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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) DE

DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA COMARCA DE CAMPINAS –


SP

FLÁVIO CÉSAR DOS SANTOS, brasileiro, solteiro,


funcionário público, RG N.o 22.780.815-0 SSP/SP, CPF N.o 245.866.738-
42, residente na Avenida São José dos Campos, 3127, BLOCO D, APTO.
504, Campinas - SP, CEP 13040-735, endereço eletrônico
intjud@gmail.com vem, por seu advogado que esta subscreve,
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO
DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS DECORRENTES DE
INADIMPLEMENTO CONTRATUAL em face de MRV ENGENHARIA
E PARTICIPAÇÕES S/A, CNPJ N.o 08.343.492/0001-20, com endereço
comercial na Avenida Professor Mário Werneck, 621, 1.o andar, bairro
Estoril, Belo Horizonte – MG, CEP 30455-610, onde deverá ser citada pelo
correio, pelos motivos de fato e, de direito, que passa a expor e, ao final,
requerer:

I - AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO


PREVISTA NO ARTIGO 334 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

O autor, nos termos do artigo 334, parágrafo 5.o do Código


de Processo Civil, informa não ter interesse na composição consensual,
motivo pelo qual requer que não seja designada a audiência de conciliação.

II – DOS FATOS

IV – DIREITO
IV.I - DA INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR
É importante salientar que o Código de Defesa do
Consumidor, Lei nº 8.078/90, é aplicável ao caso concreto, razão pela qual
o autor requer a garantia de que sejam preservados os direitos elencados no
artigo 6º, como a inversão do ônus da prova, e a efetiva reparação dos
danos morais e materiais.

IV.II - DA REVISÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL

Conforme se pode observar no item 5 do quadro resumo,


além do prazo estipulado para a entrega do bem, a requerida fez constar
cláusula condicionando a entrega do bem ao prazo de 24 (vinte e quatro)
meses após a assinatura do contrato de financiamento.

A requerida fixou prazo incerto, o que implica em


desequilíbrio contratual e viola preceitos fundamentais do Código de
Defesa do Consumidor, em especial o artigo 39, inciso XII, criando uma
desvantagem excessiva para a parte hipossuficiente da relação, no caso em
tela, o autor.

Ademais, tal conduta é vedada pelos artigos 39, XII e 51, IV


do CDC:

Artigo 39: É vedado ao fornecedor de produtos e serviços,


dentre outras práticas abusivas:
XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua
obrigação ou deixar a fixação de ser termo inicial a seu
exclusivo critério. (grifamos e destacamos)

Ora, Excelência, a convocação dos compradores para a


assinatura do contrato de financiamento é de exclusivo critério da ré,
conforme podemos observar no item 6 do quadro resumo:

6) DECLARAÇÕES DO PROMITENTE COMPRADOR:


(...) que comprometo(mos) a comparecer quando convocado(s),
pela Promitente Vendedora, seja na agência da CEF escolhida
ou em qualquer localização por ela determinada.” (grifamos e
destacamos)

Vejamos:

Como se já não bastasse, o contrato veio animado por


cláusulas claramente inconsistentes, vagas e contraditórias, pois prevê duas
outras possíveis datas para a entrega do imóvel, vejamos o teor da cláusula
5 do contrato particular de compra e venda:

Da análise das cláusulas contratuais, extrai-se que somadas


as duas datas previstas no item 5 do quadro resumo com outras duas datas
estipuladas na cláusula quinta do contrato particular de compra e venda,
constatamos que existem 4 (quatro) possíveis datas para a entrega do
imóvel, lançando o desesperado autor em um emblema das situações
kafkianas e, de resto injustas, às quais pode conduzir o apego irrefletido à
rotina burocrática.

