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6 de Março de 2024

2º Grau

Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro TJ-


RJ - APELAÇÃO: APL XXXXX-
29.2017.8.19.0211 - Inteiro Teor

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Publicado por Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro há 4 anos

Resumo Inteiro Teor

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jurisprudência.

Inteiro Teor
Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro

Décima Sétima Câmara Cível

APELAÇÃO CÍVEL Nº: XXXXX-29.2017.8.19.0211


APELANTE: UNILEVER BRASIL LTDA.

APELADA: PRODUTOS ALIMENTÍCIOS COIMBRA DO


CEASA LTDA.

DESEMBARGADORA RELATORA: MARCIA FERREIRA


ALVARENGA

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. RESPONSABILI-


DADE CIVIL CONTRATUAL. COMPRA E VENDA DE
MERCADORIA. CONFIRMAÇÃO E NOTIFICAÇÃO DE
ENVIO DAS MERCADORIAS À TRANSPORTADORA.
ENTREGA PARCIAL DOS PRODUTOS. AVISO DE RUP-
TURA DO ESTOQUE. PRETENSÃO DE EXECUÇÃO ES-
PECÍFICA DA OBRIGAÇÃO DE DAR. PRODUTO DES-
CONTINUADO. IMPOSSIBILIDADE CULPOSA SUPER-
VENIENTE. ART. 234 DO CÓDIGO CIVIL. CONVER-
SÃO DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL EM OBRIGAÇÃO DE
PAGAR O EQUIVALENTE MAIS PERDAS E DANOS.
DEVOLUÇÃO DA QUANTIA PAGA E LUCROS CESSAN-
TES. PRETENSÃO DE INDENIZAÇÃO DE DANOS MO-
RAIS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. APELO DA RÉ.
CONDUTA COLABORATIVA QUE NÃO ISENTA O RÉU
DE RESPONSABILIDADE. LUCROS CESSANTES COM-
PROVADOS. CÁLCULO DO JUÍZO CORRETO. LUCROS
LÍQUIDOS. DANOS MORAIS. INEXISTÊNCIA. FALTA
DE PROVA DO DANO À IMAGEM OU AO RECONHECI-
MENTO SOCIAL DA EMPRESA. REFORMA PARCIAL.
RECURSO QUE SE CONHECE E SE DÁ PARCIAL
PROVIMENTO.

ACÓRDÃO
Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro
Décima Sétima Câmara Cível

Vistos, relatados e discutidos os autos da Apelação Cível nº


000785229.2017.8.19.0211 , em que é apelante UNILE-
VER BRASIL LTDA. e apelada PRODUTOS ALIMENTÍCI-
OS COIMBRA DO CEASA LTDA., acordam os Desembarga-
dores que integram a 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro , por unanimidade,
em conhecer do recurso para darlhe parcial provimento, refor-
mando-se a sentença para afastar a condenação da parte
ré/apelante ao pagamento de indenização de danos morais. Per-
manecendo a sucumbência mínima da parte autora, a ré deve
arcar com a integralidade das despesas processuais e honorári-
os de sucumbência, fixados em 10% sobre o valor da
condenação.

Assim, decidem na conformidade do relatório e voto do relator.

RELATÓRIO

Trata-se de ação de execução específica de obrigação de dar (en-


trega de mercadoria), com pedido indenizatório, proposta por
PRODUTOS ALIMENTÍCIOS COIMBRA DO CEASA
LTDA. , em face de UNILEVER BRASIL LTDA. , pela qual
alega que, após efetuar a compra online de (i) 50.000 unidades
de detergente em pó OMO Multiação Poder Acelerador de 1 Kg,
no valor de R$ 314.500,00; (ii) 30.000 unidades de sabão em
pó OMO com toque de Comfort lilás de 1 Kg, no valor de R$
188.700,00; e 20.000 unidades de sabão em pó OMO com to-
que Comfort dourado de 1 Kg, no valor de R$125.800,00. Narra
que obteve desconto total de R$107.000,00, com pagamento
efetuado em 02/05/2017, constando no site da ré a informação
de que a entrega estava com o transportador. Em razão disso,
sustenta que entrou em contato com os seus clientes para ofer-
tar o produto a preço abaixo do mercado. No entanto, assevera
que a ré, em 19/05/2017 enviou email à autora alegando a rup-
tura do estoque e a impossibilidade de executar o contrato em
toda a sua plenitude. Após a entrega parcial, sem interesse em
obter a devolução do valor pago, requer a antecipação de tutela
para que a ré efetue a entrega das mercadorias faltantes (16.980
unidades de sabão em pó OMO com toque comfort lilás 1 Kg; e
11.840 unidades de sabão em pó OMO com toque de comfort
dourado 1 Kg). Ao final, pleiteia a conversão da tutela provisória
em definitiva, com a condenação da ré ao pagamento dos danos
morais causados.
Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro

Décima Sétima Câmara Cível

Decisão que indeferiu a tutela de urgência antecipada nas fls.


93.

Em sentença de fls. 277/280, o juízo a quo julgou parcialmente


procedentes os pedidos para condenar a ré (i) a devolver a
quantia paga de R$181.277,80, correspondente à conversão da
obrigação em perdas e danos (devolução do valor pago), consi-
derando a impossibilidade no cumprimento da prestação, com
correção monetária desde a data do desembolso e juro legais da
citação; (ii) a indenizar o lucro cessante sofrido pela autora, no
montante de R$77.814,00, com correção monetária a partir da
data que deveria ser entregue a prestação, com juros legais da
citação; e (iii) a indenizar os danos morais causados à autora,
no valor de R$20.000,00 (vinte mil reais), com correção da pu-
blicação da sentença e juros legais contados da citação. Em face
da sucumbência mínima da parte autora, condenou a ré ao pa-
gamento das despesas processuais e honorários de advogado,
fixados em 10% sobre o valor da condenação.

A ré interpôs recurso de apelação nas fls. 300/312, requerendo


a reforma da sentença, para julgar improcedentes os pedidos
autorais, em razão dos seguintes argumentos: (i) a ré sempre
atuou em boa-fé desde o momento da ruptura do estoque, dis-
ponibilizando-se para devolver o valor pago ou deixar o valor
em crédito para a autora; (ii) os lucros cessantes não foram de-
monstrados; (iii) o valor foi indevidamente apurado, na medida
em que deve ser informado o lucro líquido da operação, descon-
tadas as despesas para a promoção da venda das mercadorias;
(iv) inexiste dano moral indenizável, assim como o seu valor foi
fixado de modo excessivo.

Contrarrazões da autora nas fls. 328/340, em prestígio da


sentença.

É o relatório.s

VOTO

A apelação é tempestiva e preenche os demais requisitos de


admissibilidade.
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Décima Sétima Câmara Cível


As questões devolvidas pelo presente recurso de apelação se co-
nectam com os seguintes pontos controvertidos: (i) a repercus-
são jurídica do comportamento colaborativo da ré (boa-fé) para
dar alternativas à autora, após a confirmação da impossibilida-
de culposa de cumprimento da prestação; (ii) a prova dos lucros
cessantes e a sua quantificação; (iii) a (in) existência do dano
moral indenizável.

De início, não obstante a parte ré/apelante tenha demonstrado,


mediante troca de e-mails, que ofereceu como alternativa à sua
inexecução a opção de devolução do valor pago, proporcional à
parcela da obrigação não cumprida, ou de oferecimento de cré-
ditos para compras futuras, tais medidas não a isentam de
responsabilidade.

Primeiro porque a conduta adequada seria promover a execução


específica da obrigação, cumprindo a oferta contratada. Se já
àquela época a prestação se tornara impossível – em razão da
descontinuação da fabricação dos produtos, não mais existentes
no mercado – caberia à parte ré não apenas pagar o equivalen-
te, mas também as perdas e danos. É a dicção do art. 234, parte
final, do Código Civil:

Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios


dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do
título ou das circunstâncias do caso.

Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder,


sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condi-
ção suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes;
se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo
equivalente e mais perdas e danos.

