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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA 1ª

VARA CÍVEL DA COMARCA DE SERRA – ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Processo nº: 0022757-94.2016.8.08.0012

MRV ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S.A, já devidamente qualificada nos autos do


processo movido por LARIANE VITORIA ALVARENGA AMÂNCIO, por intermédio do
advogado que subscreve esta petição, nomeado e constituído mediante procuração anexa, vem
apresentar as ALEGAÇÕES FINAIS nos termos a seguir declinados:

DO BREVE RESUMO DA DEMANDA

Sustenta a autora, em apertada síntese, ter firmado contrato de compra e venda com a empresa
acionada para aquisição de unidade imobiliária do empreendimento Parque Vila Imperial.

Alega que a acionada não teria observado o prazo para entrega da unidade, sendo obrigada a
suportar danos por conta do suposto atraso na entrega.

Além disso, aduz que fora obrigada a suportar cobranças indevidas a título de Taxa de
Assessoria, Taxa de Administração e Juros de Obra, informando que tal conduta configura-se
como uma conduta oriunda de má-fé.

Desta forma, ajuizou a presente ação requerendo a inversão da cláusula penal prevista no
contrato, ressarcimento da quantia paga a título de aluguéis, restituição dos valores pagos pelas
taxas impugnadas na forma dobrada, e indenização por danos morais no valor de R$ 18.000,00
(dezoito mil reais).
ILEGITIMIDADE PASSIVA DA ACIONADA QUANTO AO PEDIDO RESTITUIÇÃO
DE SUPOSTOS VALORES DESPENDIDOS A TÍTULO DE JUROS DE OBRA.

Cumpre pontuar a total ingerência da ora contestante pelas obrigações dispostas no contrato de
financiamento, pois tal ônus decorre exclusivamente da relação firmada entre a parte Autora e
a instituição financeira.

Com efeito, inexiste a responsabilidade da acionada sobre o contrato de financiamento, sendo


certo que as cláusulas contratuais, as atualizações do débito e o pagamento estão adstritos,
exclusivamente, ao contrato de mútuo com o Banco do Brasil.

Assim, fica patente que o fundamento fático do pedido de restituição dos valores de juros de obra em
nada se relaciona à atuação da ora contestante.

A cobrança do juros de obra deriva do contrato firmado entre aparte autora/consumidora e o


agente financeiro.

O réu, neste caso, é mero interveniente, não havendo razão pararesponder pelas parcelas geradas pelo
contrato de mútuo.

Portanto, considerando que o Banco do Brasil é o agente financiador do contrato de


compra e venda e o único responsável pela cobrança de taxas de evolução de obra, bem como
pela sua suspensão, não se vislumbra quaisquer possibilidades de a acionada realizar o pleito
das autoras, motivo pelo qual requer a empresa ré que seja declarada sua ilegitimidade
passiva quanto ao pleito do acima, tendo em vista a impossibilidade de cumprimento da
obrigação de fazer entabulada neste pedido.

DO MÉRITO

DA AUSÊNCIA DE ATRASO NA DISPONIBILIZAÇÃO DO IMÓVEL. PENDÊNCIA DE


PAGAMENTO.
Ab initio, conforme documentos juntados aos autos, a parte autora adquiriu imóvel junto à
demandada. Esta, sempre agindo com probidade e respeito para com as normas das searas
consumerista e cível – principalmente a boa-fé objetiva – explanou exaustivamente todas as
informações necessárias às etapas de negociações preliminares e estabelecimento do dispositivo
contratual.

O contrato de compra e venda legitimamente pactuado entre as partes consigna de forma clara
e congruente que o prazo de entrega da obra seria no dia 30/04/2016, conforme vemos trecho
colacionado:

Trecho do Quadro Reusmo

No mencionado contrato, Excelência, ainda havia a informação clara e expressa de que o


sobredito prazo poderia ser prorrogado em 180 (cento e oitenta) dias:

Tudo isto porque, como amplamente sabido, no ramo da construção civil, o repasse das verbas
decorrentes do financiamento dos imóveis é que constitui principal fonte de aporte de recursos
paraa construção dos empreendimentos.

Assim, a cláusula “05”, em verdade, guarda em sua essência a preservação do equilíbrio


econômico e financeiro do contrato, à medida em que garante à promitente/vendedora razoável
prazo, após a sua capitalização, para a conclusão do empreendimento.
Dessa forma, tendo em vista que o contrato de estipulou 30/04/2016 como prazo para a entrega
das chaves, acrescentando a cláusula de tolerância de 180 dias, é possível identificar a data
27/10/2016 como prazo limite para a entrega das chaves.

