Você está na página 1de 12

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000217081

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação


Cível nº 1002627-81.2021.8.26.0047, da Comarca de Assis, em que é
apelante AYMORÉ CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A, é
apelada CLÁUDIA FERREIRA CASTRO MARCELINO (JUSTIÇA
GRATUITA).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 11ª


Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a
seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso e, de ofício, retificaram o
índice a ser utilizado para o cálculo dos juros moratórios (taxa SELIC). V.U.",
de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos.


Desembargadores RENATO RANGEL DESINANO (Presidente), MARCO
FÁBIO MORSELLO E EMÍLIO MIGLIANO NETO.

São Paulo, 21 de março de 2023.

RENATO RANGEL DESINANO


RELATOR
Assinatura Eletrônica
2

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 34.498
Apelação Cível nº 1002627-81.2021.8.26.0047
Comarca: Assis - 1ª Vara Cível
Apelante: Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S/A
Apelado: Cláudia Ferreira Castro Marcelino
Juiz(a) de 1ª Inst.: Marcela Papa

DANO MORAL Contrato bancário Cobranças


abusivas Sentença que condenou a parte ré ao
pagamento de indenização pelo abalo moral
Insurgência de uma das rés Descabimento
Existência de débito que não autoriza cobrança
vexatória pelo credor Ligações excessivas e envios de
mensagens de texto à autora que evidenciam situação
constrangedora Inteligência do art. 42 do Código de
Defesa do Consumidor - Hipótese em que o valor fixado
pelo juízo de primeiro grau (R$ 5.000,00) revela-se
adequado aos fins colimados RECURSO NÃO
PROVIDO, com a retificação, de ofício, do índice a ser
utilizado para o cálculo dos juros moratórios (taxa
SELIC).

Trata-se de recurso de apelação interposto contra


sentença, cujo relatório se adota, que, em “ação de reconhecimento de
cobrança abusiva com pedido de indenização por danos morais”, ajuizada
por CLÁUDIA FERREIRA CASTRO MARCELINO contra AYMORÉ
CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A e PASCHOALOTTO
SERVIÇOS FINANCEIROS, julgou procedente o pedido formulado pela
autora, “para o fim de CONDENAR a parte ré, solidariamente, ao pagamento
de R$5.000,00 (cinco mil reais) a título de indenização por danos morais à
autora, devendo sobre o valor incidir devida atualização monetária com, nos

Apelação Cível n.º 1002627-81.2021.8.26.0047 - Assis - Voto nº 34.498


3

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

termos do art. 404 do CC/2002 a contar da data deste arbitramento (Súmula


362 do STJ), e juros legais de mora de 1% ao mês a contar da citação.” A
parte ré foi, ainda, condenada ao pagamento de custas, despesas
processuais, e honorários advocatícios fixados em 20% do valor da
condenação (fls. 264/270).

Recorre a ré AYMORÉ CRÉDITO, FINANCIAMENTO E


INVESTIMENTO S/A (SANTANDER FINANCIAMENTOS). Aduz existir
dívida em aberto em nome da requerente. Argumenta que as cobranças por
ligações telefônicas consistem em mero aborrecimento. Alega inexistir ato
ilícito. Pugna pela reforma do julgado para o afastamento da condenação
por dano moral ou, alternativamente, a redução do quantum indenizatório,
com a contagem dos juros moratórios e correção monetária a partir da
publicação da sentença (fls. 277/284).

Recurso recebido e contrariado (fls. 291/295).

É o relatório.

PASSO A VOTAR.

Trata-se de “ação de reconhecimento de cobrança


abusiva com pedido de indenização por danos morais”, ajuizada por
CLÁUDIA FERREIRA CASTRO MARCELINO contra AYMORÉ CRÉDITO,
FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A e PASCHOALOTTO SERVIÇOS
FINANCEIROS.

