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Poder Judiciário

Tribunal de Justiça da Paraíba


Des. João Alves da Silva

ACÓRDÃO

APELAÇÃO Nº 0800916-88.2019.8.15.0471

ORIGEM: Juízo da Vara Única da Comarca de Umbuzeiro

RELATOR: Desembargador João Alves da Silva

APELANTE: Maria Viturino Barreto (Adv. William Wagner da Silva)

APELADO: Banco Losango S. A. Banco Múltiplo (Adv. Antônio de Moraes Dourado Neto)

APELAÇÃO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS


CUMULADA COM ANULAÇÃO DE DÉBITO. DÍVIDA INEXISTENTE.
INSCRIÇÃO DE CONSUMIDOR EM CADASTRO DE RESTRIÇÃO AO
CRÉDITO. DANO MORAL CONFIGURADO. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. FIXAÇÃO EM PATAMAR ABAIXO DA MÉDIA.
MAJORAÇÃO. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. RECONHECIMENTO DA
SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. INCOMPATIBILIDADE COM A
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. SENTENÇA SUICIDA. NULIDADE NESTE
PONTO. VÍCIO SUPRIDO. CPC, ART. 1.013, § 3º, II. ENCARGOS QUE
DEVEM RECAIR, INTEGRALMENTE, SOB O DEMANDADO.
NULIDADE PARCIAL DA SENTENÇA RECONHECIDA DE OFÍCIO.
PROVIMENTO PARCIAL DA APELAÇÃO.

Assinado eletronicamente por: ANTONIO DO AMARAL - 05/02/2021 07:05:54 Num. 9556621 - Pág. 1
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Número do documento: 21020507055403400000009524821
- À guisa dos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência pátria,
bem como em virtude das circunstâncias relativas ao caso dos autos, a
condição financeira das partes, considero que a quantia arbitrada na
sentença é insuficiente para reparar o mal impingido ao autor, que além de
amargar o dissabor da dívida não contraída, teve seu nome incluso em
cadastro de mal pagadores. No contexto posto, entendo por bem fixar o valor
da indenização em R$ 6.000,00 (seis mil reais), por considerar adequada a
reparar os danos de ordem moral sofridos pela parte autora, sem se tornar
vil ou fomentar o enriquecimento ilícito.

- Considerando que o magistrado julgou procedente a demanda, mas aplicou


a regra da sucumbência recíproca, determinando que as partes dividissem os
ônus processuais, penso que está caracterizada a hipótese de sentença suicida
quanto a este aspecto, daí porque declaro sua nulidade especificamente neste
ponto. Partindo-se do que autoriza o art. 1.013, § 3º, II, do CPC, supre-se a
nulidade, condenando o promovido a arcar, integralmente, com os ônus
sucumbenciais.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos, em que figuram como partes as acima nominadas.

ACORDA a Quarta Câmara Especializada Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do


Estado da Paraíba, por unanimidade, rejeitar a preliminar e, no mérito, dar provimento
parcial ao recurso, nos termos do voto do relator, integrando a decisão a certidão de
julgamento constante dos autos. (ID 9514656)

Relatório

Trata-se de apelação interposta contra sentença que julgou parcialmente


procedente o pedido formulado na ação declaratória de inexistência de débito cumulada com indenização
proposta por Maria Viturino Barreto em desfavor de Banco Losango S. A. Banco Múltiplo.

Na sentença, o magistrado declarou a inexistência de débito, determinando a


exclusão da inscrição relativa ao contrato, no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de multa, além de
condenar o promovido a pagar indenização no importe de R$ 1.000,00 (mil reais), a título de danos
morais. Em razão da sucumbência recíproca, condenou “as partes ao pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios, sendo 50% (cinquenta por cento) a cargo da autora, suspensa a executividade por
ser beneficiária da AJG; e 50% (cinquenta por cento) de responsabilidade da promovida”. Os honorários
advocatícios foram arbitrados em 20% (vinte por cento) sobre o proveito econômico obtido na causa,
respeitada a mesma proporcionalidade.

Inconformada, recorre a autora aduzindo a necessidade de majoração dos danos


morais para R$ 10.000,00 (dez mil reais), além de pedir a condenação da parte recorrida ao pagamento de
honorários advocatícios no importe de 20%.

Em sede de contrarrazões, a instituição de crédito negou a ocorrência de danos


morais e, quanto ao valor da indenização, pleiteou a manutenção da sentença. Pede, outrossim, que os
juros de mora sejam fixados a partir do arbitramento.

É o relatório.