A título de ilustração a jurisprudência:

"COMPRA E VENDA - Imóvel - Atraso na conclusão das


obras - Variação do prazo para o seu término a partir da assinatura do
financiamento que é ilegal, nula de pleno direito - Arts. 39, XII, e 51, IV e
XV, do CDC - Obrigatoriedade da oferta - Art. 30 do CDC -
Responsabilidade exclusiva das construtoras – Fortuito interno que se
identifica na espécie - A cláusula que prevê a tolerância de 180 dias, viés
obrigacional do necessário equilíbrio, não é per se abusiva e deve ser
prestigiada diante da dimensão e da complexidade do produto/serviço que
se obteve - Tese amplamente majoritária neste Tribunal, já admitida pelo
STJ - Atraso dimensionado a partir do interesse da autora - As taxas de
evolução de obra, embutidas nas parcelas ordinárias, só devem ser
devolvidas a partir da mora - Recurso provido em parte" (TJSP - 8ª Câmara
de Direito Privado - Apelação nº 0039436-29.2011.8.26.0309 - Relator
Des. FERREIRA DA CRUZ - julgamento 06/05/2015, grifamos e
destacamos)

"COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA - Atraso na


entrega do imóvel adquirido pela autora - Contrato que previu dois prazos
alternativos para entrega da obra – Abusividade de tal previsão, pois além
de implicar prazos múltiplos, prejudicando e colocando em desvantagem o
consumidor, não apresenta qualquer justificativa - Dever de indenizar -
Impossibilidade de o comprador postular a seu favor a extensão de cláusula
penal prevista para a mora do pagamento do preço - Multa de natureza
convencional, que não pode ser criada pelo juiz - Eventual abusividade da
multa em favor somente do promitente vendedor pode acarretar a sua
invalidade, mas não a sua extensão a situações não convencionadas pelas
partes - Lucros cessantes – Danos materiais correspondentes aos alugueis
que seriam recebidos entre a data prevista e a data efetiva de entrega da
unidade - Comprovação da existência de danos morais indenizáveis, diante
da flagrante violação a direito da personalidade Atraso excessivo." (TJSP -
1ª Câmara de Direito Privado - Apelação nº 0005225-55.2014.8.26.0084 -
Relator Des. FRANCISCO LOUREIRO - julgamento 16/06/2015, grifamos
e destacamos)

"COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. Incorporação


imobiliária. Atraso na entrega da obra incontroverso. Cláusula de tolerância
de 180 dias não é abusiva, sendo válida, portanto - É abusiva e potestativa a
cláusula que estipula que a data da entrega das chaves é estimativa e que
poderá variar de acordo com a data de assinatura do contrato de
financiamento - Por tornar muito vago o prazo de entrega de chaves,
situação em que o comprador fica em desvantagem e sujeito ao arbítrio do
promitente vendedor, devem ser reputadas nulas, consoante artigo 51 da
Lei nº 8.078/90 - Responsabilidade de a ré responsabilizar o autor em
decorrência do atraso tem início após o decurso do prazo de 180 dias,
contados da data prevista em contrato para a entrega das chaves, até a
efetiva entrega das chaves.” (Apelação N.o 2000042-79.2013.8.26.0577,
Relator: Desembargador Paulo Eduardo Razuk, grifamos e destacamos)

Em caso de dúvida, as cláusulas devem ser interpretadas de


maneira mais benéfica ao consumidor, conforme o artigo 47 do Código de
Defesa do Consumidor, vejamos:

"Artigo 47 – As cláusulas contratuais serão interpretadas de


maneira mais favorável ao consumidor.” (destacamos)

No caso em tela, deve prevalecer a interpretação contratual


que obriga a entrega do apartamento na data aprazada mais os 180 dias de
tolerância, ou seja, dezembro de 2012 (junho de 2012, data fixada, mais os
180 dias de tolerância).

O autor firmou o contrato de financiamento bancário em


maio de 2013 (DOC. 2), na mesma data o valor financiado foi repassado à
construtora.

Portanto, Excelência, tendo a ré recebido a totalidade do


valor do apartamento, não existia qualquer razão para que a requerida não
entregasse o bem e cumprisse o contrato.
O prazo de entrega do imóvel expirou em dezembro de
2012, já considerados os 180 (cento e oitenta) dias de tolerância.

O autor, por ocasião da entrega do apartamento, não recebeu


a sua via do termo de entrega, recordando apenas que recebeu o imóvel
entre o final do ano de 2013 e o primeiro semestre de 2014, motivo pelo
qual iremos adotar com data da entrega, para fins de cálculo, o mês de
junho de 2014, salientando que pode ter havido uma pequena variação
nesse intervalo.

O imóvel foi entregue apenas em junho de 2014 (sujeito a


variação, conforme exposto acima), restando caracterizados 18 (dezoito)
meses de atraso.

