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Resumo
Contribuições previdenciárias
A contribuição previdenciária é uma espécie de tributo, cujo montante
arrecadado é destinado ao pagamento dos benefícios do RGPS
(aposentadoria, auxílio-doença, pensão por morte etc.)
Existem duas espécies de contribuição previdenciária:
PAGA POR QUEM INCIDE SOBRE O QUE
1ª) Trabalhador e demais Incide sobre o salário de contribuição,
segurados do RGPS (art. exceto no caso do segurado especial.
195, II).
2ª) Empregador, empresa Incide sobre a folha de salários e demais
ou entidade equiparada rendimentos do trabalho pagos ou
(art. 195, I, “a”). creditados, a qualquer título, à pessoa
física que lhe preste serviço, mesmo sem
vínculo empregatício.
Auxílio-alimentação
O auxílio-alimentação devido aos empregados está previsto no § 2º do
art. 457 da CLT:
Art. 457 (...)
§ 2º As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda
de custo, auxílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro,
diárias para viagem, prêmios e abonos não integram a
remuneração do empregado, não se incorporam ao contrato de
trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo
trabalhista e previdenciário. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de
2017)
Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:
A empresa Alfa Ltda paga auxílio-alimentação aos seus funcionários.
Esse pagamento é feito em dinheiro (pecúnia).
A empresa impetrou mandado de segurança contra o Delegado da
Receita Federal pedindo para não pagar contribuição previdenciária
patronal sobre o auxílio-alimentação dado aos funcionários.
A autora argumentou que a cobrança é ilegal, pois o auxílio-alimentação
é dado mesmo quando os funcionários não estão trabalhando
efetivamente, de forma que resta não configurada, por consequência, a
hipótese de incidência prevista no inciso I do art. 22, da Lei nº 8.212/91:
Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade
Social, além do disposto no art. 23, é de:
I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas
ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados
empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços,
destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma,
inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades
e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos
serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do
empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do
contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou
sentença normativa.
(...)
A União (Fazenda Nacional) contestou alegando que não é possível
dispensar uma obrigação legal e que a cobrança é necessária por causa
do princípio de solidariedade do sistema previdenciário brasileiro.
O que decidiu o STJ? Incide a contribuição previdenciária devida pelo
empregador sobre os valores pagos em pecúnia aos empregados a título
de auxílio-alimentação?
SIM.
De início, ressalta-se que a contribuição previdenciária devida pelo
empregador é uma das espécies de contribuições para o custeio da
seguridade social e encontra-se prevista na alínea “a” do inciso I do art.
195 da Constituição Federal.
O art. 201, § 11, da Constituição Federal, que traz o conceito
constitucional de salário para fins de contribuição previdenciária:
Art. 201 (...)
§ 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão
incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e
consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da
lei.
O Supremo Tribunal Federal, ao examinar o RE 565.160/SC (de relatoria
do Ministro Marco Aurélio Mello, julgado sob o rito da repercussão geral -
Tema 20), enfrentou questão relacionada à interpretação da expressão
“folha de salários”, para fins de incidência da contribuição previdenciária
devida pelo empregador e fixou a seguinte tese jurídica:
A contribuição social a cargo do empregador incide sobre ganhos
habituais do empregado, a qualquer título, quer anteriores, quer
posteriores à Emenda Constitucional n. 20/1998 - inteligência dos artigos
195, inciso I, e 201, § 11, da Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 565160/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
29/3/2017 (Repercussão Geral – Tema 20) (Info 859).
Dos votos proferidos pelos Ministros do STF, é possível extrair dois
requisitos para que determinada verba componha a base de cálculo da
contribuição previdenciária patronal:
1) habitualidade;
2) caráter salarial.
A habitualidade constitui pressuposto constitucional expresso no art.
201, § 11, da Constituição Federal, enquanto a definição da natureza
salarial ou indenizatória da verba paga ao empregado está afeta à esfera
infraconstitucional.
Auxílio-alimentação é verba de natureza habitual
O auxílio-alimentação é parcela que constitui benefício concedido aos
empregados para custear despesas com alimentação (necessidade essa
que deve ser suprimida diariamente) sendo, portanto, inerente à sua
natureza a habitualidade. Assim, fica claro que o requisito constitucional
para a incidência da contribuição previdenciária a cargo do empregador
está cumprido.
Auxílio-alimentação possui natureza salarial
A interpretação sistemática dos arts. 22, I, 28, I, da Lei nº 8.212/91 e do
art. 457, § 2º, da CLT (a partir da vigência da Lei nº 13.467/2017 -
Reforma Trabalhista) revela que o auxílio-alimentação pago em dinheiro
ao empregado possui natureza salarial.
