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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

Contribuições dos segurados

1. Considerações iniciais

Antes de adentrar no tema propriamente dito, vale recordar que as


contribuições ordinárias de seguridade social são aquelas indicadas nos
incisos do art. 195 da Constituição Federal (CF/1988). Das contribuições lá
indicadas, duas recebem o predicado; a qualidade de serem contribuições
previdenciárias destinadas exclusivamente ao Fundo do Regime Geral de
Previdência Social (FRGPS) e ao pagamento de benefícios da Previdência
Social.

Essas contribuições ditas previdenciárias são:

• a contribuição da empresa, do empregador ou do equiparado sobre a folha de pagamentos;


• a contribuição dos segurados ou dos trabalhadores.

De efeito, segundo previsão constitucional (art. 195 da CF/1988), as


contribuições previdenciárias são:

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Ambas as contribuições elencadas são aquelas que a Lei nº 8.212/1991
(Plano de Custeio da Previdência Social – PCPS) trata. A
referida lei somente trata das contribuições previdenciárias, não cuidando de
quaisquer outras contribuições ordinárias de seguridade social.

É a contribuição dos segurados que será alvo de exame na presente unidade.


Trata-se de uma contribuição previdenciária devida pelos trabalhadores e
demais segurados do Regime Geral previdenciário, prevista no art. 195, inciso
II, da CF/1988, inclusive pelo aposentado que continua a desenvolver
atividade laborativa e pela mulher que recebe salário maternidade. Aqui, sobre
a contribuição do segurado que recebe salário maternidade, o julgamento do
RE nº 576.967, que fixou a tese no tema nº 72, não afasta a contribuição por
parte do segurado que recebe o benefício. Segundo o entendimento firmado,
afasta-se a incidência da contribuição para o empregador, cuidado com esta
nuance, Tema nº 72: “É inconstitucional a incidência de contribuição
previdenciária a cargo do empregador sobre o salário maternidade” (Plenário,
Sessão Virtual, julgado em 05.08.2020).

Note-se que o inciso II, do art. 195, da CF/1988, foi recentemente alterado
pela Emenda Constitucional (EC) nº 103, de 2019.

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais: (...)

II – do trabalhador e dos demais segurados da Previdência Social, podendo


ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de
contribuição, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão

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concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019.)

A EC nº 103/2019 promoveu a denominada Reforma da Previdência, uma vez


que, operou profundas modificações no sistema de previdência social
nacional, tanto para o RGPS quanto para o Regime Próprio dos Servidores
Públicos (RPPS).

ART. 195, II ART. 195, II


– ANTES DA EC Nº 103/2019 – APÓS A EC Nº 103/2019

II – do trabalhador e dos demais


segurados da previdência social,
II – do trabalhador e dos demais
podendo ser adotadas alíquotas
segurados da previdência social,
progressivas de acordo com o valor
não incidindo contribuição sobre
do salário de contribuição, não
aposentadoria e pensão concedidas
incidindo contribuição sobre
pelo regime geral de previdência
aposentadoria e pensão concedidas
social de que trata o art. 201;
pelo Regime Geral de Previdência
(Redação dada pela Emenda
Social; (Redação dada pela
Constitucional nº 20, de 1998.)
Emenda Constitucional nº 103, de
2019.)

É fácil se depreender que a principal alteração promovida no inciso II,


transcrito, diz respeito à instituição de alíquotas progressivas, disposição
esta que vem sendo considerada inconstitucional por muitos operadores do
Direito.

Didaticamente, podemos afirmar que são três as contribuições previdenciárias


dos segurados ou dos trabalhadores, cada uma com contornos próprios:

(i) contribuição dos segurados empregado, doméstico e avulso;

(ii) contribuição dos segurados contribuinte individual e facultativo; e

(iii) contribuição dos segurados especiais.

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Essas contribuições previdenciárias, bem como aquelas pagas pelo
empregador, são as que a Lei nº 8.212/1991 (Lei de Custeio) trata. Em outras
palavras, a Lei de Custeio somente trata das contribuições previdenciárias,
não tratando de outras contribuições ordinárias de seguridade social.