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VOTO

Registre-se, de antemão, que nada há mais para discutir quanto ao ilícito


reconhecido na sentença, na medida em que não houve recurso da parte ré quanto a este aspecto,
subsistindo para definição desta Corte apenas a questão relativa ao valor da indenização por danos morais,
bem como honorários advocatícios.

Conforme colhe-se dos autos, a parte autora teve seu nome negativado em razão
de débito existente em seu nome, cuja origem era o contrato 003020047552012L, que não fora firmado
pela promovente, segundo restou reconhecido na sentença.

Partindo-se, pois de tais informações, necessário se faz debruçar-se sobre o pedido


de indenização por danos morais. A propósito, este se dá in re ipsa, sendo, destarte, consequência direta
do próprio ato lesivo e derivado da gravidade do ilícito em si. Com a demonstração da conduta ilícita do
réu já resta comprovado o dano moral, porque ele está inserido no próprio fato danoso, agravado pela
inscrição do nome do consumidor no SERASA. A esse respeito, confira-se o precedente:

“"É ônus da demandada comprovar o contrato gerador da dívida, com a


respectiva informação de inadimplência do autor. Contrato não juntado aos
autos. [...]. Art. 333, II do CPC. Por conseqüência, a demandada não se
desincumbiu do ônus da prova e a inscrição se mostra indevida. A inclusão
indevida de nome em órgão de proteção ao crédito configura o dano moral
"in re ipsa", que prescinde de comprovação. Configurada a conduta ilícita, o
nexo causal e os danos, é conseqüência o dever de indenizar". (71005809322,
Rel. Ana Cláudia Cachapuz Silva Raabe, 18/11/2015). - A indenização por
dano moral deve ser fixada mediante prudente arbítrio do juiz, de acordo
com o princípio da razoabilidade, observados a finalidade compensatória, a
extensão do dano experimentado, bem como o grau de culpa.
Simultaneamente, o valor não pode ensejar enriquecimento sem causa, nem
pode ser ínfimo, a ponto de não coibir a reincidência em c (TJPB -
ACÓRDÃO/DECISÃO do Processo Nº 00029507020148150301, 4ª Câmara
Especializada Cível, Relator JOAO BATISTA BARBOSA , j. em
10-03-2020)).

Considerando estes fatos, é de se atentar para a finalidade pedagógica da


indenização por dano moral, que tem o fito de impedir a reiteração de prática de ato socialmente
detestável e conceder uma simbólica compensação pelo desconforto e aflição sofridos pela parte
consumidora.

O Colendo STJ, no REsp nº 238.173, cuja relatoria coube ao Ministro Castro


Filho, entendeu que “não há critérios determinados e fixos para a quantificação do dano moral.
Recomendável que o arbitramento seja feito com moderação e atendendo às peculiaridades do caso
concreto”.

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Nessa esteira, consigne-se que a indenização por dano moral deve ser fixada
mediante prudente arbítrio do juiz, de acordo com a razoabilidade, observados a finalidade
compensatória, a extensão do dano experimentado, bem como o grau de culpa. Simultaneamente, o valor
não pode ensejar enriquecimento sem causa, nem pode ser ínfimo, a ponto de não coibir a reincidência.

Ou seja, referida indenização deve ser bastante para compensar a dor do lesado e
constituir um exemplo didático para a sociedade de que o direito repugna a conduta violadora, porque é
incumbência do Estado defender e resguardar a dignidade humana. Ao mesmo tempo, objetiva sancionar
o causador do dano, inibindo-o em relação a novas condutas, e, por isso, deve corresponder a um valor de
desestímulo. Reforçando tal inteligência, o Colendo STJ proclama:

“DANO MORAL. REPARAÇÃO. CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO DO


VALOR. CONDENAÇÃO ANTERIOR, EM QUANTIA MENOR. Na
fixação do valor da condenação por dano moral, deve o julgador atender a
certos critérios, tais como nível cultural do causador do dano; condição
sócio-econômica do ofensor e do ofendido; intensidade do dolo ou grau da
culpa (se for o caso) do autor da ofensa; efeitos do dano no psiquismo do
ofendido e as repercussões do fato na comunidade em que vive a vítima.
Ademais, a reparação deve ter fim também pedagógico, de modo a
desestimular a prática de outros ilícitos similares, sem que sirva, entretanto, a
condenação de contributo a enriquecimentos injustificáveis.(...)Recurso
conhecido e, por maioria, provido. (REsp 355.392, Rel. Min. Nancy Andrighi,
Rel. p/ Acórdão Min. Castro Filho, 3ª T, DJ 17.06.2002, p. 258).