IV.III - DA NÃO OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO

Nos casos de pedidos indenizatórios decorrentes de


inadimplemento contratual, o entendimento que vem sendo adotado é o da
aplicação do prazo prescricional de 10 anos, estabelecido no artigo 205 do
Código Civil, já que se trata de responsabilidade contratual, o que afasta a
incidência da regra do art. 205, §3º, V, do Código Civil e a respeito desse
tema, recentíssimas decisões foram proferidas pelo Egrégio Superior
Tribunal de Justiça:

“RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 458 E 535


DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. AÇÃO DE RESCISÃO
CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR PERDAS E
DANOS E DANO MORAL. CONTRATO DE COMPRA E
VENDA DE IMÓVEL. ATRASO NA ENTREGA DA OBRA.
INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. PRAZO
PRESCRICIONAL. ART. 205 DO CC. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA. 1. Afasta-se
a ofensa aos arts. 458 e 535 do CPC quando a Corte de origem
examina, de modo claro e objetivo, as questões que delimitam a
controvérsia. 2. Aplica-se o prazo prescricional decenal
previsto no art. 205 do CC nas pretensões indenizatórias
decorrentes de inadimplemento contratual. 3. Não se conhece
de recurso especial fundado em dissídio jurisprudencial quando
não realizado o cotejo analítico entre os arestos confrontados. 4.
Recurso especial parcialmente conhecido e desprovido. (REsp n.
1.591.223/PR, Relator Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 2/6/2016, DJe
9/6/2016, grifamos e destacamos)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL.
OBRIGAÇÃO DE FAZER. DANOS MATERIAIS.
PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. RESPONSABILIDADE
DA RECORRENTE. CORREÇÃO MONETÁRIA.
INVERSÃO DO JULGADO. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULAS Nº 5 E 7/STJ. (...) 2. A pretensão indenizatória
nascida do inadimplemento contratual obedece ao prazo de
prescrição decenal (art. 205 do CC), dada a natureza
obrigacional e pessoal da relação e a inexistência de prazo
específico. Precedentes. 3. Tendo a Corte de origem concluído,
à luz da prova dos autos, no sentido da configuração da
responsabilidade da recorrente e do índice de correção
monetária aplicável à espécie, inviável a inversão do julgado,
por força das Súmulas nºs 5 e 7/STJ. 4. Agravo regimental não
provido. (AgRg no REsp n. 1.384.376/RJ, relator Ministro
Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, DJe de 2/2/2016,
grifamos e destacamos)

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. JULGAMENTO SINGULAR PELO RELATOR.
POSSIBILIDADE. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL.
REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA DA LIDE. SÚMULA
7/STJ. PRAZO PRESCRICIONAL DECENAL.
ENTENDIMENTO ADOTADO NESTA CORTE.
VERBETE 83 DA SÚMULA DO STJ. NÃO PROVIMENTO
(...) 3. ‘Aplica-se o prazo de prescrição decenal (art. 205 do
CC/2002) quando o pedido de reparação civil tem por
fundamento contrato celebrado entre as partes’ (AgRg no
Ag 1401863/PR, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 12/11/2013, DJe
19/11/2013). 4. O Tribunal de origem julgou nos moldes da
jurisprudência desta Corte. Incidente, portanto, o enunciado 83
da Súmula do STJ. 5. Agravo regimental a que se nega
provimento. (AgRg no AREsp 783.719/SP, Rel. Ministra
MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em
10/03/2016, DJe 17/03/2016, grifamos e destacamos)
Portanto, Douto Magistrado, sobre o tema sequer existe
divergência jurisprudencial sendo, portanto, tema pacífico. Ainda, no
mesmo sentido decide o Egrégio Tribunal Bandeirante, vejamos:

“Compra e venda de imóvel. Atraso na entrega. 1. Prescrição.


Indenização por lucros cessantes e danos morais por
descumprimento contratual. Inaplicabilidade do prazo trienal
do art. 206, §3º, inc. V, do Código Civil, restrito às hipóteses
de responsabilidade civil extracontratual. Aplicação do
prazo decenal do art. 205 do Código Civil para
responsabilidade civil contratual. Entendimento pacificado
no E. STJ. Prescrição afastada. (...) 5. Recurso parcialmente
provido.” (Apelação nº 1057311-91.2016.8.26.0576. Relatora
Desembargadora Mary Grün. Sétima Câmara de Direito
Privado. Julgado em 06/02/2018), grifamos e destacamos.

