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A balança é, porém, apenas o elemento mais saliente da Deusa Justiça (Iustitia)”

(Cunha, 2018) Faço a minha reflexão, falando da Deusa Justiça que conforme o
entendimento é um dos símbolos considerados mais conhecidos. Parece que não
tenha sido sempre assim conforme cita Cunha,“(...)embora a justiça seja nos nossos
dias frequentemente representada com os olhos vendados, não parece que
originalmente nem as justiças gregas (Themis, Diké), nem a romana (Iustitia)
tivessem realmente qualquer venda.” Conforme o autor menciona a (pág,166),
porém tudo indica que a venda está a mais. parece ser um elemento venda é tardio,
e teria até correspondido a uma recuperação dos juristas de uma paródia, em muito
semelhante à da Nave dos Loucos e afins(pág166).

Imagina-se que seja pelo fato da existência do provérbio popular, “que a justiça é
cega”. E seria? Para estudar Direito imagina-se como diz o autor Ferreira da
Cunha, “estar de olhos bem abertos”. O mais interessante é que este autor aborda a
necessidade de tirar essa venda, para melhor compreensão do Direito. Quando diz
que: “ Essa justiça e esse Direito ensimesmados, alheios ao mundo real, e que, para
o não verem, alegam o álibi da imparcialidade, são os que pretendemos aqui
desvendar. Desde logo, tirando-lhes a venda, ou seja, a nossa venda relativamente a
eles, para começar.”(Cunha, 2014) No Brasil tem outra representação como Xangô,
considerado um dos orixás mais respeitados do Brasil. “Que tem o machado duplo”
(Cunha, 2018). Conforme leitura e com algumas pesquisas, encontrei a história da
origem desse machado, que se chama “Oxê”. “Oxê é o machado de duas lâminas,
machado de dois gumes, de dois gomos, ferramenta de propriedade de Xangô. Ora
os machados são em madeira, ora em folha-de-flandres, cobre ou latão, assumindo
todos os mesmos significados. Xangô trabalha ou funciona com o seu machado,
posicionando seu papel de mito-herói, 1 A Justiça é frequentemente representada
segurando na mão esquerda uma escala na qual pesa as forças de apoio e oposição
em um caso. Herança da religião, representa o juízo final, equilíbrio, harmonia,
ordem e justiça. Isso significa que o poder de julgar é examinar e ponderar os
argumentos de diferentes partes para alcançar a justiça. – Assim no meu
entendimento, Xangô Deusa Themis 3 revelando sua justiça, sabedoria em dominar
o fogo, entre outros títulos que comporta seu caráter impetuoso, temperamental e
fogoso.”(Lody, 2017) O autor Cunha, faz referência à estátua da Justiça em
Brasília, que foi construída pelo artista plástico brasileiro Alfredo Ceschiatti. A
“representação plástica que representa a Justiça sentada, ou simultaneamente
ostentando a venda e a espada (e não a venda e balança).”(Cunha, 2018).
Consideradas por um longo período, as instituições judiciais adotaram o
crescimento da soberania política nas sociedades ocidentais. No decorrer do tempo,
estes permanecem imersos no poder feudal. A justiça é em primeiro lugar
patrimonial. Este modelo não esgota, evidentemente, a extrema complexidade da
justiça medieval, que inclui esferas religiosas, domésticas e municipais. Todos
passam pela atração das cortes reais do século XIII. Os Parlamentos do Antigo
Regime nascerão da curia parliamenti que Saint Louis tem o hábito de convocar
regularmente. Está na origem de assembleias periódicas onde as pessoas feudais se
encontram para conversar e deliberar. O número de casos e a necessidade de
responder aos litigantes tendem a especializar esse órgão em uma função judicial
de arbitragem. No início do século XV, a autonomia dos parlamentos tornou-se
efetiva. O Parlamento de Paris será capaz de se opor ao rei, mesmo que ele não
possa resistir ao poder da monarquia absoluta a ponto de podermos falar, desse
período de "défaite de la justice"2 (Kriegel, 2001). Nascido em um poder estatal
centralizado (a justiça do rei é delegada), nossas instituições mantem até hoje o
traço dessa impregnação monárquica. Não se pode ignorar que o tribunal de
cassação ainda contém tantos brasões monarquistas (ou imperiosos) quanto os
republicanos e que o traje judicial de seu primeiro presidente é, no início, um traje
real. Falar de justiça é sempre algo complexo, o cidadão pode aceitar sua
explicação, mas ele acrescentará exatamente esse elemento – onde está a exigência
da lei que deveria ser justa ? - está faltando em todas as outras áreas de sua
exposição. Não é isso que diz a lei? Como alcançar a justiça, preferencialmente
justiça para todos? O seguinte da discussão será difícil. Sua insistência de que
justiça é ligado ao sistema, ou então uma ideia irracional, não convencerá seu
oponente. Poderia tentar explicar a diferença entre teoria jurídica e filosofia da lei,
se houver. Seu oponente pode responder que, se você não tiver uma filosofia
convincente, ele não estará interessado. Podem continuar sendo amigos, porém a
certeza é de que o resultado de sua discussão será insatisfatório. Se você deseja
distinguir entre os dois - deve levar em conta a maneira pela qual os julgamentos
baseados em leis são experimentados pelos cidadãos afetados e a maneira como
esses julgamentos são afetados pela experiência pessoal de justiça daqueles que
fazem o julgamento. Cunha fala da importância do desvendamento dessa realidade:
“O estudo do Direito é uma das formas de desvendamento da realidade
institucional em que vivemos. Compreender bem o Direito, o seu sentido, o seu
papel, é um caminho importante para não se viver na alienação, que hoje tanto nos
aflige e que poderá a nossa própria Civilização, que tem dificuldades em defender
a sua excelência face a cantos de Sereia de barbárie.”(Cunha, 2018) 2 Derrota da
justiça – tradução de minha autoria. Estátua Justiça em Brasília 4 O
neokantianismo das duas escolas é frequentemente referido como a fonte
epistemológica da obra de Kelsen: The School of Baden (Windelband and Rickert).