A autora narrou, na petição inicial, que celebrou contrato


de financiamento de veículo com a corré AYMORÉ CRÉDITO,
FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A, cujo saldo devedor é objeto de

Apelação Cível n.º 1002627-81.2021.8.26.0047 - Assis - Voto nº 34.498


4

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

discussão no processo nº 1002560-19.2021.8.26.0047. Afirma que sofre


cobranças abusivas e vexatórias, com o recebimento de diversas
mensagens de texto (SMS) e ligações telefônicas em horários inoportunos,
como à noite e em finais de semana. Afirma que a corré PASCHOALOTTO
SERVIÇOS FINANCEIROS é responsável pelas reiteradas cobranças.

Nesse contexto, ajuizou a presente demanda, buscando


a condenação das rés ao pagamento de indenização por dano moral.

O D. Juízo a quo julgou procedente o pedido formulado


pela autora, nos seguintes termos (fls. 264/270):

"Quanto ao mérito, a parte ré sustenta que o


débito existe e que o contrato foi regularmente celebrado,
de modo que não há que se falar em danos morais.
Primariamente, cumpre esclarecer que a
situação narrada é claramente consumerista, portanto, o
ônus da prova é da parte ré. Assim, além das alegações,
deveria a parte ré comprovar que não foi ela quem ligou
por diversas vezes para a autora, o que não foi feito nos
autos.
Neste diapasão, trata-se de cristalina cobrança
excessiva, porque por diversas vezes, houve ligação de
cobrança por parte da ré. Cumpre esclarecer que se
tratam de dezenas de ligações (fla 41/107) e mensagens,
tendo ocasionado perturbação ao sossego da autora.
Chegando ao cúmulo de haver envio de mensagens, por
parte da requerida Santander, com os seguintes dizeres:
"Cláudia, livre-se das ligações de cobranças. Negocie
com taxas de juros atrativas e parcelas (...)"
Ora, o sistema de cobrança pode existir para
possibilitar que a parte saiba que é devedora, ou mesmo
que tenha possibilidade de renegociar os débitos com
taxas mais atrativas. O ponto é que não pode se tornar
um constrangimento, a ponto de forçar o cliente em mora
a fazer a negociação, a ponto de se livrar das ligações e
mensagens. Não se pressupõe que a parte esteja
iandimplente por má-fé, ainda que tenha contratado e
esteja ciente com as cláusulas contratuais.

Apelação Cível n.º 1002627-81.2021.8.26.0047 - Assis - Voto nº 34.498


5

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Nesse sentido, ficaram configurados os danos


morais, em razão do excesso e do constrangimento na
cobrança. Para corroborar este entendimento, destaco
entendimento jurisprudência (...)
Insta salientar, o artigo 42 do CDC estabelece
que, na cobrança de débitos, o consumidor não será
exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça. No caso, os documentos
trazidos pela autora com a inicial demonstram a cobrança
persistente pela parte ré (fls. 41/107).
Verifica-se, portanto, a falha na prestação do
serviço, consistente na cobrança excessiva de débito, a
qual ocasionou à autora a vivência de situação apta
ultrapassar a esfera do mero aborrecimento do cotidiano
e afrontar a atributos da personalidade.
Observando-se as circunstâncias da lide, a
condição socioeconômica das partes, a natureza da
ofensa e as peculiaridades do caso sob exame, é
razoável e proporcional a condenação fixada
R$ 5.000,00, a título de reparação por dano moral.
(...)
Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE,
resolvendo o mérito na forma do artigo 487, I, do CPC,
para o fim de CONDENAR a parte ré, solidariamente, ao
pagamento de R$5.000,00 (cinco mil reais) a título de
indenização por danos morais à autora, devendo sobre o
valor incidir devida atualização monetária com, nos
termos do art. 404 do CC/2002 a contar da data deste
arbitramento (Súmula 362 do STJ), e juros legais de mora
de 1% ao mês a contar da citação."

Contra esta sentença se insurge a ré AYMORÉ


CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A, ora apelante.

Contudo, a pretensão não merece acolhida.

