Juiz de Direito da 18ª Vara Cível da Circunscrição
Especial Judiciária de Brasília-DF
Distribuição por dependência
Ao processo nº: 21561-4/2000
HSBC BAMERINDUS LEASING
ARRENDAMENTO MERCANTIL S/A, pessoa jurídica de direito privado, estabelecida com sede na cidade de Curitiba, estado do Paraná, na Rua Professora Maria Assumpção, nº: 637, Vila Hauer inscrita no CGC/MF. sob o n.º 44.847.374/0001-12, via de sua procuradora e advogada ao fim assinado, m.j., domiciliada com escritório no SRTVS Qd 701, Bloco I, Sala 501, vem, à presença de V. Exa., com fulcro no que dispõe os artigos 796 e seguintes do CPC, propor a presente
AÇÃO CAUTELAR INOMINADA INCIDENTAL
(COM PEDIDO DE LIMINAR)
em face de TALISMAR FERREIRA CORREA, brasileiro, solteiro
comerciante, residente e domiciliado na Rua 01, Quadra 02, Lote 09, Bairro Vila Santa Helena, Goiânia/GO, CPF nº: 315.944.681-68, como de fato pelas seguintes razões: DOS FATOS:
1. Através do Contrato de Arrendamento Mercantil de
nº: 3180.1202206, firmado em 30/11/1999, o autor arrendou ao réu, o bem abaixo descrito:
2. O arrendatário, por sua vez, recebeu o bem acima
descrito em perfeitas condições de funcionamento e sem defeitos, obrigando-se a pagar as contraprestações, de acordo com o que ficou estipulado no contrato, mais o que constar em cláusulas de reajuste (variação cambial), sendo que o vencimento da primeira contraprestação estava previsto para 30.12.1999 e o da última para 30.11.2001.
3. Em desrespeito ao contrato de arrendamento
mercantil firmado entre as partes, o Arrendatário deixou de cumprir com suas obrigações já que não efetuou o pagamento das contraprestações vencidas de 30/01/2000 a 30/11/2001, e em razão disso a Arrendadora ajuizou ação de reintegração de posse em desfavor do mesmo, perante a 18ª Vara Cível da Circunscrição Especial Judiciária de Brasília-DF, a qual levou o nº 21561-4/2000.
4. Acontece, no entanto, que a referida ação
possessória foi julgada extinta, sem o julgamento do mérito, sob o fundamento de que a cobrança do valor residual garantido descaracteriza o contrato de leasing em compra e venda a prazo, de forma a tornar impossível o pedido da arrendadora.
5. Curial esclarecer que a ação de reintegração de
posse era o meio processual adequado à rescisão do contrato de “leasing” e retomada do bem arrendado, entretanto, alguns dos tribunais pátrios passaram a decidir contrariamente a isso, o que levou a extinção daquela ação.
6. Por oportuno, a 2ª Seção do E. STJ chegou a editar
a súmula nº263, que, no entanto, veio a ser contraditada até no momento por oito Ministros da Corte Especial do mesmo E. STJ, de sorte que, a polêmica a cerca da admissibilidade da ação possessória no caso persiste, inclusive e especialmente em sede do tribunal Superior infra- constituicional (doc.j.).
7. A retomada do veículo havia sido realizada nos
autos da possessória, e a arrendadora, na qualidade de proprietária e possuidora indireta do bem arrendado, alienou o veículo em leilão extrajudicial e utilizou o produto da venda na amortização do débito do arrendatário, ora requerido, conforme documentos em anexo.
8. Note-se que a Arrendadora apenas aguardava
decisão confirmatória da posse a si deferida.
9. A deliberação acerca da venda do veículo, após a
sua constrição judicial, justifica-se, especialmente, ao fato de que, naquele momento, em tese, cessa a obrigação do arrendatário ao pagamento das contraprestações mensais do aluguel.
10. Soma-se a isso que, como a propriedade do veículo
é da Arrendadora, a espera do deslinde processual para a venda, sem o correspondente recebimento mensal das contraprestações do arrendamento, enseja a imposição de custo somente à arrendadora.
11. A ação possessória foi julgada extinta, e
confirmada pelos Tribunais Superiores, mas isso não significa que o débito da autora deixou de existir. Muito pelo contrário. O requerido continua constituído em mora pelo não pagamento das contraprestações de arrendamento pactuadas.
12. Vale dizer que a sentença extintiva proferida na
ação de reintegração de posse, nada tem a ver com o mérito da questão, razão pela qual a arrendadora não foi destituída de seu direito rescindir o contrato e cobrar o que lhe é devido, através de uma nova ação.