O art. 22, I, da Lei nº 8.212/91 descreve a base de cálculo e a alíquota da
contribuição previdenciária a cargo do empregador, nos seguintes
termos:
Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade
Social, além do disposto no art. 23, é de:
I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas
ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados
empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços,
destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma,
inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades
e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos
serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do
empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do
contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou
sentença normativa.
Já no art. 28, I, a referida lei federal dispõe sobre o salário-de-
contribuição, utilizado como base de cálculo do benefício previdenciário
devido ao empregado, e explicita as verbas de natureza salarial a serem
consideradas para essa finalidade, in verbis:
Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição:
I - para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida
em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos
rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título,
durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja
a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma
de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial,
quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à
disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da
lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de
trabalho ou sentença normativa;
(...)
Extrai-se desses dispositivos que há uma correspondência entre a base
de cálculo da contribuição previdenciária devida pelo empregador e a
base de cálculo do benefício previdenciário a ser recebido pelo
empregado, sendo certo que ambas levam em consideração a natureza
salarial das verbas pagas.
Em outras palavras: a parcela paga ao empregado com caráter salarial
manterá essa natureza para fins de incidência de contribuição
previdenciária patronal e, também, de apuração do benefício
previdenciário.
O art. 457, § 2º, por sua vez, diz o seguinte:
Art. 457. Compreendem-se na remuneração do empregado, para
todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente
pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas
que receber.
(...)
§ 2º As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda
de custo, auxílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro,
diárias para viagem, prêmios e abonos não integram a
remuneração do empregado, não se incorporam ao contrato de
trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo
trabalhista e previdenciário.
Desse dispositivo da lei trabalhista é possível extrair que o auxílio-
alimentação pago habitualmente não tem caráter remuneratório, exceto
quando houver o pagamento em dinheiro, hipótese em que deve ser
reconhecida sua natureza salarial.
Auxílio-alimentação aqui tratado é aquele pago em pecúnia
Ademais, cabe aqui esclarecer que a presente controvérsia envolve o
auxílio-alimentação pago em dinheiro ao empregado, que pode ser usado
para quaisquer outras finalidades que não sejam a de arcar com os
gastos com sua alimentação.
O STJ não discutiu, nesse precedente (Tema 1164), a natureza dos
valores contidos em cartões pré-pagos, fornecidos pelos empregadores,
de empresas como “Ticket”, “Alelo” e “VR Benefícios”, cuja utilização
depende da aceitação em estabelecimentos credenciados, como
supermercados, restaurantes e padarias.
Em suma:
Incide a contribuição previdenciária a cargo do empregador sobre o
auxílio-alimentação pago em pecúnia.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.995.437-CE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
26/4/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1164) (Info 772).
Resumo
Aposentadoria de João
Após muitos anos trabalhando no Banco, João completou o tempo
necessário e pediu o pagamento da complementação de aposentadoria.
A PREVI calculou o benefício com base nos salários recebidos por João e
passou a pagar a complementação de aposentadoria.
Ação revisional de complementação de aposentadoria e cobrança de
diferenças
João propôs, então, uma segunda ação.
Ele ajuizou, na Justiça Comum Estadual, contra a PREVI e o Banco do
Brasil, uma ação revisional de complementação de aposentadoria e
cobrança de diferenças.
Na ação revisional, João alegou que seu salário foi “aumentado” na
Justiça e que essa diferença deverá produzir efeitos também na
aposentadoria paga pela entidade fechada. Assim, pediu para que o juiz
determinasse a revisão da complementação de aposentadoria em virtude
da inclusão das diferenças salariais obtidas por força de decisão judicial.
O autor pediu que a entidade fechada de previdência (PREVI) fosse
condenada a revisar o benefício complementar de aposentadoria e que o
patrocinador (Banco do Brasil) fosse condenado à recomposição da
reserva matemática correspondente.
A competência para julgar essa ação é realmente da Justiça Comum?
NÃO.
Não compete à Justiça comum processar e julgar causas ajuizadas
contra o patrocinador para recomposição de reserva matemática, em
cumulação sucessiva ao pedido de revisão do benefício pela entidade
fechada de previdência privada complementar, em consequência da
integração, ao salário de participação, de verbas reconhecidas pela
Justiça do Trabalho.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 1.975.132-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 12/4/2023 (Info 773).
Resumo
Voltando ao caso concreto:
O INSS indeferiu o pedido em virtude de ausência de incapacidade
absoluta da autora.
