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Trata-se de ação indenizatória c/c lucros cessantes proposta por OSCAR NETTO
BOEING e VERGINIA CELESTE CENEDESE BOEING em face de HOT BEACH SUITES
OLIMPIA - EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO.
Alegam, ainda, os requerentes que tiveram prejuízo desde o ano de 2018, uma vez
que tinham a intenção de investir o dinheiro no imóvel para alugar suas cotas para terceiros. Em razão de
o contrato estar praticamente quitado, os requerentes não buscam a rescisão contratual, mas sim a
indenização. Objetivam, portanto, a inversão da multa contratual, o pagamento de lucros cessantes e a
indenização por danos morais.
Foi proferida sentença de procedência (mov. 80.1), na qual o juízo a quo ressaltou
que o empreendimento foi entregue para uso em junho de 2021, sendo, portanto, a mora exclusiva da ré.
Assim, a multa prevista no contrato foi invertida.
Por fim, quanto aos danos morais, estabelece a juíza que a situação ultrapassou
mero dissabor. Assim, condena a ré ao pagamento de R$ 8.000,00 (oito mil reais) a título de danos
morais.
Por fim, alega que não há o dever de indenização por danos morais, uma vez que
não há dano à moral, à imagem ou à dignidade dos requerentes. Subsidiariamente, requer a diminuição
do valor da condenação a título de danos morais, tendo em vista a razoabilidade e proporcionalidade.
2. FUNDAMENTAÇÃO
Mediante análise dos autos, vislumbra-se que os requisitos intrínsecos e extrínsecos
de admissibilidade recursal estão presentes no recurso, motivo pelo qual dele conheço.
Quanto aos lucros cessantes, a apelante afirma que apesar de os autores terem
mencionado na inicial que adquiriram as frações de tempo do imóvel para obter proveito econômico,
todas as reservas por eles feitas até então foram destinadas ao uso próprio. Ressalta que não se pode
alugar a terceiros por conta própria, sendo necessária a disponibilização ao pool hoteleiro, o que nunca
foi feito pelos autores.
Afirma, ainda, que o valor da indenização pelos aluguéis que poderiam ter recebido
foi calculado com base no apresentado pela parte autora, ou seja, as diárias praticadas pela ré (R$
1.900,50), porém, esse valor não pode prosperar, já que devem ser abatidas algumas despesas.
Como se pode verificar, não há valor fixado, devendo os cálculos serem feitos após
liquidação de sentença. Ressalte-se, ainda, que em sede de contestação a ré nada questionou acerca dos
valores apresentados na inicial.
Da análise dos documentos anexados aos autos, verifica-se que, de fato, os autores
possuíam reservas para utilizar os 3 imóveis entre o final de novembro e início de dezembro do ano de
2021. Apesar de os apelados alegarem a preclusão da produção de prova nesse ponto, consta na
contestação a comprovação da reserva realizada, e não somente na apelação.
Nos termos da tese firmada no Tema 970, “A cláusula penal moratória tem a
finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra, estabelecida em valor
equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes”.
Ainda, no julgamento do referido tema, consta no voto do Exmo. Relator Min. Luis
Felipe Salomão o seguinte:
[...]
Deveras, embora o mais usual seja a previsão de incidência de multa por mês de
atraso, é inegável que há casos em que a previsão contratual de multa limita-se a
um único montante ou percentual para o período de mora (por exemplo, multa
de 2% do preço do imóvel, atualizado pelos mesmos índices contratuais), que
pode ser insuficiente à reparação integral do dano (lucros cessantes) daquele que
apenas aderiu ao contrato, como orienta o princípio da reparação integral (art.
944 do CC) e os arts. 389, 395 e 403 do CC.
Se total da multa devida pela ré fosse equivalente ao que consta no contrato para os
autores, ela seria de 2% ao mês sobre o valor da fração ideal, desde o início da mora até a entrega do
imóvel. Da análise da sentença, no entanto, a condenação à multa foi no importe de R$ 3.840,75, valor
este retirado da petição inicial.
Da análise da planilha de débito da inicial (mov. 1.1, pág. 10), o cálculo feito pelos
autores para chegar a essa quantia foi de 2% sobre a fração ideal de cada imóvel, atualizado até 2021,
porém, uma única vez. Isso significa que foi aplicada a multa apenas uma vez, somente no primeiro mês
de atraso, em vez de incidir a cada mês.
Assim, entendo que o valor fixado não equivale aos lucros cessantes, sendo
possível a cumulação de ambas as condenações. Esse é o entendimento desta Corte:
Na hipótese dos autos, contudo, em razão de não ter sido invocado nenhum fato
extraordinário que tenha ofendido o âmago da personalidade dos recorrentes, não há que se falar em
abalo moral indenizável. Da análise dos autos, tanto em sede de contrarrazões quanto na inicial, os
autores resumem-se a defender que o dano moral no caso é presumido, decorrente do próprio
inadimplemento, ou seja, não demonstram situação concreta que tenha gerado um grave abalo moral.
É entendimento desta Corte que o mero inadimplemento contratual não gera danos
morais passíveis de reparação, ou seja, não se trata de dano moral in re ipsa, havendo necessidade de ser
demonstrado fato extraordinário que afete direito da personalidade, o que, ressalto, não se verificou no
presente caso.
Com efeito, embora seja presumível que os autores tinham o forte desejo de
receber o imóvel na data contratada, não consta dos autos nenhuma prova de que o inadimplemento
contratual tenha causado transtornos que excedam a esfera patrimonial.
Diante do exposto, não restou demonstrada a ocorrência do dano moral, bem como
ficou estabelecido que é possível a inversão da multa contratual, afastando, porém, sua cumulação com
lucros cessantes.
Assim, voto pela reforma parcial da sentença a quo nos termos da fundamentação
exposta.
Pela sucumbência recíproca em sede recursal, cada parte deverá arcar com uma
parcela das custas processuais proporcional à sua sucumbência. Uma vez que os lucros cessantes foram
mantidos, porém com valor diminuído em 1/3, e os danos morais foram reformados totalmente, a
apelante deverá arcar com 60% e os apelados com 40% das custas e despesas processuais.
3. DISPOSITIVO
4. ACÓRDÃO
16 de maio de 2023
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