De proêmio, é importante salientar que o processo nº


002560-19.2021.8.26.0047, que discutia a existência da dívida, transitou em
julgado. Uma simples consulta ao sistema informatizado deste E. TJSP

Apelação Cível n.º 1002627-81.2021.8.26.0047 - Assis - Voto nº 34.498


6

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

revela que a ação fora julgada parcialmente procedente, apenas para o fim
de afastar a cobrança de seguro prestamista, reconhecendo-se, portanto, a
existência de débito em aberto.

Em que pese a existência do débito, o cerne da


controvérsia reside na verificação, no caso concreto, da presença de
transtornos vivenciados pela parte que extrapolem o limite do razoável na
cobrança da dívida.

Com efeito, o art. 42 do Código de Defesa do


Consumidor dispõe: “Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente
não será exposto ao ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça”.

O uso de ligações telefônicas dentro da razoabilidade


que se espera não configura o abuso de direito na cobrança, mas um
exercício regular do direito por parte do credor. Todavia, havendo exageros
sociais, presente estará o abuso de direito, com a consequente
responsabilização do abusador.

Na hipótese, a autora trouxe com sua inicial prints da


tela de seu aparelho celular de ligações atribuídas à parte ré (fls. 41/99),
salientando-se não ter sido negado tal fato e nem impugnados
especificamente referidos documentos, limitando-se os requeridos a
defender a improcedência do pedido indenizatório deduzido pela autora em
virtude da ausência de ato ilícito.

A análise do histórico telefônico da requerente revela


que, entre o final do mês de dezembro de 2020 e fevereiro de 2021,
ocorreram mais de 100 (cem) ligações de representantes das rés à autora,

Apelação Cível n.º 1002627-81.2021.8.26.0047 - Assis - Voto nº 34.498


7

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

em diversos horários, inclusive no período noturno e aos sábados.

O MM. Juízo a quo concedeu à corré PASCHOALOTTO


SERVIÇOS FINANCEIROS a possibilidade de apresentar o histórico de
ligações telefônicas e mensagens de texto do período compreendido entre
dezembro/2020 e março/2021 (fl. 253).

A corré, contudo, limitou-se a apresentar o histórico de


ligações telefônicas do início de fevereiro de 2021 a meados de março de
2021, revelando ter efetuado 27 (vinte e sete) ligações telefônicas somente
no mês de fevereiro. A requerida confessa, ainda, que telefonou 8 (oito)
vezes para a requerente em um único dia (fls. 256/259).

Ademais, como bem pontuado pelo D. Juízo a quo, a


requerente recebeu diversas mensagens de texto da apelante com o
seguinte conteúdo: “SANTANDER FINANCIAMENTOS: LIVRE-SE DAS
LIGACOES DE COBRANCA. Renegocie com taxa de juros atrativa e
parcelas que cabem no seu bolso. Acesse
santander.com.br/negociesuadivida” (fls. 100/107). Tal fato revela a tentativa
do credor em constranger a devedora a adimplir a dívida através de
reiterados contatos telefônicos.

Diante desse quadro, constata-se a presença de


importunação acentuada sofrida pela autora promovida pelos réus, que
efetuaram ligações telefônicas incessantes, dia após dia, durante meses,
várias vezes ao dia, valendo-se ainda, de forma paralela, de outros meios
eletrônicos para tal fim, o que supera o limite do aceitável e configura a
ocorrência de constrangimentos indenizáveis, que superam o mero dissabor
cotidiano.

