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Julgados DOD

2023 – Direito Previdenciário

Incide a contribuição previdenciária a cargo do


empregador sobre o auxílio-alimentação pago em
pecúnia

Resumo

Para que determinada verba componha a base de cálculo da contribuição


previdenciária patronal: 1) habitualidade; 2) caráter salarial.
O auxílio-alimentação é parcela que constitui benefício concedido aos
empregados para custear despesas com alimentação (necessidade essa
que deve ser suprimida diariamente) sendo, portanto, inerente à sua
natureza a habitualidade.
O auxílio-alimentação pago em dinheiro ao empregado possui natureza
salarial(art. 458, § 2º, da CLT).
Logo, incide a contribuição previdenciária a cargo do empregador sobre o
auxílio-alimentação pago em pecúnia.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.995.437-CE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
26/4/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1164) (Info 772).
Contribuições para a seguridade social
A CF/88 prevê, em seu art. 195, as chamadas “contribuições para a
seguridade social”.
Consistem em uma espécie de tributo, cuja arrecadação é utilizada para
custear a seguridade social (saúde, assistência e previdência social).
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,
de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I — do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na
forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
II – do trabalhador e dos demais segurados da previdência social,
podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o
valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre
aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de
Previdência Social;
III — sobre a receita de concursos de prognósticos;
IV — do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a
lei a ele equiparar.

Contribuições previdenciárias
A contribuição previdenciária é uma espécie de tributo, cujo montante
arrecadado é destinado ao pagamento dos benefícios do RGPS
(aposentadoria, auxílio-doença, pensão por morte etc.)
Existem duas espécies de contribuição previdenciária:
PAGA POR QUEM INCIDE SOBRE O QUE
1ª) Trabalhador e demais Incide sobre o salário de contribuição,
segurados do RGPS (art. exceto no caso do segurado especial.
195, II).
2ª) Empregador, empresa Incide sobre a folha de salários e demais
ou entidade equiparada rendimentos do trabalho pagos ou
(art. 195, I, “a”). creditados, a qualquer título, à pessoa
física que lhe preste serviço, mesmo sem
vínculo empregatício.
 Auxílio-alimentação
O auxílio-alimentação devido aos empregados está previsto no § 2º do
art. 457 da CLT:
Art. 457 (...)
§ 2º As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda
de custo, auxílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro,
diárias para viagem, prêmios e abonos não integram a
remuneração do empregado, não se incorporam ao contrato de
trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo
trabalhista e previdenciário. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de
2017)
Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:
A empresa Alfa Ltda paga auxílio-alimentação aos seus funcionários.
Esse pagamento é feito em dinheiro (pecúnia).
A empresa impetrou mandado de segurança contra o Delegado da
Receita Federal pedindo para não pagar contribuição previdenciária
patronal sobre o auxílio-alimentação dado aos funcionários.
A autora argumentou que a cobrança é ilegal, pois o auxílio-alimentação
é dado mesmo quando os funcionários não estão trabalhando
efetivamente, de forma que resta não configurada, por consequência, a
hipótese de incidência prevista no inciso I do art. 22, da Lei nº 8.212/91:
Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade
Social, além do disposto no art. 23, é de:
I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas
ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados
empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços,
destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma,
inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades
e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos
serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do
empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do
contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou
sentença normativa.
(...)
 
A União (Fazenda Nacional) contestou alegando que não é possível
dispensar uma obrigação legal e que a cobrança é necessária por causa
do princípio de solidariedade do sistema previdenciário brasileiro.
 
O que decidiu o STJ? Incide a contribuição previdenciária devida pelo
empregador sobre os valores pagos em pecúnia aos empregados a título
de auxílio-alimentação?
SIM.
De início, ressalta-se que a contribuição previdenciária devida pelo
empregador é uma das espécies de contribuições para o custeio da
seguridade social e encontra-se prevista na alínea “a” do inciso I do art.
195 da Constituição Federal.
O art. 201, § 11, da Constituição Federal, que traz o conceito
constitucional de salário para fins de contribuição previdenciária:
Art. 201 (...)
§ 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão
incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e
consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da
lei.
 