2. Contribuição dos segurados empregado, doméstico e avulso (art.


20 Plano de Custeio da Previdência Social – PCPS)

Trata-se de uma contribuição previdenciária devida pelos trabalhadores e


demais segurados do RGPS prevista no art. 195, inciso II, da CF/1988,
inclusive pelo aposentado que continua a desenvolver atividade laborativa e
pela mulher que recebe salário-maternidade. Lembrando que não incide
contribuição previdenciária sobre as aposentadorias e pensões diante da
imunidade tributária prevista na parte final do inciso II do art. 195 da CF/1988.

Nesta esteira, interessante mencionar que, no caso dos trabalhadores


aposentados, estes não pagarão contribuição sobre os proventos da
aposentadoria (art. 195, inciso II, da CF/1988; art. 28, § 9º, alínea “a”, do
PCPS), porém, se permanecerem ou retornarem ao mercado de trabalho,
recolherão contribuição sobre a remuneração da atividade laboral abarcada
pelo RGPS (STF, RE 447923 AgR-segundo nº 447.923/RS, 12.06.2017).

Não obstante, o exercente de mandato eletivo, por ser segurado obrigatório


empregado do RGPS (art. 11, I, j, da Lei nº 8. 213/1991) e, nessa condição,
deve recolher a contribuição em estudo. Embora não haja divergência quanto
a isso, não se deve olvidar a tese que o STF (RE nº 626.837, julgado em
25.05.2017), em repercussão geral, fixou sobre o Tema nº 691: “Incide
contribuição previdenciária sobre os rendimentos pagos aos exercentes de
mandato eletivo, decorrentes da prestação de serviços à União, a estados e
ao Distrito Federal ou a municípios, após o advento da Lei nº 10.887/2004,
desde que não vinculados a regime próprio de previdência” (RE 626837,
Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 25/05/2017,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-018
DIVULG 31-01-2018 PUBLIC 01-02-2018).     

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2.1. Contribuição

Recentemente, a CF/1988 foi alterada pela EC nº 103/2019, e a principal


alteração promovida no inciso II do art. 195 diz respeito à instituição
de alíquotas progressivas de acordo com o salário de contribuição. Antes da
Reforma Previdenciária, as alíquotas eram de 8%, 9% ou 11% (tabela
progressiva prevista no art. 20 do PCPS) sobre o salário de contribuição.
Todavia, o art. 28 da EC nº 103/2019 modificou substancialmente a
sistemática de contribuição previdenciária dos segurados empregado,
trabalhador avulso e empregado doméstico. A alteração é tão profunda que o
art. 20 do PCPS não foi recepcionado pela Reforma Constitucional. 

Então, segundo o art. 28 da EC nº 103/2019 (bloco de constitucionalidade),


até que lei posterior altere a alíquota da contribuição prevista na Lei nº
8.212/1991, a alíquota será 7,5%, 9%, 12% e 14%. Verifique o quadro abaixo:

1. PROGRESSIVIDADE DA CONTRIBUIÇÃO DO EMPREGADO AVULSO


E DO DOMÉSTICO SEGUNDO A EC Nº 103/2019

Até um salário-mínimo Alíquota de 7,5%

Acima de um salário-mínimo até a


Alíquota de 9%
R$ 2.089,60

De R$ 2.089,61 a R$ 3.134,40 Alíquota de 12%

De R$ 3.134,40 a R$ 6.101,06 Alíquota de 14%

Os valores das faixas serão reajustados anualmente segundo o disposto no


art. 41-A da Lei nº 8.213/1991, considerando o respeito à faixa mínima de um
salário mínimo. Então, os valores acima expostos guardam relação com a
atualização realizada pela portaria da Secretaria Especial de Previdência e
Trabalho (SEPRT) nº 3.659/2020, válida a partir de 1º de março de 2020.

Muito Importante!
--
O STF, sobre a aplicação do art. 20 do PCPS, compreendeu que o
legislador optou por aplicar a técnica da progressividade simples

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às contribuições previdenciárias ao utilizar a expressão “de forma
não cumulativa”. 

..

Nesta esteira, imperioso definir a progressividade simples, e lançamos mão


dos ensinamentos de Leandro Paulsen (2019), segundo o qual: “Na
progressividade simples, verifica-se a alíquota correspondente ao seu
parâmetro de variação (normalmente a base de cálculo) e procede-se ao
cálculo do tributo, obtendo o montante devido”.

As contribuições previdenciárias foram previstas pelo legislador no art. 195, I,


“a” e II, da CF/1988. Estas contribuições têm destinação específica, ou seja,
são destinadas ao pagamento dos benefícios do RGPS. A contribuição dos
empregados, do empregado doméstico e do trabalhador avulso é calculada
segundo a aplicação de alíquota sobre o seu salário de contribuição
mensal, de forma não cumulativa. 

Compreendeu o STF, no julgamento do RE nº 852.796, em repercussão geral,


com tese fixada no Tema nº 833: “É constitucional a expressão ’de forma não
cumulativa‘ constante do caput do art. 20, da Lei nº 8.212/91”.

Sendo assim, compreendeu o STF, neste julgado, ser compatível com a


Constituição Federal a apuração das contribuições previdenciárias devidas
pelo segurado empregado, doméstico e  avulso através da incidência de
apenas uma alíquota, pois concerne a afronta aos princípios da capacidade
contributiva, da proporcionalidade e da isonomia.

2.2. Arrecadação e recolhimento (art. 30, PCPS)

• Empregado e avulso: a empresa ou equiparado (para o segurado empregado) ou o


sindicato/órgão gestor de mão de obra – OGMO (para o segurado avulso), enquanto
responsáveis tributários, devem descontar a contribuição da remuneração do trabalhador e
recolhê-la até o dia 20 do mês subsequente ao da competência (art. 30, inciso I, alíneas “a” e
“b”, do PCPS). Não havendo expediente bancário, o recolhimento deve ocorrer no dia anterior
(art. 30, § 2º, do PCPS).

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Art. 30. A arrecadação e o recolhimento das contribuições ou de outras
importâncias devidas à Seguridade Social obedecem às seguintes normas:
(Redação dada pela Lei n° 8.620, de 5.1.93)

I - a empresa é obrigada a:

a) arrecadar as contribuições dos segurados empregados e trabalhadores


avulsos a seu serviço, descontando-as da respectiva remuneração;

b) recolher os valores arrecadados na forma da alínea adeste inciso, a


contribuição a que se refere o inciso IV do art. 22 desta Lei, assim como as
contribuições a seu cargo incidentes sobre as remunerações pagas, devidas
ou creditadas, a qualquer título, aos segurados empregados, trabalhadores
avulsos e contribuintes individuais a seu serviço até o dia 20 (vinte) do mês
subsequente ao da competência;  

§ 2º Se não houver expediente bancário nas datas indicadas:   

I - no inciso II do caput, o recolhimento deverá ser efetuado até o dia útil
imediatamente posterior; e    

II - na alínea b do inciso I e nos incisos III, V, X e XIII do 


caput, até o dia útil imediatamente anterior.

• Empregado doméstico: o empregador doméstico, enquanto responsável tributário,


deve descontar a contribuição e recolhê-la até o dia 7 do mês seguinte ao da
competência (art. 35 da Lei Complementar – LC – nº 150/2015; art. 30, inciso V,
do PCPS). O recolhimento se dá através do Simples Doméstico (art. 34 da LC nº
150/2015), que permite o recolhimento conjunto de contribuição do empregado, do
empregador, seguro contra acidentes do trabalho (SAT),
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), indenização compensatória
de perda de emprego (art. 22 da LC nº 150/2015) e Imposto de Renda Retido na
Fonte (IRRF).

