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CASO PRÁTICO- Gestão de Negócios

No dia 2 de janeiro A vendo o estado de degradação em que se encontrava a casa


de B, seu amigo, e a má administração dos seus negócios em geral, decidiu tomar,
por sua conta, várias iniciativas tendentes a pôr cobro a essa situação.

Sucedeu uma gestão de negócios, um instituto presente no art. 464º do CC: “Dá-se
a gestão de negócios, quando uma pessoa assume a direção de negócio alheio no
interesse e por conta do respetivo dono, sem para tal estar autorizada.” Assim, A
assume a gestão de negócios de B. A é o gestor e B é o dominus.
Verificam-se os requisitos do 464º: Uma pessoa (gestor) assuma a direção de negócio
alheio, no interesse e por conta do dono, sem autorização deste.

No caso concreto, há a direção direta do negócio e aqui deve tomar-se a expressão


negócio de forma mais ampla, uma vez que A tanto realiza negócios jurídicos (ao
contratar um empreiteiro e um explicador), como atos materiais (escolhendo o
projeto para a casa).
O negócio é alheio, sendo a alienidade no nosso direito, tomada de uma forma
subjetiva (o gestor não efetua nenhuma ingerência na esfera jurídica alheia, mas
pode visualizar, a partir da sua intenção, que pretende atuar para outrem. Neste
caso concreto quando A contrata o explicador há alienidade subjetiva porque este
não se ingere na esfera jurídica de B. Mas existe alienidade objetiva quando
demole e constrói uma nova casa para A.
ALIENIDADE OBJETIVA: presume que há uma atuação por conta do dominus

O negócio é celebrado por conta de B, porque visa que os benefícios e prejuízos se


repercuta na esfera jurídica deste. No caso da construção da nova casa, como
existe alienidade objetiva presume-se que a atuação é realizada por conta do
dominus. No caso do explicador, como a alienidade é subjetiva é o gestor que tem
de provar que atua por conta de B.
A gestão é realizada por conta de B porque é do seu interesse e para a sua
utilidade.
Utiliza-se um citério de utiliter: a gestão deve iniciar-se como útil para o dominus.
Por útlimo, A atua sem autorização porque não tem nenhuma relação jurídica
preexistente com B que legitime a sua atuação.

HAVENDO GN, O 1º PASSO É ANALISAR SE FORAM RESPEITADOS OS DEVERES DO


GESTOR:
- Podemos observar que foi desrespeitado o art. 465º/ b) DEVER DE AVISO, sendo
que A não avisou B que ia iniciar a GN. Mesmo estando B no estrangeiro, em
situações normais e sem nada dito em contrário, o mesmo estava contactável.
Ao violar esta alínea existe a responsabilidade obrigacional (466º/1) de A para com
B, mas mantém-se uma relação de gestão de negócios.
Por outro lado, Antunes Varela defende que a violação desta alínea provoca a
ilegitimidade da gestão e a consequente perda dos direitos previstos no 468º.

AV- GN ILEGITIMA
Assim, no dia 15 de janeiro, A resolveu contratar em nome de B, a empresa de
Construção Civil C que encarregou de restaurar a referida casa. Foi dito a A que os
custos da muito difícil restauração seriam tão caros que antes valeria a pena
demolir a edificação e construir uma outra, assim A decidiu pagar com o dinheiro
de negócios seus particularmente rentáveis para efetivar a construção de uma
nova casa para B.
A obra foi então realizada e A optou por um projeto ultramoderno que lhe foi sugerido
pelos construtores e com o valor de 250.000€, pensando que desta maneira
reformasse a mentalidade de B, que seria conservadora.

Com grande sacrifício, A ficaria impedido de aplicar essa soma num


empreendimento que lhe renderia cerca de 400.000€, realizou o pagamento
entregando o dinheiro a D encarregado da obra julgando que assim ficaria
exonerado. Para além disso, A contratou, em seu nome, um explicador (E) para que
ensinasse F (filho de B) determinadas matérias.

B regressou da sua viagem no estrangeiro e tomou conhecimento das iniciativas de


A, logo ficou horrorizado com a casa que este lhe construíra, não aprovou a obra
feita e exigiu a A uma indemnização pela demolição. Passado 1 mês, pôs a casa à
venda para poder comprar uma a seu gosto. Porém, aprovou o contrato celebrado
entre A e E, julgando-o de grande benefício para o seu filho F. Deixou, contudo, de
pagar ao explicador que imediato suspendeu as lições.

- A exige a B 400.000€ pela construção da nova casa, bem como o valor da quantia
já despendida com o explicador. ->
1. Há então duas situações que temos de distinguir na primeira parte: a demolição
da casa e a construção da casa.

PARA QUE HAJA GESTÃO DE NEGÓCIOS, A GESTÃO DEVE FAZER-SE NO INTERESSE E


POR CONTA DO DONO DO NEGÓCIO!

