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CENTRO UNIVERSITÁRIO – CATÓLICA DE SANTA CATARINA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO


DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA
ANA LUIZA PEREIRA SCHUEDA
FABRICIA MARCELLO NOLLI
EMERSON DOS SANTOS
MILENA DE CARVALHO COGO
RAFAEL VIVES GOMES
ELAINE AMIN

COMO O AUTOR CARLOS MAXIMILIANO ESTÁ SENDO UTILIZADO NO


ÂMBITO DA FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES NOS TRIBUNAIS.

JOINVILLE
2024
1. INTRODUÇÃO

O presente estudo visa explorar a compreensão do autor Carlos Maximiliano


a respeito da Hermenêutica e a Aplicação do Direito na atualidade. Assim, por meio
de análise jurídico-hermenêutica, é possível compreender significativamente o
entendimento e aplicação dos princípios hermenêuticos. Carlos Maximiliano foi um
jurista e intelectual brasileiro, que dedicou-se aos estudos do Direito e também ao
estudo sobre a hermenêutica, sua interpretação da mesma transcende os limites do
universo de jurisdição, atingindo, assim, a esfera filosófica, possibilitando uma
compreensão aprofundada da natureza de interpretação.

2. A HERMENÊUTICA NA VISÃO DE CARLOS MAXIMILIANO

Na introdução de sua obra, o autor trata a hermenêutica em “A Hermenêutica


e a Aplicação do Direito”, ou como o autor a chama de hermenêutica jurídica, como
um sistema de objetos e processos de pesquisa cujo alcance pode determinar o
sentido e o alcance da norma do direito. E conforme, com a autora Renata Malta Vila
Boas explica que a hermenêutica, é uma ciência que tem um objeto de classificar e
estabelecer normas, regras e processo que são possíveis de interpretar e
determinar o significado da norma jurídica.

A hermenêutica jurídica tem por objeto o estudo e a sistematização dos


processos aplicáveis do direito, para determinar o sentido e o alcance das
expressões de direito (Maximiliano;2011, P.2 )

hermenêutica jurídica é uma ciência com um objeto específico – a


sistematização e o estabelecimento das normas, regras e;ou processos que
buscam tornar possível a interpretação e fixar o sentido e o alcance das normas
jurídicas (Vilas Boas, 2003, P. 1 e 2)

Quando utilizamos o termo interpretação, podemos deduzir que esta palavra


possui dois significados: o primeiro referente à compreensão de uma explicação em
um determinado contexto, enquanto o segundo está relacionado ao processo de
raciocínio lógico. Nesse sentido, Carlos Maximiliano argumenta que o conceito de
interpretação pode ser visto como uma forma de arte, que envolve técnicas,
princípios e normas em constante evolução de acordo com a sociedade.
Observamos que essa comparação pode gerar confusão entre os conceitos de
hermenêutica e interpretação.
Uma outra pesquisadora, Paula Baptista, explora a interpretação como
fundamental em cenários nos quais as leis possuem lacunas e ambiguidades em
seu texto. Por outro lado, torna-se dispensável quando as leis são claras e precisas
em relação aos fatos que regem. Isso destaca a relevância da redação minuciosa
das leis para prevenir interpretações divergentes e lacunas que poderiam demandar
análises judiciais.

A Interpretação, como as artes em geral, possui a sua técnica, os meios para


chegar aos fins colimados. Foi orientada por princípios e regras que se
desenvolveu e aperfeiçoou à medida que envolve a sociedade e desabrocharam
as doutrinas jurídicas, (Maximiliano,2011,P.1)
[...] Do exposto, ressalta o erro dos que pretendem substituir uma palavra pela
outra; almejam, ao invés de hermenêutica, interpretação Esta é a aplicação
daquela; a primeira descobre e fixa os princípios que regem a segunda. A
hermenêutica é a teoria científica da arte de interpretar. (Maximiliano, 2011,
P.1)

Interpretação é a exposição do verdadeiro sentido de uma lei obscura por


defeitos de sua redação, ou duvidosos com relação aos fatos ocorrentes ou
silenciosa. Por conseguinte, não tem lugar sempre que a lei, em relação aos
fatos sujeitos ao seu domínio, é clara e precisa.3 (PAULA BAPTISTA, 1984, P.
3-4).

Vimos vários escritores ter pensamentos e conceitos hermenêuticos, usar a


língua original, usar palavras específicas para descrever sua obra, e depois suas
obras sendo traduzidas para línguas completamente diferentes na tentativa de
perder o sentido dos pensamentos. Por exemplo, o Código Civil Suíço deve ser
traduzido para três línguas: alemão, francês e italiano, de acordo com a lei da
República Helvética.Por esse motivo, é conveniente usar palavras descritivas e
significativas que mudam à medida que precisam ser conectadas à lei, no
vocabulário clássico e preciso. Como a terminologia técnica está diretamente
relacionada à ciência.

Observaram bem essa verdade os redatores do moderno Código Civil Suiço.


Como todas as leis da República Helvética, obrigatoriamente deveria ser
promulgado em três línguas: alemã, francesa e italiana. Escrito na primeira, foi
dificílimo vencer para a segunda. Os. juristas afirmam e demonstram que logo
no primeiro artigo não ficou traduzido fielmente o pensamento contido no
texto original (2). (Maximiliano,2011, P. 2 )

Ao invés de abandonar um vocábulo clássico e preciso, é preferível


esclarecer-lhe a significação, variável com a marcha evolutiva do Direito.
Todos os termos técnicos suportam as acepções decorrentes do progresso da
ciência a que se acham ligados. (Maximiliano,2011, P. 2 )

De acordo com as reflexões apresentadas pelos diferentes autores sobre


hermenêutica e interpretação jurídica, acredito que esses dois conceitos são
diferentes, mas estão intimamente relacionados. A hermenêutica como ciência visa
sistematizar e estabelecer regras para a interpretação da lei. A interpretação, por
sua vez, é a exposição do verdadeiro significado e sentido das leis, especialmente
se as leis são obscuras, ambíguas ou lacunas. Igualmente importante é a
necessidade de escrever leis que evitem possíveis interpretações. Ao mesmo
tempo, entendo que a hermenêutica jurídica é um dos conceitos mais importantes na
garantia da justiça e do direito. Finalmente, compreendo a complexidade do direito
aplicar esses conceitos para um idioma estrangeiro e a necessidade de adaptar os
termos às realidades e desenvolvimentos locais dos direitos e da sociedade.

2.1 A INTERPRETAÇÃO NO CAMPO DA HERMENÊUTICA


Dada a distinção dos conceitos de Hermenêutica e de Interpretação, é de
mister importância definir por si o que o Autor compreende por Interpretação, e para
tanto, os desdobramentos da mesma.
Em seu corpo de estudo, o Carlos Maximiliano compreende Interpretação por:
“explicar, esclarecer; dar o significado de vocábulo, atitude ou gesto; reproduzir por
outras palavras um pensamento exteriorizado; mostrar o sentido verdadeiro de uma
expressão; extrair, de frase, sentença ou norma, tudo o que na mesma se contém”.
(Maximiliano;2011, P. 7 ).
O Autor busca tornar tão clara e expressa quanto possível sua explicitação,
de fato abrangendo ao máximo todos os sentidos pertinentes à compreensão da
ideia de “interpretação”. A mesma, que significa extrair o sentido em algo incutido,
buscando o significado que aquilo carrega.
O que Carlos Maximiliano retrata tão bem em sua obra com sua mister
definição, é que para que algo possa ser entendido, sua forma deve ser analisada e
então interpretada para que de seu corpo seja extraído significado, para o Autor não
existem não existe texto excessivamente claro ou óbvio que vença a necessidade da
interpretação.

Pode-se procurar e definir a significação de conceitos e intenções, fatos e


indícios; porque tudo se interpreta; inclusive o silêncio¹¹ (1).
(Maximiliano;2011, P. 8 )

Em total contradição à visão do tema em questão que vinha sendo construída


e estudada no âmbito da Hermenêutica iluminista, onde o entendimento imperativo
era de que a interpretação apenas era devida em casos onde o texto se via obscuro
ou de difícil compreensão.

Para a hermenêutica jurídica iluminista a interpretação só tinha lugar diante de


textos obscuros, não claros ou de difícil compreensão. Tal imagem acerca da
interpretação corresponde, na visão de Stephan Meder, à antiga regra In claris
non fit interpretatio (doutrina do Sens-clair na França ou do Clair meaning ou
Plain meaning no direito angloamericano (MEDER, 2004, p. 17 e ss.)).
(Miozzo; 2016, P. 371 )

Porém, alcança-se um ponto da discussão onde a dicotomia da própria


Interpretação quanto necessidade cognitiva, tópico científico e metodologia
acadêmica são de imperativa dissecação. Sendo a primeira o que o Autor diz ser
aquela necessária para o operador do direito, a capacidade de extrair corretamente
da norma o seu objetivo e aplicação adequada, enquanto os dois últimos abrangem
o que Carlos Maximiliano chama de uma “acepção restrita” da Interpretação, e diz
ser tal a ocupação da Hermenêutica quanto campo de estudo.