Apelação Cível n.º 1002627-81.2021.8.26.0047 - Assis - Voto nº 34.498


8

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Nesse sentido é a jurisprudência desta 11ª Câmara de


Direito Privado:

"AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE


DE DÉBITOS CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS PROCEDÊNCIA PRETENSÃO DE
REFORMA DESCABIMENTO Embora inquestionável
a existência do débito em questão, advinda de relação
contratual do autor com instituição financeira, cujo direito
à cobrança do referido débito veio a ser adquirido pela
securitizadora requerida por meio de regular cessão de
crédito, há de se considerar o fato de o débito estar
prescrito, o que inviabiliza sua cobrança tanto na esfera
judicial como na extrajudicial, nos termos do Enunciado nº
11 da sessão de Direito Privado deste E. Tribunal de
Justiça. Atos de cobrança que se mostraram abusivos,
com a existência de dezenas de ligações diárias para o
autor em um período de dois anos, de forma a restar
evidenciada situação constrangedora, o que enseja a
reparação por dano moral. Valor indenizatório
moderadamente fixado em R$ 5.000,00, quantia que se
mostra adequada ao caso e que não se constitui em
enriquecimento indevido da parte. Sentença mantida.
Recurso desprovido, com majoração da verba honorária
de sucumbência." (TJSP; Apelação Cível
1001267-46.2022.8.26.0704; Relator (a): Walter Fonseca;
Órgão Julgador: 11ª Câmara de Direito Privado; Foro
Regional XV - Butantã - 1ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 23/02/2023; Data de Registro: 23/02/2023)
(g.n.)

"AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA


DE RELAÇÃO JURÍDICA CUMULADA COM
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
IMPROCEDÊNCIA ALEGAÇÃO DE COBRANÇAS
EFETUADAS DE FORMA EXCESSIVA E ABUSIVA EM
RELAÇÃO A DÉBITO PRESCRITO PRETENSÃO DE
REFORMA CABIMENTO EM MENOR EXTENSÃO
Embora inquestionável a existência do débito em
questão, advinda de relação contratual do autor com
instituição financeira, cujo direito à cobrança do referido
débito veio a ser adquirido pelo fundo de investimento
requerido por meio de regular cessão de crédito, há de se

Apelação Cível n.º 1002627-81.2021.8.26.0047 - Assis - Voto nº 34.498


9

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

considerar o fato de o débito estar prescrito, o que


inviabiliza sua cobrança tanto na esfera judicial como na
extrajudicial, devendo, portanto, ser considerada irregular,
nos termos do Enunciado nº 11 da sessão de Direito
Privado deste E. Tribunal de Justiça. Atos de cobrança
que se mostraram abusivos, com a existência de mais de
duzentas ligações para o autor em um período de dois
meses e meio, com vários contatos diários efetuados
pelo réu e, também, por mensagens via celular e e-
mails, de forma a restar evidenciada situação
constrangedora vivenciada pelo autor, o que enseja a
reparação por dano moral. Valor indenizatório por
danos morais pretendido no importe de R$ 11.000,00,
que se mostra exagerado, cabendo a fixação em
R$ 5.000,00, quantia adequada ao caso e que não se
constitui em enriquecimento indevido da parte. Recurso
parcialmente provido." (TJSP; Apelação Cível 1002117-
91.2021.8.26.0007; Relator (a): Walter Fonseca; Órgão
Julgador: 11ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional
VII - Itaquera - 3ª Vara Cível; Data do Julgamento:
30/11/2022; Data de Registro: 30/11/2022) (g.n.)

"AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER


CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
Sentença de procedência, determinando que o réu
cesse as cobranças perpetradas, sob pena de multa de
R$500,00 por dia, limitada a R$5.000,00, e ao pagamento
de R$2.000,00 a título de indenização por danos morais
Irresignação do réu Embora a dívida seja devida, restou
evidenciada cobrança vexatória Ligações excessivas e
envios de mensagens de texto aos telefones do escritório
do qual o autor é sócio, mesmo após o réu ser informado
que tal número não era do autor - Indenização fixada em
R$2.000,00 que não comporta reparo, à luz dos princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade Sentença
mantida Recurso desprovido, com majoração da verba
honorária." (TJSP; Apelação Cível
1026298-29.2021.8.26.0405; Relator (a): Marco Fábio
Morsello; Órgão Julgador: 11ª Câmara de Direito Privado;
Foro de Osasco - 7ª Vara Cível; Data do Julgamento:
26/04/2022; Data de Registro: 26/04/2022)

No tocante ao quantum indenizatório, sua estipulação

Apelação Cível n.º 1002627-81.2021.8.26.0047 - Assis - Voto nº 34.498


10

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

deve ser ponderada, de modo a ser suficiente para amenizar o abalo sofrido
e inibir a repetição da conduta danosa, sem, de outra parte, importar
enriquecimento sem causa do lesado.