O Supremo Tribunal Federal, ao examinar o RE 565.160/SC (de relatoria
do Ministro Marco Aurélio Mello, julgado sob o rito da repercussão geral -
Tema 20), enfrentou questão relacionada à interpretação da expressão
“folha de salários”, para fins de incidência da contribuição previdenciária
devida pelo empregador e fixou a seguinte tese jurídica:
A contribuição social a cargo do empregador incide sobre ganhos
habituais do empregado, a qualquer título, quer anteriores, quer
posteriores à Emenda Constitucional n. 20/1998 - inteligência dos artigos
195, inciso I, e 201, § 11, da Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 565160/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
29/3/2017 (Repercussão Geral – Tema 20) (Info 859).
 
Dos votos proferidos pelos Ministros do STF, é possível extrair dois
requisitos para que determinada verba componha a base de cálculo da
contribuição previdenciária patronal:
1) habitualidade;
2) caráter salarial.
 
A habitualidade constitui pressuposto constitucional expresso no art.
201, § 11, da Constituição Federal, enquanto a definição da natureza
salarial ou indenizatória da verba paga ao empregado está afeta à esfera
infraconstitucional.
 
Auxílio-alimentação é verba de natureza habitual
O auxílio-alimentação é parcela que constitui benefício concedido aos
empregados para custear despesas com alimentação (necessidade essa
que deve ser suprimida diariamente) sendo, portanto, inerente à sua
natureza a habitualidade. Assim, fica claro que o requisito constitucional
para a incidência da contribuição previdenciária a cargo do empregador
está cumprido.
 
Auxílio-alimentação possui natureza salarial
A interpretação sistemática dos arts. 22, I, 28, I, da Lei nº 8.212/91 e do
art. 457, § 2º, da CLT (a partir da vigência da Lei nº 13.467/2017 -
Reforma Trabalhista) revela que o auxílio-alimentação pago em dinheiro
ao empregado possui natureza salarial.
O art. 22, I, da Lei nº 8.212/91 descreve a base de cálculo e a alíquota da
contribuição previdenciária a cargo do empregador, nos seguintes
termos:
Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade
Social, além do disposto no art. 23, é de:
I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas
ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados
empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços,
destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma,
inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades
e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos
serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do
empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do
contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou
sentença normativa.
 
Já no art. 28, I, a referida lei federal dispõe sobre o salário-de-
contribuição, utilizado como base de cálculo do benefício previdenciário
devido ao empregado, e explicita as verbas de natureza salarial a serem
consideradas para essa finalidade, in verbis:
Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição:
I - para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida
em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos
rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título,
durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja
a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma
de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial,
quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à
disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da
lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de
trabalho ou sentença normativa;
(...)
 
Extrai-se desses dispositivos que há uma correspondência entre a base
de cálculo da contribuição previdenciária devida pelo empregador e a
base de cálculo do benefício previdenciário a ser recebido pelo
empregado, sendo certo que ambas levam em consideração a natureza
salarial das verbas pagas.
Em outras palavras: a parcela paga ao empregado com caráter salarial
manterá essa natureza para fins de incidência de contribuição
previdenciária patronal e, também, de apuração do benefício
previdenciário.
O art. 457, § 2º, por sua vez, diz o seguinte:
Art. 457. Compreendem-se na remuneração do empregado, para
todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente
pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas
que receber.
(...)
§ 2º As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda
de custo, auxílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro,
diárias para viagem, prêmios e abonos não integram a
remuneração do empregado, não se incorporam ao contrato de
trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo
trabalhista e previdenciário.
 
Desse dispositivo da lei trabalhista é possível extrair que o auxílio-
alimentação pago habitualmente não tem caráter remuneratório, exceto
quando houver o pagamento em dinheiro, hipótese em que deve ser
reconhecida sua natureza salarial.
 
Auxílio-alimentação aqui tratado é aquele pago em pecúnia
Ademais, cabe aqui esclarecer que a presente controvérsia envolve o
auxílio-alimentação pago em dinheiro ao empregado, que pode ser usado
para quaisquer outras finalidades que não sejam a de arcar com os
gastos com sua alimentação.
O STJ não discutiu, nesse precedente (Tema 1164), a natureza dos
valores contidos em cartões pré-pagos, fornecidos pelos empregadores,
de empresas como “Ticket”, “Alelo” e “VR Benefícios”, cuja utilização
depende da aceitação em estabelecimentos credenciados, como
supermercados, restaurantes e padarias.
 
Em suma:
Incide a contribuição previdenciária a cargo do empregador sobre o
auxílio-alimentação pago em pecúnia. 
STJ. 1ª Seção. REsp 1.995.437-CE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
26/4/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1164) (Info 772).

