Ao Juízo de Direito da 0ª Vara Cível da Comarca da Capital do Rio de Janeiro .
DEMANDADO, brasileiro, casado, empresá rio, portador da cédula de identidade n.º
04837330-2/IFP-RJ, inscrito no CPF/MF sob o n.º 718.076.597-04, residente e domiciliado nesta Cidade, na Rua n.º 244, bloco A, apto. 603, Bairro, por seu advogado, vem apresentar CONTESTAÇÃO, conforme se segue: 1 - Introdução Cuida-se de açã o de despejo por denú ncia vazia, pelo procedimento comum do CPC/2015. O autor-locatá rio pretende a retomada do imó vel residencial locado para o réu, sob o argumento de que o prazo contratual findou em 01/12/2017. Os pedidos sã o de declaraçã o de extinçã o da locaçã o, decretaçã o de despejo com prazo de quinze dias para desocupaçã o do imó vel e condenaçã o do réu ao pagamento das custas e dos honorá rios de sucumbência. Ocorre que a pretensã o autoral nã o pode prosperar. O prazo contratual ainda nã o findou e o réu tem direito de retençã o por benfeitorias, como se verá adiante. 2 – Da tempestividade da contestação O mandado de citaçã o (pá g. 78) estabelece o prazo de 15 dias ú teis, contados da juntada aos autos, para a resposta do réu. Considerando a juntada do mandado citató rio em 17/08/2018 (pá g. 76) e o disposto nos arts. 213 e 219 do CPC, tempestiva a contestaçã o apresentada até as 24 horas do dia 10/09/2018 (segunda-feira). 3 – Do descabimento da denúncia vazia Como se vê à pá g. 19, no contrato de locaçã o que o pró prio autor trouxe aos autos, o prazo de locaçã o termina em 1º de dezembro de 2018. O contrato foi ajustado pelo prazo de quarenta e dois meses, com início em 01 de junho de 2015 e término em 01 de dezembro de 2018. Vigente o prazo contratual, impossível a decretaçã o do despejo sem justa causa, por força do art. 4º da Lei 8.245/91, segundo qual, durante o prazo estipulado para a duraçã o do contrato, nã o poderá o locador reaver o imó vel alugado. Nã o se diga que a clá usula contratual contém erro material na contagem do prazo de trinta meses e por isso o contrato iniciado em junho de 2015 deve ser considerado findo em dezembro de 2017, ao invés de dezembro de 2018. A locaçã o pelo prazo de trinta meses é a mais usual, mas nã o é de rigor, podendo ser firmada por prazo superior (quarenta e dois meses, por exemplo), na forma do art. 46 da Lei 8.245/91. De fato, no caso concreto, há erro material na clá usula contratual que prevê o prazo de locaçã o, pois nela é indicada a duraçã o de 30 ao invés de 42 meses, com início em 01 de junho de 2015 e término em 01 de dezembro de 2018 (pá g. 19), mas o equívoco nã o pode beneficiar o autor-locador, que elaborou e impô s o contrato à relaçã o locatícia. Nas relaçõ es contratuais locatícias, havendo clá usula duvidosa, a interpretaçã o deve privilegiar o locatá rio. Assim sendo, o prazo ajustado para a locaçã o é de 42 (quarenta e dois meses), a terminar em 1º de dezembro de 2018, pelo que a pretensã o autoral deve ser julgada improcedente. 4 – Do direito de retenção por benfeitorias Certo é que o contrato de locaçã o vigente priva o locatá rio do direito de retençã o por benfeitorias (pá gs. 20/21). Ocorre que o direito pá trio repugna o enriquecimento sem causa (art. 884 do CC/2002) e, como se vê à pá g. 33 e seguintes (contratos de locaçã o anteriores), o réu é inquilino desde 1995, ou seja, está na posse ininterrupta do imó vel há 23 anos, gerando dividendos de aluguel para o autor. É fato notó rio (e por isso independe de prova), que a habitabilidade de um imó vel nã o resiste a mais de duas décadas sem reforma, restando assim plenamente justificadas as benfeitorias necessá rias e ú teis que o réu-locatá rio realizou para conter o desgaste natural e conservar o bem locado. Foram R$ 79.262,63 (setenta e nove mil e duzentos e sessenta e dois reais e sessenta e três centavos) gastos com material e mã o de obra para substituiçã o e/ou reforma de portas, pisos, paredes, louças, aparelhos, vidros, hall (imposiçã o condominial), entre outros, conforme farta documentaçã o em anexa. Nã o se diga que tais benfeitorias ú teis e necessá rias prescindiram da expressa anuência do locador, pois, conforme noticiado no preâ mbulo da petiçã o inicial (pá g. 3), este reside em Minas Gerais, de sorte que o réu-locatá rio nunca teve oportunidade de uma vistoria e muito menos de autorizaçã o que nã o fosse informal para realizar as obras indispensá veis que sã o de responsabilidade daquele. Adite-se que o réu-locatá rio nã o renunciou expressamente ao direito de indenizaçã o e retençã o, por isso, a clá usula contratual em questã o, tal qual redigida, bem revela que foi esta uma imposiçã o do locador (pá gs. 20/21), uma vantagem abusiva em detrimento do inquilino. Consequentemente, além da pretensã o de retomada nã o prosperar, subsiste o direito do réu-locatá rio a indenizaçã o e retençã o do imó vel até que lhe seja ressarcida a importâ ncia de R$ 79.262,63 (setenta e nove mil e duzentos e sessenta e dois reais e sessenta e três centavos), com juros e correçã o desde o desembolso. 5 – Conclusão e provas Ante o exposto, devem ser julgados improcedentes os pedidos formulados na petiçã o inicial, restando o autor condenado ao pagamento das despesas processuais e dos honorá rios do advogado do réu. Para a remota hipó tese de ser acolhida o pedido autoral de despejo por denú ncia vazia (o que se admite apenas para argumentar, visto que o contrato de locaçã o continua em vigor), requer seja reconhecido o direito de retençã o do demandado até que seja indenizado das benfeitorias que realizou para resgatar e conservar a habitabilidade do imó vel locado. Pretende o depoimento pessoal do autor e a produçã o das provas documental suplementar, testemunhal e pericial. Nestes termos, espera deferimento. Rio de Janeiro, 06 de setembro de 2018. Advogado – OAB/RJ