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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000234560

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1005813-21.2022.8.26.0066, da Comarca de Barretos, em que é apelante LUIZA
APARECIDA DOS SANTOS (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado BANCO C6
CONSIGNADO S/A.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 17ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram
provimento em parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator,
que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores JOÃO BATISTA


VILHENA (Presidente sem voto), SOUZA LOPES E IRINEU FAVA.

São Paulo, 26 de março de 2023.

LUÍS H. B. FRANZÉ
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação cível n° 1005813-21.2022.8.26.0066


Comarca: Barretos
Apelante: Luiza Aparecida dos Santos
Apelado: BANCO C6 S/A
Juiz prolator: Douglas Borges da Silva
Voto n° 322

APELAÇÃO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA. DANO
MORAL.
1. Sentença declarou a inexistência do negócio jurídico
discutido nos autos. 2. Fixação de danos morais no valor
de R$ 5.000,00. 3. Pretensão recursal que limita-se a
discutir o "quantum" arbitrado a título de indenização por
danos morais e a restituição em dobro do valor
descontado. 4. Valor indenizatório por danos morais
majorado para R$ 10.000,00, com base nos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade. 5. Repetição do
indébito. 6. Devolução que deve ser feita de maneira
simples diante da ausência de dolo ou má-fé da instituição
financeira. 7. Recurso parcialmente provido.

Vistos.

Trata-se de ação declaratória de inexistência de relação jurídica


c.c indenização por danos morais que LUIZA APARECIDA DOS SANTOS,
move em face de BANCO C6 S/A, julgada PROCEDENTE, para declarar a
inexistência no negócio jurídico discutido nos autos e condenar o requerido
ao pagamento de danos morais em favor da autora no valor de R$ 5.000,00,
com atualização monetária pelos índices da Tabela Prática do Tribunal de
Justiça de São Paulo a partir do arbitramento e juros de mora de 1% ao ano, a
partir da data do evento danoso (desconto da primeira parcela).

Em apelação, a autora afirma que o valor fixado como


compensação pelo dano moral é insuficiente para compensar a lesão sofrida.
Pretende a majoração do valor fixado a título de danos morais, para a quantia
de R$ 15.000,00. Ainda, requer que a restituição dos valores descontados

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indevidamente de seu benefício previdenciário deve ser em dobro. Requer o


provimento do recurso.

Recurso regularmente processado, com apresentação das


contrarrazões às fls. 192/200 e anotado que o apelante é beneficiário da
gratuidade da justiça.

É o relatório.

De início, a preliminar de falta de interesse recursal não merece


prosperar.

Afasto a preliminar de ausência de interesse recursal, arguida nas


contrarrazões, vez que manifesto o interesse da autora em recorrer da r.
sentença com o objetivo de majorar a indenização por dano moral e requerer
a devolução em dobro do valor descontado indevidamente de sua conta
bancária.

Prosseguindo, quanto ao mérito.

A r. sentença declarou a inexistência no negócio jurídico


discutido nos autos, determinou que o valor creditado em conta bancária da
autora deve ser restituído de forma simples, bem como condenou a instituição
financeira ao pagamento de danos morais em favor da autora no valor de R$
5.000,00.

A pretensão recursal limita-se a discutir o quantum arbitrado a


título de indenização por danos morais, pretendendo a apelante a majoração
do valor, bem como a restituição em sobro do valor descontado de seu

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benefício previdenciário.

Com efeito, a indenização deve se basear em critérios de


significância, razoabilidade e proporcionalidade, sem permitir o
enriquecimento do lesado à custa do ofensor, mas suficiente para que ocorra
a efetiva reparação da lesão causada, bem como para coibir a repetição da
conduta ofensiva.

Diante disso, o quantum indenizatório deve ser majorado para


R$10.000,00 (dez mil reais), eis que razoável e proporcional às
especificidades do caso concreto e a censurabilidade do ato praticado pelo
réu, atualizado monetariamente pela Tabela Prática deste E. Tribunal desde a
data de publicação deste Acórdão (Súmula 362 do C. STJ) e juros de mora de
1% ao mês, desde o evento danoso (Súmula 54/STJ), que corresponde à data
do primeiro desconto indevido.

Verifica-se que o valor está em consonância com o entendimento


desta Câmara em casos semelhantes:

“DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C.C.


REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANO
MORAL. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. Sentença que
declarou a inexigibilidade do débito questionado, oriundo de
empréstimo consignado e condenou o réu a restituir, em dobro,
os valores indevidamente descontados do benefício
previdenciário da autora, autorizada a compensação com os
valores disponibilizados pelo banco em favor da requerente.
Ausência de recurso do réu. DANO MORAL. Dano moral
caracterizado diante das peculiaridades do caso concreto.

