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EXMO(A). SR(A). DR(A).

JUIZ(A) DE DIREITO DA ____ VARA


CÍVEL DA COMARCA DE TRAMANDAÍ/RS

TEREZINHA MANFRO JOVINO, brasileira,


casada, zeladora, portadora do RG nº
7076630685, e do CPF nº 007.956.860/21,
residente e domiciliada na Av. Beira-Rio, nº
351, Bairro Barra, CEP 95590-000, na cidade
de Tramandaí/RS; e JOÃO ANDRADE JOVINO,
brasileiro, casado, pescador, RG nº
6012785413, CPF nº 242.171.820/15, residente
no mesmo endereço supracitado, vêm, por seus
procuradores signatários (procuração e
substabelecimento em anexo, Docs. 1 e 2),
ajuizar

AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL

em face de TENDA CONSTRUTORA S/A, sociedade


anônima inscrita no CNPJ nº 71.476.527/0009-
92, com sede situada na Rua Gomes de
Carvalho, nº 1507, Vila Olimpia, CEP 04547-
005, São Paulo/SP, pelos fatos e fundamentos
jurídicos a seguir expostos:

I – DOS FATOS

Os autores celebraram contrato de compromisso de


compra e venda de bem imóvel (número de venda 169585, doc.
3), visando a aquisição de imóvel situado no Residencial

1
Figueiredo I, Bloco D, apto. 504, 5º andar, estabelecido na
Av. Juscelino Kubitschek de Oliveira, Bairro Jardim Dona
Leopoldina, na cidade de Porto Alegre/RS.

Por ocasião da celebração do compromisso de compra e


venda, fora estipulado que os autores efetuariam o
pagamento do valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a título
de sinal e princípio de pagamento, acrescido do valor de R$
73.270,00 (setenta e três mil duzentos e setenta reais), a
serem pagos através das seguintes prestações: a) pelo valor
de R$ 6.375,00 (seis mil trezentos e setenta e cinco
reais), mediante dezessete parcelas fixas de R$ 375,00
(trezentos e setenta e cinco reais) cada; b) pelo pagamento
do valor de R$ 1.475,00 (hum mil quatrocentos e setenta e
cinco reais) em uma parcela e; c) pelo pagamento do valor
de R$ 65.420,00 (sessenta e cinco mil quatrocentos e vinte
reais), através de uma parcela, com vencimento para a data
da entrega da unidade.

Entretanto, em outubro de 2010, após os autores


efetuarem o pagamento do sinal (R$ 2.000,00) e de treze
parcelas consecutivas de R$ 375,00, a construtora passou a
negar o envio das faturas para pagamento das parcelas,
alegando que a Caixa Econômica Federal teria negado o
financiamento, referindo que a autora não se enquadrava no
programa “minha casa minha vida” (Doc. 4).

Com efeito, após o incidente, os autores, mediante


sua procuradora devidamente constituída (Doc. 5) passaram a
contatar a construtora visando uma solução ao problema.
Após o envio de sucessivos e-mails visando solucionar o
impasse que gerou a negativa de envio das faturas e do
financiamento, os autores não obtiveram êxito. Diante
disto, não restou outra alternativa aos demandantes senão
ingressar junto ao Poder Judiciário, com o intuito de
2
rescindir o compromisso de compra e venda celebrado, bem
como obter a devolução do valor correspondente ao sinal (R$
2.000,00) e às treze parcelas de R$ 375,00, haja vista que
os autores não deram causa ao fato que gerou a
impossibilidade de cumprimento do contrato (qual seja, a
negativa de financiamento junto à Caixa Federal).

Com efeito, negado o financiamento por circunstância


alheia à vontade dos autores, faz-se necessário a rescisão
contratual, acrescida da devolução dos valores pagos.

II – DO DIREITO APLICÁVEL

Diante da negativa de prestação de financiamento e da


negativa, por parte da construtora, em enviar as faturas
correspondentes, a rescisão do compromisso celebrado é
medida que se impõe.

No tocante à matéria, cabe referir que não há no


compromisso pactuado qualquer previsão de retenção do sinal
pago, não podendo ser presumida qualquer penalização. Há
que ressaltar ainda que tendo em vista que a
impossibilidade de cumprimento do contrato não ocorreu por
culpa dos autores, não deve ser devida a incidência de
qualquer desconto a título de multa compensatória ou
semelhante.

