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Registro: 2012.0000154229
ACÓRDÃO
APELAÇÃO Nº 9261435-57.2008.8.26.0000
VOTO 2476 YF
EMENTA
APELAÇÃO PROTESTO DUPLICATA ANTECIPAÇÃO
DE DÍVIDA DANO MORAL ENDOSSO MANDATO.
- Banco que não pode suscitar cláusula contratual de desconto de
títulos, pois aufere lucros com a atividade e deve, portanto,
diligenciar sobre a natureza do débito, em especial para títulos
causais como a duplicata, legitimidade constatada;
- Prova de compra em três parcelas que não foi desconstituída
pela prova oral colhida (art. 333, II, do Código de Processo
Civil), duplicata inexigível;
- Cobrança indevida que, por si só, enseja a reparação por danos
morais, independente de outras restrições, valor abaixo do
patamar médio, porém, R$6.000,00 (seis mil reais).
RECURSO PROVIDO, para julgar procedentes os pedidos
iniciais, inexigibilidade do título e danos morais.
Vistos.
Trata-se de ação de nulidade de título com pedido de indenização por danos morais,
julgada extinta, com fulcro no artigo 267, VI, do Código de Processo Civil, reconhecendo a
ilegitimidade do Banco do Brasil S.A., diante do contrato endosso-mandato e improcedente com
relação à Di Carmo Cabeleireiro Ltda. Diante da sucumbência, a requerente foi condenada ao
pagamento das custas, despesas processuais e honorários.
É o relatório.
De plano, entendo por bem afastar a tese de ilegitimidade do Banco para figurar no
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Muito embora tenha alicerçado o Banco sua tese de ilegitimidade pelo fato de ter
recebido títulos para cobrança apenas na qualidade de mandatário, referida tese não encontra
respaldo. Isto porque, muito embora efetivamente a instituição financeira seja contratada apenas para
realizar a cobrança, deve ela observar um dever de diligência mínimo, consistente em verificar, antes
de enviar o nome do suposto devedor ao protesto, se o título que se pretende cobrar possui lastro e foi
regularmente emitido.
Aqui, vale lembrar que a duplicata é título causal, formal e circulável, isto é, impõe-se
ao emitente do título comprovar a existência da efetiva operação comercial e suas peculiaridades.
No caso em tela, o banco deve ser considerado legítimo, pois, tem dever de diligência
e arca com os riscos do negócio caso a emissão seja indevida neste sentido, cito precedente
jurisprudencial desta Colenda Câmara:
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De plano, deve ser destacado que foi ultrapassado o tempo em que dano moral
equivalia à dor, sofrimento e angústia da vítima em razão da ofensa. Os mais renomados estudiosos
da responsabilidade civil modernamente conceituam o dano moral de maneira bastante clara e
objetiva: trata-se de ofensa aos direitos da personalidade e, em sentido mais amplo, à própria
dignidade da pessoa humana. A conseqüência, os efeitos de mencionada ofensa podem, estes sim,
ser constituídos pela dor, sofrimento ou vexame causado.
Fenômeno interno, portanto, o dano moral, em si mesmo, não precisa nem pode ser
provado. O que deve ser provado são fatos, condutas ou omissões que ocasionem a mencionada
ofensa aos direitos da personalidade e, por conseqüência, sofrimento e dor ao prejudicado. A
avaliação sobre quais fatos que causam dano moral deve ser feita pelo juiz, segundo a jurisprudência
e as regras da experiência. Sobre a necessidade de comprovação da ocorrência do dano moral,
leciona o precursor da tese do dano moral no Brasil, CARLOS ALBERTO BITTAR, em sua obra
“Reparação Civil por Danos Morais”, Revista dos Tribunais, 1.993, pág. 204, que:
“... não precisa a mãe provar que sentiu a morte do filho; ou o agravado em sua honra
demonstrar em juízo que sentiu a lesão; ou o autor provar que ficou vexado com a não
inserção de seu nome no uso público da obra, e assim por diante...”
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Muito se questionou sobre a reparabilidade dos danos morais. Não se ignora que,
inicialmente, havia certa resistência quanto à possibilidade de reparação, mas a discussão restou
superada em face da Constituição Federal de 1.988, que em seu artigo 5º, incisos V e X, deixou
evidente a possibilidade de reparação do dano moral, bem como a sua cumulatividade com o dano
material. Neste sentido inclusive foi editada a Súmula nº 37 do STJ, cujo enunciado destaco: “São
cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato". Prevaleceu,
portanto, a correta orientação de que os danos morais devem ser reparados.
O dano moral não precisa representar a medida nem o preço da dor, mas uma
compensação pela ofensa injustamente causada a outrem. Conforme ensinamento do já mencionado
autor (Carlos Alberto Bittar - Tribuna da Magistratura, julho/ 96):
“Com efeito, a reparação de danos morais exerce função diversa daquela dos danos
materiais. Enquanto estes se voltam para a recomposição do patrimônio ofendido,
através da aplicação da fórmula “danos emergentes e lucros cessantes” (C. Civ., art.
1059), aqueles procuram oferecer compensação ao lesado, para atenuação do
sofrimento havido. De outra parte, quanto ao lesante, objetiva a reparação impingir-lhe
sanção, a fim de que não volte a praticar atos lesivos à personalidade de outrem.”
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Assim, para a fixação dos danos morais, além do dano, também se deve levar em
conta a situação econômica das partes, a fim de não dar causa ao enriquecimento ilícito, mas gerar um
efeito preventivo, com o condão de evitar que novas situações desse tipo ocorram, e também
considerando o porte financeiro daquele que indenizará, não se podendo fixar o valor de indenização
em quantia irrisória, sob pena de não vir a surtir o efeito repressivo que se pretende, qual seja, fazer
com que o agente perceba, eficazmente, as conseqüências de seu ato ilícito.
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Diante de toda a exposição sobre o tema, entendo ter se configurado ofensa aos
direitos da personalidade apta a autorizar a condenação dos ofensores ao pagamento de indenização
pelos danos morais sofridos.
No caso destes autos, não se deve levar em conta a existência de outro débito, mas,
sim a situação vexatória e humilhante do agravamento da restrição de crédito em razão de duplicata
intempestiva e com o valor equivocado, diverso daquele pretendido entre as partes.
Desse modo, fixo a indenização pelos danos morais sofridos em quantia equivalente a
R$ 6.000,00 (seis mil reais) que deverão ser pagos de forma solidária pelas requeridas. Ainda, referida
quantia deverá ser corrigida pela Tabela do TJSP a contar da data de seu arbitramento, nos termos do
enunciado da Súmula 362 do STJ, bem como acrescida de juros de mora de 1% (um por cento) ao
mês, a contar da citação.
Relatora
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