Art. 30. A arrecadação e o recolhimento das contribuições ou de outras


importâncias devidas à Seguridade Social obedecem às seguintes normas:
(Redação dada pela Lei n° 8.620, de 5.1.93)

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V - o empregador doméstico é obrigado a arrecadar e a recolher a
contribuição do segurado empregado a seu serviço, assim como a parcela a
seu cargo, até o dia 7 do mês seguinte ao da competência;  

2.3. Consequências do não recolhimento da contribuição pelo responsável tributário

Há presunção de recolhimento das contribuições pelo responsável tributário; eventual não


recolhimento sujeita o responsável a fiscalização, cobrança e penalidades, não podendo o
prejuízo ser carreado ao segurado. Cumpre ao segurado, apenas, comprovar o vínculo laboral e
o valor da remuneração (arts. 33, § 5º, do PCPS, e 34 do Plano de Benefícios da Previdência
Social – PBPS).

Nesta esteira, prevê a Súmula nº 18 do Conselho de Recursos da Previdência Social


(CRPS): “Não se indefere benefício sob fundamento de falta de recolhimento de contribuição
previdenciária quando esta obrigação for devida pelo empregador”. 

Provando o vínculo, mas não o valor da remuneração, será concedido o benefício de valor
mínimo, devendo a renda ser recalculada quando da apresentação de prova dos salários de
contribuição (art. 35 da PBPS – Lei nº 8.213/1991). 

Art. 35.  Ao segurado empregado, inclusive o doméstico, e ao trabalhador


avulso que tenham cumprido todas as condições para a concessão do
benefício pleiteado, mas não possam comprovar o valor de seus salários de
contribuição no período básico de cálculo, será concedido o benefício de valor
mínimo, devendo esta renda ser recalculada quando da apresentação de
prova dos salários de contribuição.

Após a LC nº 150/2015, os domésticos foram igualados aos empregados e avulsos no que


tange à presunção de recolhimento da contribuição pelo responsável tributário (houve
revogação tácita do art. 36 do PBPS). Antes da lei complementar, os domésticos só gozavam
de presunção de recolhimento de contribuição pelo responsável tributário no valor mínimo;
acima do piso do salário de contribuição, o recálculo da renda do benefício dependia da prova
do recolhimento das contribuições (e não da mera prova do valor dos salários auferidos).

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3. Contribuição dos segurados contribuinte individual e facultativo (art. 21, PCPS)

Art. 21. A alíquota de contribuição dos segurados contribuinte individual e


facultativo será de vinte por cento sobre o respectivo salário-de-contribuição.  

Esse agrupamento de contribuições é o mais complexo, pois temos diferentes disciplinas dentro
de um único grupo. Esquematicamente, temos:

(i) contribuição do contribuinte individual que trabalha por conta própria e do segurado


facultativo;

(ii) contribuição do contribuinte individual que trabalha para empresa;

(iii) contribuição dos optantes pelo regime simplificado de recolhimento (dentro desse regime,
temos uma subdivisão de contribuição mais favorecida para o MEI e segurado facultativo
considerado de baixa renda).

Essa diferença mencionada se justifica na medida em que o segurado que trabalha por conta
própria recolhe por si, não possuindo um responsável tributário. O contribuinte individual que
trabalha para uma empresa possui um responsável tributário. Basicamente, o regime
simplificado de recolhimento implica uma contribuição com alíquota menor e base de cálculo
também menor. Em contrapartida, esses optantes pelo regime simplificado abrem mão da
aposentadoria por tempo de contribuição e da contagem recíproca de tempo de contribuição.

3.1. Contribuição

• Contribuinte individual que trabalha por conta própria e facultativo: alíquota de 20% sobre
o salário de contribuição, com recolhimento pelo próprio segurado até o dia 15 do mês
seguinte ao da competência. Para o segurado contribuinte individual, o salário de
contribuição é o valor da remuneração auferida no mês, observados piso e teto. Para o
segurado facultativo, o salário de contribuição é o valor por ele declarado, observados
piso e teto.
• Contribuinte individual que presta serviço a empresa ou equiparado (art. 30, §§ 4º e 5º,
PCPS): alíquota 11% sobre o salário de contribuição. Essa redução de 45% (alíquota de
11% em vez de 20%) se justifica porque, nesse caso, a empresa pagará a sua própria
contribuição previdenciária (cota patronal) sobre a folha de pagamentos, o que não ocorre
quando o contribuinte individual não presta serviço a pessoa jurídica. O contribuinte
individual que presta serviço a pessoa jurídica qualificada como entidade beneficente de
assistência social continua submetido à alíquota de 20%, pois a entidade é imune à cota

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patronal (art. 195, § 7º, CF/1988; art. 216, § 26, do Regulamento da Previdência Social
[RPS] – Decreto nº 3.048/1999). 