Competência para julgar ação proposta contra o


patrocinador para recomposição de reserva
matemática, em cumulação sucessiva ao pedido de
revisão do benefício pela entidade fechada de
previdência privada complementar

Resumo

Não compete à Justiça comum processar e julgar causas ajuizadas


contra o patrocinador para recomposição de reserva matemática, em
cumulação sucessiva ao pedido de revisão do benefício pela entidade
fechada de previdência privada complementar, em consequência da
integração, ao salário de participação, de verbas reconhecidas pela
Justiça do Trabalho.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 1.975.132-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 12/4/2023 (Info 773).

Entidades de previdência privada


Existem duas espécies de entidade de previdência privada (entidade de
previdência complementar): as entidades de previdência privada abertas
e as fechadas.
 
ABERTAS (EAPC) FECHADAS (EFPC)
As entidades abertas são As entidades fechadas são
empresas privadas constituídas pessoas jurídicas, organizadas
sob a forma de sociedade sob a forma de fundação ou
anônima, que oferecem planos de sociedade civil, mantidas por
previdência privada que podem grandes empresas ou grupos de
ser contratados por qualquer empresa, para oferecer planos de
pessoa física ou jurídica. As previdência privada aos seus
entidades abertas normalmente funcionários.
fazem parte do mesmo grupo Essas entidades são conhecidas
econômico de um banco ou como “fundos de pensão”.
seguradora.
Os planos não podem ser
Exs: Bradesco Vida e Previdência comercializados para quem não é
S.A., Itaú Vida e Previdência S.A., funcionário daquela empresa.
Mapfre Previdência S.A., Porto
Seguro Vida e Previdência S/A., Ex: Previbosch (dos funcionários
Sul América Seguros de Pessoas e da empresa Bosch).
Previdência S.A.
Possuem finalidade de lucro. Não possuem fins lucrativos.
São geridas (administradas) pelos A gestão é compartilhada entre os
diretores e administradores da representantes dos participantes e
sociedade anônima. assistidos e os representantes
dos patrocinadores.
 
"Entidades patrocinadoras" (patrocinador)
Patrocinador (ou entidade patrocinadora) é a empresa ou grupo de
empresas que oferece plano de previdência privada fechada aos seus
funcionários. Funciona da seguinte forma: os empregados pagam uma
parte da mensalidade e o patrocinador arca com a outra.
Obs: existem alguns entes públicos que também oferecem plano de
previdência privada aos servidores. Neste caso, este ente público é que
será o patrocinador.
A entidade patrocinadora oferece o plano de previdência privada por meio
de uma entidade fechada de previdência privada. Enfim, só existe entidade
patrocinadora no caso de plano fechado de previdência privada.
Os benefícios mais comuns que são oferecidos pela previdência
complementar fechada são os seguintes: aposentadoria por tempo de
contribuição, aposentadoria por invalidez e pensão por morte.
Participante
Participante é a pessoa física que adere ao plano de previdência
complementar oferecido por uma entidade fechada de previdência
complementar (EFPC). O participante, para poder aderir a esse plano, tem
que estar vinculado à entidade patrocinadora (ex: ser funcionário do
patrocinador).
O valor das contribuições vertidas pelo participante para a entidade de
previdência é descontado de seu salário no momento do pagamento.
Reserva de poupança (ou de benefício)
Reserva de poupança é o total das contribuições efetuadas pelo
participante para o plano. Sobre este valor, mensalmente, incide correção
monetária.
Complementação de aposentadoria
É a quantia paga pela entidade de previdência privada como
aposentadoria à pessoa que contratou a previdência complementar. É
como se chama a aposentadoria paga pela previdência privada.
 

O julgado analisado refere-se aos planos de previdência privada fechada.


 
magine agora a seguinte situação hipotética:
João era funcionário do Banco do Brasil e, nesta condição, era
participante do plano de previdência complementar oferecido para os
funcionários da instituição financeira. Era, portanto, participante do plano
de previdência PREVI (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco
do Brasil).
 
Personagens
PREVI: entidade fechada de previdência privada.
Banco do Brasil: patrocinador.
João: participante.
Voltando ao caso
O regulamento do plano de previdência previa que o valor da
“complementação de aposentadoria” deveria ser calculado a partir da
média aritmética simples dos salários de participação do associado. Em
outras palavras, o valor da aposentadoria deveria ser calculado com base
no salário que o indivíduo recebia e que também servia como parâmetro
para as contribuições pagas pelo empregado.
Assim, suponhamos que o empregado recebia R$ 5 mil de salário. Todos
os meses era descontado 10% para a previdência fechada. A sua
aposentadoria deveria ser calculada com base no salário recebido.

