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ORGANIZAÇÃO SETE DE SETEMBRO DE CULTURA E ENSINO LTDA

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO RIO SÃO FRANCISCO - UNIRIOS


CURSO BACHARELADO EM DIREITO

RELATÓRIO DE PESQUISA

HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA

Paulo Afonso – BA
mar./2021
Ana Clara Sobral Bandeira
Deusdede Clebson Araújo de Alencar
Gustavo César Vieira Santana
Joana D’Arc Silva Almeida
João Matheus Moreira da Silva
Lorrayne Vitória de Sousa Soares

RELATÓRIO DE PESQUISA

HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA

Relatório apresentado ao curso de


Bacharelado em Direito do Centro
Universitário do Rio São Francisco
(UNIRIOS), na disciplina de Hermenêutica
e Argumentação Jurídica, no 3º período,
Turno noturno, como requisito para a 1ª
Atividade do AVA.

Orientador: Prof. Eloy Lago Nascimento

Paulo Afonso – BA
mar./2021
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 3

2 HERMENÊUTICA JURÍDICA VERSUS INTERPRETAÇÃO DO DIREITO:


SINÔNIMOS? ................................................................................................................. 3

3 HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA: BREVES CONSIDERAÇÕES .............. 7

4 TRADICIONAL SISTEMA INTERPRETATIVO DE SAVIGNY ............................... 10


4.1 MÉTODO GRAMATICAL ....................................................................................... 11
4.2 MÉTODO SISTEMÁTICO ...................................................................................... 12
4.3 MÉTODO HISTÓRICO .......................................................................................... 12
4.4 MÉTODO SOCIOLÓGICO ..................................................................................... 13
4.5 MÉTODO TELEOLÓGICO..................................................................................... 13

5 A NECESSIDADE DE UMA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL..................... 15

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 16
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 17
3

1 INTRODUÇÃO (João Matheus Moreira da Silva)

Neste relatório, traremos um pouco de informação sobre a hermenêutica jurídica


clássica, aprofundando seus conhecimentos, comparações com a Interpretação do
direito e a hermenêutica jurídica. Buscando também informar algumas ideias e
métodos do filósofo Savigny, um filósofo importante para a compreensão das técnicas
da hermenêutica jurídica clássica.

2 HERMEMÊUTICA JURÍDICA VERSUS INTERPRETAÇÃO DO DIREITO:


SINÔNIMOS? (Lorrayne Vitória de Sousa Soares)

É indiscutível que a interpretação permeia toda vida social, pois diariamente as


pessoas estão a tentar compreender a mensagem transmitida em filmes, livros,
músicas, obras de arte, poemas, entre tantos outros.

Ademais, compreende-se ainda o termo pouco conhecido, “hermenêutica”, que tem


por objeto a interpretação de textos bíblicos (em especial as Sagradas Escrituras),
filosóficos, sobretudo os de teor legal (normas, leis, etc.)

Nesse contexto, é possível afirmar a existência de uma linha tênue entre o campo da
interpretação e da hermenêutica?

Antes de aprofundarmos na temática, é válido trazer a afirmação de Paulo Nader, que


ao reportar-se a François Gény, endossa que:

todo conhecimento humano (...) desdobra-se em dois aspectos: os princípios e


as aplicações. Os princípios provêm da ciência e as aplicações, da arte. No
mundo do Direito, hermenêutica e interpretação constituem um dos muitos
exemplos de relacionamento entre princípios e aplicações. Enquanto a
hermenêutica é teórica e visa a estabelecer princípios, critérios, métodos,
orientação geral, a interpretação é de cunho prático, aplicando os
ensinamentos da hermenêutica. Não se confundem, pois, os dois conceitos
apesar de ser muito frequente o emprego indiscriminado de um e de outro. A
4

interpretação aproveita os subsídios da hermenêutica. Esta (...) descobre e fixa


os princípios que regem a interpretação (NADER, Paulo, op. cit., p. 303).

Assim, mostra-se inescusável propor uma análise para melhor apuração do objeto de
estudo diferenciando os termos-chave apresentados, os quais integram o processo
de compreensão.