Nesse sentido, a jurisprudência tem assumido a


posição de que nestes casos, as partes devem retornar ao
status quo ante, devendo os valores pagos pelo comprador
serem integralmente devolvidos:

COBRANÇA. RESCISÃO CONTRATUAL. PEDIDO DE


DEVOLUÇÃO DA ENTRADA PAGA. CONTRATO VERBAL.
3
PAGAMENTO REPRESENTADO POR NOTA PROMISSÓRIA.
AUSÊNCIA DE PACTO EXPRESSO QUANTO ÀS ÀRRAS.
RESTITUIÇÃO DEVIDA. VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO
ILÍCITO. Promessa de compra e venda de imóvel
entabulada entre as partes, em virtude da qual
a recorrida alcançou valores ao recorrente,
representando cerca de 20% do preço ajustado.
Ausência de restituição integral após o
desfazimento do negócio, tendo o recorrente
firmado nota promissória em favor da recorrida,
representativa da soma entregue, efetuando a
devolução parcial do valor, mediante acordo com
ela firmado, que não cumpriu, para pagamento do
restante. Tese defensiva no sentido de o
pagamento inicial se caracterizar como arras,
justificando a retenção. Pacto acessório que
deve ser expresso, não podendo ser presumido,
mormente quando das circunstâncias, o contrário
é o que se depreende. Falta, ademais, de
comprovação dos alegados prejuízos à parte
recorrente, que asseverou ter efetuado gastos
com a reforma do bem, sem lhes especificar o
valor atinente, tampouco produzir a prova
documental correspondente. RECURSO IMPROVIDO.
(Recurso Cível Nº 71002521383, Segunda Turma
Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Fernanda Carravetta Vilande, Julgado em
23/06/2010). (grifei)

AÇÃO DE COBRANÇA. COMPRA E VENDA DE


IMÓVEL. ARRAS. DESFAZIMENTO DO NEGÓCIO, POR
FATO NÃO IMPUTÁVEL ÀS PROMITENTES COMPRADORAS.
DIREITO AO RESSARCIMENTO DO SINAL PAGO. Uma vez
resolvido o contrato, sem culpa de qualquer das
partes, deve-se buscar o retorno das partes ao
status quo ante, mediante a restituição
integral do sinal pago, não havendo espaço para
aplicação das penalidades previstas no art. 418
do CC, tampouco retenção de percentual das
arras pagas a título de cláusula penal, pois a
incidência de multa pressupõe um agir culposo
ou ao menos voluntário do contratante,
requisito não implementado no caso dos autos.
RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº
71002095578, Terceira Turma Recursal Cível,
Turmas Recursais, Relator: Eugênio Facchini
Neto, Julgado em 24/09/2009)

PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL.


DESFAZIMENTO DO NEGÓCIO EM RAZÃO DA
IMPOSSIBILIDADE DE PERFECTIBILIZAR O

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FINANCIAMENTO JUNTO Á CAIXA ECONÔMICA. PLEITO
DE RESTITUIÇÃO DO SINAL. RESCISÃO SEM ÔNUS À
PARTE AUTORA. DESFAZIMENTO DO CONTRATO POR FATO
ALHEIO Á VONTADE DA AUTORA, NÃO VERIFICADA MÁ-
FÉ DA PROMITENTE COMPRADORA. VEDAÇÃO AO
ENRIQUECIMENTO INDEVIDO. CONTRATO SEM PREVISÃO
EXPRESSA DE MULTA POR QUEBRA CONTRATUAL OU
RETENÇÃO DE ARRAS. RESTITUIÇÃO DO SINAL SEM A
PENALIDADE DO ART. 418 DO CC. RETORNO DAS
PARTES AO "STATUS QUO ANTE". - Situação
peculiar dos autos que exige se reconheça a
legitimidade passiva da imobiliária e dos
corretores, para que também respondam pela
restituição de valores à autora, tendo em vista
que o desfazimento do negócio não deve vir em
prejuízo exclusivo do promitente vendedor.
Afastada prefacial de ilegitimidade. - Ainda
que a princípio o distrato não afaste o direito
dos corretores à respectiva remuneração, no
caso concreto reconhecer a responsabilidade
exclusiva do promitente vendedor em restituir a
quantia de R$ 6.562,00 à autora é risco de
materializar-se o injusto. Desta feita, tenho
que a forma mais equânime de retorno das partes
ao "status quo ante" é o desfazimento da
promessa de compra e venda, respondendo todas
as partes envolvidas: promitente vendedor,
imobiliária e corretores, os quais restituirão
à compradora os valores que esta já alcançou, e
a compradora, por sua vez, arcando com as
despesas condominiais, como já posto na
sentença. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº
71002641025, Terceira Turma Recursal Cível,
Turmas Recursais, Relator: Carlos Eduardo
Richinitti, Julgado em 27/01/2011)

