suspensa ou
2001.71.00.030635-3, Turma Especial, Relator Fábio Bittencourt
não, inclusive os decorrentes de falta de recolhimento de valores
da Rosa, DJ 23/01/2002)
retidos.

33
07/08/2019

Lei 9964, DE 10 DE ABRIL DE 2000 PAES

Art. 15. É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts.
LEI No 10.684, DE 30 DE MAIO DE 2003.
1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e no art. 95 da Lei no 8.212, de 24 de julho de
1991, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver
incluída no Refis, desde que a inclusão no referido Programa tenha ocorrido antes do recebimento da Art. 1o Os débitos junto à Secretaria da Receita Federal ou à Procuradoria-
denúncia criminal.
Geral da Fazenda Nacional, com vencimento até 28 de fevereiro de 2003,
§ 1o A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva.
poderão ser parcelados em até cento e oitenta prestações mensais e
§ 2o O disposto neste artigo aplica-se, também:
sucessivas.
I – a programas de recuperação fiscal instituídos pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, que adotem, no que couber,
normas estabelecidas nesta Lei; § 1o O disposto neste artigo aplica-se aos débitos constituídos ou não,
II – aos parcelamentos referidos nos arts. 12 e 13.
inscritos ou não como Dívida Ativa, mesmo em fase de execução fiscal já
§ 3o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica ajuizada, ou que tenham sido objeto de parcelamento anterior, não
relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e
integralmente quitado, ainda que cancelado por falta de pagamento.
contribuições sociais, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento
antes do recebimento da denúncia criminal.

10. (TRF 1ª REGIÃO – XI CONCURSO – 2005) Analise as asserções


Art. 9o É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes
abaixo e assinale a alternativa que julgar correta:
previstos nos arts. 1º e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e
nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –
I – “Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº 8.137, de 27
Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o
de dezembro de 1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965, quando
agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento. o agente promover o pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive
§ 1o A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da acessórios, antes do recebimento da denúncia” (Lei nº 9.249/95 – art.34).
Em face desse preceito legal, a obtenção do parcelamento do débito fiscal
pretensão punitiva.
pela empresa devedora extingue a punibilidade em relação aos seus
§ 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo dirigentes processados criminalmente por sonegação fiscal.
quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento
II – a inclusão da empresa relacionada com o agente no Programa de
integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive
Recuperação Fiscal – REFIS, de que trata a Lei nº 10.684/03, antes do
acessórios. recebimento da denúncia, suspende a pretensão punitiva do Estado
referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/90.

SUPERREFIS
LEI 11941/2009
III – a inclusão da empresa relacionada com o agente no Programa de
Recuperação Fiscal – REFIS, de que trata a Lei nº 10.684/03, suspende a
Art. 1o Poderão ser pagos ou parcelados, em até 180 (cento e oitenta) meses, nas
pretensão punitiva do Estado e o curso da prescrição, pelo tempo
condições desta Lei, os débitos administrados pela Secretaria da Receita Federal do
correspondente, referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei
Brasil e os débitos para com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, inclusive o saldo
nº 8.137/90 e no art. 168 -A do Código Penal.
remanescente dos débitos consolidados no Programa de Recuperação Fiscal - REFIS, de que trata a
Lei no 9.964, de 10 de abril de 2000, no Parcelamento Especial - PAES, de que trata a Lei no 10.684,
IV – extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no item III quando a
de 30 de maio de 2003, no Parcelamento Excepcional - PAEX, de que trata a Medida Provisória no 303,
pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral de 29 de junho de 2006, no parcelamento previsto no art. 38 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, e
dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive no parcelamento previsto no art. 10 da Lei no 10.522, de 19 de julho de 2002, mesmo que tenham sido
acessórios, mesmo que isso ocorra depois do recebimento da denúncia. excluídos dos respectivos programas e parcelamentos, bem como os débitos decorrentes do
aproveitamento indevido de créditos do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI oriundos da
aquisição de matérias-primas, material de embalagem e produtos intermediários relacionados na Tabela
de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados - TIPI, aprovada pelo Decreto no 6.006, de 28
a) somente a III opção está correta.
de dezembro de 2006, com incidência de alíquota 0 (zero) ou como não-tributados.
b) somente a IV opção está correta.
c) somente a opção I está correta.
d) somente a III e a IV opções estão corretas.

34
07/08/2019

LEI 11.941/2009

§ 1o O disposto neste artigo aplica-se aos créditos constituídos ou não, inscritos


ou não em Dívida Ativa da União, mesmo em fase de execução fiscal já ajuizada, Art. 68. É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente
inclusive os que foram indevidamente aproveitados na apuração do IPI referidos aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137, de 27 de
no caput deste artigo. dezembro de 1990, e nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei nº
§ 2o Para os fins do disposto no caput deste artigo, poderão ser pagas ou
2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, limitada a
parceladas as dívidas vencidas até 30 de novembro de 2008, de pessoas
suspensão aos débitos que tiverem sido objeto de concessão de
físicas ou jurídicas, consolidadas pelo sujeito passivo, com exigibilidade
suspensa ou não, inscritas ou não em dívida ativa, consideradas isoladamente, parcelamento, enquanto não forem rescindidos os parcelamentos
mesmo em fase de execução fiscal já ajuizada, ou que tenham sido objeto de de que tratam os arts. 1o a 3o desta Lei, observado o disposto
parcelamento anterior, não integralmente quitado, ainda que cancelado por falta no art. 69 desta Lei.
de pagamento, assim considerados:
Parágrafo único. A prescrição criminal não corre durante o
I - os débitos inscritos em Dívida Ativa da União, no âmbito da Procuradoria-Geral
período de suspensão da pretensão punitiva.
da Fazenda Nacional; (...)

LEI 11.941/2009
Discussão

Art. 69. Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no art.


68 quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o
pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e Para fatos anteriores às Leis 12350/2010 e 12382/2011 existe um
contribuições sociais, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto limite temporal para o pagamento? O pagamento extingue a
de concessão de parcelamento. pretensão punitiva ou também a pretensão executória?

Parágrafo único. Na hipótese de pagamento efetuado pela pessoa


física prevista no § 15 do art. 1o desta Lei, a extinção da punibilidade
LEI 10.684/2003
Art. 9o É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168A e
ocorrerá com o pagamento integral dos valores correspondentes à 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes
estiver incluída no regime de parcelamento.
ação penal. § 1o A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva.
§ 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos
oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios.

ED: extinção de punibilidade pelo pagamento integral do débito e prescrição retroativa - 8


O Plenário retomou julgamento de embargos de declaração opostos sob a alegação de que o acórdão condenatório omitira-
se sobre o entendimento desta Corte acerca de pedido de extinção de punibilidade pelo pagamento integral de débito fiscal,
bem assim sobre a ocorrência de prescrição retroativa da pretensão punitiva do Estado. Na situação, o parlamentar, ora
embargante, fora condenado pela prática dos crimes de apropriação indébita previdenciária e de sonegação de contribuição
previdenciária (CP, art. 168-A, § 1º, I, e art. 337-A, III, c/c o art. 71, caput, e art. 69) — v. Informativos 650 e 705. A defesa
argumenta que a extinção de punibilidade poderia ocorrer a qualquer tempo. No ponto, afirma que o adimplemento
total, acompanhado dos consectários legais, acontecera antes da publicação do acórdão e, portanto, do próprio
trânsito em julgado, ainda pendente. Sustenta, ainda, a ocorrência de prescrição retroativa da pretensão punitiva do
Estado, embasada no art. 109, IV, c/c art. 115 do CP, e no art. 9º, § 2º, da Lei 10.684/2003. Argui que teria completado 70
anos de idade em momento anterior ao início da própria sessão de julgamento que o condenara, assim como da publicação
da respectiva decisão. Por fim, pugna pelo acolhimento dos embargos com efeitos infringentes.
AP 516 ED/DF, rel. Min. Ayres Britto, 26.6.2013. (AP-516)

ED: extinção de punibilidade pelo pagamento integral do débito e prescrição retroativa – 9

Em voto-vista, o Min. Teori Zavascki acompanhou o Min. Ayres Britto, relator, para rejeitar os embargos e indeferir
o pleito de declaração de extinção da punibilidade. No que se refere à alegada prescrição da pretensão punitiva em
virtude de o embargante haver completado 70 anos de idade após o julgamento, aduziu que o termo ad quem do prazo
prescricional seria a data da sessão em que condenado o réu, e não a data do trânsito em julgado do acórdão condenatório. O
trânsito não seria ato constitutivo de condenação, mas apenas qualidade especial da sentença ou acórdão: sua imutabilidade.
Assim, seria somente requisito autorizador do início da execução, nos casos em que inadmissível execução provisória de
sentença condenatória — como na ação penal. Portanto, imposta a condenação no julgamento, estaria operada naquela data
a causa interruptiva da prescrição prevista no art. 117, IV, do CP. Qualquer fato superveniente a afetar esse prazo — como o
posterior aniversário do embargante — deveria ser considerado à luz do novo ciclo prescricional iniciado por força do art.
117, § 2º, do CP.
AP 516 ED/DF, rel. Min. Ayres Britto, 26.6.2013. (AP-516)

35
07/08/2019

ED: extinção de punibilidade pelo pagamento integral do débito e prescrição retroativa – 10

No que se refere à suposta extinção da punibilidade pelo pagamento integral do tributo, o Min. Teori Zavascki reputou que a
regra inscrita no art. 9º, § 2º, da Lei 10.684/2003 — ao não estabelecer prazo para pagamento total do tributo devido — não
permitiria que essa quitação fosse feita após a condenação, inclusive. Entendeu que a norma cuidaria de extinção da pretensão
punitiva, e não executória. Assim, o pagamento autorizador da extinção da punibilidade seria aquele realizado até a data da
condenação. Esgotada essa fase jurisdicional, ter-se-ia o exercício da pretensão executória, em que despicienda a discussão. Por
BASES DA DISCUSSÃO NA AP 516:
sua vez, o Min. Gilmar Mendes proveu os embargos, nos termos do voto do Min. Dias Toffoli. Em seguida, ante o empate na votação,
deliberou-se, por maioria — tendo em vista questão de ordem suscitada pela defesa no sentido de que esse resultado deveria A POSSIBILIDADE DE QUE O PAGAMENTO NÃO SE LIMITE
privilegiar o réu —, suspender o julgamento, para aguardar-se o voto do Min. Celso de Mello. O Min. Luiz Fux, no ponto, salientou PELO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA
que o julgamento ter-se-ia iniciado em sessões anteriores, de maneira que poderia continuar para colheita do voto de Ministro que
participara das demais assentadas. A Min. Rosa Weber destacou que, na AP 470/MG (DJe de 15.3.2013), as situações de empate que
naquela ocasião teriam acontecido decorreriam da composição do Pleno, incompleta por causa da aposentadoria de Ministros, o que
não seria o caso. O Min. Dias Toffoli sublinhou, ainda, a importância de a Corte fixar tese a respeito do tema, motivo pelo qual seria
relevante que todos os membros do STF votassem. Vencido o Min. Ricardo Lewandowski, que resolvia a questão de ordem para que
fosse aplicado o entendimento mais benéfico ao réu. Aduzia que o julgamento dos embargos integraria a ação penal, de modo que o
empate deveria favorecer o acusado, à luz da orientação firmada na AP 470/MG.
AP 516 ED/DF, rel. Min. Ayres Britto, 26.6.2013. (AP-516)

INTEIRO TEOR

“AÇÃO PENAL. Crime tributário. Tributo. Pagamento após o “Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa
recebimento da denúncia. Extinção da punibilidade. jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos
oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios” (artigo 9º, § 2º).
Decretação. HC concedido de ofício para tal efeito. Aplicação
O segundo deles reside na questão da igualdade: se o agente pode, a qualquer
retroativa do art. 9º da Lei federal nº 10.684/03, cc. art. 5º, XL, momento, parcelar o débito, suspendendo a punibilidade que, ao cabo do

da CF, e art. 61 do CPP. O pagamento do tributo, a qualquer parcelamento, será extinta, com maior razão a mesma extinção deve atingir aquele
que opta por, num só ato, pagar integralmente o débito. Tal qual ocorre
tempo, ainda que após o recebimento da denúncia, extingue a relativamente ao parcelamento, a nova disciplina dos efeitos jurídico-penais do
punibilidade do crime tributário.” (STF: HC nº 81.929/RJ pagamento, por ser mais benéfica, retroage atingindo todos os cidadãos que se
encontrem nesta situação, não importando, igualmente, o estágio processual
(Primeira Turma, Relator para o acórdão o Ministro Cezar
(art. 5º, XL, CF, art. 2º, CP)” (Heloísa Estellita, “Pagamento e Parcelamento nos
Peluso, DJ de 27/2/04) Crimes Tributários: a Nova Disciplina da Lei nº 10.684/03, in Boletim IBCCRIM, SP,
set. 2003, p. 2-3).

EMENTA Habeas corpus. Crime contra a ordem tributária. Aplicação do princípio da insignificância. Tese
não analisada pelo Superior Tribunal de Justiça. Impossibilidade de conhecimento pela Suprema Corte.
Inadmissível supressão de instância. Precedentes. Não conhecimento do writ. Requerimento incidental
de extinção da punibilidade do paciente pelo pagamento integral do débito tributário constituído.
Possibilidade. Precedente. Ordem concedida de ofício. 1. Não tendo sido analisada pelo Superior
Tribunal de Justiça defesa fundada no princípio da insignificância, é inviável a análise originária desse
STF NÃO SE PRONUNCIOU QUE O PAGAMENTO POSSA pedido pela Suprema Corte, sob pena de supressão de instância, em afronta às normas constitucionais

SER FEITO APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO, APENAS de competência. 2. Não se conhece do habeas corpus. 3. O pagamento integral de débito –
devidamente comprovado nos autos - empreendido pelo paciente em momento anterior ao
DEIXOU CLARO QUE, EM CERTOS CASOS, NÃO SE LIMITA trânsito em julgado da condenação que lhe foi imposta é causa de extinção de sua punibilidade,

PELO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA conforme opção político-criminal do legislador pátrio. Precedente. 4. Entendimento pessoal
externado por ocasião do julgamento, em 9/5/13, da AP nº 516/DF-ED pelo Tribunal Pleno, no
sentido de que a Lei nº 12.382/11, que regrou a extinção da punibilidade dos crimes tributários
nas situações de parcelamento do débito tributário, não afetou o disposto no § 2º do art. 9º da
Lei 10.684/03, o qual prevê a extinção da punibilidade em razão do pagamento do débito, a
qualquer tempo. 5. Ordem concedida de ofício para declarar extinta a punibilidade do paciente. (HC
116828 / SP, Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, DJe-206 DIVULG 16-10-2013 PUBLIC 17-10-
2013)

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07/08/2019

[...] A pretensão punitiva estatal e a prescrição penal ficam suspensas durante todo
o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente infrator estiver Sexta Turma
DIREITO PENAL. INOCORRÊNCIA DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO PAGAMENTO DO
adimplindo com o parcelamento de seus débitos oriundos de tributos e contribuições
DÉBITO PREVIDENCIÁRIO APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DA CONDENAÇÃO.
sociais junto à Fazenda Nacional. Com efeito, a norma em comento apenas tem
aplicabilidade enquanto ainda existente pretensão punitiva, ou seja, torna-se Nos crimes de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP), o pagamento do débito previdenciário
ineficaz - no que tange a suspensão da eficácia do título executivo judicial - o após o trânsito em julgado da sentença condenatória não acarreta a extinção da punibilidade. O art. 9º da Lei
10.684/2003 dispõe que: “É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º
pagamento ou parcelamento dos débitos quando já existente a pretensão
da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de
executória de sentença penal já transitada em julgado. 2. No caso dos autos, o
1940 – Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes
acórdão que deu parcial provimento à apelação criminal defensiva transitou em estiver incluída no regime de parcelamento. § 1º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da
julgado em 11/11/2008 (fl. 25) e a empresa administrada pelos recorrentes apenas pretensão punitiva. § 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica
relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais,
aderiu ao regime de parcelamento em 15/10/2009, após, portanto, o trânsito em
inclusive acessórios”. O referido dispositivo trata da extinção da punibilidade pelo pagamento da dívida antes do
julgado, devendo prosseguir normalmente a execução da decisão condenatória. 3.
trânsito em julgado da condenação, uma vez que faz menção expressa à pretensão punitiva do Estado. Dessa forma,
Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega provimento.(RHC 29576 / não há que se falar em extinção da punibilidade pelo pagamento quando se trata de pretensão executória, como na
ES, MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, Data do Julgamento hipótese em análise. Precedente do STJ: RHC 29.576-ES, Quinta Turma, DJe 26/2/2014. Precedente do STF: QO na
AP 613-TO, Plenário, DJe 4/6/2014. HC 302.059-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
19/11/2013 Data da Publicação/Fonte DJe 26/02/2014)
5/2/2015, DJe 11/2/2015 (Informativo 556).

