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HUMPTY DUMPTY
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Doutorando pela Université Paris Ouest, em cotutela com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Endereço eletrônico: samuel_gouveia@yahoo.com.br.
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Contudo, ao invés de garantir a correção no processo de produção de
significação – i.e. de criação de normas -, a liberdade das práticas autônomas
destrói a probabilidade de tal correção, porque estar correto perde sua força, quando
a possibilidade de estar incorreto desaparece. Para Medina (2007, p. 164), “(…) o
argumento de Wittgenstein sugere a diferença entre parecer correto e ser correto
requer a possibilidade de negociação e correção mútua, que para tanto deve haver
diferentes centros de avaliações normativas”. As regras do jogo se desmoronam
quando o que conta como correto não pode ser contestado, quando o “ser” e o
“parecer” correto se confundem.
Pretende-se, portanto, demonstrar que, no sentido observado por Kelsen, as
Cortes Supremas se apresentariam como uma espécie de Humpty Dumpty,
personagem criado por Lewis Caroll (1986). Assim como o personagem, as Cortes
Supremas poderiam escolher livre e aleatoriamente o significado das palavras
utilizadas, entretanto, sem conseguir nada comunicar, haja vista a falta de
normatividade. Se sugere, portanto, que o paradigma kelseniano contrapõe a ideia
de jogo de linguagem, na forma entendida por Wittgenstein, a qual se utiliza
presentemente como paradigma crítico. Assim o é, visto que na concepção
wittgensteiniana, toda instância discursiva deve conter a possibilidade da incorreção
na sua pluralidade de núcleos normativos. Deve conter, sobretudo, a possibilidade
de negociações normativas, em um processo dialético de contestação e justificação -
possibilidade esta, eclipsada na análise kelseniana.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA