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Superior Tribunal de Justiça

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 657.536 - RJ (2007/0283633-9)

EMBARGANTE : MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO


PROCURADOR : CHRISTIANE DE ALMEIDA FERREIRA E OUTRO(S)
EMBARGADO : BANCO CHASE MANHATTAN S/A
ADVOGADO : SÉLEO DE ANDRADE BARBOSA PAIVA E OUTRO(S)

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA ELIANA CALMON: - Trata-se de embargos


de divergência interpostos contra acórdão da Primeira Turma, relatado pela Min. Denise Arruda,
assim ementado:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL.


EXECUÇÃO FISCAL. ISS. SERVIÇOS BANCÁRIOS. CRÉDITO DE NATUREZA
TRIBUTÁRIA. NÃO-INCIDÊNCIA DO DISPOSTO NOS ARTS. 2º, § 3º, e 8º, § 2º, DA LEI
6.830/80. PRESCRIÇÃO RECONHECIDA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. "'A alteração superveniente da competência, ainda que ditada por
norma constitucional, não afeta a validade da sentença anteriormente proferida', sendo
que, 'válida a sentença anterior do juiz que a prolatou, subsiste a competência do tribunal
respectivo' (CC 6.967-7, Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 26.09.97). Com base em tal
orientação a jurisprudência do STJ afirmou a sua competência para julgar recursos
especiais interpostos antes da EC 45/04, mesmo quando tratem de matéria que, por força
da referida Emenda, foi atribuída a outros órgãos jurisdicionais (Nesse sentido: CC 57.402,
1ª Seção, Min. José Delgado, DJ de 19.6.2006, no CC 58.566, 1ª Seção, Min. Eliana Calmon,
DJ de 7.8.2006, no AgRg no REsp 809.810, 1ª Turma, Min. José Delgado, DJ de 15.5.2006 e
no REsp 507.907, 2ª Turma, Min.Castro Meira, DJ de 25.9.2006).” (REsp 598.183/DF, 1ª
Seção, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 27.11.2006).
2. A Lei 5.172/66 (Código Tributário Nacional) foi editada em função da
competência da União para legislar sobre normas gerais de direito financeiro (art. 5º, XV, b,
da Constituição Federal de 1946), sendo recepcionada com status de lei complementar pela
CF/88 (REsp 3.745/RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 22.10.1990; REsp 114.754/SP,
1ª Turma, Rel. Min. José Delgado, DJ de 1º.9.1997), razão pela qual "suas regras só podem
ser alteradas pelo processo de lei complementar", entendimento já consagrado pelo
Supremo Tribunal Federal na vigência da Constituição anterior (RE 106.217/SP, 1ª Turma,
Rel. Min. Octávio Gallotti, DJ de 12.9.1986). Desse modo, os arts. 2º, § 3º, e 8º, § 2º, da Lei
6.830/80, são inaplicáveis no cálculo da prescrição dos créditos tributários.
3. Recurso especial provido.
(fl. 1.048)

Inconformado, o MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO aponta dissídio


jurisprudencial, sustentando que o art. 2°, § 3°, da LEF encontra aplicação em relação à
cobrança dos créditos tributários. Como paradigma, indica o AgRg no REsp 219.380/SP.
Admitidos os embargos e apresentada impugnação, opinou o Ministério Público
Federal pelo não provimento do recurso.
É o relatório.

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EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 657.536 - RJ (2007/0283633-9)

RELATORA : MINISTRA ELIANA CALMON


EMBARGANTE : MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
PROCURADOR : CHRISTIANE DE ALMEIDA FERREIRA E OUTRO(S)
EMBARGADO : BANCO CHASE MANHATTAN S/A
ADVOGADO : SÉLEO DE ANDRADE BARBOSA PAIVA E OUTRO(S)

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA ELIANA CALMON (RELATORA): - O art.


2º, § 3º da Lei 6.830/80 dispõe:

Art. 2º. Constitui dívida ativa da Fazenda Pública aquela definida como
tributária ou não tributária na Lei 4.320, de 17 de março de 1964, com as alterações
posteriores, que estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos
orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.
(...)
§ 3º. A inscrição, que se constitui no ato de controle administrativo da
legalidade, será feita pelo órgão competente para apurar a liquidez e certeza do crédito e
suspenderá a prescrição, para todos os efeitos de direito, por 180 (cento e oitenta) dias ou
até a distribuição da execução fiscal, se esta ocorrer antes de findo aquele prazo.