Inicialmente, vejamos a palavra “interpretação”. Esta advém do termo latino


interpretare (inter-penetrare), com o sentido de “penetrar mais para dentro”,
remetendo a prática de feiticeiros do antepassado, que punham suas mãos nas
entranhas de animais já mortos a fim de preverem acontecimentos futuros e
receberem respostas para os problemas humanos (FREIRE, 2009, p. 73-74). Sob
esse ponto de vista, o termo, quando vinculado ao Direito, sugere a captação do
sentido que está imerso na norma.

Logo, interpretar define-se pelo:

ato de explicar, esclarecer, dar o significado do vocábulo, atitude ou gesto,


produzir por outras palavras um pensamento exteriorizado; mostrar o sentido
verdadeiro de uma expressão; extrair de frase, sentença ou norma, tudo o que
na mesma se contém (MAXIMILIANO, 2003, p. 7).

A partir de então, depreende-se que a atividade interpretativa pode ser compreendida


em modalidades, tais como verbal, gestual (ou não verbal), escrita e legal. No entanto,
apenas estas duas últimas serão enfoque da análise que precede no presente tópico.

Para pô-la em prática, é necessário um sujeito que realizará a atividade interpretativa.


Nesse caso, como a pesquisa está focada na seara do Direito, tem-se a figura do
intérprete ou hermeneuta, pessoa que aprecia o objeto a ser interpretado (o fato e a
norma) atribuindo-lhes significados e sentidos.

O Direito, por tratar-se de uma ciência normativa que prima pela salvaguarda dos
interesses da sociedade é comprometida com valores, o que por conseguinte incidirá
5

diretamente no teor dos textos que lhe dizem respeito. Nesse caso, a tarefa de
interpretar, ou seja, a apreensão do sentido das normas jurídicas a fim de solucionar
um caso concreto, sempre sofrerá influência de uma carga de natureza valorativa.

Outro ponto a ser levantado seria a sustentação de que o in claris legis cessat
interpretatio (quando a lei for clara, é dispensável qualquer inferência interpretativa),
considerado “axioma” por parte dos juristas antigos, não trata-se de uma verdade
absoluta, sendo assim, refutável. Ainda conforme Montoro (2000 apud SILVA, 2014),
mesmo o texto legal mais bem redigido que possa existir, necessita sempre a
determinação do seu sentido e alcance, pois o quesito clareza em um texto é relativo:
o que é entendível para um, pode não ser ao outro. Ou, uma palavra pode ser
compreensível em seu uso coloquial, mas pode incorporar outro sentido na linguagem
técnica-jurídica.

Em um polo oposto, mas não menos importante, tem-se a “hermenêutica”. Provinda


do verbo hermeneuein, cujo radical faz referência, assim como a sua origem está
tradicionalmente associada à figura mitológica Hermes, filho de Zeus. Segundo o mito,
Hermes atuava como mediador na comunicação entre o ininteligível e inacessível
mundo dos deuses (emissores), captando a mensagem, traduzindo e interpretando-a,
para assim transmiti-la de forma mais compreensiva ao mundo limitado dos mortais
(receptores) (NASCIMENTO, 2009, p. 150).

Sob a ótica de Streck (2007 apud NASCIMENTO, 2009), é na metáfora de Hermes


onde se verifica toda a complexidade do problema hermenêutico, pois trata de como
dar sentido às coisas.

A partir daqui é fundamental que tenhamos a percepção de, para que a tarefa de
interpretar seja realizada com efeito, se faz necessário seguir certos princípios e
regras. Nessa arte, quando voltada ao campo da técnica jurídica, o intérprete ou
hermeneuta, diante de um certo quantitativo de possibilidades deverá adotar um
critério que respeite a sua convicção e os objetivos pretendidos.
6

A hermenêutica, na órbita do Direito, portanto, trata-se dos mecanismos e


procedimentos adotados para se interpretar os textos legais, para que dessa forma se
obtenha o exato sentido ou o fiel pensamento do legislador. Nela estão incorporadas
todos os princípios e diretrizes que devem ser juridicamente aplicados na
compreensão da norma prescrita.

Em outras palavras, a hermenêutica diz respeito a um conjunto de teorias científicas


voltadas a aplicar a interpretação em tudo que se possa atribuir significado e sentido.
Sendo assim, vai além de um texto escrito, de suas palavras, de sua mera aparência.

Sua aplicabilidade, como já visto anteriormente, não será distinta no âmbito jurídico.
Por meio dela é possível interpretar, com base em métodos, as normas de um
Estado, que vai desde a apreciação de elementos textuais e extratextuais
determinando o seu sentido e alcance.

Quanto à finalidade, a hermenêutica possibilita vislumbrar os fatos sociais sob a ótica


da racionalidade, já que aqueles são providos de carga valorativa. Em seguida, esses
dois planos da realidade (sentido e valor) são aproximados, confrontados a partir de
hipóteses legais, a fim de correlacioná-los, e então verificar a sua adequação, ou
mesmo, a inadequação.

O objeto da hermenêutica jurídica, nas palavras de Carlos Maximiliano (2003 apud


SILVA, 2014) refere-se ao “estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para
determinar o sentido e o alcance das expressões do direito”.

Prossegue o jurista:

A hermenêutica se aproveita das conclusões da filosofia jurídica, criando


novos processos de interpretação e organizando-os de forma sistemática. A
interpretação é a aplicação da hermenêutica. A hermenêutica descobre e fixa
os princípios que regem a interpretação (MAXIMILIANO, 2003 apud SILVA,
2014, p. 1).
7

A hermenêutica, ao adotar métodos e técnicas reflexivas de interpretação, contribui


com o hermeneuta a chegar a um entendimento a respeito das questões sociais
pertinentes na sociedade moderna, sua problemática, e prováveis paliativos aplicáveis
aos fatos concretos.

Em suma, embora os termos hermenêutica e interpretação, em um sentido mais


amplo, aparentarem conceber essa ideia de similaridade, cada um dispõe de sentido
específico e aplicação, principalmente no vocabulário jurídico. Enquanto que a
hermenêutica jurídica está voltada a ideia de ciência, que localiza, ordena de forma
sistematizada, e estabelece os princípios que nortearão a prática da interpretação do
Direito, esta, por sua vez, corresponde a aplicação da ciência na busca por desvendar
o sentido e alcance da regra positiva, visando solucionar dado caso concreto.

3 HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA: BREVES CONSIDERAÇÕES (Lorrayne


Vitória de Sousa Soares)

A Hermenêutica Jurídica Clássica teve como berço a França. Por sua vez, alcançou
autonomia teórica a partir da consagração do Estado de Direito, no ínterim dos séculos
XVIII e XIX.

Caracteriza-se por ser transigente comparado ao sistema que lhe precedeu, o


Dogmático Exegético, por permitir uma interpretação ampla que leva em consideração
as necessidades sociais.

Para tanto, faz uso da aplicação de métodos a fim de corrigir as imperfeições das
normas. Além disso, admite em si, a presença de certos vícios ficando a cargo do
aplicador a realização dos ajustes necessários

Esta sofreu em toda sua dimensão influência dos postulados concernentes ao Direito
Privado Clássico, conciliando a prática e os estudos jurídicos de tal forma a convencer
o chefe de Estado do país de 1942, que à época dos fatos era representado por
Getúlio Vargas, a positivar na “Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro”,
8

anteriormente intitulada “Lei de Introdução ao Código Civil”, técnicas interpretativas


clássicas.

Até atualmente, é possível verificar o reconhecimento dessas técnicas, especialmente


ao longo do expresso nos dispositivos 4º e 5º da LINDB:

Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito.

Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige
e às exigências do bem comum. (BRASIL, Decreto-lei nº 4.657/42).

Embora existam casos em que o aplicador do Direito basta enquadrar adequadamente


o fato concreto ao preceito legal (efeito de subsunção), é moeda corrente que muitas
situações escapam inteiramente aos parâmetros legais, não sendo possível a norma
jurídica regular, em sua completude, os conflitos apresentados perante a ela. Nessa
hipótese de não haver nenhuma diretriz legal prévia tratando do tema, a lei é
considerada omissa. Logo, o magistrado depara-se com uma lacuna normativa.