Aposentadoria de João
Após muitos anos trabalhando no Banco, João completou o tempo
necessário e pediu o pagamento da complementação de aposentadoria.
A PREVI calculou o benefício com base nos salários recebidos por João e
passou a pagar a complementação de aposentadoria.
Ação revisional de complementação de aposentadoria e cobrança de
diferenças
João propôs, então, uma segunda ação.
Ele ajuizou, na Justiça Comum Estadual, contra a PREVI e o Banco do
Brasil, uma ação revisional de complementação de aposentadoria e
cobrança de diferenças.
Na ação revisional, João alegou que seu salário foi “aumentado” na
Justiça e que essa diferença deverá produzir efeitos também na
aposentadoria paga pela entidade fechada. Assim, pediu para que o juiz
determinasse a revisão da complementação de aposentadoria em virtude
da inclusão das diferenças salariais obtidas por força de decisão judicial.
O autor pediu que a entidade fechada de previdência (PREVI) fosse
condenada a revisar o benefício complementar de aposentadoria e que o
patrocinador (Banco do Brasil) fosse condenado à recomposição da
reserva matemática correspondente.
 
A competência para julgar essa ação é realmente da Justiça Comum?
NÃO.
Não compete à Justiça comum processar e julgar causas ajuizadas
contra o patrocinador para recomposição de reserva matemática, em
cumulação sucessiva ao pedido de revisão do benefício pela entidade
fechada de previdência privada complementar, em consequência da
integração, ao salário de participação, de verbas reconhecidas pela
Justiça do Trabalho.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 1.975.132-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 12/4/2023 (Info 773).

Para a concessão do Benefício de Prestação


Continuada (BPC) à pessoa com deficiência,
disciplinado na Lei Orgânica da Assistência Social -
LOAS, não cabe ao intérprete exigir requisitos mais
rígidos do que aqueles previstos para a sua
concessão

Resumo

Para a de concessão do Benefício de Prestação Continuada - BPC à


pessoa com deficiência, disciplinado na Lei Orgânica da Assistência
Social - LOAS, não cabe ao intérprete da lei fazer imposição de requisitos
mais rígidos do que aqueles previstos para a sua concessão.
Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, o art. 20
da Lei nº 8.742/93 não exige determinado grau de incapacidade para fins
de configuração da deficiência, não cabendo ao intérprete da lei a
imposição de requisitos mais rígidos do que aqueles previstos para a sua
concessão.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.962.868-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 21/3/2023 (Info 770).
Imagine a seguinte situação hipotética:
Regina sofre de Oligofrenia Leve, ou seja, possui deficiência do
desenvolvimento mental em grau leve, apresentando limitação para
atividades que demandem habilidades acadêmicas.
Em razão disso, Regina protocolizou requerimento administrativo no
INSS pedindo a concessão do benefício de assistência social ao
deficiente alegando estar incapacitada para a vida laborativa, bem como
por não possuir meios necessários para prover sua subsistência.

O que é esse benefício?


A ideia de um benefício assistencial de prestação continuada a pessoas
com deficiência e idosos carentes tem previsão na própria Constituição
Federal que, em seu art. 203, V, estabelece:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por
objetivos:
(...)
V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir
meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família, conforme dispuser a lei.
A fim de dar cumprimento ao comando constitucional, foi editada a Lei nº
8.742/93 que, em seus arts. 20 a 21-A, disciplinou como seria pago esse
benefício.
O art. 20 da Lei nº 8.742/93 denomina esse direito de “Benefício de
Prestação Continuada”. Ele também pode ser chamado pelos seguintes
sinônimos: “Amparo Assistencial”, “Benefício Assistencial” ou “LOAS”.
Em que consiste:
Pagamento de • à pessoa com deficiência; ou
Desde que comprove não possuir meios
um salário- de prover a própria manutenção nem de
• ao idoso com 65 anos ou
mínimo por tê-la provida por sua família.
mais.
mês

 
Voltando ao caso concreto:
O INSS indeferiu o pedido em virtude de ausência de incapacidade
absoluta da autora.
Diante disso, Regina ajuizou ação visando à concessão do benefício de
assistência social ao deficiente.
O pedido foi julgado improcedente sob o argumento de que a deficiência
seria parcial, razão pela qual não seria devido o benefício assistencial.
Após sucessivos recursos, a questão chegou ao STJ.