Há, neste ponto, crítica da doutrina e da jurisprudência, por ausência de amparo na lei quanto a
essa previsão do regulamento e por carrear ao segurado o peso da imunidade constitucional
das entidades filantrópicas.

• Contribuinte individual que trabalha por conta própria e facultativo optantes pelo
recolhimento simplificado (art. 21, §§ 2º a 5º, PCPS):

(i) alíquota 11% sobre o salário mínimo para o contribuinte individual que trabalhe por conta
própria, sem relação de trabalho com empresa ou equiparado (com recolhimento pelo próprio
segurado até o dia 15 do mês seguinte ao exercício da competência);

(ii) alíquota de 5% sobre o salário mínimo no caso de:

• microempreendedor individual (MEI – LC nº 123/2006); e de


• segurado facultativo, sem renda própria, pertencente à família de baixa renda, que se
dedique exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência (dona de
casa de baixa renda). Considera-se de baixa renda a família inscrita no Cadastro Único
para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) cuja renda mensal seja de até
dois salários mínimos. Veja que não basta ser uma família de baixa renda. O segurado
deve estar inscrito no CadÚnico como família de baixa renda.

A alíquota de 5% será paga pela empresa (caso de MEI que presta serviço a empresa) ou pelo
próprio segurado, até o dia 15 ou dia 20 do mês seguinte ao da competência, conforme
contribuição seja paga pelo segurado ou responsável, respectivamente.

E se o segurado se arrepende da opção que fez? A lei diz que, querendo, o segurado poderá
fazer jus à aposentadoria por tempo de contribuição ou a contagem recíproca do tempo de
contribuição. Para tanto, basta complementar a contribuição mensal. Então, a qualquer tempo,
poderá complementar a contribuição mensal mediante recolhimento retroativo de 9% faltantes
para integralizar os 20% sobre o salário de contribuição, acrescido dos juros legais. Portanto, a
possibilidade de complementação é imprescritível. 

Esta é a concretização do art. 201, § 12, da CF/1988 (com novel redação dada pela EC nº
103/2019), que determina que a lei instituirá sistema especial de inclusão previdenciária, com
alíquotas diferenciadas, para atender a trabalhadores de baixa renda, inclusive àqueles em
situação de informalidade e àqueles sem renda própria que se dediquem exclusivamente ao

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trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa
renda, garantindo-lhes acesso a benefícios de valor igual a um salário mínimo.

3.2. Arrecadação e recolhimento

• Situação 1: o contribuinte individual que trabalha por iniciativa própria e o segurado
facultativo devem, eles próprios, recolher a sua contribuição até o dia 15 do mês seguinte
ao da competência (art. 30, II, PCPS). O contribuinte individual qualificado como
microempreendedor individual que trabalha por iniciativa própria deve recolher a sua
contribuição até o dia 20 do mês seguinte ao da competência (art. 18-C, § 3º, II, LC nº
123/2006 e sua regulamentação).

O contribuinte individual e o facultativo cujos salários de contribuição sejam de um salário


mínimo podem optar pelo recolhimento trimestral da contribuição, com vencimento até o dia 15
do mês seguinte ao fim de cada trimestre civil, prorrogando-se o vencimento para o dia útil
subsequente quando não houver expediente bancário no dia 15 (art. 216, § 15, RPS).

• Situação 2: caso do contribuinte individual que presta serviço a empresa (inclusive a


cooperativa de trabalho) ou equiparado. A empresa (responsável tributário) é obrigada a
descontar a contribuição do segurado e a recolher o valor arrecadado, juntamente com a
contribuição a seu cargo (cota patronal), até o dia 20 do mês seguinte ao da competência,
ou até o dia útil anterior se não houver expediente bancário naquele dia (art. 4º, caput e
§ 1º, Lei nº 10.666/2003). Nessa situação, em razão do responsável tributário, há
presunção absoluta de recolhimento das contribuições do contribuinte individual.