“Compromisso de venda e compra de bem imóvel. Atraso na


entrega da obra. Legitimidade ad causam da ré reconhecida -
Lucros cessantes. Prescrição decenal - Cabimento no valor
equivalente a aluguel, dada a impossibilidade de fruição do bem
- Percentual de 0,5% sobre o valor atualizado do contrato
admitido pela jurisprudência. Recurso da ré improvido e da
corré parcialmente provido.” (Apelação nº 1004494-
72.2016.8.26.0019. Relator Desembargador Luis Mario Galbetti.
Sétima Câmara de Direito Privado. Julgado em 23/01/2018,
grifamos e destacamos).

“AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E


MORAIS. COMPRA E VENDA. ATRASO NA ENTREGA
DO IMÓVEL. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. ART. 205,
CC. SENTENÇA ANULADA. HIPÓTESE DE
ACOLHIMENTO DOS PEDIDOS. INADIMPLEMENTO DA
VENDEDORA. LUCROS CESSANTES DEVIDOS. DANOS
MORAIS CONFIGURADOS. APELO DOS AUTORES
PROVIDO. 1. Sentença que julgou extinta a "ação de
indenização por danos materiais e morais" movida pelos
promitentes compradores do imóvel, em razão de prescrição
(art. 206, §3º, V, CC). 2. Inocorrência de prescrição. Incidência
do prazo de 10 anos estabelecido no art. 205, CC.
Precedentes. 3.Hipótese de acolhimento dos pedidos. Art.
1.013, §4º, NCPC. 4. Atraso injustificado na entrega do imóvel,
após o prazo de tolerância. Mora da ré. (...). 6 Apelação dos
autores provida.” (Apelação nº 1005167-74.2015.8.26.0577, 9ª
Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Alexandre Lazzarini,
julgado em 26/04/2016, grifamos e destacamos).

“COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL –


LEGITIMIDADE PASSIVA - Réus que figuraram no contrato
como vendedores e garantidores hipotecários da empresa
responsável pelas obras de infraestrutura do loteamento -
Aplicação do Código de Defesa do Consumidor à espécie,
notadamente o art. 7º, parágrafo único e art. 25, § 1º, que prevê a
responsabilidade solidária entre todos os causadores dos danos -
Legitimidade passiva dos réus pelo atraso na entrega do lote
compromissado – PRELIMINAR REJEITADA. PREJUDICIAL
DE MÉRITO - PRESCRIÇÃO - Inocorrência - Pretensão de
resolução contratual com restituição de valores decorrente de
inadimplemento contratual por parte dos réus, com relação ao
atraso na entrega do imóvel - Aplicação do prazo de prescrição
decenal (art. 205 do CC) - O prazo prescricional previsto no
artigo 206, parágrafo 3º, V, do CC incide apenas nos casos
de responsabilidade civil extracontratual – Precedentes do c.
STJ - PREJUDICIAL DE MÉRITO REJEITADA.
RESOLUÇÃO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA
DE LOTE SEM BENFEITORIA - PEDIDO DE
RESTITUIÇÃO DE VALORES PAGOS - CULPA DOS RÉUS
- Atraso na entrega do lote compromissado, por mais de quatro
anos - Fato que motivou o desinteresse do autor no
prosseguimento do negócio, tendo inclusive, já quitado o preço
ajustado no contrato - Possibilidade de resolução contratual,
com restituição integral dos valores pagos pelo autor,
considerando a culpa dos réus – Súmula 543 do STJ - Réus que
agiram de má-fé ao utilizarem-se do imóvel compromissado
para integralizar o capital social da empresa que assumiu as
obras, da qual são sócios - Expedição de ofício ao Ministério
Público corretamente determinado na sentença - Sentença
reformada unicamente para adequar o termo inicial dos juros de
mora, a partir da citação - RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.” (Apelação nº 1004961-75.2015.8.26.0281, 9ª
Câmara de Direito Privado, Relª. Desª. Angela Lopes, julgado
em 28/11/2017, grifamos e destacamos).