Uma parte da doutrina tem considerado que se trata de um pressuposto subjetivo: a


expressão em causa significaria que o gestor deve destinar a sua atividade a proteger
um interesse alheio e não um exclusivo interesse próprio (AV) ou que o gestor deve ter
a intencionalidade de gerir negócio alheio (AC), ou que o gestor (seria um agir no
interesse de outrem) deve agir em ordem a proporcionar uma vantagem ou evita um
prejuízo a outrem e com a intenção de transferir para essa pessoa os efeitos jurídicos
ou práticos da sua atuação (Galvão Teles).

Outra parte da doutrina (Pessoa Jorge; MC; ML) entende, porém, no que respeita à
atuação do gestor no interesse de outrem, que deve considerar-se, para a
verificação deste pressuposto, não apenas a intenção da gestão, mas também a
UTILIDADE DA GESTÃO
Quanto à demolição: o interesse (representação objetiva da gestão para o
dominus) é demolir a casa e construir uma nova, sendo que restaurar sairia mais
caro.
A utilidade (representação subjetiva que o dominus faz desse interesse) é que a
vontade presumível é que B não quereria demolir a casa (pela relação afetiva que
poderia ter com a mesma e por ser o seu lar).

Desta maneira há um conflito entre a vontade e o interesse do dominus. Para o


Prof. Vaz Serra prevaleceria o interesse; o Prof. ML defende a existência de um
sistema móvel que permite uma solução caso a caso, mas com predominância da
vontade e o prof. MC refere uma predominância da vontade do dono sempre que a
mesma seja conhecida. A partir daí o gestor têm discricionariedade. A vontade do
gestor só pode ser contrariada quando seja contrária à lei, à ordem pública e aos
bons costumes.
Se adotarmos a conceção que dá predominância à vontade, existe
responsabilidade de A, que violou o art. 465º/a). (Presume-se a sua culpa segundo
o 466º/2).

Quanto à construção da casa:


A age contra a vontade real e conhecida de B. Dessa maneira desrespeita o art.
465º/a) e segundo o 466º/2, a culpa de A é presumida.
Para AV deve se averiguar a culpa em concreto e não o critério do bom pai de
família porque não se deve exigir um grau de diligência superior àquele que o
gestor é capaz.
Para MC aplica-se o art. 487º/2 (responsabilidade obrigacional) e utiliza-se o
critério do bom pai de família (padrão do bónus pater famílias).
Desta forma, A tem de indemnizar B pelos danos que este tiver tido com a
demolição e com a construção da casa ultramoderna. Para além disso, B não tem
de entregar a A a quantia de 40.000€, mas apenas o que enriqueceu com a
construção da nova casa, segundo o 468º/2.

Como B não aprovou a gestão, não se aplica o 469º.

VALOR DA QUANTIA DESPENDIDA COM O EXPLICADOR:


Em relação a esta situação depende se interpretamos que A realizou apenas uma
gestão de negócios ou se consideramos que havia várias gestões de negócios.
Se se considerar que A realizou apenas uma gestão de negócios, a “aprovação” do
contrato entre A e E não é relevante uma vez que a aprovação tem de ser em
bloco. Assim, não havendo aprovação, a contratação de um explicador vai contra o
interesse e a vontade presumida do dominus, pelo que a gestão será irregular e
aplica-se o 468º/2.

Eu penso que neste caso existiam várias gestões de negócios, e uma delas seria a
contratação do explicador, existindo a aprovação dessa gestão. Desta maneira B
teria aprovado a gestão de negócios quanto à parte de contratar um explicador.
Aplica-se o 469º que tem como consequências a renúncia da indeminização pelo
gestor e o reconhecimento do direito do gestor a ser reembolsado pelas despesas
que efetuou. Segundo o 468º/1 (469º), B tem de pagar a A o valor das explicações,
acrescido dos juros legais (4%) a contar da data da contratação.

- C vem exigir a A a quantia indevidamente entregue a D, que o não representava e


que aliás, está ausente em parte incerta. ->

A gestão de negócios pode traduzir-se na prática pelo gestor de ATOS MATERIAIS ou


de ATOS JURÍDICOS.

SE A GESTÃO SE HOUVER TRADUZIDO APENAS EM ATOS MATERIAIS realizados pelo


gestor: não tem projeção sobre terceiros, tudo se passando no âmbito da relação do
dono do negócio com o gestor.