Se o contribuinte individual receber de empresa remuneração inferior ao piso do salário de


contribuição, fica obrigado a integrar a diferença por conta própria (art. 5º, Lei nº 10.666/2003).
Se não o fizer, o recolhimento não será considerado para nenhuma finalidade, porque realizado
em violação à norma legal que estabelece piso para o salário de contribuição.

A obrigação de desconto e recolhimento pelo responsável tributário não se aplica ao


contribuinte individual, quando contratado por outro contribuinte individual equiparado à
empresa ou ao produtor rural pessoa física ou por missão diplomática e repartição consular de
carreiras estrangeiras, nem ao brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial
internacional do qual o Brasil é membro efetivo (art. 4º, § 3º, Lei nº 10.666/2003). Nesses casos,
mesmo prestando serviço a empresa ou equiparado, o contribuinte individual deve fazer o
recolhimento, por conta própria, à alíquota de 11% (retorno excepcional à situação 1).

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Antes de encerrar, cabe registrarmos que existe discussão na doutrina, sem reflexos na
jurisprudência, sobre a real natureza tributária da contribuição previdenciária: o segurado
facultativo, que é recolhida voluntariamente, sob pena de perda da qualidade de segurado. Isso
porque o Código Tributário Nacional (CTN) define tributo como “toda prestação pecuniária
compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não
constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada” (art. 3º). Apesar da discussão doutrinária, o
Supremo Tribunal Federal (STF) (RE nº 556.664/RS) não excepcionou essa contribuição no
julgado que assentou a natureza tributária das contribuições em geral.

4. Contribuição do segurado especial (art. 25 + art. 30, III e XI, PCPS)

Os segurados especiais não contribuem sobre o salário de contribuição, pois, por força de
norma constitucional, eles “(...) contribuirão para a seguridade social mediante a
aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção
(...)” (art. 195, § 8º, da CF/1988, na redação dada pela EC nº 20/1998). Veja que aqui já temos
uma grande nota distintiva.

O art. 25 do PCPS trata de duas contribuições: a do segurado especial e a do empregador


rural pessoa física; esta última em substituição à contribuição patronal sobre folha de
pagamentos. Perceba, então, que o mesmo dispositivo legal trata de uma contribuição de
segurado (a do segurado especial) e uma contribuição de empregador (empregador rural
pessoa física). Neste tópico será analisada somente a contribuição do segurado; a cota patronal
do empregador rural pessoa física será vista adiante.

E sobre a análise da constitucionalidade do art. 25 do PCPS, em junho de 2020, em sede de


repercussão geral no RE nº 761.263, o STF fixou a seguinte tese: “É constitucional, formal
e materialmente, a contribuição social do segurado especial prevista no art. 25
da Lei 8.212/1991” (tema nº 723).

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4.1. Contribuição

Alíquota de 1,2% sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção, mais


adicional 0,1% para financiamento das prestações por acidente do trabalho, totalizando 1,3%. O
recolhimento, em regra, se dá pelos adquirentes, até o dia 20 do mês seguinte ao da produção.
Assim, como regra, os segurados especiais não contribuem com base no salário de
contribuição, mas sob a receita proveniente da comercialização de sua produção.

Essa alíquota atual foi fixada pela Lei nº 13.606/2018, reduzindo a alíquota anterior, que era de
2% sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção, mais adicional 0,1%
para financiamento das prestações por acidente do trabalho, totalizando 2,1%.

Muitas vezes, os segurados especiais trabalham para produzir somente para fins de
subsistência. Com isso, não ocorrerá o fato gerador da contribuição.Nesse caso, como fica a
situação desses segurados? Eles ficam excluídos da Previdência Social? Não. O art.
39, I, PBPS garante a esses segurados alguns benefícios de valor mínimo, desde que
comprovem o efetivo trabalho no período equivalente à carência. Nesse caso, haverá proteção
previdenciária nos termos da lei. 

Art. 39.  Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do caput do art.
11 desta Lei, fica garantida a concessão: (Redação dada pela Lei nº 13.846,
de 2019.)