Segundo a doutrina, esta norma não se aplica aos créditos tributários, mas
tão-somente aos créditos não-tributários (veja-se, a propósito, Comentários à Lei de Execução
Fiscal por Milton Flaks, p. 94/95, ed. Forense, Rio de Janeiro, 1981; Lei de Execução Fiscal
Comentada e Anotada, por Odmir Fernandes e outros, p. 63, ed. RT, 4ª ed.; e Lei de execução
Fiscal Comentários e Jurisprudência por Humberto Theodoro Júnior, p. 33, ed. Saraiva, 9ª ed,
2004).
Observe-se que a Constituição Federal, no art. 146, III, "b", reservou à lei
complementar a disciplina das regras gerais em matéria de legislação tributária, dentre as quais
se inclui a prescrição. Assim, a prescrição tributária regula-se, pois, pelo art. 174 do CTN. Nesse
sentido, colaciono os seguintes julgados do STJ:

TRIBUTÁRIO – EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL – DÉBITO


DECLARADO PELO CONTRIBUINTE E NÃO-PAGO NO VENCIMENTO – DCTF –
PRESCRIÇÃO – TERMO INICIAL – SUSPENSÃO – ART. 2º, § 3º, DA LEI N. 6.830/80 –
PRAZO DE 180 DIAS – NÃO-APLICAÇÃO – SUPREMACIA DO ART. 174 DO CTN.
1. A declaração do contribuinte por meio da Declaração de Contribuições
e Tributos Federais - DCTF, nos casos de tributos sujeitos a lançamento por homologação
– hipótese dos autos –, elide a necessidade da constituição formal do débito pelo Fisco.
2. A jurisprudência do STJ tem se firmado no sentido de que, nessa
hipótese, se o débito declarado somente pode ser exigido a partir do vencimento da
obrigação, nesse momento é que começa a fluir o prazo prescricional.
3. In casu , ainda que se considere com termo inicial da prescrição a data

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da obrigação tributária, cujo último vencimento foi em 31.3.1998, como requer a agravante,
o termo final para a Fazenda Nacional ajuizar a execução fiscal expirou-se em 31.3.2003, o
que só ocorreu em 14.7.2003.
4. A regra do art. 2º, § 3º, da Lei n. 6.830/80, que determina a suspensão
do prazo prescricional pela inscrição do débito em dívida ativa, resta afastada pelo art. 174
do Código Tributário Nacional, norma de hierarquia superior.
Agravo regimental improvido.
(AgRg no AgRg no REsp 975.073/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA
TURMA, julgado em 27.11.2007, DJ 07.12.2007 p. 356)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. ITR.


EXECUÇÃO FISCAL. PARCELAMENTO DO DÉBITO. PRESCRIÇÃO. SUSPENSÃO.
INSCRIÇÃO EM DÍVIDA ATIVA. SUPREMACIA DO CTN (ART. 174) SOBRE A LEI DE
EXECUÇÕES FISCAIS (ART. 2º, § 3º). LAPSO PRESCRICIONAL CONSUMADO.
1. Tratam os autos de embargos à execução fiscal ajuizados por Britanite
S/A Indústrias Químicas em desfavor do Estado do Rio Grande do Sul sob o argumento de
estar o crédito tributário fulminado pela prescrição. O juízo de primeiro grau, rejeitando a
alegação de prescrição, julgou improcedente o pedido. O TJRS manteve a sentença por
entender que a inscrição em dívida ativa suspende o prazo prescricional por seis meses ou
até a distribuição da execução fiscal, nos termos do art. 2º, § 3º, da Lei 6.830/1980.
Insistindo pela via especial, aduz a recorrente contrariedade do art. 174 do CTN,
defendendo a supremacia do contido no CTN sobre a Lei de Execuções Fiscais, o que
redundaria na consumação total da prescrição relativa aos débitos discutidos.
Subsidiariamente, postula pela exclusão da taxa Selic.
2. Há de prevalecer o contido no art. 174 do Código Tributário Nacional
(que dispõe como dies a quo da contagem do prazo prescricional para a ação executiva a
data da constituição do crédito), sobre o teor preconizado pelo art. 2º, § 3º, da Lei
6.830/1980 (que prevê hipótese de suspensão da prescrição por 180 dias no momento em
que inscrito o crédito em dívida ativa).
3. O Código Tributário Nacional tem natureza de lei complementar, sendo
hierarquicamente superior à Lei de Execuções Fiscais. Não pode, portanto, lei ordinária
estabelecer prazo prescricional da execução fiscal previsto em lei complementar (REsp
151.598/DF, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ 04.05.1998).
4. No caso dos autos, constituído o crédito tributário (lançamento) em
22.04.1996 e sendo o devedor citado apenas em 22.06.2001, tem-se como operada a
prescrição dos créditos fazendários porque transcorrido tempo superior ao qüinqüídio
legal (art. 174 do CTN). A inscrição da dívida ativa em 22.06.1996 não suspende o lustro
prescricional.
5. Recurso especial provido para declarar prescrito o crédito em execução.
Prejudicada a análise quanto à incidência da taxa Selic.
Invertidos os ônus sucumbenciais.
(REsp 931.571/RS, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
23.10.2007, DJ 19.11.2007 p. 201)

TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. NOMEAÇÃO DE CURADOR


ESPECIAL. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. DESPACHO DE CITAÇÃO. INSCRIÇÃO
NA DÍVIDA ATIVA. INTERRUPÇÃO E SUSPENSÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL.
ARTS. 2º, § 3º, E 8º, § 2º, DA LEI Nº 6.830/80. ART. 174 DO CTN. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS.
1. "Ao executado que, citado por edital ou por hora certa, permanecer
revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de embargos"
(Súmula 196/STJ), o que não veda a argüição de prescrição por meio de exceção de
pré-executividade, desde que não se demande dilação probatória.
2. Na redação do art. 174 do CTN, norma que deve prevalecer sobre o
disposto no art. 8º, § 2º, da Lei 6.830/80, por ter estatura de lei complementar, somente a
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citação pessoal produz o efeito de interromper a prescrição. Pela mesma razão, não
prevalece a suspensão do lustro prescricional em virtude da inscrição do débito na dívida
ativa, prevista no art. 2º, § 3º, da Lei 6.830/80.
3. "Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o
processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo da prescrição qüinqüenal
intercorrente" (Súmula 314/STJ).
4. "Não se opera a prescrição intercorrente quando a credora não deu
causa à paralisação do feito" (REsp 34.752/RS, Relator Min. Humberto Gomes de Barros,
DJ 3.11.1998). Entretanto, se o aresto recorrido firmou a premissa de que a Fazenda Pública
dera causa à paralisação do processo executivo, ou nada disse a respeito, conclusão
diversa levaria ao reexame do conjunto de fatos e provas contido nos autos, o que é
vedado em recurso especial em decorrência da Súmula 7/STJ.
5. É cabível a condenação em honorários advocatícios no acolhimento da
exceção de pré-executividade. Precedentes.
6. Não sendo desarrazoados os honorários, a aferição dos parâmetros
elencados nas alíneas do § 3º do art. 20 do CPC importa, necessariamente, o revolvimento
dos aspectos fáticos do caso, o que é defeso no âmbito do apelo nobre. Ante o teor da
Súmula 7/STJ, "a pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial".
7. Recurso especial conhecido em parte e improvido.
(REsp 785.921/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em
13.02.2007, DJ 27.02.2007 p. 246)

PROCESSUAL CIVIL - TRIBUTÁRIO - EXECUÇÃO FISCAL -


PRESCRIÇÃO - VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 174 DO CTN 2º, § 3º, DA LEF -
INOCORRÊNCIA.
- A suspensão do prazo prescricional prevista no art. 2º, § 3º, da Lei
6.830/80, sofre as limitações impostas pelo art. 174 do CTN, já que este indica como termo
a quo da prescrição a data da constituição do crédito, o qual somente se interrompe pelos
fatos nele listados, que não incluem a inscrição do crédito tributário na dívida ativa. -
Recurso especial conhecido, mas improvido.
(REsp 512.446/SP, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA
TURMA, julgado em 01.09.2005, DJ 17.10.2005 p. 243)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. EXECUÇÃO FISCAL.
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE.
I - Esta Corte vem-se firmando no sentido de que a proibição do instituto
da exceção de pré-executividade no âmbito da execução fiscal não é absoluta (REsp nº
371.460/RS e REsp nº 232.076/PE), razão pela qual é possível se opor exceção de
pré-executividade no âmbito de execução fiscal para se discutir a ocorrência de questões
relativas aos pressupostos processuais, condições da ação, vícios do título e prescrição
manifesta, de modo que a referida exceção deverá ser aplicada, desde que a questão não
requeira a dilação probatória, como, na hipótese dos autos, a decretação da prescrição
intercorrente.
II - Quanto à prescrição, o entendimento deste eg. Tribunal encontra-se
pacificado no sentido de que as hipóteses contidas nos artigos 2º, § 3º e 8º, § 2º, da Lei nº
6.830/80 não são passíveis de suspender ou interromper o prazo prescricional, estando a
sua aplicação sujeita aos limites impostos pelo artigo 174 do Código Tributário Nacional,
norma hierarquicamente superior.
III - Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 740.125/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 14.06.2005, DJ 29.08.2005 p. 223)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL.


AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. COTEJO ANALÍTICO
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NÃO-DEMONSTRADO. ACÓRDÃO RECORRIDO. FUNDAMENTOS
CONSTITUCIONAIS. SÚMULA N. 126/STJ. EXECUÇÃO FISCAL. PRESCRIÇÃO. ART.
174 DO CTN. PRECEDENTES.
1. O prequestionamento dos dispositivos legais tidos como violados
constitui requisito indispensável à admissibilidade do recurso especial. Incidência das
Súmulas n. 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal.
2. O conhecimento de recurso interposto com fulcro na alínea "c" do
permissivo constitucional pressupõe a demonstração analítica da suposta divergência,
não bastando a simples transcrição de ementa.
3. A existência de fundamento constitucional suficiente por si só para a
manutenção do julgado e a não-interposição do recurso extraordinário ensejam a aplicação
da Súmula n. 126 do STJ.
4. O art. 174 do Código Tributário Nacional, por ser norma de superior
hierarquia, deve prevalecer sobre a Lei de Execuções Fiscais.
5. Recurso especial não-conhecido.
(REsp 199.020/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA,
julgado em 17.02.2005, DJ 16.05.2005 p. 276)

Com essas considerações, nego provimento aos embargos de divergência.


É o voto.

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