Sabemos que o "retorno a Kant"3 , de acordo com o "slogan" dado por Zeller em
1862 em sua palestra inaugural em Heidelberg (sobre o significado e a tarefa da
teoria do conhecimento4 ), foi a palavra-chave do neokantismo, em um momento
decisivo na história intelectual alemã e europeia, o da distinção fundamental feita
durante este período na Alemanha, entre as "ciências exatas" e as "ciências da
mente", que tem suas origens nas obras de Droysen, Schleimacher e Dilthley. A
busca de objetividade para a ciência do direito, como ciência da mente, não
significava nada menos que a das ciências exatas. "Idealismo em geral", disse
Cohen em Le principe de la méthode infinitésimale et son histoire" (1883) "traz as
coisas de volta aos fenómenos e idéias. Por outro lado, a crítica do conhecimento
disseca a ciência nos pressupostos e princípios, que são supostos em suas leis.
Como crítica do conhecimento, o idealismo tem por meses coisas...como fatos
científicos5 . "O factum da ciência, a ciência da natureza ou a ciência da mente, é o
ponto de partida de um método transcendental que remonta à sua condição de
possibilidade"6 . Os traços dessa conceção são encontrados na construção
kelseniana da Teoria Pura do Direito. Nos últimos anos de sua vida ativa, ele
escreveu uma monografia notável e bem formulada sobre o tema justiça. Esta
monografia, intitulada Was ist Gerechtigke, foi publicada pela primeira vez em
alemão em 1953 (Kelsen 1953). Uma tradução inglesa apareceu em 1957 (Kelsen,
1957). Seguindo a linha da ordem social, Kelsen define a justiça como felicidade
social. Neste contexto, ele cita a famosa definição de Jeremy Bentham da justiça: a
maior felicidade possível de indivíduos. Mas novamente Kelsen (1957) se pergunta
porque a justiça é tão elementar e tão profundamente enraizada na mente humana.
Porque é uma manifestação do desejo indestrutível do homem para o sua própria
felicidade subjetiva. Para Kelsen, “a conclusão inevitável é que a ideia de
felicidade deve sofrer uma mudança radical de significado se é para ser uma
categoria social, a felicidade da justiça.”(Kelsen, 1957). A dicotomia surge quando
Kelsen discute ainda mais a conexão entre justiça, conflitos de interesses e juízos
de valores. "Onde não há conflito de interesses, não há necessidade de justiça”. Por
mais que Kelsen tentasse mostrar esse lado puro do Direito, Cunha mostra um
outro lado da história: “ O Direito nunca foi puro (as tentativas de Kelsen, tais
como os anelos dos realistas clássicos, tão diferentes entre si, mas confluentes na
busca da miragem, foram votadas ao fracasso, precisamente para que uns e outros
pudessem – e legitimamente – salvar os respetivos pontos de vista de fundo).”