Desse modo, o artigo proposto previamente acima reporta-se a uma das técnicas
clássicas de integração ou colmatação normativa recepcionadas pelo nosso
ordenamento jurídico. Este método implica os mecanismos de analogia, costumes e
princípios gerais do direito como solucionadores obrigatórios para “preencher
brechas” em caso de tal ocorrência.

Em se tratando do princípio da Vedação ao Non Liquet (vedação de não julgar), o


Novo Código de Processo Civil (NCPC/OAB, 2015, p. 150) dispõe no caput do art. 140
que “O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do
ordenamento jurídico.”

Dito isto, constata-se que é vedado ao magistrado a prerrogativa de negligenciar a


decisão do mérito em razão de haver lacuna ou omissão de lei que regule determinado
caso concreto, competindo a ele apreciar os fins sociais da norma prescrita visando
sempre atender o bem comum da coletividade. Assim sendo, por vezes se faz
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necessário interpretar as leis.

O que diferia no Sistema Dogmático Exegético. Neste, prevalecia uma ideia


extremada de perfeição intrínseca ao legislador. Logo, a lei seria dotada desse
atributo, a exemplo do Código Civil de Napoleão, modelo de referência da época.

Enquanto que o Poder Judiciário era um escravo da lei, pois sua função estava
restringida a apenas aplicar o direito e aceitar a norma como tal (daí, o silogismo “o
juiz é a mera ‘boca da lei’”). Como a lei era reflexo da vontade do mens legislatoris
não deixava margens para dúvidas, portanto, inquestionável.

Principais simpatizantes desse sistema interpretativo de orientação extremada como


Laurent (±1878 apud FRANÇA, 1997, p. 14), considera que: “A letra é ‘a fórmula do
pensamento’ e ‘dizer que esse pensamento será outro que não aquele exposto no
texto claro e formal, é acusar o legislador de uma leviandade que não se lhe pode
imputar.

A partir do que versa o 5° preceito da LINDB, nota-se a inovação em sua estrutura ao


adotar o método interpretativo clássico, denominado pela doutrina como teleológico
ou finalístico, inaugurando, por assim dizer, uma nova perspectiva acerca de
interpretação, uma vez que o intérprete não ficará mais submisso à letra fria do texto
normativo, deixando de lado o papel de mero espectador do processo e aplicador da
lei.

Em resumo, o surgimento da hermenêutica foi marcado por uma fase de apego


desmedido ao modelo e à função do Direito positivo, como o estímulo a codificação
racional desse Direito. Por sua vez, conferia-lhe um caráter racional e exaustivo ao
extremo. O Código Napoleônico é o exemplo típico e o mais marcante do período.

Este cenário seria decorrente da primazia do Direito Privado ante o Direito


Constitucional, visto que aquele figurava o ideal normativo à sociedade, por coadunar
os ideais de liberdade, patrimônio e segurança.
10

Em vista disso, nos primórdios, a hermenêutica jurídica desempenhava um papel


coadjuvante, sendo artifício exclusivo na resolução de questões de incompletude
normativa, ou, por outros termos, as lacunas da lei.

Diante desses casos de “incompletude normativa” a serem resolvidos pela


hermenêutica, foi elaborado e estabelecido “métodos de integração do Direito”,
processo de preenchimento da lei por elementos que a própria legislação determina.
Dentre esses, compreende-se os critérios de analogia, costumes, equidade e
princípios gerais do Direito.

Além disso, verificou-se que o Direito legislado se deparava com normas conflitantes,
o que tornava mais complexo o processo de interpretá-las. Para solucionar as
chamadas “antinomias normativas” foi necessário estipular certos critérios, entre os
quais: hierárquico, cronológico e o de especialidade.

Por fim, apesar da predominância do mito da perfeição atribuída ao legislador, não


demorou muito a despontar consideráveis dúvidas em relação ao sentido das normas,
já que grande parte delas apresentava falhas de elaboração, entre outras
“imperfeições” que causavam equívocos. Essa “obscuridade semântica” estimulou a
Hermenêutica Jurídica Clássica a formular os chamados “métodos de interpretação
do Direito” (literal/gramatical, lógico-sistemática, teleológico/axiológico/finalístico e
histórico), que veremos adiante no presente estudo.