13. Assim, diante do inadimplemento do Arrendatário
a Arrendadora, ora Requerente, tem direito a ver declarada a rescisão do contrato nos precisos termos da cláusula nº 26 das condições gerais aplicáveis ao instrumento.
14. É o que ocorre no caso em tela, pois, como visto, o
arrendatário/requerido deixou de pagar as contraprestações vencidas de 30/01/2000 a 30/11/2001, o que significa dizer que contrato está rescindido de pleno direito segundo o § Único do art. 119 c.c. o art. 960 do Código Civil.
15. A rescisão automática de pleno direito do contrato
firmado entre as partes é indiscutível, data vênia, e deverá ser declarada por sentença.
DO FUMUS BONI IURIS:
1. Como se disse alhures, o veículo arrendado e
retomado pela arrendadora no bojo da ação de reintegração de posse, foi alienação extrajudicialmente para amortização do débito do requerido.
2. Deste modo, é absolutamente impossível a
apresentação do veículo nos autos da ação possessória conforme determinado pelo r. despacho proferido naqueles autos.
3. Por outro lado, o produto da venda não deverá ser
devolvido ao réu (arrendatário) na referida ação para atendimento da determinação judicial, vez que o mesmo foi utilizado na amortização do débito, que é inconteste.
4. A importância em questão é a garantia do
cumprimento de parte da obrigação assumida pelo réu e que deixou de ser cumprida.
5. Em sendo compelida a devolver ao réu a
importância apurada com a venda, a arrendadora sairá inegavelmente prejudicada, haja vista que o mesmo não pagará o que deve e ainda receberá um prêmio pelo seu inadimplemento, ou seja, o dinheiro correspondente à venda do veículo. É a hipótese típica do enriquecimento sem causa, vedada pelo Direito.
6. Esclareça-se, por oportuno, que a venda realizou-se
em 8 de março de 2001, tendo o adquirente pago a importância de R$ 5.565,00 (Cinco mil, quinhentos e sessenta e cinco reais) pelo veículo, restando um saldo devedor contratual remanescente de R$5.710,78 (Cinco mil, setecentos e dez reais e setenta e oito centavos), que é diferença entre o valor do débito do requerido e a venda do veículo. 7. Por oportuno, a arrendante com a venda acima aludida, embora com o prejuízo contábil acima demonstrado, deu por quitada a dívida do contrato de arrendamento mercantil em referência.
8. A prova inequívoca e a verossimilhança do alegado
consistem:
a) na cópia do contrato firmado pelo Arrendatário, bem como na
cláusula contratual que prevê que a falta de pagamento dará causa à rescisão, e ao final, demonstrada a falta deste pagamento, a conseqüente procedência da ação de rescisão ora proposta;
b) na existência do débito do arrendatário, o qual, aliás, deu
ensejo ao ajuizamento da ação possessória julgada extinta, fato que por si só impede a entrega do valor apurado com a venda ao mesmo;
c) no comprovante da venda em leilão extrajudicial (Nota Fiscal);
III – DO PERICULUM IN MORA:
1. A demora na solução da lide certamente causará
dano de difícil ou até mesmo de impossível reparação, posto que a arrendadora/requerente será obrigada a depositar em favor do réu a importância apurada com a venda do veículo, o que representará o não recebimento, mesmo que parcial, do valor concedido para aquisição do bem arrendado.
2. O prejuízo que poderá advir da devolução do valor
apurado com a venda do veículo ao réu é inegável, data vênia.
3. Mercê disso, está presente o fumus boni iuris,
necessário para a concessão da liminar, visando assegurar o direito, evitando danos de difícil reparação, com base no artigo 798 do Código de Processo Civil, motivo pelo qual propõe a presente, como ação preparatória de futura ação de Rescisão Contratual. IV - DO PEDIDO:
ANTE O EXPOSTO, o autor requer se digne
Vossa Excelência, em:
a) Conceder medida liminar inaldita altera pars, determinando a não
restituição do veículo, objeto da inicial, ou seu equivalente em dinheiro, até decisão final na ação principal da Ação de Rescisão Contratual que será proposta;
b) A citação do Réu, para que conteste a presente Ação Cautelar
Incidental, caso queira, sob pena de confesso e de ser-lhe aplicada a revelia;
c) A condenação do Réu nas custas processuais e honorários advocatícios,
estes na base de 20%, sobre o valor da causa;
d) Ao final, requer seja julgada totalmente procedente a presente Ação
Cautelar Incidental, como de direito e justiça.
Provar-se-á o alegado por todos os meios admitidos
em direito, especialmente, documentais e depoimento pessoal do réu.