Na hipótese, considerando as circunstâncias do caso,


bem como tendo em vista os padrões de quantificação de ressarcimento
reiteradamente adotados pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça e por
esta Câmara, tem-se que o valor de R$ 5.000,00, arbitrado pela r. sentença,
não comporta redução.

Respeitado o entendimento do D. Juízo a quo, impõe-se


a retificação, de ofício, do índice com base no qual devem ser calculados os
juros de mora incidentes sobre o valor da indenização por dano moral.

De fato, os juros de mora deverão ser calculados de


acordo a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia
(SELIC), sem cumulação com correção monetária.

Nesse sentido:

"AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL.


RESPONSABILIDADE CIVIL. JUROS DE MORA. TAXA
SELIC. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES. NÃO
PROVIMENTO.
1. 'A Corte Especial no julgamento de recurso
especial repetitivo entendeu que por força do art. 406 do
CC/02, a atualização dos débitos judiciais deve ser
efetuada pela taxa referencial do Sistema Especial de
Liquidação e Custódia - SELIC, a qual deve ser utilizada
sem a cumulação com correção monetária por já
contemplar essa rubrica em sua formação' (AgInt no
REsp 1794823/RN, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO,
TERCEIRA TURMA, DJe 28/5/2020).
2. Agravo interno a que se nega provimento."
(AgInt no REsp 1723791/MS, Rel. Ministra MARIA

Apelação Cível n.º 1002627-81.2021.8.26.0047 - Assis - Voto nº 34.498


11

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em


08/02/2021, DJe 11/02/2021, grifo nosso)

Em suma, sobre o valor da indenização por dano moral


devem ser acrescidos de juros de mora correspondentes à taxa referencial
do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC), a contar da data do
arbitramento (súmula nº 362 do Superior Tribunal de Justiça).

Destaque-se, uma vez mais, que se trata de ordem


pública, sendo passível de apreciação ex officio pelo órgão julgador.

A esse respeito, confira-se o firme entendimento do


Superior Tribunal de Justiça:

"PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO.


AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. CORREÇÃO
MONETÁRIA. ÍNDICE. ALTERAÇÃO. REFORMATIO IN
PEJUS. NÃO OCORRÊNCIA. MATÉRIA COGNOSCÍVEL
DE OFÍCIO. PRECEDENTES.
1. A correção monetária, por se tratar de
consectário legal da condenação, possui natureza de
ordem pública, cognoscível de ofício, razão pela qual a
alteração do índice adotado, em Reexame Necessário,
não caracteriza reformatio in pejus. Precedentes: AgInt no
REsp 1.883.895/SC, Rel. Ministro Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, DJe 11.12.2020; AgInt no REsp
1.575.087/RS, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho.
Primeira Turma, DJe 19.11.2018; AgInt nos EDcl no REsp
1.613.593/ES, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,
Segunda Turma, DJe 4.5.2017.
2. Agravo Interno não provido." (AgInt no REsp
n. 1.962.024/SP, relator Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, julgado em 28/3/2022, DJe de
12/4/2022, grifo nosso)

Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao

Apelação Cível n.º 1002627-81.2021.8.26.0047 - Assis - Voto nº 34.498


12

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

recurso, e, de ofício, retifico o índice com base no qual devem ser


calculados os juros de mora, qual seja, a taxa referencial do Sistema
Especial de Liquidação e Custódia (SELIC), sem cumulação com correção
monetária.

Renato Rangel Desinano


Relator

Apelação Cível n.º 1002627-81.2021.8.26.0047 - Assis - Voto nº 34.498

Você também pode gostar