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"Quantum" indenizatório fixado em R$10.000,00, com base nos


princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Verba honorária fixada em
valor mais adequado a remunerar o trabalho desenvolvido pelo
patrono da autora. RECURSO PROVIDO”. (TJSP; Apelação
Cível 1001701-81.2020.8.26.0097; Relator (a): Afonso Bráz;
Órgão Julgador: 17ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Buritama - 2ª Vara; Data do Julgamento: 16/02/2023; Data de
Registro: 16/02/2023).

“Ação declaratória de inexigibilidade de débito cumulada com


pedido de indenização por danos materiais e morais. Sentença
que julgou parcialmente procedente a ação. Recursos das partes.
1. Na hipótese de o consumidor impugnar a autenticidade da
assinatura lançada em contrato bancário, cabe à instituição
financeira o ônus de demonstrar a autenticidade do documento.
Orientação firmada pelo Superior Tribunal de Justiça. 2. O
desconto em desfavor do consumidor, de quantia, a título de
satisfação de débito, por contrato inexistente configura defeito
do serviço, a empenhar a responsabilidade do banco (pelo fato
do serviço), nos termos do artigo 14 do Código de Defesa do
Consumidor. 3. Configurada a inexigibilidade do débito.
Devolução da quantia indevidamente descontada, observada a a
orientação firmada pelo Superior Tribunal de Justiça, pela sua
Corte Especial (EREsp nº 1.413.542, rel. para o acórdão Min.
Hermann Benjamin; EAREsp nº 600.663, rel. para o acórdão
Min. Hermann Benjamin, julgados em 21.10.2020, publicado em
30.03.2021), com a modulação estabelecida. 4. Dano moral
configurado no caso concreto. Autora que suportou no mínimo
68 descontos mensais indevidos, perfazendo o total não
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atualizado de R$ 4.460,80, em benefício previdenciário cujo


valor líquido se mostrava inferior a um salário mínimo.
Indenização majorada a R$ 10.000,00. 5. Honorários
advocatícios fixados nos termos do artigo 85, par. 2º, do Código
de Processo Civil. Recursos parcialmente providos”. (TJSP;
Apelação Cível 1000256-85.2022.8.26.0411; Relator (a): Laerte
Marrone; Órgão Julgador: 17ª Câmara de Direito Privado;
Foro de Pacaembu - 1ª Vara; Data do Julgamento: 15/12/2022;
Data de Registro: 15/12/2022).

No tocante à repetição do indébito, a r. sentença não comporta


reparo.

Para que incida a restituição em dobro do indébito (CDC, art.


42), é necessária a violação aos princípios da transparência e da boa-fé
objetiva.

Nesse sentido, a jurisprudência do C. Superior Tribunal de


Justiça, com ementa expressando:

“(...) 1. A Corte Especial do STJ adotou a tese de que "a repetição em


dobro, prevista no parágrafo único do art. 42 do CDC, é cabível
quando a cobrança indevida consubstanciar conduta contrária à boa-
fé objetiva, ou seja, deve ocorrer independentemente da natureza do
elemento volitivo" (EREsp 1.413.542/RS, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, Rel. p/ acórdão Ministro HERMAN
BENJAMIN, CORTE ESPECIAL, julgado em 21/10/2020, DJe de
30/03/2021).

2. Cabe destacar que a Corte Especial promoveu a modulação dos


efeitos do entendimento firmado no referido julgamento no sentido de

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que "o entendimento aqui fixado - quanto a indébitos não decorrentes


de prestação de serviço público - se aplique somente a cobranças
realizadas após a data da publicação do presente acórdão."

(AgInt no AREsp n. 2.034.993/DF, relator Ministro Paulo de Tarso


Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 27/6/2022, DJe de
29/6/2022)

No caso em tela, apesar de os descontos serem posteriores a


30/03/2021, não há que se falar em violação ao princípio da transparência e
da boa-fé objetiva, a ensejar a repetição do indébito, em dobro, almejada pela
recorrente, tendo em vista que não ficou demonstrado que o requerido agiu
com má-fé. Assim, a restituição dos valores descontados da apelante deve ser
realizada de forma simples, autorizada a compensação.

Nos termos da fundamentação acima dou parcial provimento às


razões recursais, a fim de majorar a indenização por danos morais a R$
10.000,00 (dez mil reais), com atualização monetária pelos índices da Tabela
Prática do Tribunal de Justiça de São Paulo a partir do arbitramento e juros
de mora de 1% ao ano, a partir da data do evento danoso (desconto da
primeira parcela).

Ante a sucumbência do requerido, condeno-o o ao pagamento


integral das despesas e custas processuais e dos honorários advocatícios ao
patrono do autor, estabelecidos no valor de 15% sobre o valor atualizado da
causa, corrigido monetariamente.

LUÍS. H. B. FRANZÉ
Relator
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