LEI 9430/96

Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária
previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a
Previdência Social, previstos nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal), será encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão
LEIS 12350/2010 e 12.382/2011 final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente.
(Redação dada pela Lei nº 12.350, de 2010)

INSTITUIÇÃO DE REGRAS PERMANENTES DE § 1o Na hipótese de concessão de parcelamento do crédito tributário, a representação fiscal para
fins penais somente será encaminhada ao Ministério Público após a exclusão da pessoa física ou
PARCELAMENTO E PAGAMENTO COM EFEITOS PENAIS
jurídica do parcelamento. (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011).

§ 2o É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o
período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes
estiver incluída no parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes
do recebimento da denúncia criminal. (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011).

P.A.F.
§ 3o A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão
punitiva. (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011).

§ 4o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a


REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA
pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos Parcelamento
FINS PENAIS MP
Art. 83 §§ 1º, 2º e
de tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de
3º da Lei 9430/96
parcelamento. (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011). D
E
N
§ 5o O disposto nos §§ 1o a 4o não se aplica nas hipóteses de vedação legal de Ú

parcelamento. (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011). N


C
I
Pagamento
§ 6o As disposições contidas no caput do art. 34 da Lei no 9.249, de 26 de dezembro de A
Art. 34 da Lei 9249/95
1995, aplicam-se aos processos administrativos e aos inquéritos e processos em c/c Art. 83 § 6º da Lei

curso, desde que não recebida a denúncia pelo juiz. (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011). 9430/96
RECEBIMENTO DA DENÚNCIA

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07/08/2019

Quadrilha e Crimes contra a Ordem Tributária: Autonomia


[...] ... Considerou-se improcedente a assertiva de que inexistiria o elemento subjetivo do tipo do art.
DISCUSSÃO 288, do CP, tendo em conta que o fato dos pacientes estarem na gerência da empresa não impediria que,
nessa condição, viessem a se associar para o fim de cometer crimes. Por fim, com base no
entendimento da Corte no sentido de que o crime de quadrilha ou bando, por ser delito
autônomo e formal, se consuma no momento em que se concretiza a convergência de vontades
e independe da realização ulterior do fim visado, concluiu-se que a suspensão da ação penal
pelo crime de sonegação fiscal, decorrente da adesão ao programa de recuperação fiscal, não
implicava a ausência de justa causa para acusação pelo crime de quadrilha.
A suspensão da pretensão punitiva pelo parcelamento
Quadrilha e Crimes contra a Ordem Tributária: Autonomia – 2
tem o condão de impedir a persecução de eventual
A Turma retomou julgamento de habeas corpus [...] Sustentam os impetrantes: a) que, em razão da empresa dos
associação criminosa? pacientes ter aderido ao programa de recuperação fiscal e ter parcelado seu débito, na forma do art. 9º da Lei
10.684/2003, pela qual os mesmos obtiveram direito à suspensão do processo-crime por sonegação fiscal, isso
O crime do art. 288 CP é compatível com a delinquência
implicaria falta de justa causa para a ação penal em relação ao delito do art. 288, do CP; b) ausência do elemento
econômica? subjetivo para consumação do crime de quadrilha, consistente na expressão “para o fim de cometer crimes”, sob
o argumento de que o cometimento desse delito não restaria caracterizado pelo simples fato de os pacientes
estarem na gerência de uma empresa; c) inépcia da peça acusatória, em face de constar da inicial mera referência ao
art. 288, do CP, desprovida de qualquer descrição da conduta subsumível à figura típica nele descrita ― v. Informativos 355
e 358. Na sessão de 14.9.2004, a Turma recebera embargos de declaração para renovar o julgamento do writ.
Reiniciado em 19.10.2004, o Min. Eros Grau, relator, reiterando os fundamentos do seu voto proferido em 3.8.2004,
indeferiu o habeas corpus, no que foi acompanhado pelo Min. Carlos Britto. HC 84223/RS, rel. Min. Eros Grau, 14.8.2007.
(HC-84223)

Quadrilha e Crimes contra a Ordem Tributária: Autonomia – 4


Quadrilha e Crimes contra a Ordem Tributária: Autonomia – 3
Em voto-vista, o Min. Cezar Peluso deferiu parcialmente a ordem para determinar o Em conclusão de julgamento, a Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus (...)
trancamento da ação penal contra os pacientes, quanto à acusação de formação de quadrilha Considerou-se improcedente a assertiva de que inexistiria o elemento subjetivo do tipo
ou bando. Entendeu que a suposta prática de delitos econômicos por pessoas que se associaram, do art. 288, do CP, tendo em conta que o fato de os pacientes estarem na gerência da
nos termos da lei, para o exercício de atividades lícitas, não pode justificar nem legitimar, por si só, empresa não impediria que, nessa condição, viessem a se associar para o fim de
imputação do crime previsto no art. 288 do CP. Aduziu, então, que esse dispositivo só encontraria
cometer crimes. Por fim, com base no entendimento da Corte no sentido de que o
adequação típica na constituição de sociedades criadas com a finalidade específica de práticas
crime de quadrilha ou bando, por ser delito autônomo e formal, se consuma no
delituosas, ou seja, esclareceu que o propósito da prática reiterada de crimes deveria ser o móvel
momento em que se concretiza a convergência de vontades e independe da realização
da associação de mais de três pessoas. Por conseqüência, reputou necessário o exame da
denúncia. No caso, salientando que a acusação principal seria a de omissão de faturamento para ulterior do fim visado, concluiu-se que a suspensão da ação penal pelo crime de
fins de tributação federal, considerou evidente que os réus, eventualmente associados, o sonegação fiscal, decorrente da adesão a programa de recuperação fiscal, não
teriam feito com o objetivo de exercer atos lícitos de mercancia, acabando por supostamente implicaria falta de justa causa para acusação pelo crime de quadrilha. Vencido o Min.
praticar crimes contra a ordem tributária, em continuidade delitiva, conforme afirmado pela Cezar Peluso que deferia parcialmente a ordem para determinar o trancamento da
denúncia. Após o voto do Min. Eros Grau que reconsiderou seu voto para acompanhar o do ação penal quanto à acusação de formação de quadrilha ou bando. O Min. Eros
Min. Cezar Peluso, pediu vista o Min. Carlos Britto. HC 84223/RS, rel. Min. Eros Grau, 14.8.2007.
Grau retomou os fundamentos do seu voto originário. HC 84223/RS, rel. Min. Eros
(HC-84223)
Grau, 3.6.2008. (HC-84223)

REsp 853629 / RJ (STJ - 5ªTURMA - DJ 29.06.2007 p. 702)

CRIMINAL. RESP. OMISSÃO NO REPASSE DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS.


DENÚNCIA. REJEIÇÃO. PARCELAMENTO. AUSÊNCIA DE DOLO. NÃO VINCULAÇÃO. RECURSO
DESPROVIDO.
I. Hipótese em que o Magistrado de primeiro grau rejeitou a acusatória, ao

CONFLITO CTN X LEIS DE PARCELAMENTO: fundamento de que se foi concedido o parcelamento da dívida, significa que o
Estado-credor entendeu pela ausência de dolo ou fraude na conduta dos acusados.
AFASTAMENTO DO DOLO
II. Incabível a aplicação de norma subsidiária em detrimento da lei específica reguladora da espécie,
na qual se prevê a possibilidade de parcelamento do débito tributário, sem qualquer menção à
existência ou não de dolo na conduta do acusado. III. "Se o artigo 15, da Lei n.º 9.964/2000 determina
a suspensão da pretensão punitiva estatal referente a determinados crimes, dentre os quais encontra-
se a apropriação indébita previdenciária, 'durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com
o agente dos aludidos crimes estiver incluída no Refis, desde que a inclusão do referido Programa
tenha ocorrido antes do recebimento da denúncia criminal', inequivocadamente, não está afastada
a hipótese de consumação do delito em casos como esse." IV. Incabível a hipótese de ofensa aos
arts. 154 e 155, § 1º, do CTN. V. Recurso desprovido.

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07/08/2019

DISCUSSÃO

RENDAS ILÍCITAS E SONEGAÇÃO FISCAL É possível a responsabilidade penal por


sonegação ante a não declaração de
valores ilicitamente obtidos (crimes)?

HC. CONCESSÃO. OPERAÇÃO GAFANHOTO.


A paciente é acusada de haver sonegado valores à Receita Federal, ao Fisco Federal, sob o
fundamento de ter recebido de diversos servidores valores de seus salários (operação
- RECURSO ESPECIAL. PENAL. PECULATO. CONDENAÇÃO. SONEGAÇÃO FISCAL DE RENDA gafanhoto). Fundou-se a denúncia na Lei n. 8.137/1990, art. 1º, I: Omitir informação ou
PROVENIENTE DE ATUAÇÃO ILÍCITA. TRIBUTABILIDADE. INEXISTÊNCIA DO "BIS IN prestar declaração falsa às autoridades fazendárias. Em outra denúncia por peculato e por
IDEM". BENS JURÍDICOS TUTELADOS NOS TIPOS PENAIS DISTINTOS. PUNIBILIDADE. quadrilha ou bando, na qual, ao lado de oito pessoas, fora também a paciente denunciada. O

São tributáveis, "ex vi" do art. 118, do Código Tributário Min. Relator acentuou que a conduta descrita, se penalmente punível, não há, pela falta de
especificidade, de ser punida como crime contra a ordem tributária. Admitindo-se tenha a
Nacional, as operações ou atividades ilícitas ou imorais, posto a
paciente tido em seu poder as quantias recebidas, não tinha ela o dever jurídico de
definição legal do fato gerador é interpretada com abstração da validade jurídica dos atos
efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis ou terceiros, bem como da
declará-las às autoridades fazendárias. A admissão implicaria auto-

natureza do seu objeto ou dos seus efeitos. - Não constitui "bis in idem" a acusação e, também, o contra-senso de ter por sanado o caráter ilícito do

instauração de ação penal para ambos os crimes, posto caracterizados fato uma vez recolhido o tributo. Se houve ou há crime, não se trata de

peculato e sonegação fiscal, reduzindo-se, porém, a pena para o algum dos definidos na Lei n. 8.137/1990. O caso não é de suprimir ou

segundo crime à vista das circunstâncias judiciais. - Recurso conhecido e reduzir tributo, isso porque não havia tributo exigível; se houvesse a exigência,

provido.(STJ: REsp 182563/RJ, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, Quinta Turma, DJ estar-se-ia tributando o ilícito e isso, evidentemente, não é admissível. Com essas

23.11.1998 p. 198) considerações, a Turma concedeu a ordem para trancar a ação penal. HC 55.217-RR, Rel.
Min. Nilson Naves, julgado em 20/6/2006.

HC 77530 / RS (STF – 1ª TURMA - DJ 18-09-1998) “Non olet” e atividade ilícita

É possível a incidência de tributação sobre valores arrecadados em virtude de atividade ilícita, consoante
EMENTA: Sonegação fiscal de lucro advindo de atividade criminosa: o art. 118 do CTN (“Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se: I - da validade jurídica dos atos
efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos; II
"non olet". Drogas: tráfico de drogas, envolvendo sociedades
- dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos”). Com base nessa orientação, a 1ª Turma conheceu parcialmente de
comerciais organizadas, com lucros vultosos subtraídos à habeas corpus e, na parte conhecida, por maioria, denegou a ordem. Na espécie, o paciente fora

contabilização regular das empresas e subtraídos à declaração de condenado pelo crime previsto no art. 1º, I, da Lei 8.137/1990 (“Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária
suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I - omitir informação, ou
rendimentos: caracterização, em tese, de crime de sonegação prestar declaração falsa às autoridades fazendárias”) e sustentava a atipicidade de sua conduta, porque inexistiria

fiscal, a acarretar a competência da Justiça Federal e atrair pela obrigação tributária derivada da contravenção penal do jogo do bicho (Decreto-Lei 6.259/44, art. 58). O Min.
Dias Toffoli, relator, assinalou que a definição legal do fato gerador deveria ser interpretada com abstração da validade jurídica da
conexão, o tráfico de entorpecentes: irrelevância da origem ilícita, atividade efetivamente praticada, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos. Ressaltou que a possibilidade de
tributação da renda obtida em razão de conduta ilícita consubstanciar-se-ia no princípio do non olet. Assim, concluiu que o réu
mesmo quando criminal, da renda subtraída à tributação. A praticara sonegação fiscal, porquanto não declarara suas receitas, mesmo que resultantes de ato contravencional. O Min. Luiz Fux

exoneração tributária dos resultados econômicos de fato aludiu ao caráter sui generis da teoria geral do direito tributário. Acrescentou que seria contraditório o não-pagamento do imposto
proveniente de ato ilegal, pois haveria locupletamento da própria torpeza em detrimento do interesse público da satisfação das
criminoso - antes de ser corolário do princípio da moralidade - necessidades coletivas, a qual se daria por meio da exação tributária. Vencido o Min. Marco Aurélio, que concedia a ordem por
entender que recolhimento de tributo pressuporia atividade legítima. Precedente citado: HC 77530/RS (DJU de 18.9.98). HC
constitui violação do princípio de isonomia fiscal, de manifesta 94240/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 23.8.2011. (HC-94240)

inspiração ética.

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07/08/2019

IRRELEVÂNCIA DO PARCELAMENTO TRIBUTÁRIO.

Compete à Justiça Federal o julgamento de crime de peculato se houver possibilidade de utilização da


prova do referido crime para elucidar crime de sonegação fiscal consistente na falta de declaração à
Receita Federal do recebimento dos valores indevidamente apropriados, ainda que suspenso o curso da
ação penal quanto ao crime fiscal por adesão ao programa de recuperação (parcelamento). Conforme
preceitua o art. 76, III, do CPP, a competência será determinada pela conexão quando a prova de uma infração ou
de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração. Essa conexão, chamada de
probatória ou instrumental, tem como objetivo evitar decisões conflitantes, bem como contribuir para a economia
processual, além de possibilitar ao Juízo uma visão mais completa dos fatos. Presente a conexão entre os fatos APLICABILIDADE AO DESCAMINHO DA LEI 10684/2003
delituosos e sendo um deles da competência da Justiça Federal, aplica-se a Súm. n. 122/STJ. O fato de a ação
penal relativa ao crime de sonegação tributária estar suspensa, em razão da adesão ao programa de recuperação
fiscal, em nada altera a competência da Justiça Federal para processar e julgar o crime de peculato, aplicando-se,
por analogia, o disposto no art. 81, caput, do CPP, segundo o qual “verificada a reunião dos processos por conexão
ou continência, ainda que no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença
absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará
competente em relação aos demais processos." Ora, se no mais – absolvição ou desclassificação do crime – a
competência permanece, não há razão para o menos – suspensão da ação penal – modificar a competência
atraída pela conexão. Precedentes citados: CC 39.681-RS, DJ 2/3/2005, e AgRg no CC 111.962-AC, DJe
22/6/2012. CC 121.022-AC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/10/2012.

DISCUSSÃO

HC 94777 / RS (STF – 1ª TURMA - DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008)

Habeas corpus. Penal e processual penal. Crime de estelionato. Impossibilidade de aplicação analógica do

art. 34 da Lei nº 9.249/95 e da Súmula nº 554 do STF. 1. Inviável a pretendida aplicação analógica
do art. 34 da Lei 9.249/95, obstada pelos princípios da legalidade e da especialidade, sendo certo
que a analogia pressupõe uma lacuna involuntária. 2. A Súmula nº 554 do Supremo Tribunal Federal não se
É possível à falta de previsão legal aplicar a causa de
aplica ao crime de estelionato na sua forma fundamental: "Tratando-se de crime de estelionato, previsto no art. 171,
extinção da punibilidade pelo pagamento ao 'caput', não tem aplicação a Súmula 554-STF" (HC nº 72.944/SP, Relator o Ministro Carlos Velloso, DJ 8/3/96). A
orientação contida na Súmula nº 554 é restrita ao estelionato na modalidade de emissão de cheques sem suficiente
descaminho da Lei 9249/95 ou de outros programas de
provisão de fundo, prevista no art. 171, § 2°, inc. VI, do Código Penal (Informativo n° 53 do STF). 3. A reparação do

parcelamento? dano antes da denúncia é tão-somente uma causa de redução da pena, nos termos do art. 16 do Código Penal, e não
uma causa de excludente de culpabilidade. 4. Não cabe acolher a prescrição da pena de multa considerando que
mesmo no estelionato privilegiado (art. 171, § 1º, do CP) possível é a aplicação de pena de detenção em substituição à
de reclusão ou a diminuição de um a dois terços (art. 155, § 2º, do CP). Entendendo o Juiz de aplicar a pena de multa,
então, poderá no mesmo ato conhecer a prescrição. 5. Habeas corpus denegado. Ordem concedida de ofício para que
o Juízo aprecie a impetração com base no art. 171, § 1º, do Código Penal.