O motivo alegado para o indeferimento foi correto?


NÃO.
O § 2º do art. 20 da Lei nº 8.742/93 assim prevê:
Art. 20 (...)
§ 2º Para efeito de concessão do benefício de prestação
continuada, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdade de condições com as demais pessoas. (Redação dada
pela Lei nº 13.146, de 2015)
Em relação ao primeiro requisito, para efeito de concessão do benefício,
resta evidenciado, no texto normativo, que a pessoa com deficiência é
aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras,
pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade, em
igualdade de condições com as demais pessoas.
No ponto, quando da análise da deficiência que embasou o pedido inicial,
que o benefício requerido fora indeferido, em virtude de ausência de
incapacidade absoluta da autora, tendo em vista ser ela portadora de
desenvolvimento mental retardado em grau leve, possuindo limitação
apenas para atividades que demandam habilidades acadêmicas.
Ocorre que a jurisprudência do STJ firmou entendimento segundo o qual,
para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, a
legislação que disciplina a matéria não elenca o grau de incapacidade
para fins de configuração da deficiência, não cabendo ao intérprete da lei
a imposição de requisitos mais rígidos do que aqueles previstos para a
sua concessão.
 
Em suma:
Para a concessão do Benefício de Prestação Continuada - BPC à pessoa
com deficiência, disciplinado na Lei Orgânica da Assistência Social -
LOAS, não cabe ao intérprete da lei fazer imposição de requisitos mais
rígidos do que aqueles previstos para a sua concessão.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.962.868-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 21/3/2023 (Info 770).
 
No mesmo sentido:
A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) não exige incapacidade
absoluta de pessoa com deficiência para concessão do Benefício de
Prestação Continuada.
STJ. 1ª Turma. REsp 1404019-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 27/6/2017 (Info 608).

É constitucional a contribuição à seguridade social, a


cargo do empregador rural pessoa jurídica, incidente
sobre a receita bruta proveniente da comercialização
da sua produção, prevista no art. 25 da Lei nº
8.870/94, na redação dada pela Lei 10.256/2001
Além disso, a contribuição para o SENAR não se submete às vedações
dos arts. 195, § 4º, e 154, I, da CF/88, pois seu fundamento de validade
reside no art. 149 da CF/88:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,
de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
(...)
§ 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a
manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o
disposto no art. 154, I.
 
Art. 154. A União poderá instituir:
I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo
anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato
gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta
Constituição;
 
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146,
III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

Julgados 2022

Não há prescrição de fundo de direito nas


ações em que se busca a concessão do
benefício de pensão por morte
Resumo
Não é possível inviabilizar o pedido de concessão do benefício
previdenciário ou de seu restabelecimento em razão do transcurso de
quaisquer lapsos temporais - seja decadencial ou prescricional.
Diante da decisão do STF na ADI 6.096/DF, não é possível inviabilizar o
próprio pedido de concessão do benefício (ou de restabelecimento), em
razão do transcurso de quaisquer lapsos temporais - seja decadencial ou
prescricional -, de modo que a prescrição se limita apenas às parcelas
pretéritas vencidas no quinquênio que precedeu à propositura da ação,
nos termos da Súmula 85/STJ.
Assim, fica superado o entendimento firmado pelo STJ nos EDcl nos
EREsp 1.269.726/MG, tendo em vista que o art. 102, § 2º, da CF/1988
confere efeito vinculante às decisões definitivas em sede de ADI em
relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta nos âmbitos federal, estadual e municipal.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1805428-PB, Rel. Min. Manoel Erhardt
(Desembargador convocado do TRF5), julgado em 17/05/2022 (Info
737).
Comentários
SITUAÇÃO 1. Imagine a seguinte situação hipotética:
Regina, servidora pública federal, faleceu em janeiro/1990.
Cerca de 20 dias depois, Pedro, o viúvo, foi até o órgão público
onde sua esposa era lotada e formulou requerimento
pedindo os benefícios que ele e sua família teriam direito.
A administração pública concedeu a ele apenas o pecúlio
especial. Vale ressaltar que a administração pública não
mencionou nada sobre pensão por morte, não tendo
analisado este ponto.
Em janeiro/1997, ele descobriu que tinha direito também à pensão
por morte. Diante disso, ajuizou ação requerendo o
benefício.
O juiz, contudo, negou o pedido sob o argumento de a pretensão
estaria prescrita, considerando que já havia se
passadomais de 5 anos desde a data do óbito (art. 1º do
Decreto nº 20.910/1932).Logo, para o magistrado, Pedro
perdeu o direito à pensão por morte. Houve a prescrição
do próprio fundo de direito.
 