4 TRADICIONAL SISTEMA INTERPRETATIVO DE SAVIGNY (Deusdede Clebson


Araújo de Alencar)

A importância do estudo da Hermenêutica Jurídica é incontestável no atual contexto


de maior liberdade de atuação dos aplicadores do direito durante o processo de
construção de sentido da norma jurídica.
11

Contudo, para que o atual cenário possa ser compreendido, necessário se faz voltar
os olhos ao passado, de forma a compreender as origens e os fundamentos das
Escolas da Hermenêutica Jurídica Clássica.

Savigny, jurista alemão do século XIX, estabeleceu um sistema interpretativo,


baseado em alguns métodos, quais sejam:

I. Método Gramatical: consiste na busca de sentido literal ou contextual da norma


jurídica;
II. Método Sistemático: consiste na correlação de todos os dispositivos normativos
de um texto jurídico. Hodiernamente, para o neoconstitucionalismo, tal técnica
denomina-se filtragem Hermenêutica;
III. Método Histórico: consiste na busca do passado para compreender o sentido
atual da norma. Ou seja, trata-se da identificação de momentos e fatos
históricos que interferiram na criação da norma jurídica;
IV. Método Sociológico: tal método se baseia na eficácia social, ou seja, analisa-
se a norma de tal modo a não haver uma injustiça social;
V. Método Teleológico: consiste na busca da finalidade da norma. Assim, supera-
se a realidade escrita da norma, embasando-a por princípios.

Savigny estabeleceu métodos complementares de interpretação, desta forma, o


interprete deve aplicar todos os procedimentos para que ocorra a hermenêutica da
norma jurídica.

Nesse contexto, o relatório objetiva expor, de forma didática, as principais


características dos principais sistemas interpretativos modernos, iniciando com a
Escola da Exegese, passando pela Escola Histórica de Savigny e pela Escola Finalista
de Ihering, até chegar aos Sistemas da Livre Interpretação.

4.1 MÉTODO GRAMATICAL (Gustavo César Vieira Santana)

Na interpretação gramatical, estágio inicial do processo interpretativo para


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compreender o sentido da lei, o intérprete deveria limitar a sua interpretação ao próprio


sentido das palavras, ao estudo vocabular da lei, ou seja, apenas ao ponto de vista
gramatical para que fosse preservada a imparcialidade do texto.

A interpretação gramatical também é chamada de interpretação filológica ou literal.


SAVIGNY, antes de 1814, já demonstrava preocupação com o significado textual da
lei, interpretar era determinar o sentido expresso nas normas.

Portanto, destacamos que o critério do método gramatical é buscar o sentido apenas


literal do texto.

4.2 MÉTODO SISTEMÁTICO (Gustavo César Vieira Santana)

Na interpretação sistemática, busca-se o todo, a contextualização, o todo do


ordenamento jurídico de forma sistêmica. Portanto, o critério do intérprete diante do
complexo das normas jurídicas é fazer uma análise considerando a própria norma
analisada e as demais que formam o ordenamento jurídico, de uma maneira
organizada, preservando o sentido do inteiro, aqui não se contempla o fragmentado.

Nesse método hermenêutico se prioriza a busca diante do conjunto de normas


internas e externas o sentido único e global.

4.3 MÉTODO HISTÓRICO (João Matheus Moreira da Silva)

Para Savigny, filósofo entendedor da hermenêutica jurídica clássica, a lei nasce


obedecendo a certos ditames e determinadas aspirações da sociedade, sendo o seu
significado mutável, uma vez que não deve ficar restrita às suas fontes originárias,
mas sim deve acompanhar as modificações sociais.

Nesse sentido, não é demais lembrar do famoso exemplo dado por Recaséns Siches
sobre a aplicação das finalidades a que se pretende buscar no esforço hermenêutico.
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Trata-se da história da estação ferroviária em que havia uma placa com os dizeres “é
proibida a entrada de cães”.

4.4 MÉTODO SOCIOLÓGICO (Ana Clara Sobral Bandeira)

Busca adaptar a Constituição à realidade social. Desenvolveu-se no final do século


XIX com o surgimento da sociologia.

