Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Crédito ao Consumo
Ora, este processo surgiu por apenso aos autos principais de execução de C e D.
Mas, para melhor compreensão do caso, importa referir que, em 1.ª Instância, C e D
vieram deduzir embargos, separadamente, os quais foram liminarmente aceites invocando
diversos argumentos.
Quanto aos embargos deduzidos por C, este vem referir que foi efetuado o pagamento
da quantia de 14.191,13 euros do valor acordado no âmbito do contrato de financiamento
para aquisição de veículo automóvel, através do estabelecimento fornecedor da viatura, sendo
o valor total de 28.507,06 euros. Num segundo momento, C alega que, ao passar por
dificuldades, procedeu à entrega da viatura, nunca lhe tendo sido comunicado o valor
resultante da venda do automóvel, a abater do valor da dívida, mostrando-se infrutíferas
as tentativas de contacto com a financiadora, levando-o a crer que o valor resultante da
venda do automóvel teria sido suficiente para colmatar as suas responsabilidades no
âmbito do contrato em causa, ou seja, a sua dívida. Por último, o executado refere nunca ter
sido interpelado para o preenchimento da livrança e não tendo autorizado o seu
preenchimento, alegando que tal “se mostra abusivo”.
Já no tocante aos embargos deduzidos por D, esta refere não ter existido comunicação
do contrato e respetiva explicação dos termos deste, alegando, em suma, ter assinado toda a
documentação – e nomeadamente a livrança – na sua casa, tendo sido o marido a proceder à
entrega da documentação ao vendedor. Num segundo momento, alega a executada o facto de o
verso do contrato não se encontrar assinado por esta, devendo, como tal, tais cláusulas
considerarem-se excluídas – sendo que importa ressalvar que do verso do contrato (não
assinado), constava a convenção de preenchimento da livrança em causa, levando a executada a
alegar, assim, que deverá ser considerada tal cláusula inexistente e, consequentemente, inválido
o preenchimento da livrança. O circunstancialismo invocado conduz então à inexistência de um
título executivo válido. Acresce que a executada refere ainda o facto de não lhe ter sido
interpelada para efetuar o pagamento do valor constante da livrança e não foi igualmente
informada do valor resultante da venda do veículo financiado. Por fim, a executada menciona
ser ilegal a cobrança de juros remuneratórios, tendo existido uma resolução do contrato, nos
termos do artigo 560.º, n.º 1 do CC e que não lhe foi comunicado qualquer preçário
relativamente a despesas e comissões relacionadas com a venda do veículo em causa.
Refere ainda ter interpelado os mutuários, após verificação do não cumprimento da 34.ª
prestação e seguintes, através de carta registada com aviso de receção, concedendo um prazo de
8 dias úteis para liquidação dos montantes em dívida. Note-se que a carta enviada à embargante
não foi por ela recebida, sem culpa da exequente, não tendo sido efetuado qualquer pagamento,
razão pela qual a exequente considerou o contrato como resolvido.
O veículo foi entregue a uma empresa que procedeu à sua venda pelo valor de 8.800 euros,
revelando-se tal valor insuficiente para liquidar o alegado montante em dívida à exequente.
Como tal, a exequente preencheu a livrança, nos termos do contrato, tendo comunicado esse
preenchimento por correspondência. Contudo, os executados não pagaram o valor dela
constante.
Em sede de 1.ª Instância, foi então proferida sentença referindo que, “por todo o
exposto julgam-se os presentes embargos procedentes, por provados, e, em consequência,
julgando-se nulo o contrato subjacente e inválida a obrigação cartular exequenda, determina-
se a extinção da execução”.
B, exequente, inconformada com a decisão, veio interpor recurso, alegando, em suma,
que:
Razão pela qual cumpre analisar aquela que foi a fundamentação apresentada pelo TRP.
Quanto à fundamentação de facto, por não resultar nada de novo, penso não ser
relevante expor detalhadamente, devendo o foco ser na fundamentação de direito
apresentada.
Ora, a questão reside aqui no facto de, apesar de apenas ter sido expressamente
consagrado que todos os contraentes, incluindo os garantes, devem receber um
exemplar do contrato de crédito no artigo 12.º/2 do DL n.º 133/2009, a verdade é que já
assim se entendia, sempre que fossem dois ou mais os beneficiários do crédito, sendo
exigível a entrega de um exemplar a cada um deles, ou seja, apesar de o artigo 6.º, n.º 1
apenas referir “O contrato de crédito deve ser reduzido a escrito e assinado pelos
contraentes, sendo obrigatoriamente entregue um exemplar ao consumidor no
momento da respetiva assinatura.”, já se entendia que em casos como este, deveria ser
entregue um exemplar a cada um dos beneficiários.
Refere ainda o Tribunal da Relação que tal nulidade apenas pode ser arguida
pelo consumidor e que recai sobre o mutuante de crédito a prova de que foi
efetivamente entregue ao consumidor um exemplar do contrato de concessão de crédito,
aquando da sua assinatura, sendo que a falta de tal prova acarreta a nulidade.
Como tal, vem o Tribunal refutar o alegado pelo exequente, no que toca ao ónus
da prova recair sobre os executados – pois na verdade, recai sobre o exequente. Este
desvalor surge, claramente, como uma forma de tutela mais sólida e eficaz do
consumidor, visando uma sua maior proteção.
Decidi analisar o acórdão em apreço pois, apesar de apenas ser referente a uma
questão muito específica do regime do DL n.º 133/2009, trata-se de um importante meio
de tutela do consumidor e que visa a sua proteção, pelas seguintes razões.
A partir da análise deste acórdão é possível perceber a importância da
consagração, no DL n.º 133/2009, dos deveres pré-contratuais e, nomeadamente, das
informações que devem ser prestadas ao consumidor, nos termos do artigo 6.º, em
especial no seu n.º 3, ideia essa reforçada no artigo 12.º, n.º 3.