Prescrição do “fundo de direito” x prescrição “de trato sucessivo”
Existe uma classificação da prescrição que a divide em:
Prescrição do fundo de Prescrição progressiva
direito (Prescrição de obrigações
(prescrição nuclear) de trato sucessivo)
Ocorre quando o direito Ocorre quando a obrigação
subjetivo é violado do devedor é de
por um ato único, trato sucessivo, ou
começando, aí, a seja, contínua. Em
correr o prazo outras palavras, o
prescricional que a devedor,
pessoa lesada tem periodicamente,
para exigir do deve fornecer
devedor a aquela prestação
prestação. ao credor. Toda vez
Esgotado esse que não o faz, ele
prazo, extingue-se a viola o direito do
pretensão e o credor e este tem a
credor não mais pretensão de exigir
poderá exigir nada o cumprimento.
do devedor. Em palavras mais simples,
Em palavras mais simples, é aquela que atinge
é aquela que atinge apenas as parcelas
a exigibilidade do (e não o direito
direito como um como um todo).
todo. Ex: o devedor combinou de
Ex: o devedor combinou de pagar uma
pagar a dívida em indenização ao
uma só vez, em credor até o fim de
fev/2008. Se ele sua vida. Essa
não pagou, iniciou- verba é paga em
se o prazo prestações
prescricional, que (fev/2008, fev/2010,
terminou em fev/2012 etc.).
fevereiro/2013. Imagine que ele não
tenha pagado
nenhuma. A
prescrição quanto a
fev/2008 e
fev/2010 já ocorreu.
Persistem, no
entanto, as
prestações de
fev/2012 e as
seguintes.
 
Voltando ao caso concreto. Agiu corretamente o juiz? A decisão
do magistrado está de acordo com a jurisprudência do
STJ?
NÃO.Não ocorre a prescrição do fundo de direito no pedido de concessão
de pensão por morte, no caso de inexistir manifestação expressa da
Administração negando o direito reclamado, estando prescritas apenas
as prestações vencidas no quinquênio que precedeu à propositura da
ação.
 
Benefícios previdenciários são de trato sucessivo e, por isso, não
há prescrição do fundo de direito
Os benefícios previdenciários envolvem relações de trato
sucessivo e atendem necessidades de caráter alimentar,
razão pela qual não se admite a tese de prescrição do
fundo de direito.
O benefício previdenciário possui natureza de direito indisponível,
razão pela qual o benefício previdenciário em si não
prescreve, somente as prestações não reclamadas no
prazo de 5 anos é que prescreverão, uma a uma, em razão
da inércia do beneficiário.
Desse modo, se a parte demorou mais de 5 anos para ingressar
com a ação judicial pleiteando a pensão por morte, ela não
perdeu a possibilidade de obter o benefício. O que ela
perdeu foi apenas as parcelas que venceram há mais de 5
anos contados da propositura da ação.
Explicando melhor: Pedro ajuizou a ação em janeiro/1997. Isso
significa que, se o juiz acolher o pedido e entender que
realmente ele tinha direito à pensão por morte, ele
receberá as prestações atrasadas (retroativas)
relacionados com os últimos 5 anos, contadas do
ajuizamento da ação. Isso significa que Pedro terá direito
de receber as parcelas da pensão por morte referentes ao
período de janeiro de 1992 para frente.
Pelo fato de ter demorado mais de 5 anos, Pedro perdeu o direito
de receber as parcelas de janeiro/1990 (óbito) até
dezembro de 1991. Estas parcelas estão prescritas. As
demais, não.
 
Súmula 85-STJ
Nas causas em que se pretende a concessão de benefício de
caráter previdenciário, inexistindo negativa expressa e
formal da Administração, não há falar em prescrição do
fundo de direito, nos termos do art. 1º do Decreto nº
20.910/1932, porquanto a obrigação é de trato sucessivo,
motivo pelo qual incide, no caso, o disposto na Súmula 85
do STJ:
Súmula 85-STJ: Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que
a Fazenda Pública figure como devedora, quando não tiver
sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição
atinge apenas as prestações vencidas antes do
quinquênio anterior à propositura da ação.
 
No mesmo sentido é o entendimento sumulado do STF:
Súmula 443-STF: A prescrição das prestações anteriores ao período
previsto em lei não ocorre, quando não tiver sido negado, antes daquele
prazo, o próprio direito reclamado, ou a situação jurídica de que ele resulta.
 