Diante disso, Regina ajuizou ação visando à concessão do benefício de
assistência social ao deficiente.
O pedido foi julgado improcedente sob o argumento de que a deficiência
seria parcial, razão pela qual não seria devido o benefício assistencial.
Após sucessivos recursos, a questão chegou ao STJ.
Julgados 2022
LEI 8.213/91
Antes da Lei Depois da Lei 13.846/2019
13.846/2019
O prazo de 10 anos O prazo de 10 anos se aplica para
se aplicava a revisão do:
apenas para • ato de concessão do benefício;
a revisão do:
• ato de indeferimento do
• ato de concessão benefício;
do benefício.
• ato de cancelamento do
benefício;
• ato de cessação do benefício;
• ato de deferimento de revisão de
benefício;
• ato de indeferimento de
revisão de benefício;
• ato de não concessão de
revisão de benefício.
Art. 103. É de dez Art. 103. O prazo de decadência
anos o prazo do direito ou da ação do
de segurado ou beneficiário
decadência para a revisão do ato de
de todo e concessão, indeferimento,
qualquer cancelamento ou
direito ou cessação de benefício e
ação do do ato de deferimento,
segurado ou indeferimento ou não
beneficiário concessão de revisão de
para a benefício é de 10 (dez)
revisão do anos, contado:
ato de I - do dia primeiro do mês
concessão subsequente ao do
de benefício, recebimento da primeira
a contar do prestação ou da data em
dia primeiro que a prestação deveria
do mês ter sido paga com o valor
seguinte ao revisto; ou
do
recebimento II - do dia em que o segurado
da primeira tomar conhecimento da
prestação decisão de
ou, quando indeferimento, cancelame
for o caso, nto ou cessação do seu
do dia em pedido de benefício ou da
que tomar decisão de deferimento ou
conheciment indeferimento de revisão
o da decisão de benefício, no âmbito
indeferitória administrativo.
definitiva no
âmbito
administrativ
o.
ADI 6096
A Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria – CNTI
ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra essa
mudança afirmando que não sesujeita a prazo decadencial
a pretensão deduzida em face de
indeferimento,cancelamento e cessação de benefício
previdenciário.
A autora afirmou que a mudança contraria o direito fundamental
àprevidência social (art. 6º, caput) e, por consequência, os
arts. 1º, II, III e IVe 3º, I e III, da Constituição, bem como o
direitofundamental de acesso à justiça (art. 5º, XXXV).
Os argumentos da autora foram acolhidos pelo STF?
SIM.O STF, na ADI 6.096/DF, julgou parcialmente procedente o
pedido e declarou a inconstitucionalidade do art. 24 da Lei
nº 13.846/2019 na parte que deu nova redação ao art. 103
da Lei n. 8.213/91. Isso porque a decisão administrativa
que indefere o pedido de concessão ou que cancela ou
cessa o benefício antes concedido nega o benefício em si
considerado, de forma que, inviabilizada a rediscussão da
negativa pela parte beneficiária ou segurada, repercute
também sobre o direito material à concessão do benefício
a decadência ampliada pelo dispositivo:
É inconstitucional a nova redação ao art. 103 da Lei nº 8.213/91 dada
pela Lei nº 13.846/2019.
A Lei nº 13.846/2019 impôs prazo decadencial para a revisão dos atos
de indeferimento, cancelamento, cessação do benefício e deferimento,
indeferimento e não concessão de revisão de benefício. Ocorre que, ao
fazer isso, a Lei incide em inconstitucionalidade porque não preserva o
fundo de direito considerando que, na hipótese em que negado o
benefício, caso inviabilizada pelo decurso do tempo a rediscussão da
negativa, é comprometido o exercício do direito material à sua obtenção.
Isso significa que a decadência irá gerar a negativa do próprio benefício
em si considerado.
STF. Plenário. ADI 6096, Rel. Edson Fachin, julgado em 13/10/2020.
STJ teve que se adequar ao que decidiu o STF
Diante da decisão do STF na ADI 6.096/DF, não é possível
inviabilizar o próprio pedido de concessão do benefício (ou
de restabelecimento), em razão do transcurso de
quaisquer lapsos temporais - seja decadencial ou
prescricional -, de modo que a prescrição se limita apenas
às parcelas pretéritas vencidas no quinquênio que
precedeu à propositura da ação, nos termos da Súmula
85/STJ.
Fica superado o entendimento firmado por esta Corte Superior
nos EDcl nos EREsp 1.269.726/MG, tendo em vista que o
art. 102, § 2º, da CF/88 confere efeito vinculante às
decisões definitivas em sede de ADI em relação aos
demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta nos âmbitos federal, estadual e
municipal.