I – de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-


reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, e de auxílio-
acidente, conforme disposto no art. 86 desta Lei, desde que comprovem o
exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período
imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de
meses correspondentes à carência do benefício requerido, observado o
disposto nos arts. 38-A e 38-B desta Lei; ou (Redação dada pela Lei nº
13.846, de 2019.)

Outra peculiaridade da lei diz respeito ao fato de que se admite que esses segurados exerçam
trabalho não rural intercalado (arts. 12, §§ 10 e 14, PCPS). Muitas vezes, em períodos de
defeso, entressafra, estiagem, os segurados especiais desempenham atividades não rurais
para complementar a renda. Essas atividades são esporádicas não descaracterizando as
atividades rurais, desde que esse trabalho não rural não supere 120 dias por ano. Durante

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esses trabalhos intercalados, esses trabalhadores deverão recolher as respectivas
contribuições de acordo com a espécie de segurado na qual estiver enquadrado nesse período.

O segurado especial, além de sua contribuição própria, também pode contribuir


facultativamente nos termos da contribuição dos segurados contribuinte individual e facultativo
(art. 21, PCPS). Se o segurado especial recolher como se fosse segurado contribuinte individual
e facultativo, ele poderá desfrutar de vantagens:

– poderá gozar de aposentadoria por tempo de contribuição;

– poderá auferir de benefícios superiores ao salário mínimo.

Observação: Integram a produção, para os efeitos dessa contribuição, os produtos de origem


animal ou vegetal, em estado natural ou submetidos a processos de beneficiamento ou
industrialização rudimentar, assim compreendidos, entre outros, os processos de lavagem,
limpeza, descaroçamento, pilagem, descascamento, lenhamento, pasteurização, resfriamento,
secagem, fermentação, embalagem, cristalização, fundição, carvoejamento, cozimento,
destilação, moagem, torrefação, bem como os subprodutos e os resíduos obtidos através
desses processos (art. 25, § 3º, PCPS). Considera-se processo de beneficiamento ou
industrialização artesanal aquele realizado diretamente pelo próprio produtor rural pessoa física,
desde que não esteja sujeito à incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) (art.
25, § 11, PCPS).

Integra a receita bruta, além dos valores decorrentes da comercialização da produção relativa
aos produtos referidos (art. 25, § 3º, PCPS), a receita proveniente (art. 25, § 10, PCPS):

(i) da comercialização da produção obtida em razão de contrato de parceria ou meação de parte


do imóvel rural;

(ii) da comercialização de artigos de artesanato (art. 12, § 10, VII, PCPS);

(iii) de serviços prestados, de equipamentos utilizados e de produtos comercializados no imóvel


rural, desde que em atividades turística e de entretenimento desenvolvidas no próprio imóvel,
inclusive hospedagem, alimentação, recepção, recreação e atividades pedagógicas, bem como
taxa de visitação e serviços especiais;

(iv) do valor de mercado da produção rural dada em pagamento ou que tiver sido trocada por
outra, qualquer que seja o motivo ou finalidade;

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(v) de atividade artística (art. 12, § 10, VIII, PCPS). 

Não integra a base de cálculo da contribuição em estudo a produção rural destinada ao plantio
ou reflorestamento, nem o produto animal destinado à reprodução ou criação pecuária ou
granjeira e à utilização como cobaia para fins de pesquisas científicas, quando vendido pelo
próprio produtor e por quem a utilize diretamente com essas finalidades e, no caso de produto
vegetal, por pessoa ou entidade registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento que se dedique ao comércio de sementes e mudas no país (art. 25, § 12,
PCPS).