O que se aceita como verdade, quando examinado de um modo geral, também


se verifica em o caso especial a que este livro se refere direta e . \, isto é, no
campo da jurisprudência. Entretanto, ainda aí cumpre distinguir entre
Interpretação no sentido amplo e a que se toma na acepção restrita. É da última
que, em rigor, se ocupa a Hermenêutica; portanto a primeira abrange a ciência
do Direito, inteira; constitui “o grande e difícil problema cujo conhecimento
faz o jurisconsulto verdadeiramente digno deste nome (2).(Maximiliano, 2011,
P. 8 )

Sendo assim, compreende-se afinal a diferenciação categórica, não somente


dos dois tipos da interpretação, como também de sua separação em âmbito de
conceito com a Hermenêutica, e afinidade em âmbito de estudo. Logo pode-se
assumir que a interpretação em seu lato sensu é a extração do sentido que se dá no
momento em que um texto é percebido, porém, no campo da Hermenêutica a
interpretação será uma ferramenta, aplicada de maneira específica e metodológica
para se extrair um entendimento coeso e adequado ao campo onde o texto se
encontra e o sentido originalmente aplicado ao mesmo.

2.2 MÉTODOS DE SUA APLICAÇÃO

A contribuição de Carlos Maximiliano na hermenêutica jurídica foi


fundamental, dada sua crítica à pretensão de um controle total sobre sua
compreensão. A obra em questão tornou-se referência no Brasil, abordando
diversos métodos e classificações de hermenêutica, além de sua aplicação em
várias áreas do direito (Mascaro, 2017, p. 1).
Por sua vez, de acordo com o entendimento do autor, apresentado no
capítulo II, a aplicação do direito refere-se à inserção de um caso concreto em uma
norma jurídica apropriada (Maximiliano, 2011, p. 1). Consiste na adequação de um
fato específico a uma prescrição legal. Esclarece que a aplicação do direito
pressupõe:

a) A Crítica, a fim de apurar a autenticidade e, em seguida, a


constitucionalidade da lei, regulamento ou ato jurídico; b) A Interpretação, a
fim de descobrir o sentido e o alcance do texto; c) o suprimento das lacunas,
com o auxílio da analogia e dos princípios gerais do Direito; d) o exame das
questões possíveis sobre a ab-rogação, ou simples derrogação de preceitos,
bem como acerca da autoridade das disposições expressas, relativamente ao
espaço e ao tempo (Maximiliano, 2011, p. 7)

Portanto, de acordo com o autor, a aplicação do direito não prescinde da


hermenêutica, sendo esta um meio para se alcançar aquela, vista como uma
adaptação ou enquadramento de um preceito a um caso real. O autor concebe a
aplicação do direito como uma prática exercida pelo juiz após a definição da regra
adequada à hipótese, funcionando como uma ponte entre a teoria jurídica,
representada pela doutrina, e sua aplicação prática, assim como entre a ciência e a
realidade. Outrossim, a hermenêutica não se ocupa dos fatos, que são objeto
exclusivo da aplicação (Maximiliano, 1961, p. 22).
Por fim, os métodos conforme expostos por Maximiliano, são essenciais
para a aplicação adequada do direito, visto que permitem uma interpretação
minuciosa e uma adaptação das normas jurídicas às diversas situações da vida real.

Referências
Pablo Castro Miozzo -FUNDAMENTOS DOS CONCEITOS DE HERMENÊUTICA
JURÍDICA E DE INTERPRETAÇÃO EM CARLOS MAXIMILIANO
Renata Malta Vilas-Bôas - HERMENÊUTICA JURÍDICA: UMA QUESTÃO
INTRIGANTE
Maximiliano, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 20ª edição. Rio de Janeiro:
Forense, 2011.
Disponível em: <Homenagem a Carlos Maximiliano | Blog GEN Jurídico
(grupogen.com.br)>. Acesso em 14/03/2024.
Disponível em: <hermeneutica_juridica_segundo_andrade.pdf (stj.jus.br)>. Acesso
em 04/04/2024.

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