“COMPROMISSO DE VENDA E COMPRA - Atraso na


entrega do imóvel - Pleito de indenização - Lucros cessantes e
repetição de indébito em razão de pagamentos indevidos -
Extinção com resolução do mérito - Reconhecimento da
prescrição trienal- Não ocorrência - Hipótese de
descumprimento de cláusula contratual – Prescrição decenal -
Aplicação do artigo 205 do Código Civil - Precedentes
jurisprudenciais - Sentença cassada, para regular processamento
do feito Recurso provido.” (Apelação nº 1021194-
77.2016.8.26.0002, 9ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des.
Galdino Toledo Junior, julgado em 31/10/2017), grifamos e
destacamos).

“Promessa de compra e venda atraso na entrega do imóvel. Ação


de indenização. Extinção com resolução do mérito prescrição.
Inconformismo por parte do autor. Acolhimento parcial.
Prescrição afastada em se tratando de responsabilidade
contratual, aplicável o prazo decenal previsto no artigo 205 do
Código Civil. Atraso na entrega do imóvel por menos de um
mês não é suficiente para caracterizar danos materiais (lucros
cessantes) e morais. Sentença reformada improcedência do
pedido. Recurso de apelação parcialmente provido.” (Apelação
nº 1048222-44.2016.8.26.0576, 9ª Câmara de Direito Privado,
Rel. Des. Piva Rodrigues, julgado em 03/10/2017, grifamos e
destacamos).

No mesmo sentido:

Apelação 1023314-33.2014.8.26.0562, 9ª Câmara de Direito,


Rel. Des. Mauro Conti Machado, julgado em 01/12/2015;

Apelação 1054079-15.2014.8.26.0100, 4ª Câmara de Direito


Privado, Rel. Des. Hamid Bdine, julgado em 10/03/2016;

Apelação 0046358-30.2011.8.26.0554, 8ª Câmara de Direito


Privado, Rel. Des. Salles Rossi, julgado em 11/02/2016;

Apelação 0191500-69.2011.8.26.0100, 1ª Câmara de Direito


Privado, Rel. Des. Christine Santini, julgado em 16/02/2016;

Apelação 1014359-75.2013.8.26.0100, 7ª Câmara de Direito


Privado, Rel. Des. Rômulo Russo, julgado em 17/02/2016.

Desse modo, é de rigor a aplicação do prazo prescricional


de 10 anos estabelecido no art. 205 do Código Civil.

V - DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS A


TÍTULO DE LUCROS CESSANTES

Antes de mais nada, o autor esclarece que não pleiteia,


nestes autos, a inversão em desfavor da requerida, de quaisquer cláusulas
previstas no contrato, em especial da cláusula penal estipulada
exclusivamente para o autor no contrato ou de promessa de compra e venda
estando seu pedido, portanto, em harmonia com o entendimento firmado
pela súmula 159 do Egrégio Tribunal de Justiça.

Assim, ao se recusar a empresa Ré a cumprir de forma


expressa o quanto havia pactuado com o autor (conclusão e consequente
entrega do imóvel e de todos os benefícios a eles inerentes no prazo
contratual), violou direito líquido e certo dos consumidores, facultando a
eles exigir o pagamento de indenizações pelo descumprimento, tudo nos
termos do artigo 475 do Código Civil, verbis:

"Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a


resolução do contrato, se não preferir exigir lhe o cumprimento, cabendo,
em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. (grifamos e
destacamos)

A conduta negligente apresentada pela Ré no caso em tela é


passível de indenização por danos materiais em favor do autor pela
retenção da posse do bem da vida que deveria ter sido entregue no prazo
contratual e unilateralmente estabelecido, sendo certo que esse dever de
indenização está previsto nos artigos 186 e 402 do Código Civil, verbis:

"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei,


as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.” (grifamos e
destacamos)

O direito de reivindicar indenização pelos danos materiais


sofridos em razão do atraso na entrega do imóvel adquirido também está
expressamente previsto no art. 43 da Lei nº 4.591/64, que cuida das
incorporações imobiliárias, que prevê o dever de indenizar do incorporador
no caso de atraso e retardamento das obras, vejamos:

"Art. 43. Quando o incorporador contratar a entrega da


unidade a prazo e preços certos, determinados ou determináveis, mesmo
quando pessoa física, ser-lhe-ão impostas as seguintes normas:
(...)
II - responder civilmente pela execução da incorporação,
devendo indenizar os adquirentes ou compromissários, dos prejuízos que a
êstes advierem do fato de não se concluir a edificação ou de se retardar
injustificadamente a conclusão das obras, cabendo-lhe ação regressiva
contra o construtor, se fôr o caso e se a êste couber a culpa;” (destacamos)