No campo da interpretação constitucional o método sociológico busca a efetividade, a


eficácia social para que não se abra um abismo entre a norma e conjunto dos fatos
sociais. O conceito de KELSEN passa a ser revisto, pois as mudanças na sociedade
passam a ser observadas.

Um exemplo disso é a norma que fala que o salário mínimo deve prover as
necessidades básicas; essa norma poderia ser considerada inconstitucional no âmbito
da interpretação sociológica, pois não disse quanto é o valor desse salário, e
evidentemente que hoje temos normas regulando o valor do salário, o qual não
consegue cumprir esse preceito de atender a TODAS as necessidades básicas.

4.5 MÉTODO TELEOLÓGICO (Deusdede Clebson Araújo de Alencar)

Consiste na busca da finalidade das normas jurídicas tentando fazer a adequação


destas aos critérios atuais, pois o Direito por ser uma ciência normativa ou finalística
a sua interpretação há de ser essencialmente teleológica. Dessa forma, o interprete
ou aplicador sempre terá em vista a finalidade do dispositivo legal, ou seja, se a
intenção do legislador foi atingida. Como dispõe Tércio Sampaio Ferraz Jr:

A interpretação teleológica-axiológica ativa a participação do intérprete na


configuração do sentido. Seu movimento interpretativo, inversamente da
interpretação sistemática que também postula uma cabal e coerente unidade
do sistema, parte das consequências avaliadas das normas e retorna para o
interior do sistema. É como se o interprete tentasse fazer com que o legislador
fosse capaz de mover suas próprias previsões, pois, as decisões dos conflitos
14

parecem basear-se nas previsões de suas próprias consequências. Assim,


entende-se que, não importa a norma, ela há de ter, para o hermeneuta,
sempre um objetivo que tem para controlar até as consequências da previsão
legal (a lei sempre visa os fins sociais do direito às exigências do bem comum,
ainda que, de fato, possa parecer que elas não estejam sendo atendidas)
(FERRAZ Jr. 2008, p. 266 –267).

Maximiliano (2002) aponta algumas regras norteadoras do emprego do processo


teleológico:

1) as normas conforme ao seu fim devem ter idêntica execução, não podendo ser
entendidas de modo que produzam decisões diferentes sobre o mesmo objeto;
2) se o fim advém de várias normas, cada uma delas deve ser compreendida de
maneira que corresponda ao objetivo resultante do conjunto;
3) deve-se conferir ao texto normativo um sentido que resulte da lei em favor e não
em prejuízo de quem ela visa proteger;
4) os títulos, as epígrafes, o preâmbulo e as exposições de motivo das normas
auxiliam a reconhecer o seu fim.

Conforme Canfão (2015), nessa ordem de ideia, o fim da norma jurídica é sempre um
valor cuja preservação ou atualização o legislador teve em vista garantir, armando-os
de sanções, assim também como pode ser fim da lei impedir que ocorra um desvalor,
pois os valores não se explicam segundo nexos de causalidade, mas só podem ser
objeto de um processo compreensivo que se realiza através do confronto das partes
com o todo e vice-versa, eliminando-se e esclarecendo-se reciprocamente, como é
próprio do estudo de qualquer estrutura sócia.

A hermenêutica jurídica nos traz duas importantes formas de interpretação, quais são:
teleológica e axiológica.

É de extrema importância determinar-se um significado válido para a norma e


encontrarem-se os fatos a que se refere, resta mostrar que sua aplicação concretizará
seus fins sociais e levará ao bem comum, como determina o art. 5° da LINDB. A
15

interpretação teleológica busca os fins da norma legal e a Interpretação. O método


axiológico busca explicitar os valores que serão concretizados pela norma.

A regra básica do método teleológico é a de que sempre é possível atribuir um


propósito às normas, mas nem sempre essa finalidade é clara. Neste sentido é o artigo
5º da Lei de Introdução ao Código Civil, ao dispor que: “Na aplicação da lei o juiz
atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum ”. Assim,
um a típica interpretação teleológica e axiológica postula fins e valoriza situações.