ROHC 16109/SP (STJ – 5ª TURMA - DJ 18/10/2004)

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DESCAMINHO. TRANCAMENTO


DE INQUÉRITO. FALTA DE JUSTA CAUSA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. PAGAMENTO DO TRIBUTO.
APLICAÇÃO ANALÓGICA DA LEI Nº 9.249/95. IMPOSSIBLIDADE.
I - O trancamento de inquérito por ausência de justa causa, conquanto possível, cabe, apenas, nas
hipóteses em que evidenciado, de plano, a atipicidade do fato ou a inexistência de autoria por HC 46643 / PR (stj - 6ª turma - DJ 26.06.2006 p. 207):
parte da paciente. (Precedentes).

II - A Lei nº 9.249/95 é taxativa ao estabelecer no caput do art. 34 “... 3. Inaplicável crime de descaminho, o tratamento dados aos crimes

a extinção da punibilidade do agente que promover o pagamento contra a ordem tributária, consoante a letra do artigo 34, da Lei 9249/95
que restringe expressamente sua incidência aos crimes previstos nas Leis
do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do
8137/90 e 4729/64. 4. Ordem parcialmente conhecida e, no ponto,
recebimento da denúncia. apenas em relação aos crimes definidos
denegada.”
na Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e na Lei nº 4.729, de
14 de julho de 1965, não podendo, por isso mesmo, ser aplicada
ao delito de descaminho previsto no art. 334 do Código Penal.
Recurso desprovido.

40
07/08/2019

HC 85942 / SP (STF – 1ª TURMA - Relator(a): Min. LUIZ FUX - DJe-146 DIVULG 29-07-2011 PUBLIC 01-08-2011)
DESCAMINHO. PAGAMENTO. TRIBUTO. ANTERIORIDADE. OFERECIMENTO. DENÚNCIA. Parte(s) PACTE.(S) : FÁBIO BUSSAB SALIBA - IMPTE.(S) : SÉRGIO ROSENTHAL E OUTRO(A/S) -

As pacientes são acusadas de descaminho em razão de suposta compra de roupas íntimas pelos Correios. A res foi avaliada em COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

oito mil e cinqüenta e seis dólares americanos e teria sido comprada por uma amiga numa das tradicionais queimas de estoque
Ementa: PENAL. HABEAS CORPUS. DESCAMINHO (ART. 334, § 1º, ALÍNEAS “C” E “D”, DO CÓDIGO PENAL).
das lojas da cidade norte-americana de Miami. Sendo a impetração do presente writ anterior à aceitação da proposta de
PAGAMENTO DO TRIBUTO. CAUSA EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE. ABRANGÊNCIA PELA LEI Nº 9.249/95. NORMA
suspensão condicional do processo, não se configura um óbice à analise do mérito pela Sexta Turma. Para o deslinde PENAL FAVORÁVEL AO RÉU. APLICAÇÃO RETROATIVA. CRIME DE NATUREZA TRIBUTÁRIA. 1. Os tipos de
descaminho previstos no art. 334, § 1º, alíneas “c” e “d”, do Código Penal têm redação definida pela Lei nº 4.729/65. 2.
da questão jurídica apresentada no presente remédio heróico, é imprescindível o
A revogação do art. 2º da Lei nº 4.729/65 pela Lei nº 8.383/91 é irrelevante para o deslinde da controvérsia, porquanto,
cotejo analítico de dois tipos penais: sonegação fiscal e descaminho. A Min. Relatora na parte em que definidas as figuras delitivas do art. 334, § 1º, do Código Penal, a Lei nº 4.729/65 continua em pleno
vigor. 3. Deveras, a Lei nº 9.249/95, ao dispor que o pagamento dos tributos antes do recebimento da denúncia
entendeu que, no caso, pode-se colher de empréstimo o espírito normativo da Lei n.
extingue a punibilidade dos crimes previstos na Lei nº 4.729/65, acabou por abranger os tipos penais descritos
10.684/2003, pois dispõe de idêntica raiz exegética. Tal diploma deixou suficientemente clara a no art. 334, § 1º, do Código Penal, dentre eles aquelas figuras imputadas ao paciente – alíneas “c” e “d” do § 1º.

existência de outros tipos penais de cariz tributário além daqueles presentes na Lei n. 8.137/1990, destacando pontualmente
4. A Lei nº 9.249/95 se aplica aos crimes descritos na Lei nº 4.729/65 e, a fortiori, ao descaminho previsto no art. 334, §
1º, alíneas “c” e “d”, do Código Penal, figura típica cuja redação é definida, justamente, pela Lei nº 4.729/65. 5. Com
no CP os crimes previdenciários, prevendo-se também hipótese de extinção de punibilidade em razão do prévio pagamento do
efeito, in casu, quando do pagamento efetuado a causa de extinção da punibilidade prevista no art. 2º da Lei nº
débito. Assim, pode-se concluir que o crime de descaminho é intrinsecamente tributário, ou seja,
4.729/65 não estava em vigor, por ter sido revogada pela Lei nº 6.910/80, sendo certo que, com o advento da Lei nº
tutela-se o direito que o Estado tem de instituir e cobrar impostos e contribuições. (...) verificou-se 9.249/95, a hipótese extintiva da punibilidade foi novamente positivada. 6. A norma penal mais favorável aplica-

empate na votação. Prevalecendo a decisão mais favorável às rés, a Turma conheceu do pedido de habeas corpus e se retroativamente, na forma do art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal. 7. O crime de descaminho, mercê de
tutelar o erário público e a atividade arrecadatória do Estado, tem nítida natureza tributária. 8. O caso sub judice
concedeu a ordem. HC 48.805-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/6/2007.
enseja a mera aplicação da legislação em vigor e das regras de direito intertemporal, por isso que dispensável
incursionar na seara da analogia in bonam partem. 9. Ordem CONCEDIDA.

DISCUSSÃO

APLICABILIDADE DE DISPOSITIVOS COMO O ART. 9º DA LEI É possível a aplicação do Art. 9º da Lei 10684/2003 a crimes
10684/2003 (LEI 11941/2009) A CRIMES PATRIMONIAIS patrimoniais cometidos sem violência ou grave ameaça
COMETIDOS SEM VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA (furto, apropriação indébita, receptação, ...) afastando o Art.
16 CP?

CONTROVERTIDO

2006.059.06676 - HABEAS CORPUS - 1ª Ementa DES. MARCUS BASILIO - Julgamento:


28/11/2006 - PRIMEIRA CAMARA CRIMINAL

EMENTA - HABEAS CORPUS - FURTO DE ÁGUA TRATADA - PAGAMENTO DA DIVIDA ANTES DO


RECEBIMENTO DA DENÚNCIA – (...) Sendo os denunciados os responsáveis pelo estabelecimento
beneficiado e pela obra lá realizada, deve a eles ser imputada a conduta ilícita de subtração de água
tratada, destacando-se que o writ não é a via própria para se promover confronto e valoração da
1ª Corrente – Andrei Zenker Schmitdt – Analogia - crimes
prova produzida (... ) Todavia, havendo prova de que o alegado prejuízo foi
cometidos sem violência ou grave ameaça. prontamente ressarcido, impõe-se o trancamento da ação penal respectiva
sob o fundamento de que a legislação penal vigente, em diversas ocasiões,
dispõe que o pagamento do tributo antes do recebimento da denúncia
2ª Corrente – Luciano Feldens – Inconstitucionalidade.
acarreta a extinção da punibilidade, podendo tal benefício, por força do
princípio constitucional da isonomia, ser estendido aos casos parecidos.
Apesar de não se tratar de tributo, tendo a natureza jurídica de preço público, o valor cobrado pela
CEDAE se assemelha àquele instituto, permitindo tal interpretação extensiva em benefício dos
agentes.

41
07/08/2019

HC 93893 / SP (STJ – 6ª TURMA - Relator(a) Ministro NILSON NAVES - DJe RHC 21489 / RS (STJ – 6ª TURMA - Relator(a) Ministro NILSON NAVES
30/06/2008) DJe 24/03/2008)
Cheque/estelionato (Cód. Penal, art. 171, § 2º, VI). Dívida (pagamento). Ação
(não-prosseguimento). Punibilidade (extinção). Insignificância (caso). 1. A ação Ementa Estelionato (Cód. Penal, art. 171). Denúncia (defeito/impropriedade
penal não há de ir para a frente em caso que tal, mesmo que o pagamento do formal). Prejuízo (pagamento). Punibilidade (extinção). 1. É defeituosa a
cheque se tenha verificado após o recebimento da denúncia. 2. Ainda em caso tal, denúncia em que se não expõem, às claras, as diversas participações no
bem como em casos assemelhados, é lícito entender que se extingue a fato – estelionato. 2. Caso em que, quanto à formalidade, decidiu a Turma
punibilidade pelo pagamento da dívida (por exemplo, RHC-21.489). 3. Segundo unanimemente. 3. O pagamento da denominada vantagem ilícita antes
o Relator, lícito ainda é se invoque o princípio da insignificância diante da do recebimento da denúncia é causa de extinção da punibilidade.
reparação do dano, de modo que se exclua da tipicidade penal fatos Inteligência e aplicação analógica de textos como os dos arts. 34 da Lei
penalmente insignificantes. 4. Habeas corpus deferido – extinção da ação penal. nº 9.249/95 e 9º da Lei nº 10.684/03, bem como o da Súmula 554/STF. 4.
Caso em que, quanto à extinção da punibilidade, o Relator ficou
vencido. 5. Recurso ordinário provido em parte – imperfeição formal da
denúncia –, com extensão da ordem.

HC 94777 / RS (STF – 1ª TURMA - DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008)

EMENTA Habeas corpus. Penal e processual penal. Crime de estelionato. Impossibilidade de


aplicação analógica do art. 34 da Lei nº 9.249/95 e da Súmula nº
554 do STF. 1. Inviável a pretendida aplicação analógica do art.
34 da Lei 9.249/95, obstada pelos princípios da legalidade e da
especialidade, sendo certo que a analogia pressupõe uma
lacuna involuntária. 2. A Súmula nº 554 do Supremo Tribunal Federal não se aplica ao crime de PARCELAMENTO DO DÉBITO TRIBUTÁRIO E DELITO DE
estelionato na sua forma fundamental: "Tratando-se de crime de estelionato, previsto no art. 171, 'caput', não
QUADRILHA
tem aplicação a Súmula 554-STF" (HC nº 72.944/SP, Relator o Ministro Carlos Velloso, DJ 8/3/96). A
orientação contida na Súmula nº 554 é restrita ao estelionato na modalidade de emissão de cheques sem
suficiente provisão de fundo, prevista no art. 171, § 2°, inc. VI, do Código Penal (Informativo n° 53 do STF). 3.
A reparação do dano antes da denúncia é tão-somente uma causa de redução da pena, nos termos do art. 16
do Código Penal, e não uma causa de excludente de culpabilidade. 4. Não cabe acolher a prescrição da pena
de multa considerando que mesmo no estelionato privilegiado (art. 171, § 1º, do CP) possível é a aplicação
de pena de detenção em substituição à de reclusão ou a diminuição de um a dois terços (art. 155, § 2º, do
CP). Entendendo o Juiz de aplicar a pena de multa, então, poderá no mesmo ato conhecer a prescrição. 5.
Habeas corpus denegado. Ordem concedida de ofício para que o Juízo aprecie a impetração com base no
art. 171, § 1º, do Código Penal.

DISCUSSÃO

HÁ NECESSIDADE DE UMA PERÍCIA PARA COMPROVAÇÃO DA FRAUDE


(DES)NECESSIDADE DE PERÍCIA CONTÁBIL PARA
TRIBUTÁRIA? SEU INDEFERIMENTO É CAUSA DE NULIDADE?
CONDENAÇÃO

42
07/08/2019

RHC 12840 / MG (STJ – 6ª TURMA - DJ 16.11.2004 p. 322)

PENAL E PROCESSUAL. SONEGAÇÃO FISCAL. PERÍCIA CONTÁBIL.


INDEFERIMENTO. DEFESA. CERCEAMENTO. NULIDADE. INEXISTÊNCIA.
Tema
Não constitui constrangimento ilegal o indeferimento de perícia
contábil para aferir a materialidade de hipótese de sonegação de
ICMS porquanto, na conformidade do princípio do livre Sujeito Ativo do delito
convencimento fundamentado, o juiz apreciará livremente a prova
(art. 157 do CPP). habeas corpus, mercê de seu rito célere, marcado por
cognição sumária indene ao contraditório, não comporta o exame de
questões relacionadas com autoria e materialidade de infração penal, na
medida em que exigem dilação probatória. Recurso a que se nega
provimento.

É o contribuinte, aquele que tem a obrigação de Tema

prestar contas perante o fisco, seja ele o contribuinte


Sujeito Passivo do delito
de fato , o substituto tributário ou mesmo quem deve
cumprir a obrigação acessória e foi multado em
razão disto.

Tema

É o ente estatal a quem direcionado o produto da


arrecadação do tributo sonegado (União, Estado, Bem jurídico tutelado
Municípios, Autarquias, ...).

43
07/08/2019

HC 21071 / SP (STJ – 5ª Turma - DJ 17.03.2003 p. 245)


DIVERGÊNCIA

“1. Não se vislumbra na hipótese a existência de ilícito


fiscal, o que se torna inviável a imputação do delito de
descaminho ao paciente, uma vez que a conduta que se lhe
imputa a peça acusatória não chegou a lesar o bem
1ª Corrente – (Maj) - CAPEZ, DELMANTO e NUCCI – O
jurídico tutelado, qual seja, a Administração Pública
ERÁRIO, A ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA
em seu interesse fiscal.
2. Aplicação do princípio da insignificância como causa
2ª Corrente –LOVATO – ORDEM TRIBUTÁRIA supralegal de exclusão da tipicidade. Precedentes do STJ. 3.
Habeas corpus concedido.”

Lei 4729/65

Art 1º Constitui crime de sonegação fiscal:


Tema
I - prestar declaração falsa ou omitir, total ou parcialmente, informação
que deva ser produzida a agentes das pessoas jurídicas de direito público
Tipo subjetivo: dolo eventual e dolo específico
interno, com a intenção de eximir-se, total ou parcialmente, do
pagamento de tributos, taxas e quaisquer adicionais devidos por lei;
...

Dolo Específico

RHC 11816 / MG (STJ – 6ª Turma - DJ 18.03.2002 p. 302) […] O elemento subjetivo do tipo para configuração do crime do art. 1º, inciso I, da
PENAL. HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. ART. 41 DO CPP. DELITOS Lei 8.137/90 é o dolo genérico, ou seja, basta que o agente pretenda, mediante
SOCIETÁRIOS. EXAME DE PROVA. IMPROPRIEDADE DO WRIT. CRIME sua conduta fraudulenta, suprimir ou reduzir tributos dos cofres públicos. Não há
CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. LEI 8.137/90. PARCELAMENTO DO necessidade de configuração de qualquer especial fim de agir para que a conduta
DÉBITO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. seja considerada típica, antijurídica e culpável. […] (TRF4, ACR 5015180-
Em sede de crime contra a ordem tributária, ocorre a extinção da 62.2014.4.04.7200, OITAVA TURMA, Relator LEANDRO PAULSEN, juntado
punibilidade com a concessão do parcelamento da dívida pela Administração aos autos em 14/12/2017)
antes do recebimento da denúncia, nos termos do art. 14, da Lei nº 8.137,
de 1990, revigorado pelo art. 34, da Lei nº 9.249, de 1995. […] Ademais, para configuração do crime de sonegação fiscal, por se tratar de tipo
-Para a caracterização do crime em tela, é necessária a presença do múltiplo, basta a omissão de informações ou prestar declaração falsa à autoridade
dolo específico, ou seja, o ânimo de furtar-se ao cumprimento da fazendária, com decorrente redução de tributo, sem que haja a necessidade de se
obrigação tributária, inexistente na hipótese em que o contribuinte indagar se houve ou não a intenção especial do acusado em reduzir tributo. Ou
celebra com a Administração acordo de pagamento parcelado da seja, a conduta de omitir a informação ou de informar à autoridade fazendária
dívida, resultando atípica a conduta imputada. - Recurso ordinário dados imprecisos e inidôneos a fim de suprimir tributos, demonstra a intenção de
provido. Habeas-corpus concedido. sonegar. […] (TRF4, ACR 5035781-69.2012.4.04.7100, SÉTIMA TURMA,
Relatora SALISE MONTEIRO SANCHOTENE, juntado aos autos em
12/12/2017)

44
07/08/2019

Dolo Eventual - Baltazar

EMENTA: PENAL. CRIME DE QUADRILHA OU BANDO. PRESCRIÇÃO RETROATIVA.


CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 1º, I E II, DA LEI 8137/90. PRESCRIÇÃO
PARCIAL. NULIDADE DA SENTENÇA INEXISTENTE. REFIS. MATERIALIDADE E
Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou AUTORIA. DOLO. GRADUAÇÃO DA PENA. REEXAME DAS CIRCUNSTÂNCIAS
contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: JUDICIAIS DO ART. 59 DO CP. INCIDÊNCIA DO ART. 12, I, DA LEI 8.137/90.
... CONTINUIDADE DELITIVA. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
DOS CORÉUS. (...) 6. Os crimes previstos na Lei nº 8.137/90 admitem a forma do
IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva
dolo eventual. Não é comum que empregados utilizem suas contas bancárias pessoais
saber falso ou inexato;
para efetuar depósitos de recursos da empresa para a qual prestam serviços. Assim
agindo, os co-réus, no mínimo, assumiram o risco de produzir o resultado, consistente na
omissão de receitas e dano ao erário. 13. Apelação parcialmente provida. (TRF4, ACR
1999.71.00.013749-2, Sétima Turma, Relator Fábio Bittencourt da Rosa, DJ 26/03/2003)

Sonegação fiscal. Art. 1º, IV, da Lei 8.137/90. Perícia contábil. Desnecessidade. Elemento
subjetivo. Dolo eventual. ""A falta de inquérito policial ou de perícia contábil não impede o
oferecimento de denúncia por crime de sonegação fiscal, ou contra a ordem tributária, uma vez que
a peça acusatória pode sustentar-se em levantamento fiscal relativo à materialidade do crime e
indícios suficientes da sua autoria. Ademais, inclusive por não ser condição de procedibilidade, a
Tema
prova pericial, se necessária, pode ser produzida no curso da ação penal"".

- ""Inócua se apresenta a tentativa de afastar o dolo. Mesmo porque, se antes ignorava a Consumação
falsidade da documentação, com a divulgação dos atos declaratórios obrigava-se o acusado a
efetuar a devida compensação, o que não fez, caracterizando-se a má-fé, a deliberada e
consciente intenção de lesar o fisco. É caso típico de locupletação às custas do erário,
consistindo o dolo na utilização de fraude para o resultado ilícito. É o enriquecimento sem causa, em
prejuízo dos cofres públicos estaduais"".""Não se pode olvidar, por outro lado, que o preceito
básico do delito em exame, ao se referir a documento que o agente saiba ou deva saber falso,
está a demonstrar que basta à sua configuração tão somente o dolo eventual. (TJMG:
PROCESSO 1707488 MG 1.0000.00.170748-8/000(1), DES. JOSÉ ARTHUR, PUBLICAÇÃO
07/04/2000)

Tema
Os crimes do Art. 1º da Lei 8137/90 são materiais e
como tais somente se consumam quando verificado o
Tentativa
resultado supressão ou redução do tributo.

Por outro lado prevalece que os crimes do Art. 2º são


formais, não se exigindo um resultado naturalístico.

45
07/08/2019

DIVERGÊNCIA TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO


Classe: ACR - APELAÇÃO CRIMINAL Processo: 2000.04.01.029838-1 UF: PR
Data da Decisão: 15/10/2003 Orgão Julgador: OITAVA TURMA Fonte DJU
DATA:05/11/2003 PÁGINA: 1071 Relator LUIZ FERNANDO WOWK PENTEADO

1ª Corrente – (Maj.) BALTAZAR, EISELE e DELMANTO – PENAL. ESFERAS. INDEPENDÊNCIA. TRIBUTO. ISENÇÃO. REGRA NÃO ABSOLUTA. LEI Nº
8.137/90. MATERIALIDADE. OMISSÃO DE RECEITA BRUTA. EMISSÃO DE DOCUMENTOS
Admissível em tese  Art. 2º I.
FISCAIS. AUTORIA. ENQUADRAMENTO. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. PENA-BASE.
DIMINUIÇÃO. CONTINUIDADE. DIA-MULTA.
...
2ª Corrente – LOVATO - o Art. 2º recai sobre objetos
5. O que diferencia a incidência das hipóteses previstas no art. 1º da Lei
materiais específicos, não sendo a fórmula genérica da nº 8.137/90 da aplicação do art. 2º, inciso I, do mesmo diploma legal,
tentativa. é que no primeiro tipo há a exigência de supressão ou redução de
tributo ao passo que no segundo basta o intento de eximir-se do
adimplemento para o correto enquadramento. Precedentes do TRF-4ª
Região.
...

REGIME LEGAL DE PAGAMENTO

Tema

Art. 1º L. 8137/90 Art. 2º, I L. 8137/90 ou Art. 1º c/c Art. 14 II CP


A impossibilidade de punição da tentativa em razão
do regime legal do pagamento (Art. 9º § 2º da Lei
10684/2003 e Lei 11941/09).
Sonegação Sem Sonegação

Art. 9º § 2º Lei 10684/03 NÃO TEM O QUE PAGAR

CONCLUSÃO

Tema
ASSIM OU OCORRE O RESULTADO SONEGAÇÃO E O
CRIME É O DO ART. 1º, OU NÃO SERÁ POSSÍVEL
QUALQUER REPRIMENDA PENAL PELA MERA Natureza do Processo Administrativo Fiscal:
TENTATIVA. Condição Objetiva de Punibilidade ou Elemento
Normativo do Tipo.

ESTE RACIOCÍNIO SE LIMITA À TENTATIVA DO ART. 1º


QUE É O ART. 2º I, MAS NÃO ÀS DEMAIS HIPÓTESES
DESTE.

46
07/08/2019

HC 81611 / DF - Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - Julgamento: 10/12/2003 Órgão


Julgador: Tribunal Pleno

EMENTA: I. Crime material contra a ordem tributária (L. 8137/90, art. 1º): CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL
lançamento do tributo pendente de decisão definitiva do processo
administrativo: falta de justa causa para a ação penal, suspenso, porém, o curso da
CAPÍTULO II - Constituição de Crédito Tributário - SEÇÃO I - Lançamento
prescrição enquanto obstada a sua propositura pela falta do lançamento definitivo. 1. Embora não
condicionada a denúncia à representação da autoridade fiscal (ADInMC 1571), falta justa causa para a
ação penal pela prática do crime tipificado no art. 1º da L. 8137/90 - que é material ou de resultado -,
Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o
enquanto não haja decisão definitiva do processo administrativo de lançamento, quer se
crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento
considere o lançamento definitivo uma condição objetiva de punibilidade
administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da
ou um elemento normativo de tipo. 2. Por outro lado, admitida por lei a obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o
extinção da punibilidade do crime pela satisfação do tributo devido, montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso,
antes do recebimento da denúncia (L. 9249/95, art. 34), princípios e garantias propor a aplicação da penalidade cabível.
constitucionais eminentes não permitem que, pela antecipada propositura da ação penal, se subtraia do
cidadão os meios que a lei mesma lhe propicia para questionar, perante o Fisco, a exatidão do
lançamento provisório, ao qual se devesse submeter para fugir ao estigma e às agruras de toda sorte do Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e
processo criminal. 3. No entanto, enquanto dure, por iniciativa do contribuinte, o obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional.
processo administrativo suspende o curso da prescrição da ação penal
por crime contra a ordem tributária que dependa do lançamento
definitivo.

MODALIDADES DE LANÇAMENTO

Declaração – Art. 147 CTN Lançamento

Ofício – Art. 149 CTN

Declaração Ofício Arbitramento Homologação


Homologação – Art. 150 CTN

Arbitramento – Art. 148 CTN

HC 81611/DF (Teses) HELOISA E. SALOMÃO (Assessora Peluso)

Art. 34 da Lei 9249/95

Art. 34 da Lei 9249/95 A CONSUMAÇÃO SÓ OCORRERIA SÓ O FISCO DIZ SE HÁ


(PAGTO ANTES DA APÓS O LANÇAMENTO E COM A TRIBUTO (ATIVIDADE

DENÚNCIA) RECUSA EM PAGAR PRIVATIVA) Decisão: 10/12/2003 Lei 10684/03 (?)

A atividade tributária
é vinculada
A decisão administrativa Direito de pagar antes da denúncia
é
MPF questão prejudicial
heterogênea
Juízo sobre o crime é
do MP (Art. 129 I CF)
Devido Processo Legal Administrativo

47
07/08/2019

Condições objetivas de punibilidade


Elementos normativos do tipo

São circunstâncias externas ao crime e que impedem o exercício da


persecução penal pelo Estado. São objetivas pelo fato de não
São elementos do tipo penal que demandam um
dependerem do estado anímico do agente, nem demandarem sua
vontade integrativa. juízo de valor por parte do intérprete quer com
auxílio de normas jurídicas ou mesmo éticas.

Sentença de Falência
Art. 7º, §2º, letra “a” CP (Extrateritorialidade Condicionada)

LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO

Lançamento
Fato por
Gerador Homologação

Dois temas: Teoria da Atividade


Pagamento
(Evasão) e Finalidade do lançamento

Crédito
Tributário
O pagamento
não é indevido

STJ (1ª Turma) - RESP 666198 / PR - TRIBUTÁRIO. TRIBUTOS SUJEITOS A LANÇAMENTO POR
Obrigação Tributária
HOMOLOGAÇÃO, DECLARADOS E NÃO PAGOS PELO CONTRIBUINTE. NASCIMENTO DO CRÉDITO
TRIBUTÁRIO. CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO.
Lançamento
1. Os tributos sujeitos ao lançamento por homologação constituem regra tributária na legislação
brasileira. Sua forma de apuração, em linhas gerais, se dá a partir da iniciativa do contribuinte que,
observando o prazo e forma de recolhimento legalmente previstos, calcula o montante por ele devido e Fato Gerador
efetua o pagamento, independentemente de ato prévio da autoridade administrativa, a quem a lei
outorga o poder-dever de fiscalizar a atuação do sujeito passivo, concedendo-lhe, para tanto, o prazo
de cinco anos para aferição da exatidão do pagamento. Exigibilidade
2. Conseqüentemente, nos tributos sujeitos a lançamento por homologação o crédito
tributário nasce, por força de lei, com o fato gerador, e sua exigibilidade não se condiciona a
ato prévio levado a efeito pela autoridade fazendária.

3. Declarado o débito e efetivado o pagamento, ainda que a menor, não se afigura legítima a recusa,
ESTADO CONTRIBUINTE
pela autoridade fazendária, da expedição de CND antes da apuração prévia do montante a ser
recolhido. Isto porque, conforme dispõe a legislação tributária, o valor remanescente, não pago pelo
contribuinte, pode ser objeto de apuração mediante lançamento.

Direito de Receber Dever de Pagar

48
07/08/2019

TRF – 4ª REGIÃO

SÚMULA 78

A constituição definitiva do crédito tributário é pressuposto Os debates e a SV 24


da persecução penal concernente a crime contra a ordem
tributária previsto no art. 1ª da Lei nº 8.137/90.”

DJ (Seção 2) de 22-03-2006, p. 434

STF

49
07/08/2019

I - CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TÉRMINO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. II -


INEXISTÊNCIA DE CONDIÇÃO OBJETIVA DE PUNIBILIDADE. III - NÃO CONFIGURAÇÃO DE CONDIÇÃO
DE PROCEDIBILIDADE. IV - EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO PAGAMENTO DO TRIBUTO NÃO
COMPORTA RESERVAS. V - IMPROCEDÊNCIA DOS FUNDAMENTOS CONTIDOS NO PRECEDENTE DO
STF (HC N. 81.611-8/DF) NO CASO CONCRETO. VI - ORDEM DENEGADA.

(...) 2. A finalidade da norma penal contida no art. 1º da Lei n. 8.137/90, é reprimir a conduta de quem
deixa de pagar o tributo devido por meio de informações ou declarações falsas, inserção de elementos
TRF – 2ª REGIÃO inexatos em livro ou documentação fiscal, falsificação de documentos relativos a operações tributárias e
utilização destes documentos, de modo a, pelo menos, adentrar o iter criminis do delito material do
qual se trata. Não se limita, ela, a apenas exigir o cumprimento da obrigação tributária econômica.
3. Somente a autoridade judiciária - especializada em matéria criminal - será
competente para definir a conduta típica; ilícita e culpável consistente nos crimes
contra a ordem tributária em todas as suas vertentes: material consumado; tentado ou
formal do art. 2º da Lei nº 8.137/90, não havendo, por isso, "usurpação" da
competência da Administração, prevista no art. 142 do CTN. (...) (TRF2, 1ª Turma
Especializada, HC 2004.02.01.012398-3/ES, Rel. Des. Fed. Abel Gomes, un, DJU 25.08.05).

APELAÇÃO CRIMINAL – PRELIMINAR ARGUINDO OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO – IMPROCEDÊNCIA


– CRIME CUJO MOMENTO CONSUMATIVO OCORRE COM O LANÇAMENTO DEFINITIVO DO
CRÉDITO TRIBUTÁRIO – SÚMULA VINCULANTE Nº 24 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL –

(...) 4. Por mais que o lançamento traga a certeza sobre a existência do conteúdo da obrigação INEXISTÊNCIA DE TRANSCURSO DO LAPSO PRESCRICIONAL DEPURADOR DA PRETENSÃO
tributária, não é ele que busca a certeza sobre a existência do emprego de algum dos meios PUNITIVA ENTRE OS MARCOS INTERRUPTIVOS – PRELIMINAR REJEITADA – MÉRITO – CRIME
fraudulentos previstos nos incisos do art. 1º da Lei n. 8.137/90. 5. São características das TRIBUTÁRIO EM CONTINUIDADE DELITIVA – RÉUS QUE ESCRITURARAM TRANSAÇÕES
condições objetivas de punibilidade: situarem-se fora do crime e do dolo do agente. INEXISTENTES DE COMPRA DE COMBUSTÍVEL PARA CRÉDITO INDEVIDO DE ICMS,
Além disso, não devem guardar nenhuma relação - direta ou indireta - com a conduta RESULTANDO EM SUPRESSÃO DE TRIBUTO MEDIANTE FRAUDE À FISCALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA –
típica objetiva e subjetiva. O pronunciamento definitivo da Administração sobre o IMPOSSIBILIDADE DE ACOLHIMENTO DA PRETENSÃO ABSOLUTÓRIA – MATERIALIDADE E AUTORIA
conteúdo da obrigação tributária diz respeito a elementar do tipo penal e não pode ser COMPROVADAS NO CURSO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL – CONSISTENTE ARCABOUÇO PROBATÓRIO
equiparado à condição objetiva de punibilidade. Afinal, definir o conteúdo da prestação
DENOTANDO A FRAUDE EMPREGADA PARA A SUPRESSÃO DE TRIBUTO – ELEMENTO SUBJETIVO DO
devida - tributo - suprimido ou reduzido, por ter sido empregada a fraude, é adentrar o exame de
TIPO COMPROVADO – CONDENAÇÃO MANTIDA – DOSIMETRIA INALTERADA – O EXPRESSIVO VALOR
sua elementar típica. (...) 8. Não se reconhece no pronunciamento definitivo da
DO PREJUÍZO AOS COFRES PÚBLICOS, QUE SE ACERCOU À DEZENA DE MILHÕES DE REAIS,
Administração sobre o crédito tributário derivado de fraude no pagamento de tributos,
FUNDAMENTA O AUMENTO PREVISTO NO ART. 12, INCISO I, DA LEI Nº 8.137/90 – PRECEDENTE DO
nenhuma das condições previstas em lei para o exercício da ação penal, de que trata o
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – REGIME INTERMEDIÁRIO IMPOSITIVO FRENTE AO QUANTUM DE
art. 43, III, última parte do CPP. Precedentes do STJ. 9. Ordem denegada. (TRF2, 1ª Turma
PENA APLICADO – REJEITADA A PRELIMINAR, RECURSOS DESPROVIDOS, DETERMINANDO-SE A
Especializada, HC 2004.02.01.012398-3/ES, Rel. Des. Fed. Abel Gomes, un, DJU
25.08.05).
EXPEDIÇÃO DE MANDADO DE PRISÃO APÓS O ESGOTAMENTO DOS RECURSOS ORDINÁRIOS NESTA
INSTÂNCIA. (TJSP; Apelação Criminal 0001307-17.2009.8.26.0311; Relator (a): Euvaldo Chaib; Órgão
Julgador: 4ª Câmara de Direito Criminal; Foro de Junqueirópolis - Vara Única; Data do Julgamento:
30/07/2019; Data de Registro: 31/07/2019)

50
07/08/2019

MPSP/2019

HELOISA E. SALOMÃO

Lançamento

TEMA

Exigibilidade
PRESCRIÇÃO E CONSUMAÇÃO

Crime

Lançamento por homologação Pagamento antecipado(?)