Não se pode admitir que o decurso do tempo legitime a violação
de um direito fundamental. O reconhecimento da
prescrição de fundo de direito à concessão de um
benefício de caráter previdenciário excluirá seu
beneficiário da proteção social, retirando-lhe o direito
fundamental à previdência social, ferindo o princípio da
dignidade da pessoa humana e da garantia constitucional
do mínimo existencial.
 
SITUAÇÃO 2. Imagine outra situação hipotética:
João, servidor público, faleceu em abril/2010, deixando apenas
uma companheira (Maria), com quem vivia em união
estável.
Dias depois do óbito, Maria foi até a Administração Pública e
requereu a pensão por morte, tendo, contudo, o pedido
sido negado, em maio/2010, sob o argumento de que os
requisitos legais não estavam preenchidos.
Em junho/2015, Maria ajuizou ação contra o Estado pedindo a
concessão da pensão.
O juiz, contudo, extinguiu o processo sob a alegação de que a
pretensão estaria prescrita, considerando que já se
passaram mais de 5 anos desde a data do óbito.
Logo, para o magistrado, Maria perdeu o direito à pensão por
morte. Houve a prescrição do próprio fundo de direito.
 
Agiu corretamente o juiz? A decisão do magistrado está de acordo
com a jurisprudência?
NÃO.
Não é possível inviabilizar o pedido de concessão do benefício
previdenciário ou de seu restabelecimento em razão do transcurso de
quaisquer lapsos temporais - seja decadencial ou prescricional.
STJ. 1ª Turma.AgInt no REsp 1.805.428-PB, Rel. Min. Manoel Erhardt
(Desembargador convocado do TRF5), julgado em 17/05/2022 (Info
737).
 
Tema 313: não pode haver prazo para a concessão inicial, mas
pode existir para a revisão
O STF, ao julgar o RE 626.489/SE (Tema 313/STF), firmou
entendimento segundo o qual:
O direito à previdência social constitui direito fundamental e, uma vez
implementados os pressupostos de sua aquisição, não deve ser afetado
pelo decurso do tempo.
Como consequência, inexiste prazo decadencial para a concessão inicial
do benefício previdenciário.
STF. Plenário. RE 626489/SE, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
16/10/2013 (Repercussão Geral – Tema 313) (Info 724).
 
Existe prazo decadencial apenas para a revisão dos benefícios
concedidos:
É legítimaa instituição de prazo decadencial de dez anos para a revisão
de benefício já concedido, com fundamento no princípio da segurança
jurídica, no interesse em evitar a eternização dos litígios e na busca de
equilíbrio financeiro e atuarial para o sistema previdenciário.
O prazo decadencial de dez anos, instituído pela Medida Provisória 1.523,
de 28.06.1997, tem como termo inicial o dia 1º de agosto de 1997, por
força de disposição nela expressamente prevista. Tal regra incide,
inclusive, sobre benefícios concedidos anteriormente, sem que isso
importe em retroatividade vedada pela Constituição.
STF. Plenário. RE 626489/SE, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
16/10/2013 (Repercussão Geral – Tema 313) (Info 724).
 
Desse modo, a Corte Suprema consignou que não viola a CF/88 a
criação de um prazo máximo para que o interessado
possa pedir a revisão do benefício previdenciário, ou seja,
a MP nº 1.523-9/1997, ao criar o prazo decadencial não
incidiu em inconstitucionalidade.
Esse prazo decadencial tem como fundamento o princípio da
segurança jurídica e objetiva evitar a eternização dos
litígios, além de buscar o equilíbrio financeiro e atuarial
para o sistema previdenciário.
 
Já que é constitucional o prazo de decadência para a revisão, por
que não ampliar as hipóteses de decadência? Veja o que
fez o legislador com a Lei nº 13.846/2019:
A MP 871/2019, de 18/01/2019 (convertida na Lei nº
13.846/2019) alterou a redação do art. 103 para ampliar
as hipóteses sujeitas ao prazo decadencial.
Explicando melhor. A Lei nº 13.846/2019 modificouo art. 103 para
dizer que o prazo de 10 anos se aplica não apenas para a
revisão do ato de concessão do benefício. O legislador
afirmou que existira também prazo de 10 anos para a
revisão do ato de:
• indeferimento do benefício;
• cancelamento do benefício;
• cessação do benefício;
• deferimento de revisão de benefício;
• indeferimento de revisão de benefício;
• não concessão de revisão de benefício.
 