O método teleológico pressupõe que a lógica formal não é suficiente para solucionar
os problemas do direito, devendo o interprete levar em consideração a real idade
concreta, os interesses vitais e os fatos sociais que constituem as fontes da produção
jurídica.

A dificuldade deste método repousa em encontrar uma forma de determinar o que


seria esse interesse social, esse fim social, que mereça ser protegido. Isto porque
vivemos numa sociedade plural, na qual cada seguimento identifica suas prioridades,
gerando um conflito entre os mais diversos fins possíveis de serem imputados à
norma. Na prática, tal problema é resolvido pela imposição do poder político com que
conta cada setor, “que o permite a erigir em interesse social seu próprio interesse,
muitas vezes disputado com aquele”.

5 A NECESSIDADE DE UMA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL (Joana D’Arc


Silva Almeida)

A Hermenêutica Constitucional é uma ciência que tenta ampar os operadores do


Direito em uma direção mais segura, sempre tendo em vista a necessidade de
coadunar o ordenamento jurídico com a Constituição Federal, não se esquecendo
sempre das necessidades sociais constantes, como a moralidade, a justiça, a
segurança, a boa-fé, entre outros valores da humanidade conquistados ou desejados,
o bem comum.
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Do outro lado temos o movimento novo no Direito Constitucional, mais difundido como
Neoconstitucionalismo, tentando trazer a Constituição como ferramenta constante nas
medidas judiciais e, porque não, sociais.

Apesar dos exageros parece estar despontando uma sequência mais racional nessa
nova visão do Direito, pois não é um movimento que se restringe ao Direito
Constitucional, mas ao Direito como ciência, devido a subordinação dos ramos do
Direito ao contexto constitucional. Inúmeras ferramentas estão aflorando nessa nova
visão do Direito Constitucional, ajudando na evolução para a aplicação mais acertada
do Direito às necessidades sociais.

Apesar de os contrapontos críticos e as virtudes exageradas, aponta no horizonte


social essa fase de afirmação - já mais evidente no Direito Processual Civil, como
indica o Projeto do CPC - diferente do movimento do constitucionalismo, cuja
relevância se fixou no tempo, mas com importância equivalente por ultrapassar as
fronteiras já alcançadas. Agora a esperança é de novamente aprofundarmos nas
indispensáveis e consagrados valores do ser humano.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS (Ana Clara Sobral Bandeira)

Dessa forma, podemos concluir que a hermenêutica jurídica, era voltada à formulação
de regras para uma atividade interpretativa que se exauria na plenitude do
ordenamento jurídico, pela simples subsunção dos fatos às normas.

É muito importante ter a exata noção do papel atual da Constituição no ordenamento


jurídico. O grande desafio é, portanto, atuar na jurisdição de modo adequado,
utilizando as conquistas do Direito Constitucional e das novas técnicas de
interpretação, sem violar a segurança e a certeza jurídicas.

Com isso, o objetivo de apresentar um texto introdutório e conceitual sobre a


hermenêutica jurídica clássica, utilizando-se de uma linguagem simples, objetiva e
didática, foi atingido.
17

REFERÊNCIAS

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Paulo: Celso Bastos. 2002.

BITTENCOURT, Isabela Cristina Pedrosa. Considerações sobre a hermenêutica


jurídica clássica e a hermenêutica constitucional Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 23
jun. 2014. Disponível em: <
https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/39894/consideracoes-sobre-a-
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mar 2021.

BOBBIO, Noberto. Teoria geral do direito. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

BRASIL. Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm >. Acesso em
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https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&url=https://www.oabrs.org.br/no
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JusPodivm, 2009.

< https://anaclaudiajesus.jusbrasil.com.br/artigos/516517364/metodos-de-
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< https://jus.com.br/amp/artigos/28873/1 >

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< https://www.coladaweb.com/direito/hermeneutica-e-interpretacao-constitucional-
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<
https://www.google.com/amp/s/simoesstagliano.jusbrasil.com.br/artigos/335787147/h
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<
http://www.lex.com.br/doutrina_26630422_HERMENEUTICA_CONSTITUCIONAL_E
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< https://www.passeidireto.com/arquivo/47971578/em-relacao-a-hermeneutica-
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