Nesse diapasão, vale informar que o direito do autor está


ancorado na jurisprudência pátria, que já se manifestou em casos análogos,
condenando as incorporadoras faltosas, no pagamento de aluguéis aos
compradores que não receberam o imóvel na data prevista em contrato,
conforme precedentes destacados abaixo:

"COMPROMISSO DE VENDA E COMPRA. AUSÊNCIA


DE DATA CERTA PARA ENTREGA DO APARTAMENTO.
DECLARAÇÃO DA RÉ NO CONTRATO DE FINANCIAMENTO.
MORA CONFIGURADA. INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAIS.
LUCROS CESSANTES. DANO MORAL. PROCEDÊNCIA DOS
PEDIDOS. Condições da ação. Análise no momento da sentença. Autores
que têm interesse de agir. Extinção sem resolução de mérito afastada. 2.
Compromisso de venda e compra. Ausência de data certa para a entrega do
imóvel. Declaração da ré no contrato de financiamento bancário. Prazo de
19 meses vencido. Mora configurada. 3. Dano material. Lucros cessantes.
Os autores têm direito à indenização pelo que deixaram de receber em
relação ao apartamento (arts. 402 e 403, do CC). Aluguéis. Liquidação. 4.
Dano moral. Caracterização in re ipsa. Indenização devida. Valor que deve
ser arbitrado com razoabilidade. Fixação em R$ 7.000,00 para cada
coautor. Recurso provido. Apelação Nº 0020440-78.2010.8.26.0224,
Relator Des. CARLOS ALBERTO GARBI (grifamos e destacamos)

Tal circunstância prescinde de prova, conforme bem


pontuado pela Excelentíssima Ministra Nancy Andrighi:

"A inexecução do contrato pelo promitente-vendedor, que


não entrega o imóvel na data estipulada, causa, além do dano emergente,
figurado nos valores das parcelas pagas pelo promitente-comprador, lucros
cessantes a título de alugueres que poderia o imóvel ter rendido se tivesse
sido entregue na data contratada. Trata-se de situação que, vinda da
experiência comum, não necessita de prova (art. 335 do CPC). (Resp
644.984/RJ, Rel. Ministra Nancy Andrighi, 3.a Turma, j. 16/08/2005)”
(grifamos e destacamos)

Pelo fato de haver reiteradas decisões favoráveis acerca do


assunto, o Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo editou a súmula 162
que trata do assunto:
Súmula 162. Descumprido o prazo para a entrega do imóvel
objeto do compromisso de venda e compra, é cabível a condenação da
vendedora por lucros cessantes, havendo a presunção de prejuízo do
adquirente, independentemente da finalidade do negócio (grifamos e
destacamos)

A indenização por lucros cessantes fixada no percentual de


0,5% sobre o valor atualizado do imóvel, por mês de atraso, demonstra ser
suficiente para a reparação do autor e encontra-se alinhado ao valor que
geralmente é cobrado a título de aluguel no mercado, vejamos:

RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATRASO NA


ENTREGA DE IMÓVEL EM CONSTRUÇÃO – FALTA DE MÃO DE
OBRA – PREVISIBILIDADE – CHUVAS EXCESSIVAS NÃO
COMPROVADAS – CORREÇÃO MONETÁRIA NÃO AFASTADA
PELA SENTENÇA RECURSO NÃO PROVIDO, NESSA PARTE –
LUCROS CESSANTES EM FAVOR DOS COMPROMISSÁRIOS
COMPRADORES – ALUGUEL ARBITRADO EM R$ 1.609,88,
CORRESPONDENTE A 0,8% DO VALOR DE MERCADO DO
IMÓVEL – DEMORA NA ENTREGA DAS CHAVES
DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL POR PARTE DA RÉ QUE FICA
OBRIGADA A RESSARCIR O AUTOR PELAS TAXAS
CONDOMINIAIS E IPTU PAGOS, ATÉ A ENTREGA DO IMÓVEL –
DANO MORAL CONFIGURADO – ATRASO NA ENTREGA DE
IMÓVEL QUE DEU CAUSA A ADIAMENTO DO CASAMENTO DOS
COMPRADORES – AFIRMAÇÃO NÃO CONTROVERTIDA VALOR
FIXADO EM R$ 10.170,00 SENTENÇA PARCIALMENTE
PROCEDENTE – NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO (TJSP –
Apelação N.o 0220174-57.2011.8.26.0100 – Rel. Des. Lucila Toledo – 9.a
Câmara de Direito Privado – Julgamento: 10 de setembro de 2013,
grifamos e destacamos).