Ademais, a conduta colaborativa, se compatível com a boa-fé, é


obrigação das partes na relação obrigacional (art. 422 do Código
Civil). A obediência aos preceitos da boa-fé não isenta o devedor
da mora, dos efeitos do inadimplemento absoluto ou dos efeitos
da impossibilidade culposa superveniente da prestação. É a sua
inobservância que gera responsabilidade.

No que tange ao argumento da inexistência de prova de lucro


cessante, sem razão a parte apelante.
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A autora demonstra que atua no mercado de atacado, como in-


termediária, razão pela qual a aquisição dos produtos – de bas-
tante escala mercadológica – seriam naturalmente comerciali-
zados, como assim o foram os demais produtos efetivamente
entregues. Essa é a atividade-fim da empresa autora e a con-
sequência natural esperada.

Quanto ao valor dos lucros cessantes, também sem razão a par-


te ré/apelante. Com efeito, o valor daquilo que o credor deixou
de lucrar deve ser apurado na forma de lucros líquidos, levan-
do-se em consideração toda a operação, com a totalidade de
seus custos.

Sucede que as notas fiscais de fls. 42/54 indicam que a parte au-
tora/apelada não recolhe ICMS, pelo regime da substituição tri-
butária. Logo, não arca com os custos tributários que poderia
ter com a venda das mercadorias.
Destaque-se que não devem ser incluídos como custos as despe-
sas fixas de aluguel ou mesmo as obrigações trabalhistas, pois
tais passivos não sofrem alteração com a venda de mais ou me-
nos mercadorias. A única despesa que, neste caso, poderia ser
acrescentada pela venda de mais ou menos mercadorias seria
aquela de natureza tributária, que neste caso não se impõe so-
bre a autora/apelada.

Destarte, mantém-se acertada a sentença de origem que identi-


ficou o valor dos lucros cessantes, com base na prova documen-
tal juntada aos autos, de modo a condenar a parte ré/apelante
ao pagamento de R$77.814,00, por aquilo que a demandante
efetivamente deixou de lucrar.

Por outro lado, tem razão a parte ré ao argumentar que a hipó-


tese de inadimplemento narrada não afetou a esfera extrapatri-
monial da empresa autora, não havendo falar-se em dano moral
à pessoa jurídica.

Com efeito, a despeito no art. 52 do Código Civil dispor que se


aplicam às pessoas jurídicas, “no que couber, a proteção dos di-
reitos da personalidade”, estendendo às sociedade empresárias
a possibilidade de obtenção de tutela de
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seus interesses extrapatrimoniais (Súmula nº 277 do STJ), veri-


fica-se que na hipótese vertente não houve ofensa a esta classe
de interesses.
Não há prova de que a parte autora anunciou a venda de certa
quantidade especificada dos produtos a seus clientes e – em ra-
zão da inexecução parcial da ré – deixou também de cumprir
com as promessas realizadas a seus consumidores. Só esta pro-
va faria induzir que houve abalo na imagem ou na representa-
ção social da empresa.

Sem esta demonstração, impõe-se reconhecer que tais negócios


se restringem ao âmbito interno das empresas. Isto é, o consu-
midor final não toma conhecimento de eventuais produtos que
os seus vendedores não conseguem comprar na quantidade de-
sejada. A falta de certo produto – que foi inclusive descontinua-
do logo depois – não torna a imagem da empresa abalada, mes-
mo porque o mesmo produto faltou a todas as outras empresas.

Inexistente, assim, a prova dos fatos que revelariam a existência


de dano moral à sociedade empresária autora, cingindo-se a lide
à composição dos interesses exclusivamente patrimoniais.

Ante o exposto, conhece-se do recurso de apelação, para dar-lhe


parcial provimento, reformando-se a sentença para afastar a
condenação da parte ré/apelante ao pagamento de indenização
de danos morais. Permanecendo a sucumbência mínima da par-
te autora, a ré deve arcar com a integralidade das despesas pro-
cessuais e honorários de sucumbência, fixados em 10% sobre o
valor da condenação.

Rio de Janeiro, 4 de agosto de 2020

MARCIA FERREIRA ALVARENGA

DESEMBARGADORA RELATORA
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/tj-
rj/913047516/inteiro-teor-913047525

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