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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

BNFB
Nº 70070574017 (Nº CNJ: 0267595-66.2016.8.21.7000)
2016/CÍVEL

APELAÇÕES CÍVEIS. TRANSPORTE DE


MERCADORIAS. AÇÃO DE RESOLUÇÃO
CONTRATUAL C/C PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DE
VALORES E REPARAÇÃO POR PERDAS E DANOS.
MERCADORIA EXTRAVIADA. DANOS MORAIS.
LUCROS CESSANTES.
Incontroverso o extravio das mercadorias.
Ressarcimento realizado de acordo com o valor
declarado pela empresa demandante.
Danos morais. Inocorrência.
Lucros cessantes devidos, pois as mercadorias
extraviadas seriam comercializadas.
PRIMEIRA APELAÇÃO IMPROVIDA.
SEGUNDA APELAÇÃO IMPROVIDA.

APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL

Nº 70070574017 (Nº CNJ: 0267595- COMARCA DE URUGUAIANA


66.2016.8.21.7000)

CONFECÇÕES GANGAS LTDA APELANTE/APELADA;

PLANALTO ENCOMENDAS-
TRANSPORTES COLETIVOS TURIJUI
LTDA APELANTE/APELADO.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Primeira Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento aos recursos.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes
Senhores DES. LUIZ ROBERTO IMPERATORE DE ASSIS BRASIL E DES.ª KATIA
ELENISE OLIVEIRA DA SILVA.
Porto Alegre, 31 de maio de 2017.

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

BNFB
Nº 70070574017 (Nº CNJ: 0267595-66.2016.8.21.7000)
2016/CÍVEL

DES. BAYARD NEY DE FREITAS BARCELLOS,


Relator.

RELATÓRIO
DES. BAYARD NEY DE FREITAS BARCELLOS (RELATOR)
Trata-se de ação de resolução contratual c/c restituição de valores c/c
reparação por perdas e danos materiais e morais proposta por CONFECÇÕES GANGAS
LTDA em face de TRANSPORTES COLETIVOS TURIJUÍ LTDA (PLANALTO
ENCOMENDAS). Narra a autora que contratou transporte de mercadorias com a ré, porém a
encomenda foi extraviada.
A contestante admitiu o extravio da mercadoria e afirmou que já ressarciu a
empresa autora. Portanto, como o conhecimento de transporte foi cancelado, significa que já
ocorreu a resolução do contrato.
Da sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na
petição inicial da ação, recorrem as partes.
CONFECÇÕES GANGAS LTDA, primeira apelante, alega ser devida a
inversão do ônus da prova, pois é a destinatária final do serviço de transporte contratado,
mesmo que não a seja das mercadorias. Também alega ter direito ao ressarcimento do valor
de todas as notas fiscais referentes às mercadorias extraviadas, assim como o reembolso das
despesas que se fizeram necessárias para buscar novas mercadorias em razão do extravio das
primeiras. Alega, ainda, que o dano moral não necessita de comprovação.
PLANALTO ENCOMENDAS, segunda apelante, alega que não há falar em
lucros cessantes, por total ausência de comprovação. Se mantida a indenização, pugna pela
redução do valor. Também alega que a autora foi derrotada na maioria dos seus pedidos,
devendo ser readequada a sucumbência e majorada a verba honorária devida aos patronos da
recorrente.
As partes apresentaram contrarrazões, reiterando os argumentos já
expendidos.
É o relatório.

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VOTOS
DES. BAYARD NEY DE FREITAS BARCELLOS (RELATOR)
Considerando que a PLANALTO ENCOMENDAS admitiu o extravio da
mercadoria e afirmou já ter realizado o pagamento correspondente, examina-se diretamente
os pedidos realizados nos arrazoados.
A autora afirma que adquiriu em um showroom de empresas em São Paulo
produtos para lançar em sua nova coleção primavera/verão, sendo que as mercadorias foram
extraviadas. Ela inclusive narra que as mercadorias serviriam para abastecer o seu estoque e
seriam colocadas à venda.
Portanto, não há falar em destinatária final dos produtos, razão pela qual a
contratação não é regida pelo CDC. Por decorrência, descabe a inversão do ônus da prova,
cabendo à autora comprovar os fatos constitutivos do seu direito, a teor do disposto no art.
373, I, do CPC.
Quanto ao mais, a autora declinou o valor da mercadoria a ser transportada
em R$ 1.018,80, sendo que postula na presente ação o ressarcimento de um valor maior.
Verifica-se que a própria representante legal da autora não deu certeza se
havia várias notas fiscais ou apenas uma, vez que os volumes eram pequenos e foram
agrupados todos num mesmo saco. Ao ser indagada a respeito, consentiu que como não tinha
experiência não teve o controle necessário ao despachar a mercadoria. Afirmou que ainda
que fosse costume vincular várias notas fiscais, não fez isso na presente situação.
Ela também afirmou que o desfile foi realizado, ainda que com outras
mercadorias. Portanto, não há falar em ressarcimento pelos gastos para realizar o evento,
pois de qualquer maneira foi realizado.
O mero descumprimento contratual não enseja reparação por danos morais,
se daí não resultar situação constrangedora que abale significativamente a parte.
A Constituição vigente inseriu, em seu art. 5º, V e X, a plena reparação do
dano moral, que, em suma, constitui qualquer agressão aos direitos da personalidade e que
lesiona a honra do indivíduo, ainda que sua dignidade não seja violada. Não se confunde
com o dano material, que tem existência própria e autônoma e exige tutela jurídica
independente, pois se refere a bens do patrimônio da vítima.

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No caso, descabe a pretendida indenização.


O lucro cessante é a noção do que razoavelmente a parte deixou de perceber,
é o lucro não obtido. No caso, é incontroverso que a mercadoria extraviada seria revendida, o
que torna certa a indenização. Quanto ao valor, tenho por manter a sentença que assim
dispôs:
“... Nesse sentido, saliente-se ser de conhecimento notório
que as mercadorias adquiridas em grandes centros
comerciais do país, com a finalidade de revenda, em regra,
possuem valores relativamente baixos, o que atrai os
comerciantes a dirigirem-se até estes locais, pois terão a
possibilidade de comercializar os produtos adquiridos por
um preço razoável e obter uma boa margem de lucro.
Assim, com base nestas constatações, considerando que
restou comrovado o extravio de mercadoria no valor de R$
1.018,80 e levando-se em conta os percentuais de margem
de lucro usualmente aplicados no comércio nestes tipos de
transações, entendo cabível o ressarcimento à parte
postulante, a título de lucros cessantes, da quantia de R$
1.018,80, correspondente a uma margem de lucro de 100%
sobre o valor da mercadoria adquirida ...”

Quanto à sucumbência, também vai mantida a sentença. A parte autora


apenas não logrou êxito no pedido de dano moral, ao contrário do que está sendo alegado. A
verba honorária também vai mantida, pois fixada de acordo com as diretrizes dos artigos 20
e 21 do Código de Processo Civil vigente à época dos fatos.
Por todo o exposto, nego provimento aos recursos.

DES. LUIZ ROBERTO IMPERATORE DE ASSIS BRASIL - De acordo com o Relator.


DES.ª KATIA ELENISE OLIVEIRA DA SILVA - De acordo com o Relator.

DES. BAYARD NEY DE FREITAS BARCELLOS - Presidente - Apelação Cível nº


70070574017, Comarca de Uruguaiana: "NEGARAM PROVIMENTO AOS RECURSOS.
UNÂNIME."

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Julgador(a) de 1º Grau: CARLOS EDUARDO DE MIRANDA FARACO

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