“[...] 3. É assente que o quantum indenizatório devido a título de danos


morais deve assegurar a justa reparação do prejuízo sem proporcionar
enriquecimento sem causa do autor, além de levar em conta a capacidade
econômica do réu. 4. A jurisprudência desta Corte Superior tem se
posicionado no sentido de que este quantum deve ser arbitrado pelo juiz de
maneira que a composição do dano seja proporcional à ofensa, calcada nos
critérios da exemplariedade e da solidariedade. 5. Em sede de dano imaterial,
impõe-se destacar que a indenização não visa reparar a dor, a tristeza ou a
humilhação sofridas pela vítima, haja vista serem valores inapreciáveis, o que
não impede que se fixe um valor compensatório, com o intuito de suavizar o
respectivo dano”. (REsp 716.947, Rel. Luiz Fux, T1, 28.04.2006).

Nesse diapasão, o magistrado deve agir de modo bastante consentâneo no


momento de fixar a indenização, porquanto não pode provocar o enriquecimento sem causa da parte que
busca a indenização, contudo, paralelamente, não pode deixar de incutir no valor condenatório caráter
pedagógico, visando desestimular o agente do ato ilícito quanto a reiteração de tal prática.

À guisa dos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência pátria, bem
como em virtude das circunstâncias relativas ao caso dos autos, a condição financeira das partes,
considero que a quantia arbitrada na sentença é insuficiente para reparar o mal impingido ao autor, que
além de amargar o dissabor da dívida não contraída, teve seu nome incluso em cadastro de mal pagadores.

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No contexto posto, entendo por bem fixar o valor da indenização em R$ 6.000,00 (seis mil reais), por
considerar adequada a reparar os danos de ordem moral sofridos pela parte autora, sem se tornar vil ou
fomentar o enriquecimento ilícito.

Quanto ao valor dos honorários, não há como alterar o percentual, eis que já
arbitrado em seu teto. De outro lado, considerando que o magistrado julgou procedente a demanda, mas
aplicou a regra da sucumbência recíproca, determinando que as partes dividissem os ônus processuais,
penso que está caracterizada a hipótese de sentença suicida quanto a este aspecto, daí porque declaro sua
nulidade especificamente neste ponto. Sobre o tema, confira-se:

“- Sentença suicida é aquela que não guarda congruência entre a


fundamentação deduzida e a sua parte dispositiva. No caso dos autos, a
sentença é suicida com relação à temática dos juros remuneratórios, devendo
ser decretada a sua nulidade nesse tocante. Contudo, estando a questão apta
a julgamento, aplica-se o disposto no artigo 1.013, §3º, II do CPC/15. (TJMG
- Apelação Cível 1.0000.19.038683-9/001, Relator(a): Des.(a) Mota e Silva ,
18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 09/07/2019, publicação da súmula em
09/07/2019)

De outro lado, estando apto o processo a julgamento, nada impede que o vício seja
suprido desde logo (CPC, art. 1.013, §3º, II). No caso, a ação foi julgada procedente, de forma que todos
os ônus sucumbenciais devem recair sobre a parte vencida.

Por fim, considerando que as contrarrazões se prestam e se limitam ao exercício


do direito de resposta, não se conhece do pedido de reforma da sentença nela formulado - quanto ao termo
inicial dos juros de mora.

Expostas essas considerações, dou provimento parcial ao recurso do autor para


majorar o valor da indenização por danos morais para R$ 6.000,00 (seis mil reais) e, de ofício, declaro a
nulidade da sentença quanto ao reconhecimento da sucumbência recíproca, determinando, ainda,
que a parte promovida arque, integralmente, com os ônus sucumbenciais. É como voto.

DECISÃO

A Quarta Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba


decidiu, por unanimidade, rejeitar a preliminar e, no mérito, dar provimento parcial ao recurso, nos termos
do voto do relator.

Presidiu a Sessão o Exmo. Des. Oswaldo Trigueiro do Valle Filho. Participaram


do julgamento, o Exmo. Dr. Antonio do Amaral (relator), o Exmo. Des. Frederico Martinho da Nóbrega
Coutinho (1º vogal), e o Exmo. Des. Oswaldo Trigueiro do Valle Filho (2º vogal).

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Acompanhou virtualmente, como representante do Ministério Público, a Dra.
Jacilene Nicolau Faustino Gomes, Procuradora de Justiça.

Ambiente Virtual de Sessões da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do


Estado da Paraíba, João Pessoa, iniciada no primeiro dia de fevereiro do corrente mês e ano.

João Pessoa, 05 de fevereiro de 2021.

Antonio do Amaral

Juiz Convocado

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