Deste modo, para que retornem as partes ao “status


quo ante”, é devida a devolução integral da importância
despendida pelos autores/promitentes compradores a título
de entrada (sinal de R$ 2.000,00), acrescido das treze
parcelas de R$ 375,00, por ser medida que impede o
enriquecimento indevido da parte contrária. Ademais,
inexistindo previsão expressa acerca da retenção das arras,
bem como não demonstrada má-fé ou culpabilidade dos autores
pelo desfazimento do negócio, que foi impossibilitado por

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fato alheio à sua vontade, não deve incidir a penalidade do
art. 418 do CC.

Por fim, ressalte-se que consoante inteligência do


art. 53 do Código de Defesa do Consumidor, nos contratos de
compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em
prestações, consideram-se nulas de pleno direito as
cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações
pagas, o que reforça a tese da devida devolução das
parcelas adimplidas.

Destarte, os autores vêm postular a este eminente


juízo que determine a rescisão do instrumento particular de
compromisso de compra e venda, bem como seja a ré condenada
a efetuar a devolução, em favor dos promitentes
compradores, do valor de R$ 2.000,00 a título de sinal, bem
como das treze parcelas de R$ 375,00, sendo todos os
valores corrigidos pelo IGP-M desde cada desembolso e
acrescidos de juros de 6% ao ano, sobre cada parcela a
partir da citação.

III – DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

A autora, pela remuneração mensal que percebe, é


carente no seu sentido sócio-econômico.

Tal situação pessoal da autora atesta que a


demandante não possui capacidade sócio-econômica para
custear as despesas do processo sem prejuízo de seu
sustento e de sua família.

Tendo em vista tal situação, a lei assegura à parte a


possibilidade da concessão da assistência judiciária
gratuita, o que desde já se postula, conforme declaração de
carência sócio-econômica em anexo (Doc. 6). Gize-se que
6
para a concessão do benefício em tela, é suficiente a
simples declaração do postulante sobre a impossibilidade de
arcar com as custas processuais e os honorários
advocatícios sem prejuízo de seu próprio sustento, a teor
do disposto no art. 4º da Lei nº 1.060/501.

IV – DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer a Vossa Excelência:

a) O recebimento da petição inicial, com os


documentos que a instruem;

b) A citação da requerida, para responder aos termos


desta ação, sob pena de revelia;

c) A procedência dos pedidos, para o fim de:

c.1) desconstituir a relação jurídica havida entre as


partes, determinando a rescisão do compromisso de compra e
venda celebrado;

c.2) Condenar a ré a efetuar a devolução, em favor


dos promitentes compradores, do valor de R$ 2.000,00 a
título de sinal, bem como das treze parcelas de R$ 375,00,
sendo todos os valores corrigidos pelo IGP-M desde cada
desembolso e acrescidos de juros de 6% ao ano, sobre cada
parcela a partir da citação.

1
Nesse sentido: Agravo de Instrumento Nº 70040557944, Décima
Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ergio
Roque Menine, Julgado em 28/12/2010; Agravo de Instrumento Nº
70040558694, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira, Julgado em 22/12/2010;
Agravo de Instrumento Nº 70040560799, Nona Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Tasso Caubi Soares Delabary,
Julgado em 21/12/2010.
7
d) A produção de todas as provas em direito
admitidas, em especial documental;

f) A condenação da parte adversa ao pagamento das


custas, despesas processuais e honorários advocatícios,
estes não inferiores ao percentual de 20%;

g) A concessão do benefício da gratuidade judiciária,


nos termos da lei 1.060/50, conforme documentação em anexo.

Termos em que pede e espera total deferimento.

Valor da causa: R$ 6.875,00 (seis mil oitocentos e


setenta e cinco reais).

Gustavo José Correia Vieira Fernanda Cardoso


OAB/RS 76.094 OAB/RS 78.243

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