É importante ressaltar que, o imóvel encontrava-se pronto para entrega desde a data
01/08/2016, antes do prazo previsto contratualmente, conforme podemos observar no Extrato
do cliente em anexo:

Contudo, no momento da liberação do imóvel para a entrega, a parte autora não fazia jus ao
recebimento, uma vez que se encontrava inadimplente com diversas parcelas do contrato, vindo a
regularizar sua situação apenas em 25/11/2016, conforme pode ser verificado nas telas abaixo:
Observa-se, Excelência, que em que pese as alegações apresentadas pela autora, resta
incontroverso que ela se quedou inerte quanto ao pagamento de inúmeras parcelas do
contrato de compra e venda à época.

Desse modo, diante da inadimplência da autora, o contrato é claro ao estabelecer que as chaves só
seriam entregues após o pagamento das parcelas:

O referido instituto não se apresenta como função de anular a pretensão do titular do


direito, apenas tem a incumbência de justificar o direito do obrigado de recusar o
adimplemento da prestação exigida. Dessa forma, a dívida do excipiente apenas está em
provisória condição de inexigibilidade.

A exceção do contrato não cumprido tem previsão expressa no artigo no art. 476 do Código
Civil eé explicada na reciprocidade e interdependência das obrigações contraídas pelas partes:

"Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a


sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro".

Assim, conforme lição dada pelo doutrinador Silvio Venosa, nos contratos bilaterais cada
parte tem direito de exigir que a outra cumpra sua parcela na avença. Permite a lei que o
contratante suste sua parte no cumprimento até que o outro contratante perfaça a sua. Isto
posto, é absolutamente incabível a demandante reclamar direito de algo que nem perfez
condição essencialpara ser cumprido.
Dessa forma, no contrato de compra e venda o comprador tem a obrigação de pagar o preço da
coisa; já o vendedor tem a obrigação de entregá-la.

Assim, não pode a cliente, uma vez que inadimplente com a sua obrigação de pagamento do
preço do imóvel, exigir a conclusão das obras do empreendimento e a sua imissão na posse.

Nesta esteira, a jurisprudência pátria resta consolidada acerca de situações semelhantes a esta
demanda. Vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. BEM IMÓVEL.


ATRASO NA ENTREGA DA OBRA. INDENIZAÇÕES DECORRENTES.
IMPROCEDÊNCIA. EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO.
Exceção do contrato não cumprido em ação de atraso na entrega de obra. Não
comprovando o comprador a quitação tempestiva e integral de suas
obrigações, resta inviabilizado o acolhimento das pretensões indenizatórias
contra as vendedoras, pois incidente a exceção do contrato não cumprido.
(...).

(TJ-RS - AC: 70071165930 RS, Relator: Mylene Maria Michel, Data de


Julgamento: 06/08/2020, Décima Nona Câmara Cível, Data de Publicação:
18/09/2020)

Em claras palavras, até que a parte autora pague o que deve, INEXISTE dever de entregar as
chaves, e, consectário lógico, não pode a construtora ser condenada por indenização por danos
morais e materiais, sobretudo quando, contratualmente, a entrega foi condicionada a quitação
do contrato por parte da autora.

Assim, não por outro motivo, mas por questões meramente burocráticas, a autora foi imitida
na posse da unidade no dia 09/12/2016, poucos dias após a quitação dos valores em aberto,
pois foi adata que mais se adequava a disponibilidade do cliente, ora vejamos:
De outro jeito, cumpre ainda destacar que a parte autora sempre deteve pleno conhecimento
acerca do prazo contratualmente estabelecido para a entrega do imóvel, eis que a parte
demandante, acompanhando sua inicial, acostou o contrato de promessa de compra e venda,
contrato este que se encontra assinado e rubricado em todas as páginas por ela.

Diante do exposto, ao contrário do quanto alegado na inicial, a acionada não estava em mora
quanto ao cumprimento de sua obrigação contratual, mas sim a autora, uma vez que deixou
inúmeras parcelas em aberto e a imissão na posse do imóvel está condicionada ao pagamento em
dia das obrigações contratuais.