DANOS MATERIAIS - Indenização - Atraso na entrega da


obra - Cabimento - Vendedora que não cumpriu o prazo de entrega previsto
no contrato firmado entre os contendores - Valor da indenização estimada
no percentual de 0,75% do preço corrigido do imóvel durante o período que
houve a indisponibilidade. (Apelação nº. 0036692-61.2011.8.26.0309
TJSP. Relator Desembargador Mendes Pereira. Publicado em 29.01.2013,
grifamos e destacamos)

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas, em


direito admitidas, especialmente prova emprestada, depoimento pessoal da
requerida, sob pena de confissão, o que fica desde logo expressamente
requerido, oitiva de testemunhas, cujo rol será apresentado em momento
oportuno, perícias, juntada de novos documentos, envio de ofícios
requisitando informações e apresentação de documentos, ficando desde já
todos esses meios de prova expressamente requeridos.

Diante do exposto requer:

1. A citação da requerida para os termos da presente ação,


por carta com aviso de recebimento, para que, querendo, conteste a
presente ação e, se não o fizer, seja declarada a revelia, com os
desdobramentos que lhe são atinentes;
2. Seja julgada procedente a presente ação, declarando-se
nulas as cláusulas contratuais prejudiciais ao consumidor, ora autor, em
especial a cláusulas 5 do quadro resumo parcialmente e a cláusula 5 do
contrato particular de promessa de compra e venda, por violação aos
artigos 39, XII, 46 e 51, IV do CDC, que estipulou a data de entrega do
imóvel para 24 meses após a assinatura do contrato junto ao agente
financeiro.

3. Seja a ré condenada a pagar ao autor indenização por


danos materiais, a título de lucros cessantes, em valor equivalente a 0,5%
sobre o valor atualizado do imóvel por mês de atraso, incidente sobre cada
um dos meses de atraso, que totalizaram 18 (dezoito) meses de atraso,
iniciando-se em dezembro de 2012, já considerados os 180 dias de
tolerância (DOC. 1), até a entrega das chaves, que se deu em junho de
2014, esclarecendo que recebeu o imóvel entre o final de 2013 e o término
do primeiro semestre de 2014, podendo, portanto, haver uma pequena
variação na data considerada da entrega, valor este que corresponde a R$
12.826,30 (doze mil oitocentos e vinte e seis reais e trinta centavos), ou
seja, 18 (dezoito) meses de atraso, portanto 9%, multiplicado pelo valor
atualizado do imóvel (9% X R$ 142.514,51).

3.1. Caso não seja este o entendimento de Vossa Excelência


(exposto no item 3.), o que se admite apenas por amor ao debate, requer
seja acolhido o pedido sucessivo do autor, reconhecendo-se o atraso na
entrega do apartamento, condenando a requerida ao pagamento de
indenização por danos materiais, em valores e critérios que Vossa
Excelência julgar pertinente, considerando-se os fatos apresentados na
exordial, “da mihi factum, dabo tibi ius”.

4. Que todos os valores das condenações sejam corrigidos


monetariamente, pela Tabela Prática do Egrégio TJSP, a partir da data dos
termos iniciais específicos e, acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, da
citação até o efetivo pagamento.
5. Sejam as requeridas condenadas ao pagamento de custas,
despesas processuais e honorários advocatícios, nos termos do artigo 85 do
Código de Processo Civil.

6. A inversão do ônus da prova, nos termos do artigo 6º,


inciso VIII da Lei 8.078/90, a fim de que o autor tenha facilitada a defesa
de seus direitos.

7. O autor, nos termos do artigo 334, parágrafo 5.o do


Código de Processo Civil, informa não ter interesse na designação da
audiência de conciliação ou mediação.

Dá-se à causa o valor de R$ 12.826,30.

Termos em que pede deferimento.

Campinas, 24 de fevereiro de 2019.

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