PRESCRIÇÃO – Termo inicial


CONSUMAÇÃO

Condição objetiva Elemento do tipo (normativo) Condição objetiva Elemento do tipo (normativo)

Vencimento do prazo Com o lançamento Vencimento do prazo Com o lançamento

PAF

PRESCRIÇÃO Causa de Suspensão

51
07/08/2019

HC 91725 / SP (STF – 2ª TURMA – Re. Min. EROS GRAU - DJe-


223 DIVULG 26-11-2009 PUBLIC 27-11-2009)

“No entanto, enquanto dure, por iniciativa do EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME TRIBUTÁRIO. PENDÊNCIA
contribuinte, o processo administrativo suspende DE PROCESSO ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE
o curso da prescrição da ação penal por crime CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO.
contra a ordem tributária que dependa do FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL. A sonegação
lançamento definitivo.” (HC 81611/DF) fiscal, sendo crime material, somente se consuma com a
constituição definitiva do crédito tributário. Demonstrada, no caso, a
existência de processo administrativo tributário pendente de decisão
definitiva, não há justa a causa à ação penal. Ordem concedida.

EMENTA: HABEAS-CORPUS. PENAL TRIBUTÁRIO. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.


SUPRESSÃO OU REDUÇÃO DE TRIBUTO DEVIDO (LEI 8.137/1990, ART. 1º, I e II). DENÚNCIA […] Como se sabe, o termo inicial para a contagem do prazo
OFERECIDA ANTES DA CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO. ANULAÇÃO
POR VÍCIO FORMAL E SUBSTITUIÇÃO DO LANÇAMENTO DURANTE O CURSO DA AÇÃO prescricional em crimes desta natureza é a data do lançamento
PENAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA.
Antes da constituição definitiva do crédito tributário, não há justa causa para início da ação penal relativa
definitivo do tributo, ou seja, após o exaurimento do
aos crimes contra a ordem tributária (art. 1º da Lei 8.137/1990). Precedente do Plenário do Supremo
procedimento administrativo, uma vez que o crime tributário
Tribunal Federal (HC 81.611, rel. min. Sepúlveda Pertence, DJ 13.05.2005). A substituição, por novos
lançamentos, dos autos de infração anulados por vício formal não convalida a ação penal ajuizada antes do somente se configura com a constituição definitiva do débito.
lançamento definitivo, porquanto a constituição do crédito tributário projeta um novo quadro fático e
jurídico para o oferecimento da denúncia. Durante a pendência do julgamento de recurso administrativo [...] (TJSP: Ap. Criminal n° 0032514-12.2007 - São Paulo,
no âmbito tributário, não há o início do curso do prazo prescricional (art. 111, I, do Código Penal).
Ordem de habeas-corpus concedida, para trancamento da ação penal, sem prejuízo do oferecimento de nova
Rel. Des. Miguel Marques e Silva, 15a Câmara de Direito
denúncia, com base em crédito tributário definitivamente constituído. (HC 84345, Relator(a): Min.
Criminal, Julgamento 7 de fevereiro de 2013)
JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 21/02/2006, DJ 24-03-2006 PP-00054 EMENT
VOL-02226-01 PP-00189 RTFP v. 14, n. 68, 2006, p. 345-348 RET v. 9, n. 49, 2006, p. 77-81 RT v. 95, n.
850, 2006, p. 508-511)

PRIMEIRA PROVA ESCRITA DO X CONCURSO PARA JUIZ FEDERAL


PRIMEIRA PROVA ESCRITA DO X CONCURSO PARA JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO
DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO SUBSTITUTO DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO

DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL


DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

38.Respondem a um mesmo inquérito, por crime contra a ordem tributária (Art.


1º da 8.137/90): o Diretor-Financeiro da empresa X, um advogado terceirizado
32.Dispõe o art. 1º, inc. V, da Lei 8.137/90: “Constitui crime contra a ordem tributária
e um contador, também terceirizado. Segundo relatado, o Diretor-Financeiro
suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as
teria sido o principal responsável pela alegada fraude fiscal, enquanto o
seguintes condutas: (...) V – negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou
advogado e o contador terceirizados são apontados como partícipes. A
documento equivalente, relativa à venda de mercadoria ou prestação de serviço,
efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação. Pena – reclusão, de mencionada empresa X, representada pelo referido Diretor Financeiro , pagou o

2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (...)”. Responda, motivadamente, se se trata de crime de valor do tributo e acessórios antes do oferecimento da denúncia, obtendo para
mera conduta ou de crime material si a extinção da punibilidade. Pergunta-se: a extinção da punibilidade estende-
se aos dois partícipes? Justifique sua resposta.

52
07/08/2019

24º Concurso para Procurador da República (MPF/2008)

TEMA

(IN)APLICABILIDADE DA ORIENTAÇÃO DO HC
81611/DF AO CRIME DO ART. 2º I DA LEI 8137/90

Brasília, 30 de junho a 4 de julho de 2008 Nº 513


DISCUSSÃO

PLENÁRIO
Sonegação Fiscal e Esgotamento de Instância Administrativa

O Tribunal, por maioria, deu parcial provimento a recurso ordinário em habeas corpus, impetrado
em favor de acusada pela suposta prática dos crimes previstos no art. 2º, I, da Lei 8.137/90
(sonegação fiscal) e no art. 203 do CP (“Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado
APLICA-SE A ORIENTAÇÃO DO HC 81611/DF NOS pela legislação do trabalho”), para trancar o inquérito policial contra ela instaurado relativamente à
investigação do possível crime de sonegação fiscal, sem prejuízo do seu prosseguimento em
CRIMES FORMAIS? relação aos demais fatos. Aplicou-se o entendimento firmado pela Corte no sentido de que o
prévio exaurimento da via administrativa é condição objetiva de punibilidade, não havendo se
falar, antes dele, em consumação do crime material contra a Ordem Tributária, haja vista que,
somente após a decisão final do procedimento administrativo fiscal é que será considerado
lançado, definitivamente, o referido crédito. (...). Precedentes citados: HC 88994/SP (DJU de
19.12.2006); HC 88657 AgR/ES (DJU de 10.8.2006); HC 81611/DF (DJU de 13.5.2005).
RHC 90532/CE, rel. Min. Joaquim Barbosa, 1º.7.2008. (RHC-90532)

Sonegação Fiscal e Esgotamento de Instância Administrativa – 2


HC 73.353 – RJ (STJ – 6ª TURMA - RELATOR : MINISTRO NILSON NAVES - DJe:

O Tribunal conheceu de embargos de declaração para, emprestando-lhes efeitos modificativos, negar provimento a 24/11/2008)

recurso ordinário em habeas corpus, de forma a permitir o prosseguimento de inquérito policial instaurado

contra a paciente, acusada pela suposta prática dos crimes previstos no art. 2º, I, da Lei 8.137/90 Crime contra a ordem tributária (sonegação fiscal). Esfera administrativa (Lei nº

(sonegação fiscal) e no art. 203 do CP (“Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do 9.430/96). Processo administrativo (inexistência). Recebimento da denúncia
trabalho”) — v. Informativo 513. Na espécie, o acórdão embargado dera parcial provimento ao recurso ordinário para (impossibilidade). 1. A propósito da natureza e do conteúdo da norma inscrita no art. 83
trancar o inquérito policial relativamente ao crime de sonegação fiscal, aplicando o entendimento firmado pela da Lei nº 9.430/96, o prevalente entendimento é o de que a condição ali existente é
Corte no sentido de que o prévio exaurimento da via administrativa é condição objetiva de punibilidade, não condição objetiva de punibilidade. 2. Na inexistência de processo administrativo no qual
havendo se falar, antes dele, em consumação do crime material contra a Ordem Tributária, haja vista que, somente
se discuta a exigibilidade de crédito tributário, não há falar em procedimento penal,
após a decisão final do procedimento administrativo fiscal é que será considerado lançado, definitivamente, o
menos ainda em recebimento de denúncia ofertada. 3. Ainda que possua natureza
referido crédito. Asseverou-se que tal orientação jurisprudencial seria inerente ao tipo penal descrito no art. 1º, I,
formal a prática atribuída ao paciente – aquela descrita no art. 2º, I, da Lei nº
da Lei 8.137/90, classificado como crime material, que se consuma quando as condutas nele descritas produzem
como resultado a efetiva supressão ou redução do tributo. Observou-se que o crime de sonegação fiscal, por sua 8.137/90 –, em casos que tais, de igual forma, o procedimento penal não
vez, é crime formal que independe da obtenção de vantagem ilícita em desfavor do Fisco, bastando a omissão de prescinde do prévio esgotamento da esfera administrativa, ou seja, também se
informações ou a prestação de declaração falsa, isto é, não demanda a efetiva percepção material do ardil faz necessária a constituição definitiva do crédito tributário. 4. Ordem de habeas
aplicado. Daí que, no caso, em razão de o procedimento investigatório ter por objetivo a apuração do possível crime do corpus concedida para serem subtraídos da denúncia os crimes contra a ordem tributária
art. 2º, I, da Lei 8.137/90, a decisão definitiva no processo administrativo seria desnecessária para a configuração da justa
(arts. 1º, I, e 2º, I, da Lei nº 8.137/90).  Decisão por empate.
causa imprescindível à persecução penal. RHC 90532 ED/CE, rel. Min. Joaquim Barbosa, 23.9.2009. (RHC-90532)

53
07/08/2019

DISCUSSÃO

[...] Os crimes contra a ordem tributária previstos no art. 1º, incisos I a IV


da Lei 8.137/90 não se tipificam antes do lançamento definitivo do
tributo, nos termos da Súmula Vinculante 24 do Supremo Tribunal Federal.
Contudo, o delito do art. 1º, inciso V, da Lei n.º 8.137/90 é formal,
QUANTO AO ART. 1º, V, DA LEI 8137/90, HÁ não estando incluído na exigência da referida Súmula Vinculante. (HC
NECESSIDADE DE LANÇAMENTO DEFINITIVO? 195.824/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado
em 28/05/2013, DJe 06/06/2013). [...] (STJ: AgRg no REsp 1477691 /
DF, Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, DJe 28/10/2016)

Informações complementares à ementa

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME MATERIAL CONTRA A ORDEM


TRIBUTÁRIA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL. TERMO INICIAL. MOMENTO
ANTERIOR À CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA "[...] embora seja pacífico neste Superior Tribunal de Justiça o
VINCULANTE 24. RETROATIVIDADE DE INTERPRETAÇÃO JUDICIAL MAIS GRAVOSA AO RÉU.
CRIAÇÃO DE MARCO INTERRUPTIVO NÃO PREVISTO EM LEI. INOCORRÊNCIA. COAÇÃO
entendimento de que o delito do inciso V do artigo 1º da Lei
ILEGAL NÃO CONFIGURADA. DESPROVIMENTO DO RECLAMO. 1. Consoante consolidado no 8.137/1990 seja formal, não estando abrangido, assim, pelo
verbete 24 da Súmula Vinculante, não há crime material contra a ordem tributária antes da constituição
definitiva do crédito, razão pela qual é irrelevante o momento no qual ocorreu a omissão ou declaração
enunciado 24 da Súmula Vinculante, há casos que extrapolam a
falsa ao Fisco. 2. Esta colenda Quinta Turma já afastou a alegação de que o enunciado 24 da mera irregularidade no fornecimento de nota fiscal ou documento
Súmula Vinculante só se aplicaria aos crimes cometidos após a sua vigência, seja porque não
se está diante de norma mais gravosa, mas de consolidação de interpretação judicial, seja
equivalente relativo à compra e venda de mercadoria ou prestação
porque a sua observância é obrigatória por parte de todos os órgãos do Poder Judiciário, de serviço, havendo a efetiva sonegação tributária, o que impõe o
exceto a Suprema Corte, a quem compete eventual revisão do entendimento adotado.
Precedente. 3. Considerada a constituição do crédito tributário como termo inicial da prescrição
esgotamento da via administrativa para que a persecução penal
da pretensão punitiva, não se verifica a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva estatal. seja deflagrada".
4. Recurso desprovido. (STJ: RHC 83993 / MS, Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, DJe
25/08/2017)

6ª TURMA - STJ
DISCUSSÃO

DIREITO PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 2º, II, DA LEI N.
8.137/1990. TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL.

O termo inicial do prazo prescricional do crime previsto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990 é a
data da entrega de declaração pelo próprio contribuinte, e não a inscrição do crédito tributário
em dívida ativa. Segundo a jurisprudência do tribunal (Súm. n. 436/STJ), “a entrega de declaração
QUAL O MOMENTO CONSUMATIVO DO ART. 2º
pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra
INCISO I? providência por parte do fisco”. A simples apresentação pelo contribuinte de declaração ou documento
equivalente nos termos da lei possui o condão de constituir o crédito tributário, independentemente de
qualquer outro tipo de procedimento a ser executado pelo Fisco. Assim, em razão de o crédito já estar
constituído, é da data da entrega da declaração que se conta o prazo prescricional do delito previsto no
art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990. HC 236.376-SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
19/11/2012.

54
07/08/2019

Promotor de Justiça Substituto - MPRN (CESPE/UNB – 2009)

24º Concurso para Procurador da Republica (2008) – 2ª Fase

DISCUSSÃO

Tema
Sujeito denunciado impetra HC alegando o não exaurimento
da via administrativa quando da denúncia. O Juízo informa
CONSEQUÊNCIAS DA ORIENTAÇÃO DO STF
que a denúncia fora recebida, contudo, o processo fora
(HC 81611/DF e SV 24)
suspenso diante da informação levada aos autos. Apenas
posteriormente, com o lançamento definitivo, o processo
prosseguiu. Tem razão o impetrante?