DAS DISPOSIÇÕES CONTRATUAIS. DA CIÊNCIA DA AUTORA ACERCA DOS


JUROS E MULTAS APLICADAS EM CASO DE INADIMPLÊNCIA. INEXISTÊNCIA
DE ABUSIVIDADE NOS ÍNDICES E VALORES PREVISTOS

Incialmente, cumpre informar que restou ajustado entre as partes que o atraso do pagamento do
imóvel ocasionaria as seguintes consequências, como disposto no contrato de compra e venda:
Dessa maneira, a cláusula acima foi livremente pactuada entre as partes, sendo, portanto,
plenamente válida, uma vez que observa os princípios da autonomia e da boa-fé contratual.

Resta evidenciada a licitude contratual ao prever a incidência de reajuste e multa em caso de


inadimplência, que visa recompor ou corrigir perda no poder aquisitivo da moeda envolvida no
contrato, além de imputar penalidade ao pagamento fora do prazo, de modo a equilibrar a relação
negocial estabelecida, e, assim, impedir o enriquecimento ilícito de uma das partes em relação à
outra.
DA INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL.

Ao formular o seu pedido, a parte autora também requereu a condenação da acionada ao


pagamento de danos morais, no importe de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais), em razão da não
entrega das chaves por dívida existente junto a esta acionada.

Conforme amplamente discorrido nesta peça processual, o imóvel somente não foi entregue aos
autores em decorrência do inadimplemento destes em relação ao contrato de compra e venda,
motivo pelo qual esta construtora não pode ter causado nenhum dano.

Ora, Excelência, consoante pacífico posicionamento da doutrina e jurisprudência, danos morais


são aqueles que acabam por abalar a honra, a boa-fé subjetiva ou a dignidade das pessoas.
Com isso, é imprescindível para a sua configuração a prova minuciosa das condições nas quais
ocorreram a ofensas à moral, boa-fé ou dignidade da vítima e, ainda, as consequências do fato
para vida pessoal, incluindo a repercussão do dano e todos os demais problemas gerados
reflexamente por este.

De outro lado, não se vislumbram nos argumentos expendidos na inicial quaisquer prejuízos de
ordem extrapatrimonial ou psíquica, comprovadamente experimentados pela parte autora, com
conteúdo suficientemente capaz a ensejar a condenação da acionada ao pagamento de valor a
título de dano moral.

Cumpre também registrar que, ainda que se considere ter havido qualquer descumprimento
contratual pela acionada, o que se admite apenas por amor ao debate, é certo que o mero
inadimplemento contratual não enseja dano moral. Nesse sentido, inclusive, está o
posicionamento do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ATRASO NA


ENTREGA DO IMÓVEL. DANOS MORAIS. INDENIZAÇÃO. NÃO
CABIMENTO. MERO DISSABOR. SÚMULA 83/STJ. REVISÃO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. NÃO PROVIMENTO. 1. Nos termos da
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o atraso na entrega de imóvel
não enseja, por si só, o dever de compensar danos de ordem moral. 2. AGRAVO
INTERNO DESPROVIDO.

(STJ - AgInt no AREsp: 1631988 MG 2019/0360893-1, Relator: Ministro PAULO DE


TARSO SANSEVERINO, Data de Julgamento: 14/09/2020, T3 - TERCEIRA
TURMA, Data de Publicação: DJe 21/09/2020)

Vale ressaltar a completa ausência de prova do dano moral alegado, não havendo que se falar
dano in re ipsa, na medida em que o que se discute nos presentes autos é uma relação contratual
nitidamente caracterizada! Deste modo, resta evidente que inexiste qualquer dano moral a ser
reparado.

Assim, por todo o exposto, resta comprovado que o pleito ao pagamento de indenização por
danos morais é absolutamente infundado, motivo pelo qual requer esta acionada que seja julgado
totalmente improcedente.
Apenas em observância ao princípio da eventualidade, a ré pede, desde já, que, na hipótese de
serem ultrapassados todos os argumentos expostos nesta peça de defesa, e ainda que Vossa
Excelência entenda por condenar a ré a indenizar a autora pelos danos morais supostamente
sofridos, o que não se espera, mas há de se cogitar, que o valor da indenização atenda aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

DA CONCLUSÃO E PEDIDOS

Por todo o exposto, estão à disposição do Nobre Julgador todos os elementos a fim de que se
julgue improcedentes os pedidos formulados pela parte autora, por ser medida de inteira justiça.

De mais a mais, a ré requer, ainda, na hipótese de virem a ser julgados procedentes os pedidos da
presente demanda, que sejam observados os pedidos de limitação/redução dos valores pleiteados
na exordial.

Nestes termos,
Pede e espera deferimento.
Serra/ES, 07 de agosto de 2023.

IVAN ISAAC FERREIRA FILHO


OAB/ES 33.988-A

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