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Sustenta a autora, em apertada síntese, ter firmado contrato de compra e venda com a empresa
acionada para aquisição de unidade imobiliária do empreendimento Parque Vila Imperial.
Alega que a acionada não teria observado o prazo para entrega da unidade, sendo obrigada a
suportar danos por conta do suposto atraso na entrega.
Além disso, aduz que fora obrigada a suportar cobranças indevidas a título de Taxa de
Assessoria, Taxa de Administração e Juros de Obra, informando que tal conduta configura-se
como uma conduta oriunda de má-fé.
Desta forma, ajuizou a presente ação requerendo a inversão da cláusula penal prevista no
contrato, ressarcimento da quantia paga a título de aluguéis, restituição dos valores pagos pelas
taxas impugnadas na forma dobrada, e indenização por danos morais no valor de R$ 18.000,00
(dezoito mil reais).
ILEGITIMIDADE PASSIVA DA ACIONADA QUANTO AO PEDIDO RESTITUIÇÃO
DE SUPOSTOS VALORES DESPENDIDOS A TÍTULO DE JUROS DE OBRA.
Cumpre pontuar a total ingerência da ora contestante pelas obrigações dispostas no contrato de
financiamento, pois tal ônus decorre exclusivamente da relação firmada entre a parte Autora e
a instituição financeira.
Assim, fica patente que o fundamento fático do pedido de restituição dos valores de juros de obra em
nada se relaciona à atuação da ora contestante.
O réu, neste caso, é mero interveniente, não havendo razão pararesponder pelas parcelas geradas pelo
contrato de mútuo.
DO MÉRITO
O contrato de compra e venda legitimamente pactuado entre as partes consigna de forma clara
e congruente que o prazo de entrega da obra seria no dia 30/04/2016, conforme vemos trecho
colacionado:
Tudo isto porque, como amplamente sabido, no ramo da construção civil, o repasse das verbas
decorrentes do financiamento dos imóveis é que constitui principal fonte de aporte de recursos
paraa construção dos empreendimentos.
É importante ressaltar que, o imóvel encontrava-se pronto para entrega desde a data
01/08/2016, antes do prazo previsto contratualmente, conforme podemos observar no Extrato
do cliente em anexo:
Contudo, no momento da liberação do imóvel para a entrega, a parte autora não fazia jus ao
recebimento, uma vez que se encontrava inadimplente com diversas parcelas do contrato, vindo a
regularizar sua situação apenas em 25/11/2016, conforme pode ser verificado nas telas abaixo:
Observa-se, Excelência, que em que pese as alegações apresentadas pela autora, resta
incontroverso que ela se quedou inerte quanto ao pagamento de inúmeras parcelas do
contrato de compra e venda à época.
Desse modo, diante da inadimplência da autora, o contrato é claro ao estabelecer que as chaves só
seriam entregues após o pagamento das parcelas:
A exceção do contrato não cumprido tem previsão expressa no artigo no art. 476 do Código
Civil eé explicada na reciprocidade e interdependência das obrigações contraídas pelas partes:
Assim, conforme lição dada pelo doutrinador Silvio Venosa, nos contratos bilaterais cada
parte tem direito de exigir que a outra cumpra sua parcela na avença. Permite a lei que o
contratante suste sua parte no cumprimento até que o outro contratante perfaça a sua. Isto
posto, é absolutamente incabível a demandante reclamar direito de algo que nem perfez
condição essencialpara ser cumprido.
Dessa forma, no contrato de compra e venda o comprador tem a obrigação de pagar o preço da
coisa; já o vendedor tem a obrigação de entregá-la.
Assim, não pode a cliente, uma vez que inadimplente com a sua obrigação de pagamento do
preço do imóvel, exigir a conclusão das obras do empreendimento e a sua imissão na posse.