DISCUSSÃO

Crime contra a ordem tributária e tipicidade

Ao aplicar a Súmula Vinculante 24 (“Não se tipifica crime material contra a ordem


tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento
definitivo do tributo”), a 2ª Turma deferiu habeas corpus para determinar, por
ausência de justa causa, o trancamento de ação penal deflagrada durante Pode haver instauração de IPL sem o fim do PAF?
pendência de recurso administrativo fiscal do contribuinte. Entendeu-se que,
conquanto a denúncia tenha sido aditada após a inclusão do tributo na dívida
ativa, inclusive com nova citação dos acusados, o vício processual não seria
passível de convalidação, visto que a inicial acusatória fundara-se em fato
destituído, à época, de tipicidade penal. Precedente citado: HC 81611/DF (DJU de
13.5.2005). HC 100333/SP, rel. Min. Ayres Britto, 21.6.2011. (HC-100333)

55
07/08/2019

HC 95443 / SC (STF – 2ª TURMA - Relator(a): Min. ELLEN GRACIE - DJe-030 DIVULG 18-02-2010 PUBLIC 19-02-
2010)

HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL ANTES DO
ENCERRAMENTO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO-FISCAL. POSSIBILIDADE QUANDO SE MOSTRAR

CRIME. ORDEM TRIBUTÁRIA. INQUÉRITO POLICIAL. PROCESSO IMPRESCINDÍVEL PARA VIABILIZAR A FISCALIZAÇÃO. ORDEM DENEGADA. 1. A questão posta no presente writ diz
respeito à possibilidade de instauração de inquérito policial para apuração de crime contra a ordem tributária, antes do
ADMINISTRATIVO FISCAL.
encerramento do procedimento administrativo-fiscal. 2. O tema relacionado à necessidade do prévio encerramento do
procedimento administrativo-fiscal para configuração dos crimes contra a ordem tributária, previstos no art. 1°, da Lei n°
Resulta do descumprimento de condição objetiva de punibilidade a 8.137/90, já foi objeto de aceso debate perante esta Corte, sendo o precedente mais conhecido o HC n° 81.611 (Min.
impossibilidade de instauração da ação penal por prática do crime de sonegação Sepúlveda Pertence, Pleno, julg. 10.12.2003). 3. A orientação que prevaleceu foi exatamente a de considerar a
fiscal (crime contra a ordem tributária) e, conseqüentemente, do próprio necessidade do exaurimento do processo administrativo-fiscal para a caracterização do crime contra a ordem

inquérito policial enquanto não houver decisão final sobre a exigência do crédito tributária (Lei n° 8.137/90, art. 1°). No mesmo sentido do precedente referido: HC 85.051/MG, rel. Min. Carlos Velloso, DJ
01.07.2005, HC 90.957/RJ, rel. Min. Celso de Mello, DJ 19.10.2007 e HC 84.423/RJ, rel. Min. Carlos Britto, DJ 24.09.2004.
tributário (lançamento definitivo do tributo), tal como determinado pelo art. 83
4. Entretanto, o caso concreto apresenta uma particularidade que afasta a aplicação dos precedentes
da Lei n. 9.430/1996. No caso, não houve sequer auto de infração, como
mencionados. 5. Diante da recusa da empresa em fornecer documentos indispensáveis à fiscalização da Fazenda
demonstrado por certidão, a comprovar inexistir ainda crédito exigível.
estadual, tornou-se necessária a instauração de inquérito policial para formalizar e instrumentalizar o pedido de
Precedentes citados do STF: ADI 1.571-1-DF, DJ 30/4/2004; do STJ: RHC 16.994- quebra do sigilo bancário, diligência imprescindível para a conclusão da fiscalização e, conseqüentemente, para a
RS, DJ 28/11/2005. HC 53.033-BA, Rel. Min. Paulo Medina, julgado em apuração de eventual débito tributário. 6. Deste modo, entendo possível a instauração de inquérito policial para
28/3/2006. apuração de crime contra a ordem tributária, antes do encerramento do processo administrativo-fiscal, quando for
imprescindível para viabilizar a fiscalização. 7. Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus.

DISCUSSÃO

Sexta Turma

BUSCA E APREENSÃO. DOCUMENTO. AUSÊNCIA. CRÉDITO TRIBUTÁRIO.

Trata-se de busca e apreensão de documentos requerida judicialmente pelo MP, a fim de


colocá-los à disposição da Receita Federal para que ela apurasse uma suposta sonegação e
uma contabilidade paralela. A Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, entendeu

Pode haver medida cautelar penal sem o fim do que, para haver uma medida preparatória de ação penal, necessário haver, pelo
menos em tese, uma infração penal, que na espécie, não ocorreu, pois não há

PAF? qualquer crédito tributário constituído contra os ora pacientes. Assim, a Turma, por
maioria, concedeu a ordem para que sejam devolvidos os documentos, arquivos
eletrônicos e bancários e outros apreendidos, uma vez que ilícita a busca e apreensão.
Precedentes citados: HC 32.743-SP, DJ 24/10/2005, e HC 31.205-RJ. RHC 16.414-SP, Rel.
originário Min. Hamilton Carvalhido, Rel. para acórdão Min. Nilson Naves, julgado em
12/9/2006.

Lei 10.684/2003: Parcelamento Especial e Diligência Investigatória

DISCUSSÃO A Turma, tendo em conta a articulação de inconstitucionalidade de preceito normativo, deliberou afetar ao
Plenário julgamento de recurso extraordinário interposto pelo Ministério Público Federal contra acórdão do TRF
da 4ª Região que indeferira correição parcial, em matéria criminal, ao fundamento de inexistência de erro na condução de
processo pela 1ª instância. No caso, após o recebimento de representação fiscal para fins penais oriunda da
delegacia da Receita Federal, o parquet requisitara a instauração de inquérito e a oitiva dos responsáveis pela
empresa. Ocorre que a autoridade policial, considerando a existência de parcelamento de débito fiscal, encerrara
as investigações. Por conseguinte, o Juízo Federal Criminal de Novo Hamburgo/RS aplicara o disposto no § 1º do art.

Pode a autoridade policial se recusar a instaurar 9º da Lei 10.864/2003 (“Art. 9º. É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1º e
2º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 - Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver
inquérito policial requisitado pelo MP ao argumento de incluída no regime de parcelamento. § 1º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão
punitiva.”), enquanto perdurasse a inclusão dos investigados no Programa de Parcelamento Especial - PAES, e
que o contribuinte aderiu ao parcelamento? determinara, ainda, o trancamento do inquérito policial. O recorrente sustenta, na espécie, que a magistrada

não poderia ter impedido a continuidade das investigações por ele requisitadas, na qualidade de
dominus litis, e que a adesão ao mencionado programa não obsta o prosseguimento do inquérito.
Ademais, assevera que a constitucionalidade do art. 9º da Lei 10.684/2003 está sendo questionada
na ADI 3002/DF e que o acórdão recorrido ofende o princípio da proporcionalidade. Requer, ao final, o
provimento do recurso para a retomada das investigações policiais.
RE 462790/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 6.11.2007. (RE-462790)

56
07/08/2019

DISCUSSÃO 1. A consumação dos crimes previstos no art. 1.º da Lei n.º 8.137/1990, que são
considerados materiais ou de resultado, depende do lançamento definitivo do crédito
tributário. 2. Como consectário lógico, a ausência do lançamento do crédito

fiscal pela Administração Púbica, em virtude da fluência do prazo


decadencial, verificado pelo transcurso de mais de cinco anos do fato
gerador do tributo (art. 150, § 4.º, do CTN), obsta a condenação pela
prática do delito de sonegação fiscal. 3. Ordem concedida.da conduta imputada aos
HAVENDO DECADÊNCIA TRIBUTÁRIA PODE HAVER
pacientes. (STJ, HC 77986 / MS, QUINTA TURMA, DJe 07.04.2008)
PERSECUÇÃO PENAL ANTE À NÃO CONSUMAÇÃO DA
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA? 1. Os crimes definidos no art. 1.º, da Lei n.º 8.137/1990, a teor do entendimento consagrado pelo
Supremo Tribunal Federal, são materiais ou de resultado, somente se consumando com o lançamento
definitivo do crédito fiscal. 2. Nesse contexto, decaindo a administração fiscal do direito de lançar o
crédito tributário, em razão da decadência do direito de exigir o pagamento do tributo, tem-se
que, na hipótese, inexiste justa causa para o oferecimento da ação penal, em razão da
impossibilidade de se demonstrar a consumação do crime de sonegação tributária. 3. Ordem
concedida para trancar a ação penal [...] diante da falta de justa causa, consubstanciada na
impossibilidade de se demonstrar devidamente, através de lançamento definitivo, a consumação do ilícito
fiscal. (STJ, HC 56799 / SP, QUINTA TURMA - DJ 16.04.2007 p. 220)

DISCUSSÃO
[...] I. Hipótese em que se pretende a suspensão do processo-
crime instaurado para apuração de eventual delito de sonegação
fiscal, diante do ingresso, na esfera cível, com Ação Anulatória de
Crédito Tributário. II. A suspensão do curso da ação penal, nesses
casos, é uma faculdade do Magistrado, que poderá sustar o curso
O AJUIZAMENTO DE AÇÃO CÍVEL PARA ANULAÇÃO
do procedimento criminal, quando entender que a questão é de
DO LANÇAMENTO TEM O CONDÃO DE IMPEDIR O difícil solução e dependa, somente, do deslinde cível para a sua
PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL? conclusão. III. Caso em que a discussão cível só alcança parte da
imputação penal. IV. A Ação Anulatória de Crédito Tributário
não pode ser considerada condição de procedibilidade para
o processo-crime. V. Recurso desprovido. (STJ, RHC
16704/GO, QUINTA TURMA, DJ 07.03.2005 p. 282)

[...] CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 1.º, INCISO I, DA LEI N.º 8.137/90. [...] AÇÃO
PENAL. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. SOBRESTAMENTO DA AÇÃO PENAL.
AÇÃO PENAL. Crime tributário, ou crime contra a ordem
DESNECESSIDADE. CONDENAÇÃO LASTREADA EM PROVAS COLHIDAS NO PROCEDIMENTO
tributária. Art. 1º da Lei nº 8.137/90. Delito material. Tributo. ADMINISTRATIVO-FISCAL. INDEPENDÊNCIA DAS ESFERAS CÍVEL E PENAL. PRECEDENTES DESTA

Inscrição mediante auto de infração. Cancelamento por decisão CORTE. [...]


[...] 2. A teor do art. 93 do Código de Processo Penal, a suspensão da ação penal em razão do ajuizamento de
judicial em mandado de segurança. Crédito não lançado
ação anulatória do débito é facultativa. Assim, a pendência de discussão acerca da exigibilidade do crédito
definitivamente. Falta irremediável de elemento normativo do tributário perante o Judiciário constitui óbice, tão-somente, à prática de atos tendentes à cobrança do
crédito, não impossibilitando a instauração da ação penal cabível, dada a independência das esferas cível e
tipo. Crime que se não tipificou. Trancamento do processo.
criminal. Precedentes. 3. O Tribunal a quo, soberano na análise das circunstâncias fáticas da causa, com base na
HC concedido para esse fim. Precedentes. Não se apreciação do conjunto probatório dos autos, fazendo remissão, inclusive, ao procedimento administrativo-fiscal,
tipificando crime tributário sem o lançamento fiscal concluiu que há, no caderno processual, provas hábeis a embasar a condenação do ora Agravante, de modo que a
pretendida absolvição encontra óbice no verbete sumular n.º 7 deste Superior Tribunal de Justiça. 4. A
definitivo, não se justifica pendência de ação penal,
demonstração do dissídio jurisprudencial não se contenta com meras transcrições de ementas, tal como ocorreu na
quando foi cancelada, por decisão judicial em mandado de hipótese dos autos, sendo absolutamente indispensável o cotejo analítico de sorte a demonstrar a devida similitude

segurança, a inscrição do suposto débito exigido. (STF, HC fática entre os julgados confrontados. Precedentes. 5. À míngua de argumentos novos e idôneos para infirmar os
fundamentos da decisão agravada, é de se mantê-la incólume. 6. Agravo regimental desprovido. (STJ, AgRg nos
81321/SP, CEZAR PELUSO, 1ªTURMA, DJ 15-02-2008)
EDcl no AREsp 136853 / PA, Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, Data do Julgamento 26/08/2014
Data da Publicação/Fonte DJe 02/09/2014)

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07/08/2019

DISCUSSÃO
1. Conforme entendimento pacífico desta Corte Superior, nos crimes contra a ordem
tributária, precedida a denúncia de procedimento administrativo-fiscal no qual houve
oportunidade de defesa para a constituição definitiva do crédito tributário, a suspensão
da ação penal em razão do ajuizamento de ação anulatória do débito é facultativa, a teor
do art. 93 do Código de Processo Penal. Manifesta, portanto, a incidência do enunciado n.
83 da Súmula desta Corte. 2. Não há violação do art. 59 do Código Penal, uma vez que a PODE O RÉU SE UTILIZAR COMO PRELIMINAR DE
pena-base foi devidamente fundamentada. Na hipótese, a pena base foi aumentada em 4 DEFESA DA ACUSAÇÃO DE SONEGAÇÃO DA ALEGAÇÃO
(quatro) meses com fundamento no elevado prejuízo causado aos cofres públicos resultante DE DECADÊNCIA DO DIREITO DE LANÇAR QUANDO JÁ
dos tributos sonegados. 3. Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no AREsp 552151 / SP,
HÁ EXECUÇÃO FISCAL EM CURSO?
Ministro WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP),
QUINTA TURMA Data do Julgamento 16/12/2014, Data da Publicação/Fonte DJe
19/12/2014)

[...] 2. Não compete ao juízo criminal a análise da decadência do crédito tributário, quando em DISCUSSÃO
curso execução fiscal relativa aos tributos considerados sonegados na denúncia. 3. Questões
relativas às modalidades de lançamento e suas peculiaridades não dizem respeito ao Direito
Penal. Deve o réu, pois, valer-se da via adequada para ver reconhecido o direito que alega ter,
mormente vigora o preceito constitucional da independência entre as instâncias cível,
administrativa e penal. [...] 6. A responsabilidade pelos atos fraudulentos praticados pela empresas dos acusados
em detrimento do recolhimento dos tributos foi sobejamente demonstrada nos autos, tendo as condutas se amoldado
perfeitamente ao delito inscrito no art. 1º, incisos, I e II da Lei nº 8.137/90, de modo que fica afastada a tese de
atipicidade. 7. O tipo penal do artigo 1º da Lei 8.137/90 tem no dolo genérico o seu elemento subjetivo, o qual prescinde PODE HAVER EXTRADIÇÃO QUANDO NÃO HÁ
de finalidade específica. Ou seja, desimportam os motivos pelos quais o réu foi levado à prática delitiva, sendo
PROVA DO LANÇAMENTO DEFINITIVO NO PAÍS
suficiente para a perfectibilização do tipo penal, que o agente queira deixar de pagar, ou reduzir, tributos,
consubstanciando o elemento subjetivo em uma ação ou omissão voltada a este propósito. 8. A não emissão de notas ESTRANGEIRO?
fiscais de saída das mercadorias com o fim de suprimir ilicitamente tributos mostra-se suficiente para configurar o
elemento subjetivo da figura penal. 9. Édito condenatório mantido. 10. O elevado prejuízo causado aos cofres públicos
resultante dos tributos sonegados, autoriza a valoração negativa da vetorial consequências delitivas na pena-base.
Precedentes. 10. A apreciação do pedido de concessão de assistência judiciária gratuita compete ao Juízo das
Execuções Criminais, o qual poderá afastar a condenação ao pagamento, havendo a comprovação de dificuldades
financeiras. 11. Recursos parcialmente providos. (TRF-4 - ACR: 4521820024047008 PR 0000452-
18.2002.404.7008, Relator: Revisor, Data de Julgamento: 03/06/2014, SÉTIMA TURMA, Data de
Publicação: D.E. 12/06/2014)

JUIZ FEDERAL – TRF 5ª REGIÃO - CESPE/UNB - 2009

EXTRADIÇÃO REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA. PROMESSA DE


RECIPROCIDADE. ATENDIMENTO DOS REQUISITOS FORMAIS. DUPLA
TIPICIDADE E PUNIBILIDADE. CRIME CONTRA A ORDEM
TRIBUTÁRIA. SONEGAÇÃO FISCAL. INEXIGIBILIDADE DE
COMPROVAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO PARA
CONCESSÃO DO PEDIDO EXTRADICIONAL. INEXISTÊNCIA DE
PRESCRIÇÃO EM AMBOS OS ORDENAMENTOS JURÍDICOS.
EXTRADITANDO CUMPRE PENA POR CRIME PRATICADO NO BRASIL.
APLICAÇÃO DO ART. 89 DO ESTATUTO DO
ESTRANGEIRO. EXTRADIÇÃO DEFERIDA. (Ext 1222 / GER, Rel. Min.
TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, DJe-172 DIVULG 02-09-2013)

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Tema

QUESTÕES POSTERIORES À SV 24 E AO HC
81611/DF:
INSTAURAÇÃO DE IPL. BLINDAGEM PATRIMONIAL.
ESQUEMA DE EMPRESAS DE FACHADA (OPERAÇÃO
GRANDES LAGOS)

DISCUSSÃO
1- As questões suscitadas no recurso extraordinário encontram-se preclusas, haja vista que a
jurisprudência da Corte é assente no sentido de ser incabível recurso extraordinário contra acórdão do
Superior Tribunal de Justiça no qual se suscite questão resolvida na decisão de segundo grau. 2. Ainda
que assim não fosse, segundo o entendimento da Corte, a consumação do crime tipificado no art.
1º da Lei 8.137/1990 somente se verifica com a constituição do crédito fiscal, começando a correr,
a partir daí, a prescrição (HC 85.051/MG, Segunda Turma, Relator o Ministro Carlos
QUAL O TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO TENDO EM VISTA A
Velloso, DJ de 1º/7/05). Esse entendimento encontra-se cristalizado no enunciado Súmula Vinculante
ORIENTAÇÃO PRESENTE NA SV 24? A DATA DA SUPRESSÃO DE 24 da Corte. 3. É ilógico permitir que a prescrição seguisse seu curso normal no período de
TRIBUTOS (LESÃO AO BEM JURÍDICO) OU A DATA DA duração do processo administrativo necessário à consolidação do crédito tributário. Se assim
fosse, o recurso administrativo, por iniciativa do contribuinte, serviria mais como uma estratégia
CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO?
de defesa para alcançar a prescrição com o decurso do tempo do que a sua real finalidade, que é,
segundo o Ministro Sepúlveda Pertence, propiciar a qualquer cidadão questionar, perante o
Fisco, a exatidão do lançamento provisório de determinado tributo (HC 81.611/DF, Tribunal
Pleno, DJ de 13/5/05). 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
[ARE 1.031.806 AgR, rel. min. Dias Toffoli, 2ª T, j. 30-6-2017, DJE 177 de 14-8-2017.]