(Cunha, 2014) Em suas análises do processo de racionalização peculiar às
sociedades ocidentais, Max Weber já atribui particular importância ao papel das
instâncias judiciais e dos profissionais envolvidos (Weber, 1922). Confrontados
com aspirações sociais, com desenvolvimentos económicos, políticos ou éticos, as
instituições judiciárias e os seus têm, efetivamente, de tentar constantemente o
compromisso, a correspondência entre a recuperação destes movimentos sociais e
o respeito da racionalidade jurídica, a preservação de legalidade. É este trabalho
que é apropriado para uma sociologia das instituições judiciárias empreender
identificando os 3 Alf Ross, « Validity and conflict between legal positivism and
natural law » , in Revista Juridica de Buenos Aires, 1961. 4 A.Philonenko, L’école
de Marbourg, Cohen – Natorp – Cassirer, Vrin, 1989, pp.9. 5 H.Cohen citado por
A. Philonenko, op. cit., pp.8. 6 Richard Assuied, « Herman Cohen », in
Dictionnaire des philosophes, PUF, 2ed.,p. 616. 5 fatores envolvidos. É necessário
admitir que esses fatores estão em jogo. É necessário admitir que esses fatores não
são apenas os avançados na literatura. o discurso jurídico (por exemplo, a tarefa de
ajuste entre lei e "moral" confiada à jurisprudência), mas eles são traçados
principalmente nas próprias características sociais das instituições. Os crescentes
problemas de regulação aos quais as sociedades modernas estão expostas (Croizer,
1980) se manifestam no nível dessas instâncias particulares. É por isso que a
sociologia das organizações e das profissões foi primeiramente convocada a
contribuir para a modernização considerada necessária em face do aumento do
litígio, o "congestionamento dos dispositivos do Estado" (Belley, 1986) e às
transformações das expectativas de justiça. Em conclusão, a justiça ligada à
existência deve ter prioridade acima da lei, num sentido lógico, antropológico e
sociológico. Mas isso não significa que em todos os momentos ou em geral deva
ser dada prioridade a idéias ligadas à existência na aplicação da lei. Um
impedimento firme contra isso é o estado de direito, o núcleo do sistema legal
ocidental, que deve ser mantido e nutrido. Se estiver em perigo, como Tamanaha
indica, deve ser defendido com toda a engenhosidade legal e política que pode ser
disponibilizado. Por outro lado, nem o estado de direito nem qualquer outro
mecanismo pode isolar o sistema legal ou seus oficiais de as experiências de justiça
no campo da existência. Deve-se achar apoio para isso, ver na exposição de
Ricoeur sobre mediações interpessoais e institucionais entre sujeitos de direita.
Além disso, qualquer esforço na direção de isolamento levará a um alargamento do
fosso entre a lei como uma operação gerida por profissionais e as experiências dos
cidadãos na sociedade. Quanto maior a lacuna, mais o sistema está em perigo. Uma
característica distinta da experiência da justiça pelo cidadão é que é
frequentemente sentido em sua forma negativa de injustiça. Aqui o racional e o
lado irracional de seu julgamento realmente se encontram. Na colisão dos dois um
elemento verdadeiramente existencial, que não está alinhado com a lei, pode
emergir. 6 Bibliografia Belley, J.-G. (1986). L’État et la régulation juridique des
sociétés globales: pour une problématique du pluralisme juridique » Sociologie et
sociétés. Ceschiatti, A. (s. d.). Estátua Justiça em Brasília. Consultado no endereço
http://www.nelmarnepomuceno.com.br/2018/01/30/a-justica-brasileira/ Croizer, M.
(1980). La crise des régulations traditionnelles in H. Mendras, s. dir., La Sagesse et
le désordre. France 1980. Cunha, P. F. D. (2014). Desvendar o Direito: Iniciação ao
saber jurídico. Lisboa. Quid Juris. Cunha, P. F. D. (2018). Teoria Geral Do Direito:
Uma Síntese Crítica. Oeiras. Causa das Regras. Deusa Themis. (2010). Consultado
no endereço http://www.mjd-valdeseine.fr/symboles- justice.html Huisman, D.,
Malfray, M.-A., Alquié, F., Conche, M., & Bourgeois, B. (2009). Dictionnaire des
philosophes. Paris: Quadrige/PUF. Kelsen, H. (1953). Was ist Gerechtigkeit?
Vienna: Deuticke. Kriegel, B. (2001). Réflexions sur la justice. Paris: Plon. Lody,
R. (2017). Oxé de Xangô: um estudo de caso da cultura material afro-brasileira.
Consultado no endereço
https://rigs.ufba.br/index.php/afroasia/article/viewFile/20818/13419 Philonenko, A.
(1989). L’École de Marbourg: Cohen, Natorp, Cassirer. Paris: J. Vrin. Ricoeur, P.
(2005). Le juste, la justice et son échec. Paris: L’Herne. Ross, A. (1961). Validity
and conflict between legal positivism and natural law. Revista Juridica de Buenos
Aires. Tamanaha, B. Z. (2004). On the Rule of Law (Cambridge University Press).
Cambridge. Weber, M. (1922). Économie et societé. Paris: Plon. Xangô. (2012).
Consultado no endereço https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/29-de-junho-
salve-xango 7

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