Nesta esteira, a jurisprudência pátria resta consolidada acerca de situações semelhantes a esta
demanda. Vejamos:
Em claras palavras, até que a parte autora pague o que deve, INEXISTE dever de entregar as
chaves, e, consectário lógico, não pode a construtora ser condenada por indenização por danos
morais e materiais, sobretudo quando, contratualmente, a entrega foi condicionada a quitação
do contrato por parte da autora.
Assim, não por outro motivo, mas por questões meramente burocráticas, a autora foi imitida
na posse da unidade no dia 09/12/2016, poucos dias após a quitação dos valores em aberto,
pois foi adata que mais se adequava a disponibilidade do cliente, ora vejamos:
De outro jeito, cumpre ainda destacar que a parte autora sempre deteve pleno conhecimento
acerca do prazo contratualmente estabelecido para a entrega do imóvel, eis que a parte
demandante, acompanhando sua inicial, acostou o contrato de promessa de compra e venda,
contrato este que se encontra assinado e rubricado em todas as páginas por ela.
Diante do exposto, ao contrário do quanto alegado na inicial, a acionada não estava em mora
quanto ao cumprimento de sua obrigação contratual, mas sim a autora, uma vez que deixou
inúmeras parcelas em aberto e a imissão na posse do imóvel está condicionada ao pagamento em
dia das obrigações contratuais.
Incialmente, cumpre informar que restou ajustado entre as partes que o atraso do pagamento do
imóvel ocasionaria as seguintes consequências, como disposto no contrato de compra e venda:
Dessa maneira, a cláusula acima foi livremente pactuada entre as partes, sendo, portanto,
plenamente válida, uma vez que observa os princípios da autonomia e da boa-fé contratual.
Conforme amplamente discorrido nesta peça processual, o imóvel somente não foi entregue aos
autores em decorrência do inadimplemento destes em relação ao contrato de compra e venda,
motivo pelo qual esta construtora não pode ter causado nenhum dano.
De outro lado, não se vislumbram nos argumentos expendidos na inicial quaisquer prejuízos de
ordem extrapatrimonial ou psíquica, comprovadamente experimentados pela parte autora, com
conteúdo suficientemente capaz a ensejar a condenação da acionada ao pagamento de valor a
título de dano moral.
Cumpre também registrar que, ainda que se considere ter havido qualquer descumprimento
contratual pela acionada, o que se admite apenas por amor ao debate, é certo que o mero
inadimplemento contratual não enseja dano moral. Nesse sentido, inclusive, está o
posicionamento do Superior Tribunal de Justiça:
Vale ressaltar a completa ausência de prova do dano moral alegado, não havendo que se falar
dano in re ipsa, na medida em que o que se discute nos presentes autos é uma relação contratual
nitidamente caracterizada! Deste modo, resta evidente que inexiste qualquer dano moral a ser
reparado.
Assim, por todo o exposto, resta comprovado que o pleito ao pagamento de indenização por
danos morais é absolutamente infundado, motivo pelo qual requer esta acionada que seja julgado
totalmente improcedente.
Apenas em observância ao princípio da eventualidade, a ré pede, desde já, que, na hipótese de
serem ultrapassados todos os argumentos expostos nesta peça de defesa, e ainda que Vossa
Excelência entenda por condenar a ré a indenizar a autora pelos danos morais supostamente
sofridos, o que não se espera, mas há de se cogitar, que o valor da indenização atenda aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
DA CONCLUSÃO E PEDIDOS
Por todo o exposto, estão à disposição do Nobre Julgador todos os elementos a fim de que se
julgue improcedentes os pedidos formulados pela parte autora, por ser medida de inteira justiça.
De mais a mais, a ré requer, ainda, na hipótese de virem a ser julgados procedentes os pedidos da
presente demanda, que sejam observados os pedidos de limitação/redução dos valores pleiteados
na exordial.
Nestes termos,
Pede e espera deferimento.
Serra/ES, 07 de agosto de 2023.