DISCUSSÃO
[...] A irresignação não prospera. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região assim se
pronunciou acerca da prescrição: A controvérsia reside, portanto, no termo inicial do
prazo prescricional nos delitos contra a ordem tributária: se a data da omissão das
informações de rendimentos perante a autoridade fazendária, ou se a data
da constituição definitiva do crédito tributário. Assim, a hipótese exige a definição do
termo a quo para a contagem do prazo prescricional em crimes tributários. Para os delitos
assim identificados, o prazo prescricional tem como termo a quo o momento em que
É POSSÍVEL A INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL SEM O
definitivamente constituído o crédito tributário, pois apenas aí se terá preenchida LANÇAMENTO DEFINITIVO?
condição objetiva de punibilidade, tendo início a contagem do prazo prescricional.
Confira-se nos julgados a seguir a seguir. [...] (STJ - AREsp: 376015 RJ
2013/0241215-6, Relator: Ministro ERICSON MARANHO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/SP), Data de Publicação: DJ 02/03/2015)

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HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL ANTES DO
ENCERRAMENTO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO-FISCAL. POSSIBILIDADE QUANDO SE MOSTRAR
IMPRESCINDÍVEL PARA VIABILIZAR A FISCALIZAÇÃO. ORDEM DENEGADA. DISCUSSÃO
1. A questão posta no presente writ diz respeito à possibilidade de instauração de inquérito policial para apuração de crime
contra a ordem tributária, antes do encerramento do procedimento administrativo-fiscal. 2. O tema relacionado à necessidade
do prévio encerramento do procedimento administrativo-fiscal para configuração dos crimes contra a ordem tributária, previstos no
art. 1°, da Lei n° 8.137/90, já foi objeto de aceso debate perante esta Corte, sendo o precedente mais conhecido o HC n° 81.611 (Min.

Sepúlveda Pertence, Pleno, julg. 10.12.2003). 3. A orientação que prevaleceu foi exatamente a de considerar a
necessidade do exaurimento do processo administrativo-fiscal para a caracterização do crime
contra a ordem tributária (Lei n° 8.137/90, art. 1°). No mesmo sentido do precedente referido: HC 85.051/MG, rel.
Min. Carlos Velloso, DJ 01.07.2005, HC 90.957/RJ, rel. Min. Celso de Mello, DJ 19.10.2007 e HC 84.423/RJ, rel. Min. Carlos Britto,

DJ 24.09.2004. 4. Entretanto, o caso concreto apresenta uma particularidade que afasta a aplicação OBTIDA TUTELA CÍVEL PARA SUSPENDER A EXIGIBILIDADE DO
dos precedentes mencionados. 5. Diante da recusa da empresa em fornecer documentos CRÉDITO A PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA TAMBÉM
indispensáveis à fiscalização da Fazenda estadual, tornou-se necessária a instauração de
FICA SUSPENSA?
inquérito policial para formalizar e instrumentalizar o pedido de quebra do sigilo bancário,
diligência imprescindível para a conclusão da fiscalização e, conseqüentemente, para a apuração
de eventual débito tributário. 6. Deste modo, entendo possível a instauração de inquérito policial para apuração de crime
contra a ordem tributária, antes do encerramento do processo administrativo-fiscal, quando for imprescindível para viabilizar a

fiscalização. 7. Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus. (Habeas Corpus n. 95.443/SC, Relatora Ministra
Ellen Gracie, 2ª Turma, unânime, julgado em 02/02/2010, publicado no DE em 19/02/2010)

A prescrição da pretensão punitiva do crime de apropriação


indébita previdenciária (art. 168-A do CP) permanece
suspensa enquanto a exigibilidade do crédito tributário
estiver suspensa em razão de decisão de antecipação dos
efeitos da tutela no juízo cível. Isso porque a decisão cível acerca
da exigibilidade do crédito tributário repercute diretamente no BLINDAGEM PATRIMONIAL
reconhecimento da própria existência do tipo penal, visto ser o crime
de apropriação indébita previdenciária um delito de natureza
material, que pressupõe, para sua consumação, a realização do
lançamento tributário definitivo. RHC 51.596-SP, Rel. Min. Felix
Fischer, julgado em 3/2/2015, DJe 24/2/2015.

HC 50933 / RJ (5ª TURMA - DJ 02.10.2006 p. 294)


A partir dos indícios acima aludidos, afirmar, por ora, se há atipicidade na conduta
supostamente adotada por um dos integrantes da sociedade de advogados é questão HABEAS CORPUS. ADVOGADO. OPERAÇÃO "MONTE ÉDEN". CRIMES CONTRA O SISTEMA

ainda controvertida e depende de melhor apuração da autoridade policial e, FINANCEIRO E CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, QUADRILHA, LAVAGEM DE DINHEIRO,

posteriormente – na hipótese de ser desvendada a autoria delitiva –, do exato SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA, FALSIDADE IDEOLÓGICA, TRÁFICO DE
INFLUÊNCIA. ARGÜIDA INÉPCIA DA DENÚNCIA. IMPROCEDÊNCIA.
enquadramento legal do fato pelo membro do Ministério Público, o que demonstra o quão
1. A extensa inicial acusatória, que conta com 163 laudas, aponta, essencialmente, para a
prematura é a pretendida discussão nesta sede mandamental. É de se ver, por fim, que
participação de liderança do ora Paciente em complexa organização criminosa, desenvolvida por
a possibilidade de membro de escritório de advocacia constar como indiciado ou
meio do seu escritório de advocacia, cuja finalidade precípua seria a de promover a chamada
denunciado pelo cometimento de crimes tributários é questão já apreciada por esta
"blindagem patrimonial" a diversos "clientes", o que se fazia por meio de empresas fictícias no
Corte, cujo modus operandi é conhecido como blindagem patrimonial direcionada exterior, abertas em nome de "laranjas", para ocultação, proteção e lavagem de dinheiro. [...]
à supressão ou elisão de tributos, em favor dos clientes responsáveis pela 3. É verdade que este Superior Tribunal de Justiça tem-se pronunciado no sentido de aderir à
obrigação tributária (v.g., HC n. 50.933⁄RJ, Rel. Ministra Laurita Vaz, 5ª T., DJ recente jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, reformulada a partir do julgamento

02⁄10⁄2006 e HC n. 116.565⁄MG, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, 6ª T., DJe plenário do HC n.º 81.611/DF, relatado pelo ilustre Ministro Sepúlveda Pertence, para

17⁄10⁄2011). [...] (STJ, HC 254.840/SE, Relator: Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, considerar que não há justa causa para a persecução penal do crime de sonegação fiscal,
quando o suposto crédito tributário ainda pende de lançamento definitivo, sendo este condição
Data de Julgamento: 17/03/2015, T6 - SEXTA TURMA)
objetiva de punibilidade. [...]

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07/08/2019

5. Apurar a existência desses crimes contra a ordem tributária,


4. Não obstante, considerando as peculiaridades concretas do caso, verifica-se que a
hipótese sob exame em muito se diferencia daquelas outras que inspiraram os cometidos mediante fraudes, é tarefa que incumbe ao Juízo Criminal;

referidos precedentes. De fato, uma coisa é desconstituir o tipo penal quando saber o montante exato de tributos que deixaram de ser pagos em decorrência
há discussão administrativa acerca da própria existência do débito fiscal ou de tais subterfúgios para viabilizar futura cobrança é tarefa precípua da
do quantum devido; autoridade administrativo-fiscal. Dizer que os delitos tributários,
perpetrados nessas circunstâncias, não estão constituídos e que
outra bem diferente é a configuração, em tese que seja, de crime contra
dependem de a Administração buscar saber como, onde, quando e
ordem tributária em que é imputada ao agente a utilização de esquema
quanto foi usurpado dos cofres públicos para, só então, estar o Poder
fraudulento, como, por exemplo, a falsificação de documentos, utilização de
Judiciário autorizado a instaurar a persecução penal equivale, na prática,
empresas "fantasmas" ou de "laranjas" em operações espúrias, tudo com o
claro e primordial intento de lesar o Fisco. Nesses casos, evidentemente, não a erigir obstáculos para desbaratar esquemas engendrados com alta

haverá processo administrativo-tributário, pelo singelo motivo de que foram complexidade e requintes de malícia, permitindo a seus agentes,
utilizadas fraudes para suprimir ou reduzir o recolhimento de tributos, ficando a inclusive, agirem livremente no sentido de esvaziar todo tipo de
autoridade administrativa completamente alheia à ação delituosa e sem saber elemento indiciário que possa comprometê-los, mormente porque a
sequer que houve valores sonegados. autoridade administrativa não possui os mesmos instrumentos
coercitivos de que dispõe o Juiz Criminal. ... 8. Ordem denegada.

HC 89965 / RJ - (STF - Min. GILMAR MENDES - 2ª Turma - DJ 09-03-


2007)
Habeas Corpus. 1. Pedido de trancamento da ação penal. ... 3. Alegações da defesa: a) falta de justa causa
para a persecução penal quanto ao crime de sonegação fiscal pela inexistência do procedimento administrativo
prévio para a sua apuração e; b) inépcia da denúncia oferecida pelo Parquet Federal em desfavor do paciente.
4. Descrição das etapas do procedimento administrativo e dos desdobramentos do processo administrativo-
fiscal. No caso concreto, não há elementos que indiquem a existência de crédito definitivamente constituído em
face do paciente. Não há, nos autos, indício de procedimento que tenha se exaurido de modo definitivo perante
a instância administrativo-fiscal. Com relação aos delitos de sonegação fiscal que ainda não tenham sido
devidamente apreciados, de modo definitivo, na instância administrativo-fiscal, configura-se patente situação

Contudo, o STF, por vezes, entende que a de constrangimento ilegal apta a ensejar o deferimento da ordem, ... 5. Não obstante o
reconhecimento de falta de justa causa para a apuração dos crimes
jurisprudência não pode ser rediscutida... tributários ... Não é possível declarar a peça acusatória como inepta porque os fatos criminosos estão
narrados, bem como as suas circunstâncias, assim como estão presentes a qualificação do acusado e a

classificação dos crimes, nos termos do art. 41 do CPP. 6. Ordem parcialmente concedida para
que a ação penal instaurada na origem seja trancada tão-somente com relação
aos delitos de sonegação fiscal (Lei nº 8.137/1990, art. 1º, inciso I e art. 2º, I)
que ainda estejam em discussão no âmbito administrativo-fiscal, sem prejuízo,
porém, de que a persecução penal persista com relação aos demais tipos
imputados ao paciente na denúncia.

... O Supremo Tribunal Federal quando julgou o Habeas Corpus n°


81.611/DF, em 10/12/2003, teve em mente aqueles casos normais
de sonegação de tributos, ou seja, quando uma empresa é
constituída regularmente suprime/reduz e, assim, deixa de recolher
Ocorre que como não se sabe ao certo quando se
as contribuições e impostos devidos. No presente caso, o réu e seu
aplica o HC 81611/DF, por vezes... pai, em conluio, obtiveram procuração falsa de terceiros para
constituir uma empresa e depois sonegar os tributos. Portanto, não
há falar em condição objetiva de punibilidade, pois o Ministério
Público estaria maniatado em um crime que iniciou com a falsidade
documental. ..." (RE 503400 / PR * Ministro Cezar Peluso * Decisão
Monocrática)

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07/08/2019

Crime contra a ordem tributária e pendência de lançamento definitivo do crédito tributário – 4

Em conclusão, a 1ª Turma, por maioria, denegou habeas corpus em que acusado da suposta prática dos
crimes de formação de quadrilha armada, lavagem de dinheiro, crime contra a ordem tributária e
falsidade ideológica pleiteava o trancamento da ação penal contra ele instaurada, ao argumento de inépcia
da denúncia e de ausência de justa causa para a persecução criminal, por se imputar ao paciente fato
atípico, dado que o suposto crédito tributário ainda penderia de lançamento definitivo — v. Informativos
582, 621 e 626. Frisou-se que tanto a suspensão de ação penal quanto o trancamento surgiriam com
excepcionalidade maior. Considerou-se que a denúncia não estaria a inviabilizar a defesa. Reputou-se, por outro
lado, que o caso versaria não a simples sonegação de tributos, mas a existência de organização, em
OPERAÇÃO GRANDES LAGOS: EMPRESAS DE diversos patamares, visando à prática de delitos, entre os quais os de sonegação fiscal, falsidade
ideológica, lavagem de dinheiro, ocultação de bens e capitais, corrupção ativa e passiva, com frustração
FACHADA de direitos trabalhistas. Concluiu-se não se poder reputar impróprio o curso da ação penal, não cabendo exigir o
término de possível processo administrativo fiscal. O Min. Ricardo Lewandowski, destacou que o caso não
comportaria aplicação da jurisprudência firmada pela Corte no julgamento do HC 81.611/DF (DJU de
13.5.2005), no sentido da falta de justa causa à ação penal instaurada para apurar delito de sonegação fiscal
quando ainda não exaurida a via administrativa, e, por conseguinte, não constituído, definitivamente, o crédito
tributário. Por fim, acrescentou que a análise da conduta do acusado constituiria matéria probatória a ser apreciada
pelo juiz natural da causa no curso da ação penal, de modo que não se cogitaria, de plano, afastar a imputação do
referido crime. Vencido o Min. Dias Toffoli, que concedia a ordem apenas para trancar, por ausência de justa causa,
a ação penal instaurada contra o paciente pelo crime previsto no art. 1º, II, da Lei 8.137/90. HC 96324/SP, rel.
Min. Marco Aurélio, 14.6.2011. (HC-96324)

CRIME DO COLARINHO BRANCO


“Em seus estudos, Sutherland descortinou outra característica que se
revelou evidenciada em crimes deste jaez, qual seja, o fato de que o crime
do “colarinho branco” é, mais do que deliberado, um crime

"White colar crime” é expressão que designa pessoas de nível sócio-econômico verdadeiramente organizado. ... verifica-se uma agregação ... no sentido

superior, que, desviando-se de suas atividades normais, ingressam no mundo do de planejar o delito de forma tal que a conduta ostente, em si, um “ar
crime, causando graves lesões à coletividade. delicitude”, a fim de que em absoluto transpareça a ilegalidade. ... A
perspicácia do juiz é fator imperioso ...”
Trata-se de um "criminoso de luxo", que "não passa recibo", e, pois, em processo
em que esteja envolvido, enorme será a dificuldade do Ministério Público para
obter êxito na persecução criminal.” (Luciano Feldens, Tutela Penal de Interesses Difusos...)