LEI 8.213/91
Antes da Lei Depois da Lei 13.846/2019
13.846/2019
O prazo de 10 anos O prazo de 10 anos se aplica para
se aplicava a revisão do:
apenas para • ato de concessão do benefício;
a revisão do:
• ato de indeferimento do
• ato de concessão benefício;
do benefício.
• ato de cancelamento do
benefício;
• ato de cessação do benefício;
• ato de deferimento de revisão de
benefício;
• ato de indeferimento de
revisão de benefício;
• ato de não concessão de
revisão de benefício.
Art. 103. É de dez Art. 103. O prazo de decadência
anos o prazo do direito ou da ação do
de segurado ou beneficiário
decadência para a revisão do ato de
de todo e concessão, indeferimento,
qualquer cancelamento ou
direito ou cessação de benefício e
ação do do ato de deferimento,
segurado ou indeferimento ou não
beneficiário concessão de revisão de
para a benefício é de 10 (dez)
revisão do anos, contado:
ato de I - do dia primeiro do mês
concessão subsequente ao do
de benefício, recebimento da primeira
a contar do prestação ou da data em
dia primeiro que a prestação deveria
do mês ter sido paga com o valor
seguinte ao revisto; ou
do
recebimento II - do dia em que o segurado
da primeira tomar conhecimento da
prestação decisão de
ou, quando indeferimento, cancelame
for o caso, nto ou cessação do seu
do dia em pedido de benefício ou da
que tomar decisão de deferimento ou
conheciment indeferimento de revisão
o da decisão de benefício, no âmbito
indeferitória administrativo.
definitiva no
âmbito
administrativ
o.
 
ADI 6096
A Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria – CNTI
ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra essa
mudança afirmando que não sesujeita a prazo decadencial
a pretensão deduzida em face de
indeferimento,cancelamento e cessação de benefício
previdenciário.
A autora afirmou que a mudança contraria o direito fundamental
àprevidência social (art. 6º, caput) e, por consequência, os
arts. 1º, II, III e IVe 3º, I e III, da Constituição, bem como o
direitofundamental de acesso à justiça (art. 5º, XXXV).
Os argumentos da autora foram acolhidos pelo STF?
SIM.O STF, na ADI 6.096/DF, julgou parcialmente procedente o
pedido e declarou a inconstitucionalidade do art. 24 da Lei
nº 13.846/2019 na parte que deu nova redação ao art. 103
da Lei n. 8.213/91. Isso porque a decisão administrativa
que indefere o pedido de concessão ou que cancela ou
cessa o benefício antes concedido nega o benefício em si
considerado, de forma que, inviabilizada a rediscussão da
negativa pela parte beneficiária ou segurada, repercute
também sobre o direito material à concessão do benefício
a decadência ampliada pelo dispositivo:
É inconstitucional a nova redação ao art. 103 da Lei nº 8.213/91 dada
pela Lei nº 13.846/2019.
A Lei nº 13.846/2019 impôs prazo decadencial para a revisão dos atos
de indeferimento, cancelamento, cessação do benefício e deferimento,
indeferimento e não concessão de revisão de benefício. Ocorre que, ao
fazer isso, a Lei incide em inconstitucionalidade porque não preserva o
fundo de direito considerando que, na hipótese em que negado o
benefício, caso inviabilizada pelo decurso do tempo a rediscussão da
negativa, é comprometido o exercício do direito material à sua obtenção.
Isso significa que a decadência irá gerar a negativa do próprio benefício
em si considerado.
STF. Plenário. ADI 6096, Rel. Edson Fachin, julgado em 13/10/2020.
 
STJ teve que se adequar ao que decidiu o STF
Diante da decisão do STF na ADI 6.096/DF, não é possível
inviabilizar o próprio pedido de concessão do benefício (ou
de restabelecimento), em razão do transcurso de
quaisquer lapsos temporais - seja decadencial ou
prescricional -, de modo que a prescrição se limita apenas
às parcelas pretéritas vencidas no quinquênio que
precedeu à propositura da ação, nos termos da Súmula
85/STJ.
Fica superado o entendimento firmado por esta Corte Superior
nos EDcl nos EREsp 1.269.726/MG, tendo em vista que o
art. 102, § 2º, da CF/88 confere efeito vinculante às
decisões definitivas em sede de ADI em relação aos
demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta nos âmbitos federal, estadual e
municipal.

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