4.2. Arrecadação e recolhimento

• Regra – a empresa/cooperativa adquirente, consumidora ou consignatária deve descontar


e recolher a contribuição (responsável tributário) até o dia 20 do mês subsequente ao da
operação (art. 30, III e XI, PCPS). Não havendo expediente bancário, o recolhimento deve
ocorrer no dia anterior (art. 30, § 2º, PCPS).
• Exceções – o segurado especial deve, até o dia 20 do mês subsequente ao da operação,
recolher a contribuição por iniciativa própria se comercializar sua produção:

(i) no exterior; 

(ii) diretamente, no varejo, ao consumidor pessoa física; 

(iii) a outro contribuinte individual rural ou segurado especial; 

(iv) relativamente a artesanato elaborado com matéria-prima produzida pelo respectivo grupo
familiar, a produção artística ou a serviços/atividades de turismo ou entretenimento na
propriedade, inclusive hospedagem, alimentação, recepção, recreação e atividades
pedagógicas, bem como taxa de visitação (art. 30, X e XII, PCPS). 

O segurado especial deve descontar a contribuição devida por eventuais trabalhadores


temporários a seu serviço e recolhê-la até o dia 7 do mês subsequente ao da competência, ou
no dia útil imediatamente anterior (art. 30, XIII, c/c art. 32-C, § 3º, PCPS). Significa dizer que,
havendo trabalhadores temporários a seu serviço, o segurado especial funcionaria como
responsável tributário quanto às contribuições desses segurados.

Duas observações são necessárias antes de finalizar o exame da contribuição do segurado


especial. O segurado especial também pode contribuir facultativamente nos termos da
contribuição, visto anteriormente, dos segurados contribuinte individual e facultativo (art. 21,

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PCPS). Nesse caso, o segurado especial contribui com alíquota de 20% (a alíquota reduzida é
apenas para o contribuinte individual que presta serviço a pessoa jurídica) sobre valor por ele
estipulado, observados piso e teto, sem perder seu enquadramento como segurado especial
(art. 25, § 1º, PCPS).

As vantagens de o segurado especial recolher, além da contribuição que lhe é própria (sobre o
resultado da produção), aquela inerente aos segurados –contribuinte individual e facultativo –
 consistem em poder gozar de aposentadoria por tempo de contribuição ou, a depender da
média de valor das contribuições, auferir renda ou benefício superior ao salário mínimo.

Por derradeiro, a legislação autoriza que o segurado especial exerça, intercaladamente com
seu labor principal (rural, pesqueiro ou extrativista), atividades de natureza diversa (art. 12, §§
10 e 14, PCPS).

Nesses casos, o exercício da atividade intercalada sujeita o segurado especial, sem prejuízo da
contribuição que lhe é própria, ao recolhimento, nas respectivas competências, de contribuições
de acordo com a natureza do labor desempenhado (art. 12, § 13, PCPS).

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2. RESUMO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS DOS SEGURADOS

ResponsávelPresunção
Base de
Segurado Alíquota pelo de Prazo
Cálculo
recolhimentorecolhimento

Até o dia
7,5%, 9%,
Empregado Salário de 20 do
12% e Empresa Sim
avulso contribuição mês
14%
seguinte

7,5%, 9%, Até o dia


Salário de Empregador
Doméstico 12% e Sim 7 do mês
contribuição doméstico
14% seguinte

Contribuinte
individual
Até o dia
que
O próprio 15 do
trabalha Salário de
20%   Não mês
por conta contribuição
segurado seguinte
própria e
facultativo

Contribuinte
individual
Até o dia
que
20 do
presta 11% Salário de Empresa Sim
mês
serviço a contribuição
seguinte
pessoa
jurídica

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Contribuinte
individual
que Piso do
trabalha Até o dia
por conta salário de O próprio 15 do
11% Não
própria e contribuição segurado mês
segurado seguinte
facultativo (1 salário
sem mínimo)
ATPC

Até o dia
Contribuinte 15
individual – Piso do
MEI e (facultativo)
facultativo salário de O próprio
5% Não ou dia 20
de baixa contribuição segurado
renda (CI-MEI)
sem (1 salário
do mês
ATPC mínimo)
seguinte

Até o dia

Receita 20 do
1,2% + Sim, se mês
da Em regra,
houver
Segurado 0,1 para os
venda da responsável seguinte
especial adquirentes ao
ac. trab. tributário
produção
da
produção

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Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência dos temas
em provas de concursos públicos.
A autoria dos e-books não se atribui aos professores de videoaulas e podcasts.
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