(Sérgio Demoro Hamilton, Temas: Aspectos da Prova Indiciária)

OPERAÇÃO GRANDES LAGOS

FRIGORÍFICOS DE FERNANDÓPOLIS, JALES E RIO


CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL PRETO/SP

Art.116. (...)
VALOR DOS TRIBUTOS RECUPERADOS

Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá


desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a
finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do 1 BILHÃO DE REAIS
tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da
obrigação tributária, observados os procedimentos a
serem estabelecidos em lei ordinária.
VALOR DA ARRECADAÇÃO ANUAL
DE 72 MUNICÍPIOS DO NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

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07/08/2019

HC 96324/SP (DESCRIÇÃO DO CASO)

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07/08/2019

Crime contra a ordem tributária e pendência de lançamento definitivo do crédito tributário – 4

Em conclusão, a 1ª Turma, por maioria, denegou habeas corpus em que acusado da suposta prática dos
crimes de formação de quadrilha armada, lavagem de dinheiro, crime contra a ordem tributária e
falsidade ideológica pleiteava o trancamento da ação penal contra ele instaurada, ao argumento de inépcia Tema
da denúncia e de ausência de justa causa para a persecução criminal, por se imputar ao paciente fato
atípico, dado que o suposto crédito tributário ainda penderia de lançamento definitivo — v. Informativos
582, 621 e 626. Frisou-se que tanto a suspensão de ação penal quanto o trancamento surgiriam com
excepcionalidade maior. Considerou-se que a denúncia não estaria a inviabilizar a defesa. Reputou-se, por outro Excludente de Culpabilidade: Inexigibilidade de
lado, que o caso versaria não a simples sonegação de tributos, mas a existência de organização, em
diversos patamares, visando à prática de delitos, entre os quais os de sonegação fiscal, falsidade conduta diversa
ideológica, lavagem de dinheiro, ocultação de bens e capitais, corrupção ativa e passiva, com frustração
de direitos trabalhistas. Concluiu-se não se poder reputar impróprio o curso da ação penal, não cabendo exigir o
término de possível processo administrativo fiscal. O Min. Ricardo Lewandowski, destacou que o caso não
comportaria aplicação da jurisprudência firmada pela Corte no julgamento do HC 81.611/DF (DJU de
13.5.2005), no sentido da falta de justa causa à ação penal instaurada para apurar delito de sonegação fiscal
quando ainda não exaurida a via administrativa, e, por conseguinte, não constituído, definitivamente, o crédito
tributário. Por fim, acrescentou que a análise da conduta do acusado constituiria matéria probatória a ser apreciada
pelo juiz natural da causa no curso da ação penal, de modo que não se cogitaria, de plano, afastar a imputação do
referido crime. Vencido o Min. Dias Toffoli, que concedia a ordem apenas para trancar, por ausência de justa causa,
a ação penal instaurada contra o paciente pelo crime previsto no art. 1º, II, da Lei 8.137/90. HC 96324/SP, rel.
Min. Marco Aurélio, 14.6.2011. (HC-96324)

EMENTA: PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 1º, INC. I, DA EMENTA: PENAL. SONEGAÇÃO FISCAL. ARTIGO 1º, INCISO I, DA LEI 8.137/90.
LEI 8.137/90. MATERIALIDADE, AUTORIA E DOLO. CONDENAÇÃO MANTIDA. DOLO GENÉRICO COMPROVADO. INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA.
1. Evidenciado nos autos que o réu suprimiu Imposto de Renda Pessoa AUSÊNCIA DE PROVAS. 1. O dolo do tipo previsto no art. 1º, inc. I da Lei nº 8.137/90

Física, omitindo informações à autoridade fiscal, a condenação às penas do é genérico, consistente na vontade livre e consciente de suprimir ou reduzir tributo

art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90 é medida que se impõe. 2. Para ser admitida por intermédio das condutas referidas no citado artigo, não se exigindo o dolo
específico de fraudar a Receita Federal. 2. Hipótese em que o delito se caracteriza
como exculpante, a alegação de dificuldades financeiras deve estar
como sonegação fiscal, e não como crime de mera omissão de recolhimento.
apoiada em prova definitiva, o que in casu não se verificou. 3.
Entretanto, mesmo que se tratasse desse último, somente configura exclusão
Ademais, ao contrário do que se dá em relação ao crime de apropriação
da culpabilidade a ocorrência de dificuldades financeiras muito graves, com
indébita previdenciária (CP, art. 168-A), não se admite o afastamento da real impossibilidade econômica de realizar o recolhimento do respectivo
culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa em razão das tributo, devidamente demonstrado o exaurimento de todos os meios
dificuldades financeiras no caso de crime de sonegação fiscal. (TRF4, necessários para efetivar essa obrigação, incluindo-se recursos do capital

ACR 2003.70.03.004053-2, Oitava Turma, Relator Élcio Pinheiro de Castro, particular, o que inocorreu na espécie. (TRF4, EINACR 2004.71.00.000648-6, Quarta
Seção, Relator Luiz Fernando Wowk Penteado, D.E. 16/01/2008)
D.E. 25/06/2008)

RECURSO ESPECIAL Nº 510.742 - RS (2003/0048893-6) - RELATOR : MINISTRO HÉLIO QUAGLIA BARBOSA -


DJ 13/02/2006 p. 855
RECURSO ESPECIAL. PENAL. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA. AUSÊNCIA DE PERÍCIA CONTÁBIL. “ ... É que, como bem ressaltou o Ministro Quaglia em seu voto, não se fazia necessária,
NULIDADE. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. DIFICULDADES FINANCEIRAS DA EMPRESA. INEXIGIBILIDADE
na espécie, a prefalada perícia contábil na empresa, cuja situação econômica pudera
DE CONDUTA DIVERSA. SÚMULA N.º 7 DESTA CORTE. ARTIGO 168-A DO CP. CRIME OMISSIVO. DOLO
ESPECÍFICO. DESNECESSIDADE. SÚMULA 83 DESTA CORTE. APLICAÇÃO RETROATIVA DE LEI MAIS ser suficientemente comprovada mediante a juntada da prova documental, vale dizer,
GRAVOSA. INOCORRÊNCIA. RECURSO QUE SE CONHECE PARCIALMENTE E, NA EXTENSÃO, NEGA-SE balanços financeiros, sentença de falência ou de concordata, declarações do imposto
PROVIMENTO.
de renda, certidão do cartório de protesto de títulos, execuções judiciais, reclamatórias
1. Mostrava-se desnecessária a prova pericial no caso em apreço, para demonstração das dificuldades financeiras
sofridas pela empresa, eis que outros elementos de prova puderam ser produzidos e exibidos pela defesa formando o trabalhistas, etc.
convencimento do juiz; além disso, aplicável à espécie o princípio de que não há nulidade sem a demonstração do
Não fosse o bastante, o certo é que o recorrente não logrou sequer a demonstração do
prejuízo, previsto no artigo 563 do Código de Processo Penal, pois a ausência da perícia contábil não enseja o
reconhecimento de nulidade diante do teor da documentação já se encontrava nos autos, não restando comprovado o prejuízo advindo da nulidade que suscita, de modo que acompanho o Relator para,
prejuízo sofrido pela parte;
conhecendo parcialmente do recurso especial, negar-lhe provimento, mantendo, assim,
2. De outra parte, o princípio do livre convencimento fundamentado, regente no direito processual penal brasileiro, permite ao
juiz que aprecie livremente a prova, conforme o ditame principiológico contido no artigo 157 do Código de Processo Penal; incólume a sentença e o acórdão estaduais que, fundamentadamente, arredaram a
3. A alegação de que a empresa passava por uma série de dificuldades financeiras, motivo pelo qual não foi possível repassar a necessidade da realização da perícia contábil na empresa da qual o recorrente é sócio-
contribuição previdenciária recolhida dos empregados implicaria, no caso, o reexame de provas, inviável em sede de recurso
gerente. ...” (TRECHO DO VOTO-VISTA DO MIN. HAMILTON CARVALHIDO,
especial, por esbarrar no óbice imposto pelo enunciado sumular n.º 7 desta Corte;
(...) 6. Recurso de que se conhece parcialmente e a que, nessa extensão, se nega RESP 510742)

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Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir


ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer
acessório, mediante as seguintes condutas:

Tipo Objetivo I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às


autoridades fazendárias;
Art. 1º e 2º
(Crimes praticados por particulares)

Art. 299 CP

Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária
ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e
acessório, mediante as seguintes condutas: qualquer acessório, mediante as seguintes
condutas:
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos
inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura,
em documento ou livro exigido pela lei fiscal; duplicata, nota de venda, ou qualquer outro
documento relativo à operação tributável;

Elemento normativo do tipo

Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir
tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as
reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório,
seguintes condutas:
mediante as seguintes condutas:
...
...
V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou
documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de
IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar
serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a
documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; legislação.

Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Art. 297 / 299 CP

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DISCUSSÃO

Parágrafo único. A falta de atendimento da


exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias,
que poderá ser convertido em horas em razão da A DESOBEDIÊNCIA DO ART. 1º § ÚNICO TEM QUE
maior ou menor complexidade da matéria ou da VISAR SUPRIMIR OU REDUZIR TRIBUTOS (DOLO

dificuldade quanto ao atendimento da exigência, ESPECÍFICO) OU SE ESGOTA NO NÃO ATENDIMENTO?

caracteriza a infração prevista no inciso V.

DOUTRINA EMENTA: DIREITO PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. APRESENTAÇÃO DE


DOCUMENTOS. DESOBEDIÊNCIA. ART. 1º, § ÚNICO, DA LEI Nº 8.137/90. NÃO
ENQUADRAMENTO. ABSOLVIÇÃO. ART. 168-A, § 1º, INC. I, DO CÓDIGO PENAL. EXTINÇÃO
DA PUNIBILIDADE. EXCLUSÃO DO REFIS. TIPIFICAÇÃO. DOLO. CONDUTA OMISSIVA.
EXCLUDENTE DE CULPABILIDADE INDEMONSTRADA. MEIOS DE EVITAR O CRIME.
CONDENAÇÃO MANTIDA. 1. O tipo previsto no art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 8.137/90
não subsiste em relação à sonegação de contribuições previdenciárias, cujas condutas
1ª Corrente – LOVATO – EXIGE-SE O FIM. específicas foram inseridas no texto do Código Penal pela Lei nº 9.983/2000. 2. Ademais,
não tendo sido negado o acesso do auditor fiscal à contabilidade e folha de empregados,
apenas indicado de que tais documentos se encontravam no estabelecimento matriz da
2ª Corrente – BALTAZAR – DESOBEDIENCIA ESPECIAL empresa, não resta configurado o crime de desobediência, diante da ausência de dolo. 3. A
suspensão da pretensão punitiva prevista no artigo 15 da Lei nº 9.964/2000 perdura enquanto a
empresa estiver inserida no Programa de Recuperação Fiscal, devendo ser revogada se for
excluída, restaurando-se a persecutio criminis. 4. Somente o pagamento integral do débito objeto
da denúncia autoriza a extinção da punibilidade do agente. (...) (TRF4, ACR 2004.71.07.007289-7,
Oitava Turma, Relator Élcio Pinheiro de Castro, D.E. 13/06/2007)

EMENTA: (cont. ...) 5. No crime de não-recolhimento de contribuição previdenciária descontada


dos empregados, previsto no art. 95, letra d, da Lei nº 8.212/91, o tipo subjetivo esgota-se no dolo,
não havendo exigência comprobatória do especial fim de agir (animus rem sibi habendi). Art. 2° Constitui crime da mesma natureza:
Entendimento não modificado pela circunstância de ter o referido delito sido incluído no capítulo
do Código Penal que trata da apropriação indébita pela Lei 9.983/00, pois mantidos os elementos
constitutivos do tipo nos moldes da norma anterior, continua dispensável o dolo específico. 6. Para I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou
que incida a causa supralegal de exclusão da culpabilidade relacionada às dificuldades fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente,
financeiras, deve restar cabalmente demonstrada a absoluta impossibilidade do cumprimento da
de pagamento de tributo;
obrigação nas épocas próprias, o que não ocorreu no caso dos autos. 7. Condenação pelo crime
de omissão no repasse de verbas previdenciárias mantida. 8. Privativa de liberdade substituída
por prestação de serviços à comunidade e pecuniária. A primeira por ser mais indicada para a
repressão e prevenção da prática delitiva, atendendo aos objetivos ressocializantes da Lei Penal,
uma vez que estimula e permite melhor readaptação do apenado no seio da comunidade,
viabilizando o ajuste entre o cumprimento da pena e a jornada normal de trabalho. A segunda por
reverter em proveito da própria sociedade, revelando-se conveniente à repressão dos delitos
previdenciários, nos quais a população é atingida pela prática ilícita, principalmente a parte mais
pobre que depende dos recursos do INSS. (TRF4, ACR 2004.71.07.007289-7, Oitava Turma,
Relator Élcio Pinheiro de Castro, D.E. 13/06/2007)

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DISCUSSÃO
II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou
de contribuição social, descontado ou cobrado, na
qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria
recolher aos cofres públicos;

Há necessidade de esgotamento da instância

IRPF / IPI administrativa no delito do Art. 2º?

Posição Baltazar

Apropriação Indébita Previdenciária e Natureza  IPI x ICMS

 A doutrina distingue o regime do IPI do previsto para o ICMS. Segundo Baltazar o IPI é cobrado por fora
O Tribunal negou provimento a agravo regimental interposto contra decisão do Min. Marco (valor destacado da operação). Ou seja, cobra-se, por repercussão, do contribuinte de fato. Logo o crime é o
Aurélio, que determinara o arquivamento de inquérito, do qual relator, em que apurada a do Art. 2º II.

suposta prática do delito de apropriação indébita previdenciária (CP, art. 168-A: “Deixar de
 Em relação ao ICMS como o valor é cobrado por dentro, ou seja, a nota fiscal exprime apenas o preço da
repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma venda, não destacando o tributo repassado, o débito é do próprio empresário e o crime se desloca para o Art.
legal ou convencional:”). Salientando que a apropriação indébita previdenciária não 1º.

consubstancia crime formal, mas omissivo material — no que indispensável a


ocorrência de apropriação dos valores, com inversão da posse respectiva —, e tem por
objeto jurídico protegido o patrimônio da previdência social, entendeu-se que,
pendente recurso administrativo em que discutida a exigibilidade do tributo, seria
inviável tanto a propositura da ação penal quanto a manutenção do inquérito, sob pena
de preservar-se situação que degrada o contribuinte.
Inq 2537 AgR/GO, rel. Min. Marco Aurélio, 10.3.2008. (Inq- 2537)

Art. 2° Constitui crime da mesma natureza:


... Art. 2° Constitui crime da mesma natureza:
...

III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário,


qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto
IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com
ou de contribuição como incentivo fiscal;
o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto
liberadas por órgão ou entidade de
desenvolvimento;

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Art. 2° Constitui crime da mesma natureza:

INCENTIVO FISCAL ...

V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que


Por diversas vezes o legislador dá um abatimento em permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação
determinado tributo para estimular uma conduta do contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública.
agente econômico. A isto se denomina fomento.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Ocorre que traduzindo uma dispensa legal no pagamento
do tributo, deve o beneficiário atuar conforme a
autorização legal, sob pena de configurar sonegação.

Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos


previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
Penal (Título XI, Capítulo I):

Crimes praticados por funcionários I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que
tenha a guarda em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou
públicos
parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou
contribuição social;

Art. 314 CP

II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou


indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu
exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a

de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou administração fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário público. Pena -

contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

= Art. 321 CP
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Remissão: Art. 317 e 316 CP

CP

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Art. 8° Nos crimes definidos nos arts. 1° a 3° desta lei, a pena de multa será fixada
Art. 12. São circunstâncias que podem agravar de 1/3 (um terço) até a metade as penas previstas nos arts. 1°,
entre 10 (dez) e 360 (trezentos e sessenta) dias-multa, conforme seja necessário e
2° e 4° a 7°:
suficiente para reprovação e prevenção do crime.

I - ocasionar grave dano à coletividade;


II - ser o crime cometido por servidor público no exercício de suas funções;
III - ser o crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais à vida ou à
saúde.
Art. 11. Quem, de qualquer modo, inclusive por meio de pessoa jurídica, concorre
para os crimes definidos nesta lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida
de sua culpabilidade.
Parágrafo único. Quando a venda ao consumidor for efetuada por sistema de
entrega ao consumo ou por intermédio de outro em que o preço ao consumidor é
estabelecido ou sugerido pelo fabricante ou concedente, o ato por este praticado
não alcança o distribuidor ou revendedor.

Remissão: Art. 29 CP

Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público nos
crimes descritos nesta lei, fornecendo-lhe por escrito informações sobre o fato e a

Este Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que o não recolhimento de expressiva
autoria, bem como indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.
quantia de tributo, como no caso concreto (aproximadamente R$ 2.000.000,00, excluídos juros e multa),
atrai a incidência da causa de aumento prevista no art. 12, I, da Lei n. 8.137/1990, pois configura grave
Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou
dano à coletividade, não sendo parâmetro a Portaria n. 320 de 2008 da PGFN. Precedentes. Súmula
83/STJ. [...] (STJ: AgRg no AREsp 1268981 / SP, Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea
TURMA, DJe 30/05/2018) revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena
reduzida de um a dois terços. (Parágrafo incluído pela Lei nº 9.080, de 19.7.1995)

 Art. 13 da Lei 9807/99

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