SE A GESTÃO SE HOUVER TRADUZIDO NA PRÁCTICA DE ATOS JURÍDICOS, não está só


em causa a relação do dono do negócio com o gestor, mas a posição daquele em face
dos terceiros que contrataram com o gestor. -> 471º temos de fazer uma distinção
entre a GESTÃO DE NEGÓCIOS REPRESENTATIVA (ocorre quando o gestor atua
juridicamente em nome do dono do negócio, apesar de não estar autorizado a fazê-lo,
pois se estivesse não estaríamos no domínio da gestão de negócios) e a GESTÃO DE
NEGÓCIOS NÃO REPRESENTATIVA (verifica-se quando o gestor atua juridicamente em
nome próprio, ainda que, claro, no interesse e por conta do dono do negócio),

2. Esta situação relaciona-se com as relações externas, as relações entre o gestor e


terceiros (C e D), que é possivel observar no art. 471.
A entregou indevidamente a quantia a D. D responde perante A segundo as regras
do enriquecimento sem causa. Mas A não se exonerou da obrigação.
No caso concreto diz-se que A contratou em nome do B. Assim, o art. 471º/ 1ª
parte remete para o 268º. O negócio jurídico não foi ratificado. Desta maneira, não
produz efeitos em relação ao gestor porque não foi celebrado em seu nome; não
produz efeitos em relação ao dominus porque o gestor não tinha poderes de
representação.

Desta forma, D não pode exigir a quantia nem a A nem a B, mas pode intentar uma
ação por enriquecimento sem causa contra B. INEFICÁCIA ABSOLUTA
Em que posição fica o 3º? 268º/4
Se o 3º desconhecia a falta de poderes de representação, pode revogar o n.j.
Se conhecia n tem essa hipótese de revogação e o n.j. não produz efeitos.

268º/3-> possibilidade de ser fixado um prazo para que seja feita a ratificação
desse NJ. A forma da ratificação é a exigida para a procuração, que é igual à do NJ a
celebrar. Depois desse prazo, a ratificação é ineficaz.

- E vem exigir a B o pagamento das lições em atraso, mas este diz-lhe que o assunto
é com A.
3. Esta situação relaciona-se com as relações externas entre o dominus (B) e o
explicador (E).
Neste caso concreto, A contratou em seu nome (HÁ UMA GESTÃO DE NEGÓCIOS
NÃO REPRESENTATIVA). Aplica-se o art. 471º/2ª parte e são aplicáveis as regras do
mandato sem representação (1180º e ss).
O contrato é válido, porém só produz efeitos entre o gestor e o 3º. Assim. E apenas
poderia exigir o dinheiro a A.
Nos termos do 1181º/1 o gestor fica obrigado a transferir para o dono os direitos
adquiridos no âmbito da gestão. Mas enquanto não os transferir, o dominus, ou
seja, B, não responde perante os 3ºs.

PRESSUPOSTOS DA GN
DEVER DO GESTOR: DEVER DE AVISO (DISCUSSÃO DOUTRINÁRIA)

R. INTERNAS (GESTOR E DONO DO NEGÓCIO) - R. CIVIL 466º, 468º e 469º


REGULAR: conformidade com interesse e vontade do dominus 468º/1 OU IRREGULAR
NÃO APROVADA 468º/2; IRRERULAR APROVADA 468º1

Interesse-> VANTAGEM OBJETIVA


Vontade-> VANTAGEM SUBJETIVA DE UM COMPORTAMENTO, O QUE ACHAMOS QUE
NOS TRAZ DE BOM

DESCONHECIDA VONTADE REAL -> DISCRICIONARIDADE


468º/2- IRREGULAR ESC

R. EXTERNAS (GESTOR E 3º) - 471º

Gestor de negócios pode ser renumerado? R: 470º = lacuna oculta, o trabalho tem de
ser remunerado. O serviço deve ser remunerado. Sendo regular e tendo sido aprovada,
o esforço tenha despedido naquele serviço, pode pedir uma remuneraçãoº ao dono.
ML

CRITÉRIO PARA APRECIAR A CULPA DO GESTOR: caracter altruísta


AV- culpa no caso concreto, diligencia em concreto, um gestor menos capaz ainda ...
ao dominus. Se fez o que lhe era exigido ou não
AC- parte da ideia de que o padrão deve ser o da culpa em concreto, salvo se o gestor
de negócios for profissional ou se tiver impedido outro gestor de atuar
MR- bom pai de família, N SE JUSTIFICA INTRODUZIR NA GN UMA QUEBRA COM O
INSTITUTO DA RC E DA CULPA PREVISTA- 466º

Dever de continuar a gestão, existe responsabilidade civil por uma eventual


interrupção da gestão de negócios?
MC: liga com a natureza jurídica da GN
Relação obrigacional sem dever de prestar geral com deveres acessórios 762º/2
Comportamento leal do gestor para o dominus
Não existe um dever nem há RC se houver interrupção, para MC e ML
Para AV, iniciar a GN é uma decisão voluntaria e uma vez criada a GN não é livre de a
deixar: criou expectativas, coma a sua atuação pode ter impedido outro gestor de levar
aquela ação até ao fim

468 DIFERENTE DO 471

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